Poucas vezes uma cena foi tão feliz. Sem diálogos, somente com a execução e encenação da canção “Arco-Íris”, de autoria de Anna Penido, Graciella Carballo, Michael Sullivan e Paulo Massadas, temos a construção da personagem principal de “Super Xuxa Contra Baixo Astral”, filme dirigido por Anna Penido e David Sonnenschein; e, de quebra, a motivação por trás de suas ações e do grande conflito do longa.
Xuxa (interpretando a si mesma) é a heroína que tenta trazer mais alegria à cidade do Rio de Janeiro, seja por meio da distribuição de amor, da pintura de paredes pichadas, do auxílio ao próximo, enfim, da realização das mais diversas boas ações. Em contraponto a ela, a figura do Baixo Astral (o saudoso Guilherme Karam): o vilão que vive no submundo e na sujeira, que odeia alegria e que só deseja semear a maldade e a discórdia.
Em busca de recuperar o seu cãozinho Xuxo (que foi raptado pelo Baixo Astral), Xuxa embarca numa viagem pelo mundo da fantasia e dos sonhos, numa jornada que reforça a sua posição e o seu papel de boa influência e de promotora de ações positivas em todos os ambientes em que ela se encontra.
Rever “Super Xuxa Contra Baixo Astral” na idade adulta é ter a certeza de que o filme sobreviveu ao tempo. Sua mensagem principal do amor e da esperança como base para a transformação pessoal é muito bonita. Esse filme representa o cinema infantil em sua excelência.
Fogo. Água. Terra. Ar. Elementos da natureza e que regem os signos do zodíaco. Na narrativa da animação “Elementos”, filme dirigido por Peter Sohn, estes quatro componentes representam diversas comunidades, cujos representantes coabitam numa cidade harmonicamente, embora respeitem as particularidades que os diferenciam entre si.
O foco do roteiro escrito por John Hober, Kat Likkel e Brenda Hsueh está no relacionamento que nasce entre Faísca (dublada por Leah Lewis na versão original), uma representante do povo do Fogo, e Gota (dublado por Mamodou Athie na versão original), que representa o povo da Água.
O relacionamento entre eles envolve um background que aborda temas como a tradição e as relações familiares, a descoberta da verdadeira vocação e o senso de justiça e da defesa das pessoas amadas - tudo isso tendo como base as características principais desses elementos, que são a sensibilidade da água e o poder que o fogo possui.
Na maior parte das vezes, aprendemos que os elementos da natureza não se misturam. “Elementos” é um filme que nos mostra o contrário: o quanto esses componentes, representados por essas personagens, possuem em comum. A animação carrega em si as características que fazem dos longas da Disney eventos especiais, na medida em que a emoção e a fantasia dominam cada uma das cenas que assistimos.
Existe uma teoria que os norte-americanos chamam de “Six Degrees of Separation”, na qual eles acreditam na ideia de que todas as pessoas estão conectadas socialmente umas às outras, num grau de até seis ou menos pessoas. Quando a gente vê a estrutura narrativa adotada pelo diretor Benjamin Caron, no filme “Sharper: Uma Vida de Trapaças”, a sensação que dá é a de que a gente está assistindo a uma conexão desse tipo - afinal, a história é dividida em capítulos, centrados nos personagens (vítimas e golpistas) que estão relacionados a esta série de trapaças.
A palavra “Sharper”, que dá título ao filme, aliás, está relacionada à temática principal da trama: os vigaristas, aquelas pessoas que vivem de aplicar golpes - de preferência em milionários. No caso específico do longa, o golpe é aplicado em uma família - pai (John Lithgow) e filho (Justice Smith) - de relacionamento complicado.
O golpe aplicado neles é simples e consiste em fazer com que os golpistas passem a impressão de ser aquilo que eles não são. Assim, “Sharper: Uma Vida de Trapaças” aborda temas como traição, roubos, relações familiares, manipulações e a disputa pelo poder e pelo dinheiro. Tudo isso plantando, também, na mente do público, a dúvida sobre o caráter e a motivação de cada personagem.
Se nada é aquilo que aparenta ser, então “Sharper” também aplica um golpe na plateia. A diferença é que nós estamos com uma vantagem importante: nós sabemos com quem estamos lidando. Ao contrário de Tom, o filho, e Richard, o pai.
Existem filmes em que a gente se esforça para encontrar alguns elementos que nos fazem entrar de cabeça em suas histórias. E existem filmes como “Águas Profundas”, do diretor Adrian Lyne, que tem uma trama tão complicada e que nos causa tanta falta de empatia, que fica difícil tentar enxergar algo de positivo nele.
O roteiro, que é baseado no livro “Em Águas Profundas”, de Patricia Highsmith, é um suspense centrado no casal Vic (Ben Affleck) e Melinda (Ana de Armas), que preferem sustentar um casamento infeliz do que tomar a decisão de cada um seguir seu próprio caminho.
No código de ética que eles adotaram no relacionamento deles, Melinda tem a autorização para se envolver com quantos homens ela desejar. O desconforto de Vic com esse conceito de casamento aberto está claro e o grande conflito por trás de “Águas Profundas” é o destino comum que todos os amantes de Melinda possuem e qual seria o papel de Vic nessas fatalidades.
“Águas Profundas” é uma representação perfeita sobre o caráter doentio que envolve alguns relacionamentos, sobre a falta de responsabilidade afetiva que algumas pessoas demonstram possuir e, principalmente, sobre o egoísmo que envolve alguns adultos. No caso particular de Vic e Melinda, as situações ganham um contorno ainda mais sério, pois os atos e escolhas deles influenciam diretamente na criação e na formação do caráter da filha dos dois, Trixie (Grace Jenkins). Vendo os atos de Trixie, também percebemos o quanto ela é afetada por essa verdadeira bagunça emocional na qual seus pais se encontram.
Na noite de 29 de março de 2008, ocorreu um crime que chocou o Brasil. A menina Isabella Nardoni, de cinco anos, foi jogada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo. O crime ganhou contornos ainda mais chocantes quando da descoberta dos assassinos: o pai de Isabella, Alexandre Nardoni; e a sua esposa e madrasta da criança, Anna Carolina Jatobá.
O documentário “Isabella: O Caso Nardoni”, dirigido por Micael Langer e Cláudio Manoel, retrata a história por trás do caso. Como os fatos públicos sobre este acontecimento já são bastante conhecidos pela plateia, a dupla de diretores acaba adotando uma estratégia deveras peculiar para contar a sua versão dessa história.
Em “Isabella: O Caso Nardoni” aparecem muitas visões divergentes, porém predominam algumas críticas e questionamentos, principalmente ao trabalho desenvolvido pela polícia na investigação e à espetacularização promovida pela mídia na época. Sobra até para a perícia, cujo trabalho chega a ser descredibilizado por alguns depoimentos.
Se contra fatos, não há argumentos, o que “Isabella: O Caso Nardoni” não consegue esconder é a verdade: Isabella foi brutalmente assassinada, e aqueles que cometeram este crime foram condenados em um júri popular. Podemos questionar muitas coisas, principalmente sobre a questão da progressão das penas em casos de crimes tão hediondos como esse. Mas nunca devemos prestar o desserviço que o documentário faz durante boa parte de sua duração.
Uma pequena localidade. Um trabalhador envolvido em um acidente na fábrica de metal em que trabalhava. Ninguém sabe quem ele é, suas origens, suas famílias, seus amigos. O diário encontrado pelo jovem André (Murilo Caliari) revela a todos, principalmente a nós da plateia, quem ele é.
O relato da história de Cristiano (Aristides de Sousa), o trabalhador acidentado, é o objeto principal de “Arábia”, filme dirigido e co-escrito por Affonso Uchôa e João Dumans. Como a trajetória de Cristiano envolve diversas cidades, personagens, trabalhos e amores, é quase como se estivéssemos assistindo a um road movie, no qual, no final, iremos compreender todas as transformações pelas quais Cristiano passou.
Alguns pontos chamam a atenção em “Arábia”. O primeiro deles é a necessidade de Cristiano de escrever a sua história no diário para poder compreender os desígnios que foram reservados a ele. O segundo é a sua resiliência em (re)começar quantas vezes forem necessárias. O terceiro é o sufocamento de uma rotina em que, na maior parte do tempo, você é ninguém.
No final, acredito que o aspecto que mais emociona em “Arábia” está diretamente relacionado a uma das frases que Cristiano escreve em seu diário. “Todo mundo tem uma história. Até os mais calados”. Cristiano era uma dessas pessoas. Ele foi uma daquelas pessoas que mais ouviu do que falou. E a sua jornada iria passar completamente despercebida se não fosse a extraordinária descoberta de seu diário.
O mundo retratado por “Que Mundo Maravilhoso”, filme dirigido por W.S. Van Dyke, pode ser qualquer coisa, menos maravilhoso naquele instante. A situação central a qual o roteiro escrito por Ben Hecht e Herman J. Mankiewicz retrata gira em torno de uma grande confusão envolvendo o detetive particular Guy Johnson (James Stewart) e o milionário Willie Heyward (Ernest Truex).
Heyward foi acusado de assassinar a amante, em plena lua de mel. Johnson é a pessoa que, na tentativa de livrar o seu cliente, o inocentando das acusações, acaba sendo ele mesmo acusado como cúmplice do criminoso. A fuga de Johnson, bem como o encontro dele com a poetisa Edwina Corday (Claudette Colbert), ditam a tônica deste filme.
Como podemos perceber, “Que Mundo Maravilhoso” é um longa que mistura dois gêneros: o filme de investigação com aquele que ficou conhecido como “screwball comedy” (que satirizava as comédias românticas, colocando personagens masculinos e femininos como antagonistas, em uma verdadeira “batalha dos sexos”).
Embora o filme tenha um senso de humor bastante peculiar, e uma dupla de protagonistas do maior calibre, falta a “Que Mundo Maravilhoso” aquele elemento que transforma os filmes - ainda mais se considerando o ano em que este foi produzido (1939 foi um dos maiores anos do cinema norte-americano, com obras que definiram a sétima arte) - em clássicos inesquecíveis.
“O Labirinto do Fauno” é o melhor filme realizado por Guillermo Del Toro (que, além de assinar a direção, fez o roteiro e a produção da película). A execução dele é praticamente perfeita – com destaque para a fotografia de Guillermo Navarro, a trilha de Javier Navarrete e a direção de arte de Eugenio Caballero. O filme tem uma moral belíssima e prova que se pode abordar assuntos delicados se apelando para a fantasia. Só nos resta ver se esta visão de Del Toro não é um pouco arrojada demais para a Academia, pois este é um filme que merece reconhecimento.
Marvin Bosch (Elyas M’Barek) é, literalmente, “O Cara dos Sonhos”. Maior estrela de cinema da Alemanha, objeto da adoração de 10 entre 10 pessoas, ele tem uma vida que é considerada perfeita, até que cai na armadilha da jornalista Bettina Bamberger (Alexandra Maria Lara), uma espécie de Léo Dias da imprensa marrom alemã.
Na noite que deveria ser a da estreia do seu mais novo filme, Marvin se vê obrigado a se esconder de tudo e de todos - mídias, fãs, amigos… É assim que ele vai parar num teatro de stand-up comedy com temática de gênero. Os acontecimentos decorrentes dessa noite é o que assistiremos no filme “Coisas do Amor”, dirigido e escrito por Anika Decker.
Por meio do relato da história de Marvin Bosch, a diretora e roteirista aborda alguns temas interessantes, como o vazio da fama, a proteção excessiva que a fama traz, a falta de ética da imprensa marrom e, por fim, mostra também a necessidade de, num momento de dificuldade, Marvin se voltar a si mesmo para poder se reencontrar e valorizar o que realmente importa na vida (amigos de verdade, um amor de verdade e algo que nos dê motivação para seguir em frente).
Uma mensagem bonitinha, num filme que cumpre o seu papel. “Coisas de Amor” brinca o tempo inteiro com clichês, com a previsibilidade de sua história e ainda desafia a si mesmo, ao nos fazer questionar se os finais felizes são mesmo assim tão irreais quanto as pessoas com um olhar mais realista sobre a vida querem nos fazer crer.
Trinta e cinco anos separam as duas linhas narrativas nas quais “Além do Tempo”, filme dirigido por Theu Boermans, acontece. Nelas, passado e presente se unem para contar a história de Lucas (Reinout Scholten van Aschat, quando jovem; e Gijs Scholten van Aschat, quando idoso) e Johanna (Sallie Harmsen, quando jovem; e Elsie de Brauw, quando idosa), casal que está, ao lado do filho Kai (River Oosterink), em uma viagem de barco pelo Atlântico.
Uma tragédia pessoal transforma a existência e o relacionamento dos dois, fazendo com que ambos, nas palavras de Lucas, morram em vida. Assim como a ópera que Lucas cria, o roteiro de Marieke van der Pol é dividido em atos que retratam os ciclos que se seguem após a tragédia: o luto, que cada um vive à sua maneira; a redescoberta da vida; o fim e o reencontro.
“Além do Tempo” é um filme, portanto, sobre a dor e como é difícil, algumas vezes, encarar todo o sofrimento que ela nos traz. Se, a princípio, fugir parece ser o melhor negócio, o que “Além do Tempo” nos ensina é que encarar a verdade dói, mas este é um mal necessário para que a vida siga o seu curso.
Conseguir um furo jornalístico é o equivalente a um gol para os profissionais da comunicação. No caso particular de Valmir Salaro, naquele final de março de 1994, o furo se revelaria o pior erro de sua carreira como jornalista. Foi ele o primeiro jornalista a noticiar o caso que ficou conhecido como “Escola Base”, no qual os proprietários de uma escola infantil foram acusados de abuso sexual contra dois alunos da instituição.
Existe um ditado que diz que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”. A frase não valeu para os acusados neste caso. Os casais Icushiro e Maria Aparecida Shimada e Paula Milhim Alvarenga e Maurício Monteiro de Alvarenga foram condenados publicamente pela imprensa e pelo público. Sem direito à defesa.
O documentário “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado”, dirigido por Caio Cavechini e Eliane Scardovelli, coloca o foco em cima de Salaro, jornalista que fez a sua carreira na cobertura de casos policiais e personagem importante na condução do episódio “Escola Base”, para fazer um estudo sobre este acontecimento e permitir também, de uma certa maneira, a expiação de qualquer culpa que Salaro tenha em relação ao seu papel nesta crucificação pública.
Quem foi estudante de Jornalismo, com certeza, estudou o caso “Escola Base” em alguma disciplina, principalmente aquelas relacionadas à ética jornalística. “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” é um reflexo de todo o peso que Salaro carrega nas costas. Seu maior equívoco, talvez, seja reconhecer somente o papel da imprensa (representada pelo jornalista) neste infortúnio.
O caso “Escola Base” foi o resultado de um erro geral cometido pela imprensa, pela polícia, pelas mães acusadoras, pelo público que julgou… O documentário “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” é uma tentativa interessante - e corajosa - de inocentar, mais uma vez, publicamente os envolvidos. Além de ser um lembrete importante a nós, jornalistas, e, por quê não, ao público também: precisamos exercer sempre os nossos papeis com responsabilidade, com os fatos e, principalmente, com as vidas humanas envolvidas nele.
Quando foi lançada para o público, pela primeira vez, em 6 de agosto de 1945, na cidade de Hiroshima, no Japão, a bomba atômica (ali batizada de Little Boy) demorou cerca de 45 segundos para explodir. Seus efeitos foram devastadores e conhecidos por todos nós. Por trás da concepção e da criação do artefato, no entanto, foi um período mais longo: 3 anos de trabalho, ao custo de 2 milhões de dólares, envolvendo 4.000 pessoas/profissionais/pesquisadores.
O filme “Oppenheimer”, dirigido e co-escrito por Christopher Nolan, conta a história do físico teórico Julius Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), o homem que liderou o projeto Manhattan, que foi estabelecido pelo governo norte-americano com o objetivo de criar as primeiras armas nucleares. Pelo seu trabalho neste projeto, Oppenheimer ficou conhecido como o Pai da Bomba Atômica.
Ao longo de seus 185 minutos de duração, “Oppenheimer” tem elementos de uma cinebiografia clássica, porém Christopher Nolan vai além ao trazer para dentro da discussão pontos muito importantes, como o envolvimento dos conflitos éticos e morais na ciência e a visão dos cientistas como seres de consciência e de influência política.
Ao abordar o papel de Oppenheimer como presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, Nolan também retrata o criador lidando com as consequências de sua grande descoberta e isso significa compreender que tem que existir um equilíbrio na disposição dos armamentos das nações, na medida em que se tem a consciência do potencial destrutivo dos arsenais nucleares.
“Oppenheimer” é um filme de personagens com questões sérias de caráter e de moral. As incongruências dessas pessoas são importantes para que possamos enxergar o reflexo daquilo que o longa deseja nos passar. O mundo mudou após os lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. As relações diplomáticas, as relações políticas, as guerras, os armamentos não são mais os mesmos. Fechar os olhos para essa realidade é enxergar a possibilidade daquilo que Oppenheimer vislumbrou quando viu os efeitos de sua criação: a destruição do mundo.
Baseado numa história real, o filme “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia”, dirigido e co-escrito por Héctor Babenco, conta uma história em que a linha que separa mocinhos e bandidos é muito tênue. No caso particular do roteiro escrito pelo próprio Babenco e por Jorge Durán e José Louzeiro, a polícia e os bandidos se encontram no mesmo barco.
Lúcio Flávio (Reginaldo Farias) foi um ladrão que ganhou notoriedade, no final da década de 60/início da década de 70, pelo seu envolvimento em assaltos a bancos, bem como pela sua relação com o chamado Esquadrão da Morte, grupos de extermínio formados, principalmente, por policiais, que possuíam um vínculo com diversos criminosos - a quem protegiam e obtinham benefícios dos crimes cometidos por eles.
Por meio deste anti-herói, Babenco faz uma crônica sobre o sistema de corrupção endêmica que atingia a polícia, bem como aos métodos subversivos de interrogatório (com ênfase no uso desenfreado da tortura, em uma época, lembremos, de ditadura militar), que mantinham vivos uma organização de interesses muito maior - no qual Lúcio Flávio era apenas uma marionete descartável quando não fosse mais útil.
Primeiro grande filme dirigido por Babenco, “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia” é um drama policial que chama a atenção pelo seu lado técnico, principalmente no que diz respeito às cenas de ação e àquelas que se passam no submundo da polícia. O elenco também merece grande destaque, principalmente a atuação de Reginaldo Farias, visceral como o personagem que dá título ao longa.
Existem pessoas que dispensam apresentações. Francisco Cândido Xavier é uma delas. Vinte anos após o seu desencarne, o diretor Wagner de Assis decide contar a história do médium mineiro no documentário “Chico para Sempre”, que conta com os depoimentos de biógrafos oficiais de Chico, bem como de amigos, líderes espíritas e personalidades diversas cujas trajetórias de vida se confundem ou foram influenciadas pelas atividades desenvolvidas por Chico.
Tentar compreender quem foi Chico Xavier é uma atividade deveras complexa, por isso Wagner de Assis se dedica a desvendar a personalidade pública do mineiro. Como ele foi chamado para a espiritualidade, a sua disciplina para desenvolver o trabalho espiritual (seja através da autoria de livros, da escrita de cartas psicografadas, da feitura de receituários médicos, do diálogo fraterno, das aparições públicas, entre tantas outras atividades), o seu legado e como os seus ensinamentos podem ser mantidos vivos.
Assistir a “Chico Para Sempre” é se emocionar com a devoção com que Chico Xavier se dedicou e se doou para a espiritualidade. Como ele ouviu, como ele consolou, como ele ajudou, como ele iluminou caminhos, como ele propagou a mensagem de Jesus Cristo entre nós.
Ao longo do documentário, é citado o legado de Chico Xavier para o movimento espírita, nos seus 92 anos de vida. Mais de 450 livros, mais de 50 milhões de exemplares vendidos, mais de 10 mil cartas psicografadas, mais de 3 mil casas espíritas fundadas, e assim por diante. Porém, o que “Chico Para Sempre” traz de novo para essa história é a entrada dos multiplicadores da mensagem de Chico, que continuam atuando e difundindo seus ensinamentos.
O próprio Wagner de Assis, com sua filmografia em boa parte dedicada à discussão e difusão da doutrina espírita, é um deles. O trabalho dessas pessoas é fundamental para que a mensagem de amor que Chico nos deixou permeie para todo o sempre.
Em consequência deste seu caráter primordialmente espiritual fica muito difícil tentar avaliar “Nosso Lar”. Como obra cinematográfica, o filme tem alguns aspectos interessantes, como a fotografia de Ueli Steiger; mas, ao mesmo tempo, também tem alguns problemas que não chegam a comprometer o resultado final, como, por exemplo, o fato do primeiro ato (que alterna cenas de André Luiz no mundo material e no purgatório, antes de ele chegar ao mundo espiritual) ter pontos de transição muito bruscos.
As Agojie, também conhecidas como “Amazonas de Daomé”, eram a guarda do exército do rei deste estado (que era um dos mais poderosos da África, nos séculos XVIII e XIX). Uma força de elite formada exclusivamente por mulheres e que, no seu auge, chegou a ter 6 mil integrantes. A história dessas guerreiras nos é relatada no filme “A Mulher Rei”, dirigido por Gina Prince-Bythewood.
A história tem foco na figura da General Nanisca (Viola Davis) que, ao lado de suas subordinadas, está trabalhando na formação de novas integrantes do grupo, ao mesmo tempo em que organizam e coordenam uma série de ataques a outro estado africano, o reino de Oyo, cuja atividade econômica principal está relacionada à escravidão.
Um ponto interessante a se constatar na trama de “A Mulher Rei” é justamente a ideia de que mulheres subjugadas a outros homens (no caso, o rei) e renegadas pelos seus próprios familiares (o que, na cultura africana era também representado pela figura masculina, a paterna) eram a responsáveis pelo levante que levaria à liberdade de seus semelhantes.
As agojie, é importante frisar, na forma como a trama de “A Mulher Rei” nos é apresentada, se colocaram contra a escravidão, com o apoio do Rei Ghezo (John Boyega), pois ele concordava com a posição de Nanisca de que o povo de Daomé deveria privilegiar outra atividade comercial (no caso, a comercialização de azeite de dendê), em detrimento da venda de escravos - atividade da qual o reino já se beneficiou anteriormente.
“A Mulher Rei” é um filme poderoso, em muitos sentidos. Não só na mensagem histórica que carrega; como também na forma como coloca as mulheres em posição de poder; na maneira como privilegia a representatividade, com uma trama protagonizada por atores, em sua maioria, negros; e na forma como insere a figura feminina como o ponto principal numa história de ação, colocando-as de igual para igual com os outros homens, com os outros guerreiros.
Este é um filme que merecia um melhor reconhecimento, principalmente no que diz respeito às premiações mais importantes da indústria do cinema, especialmente o Oscar.
Se, em “Avatar”, a terra era o caminho pelo qual Jake Sully (Sam Worthington) encontra o seu propósito; em “Avatar: O Caminho da Água”, como o próprio título deixa subentendido, é a água que leva o protagonista desta história a encontrar o seu destino.
Doze anos separam os dois filmes. Neste ínterim, Sully e Neytiri (Zoe Saldana) formaram uma família, tiveram filhos e se posicionaram como líderes do povo Na’vi. Entretanto, os rastros das decisões tomadas por Sully possuem consequências e, quando eles se vêem na iminência do perigo (representado por Quaritch - personagem interpretado por Stephen Lang), eles têm que se reinventar, como clã e como família.
Assim como em “Avatar”, portanto, que promovia a transformação pessoal de Jake Sully por meio do amor e do contato com a cultura dos Na’vi; é o desejo de proteção à família que ele formou que move a personagem (e, consequentemente, seus filhos) em mais uma jornada de transformação pessoal, no contato com a cultura de um novo povo, o que habita os recifes dos ambientes marinhos.
Existem vários filmes dentro de “Avatar: O Caminho da Água”: o que retrata a descoberta do perigo representado por Quaritch, o que retrata o êxodo familiar e o exílio deles junto ao povo dos recifes, e, finalmente, aquele que retrata o grande conflito que interessa ao roteiro escrito por James Cameron, Rick Jaffa e Amanda Silver: o embate entre Sully e Quaritch.
Estas tramas se desenrolam numa obra que chama a atenção por ser um espetáculo visual, e pelo desejo de James Cameron de, como diretor, levar o seu cinema a um outro patamar. São poucos os que conseguem trabalhar com a tecnologia. E Cameron é um dos que traz isso ao seu favor. Ao custo de um roteiro problemático, diga-se de passagem, mas não é isso que interessa ao público de “Avatar”. Cameron entrega ao seu público o filme que eles desejam assistir!
O rúgbi é um esporte essencialmente masculino e marcado pelo excesso de toque e de contato físico. O filme “Ao Seu Lado”, dirigido e co-escrito por Matt Carter, utiliza esta modalidade como o pano de fundo para o retrato das relações entre os homens, tendo como vértices os jogadores de um time de rugby cujos integrantes são gays.
Mark (Alexander Lincoln) e Warren (Alexander King) são homens infelizes nos seus relacionamentos pessoais e que se encontram por meio do rugby. Uma atração nasce entre eles e o romance que surge se transforma numa brincadeira arriscada envolvendo a lealdade deles, não só para com os parceiros, como também para os companheiros de time.
O título “Ao Seu Lado”, neste caso, pode ter múltiplas referências, porém a principal delas está relacionada ao senso de que a verdade, o amor, o sofrimento, a traição e a mentira podem estar mais próximos do que você imagina.
“Ao Seu Lado” retrata a sua história de uma forma simples, porém extremamente direta na forma gradual como o relacionamento entre Mark e Warren é construído. Entretanto, a obra não deixa de plantar uma enorme frustração na plateia, ao nos lembrar de que nem sempre as coisas acontecem da forma como tem que ser.
Em um determinado momento de “Still: Ainda Sou Michael J. Fox”, documentário dirigido por Davis Guggenheim, ele fala que “a maior ambição de um ator é passar o maior tempo possível fingindo ser alguém”. Foi isso que Michael J. Fox fez. Só que ele não fingiu ser outra pessoa. Ele fingiu ser ele mesmo, mascarando o avanço de sua doença (Mal de Parkinson), que veio no auge de sua vida pessoal e profissional.
“Still: Ainda Sou Michael J. Fox”, portanto, coloca o ator analisando a sua trajetória de vida e de carreira, principalmente a sua ascensão após a série “Family Ties” e o filme “De Volta Para o Futuro”, e como o diagnóstico do Mal de Parkinson, em 1991, foi definidor para os demais anos de sua existência.
Chama a atenção no documentário a forma franca e honesta como Michael fala sobre si mesmo, principalmente sobre como ele lidou com a doença, fugindo da verdade, recusando-se a encarar a enfermidade. A partir do instante em que ele entendeu a sua condição, assumindo-a para o mundo, é que começa o grande capítulo dessa história, ao qual ainda estamos assistindo.
Em sua estrutura narrativa, “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” é quase como se fosse um espelho da autobiografia do ator, em que ele aborda a sua vida, a sua carreira e a sua campanha em prol da cura do Parkinson. O diretor Davis Guggenheim (um veterano - e premiado - do gênero documentário) apresenta o seu olhar sobre Fox de uma forma verdadeira, sem fragilizá-lo e sem tratá-lo como uma vítima.
Terminamos o filme tendo a certeza de que Fox é um lutador, alguém que não está pronto para se entregar e que não quer deixar que o seu diagnóstico defina quem ele é.
Em abril de 1945, nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, dias antes da libertação dos prisioneiros do campo de concentração Bergen Belsen pelo exército russo, os alemães transportaram, via trem, dezenas de prisioneiros judeus que eles consideravam valiosos como moeda de troca. Um desses trens acaba abandonado próximo a um vilarejo alemão.
Essa contextualização histórica, que ocorre no início de “Três Mulheres: Uma Esperança”, filme dirigido e escrito por Saskia Diesing, é importante, pois a história que iremos acompanhar é a do encontro casual que acontece entre três mulheres: Winnie (Anna Bachmann), uma garota do vilarejo local; a prisioneira judia de origem holandesa Simone (Hanna van Vliet); e a sargento do exército russo Vera (Eugénie Anselin).
As três personagens representam os lados desse conflito retratados no filme: o do povo alemão, ludibriado por um líder que representava o de pior que existe na humanidade; o do povo judeu, que sofreu as maiores barbaridades que ninguém poderia imaginar; e a dos aliados, que não sabiam como lidar com a realidade que encontraram na Alemanha e que também sofriam a desconfiança dos outros.
A ligação que se estabelece entre essas três mulheres envolve, portanto, o instinto de sobrevivência, porém também representa o aspecto humano existente em cada grande conflito, com elementos de empatia, de respeito e de coragem. O relacionamento entre elas é construído de uma forma crescente pelo roteiro - apesar deste nunca se aprofundar nos conflitos mais profundos que cada uma delas carrega em si.
Além de ser um dos diretores e roteiristas mais cultuados do cinema norte-americano, Woody Allen é também um entusiasta da música - mais particularmente do jazz. Com seu clarinete, ele já se apresentou inúmeras vezes em clubes de música na sua amada Nova York. O musical “Todos Dizem Eu Te Amo”, que Allen escreveu e dirigiu, une justamente as duas paixões do diretor e roteirista: o cinema e o jazz.
No filme, iremos acompanhar os encontros e desencontros de uma família no campo do amor. Embalados por canções clássicas, vemos Allen dissecar sua visão sobre o amor e a paixão, tendo em vista as experiências e momentos de vida vividos pelos seus personagens.
“Todos Dizem Eu Te Amo” é um musical, portanto, simples, porém com aura clássica e com a marca de Allen, um diretor/roteirista conhecido pelas suas histórias repletas de idiossincrasias sobre a vida e suas nuances mais complicadas/engraçadas/despretensiosas.
Fique de olho no grande elenco que Allen reuniu para este filme, o qual é encabeçado por ele mesmo, Alan Alda, Goldie Hawn e Julia Roberts, com o apoio de Natasha Lyonne, Edward Norton, Drew Barrymore, Tim Roth, Natalie Portman, dentre outros.
Adolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril de 1945, como uma forma de evitar a sua prisão pelo exército russo na iminente derrota alemã na II Guerra Mundial. Por algum motivo específico, o Sr. Polsky (David Hayman), um solitário e mal-humorado sobrevivente do Holocausto, está convencido de que seu recém-chegado - e misterioso - vizinho é, nada mais, nada menos, que o líder do regime nazista alemão.
A jornada do Sr. Polsky por convencer os outros de sua ideia é retratada no filme “Meu Vizinho Adolf”, dirigido e co-escrito por Leon Prudovsky. Tal qual um observador participativo, o Sr. Polsky se insere diretamente na sua investigação particular, passando a estabelecer um relacionamento pessoal com o seu vizinho, o Sr. Herzog (Udo Kier), em busca de provas que atestem a veracidade de sua crença.
É justamente no processo de troca entre as duas personagens que “Meu Vizinho Adolf” encontra os seus melhores momentos. É por intermédio dele que iremos descobrir que, no final, o Sr. Polsky e o Sr. Herzog possuem muito mais em comum do que imaginam. Os dois são homens que buscam encontrar a paz interior depois de vivenciar experiências traumáticas e que marcam a vida de qualquer um.
A protagonista do filme “A Mãe”, dirigido por Niki Caro, é alguém que vive em fuga, é uma ex-militar, é uma assassina, é alguém que se envolveu com as pessoas erradas, é alguém que paga o preço pelas decisões erradas que tomou. Porém, acima de tudo, ela é uma mãe e uma pessoa cujos últimos atos - pelo menos, aqueles que assistimos durante o filme - são com um único propósito: o de proteger a sua filha dos seus algozes.
Após doze anos vivendo escondida no Alaska, a mãe (Jennifer Lopez) é obrigada a sair de seu esconderijo quando sua filha Zoe (Lucy Paez) tem sua identidade e paradeiros descobertos pela dupla de criminosos (Joseph Fiennes e Gael Garcia Bernal) que vive para persegui-la.
Numa vibe “Comando para Matar”, o que “A Mãe” nos retrata, portanto, é a protagonista no papel que ela melhor desempenha (o de genitora), em busca do resgate e da proteção e da segurança da sua filha; ao mesmo tempo em que ela tenta entrar em paz consigo mesma e com o auto-exílio que se obrigou a seguir.
O que faz de “A Mãe” um filme interessante é que, mesmo com todos os clichês e com uma trama batida, estamos diante de uma história em que a grande heroína é uma mulher. O olhar feminino, com sua sensibilidade e força, faz a diferença aqui (na frente e por trás das câmeras).
“A Mãe” é um filme tenso, com boas doses de suspense e que cumpre o seu papel como um representante do gênero de ação. Além de ter sutilezas interessantes na forma como faz paralelos entre a maternidade e a situação vivida pela personagem de Jennifer Lopez - uma mulher sem identidade pessoal, mas definida por aquilo que ela é: uma mãe. Qualquer semelhança com a maternidade crua e real, é uma mera coincidência.
Um dos primeiros filmes dirigidos por Martin Scorsese, “Caminhos Perigosos” se passa em um território que o diretor e co-roteirista conhece bem: a comunidade de Little Italy, em Nova York. O roteiro faz uma crônica do cotidiano de um grupo de jovens amigos, de origem ítalo-americana, em meio a uma realidade violenta e à máfia que é típica do local. Tudo isso ocorre enquanto eles mesmos tentam se firmar - e, consequentemente, se encontrar - diante de todas essas situações.
O foco principal está em dois dos amigos: Charlie (Harvey Keitel), que está para herdar a administração de um dos restaurantes cuja propriedade é do seu tio; e Johnny Boy (Robert De Niro, no primeiro filme em que trabalhou com Scorsese), que é o oposto de Charlie, e vive se metendo em problemas - a maior parte deles causada por suas dívidas decorridas de empréstimos obtidos junto a pessoas igualmente sem escrúpulos.
Com seu caráter responsável e a confiabilidade que passa, Charlie é como se fosse o fiador de Johnny Boy e, durante boa parte do filme, iremos acompanhar o primeiro tentando incutir no segundo um pouco do senso de responsabilidade que nele habita.
Assistir a “Caminhos Perigosos” é ter a oportunidade de testemunhar a identidade de um cineasta em formação. Aqui, temos alguns elementos que dominariam a filmografia posterior de Scorsese, como a violência, os submundos dos subúrbios e as personagens em conflitos íntimos. A linguagem documental, crua e visceral também é uma marca que podemos ver neste filme.
Super Xuxa contra Baixo Astral
2.7 529 Assista AgoraPoucas vezes uma cena foi tão feliz. Sem diálogos, somente com a execução e encenação da canção “Arco-Íris”, de autoria de Anna Penido, Graciella Carballo, Michael Sullivan e Paulo Massadas, temos a construção da personagem principal de “Super Xuxa Contra Baixo Astral”, filme dirigido por Anna Penido e David Sonnenschein; e, de quebra, a motivação por trás de suas ações e do grande conflito do longa.
Xuxa (interpretando a si mesma) é a heroína que tenta trazer mais alegria à cidade do Rio de Janeiro, seja por meio da distribuição de amor, da pintura de paredes pichadas, do auxílio ao próximo, enfim, da realização das mais diversas boas ações. Em contraponto a ela, a figura do Baixo Astral (o saudoso Guilherme Karam): o vilão que vive no submundo e na sujeira, que odeia alegria e que só deseja semear a maldade e a discórdia.
Em busca de recuperar o seu cãozinho Xuxo (que foi raptado pelo Baixo Astral), Xuxa embarca numa viagem pelo mundo da fantasia e dos sonhos, numa jornada que reforça a sua posição e o seu papel de boa influência e de promotora de ações positivas em todos os ambientes em que ela se encontra.
Rever “Super Xuxa Contra Baixo Astral” na idade adulta é ter a certeza de que o filme sobreviveu ao tempo. Sua mensagem principal do amor e da esperança como base para a transformação pessoal é muito bonita. Esse filme representa o cinema infantil em sua excelência.
Elementos
3.7 469Fogo. Água. Terra. Ar. Elementos da natureza e que regem os signos do zodíaco. Na narrativa da animação “Elementos”, filme dirigido por Peter Sohn, estes quatro componentes representam diversas comunidades, cujos representantes coabitam numa cidade harmonicamente, embora respeitem as particularidades que os diferenciam entre si.
O foco do roteiro escrito por John Hober, Kat Likkel e Brenda Hsueh está no relacionamento que nasce entre Faísca (dublada por Leah Lewis na versão original), uma representante do povo do Fogo, e Gota (dublado por Mamodou Athie na versão original), que representa o povo da Água.
O relacionamento entre eles envolve um background que aborda temas como a tradição e as relações familiares, a descoberta da verdadeira vocação e o senso de justiça e da defesa das pessoas amadas - tudo isso tendo como base as características principais desses elementos, que são a sensibilidade da água e o poder que o fogo possui.
Na maior parte das vezes, aprendemos que os elementos da natureza não se misturam. “Elementos” é um filme que nos mostra o contrário: o quanto esses componentes, representados por essas personagens, possuem em comum. A animação carrega em si as características que fazem dos longas da Disney eventos especiais, na medida em que a emoção e a fantasia dominam cada uma das cenas que assistimos.
Sharper: Uma Vida de Trapaças
3.4 98 Assista AgoraExiste uma teoria que os norte-americanos chamam de “Six Degrees of Separation”, na qual eles acreditam na ideia de que todas as pessoas estão conectadas socialmente umas às outras, num grau de até seis ou menos pessoas. Quando a gente vê a estrutura narrativa adotada pelo diretor Benjamin Caron, no filme “Sharper: Uma Vida de Trapaças”, a sensação que dá é a de que a gente está assistindo a uma conexão desse tipo - afinal, a história é dividida em capítulos, centrados nos personagens (vítimas e golpistas) que estão relacionados a esta série de trapaças.
A palavra “Sharper”, que dá título ao filme, aliás, está relacionada à temática principal da trama: os vigaristas, aquelas pessoas que vivem de aplicar golpes - de preferência em milionários. No caso específico do longa, o golpe é aplicado em uma família - pai (John Lithgow) e filho (Justice Smith) - de relacionamento complicado.
O golpe aplicado neles é simples e consiste em fazer com que os golpistas passem a impressão de ser aquilo que eles não são. Assim, “Sharper: Uma Vida de Trapaças” aborda temas como traição, roubos, relações familiares, manipulações e a disputa pelo poder e pelo dinheiro. Tudo isso plantando, também, na mente do público, a dúvida sobre o caráter e a motivação de cada personagem.
Se nada é aquilo que aparenta ser, então “Sharper” também aplica um golpe na plateia. A diferença é que nós estamos com uma vantagem importante: nós sabemos com quem estamos lidando. Ao contrário de Tom, o filho, e Richard, o pai.
Águas Profundas
2.5 363 Assista AgoraExistem filmes em que a gente se esforça para encontrar alguns elementos que nos fazem entrar de cabeça em suas histórias. E existem filmes como “Águas Profundas”, do diretor Adrian Lyne, que tem uma trama tão complicada e que nos causa tanta falta de empatia, que fica difícil tentar enxergar algo de positivo nele.
O roteiro, que é baseado no livro “Em Águas Profundas”, de Patricia Highsmith, é um suspense centrado no casal Vic (Ben Affleck) e Melinda (Ana de Armas), que preferem sustentar um casamento infeliz do que tomar a decisão de cada um seguir seu próprio caminho.
No código de ética que eles adotaram no relacionamento deles, Melinda tem a autorização para se envolver com quantos homens ela desejar. O desconforto de Vic com esse conceito de casamento aberto está claro e o grande conflito por trás de “Águas Profundas” é o destino comum que todos os amantes de Melinda possuem e qual seria o papel de Vic nessas fatalidades.
“Águas Profundas” é uma representação perfeita sobre o caráter doentio que envolve alguns relacionamentos, sobre a falta de responsabilidade afetiva que algumas pessoas demonstram possuir e, principalmente, sobre o egoísmo que envolve alguns adultos. No caso particular de Vic e Melinda, as situações ganham um contorno ainda mais sério, pois os atos e escolhas deles influenciam diretamente na criação e na formação do caráter da filha dos dois, Trixie (Grace Jenkins). Vendo os atos de Trixie, também percebemos o quanto ela é afetada por essa verdadeira bagunça emocional na qual seus pais se encontram.
Isabella: O Caso Nardoni
3.1 129Na noite de 29 de março de 2008, ocorreu um crime que chocou o Brasil. A menina Isabella Nardoni, de cinco anos, foi jogada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo. O crime ganhou contornos ainda mais chocantes quando da descoberta dos assassinos: o pai de Isabella, Alexandre Nardoni; e a sua esposa e madrasta da criança, Anna Carolina Jatobá.
O documentário “Isabella: O Caso Nardoni”, dirigido por Micael Langer e Cláudio Manoel, retrata a história por trás do caso. Como os fatos públicos sobre este acontecimento já são bastante conhecidos pela plateia, a dupla de diretores acaba adotando uma estratégia deveras peculiar para contar a sua versão dessa história.
Em “Isabella: O Caso Nardoni” aparecem muitas visões divergentes, porém predominam algumas críticas e questionamentos, principalmente ao trabalho desenvolvido pela polícia na investigação e à espetacularização promovida pela mídia na época. Sobra até para a perícia, cujo trabalho chega a ser descredibilizado por alguns depoimentos.
Se contra fatos, não há argumentos, o que “Isabella: O Caso Nardoni” não consegue esconder é a verdade: Isabella foi brutalmente assassinada, e aqueles que cometeram este crime foram condenados em um júri popular. Podemos questionar muitas coisas, principalmente sobre a questão da progressão das penas em casos de crimes tão hediondos como esse. Mas nunca devemos prestar o desserviço que o documentário faz durante boa parte de sua duração.
Arábia
4.2 167 Assista AgoraUma pequena localidade. Um trabalhador envolvido em um acidente na fábrica de metal em que trabalhava. Ninguém sabe quem ele é, suas origens, suas famílias, seus amigos. O diário encontrado pelo jovem André (Murilo Caliari) revela a todos, principalmente a nós da plateia, quem ele é.
O relato da história de Cristiano (Aristides de Sousa), o trabalhador acidentado, é o objeto principal de “Arábia”, filme dirigido e co-escrito por Affonso Uchôa e João Dumans. Como a trajetória de Cristiano envolve diversas cidades, personagens, trabalhos e amores, é quase como se estivéssemos assistindo a um road movie, no qual, no final, iremos compreender todas as transformações pelas quais Cristiano passou.
Alguns pontos chamam a atenção em “Arábia”. O primeiro deles é a necessidade de Cristiano de escrever a sua história no diário para poder compreender os desígnios que foram reservados a ele. O segundo é a sua resiliência em (re)começar quantas vezes forem necessárias. O terceiro é o sufocamento de uma rotina em que, na maior parte do tempo, você é ninguém.
No final, acredito que o aspecto que mais emociona em “Arábia” está diretamente relacionado a uma das frases que Cristiano escreve em seu diário. “Todo mundo tem uma história. Até os mais calados”. Cristiano era uma dessas pessoas. Ele foi uma daquelas pessoas que mais ouviu do que falou. E a sua jornada iria passar completamente despercebida se não fosse a extraordinária descoberta de seu diário.
Que Mundo Maravilhoso
3.5 7 Assista AgoraO mundo retratado por “Que Mundo Maravilhoso”, filme dirigido por W.S. Van Dyke, pode ser qualquer coisa, menos maravilhoso naquele instante. A situação central a qual o roteiro escrito por Ben Hecht e Herman J. Mankiewicz retrata gira em torno de uma grande confusão envolvendo o detetive particular Guy Johnson (James Stewart) e o milionário Willie Heyward (Ernest Truex).
Heyward foi acusado de assassinar a amante, em plena lua de mel. Johnson é a pessoa que, na tentativa de livrar o seu cliente, o inocentando das acusações, acaba sendo ele mesmo acusado como cúmplice do criminoso. A fuga de Johnson, bem como o encontro dele com a poetisa Edwina Corday (Claudette Colbert), ditam a tônica deste filme.
Como podemos perceber, “Que Mundo Maravilhoso” é um longa que mistura dois gêneros: o filme de investigação com aquele que ficou conhecido como “screwball comedy” (que satirizava as comédias românticas, colocando personagens masculinos e femininos como antagonistas, em uma verdadeira “batalha dos sexos”).
Embora o filme tenha um senso de humor bastante peculiar, e uma dupla de protagonistas do maior calibre, falta a “Que Mundo Maravilhoso” aquele elemento que transforma os filmes - ainda mais se considerando o ano em que este foi produzido (1939 foi um dos maiores anos do cinema norte-americano, com obras que definiram a sétima arte) - em clássicos inesquecíveis.
O Labirinto do Fauno
4.2 2,9K“O Labirinto do Fauno” é o melhor filme realizado por Guillermo Del Toro (que, além de assinar a direção, fez o roteiro e a produção da película). A execução dele é praticamente perfeita – com destaque para a fotografia de Guillermo Navarro, a trilha de Javier Navarrete e a direção de arte de Eugenio Caballero. O filme tem uma moral belíssima e prova que se pode abordar assuntos delicados se apelando para a fantasia. Só nos resta ver se esta visão de Del Toro não é um pouco arrojada demais para a Academia, pois este é um filme que merece reconhecimento.
Coisas do Amor
2.7 2 Assista AgoraMarvin Bosch (Elyas M’Barek) é, literalmente, “O Cara dos Sonhos”. Maior estrela de cinema da Alemanha, objeto da adoração de 10 entre 10 pessoas, ele tem uma vida que é considerada perfeita, até que cai na armadilha da jornalista Bettina Bamberger (Alexandra Maria Lara), uma espécie de Léo Dias da imprensa marrom alemã.
Na noite que deveria ser a da estreia do seu mais novo filme, Marvin se vê obrigado a se esconder de tudo e de todos - mídias, fãs, amigos… É assim que ele vai parar num teatro de stand-up comedy com temática de gênero. Os acontecimentos decorrentes dessa noite é o que assistiremos no filme “Coisas do Amor”, dirigido e escrito por Anika Decker.
Por meio do relato da história de Marvin Bosch, a diretora e roteirista aborda alguns temas interessantes, como o vazio da fama, a proteção excessiva que a fama traz, a falta de ética da imprensa marrom e, por fim, mostra também a necessidade de, num momento de dificuldade, Marvin se voltar a si mesmo para poder se reencontrar e valorizar o que realmente importa na vida (amigos de verdade, um amor de verdade e algo que nos dê motivação para seguir em frente).
Uma mensagem bonitinha, num filme que cumpre o seu papel. “Coisas de Amor” brinca o tempo inteiro com clichês, com a previsibilidade de sua história e ainda desafia a si mesmo, ao nos fazer questionar se os finais felizes são mesmo assim tão irreais quanto as pessoas com um olhar mais realista sobre a vida querem nos fazer crer.
Além do Tempo
3.1 1 Assista AgoraTrinta e cinco anos separam as duas linhas narrativas nas quais “Além do Tempo”, filme dirigido por Theu Boermans, acontece. Nelas, passado e presente se unem para contar a história de Lucas (Reinout Scholten van Aschat, quando jovem; e Gijs Scholten van Aschat, quando idoso) e Johanna (Sallie Harmsen, quando jovem; e Elsie de Brauw, quando idosa), casal que está, ao lado do filho Kai (River Oosterink), em uma viagem de barco pelo Atlântico.
Uma tragédia pessoal transforma a existência e o relacionamento dos dois, fazendo com que ambos, nas palavras de Lucas, morram em vida. Assim como a ópera que Lucas cria, o roteiro de Marieke van der Pol é dividido em atos que retratam os ciclos que se seguem após a tragédia: o luto, que cada um vive à sua maneira; a redescoberta da vida; o fim e o reencontro.
“Além do Tempo” é um filme, portanto, sobre a dor e como é difícil, algumas vezes, encarar todo o sofrimento que ela nos traz. Se, a princípio, fugir parece ser o melhor negócio, o que “Além do Tempo” nos ensina é que encarar a verdade dói, mas este é um mal necessário para que a vida siga o seu curso.
Escola Base - Um Repórter Enfrenta o Passado
3.6 32Conseguir um furo jornalístico é o equivalente a um gol para os profissionais da comunicação. No caso particular de Valmir Salaro, naquele final de março de 1994, o furo se revelaria o pior erro de sua carreira como jornalista. Foi ele o primeiro jornalista a noticiar o caso que ficou conhecido como “Escola Base”, no qual os proprietários de uma escola infantil foram acusados de abuso sexual contra dois alunos da instituição.
Existe um ditado que diz que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”. A frase não valeu para os acusados neste caso. Os casais Icushiro e Maria Aparecida Shimada e Paula Milhim Alvarenga e Maurício Monteiro de Alvarenga foram condenados publicamente pela imprensa e pelo público. Sem direito à defesa.
O documentário “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado”, dirigido por Caio Cavechini e Eliane Scardovelli, coloca o foco em cima de Salaro, jornalista que fez a sua carreira na cobertura de casos policiais e personagem importante na condução do episódio “Escola Base”, para fazer um estudo sobre este acontecimento e permitir também, de uma certa maneira, a expiação de qualquer culpa que Salaro tenha em relação ao seu papel nesta crucificação pública.
Quem foi estudante de Jornalismo, com certeza, estudou o caso “Escola Base” em alguma disciplina, principalmente aquelas relacionadas à ética jornalística. “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” é um reflexo de todo o peso que Salaro carrega nas costas. Seu maior equívoco, talvez, seja reconhecer somente o papel da imprensa (representada pelo jornalista) neste infortúnio.
O caso “Escola Base” foi o resultado de um erro geral cometido pela imprensa, pela polícia, pelas mães acusadoras, pelo público que julgou… O documentário “Escola Base: Um Repórter Enfrenta o Passado” é uma tentativa interessante - e corajosa - de inocentar, mais uma vez, publicamente os envolvidos. Além de ser um lembrete importante a nós, jornalistas, e, por quê não, ao público também: precisamos exercer sempre os nossos papeis com responsabilidade, com os fatos e, principalmente, com as vidas humanas envolvidas nele.
Oppenheimer
4.0 1,1KQuando foi lançada para o público, pela primeira vez, em 6 de agosto de 1945, na cidade de Hiroshima, no Japão, a bomba atômica (ali batizada de Little Boy) demorou cerca de 45 segundos para explodir. Seus efeitos foram devastadores e conhecidos por todos nós. Por trás da concepção e da criação do artefato, no entanto, foi um período mais longo: 3 anos de trabalho, ao custo de 2 milhões de dólares, envolvendo 4.000 pessoas/profissionais/pesquisadores.
O filme “Oppenheimer”, dirigido e co-escrito por Christopher Nolan, conta a história do físico teórico Julius Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), o homem que liderou o projeto Manhattan, que foi estabelecido pelo governo norte-americano com o objetivo de criar as primeiras armas nucleares. Pelo seu trabalho neste projeto, Oppenheimer ficou conhecido como o Pai da Bomba Atômica.
Ao longo de seus 185 minutos de duração, “Oppenheimer” tem elementos de uma cinebiografia clássica, porém Christopher Nolan vai além ao trazer para dentro da discussão pontos muito importantes, como o envolvimento dos conflitos éticos e morais na ciência e a visão dos cientistas como seres de consciência e de influência política.
Ao abordar o papel de Oppenheimer como presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, Nolan também retrata o criador lidando com as consequências de sua grande descoberta e isso significa compreender que tem que existir um equilíbrio na disposição dos armamentos das nações, na medida em que se tem a consciência do potencial destrutivo dos arsenais nucleares.
“Oppenheimer” é um filme de personagens com questões sérias de caráter e de moral. As incongruências dessas pessoas são importantes para que possamos enxergar o reflexo daquilo que o longa deseja nos passar. O mundo mudou após os lançamentos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. As relações diplomáticas, as relações políticas, as guerras, os armamentos não são mais os mesmos. Fechar os olhos para essa realidade é enxergar a possibilidade daquilo que Oppenheimer vislumbrou quando viu os efeitos de sua criação: a destruição do mundo.
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia
3.7 105Baseado numa história real, o filme “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia”, dirigido e co-escrito por Héctor Babenco, conta uma história em que a linha que separa mocinhos e bandidos é muito tênue. No caso particular do roteiro escrito pelo próprio Babenco e por Jorge Durán e José Louzeiro, a polícia e os bandidos se encontram no mesmo barco.
Lúcio Flávio (Reginaldo Farias) foi um ladrão que ganhou notoriedade, no final da década de 60/início da década de 70, pelo seu envolvimento em assaltos a bancos, bem como pela sua relação com o chamado Esquadrão da Morte, grupos de extermínio formados, principalmente, por policiais, que possuíam um vínculo com diversos criminosos - a quem protegiam e obtinham benefícios dos crimes cometidos por eles.
Por meio deste anti-herói, Babenco faz uma crônica sobre o sistema de corrupção endêmica que atingia a polícia, bem como aos métodos subversivos de interrogatório (com ênfase no uso desenfreado da tortura, em uma época, lembremos, de ditadura militar), que mantinham vivos uma organização de interesses muito maior - no qual Lúcio Flávio era apenas uma marionete descartável quando não fosse mais útil.
Primeiro grande filme dirigido por Babenco, “Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia” é um drama policial que chama a atenção pelo seu lado técnico, principalmente no que diz respeito às cenas de ação e àquelas que se passam no submundo da polícia. O elenco também merece grande destaque, principalmente a atuação de Reginaldo Farias, visceral como o personagem que dá título ao longa.
Chico para Sempre
3.9 5Existem pessoas que dispensam apresentações. Francisco Cândido Xavier é uma delas. Vinte anos após o seu desencarne, o diretor Wagner de Assis decide contar a história do médium mineiro no documentário “Chico para Sempre”, que conta com os depoimentos de biógrafos oficiais de Chico, bem como de amigos, líderes espíritas e personalidades diversas cujas trajetórias de vida se confundem ou foram influenciadas pelas atividades desenvolvidas por Chico.
Tentar compreender quem foi Chico Xavier é uma atividade deveras complexa, por isso Wagner de Assis se dedica a desvendar a personalidade pública do mineiro. Como ele foi chamado para a espiritualidade, a sua disciplina para desenvolver o trabalho espiritual (seja através da autoria de livros, da escrita de cartas psicografadas, da feitura de receituários médicos, do diálogo fraterno, das aparições públicas, entre tantas outras atividades), o seu legado e como os seus ensinamentos podem ser mantidos vivos.
Assistir a “Chico Para Sempre” é se emocionar com a devoção com que Chico Xavier se dedicou e se doou para a espiritualidade. Como ele ouviu, como ele consolou, como ele ajudou, como ele iluminou caminhos, como ele propagou a mensagem de Jesus Cristo entre nós.
Ao longo do documentário, é citado o legado de Chico Xavier para o movimento espírita, nos seus 92 anos de vida. Mais de 450 livros, mais de 50 milhões de exemplares vendidos, mais de 10 mil cartas psicografadas, mais de 3 mil casas espíritas fundadas, e assim por diante. Porém, o que “Chico Para Sempre” traz de novo para essa história é a entrada dos multiplicadores da mensagem de Chico, que continuam atuando e difundindo seus ensinamentos.
O próprio Wagner de Assis, com sua filmografia em boa parte dedicada à discussão e difusão da doutrina espírita, é um deles. O trabalho dessas pessoas é fundamental para que a mensagem de amor que Chico nos deixou permeie para todo o sempre.
Nosso Lar
3.2 1,4K Assista AgoraEm consequência deste seu caráter primordialmente espiritual fica muito difícil tentar avaliar “Nosso Lar”. Como obra cinematográfica, o filme tem alguns aspectos interessantes, como a fotografia de Ueli Steiger; mas, ao mesmo tempo, também tem alguns problemas que não chegam a comprometer o resultado final, como, por exemplo, o fato do primeiro ato (que alterna cenas de André Luiz no mundo material e no purgatório, antes de ele chegar ao mundo espiritual) ter pontos de transição muito bruscos.
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraAs Agojie, também conhecidas como “Amazonas de Daomé”, eram a guarda do exército do rei deste estado (que era um dos mais poderosos da África, nos séculos XVIII e XIX). Uma força de elite formada exclusivamente por mulheres e que, no seu auge, chegou a ter 6 mil integrantes. A história dessas guerreiras nos é relatada no filme “A Mulher Rei”, dirigido por Gina Prince-Bythewood.
A história tem foco na figura da General Nanisca (Viola Davis) que, ao lado de suas subordinadas, está trabalhando na formação de novas integrantes do grupo, ao mesmo tempo em que organizam e coordenam uma série de ataques a outro estado africano, o reino de Oyo, cuja atividade econômica principal está relacionada à escravidão.
Um ponto interessante a se constatar na trama de “A Mulher Rei” é justamente a ideia de que mulheres subjugadas a outros homens (no caso, o rei) e renegadas pelos seus próprios familiares (o que, na cultura africana era também representado pela figura masculina, a paterna) eram a responsáveis pelo levante que levaria à liberdade de seus semelhantes.
As agojie, é importante frisar, na forma como a trama de “A Mulher Rei” nos é apresentada, se colocaram contra a escravidão, com o apoio do Rei Ghezo (John Boyega), pois ele concordava com a posição de Nanisca de que o povo de Daomé deveria privilegiar outra atividade comercial (no caso, a comercialização de azeite de dendê), em detrimento da venda de escravos - atividade da qual o reino já se beneficiou anteriormente.
“A Mulher Rei” é um filme poderoso, em muitos sentidos. Não só na mensagem histórica que carrega; como também na forma como coloca as mulheres em posição de poder; na maneira como privilegia a representatividade, com uma trama protagonizada por atores, em sua maioria, negros; e na forma como insere a figura feminina como o ponto principal numa história de ação, colocando-as de igual para igual com os outros homens, com os outros guerreiros.
Este é um filme que merecia um melhor reconhecimento, principalmente no que diz respeito às premiações mais importantes da indústria do cinema, especialmente o Oscar.
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraSe, em “Avatar”, a terra era o caminho pelo qual Jake Sully (Sam Worthington) encontra o seu propósito; em “Avatar: O Caminho da Água”, como o próprio título deixa subentendido, é a água que leva o protagonista desta história a encontrar o seu destino.
Doze anos separam os dois filmes. Neste ínterim, Sully e Neytiri (Zoe Saldana) formaram uma família, tiveram filhos e se posicionaram como líderes do povo Na’vi. Entretanto, os rastros das decisões tomadas por Sully possuem consequências e, quando eles se vêem na iminência do perigo (representado por Quaritch - personagem interpretado por Stephen Lang), eles têm que se reinventar, como clã e como família.
Assim como em “Avatar”, portanto, que promovia a transformação pessoal de Jake Sully por meio do amor e do contato com a cultura dos Na’vi; é o desejo de proteção à família que ele formou que move a personagem (e, consequentemente, seus filhos) em mais uma jornada de transformação pessoal, no contato com a cultura de um novo povo, o que habita os recifes dos ambientes marinhos.
Existem vários filmes dentro de “Avatar: O Caminho da Água”: o que retrata a descoberta do perigo representado por Quaritch, o que retrata o êxodo familiar e o exílio deles junto ao povo dos recifes, e, finalmente, aquele que retrata o grande conflito que interessa ao roteiro escrito por James Cameron, Rick Jaffa e Amanda Silver: o embate entre Sully e Quaritch.
Estas tramas se desenrolam numa obra que chama a atenção por ser um espetáculo visual, e pelo desejo de James Cameron de, como diretor, levar o seu cinema a um outro patamar. São poucos os que conseguem trabalhar com a tecnologia. E Cameron é um dos que traz isso ao seu favor. Ao custo de um roteiro problemático, diga-se de passagem, mas não é isso que interessa ao público de “Avatar”. Cameron entrega ao seu público o filme que eles desejam assistir!
Ao Seu Lado
3.0 72 Assista AgoraO rúgbi é um esporte essencialmente masculino e marcado pelo excesso de toque e de contato físico. O filme “Ao Seu Lado”, dirigido e co-escrito por Matt Carter, utiliza esta modalidade como o pano de fundo para o retrato das relações entre os homens, tendo como vértices os jogadores de um time de rugby cujos integrantes são gays.
Mark (Alexander Lincoln) e Warren (Alexander King) são homens infelizes nos seus relacionamentos pessoais e que se encontram por meio do rugby. Uma atração nasce entre eles e o romance que surge se transforma numa brincadeira arriscada envolvendo a lealdade deles, não só para com os parceiros, como também para os companheiros de time.
O título “Ao Seu Lado”, neste caso, pode ter múltiplas referências, porém a principal delas está relacionada ao senso de que a verdade, o amor, o sofrimento, a traição e a mentira podem estar mais próximos do que você imagina.
“Ao Seu Lado” retrata a sua história de uma forma simples, porém extremamente direta na forma gradual como o relacionamento entre Mark e Warren é construído. Entretanto, a obra não deixa de plantar uma enorme frustração na plateia, ao nos lembrar de que nem sempre as coisas acontecem da forma como tem que ser.
Still: A História de Michael J. Fox
4.1 28 Assista AgoraEm um determinado momento de “Still: Ainda Sou Michael J. Fox”, documentário dirigido por Davis Guggenheim, ele fala que “a maior ambição de um ator é passar o maior tempo possível fingindo ser alguém”. Foi isso que Michael J. Fox fez. Só que ele não fingiu ser outra pessoa. Ele fingiu ser ele mesmo, mascarando o avanço de sua doença (Mal de Parkinson), que veio no auge de sua vida pessoal e profissional.
“Still: Ainda Sou Michael J. Fox”, portanto, coloca o ator analisando a sua trajetória de vida e de carreira, principalmente a sua ascensão após a série “Family Ties” e o filme “De Volta Para o Futuro”, e como o diagnóstico do Mal de Parkinson, em 1991, foi definidor para os demais anos de sua existência.
Chama a atenção no documentário a forma franca e honesta como Michael fala sobre si mesmo, principalmente sobre como ele lidou com a doença, fugindo da verdade, recusando-se a encarar a enfermidade. A partir do instante em que ele entendeu a sua condição, assumindo-a para o mundo, é que começa o grande capítulo dessa história, ao qual ainda estamos assistindo.
Em sua estrutura narrativa, “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” é quase como se fosse um espelho da autobiografia do ator, em que ele aborda a sua vida, a sua carreira e a sua campanha em prol da cura do Parkinson. O diretor Davis Guggenheim (um veterano - e premiado - do gênero documentário) apresenta o seu olhar sobre Fox de uma forma verdadeira, sem fragilizá-lo e sem tratá-lo como uma vítima.
Terminamos o filme tendo a certeza de que Fox é um lutador, alguém que não está pronto para se entregar e que não quer deixar que o seu diagnóstico defina quem ele é.
Três Mulheres: Uma Esperança
3.2 4 Assista AgoraEm abril de 1945, nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, dias antes da libertação dos prisioneiros do campo de concentração Bergen Belsen pelo exército russo, os alemães transportaram, via trem, dezenas de prisioneiros judeus que eles consideravam valiosos como moeda de troca. Um desses trens acaba abandonado próximo a um vilarejo alemão.
Essa contextualização histórica, que ocorre no início de “Três Mulheres: Uma Esperança”, filme dirigido e escrito por Saskia Diesing, é importante, pois a história que iremos acompanhar é a do encontro casual que acontece entre três mulheres: Winnie (Anna Bachmann), uma garota do vilarejo local; a prisioneira judia de origem holandesa Simone (Hanna van Vliet); e a sargento do exército russo Vera (Eugénie Anselin).
As três personagens representam os lados desse conflito retratados no filme: o do povo alemão, ludibriado por um líder que representava o de pior que existe na humanidade; o do povo judeu, que sofreu as maiores barbaridades que ninguém poderia imaginar; e a dos aliados, que não sabiam como lidar com a realidade que encontraram na Alemanha e que também sofriam a desconfiança dos outros.
A ligação que se estabelece entre essas três mulheres envolve, portanto, o instinto de sobrevivência, porém também representa o aspecto humano existente em cada grande conflito, com elementos de empatia, de respeito e de coragem. O relacionamento entre elas é construído de uma forma crescente pelo roteiro - apesar deste nunca se aprofundar nos conflitos mais profundos que cada uma delas carrega em si.
Todos Dizem Eu Te Amo
3.5 270 Assista AgoraAlém de ser um dos diretores e roteiristas mais cultuados do cinema norte-americano, Woody Allen é também um entusiasta da música - mais particularmente do jazz. Com seu clarinete, ele já se apresentou inúmeras vezes em clubes de música na sua amada Nova York. O musical “Todos Dizem Eu Te Amo”, que Allen escreveu e dirigiu, une justamente as duas paixões do diretor e roteirista: o cinema e o jazz.
No filme, iremos acompanhar os encontros e desencontros de uma família no campo do amor. Embalados por canções clássicas, vemos Allen dissecar sua visão sobre o amor e a paixão, tendo em vista as experiências e momentos de vida vividos pelos seus personagens.
“Todos Dizem Eu Te Amo” é um musical, portanto, simples, porém com aura clássica e com a marca de Allen, um diretor/roteirista conhecido pelas suas histórias repletas de idiossincrasias sobre a vida e suas nuances mais complicadas/engraçadas/despretensiosas.
Fique de olho no grande elenco que Allen reuniu para este filme, o qual é encabeçado por ele mesmo, Alan Alda, Goldie Hawn e Julia Roberts, com o apoio de Natasha Lyonne, Edward Norton, Drew Barrymore, Tim Roth, Natalie Portman, dentre outros.
Meu Vizinho Adolf
3.5 23 Assista AgoraAdolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril de 1945, como uma forma de evitar a sua prisão pelo exército russo na iminente derrota alemã na II Guerra Mundial. Por algum motivo específico, o Sr. Polsky (David Hayman), um solitário e mal-humorado sobrevivente do Holocausto, está convencido de que seu recém-chegado - e misterioso - vizinho é, nada mais, nada menos, que o líder do regime nazista alemão.
A jornada do Sr. Polsky por convencer os outros de sua ideia é retratada no filme “Meu Vizinho Adolf”, dirigido e co-escrito por Leon Prudovsky. Tal qual um observador participativo, o Sr. Polsky se insere diretamente na sua investigação particular, passando a estabelecer um relacionamento pessoal com o seu vizinho, o Sr. Herzog (Udo Kier), em busca de provas que atestem a veracidade de sua crença.
É justamente no processo de troca entre as duas personagens que “Meu Vizinho Adolf” encontra os seus melhores momentos. É por intermédio dele que iremos descobrir que, no final, o Sr. Polsky e o Sr. Herzog possuem muito mais em comum do que imaginam. Os dois são homens que buscam encontrar a paz interior depois de vivenciar experiências traumáticas e que marcam a vida de qualquer um.
A Mãe
3.1 170 Assista AgoraA protagonista do filme “A Mãe”, dirigido por Niki Caro, é alguém que vive em fuga, é uma ex-militar, é uma assassina, é alguém que se envolveu com as pessoas erradas, é alguém que paga o preço pelas decisões erradas que tomou. Porém, acima de tudo, ela é uma mãe e uma pessoa cujos últimos atos - pelo menos, aqueles que assistimos durante o filme - são com um único propósito: o de proteger a sua filha dos seus algozes.
Após doze anos vivendo escondida no Alaska, a mãe (Jennifer Lopez) é obrigada a sair de seu esconderijo quando sua filha Zoe (Lucy Paez) tem sua identidade e paradeiros descobertos pela dupla de criminosos (Joseph Fiennes e Gael Garcia Bernal) que vive para persegui-la.
Numa vibe “Comando para Matar”, o que “A Mãe” nos retrata, portanto, é a protagonista no papel que ela melhor desempenha (o de genitora), em busca do resgate e da proteção e da segurança da sua filha; ao mesmo tempo em que ela tenta entrar em paz consigo mesma e com o auto-exílio que se obrigou a seguir.
O que faz de “A Mãe” um filme interessante é que, mesmo com todos os clichês e com uma trama batida, estamos diante de uma história em que a grande heroína é uma mulher. O olhar feminino, com sua sensibilidade e força, faz a diferença aqui (na frente e por trás das câmeras).
“A Mãe” é um filme tenso, com boas doses de suspense e que cumpre o seu papel como um representante do gênero de ação. Além de ter sutilezas interessantes na forma como faz paralelos entre a maternidade e a situação vivida pela personagem de Jennifer Lopez - uma mulher sem identidade pessoal, mas definida por aquilo que ela é: uma mãe. Qualquer semelhança com a maternidade crua e real, é uma mera coincidência.
Caminhos Perigosos
3.6 255 Assista AgoraUm dos primeiros filmes dirigidos por Martin Scorsese, “Caminhos Perigosos” se passa em um território que o diretor e co-roteirista conhece bem: a comunidade de Little Italy, em Nova York. O roteiro faz uma crônica do cotidiano de um grupo de jovens amigos, de origem ítalo-americana, em meio a uma realidade violenta e à máfia que é típica do local. Tudo isso ocorre enquanto eles mesmos tentam se firmar - e, consequentemente, se encontrar - diante de todas essas situações.
O foco principal está em dois dos amigos: Charlie (Harvey Keitel), que está para herdar a administração de um dos restaurantes cuja propriedade é do seu tio; e Johnny Boy (Robert De Niro, no primeiro filme em que trabalhou com Scorsese), que é o oposto de Charlie, e vive se metendo em problemas - a maior parte deles causada por suas dívidas decorridas de empréstimos obtidos junto a pessoas igualmente sem escrúpulos.
Com seu caráter responsável e a confiabilidade que passa, Charlie é como se fosse o fiador de Johnny Boy e, durante boa parte do filme, iremos acompanhar o primeiro tentando incutir no segundo um pouco do senso de responsabilidade que nele habita.
Assistir a “Caminhos Perigosos” é ter a oportunidade de testemunhar a identidade de um cineasta em formação. Aqui, temos alguns elementos que dominariam a filmografia posterior de Scorsese, como a violência, os submundos dos subúrbios e as personagens em conflitos íntimos. A linguagem documental, crua e visceral também é uma marca que podemos ver neste filme.