Um retrato escancarado das condições do povo no norte do país, das ilusões causadas pelos discursos colonizadores, do olhar feminino ainda a descobrir a crueldade dos homens, tudo isso tendo como fio condutor a Amazônia vendida (macro), assim como o corpo da jovem Iracema (micro). Filme indispensável.
Só o Fuller mesmo pra fazer um suspense hitchcockiano com toques de western, com uma trama que gira em torno de questões sociais seríssimas, cuja figura central é um cachorro. Gênio!
Quem diria que o Paul Thomas Anderson iria entrar na lógica dos "filmes de oscar". Eis um filme que exala apenas a sua própria vaidade. Grandes atores fazendo papéis incapazes de criar empatia sobre qualquer que sejam suas angústias. O nada filmado com requintes de um sommelier: iluminação, figurinos, cenários, atuações, tudo muito bonito. Ao mesmo tempo, não há nada de humano aqui. Tudo é gelado, higiênico, quase hospitalar. Planos e mais planos que giram em torno de si mesmos, que existem apenas para satisfazer o ego estilístico do próprio diretor (como em "Vício inerente"). Um prato cheio para a garotada "cult", cinéfila, que vai fazer a maratona do oscar e debater sobre quem deveria ganhar o papel de melhor ator ou não.
Uma pérola sobre luz e sombra. Opacidade e transparência. O visto e o oculto.
Lynch cria neste filme um jogo de adivinhação cuja função não está a favor da narrativa, mas em sua contramão. E, mesmo assim, as peças narrativas se encaixam formando um grande mosaico de cores. Literalmente. É um dos raros casos em que há uma junção tão rica de gêneros cinematográficos, para além de uma estética plástica e masturbatória.
O diretor utiliza Hollywood para trabalhar o amor sob a perspectiva da loucura, do ciúme doentio, da obsessão. Como em Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos, Hollywood é um palco invertido, que ao invés de passar uma visão didática e romantizada da vida e das relações (como é de praxe), escancara nossos desejos e medos mais inóspitos, crus e vergonhosos. Tudo o que nosso subconsciente é capaz de produzir. "Tudo é gravado". - Como nos sonhos. Ou, nestes casos, pesadelos.
Em A estrada perdida, Lynch revela mais do que aparenta. O diálogo que, a meu ver, ele produz é entre gêneros de um cinema anterior ao seu, em que uma figura feminina existe e enlouquece o homem protagonista, persuadindo-o a fazer todo o tipo de vilanias. São o caso das VAMPS e das FEMME FATALES. A personagem de Renee incorpora uma típica Vamp, tanto em aspectos físicos, quanto psicológicos. São figuras frias, desconfiáveis, extremamente sensuais, com uma estética vampiresca (muito brancas, com cabelos escuros e olhos claros).
A personagem de Alice é claramente uma Femme Fatale, arquétipo muito comum em filmes policiais e, mais especificamente, no cinema Noir. Normalmente são loiras platinadas, que precisam da proteção masculina a princípio, mas se revelam predatórias ao final. Assim como na lógica deste gênero, Alice convence Peter a matar pessoas que ele nem conhecia, apenas para ficar com ela. É um jogo de hipnose. No trabalho referencial, Lynch utiliza dos "clichês" destes gêneros para subvertê-los, já que aqui eles existem para explicitar a loucura de Fred, o protagonista. O estranhamento do espectador é natural: são câmeras lentas em cenas em que teoricamente isso não faria sentido, diálogos cômicos em meio a cenas de tensão e vice versa, uma trilha sonora que alterna do terror para o romance em segundos, etc. Isso porque, de fato, o romance aqui está intimamente ligado à atmosfera de terror, afinal a estória é sobre um homicídio passional. A femme fatale, neste caso, é uma projeção da psiqué do protagonista, como justificativa para o assassinato da esposa.
Mas há muita, muita beleza. A cena em que Pete conhece Alice e o rosto dela é tomado por uma luz diurna, espectral e ao mesmo tempo radiante, é um exemplo disso. Lynch alterna o horror e a beleza a todo momento de maneira magistral. As cores existem tanto para uma, quanto para a outra função. Por isso nós, como espectadores, nos perdemos. E a graça é esta. Acompanhar de dentro do carro as linhas da estrada e nos perder deliberadamente. A subversão da subversão.
Típica história do "clássico" eternizado pela mísera presença de uma atriz. O filme inteiro é um grande problema, do início ao fim. Não tem amarras, trabalha porcamente a construção de personagens, as personagens existem enquanto caricaturas e nada mais (quantos musicais com personagens-sujeitos o Minelli fez? qualquer um engole e cospe esse fácil), o enredo é paupérrimo (cheio de furos), e as músicas... sem comentários. Isso pra não entrar em méritos específicos de roteiro, um dos mais machistas que já vi. Não é ele que desmerece o todo, porque o filme em si se desconstrói a cada cena. Em resumo, não existe preocupação com mise en scène aqui. É só um amontoado de sequências com a Audrey Hepburn dando o ar de sua graça. É para assistir e repensar o conceito de "clássico". Aparentemente as pessoas ainda estão presas à ideia ordinária implantada pela velha Hollywood de "filme de ator". Uma pena.
O Leão de Sete Cabeças
3.8 22 Assista AgoraGENIAL
Playtime - Tempo de Diversão
4.0 54Tem erro não.
Close Up
4.3 117De assistir de joelhos, agredecendo por estar vivo e ter a chance de expenciar isso.
Aimé Césaire, A Máscara das Palavras
4.3 2Grandioso, mestre das palavras. Viva!
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1
2.8 2,8K Assista AgoraHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHHAHAHA que que é issssssssssssssssoooooooooooooo
Cinco Câmeras Quebradas
4.5 58PALESTINA LIVRE!
Santiago
4.1 134Como dói esse filme.
Há um abismo sepultado no tempo entre essas vidas. Maiores até que a distância da aristocracia que Santiago documentou.
"Joãozinho, eu pertenço a um grupo de seres malditos..."
Os Inconfidentes
3.7 27UAU. Fechei Joaquim com chave de ouro.
Banaras - Music from the Ganges
4.0 1Filme completo no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=eNK7jwR2hO8
Fuga para Odessa
3.8 30Isso é que eu chamo de melodrama! Só pancada seca na cara.
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraQue desperdício de tudo.
Iracema - Uma Transa Amazônica
3.9 73Um retrato escancarado das condições do povo no norte do país, das ilusões causadas pelos discursos colonizadores, do olhar feminino ainda a descobrir a crueldade dos homens, tudo isso tendo como fio condutor a Amazônia vendida (macro), assim como o corpo da jovem Iracema (micro). Filme indispensável.
Johnny Guitar
4.1 98 Assista AgoraObra primassa
A Queda
4.1 17Que porrada de filme.
Cão Branco
3.7 181Só o Fuller mesmo pra fazer um suspense hitchcockiano com toques de western, com uma trama que gira em torno de questões sociais seríssimas, cuja figura central é um cachorro. Gênio!
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraUm episódio estendido de Black Mirror com ares de "cinema sério".
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraQuem diria que o Paul Thomas Anderson iria entrar na lógica dos "filmes de oscar". Eis um filme que exala apenas a sua própria vaidade. Grandes atores fazendo papéis incapazes de criar empatia sobre qualquer que sejam suas angústias. O nada filmado com requintes de um sommelier: iluminação, figurinos, cenários, atuações, tudo muito bonito. Ao mesmo tempo, não há nada de humano aqui. Tudo é gelado, higiênico, quase hospitalar. Planos e mais planos que giram em torno de si mesmos, que existem apenas para satisfazer o ego estilístico do próprio diretor (como em "Vício inerente"). Um prato cheio para a garotada "cult", cinéfila, que vai fazer a maratona do oscar e debater sobre quem deveria ganhar o papel de melhor ator ou não.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraTerminei numa crise inédita de choro e riso simultâneos. Um dia tomo coragem pra escrever sobre.
Trapaceiros
3.5 142 Assista AgoraUm filme por ano...
Vício Frenético
3.9 124Puta que pariu, que filme.
Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraUma pérola sobre luz e sombra. Opacidade e transparência. O visto e o oculto.
Lynch cria neste filme um jogo de adivinhação cuja função não está a favor da narrativa, mas em sua contramão. E, mesmo assim, as peças narrativas se encaixam formando um grande mosaico de cores. Literalmente. É um dos raros casos em que há uma junção tão rica de gêneros cinematográficos, para além de uma estética plástica e masturbatória.
O diretor utiliza Hollywood para trabalhar o amor sob a perspectiva da loucura, do ciúme doentio, da obsessão. Como em Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos, Hollywood é um palco invertido, que ao invés de passar uma visão didática e romantizada da vida e das relações (como é de praxe), escancara nossos desejos e medos mais inóspitos, crus e vergonhosos. Tudo o que nosso subconsciente é capaz de produzir. "Tudo é gravado". - Como nos sonhos. Ou, nestes casos, pesadelos.
Em A estrada perdida, Lynch revela mais do que aparenta. O diálogo que, a meu ver, ele produz é entre gêneros de um cinema anterior ao seu, em que uma figura feminina existe e enlouquece o homem protagonista, persuadindo-o a fazer todo o tipo de vilanias. São o caso das VAMPS e das FEMME FATALES. A personagem de Renee incorpora uma típica Vamp, tanto em aspectos físicos, quanto psicológicos. São figuras frias, desconfiáveis, extremamente sensuais, com uma estética vampiresca (muito brancas, com cabelos escuros e olhos claros).
A personagem de Alice é claramente uma Femme Fatale, arquétipo muito comum em filmes policiais e, mais especificamente, no cinema Noir. Normalmente são loiras platinadas, que precisam da proteção masculina a princípio, mas se revelam predatórias ao final. Assim como na lógica deste gênero, Alice convence Peter a matar pessoas que ele nem conhecia, apenas para ficar com ela. É um jogo de hipnose. No trabalho referencial, Lynch utiliza dos "clichês" destes gêneros para subvertê-los, já que aqui eles existem para explicitar a loucura de Fred, o protagonista. O estranhamento do espectador é natural: são câmeras lentas em cenas em que teoricamente isso não faria sentido, diálogos cômicos em meio a cenas de tensão e vice versa, uma trilha sonora que alterna do terror para o romance em segundos, etc. Isso porque, de fato, o romance aqui está intimamente ligado à atmosfera de terror, afinal a estória é sobre um homicídio passional. A femme fatale, neste caso, é uma projeção da psiqué do protagonista, como justificativa para o assassinato da esposa.
Mas há muita, muita beleza. A cena em que Pete conhece Alice e o rosto dela é tomado por uma luz diurna, espectral e ao mesmo tempo radiante, é um exemplo disso. Lynch alterna o horror e a beleza a todo momento de maneira magistral. As cores existem tanto para uma, quanto para a outra função. Por isso nós, como espectadores, nos perdemos. E a graça é esta. Acompanhar de dentro do carro as linhas da estrada e nos perder deliberadamente. A subversão da subversão.
Holy Motors
3.9 652 Assista AgoraCinema. Cinema. Cinema. Cinema.
Minha Bela Dama
4.0 358 Assista AgoraTípica história do "clássico" eternizado pela mísera presença de uma atriz. O filme inteiro é um grande problema, do início ao fim. Não tem amarras, trabalha porcamente a construção de personagens, as personagens existem enquanto caricaturas e nada mais (quantos musicais com personagens-sujeitos o Minelli fez? qualquer um engole e cospe esse fácil), o enredo é paupérrimo (cheio de furos), e as músicas... sem comentários.
Isso pra não entrar em méritos específicos de roteiro, um dos mais machistas que já vi. Não é ele que desmerece o todo, porque o filme em si se desconstrói a cada cena. Em resumo, não existe preocupação com mise en scène aqui. É só um amontoado de sequências com a Audrey Hepburn dando o ar de sua graça. É para assistir e repensar o conceito de "clássico". Aparentemente as pessoas ainda estão presas à ideia ordinária implantada pela velha Hollywood de "filme de ator". Uma pena.
Morte em Veneza
4.0 210 Assista AgoraQue porrada.