O universo já visto nos filmes de André Novais, especialmente em "Temporada", parece ainda mais consolidado e rico em possibilidades em "No coração do mundo", de seus companheiros da "Filmes de Plástico", os irmãos diretores Gabriel e Maurílio Martins. Se em "Ela volta na quinta", esse mundo ficcional ainda está em uma espécie de simbiose com a "realidade" da própria vida pessoal de Novais - a presença do diretor e sua família representando a si próprios é sintomática disso - em "Temporada" já é possível vislumbrar o desejo de um espaço ficcional mais expandido. A jornada de Juliana, conhecendo o novo bairro e criando novas relações afetivas por lá, é também a porta de entrada para que o espectador conheça esse espaço - Contagem - tanto do ponto de vista estritamente físico, como das vivências e conflitos que os moradores da região vivenciam cotidianamente. Essa construção é lenta e delicada, e bastante marcada pelo estilo pessoal de Novais: longos planos fixos dos personagens batendo papo, e uma dramaturgia de nuances. Em "No coração do mundo", esse mesmo universo - um bairro periférico de Contagem - é cenário para uma trama que remete ao cinema de gênero: o filme de assalto, o thriller. Nessa operação, havia o risco de que o mundo cuidadosamente construído nas obras anteriores perdesse a autenticidade ao entrar em contato com os códigos do cinema de gênero. Pior, que reproduzisse a abordagem dos "favela movies", de exotização da pobreza e da criminalidade. Felizmente, acontece o contrário: a absorção de elementos do filme de gênero parece criar um cinema ainda mais potente, e assim consolida um espaço ficcional marcado por um forte realismo e que, no caso de "No coração do mundo", usa a temática da violência para criar situações limites (o que pode ser observado também no curta "Rapsódia para o homem negro", do Gabriel Martins) em que os conflitos existenciais e materiais (e há um discurso de classe muito marcado) dos personagens são amplificados em direção à tragédia, criando assim uma dinâmica interessante entre o local e o universal. Essa dinâmica local/universal (que se está contida no próprio título do filme "No coração do mundo"), realismo/cinema de gênero se expressa, por exemplo, na cena em que Ana vai contar a Marquinhos que topou o plano do roubo: a câmera segue os dois em direção à lage, mas inesperadamente para em um grupo de idosos rezando, e a história é interrompida por esse momento de registro quase documental. É interessante pensar nas trajetórias das personagens de Grace Passô em "Temporada" e "No coração do mundo". Em ambos os filmes ela é uma forasteira. No filme de Novais Juliana é uma sútil heroína, que se reconstrói psicologicamente em um novo espaço depois de sucessivos traumas. Já em "No coração do mundo", Selma se assemelha mais ao forasteiro do western: o personagem de origem desconhecida, que desestabiliza as relações da comunidade, para depois ir embora sabe-se lá para onde. Enquanto uma nos mostra as belezas e as possibilidades de reinvenção na vida da nova comunidade (mesmo com os perrengues), a outra nos deixa com o sabor amargo do desalento, do esfacelamento dessa mesma comunidade. São, de certa forma, duas faces da moeda.
gente por mim o filme era só ela ensinando ingles pros aliens (q eram otimos mesmo abott and costello s2s2), o resto eu achei mt ruim, a viagem do tempo, o drama da criança, achei meio besta :(
sinto muito a angústia da chantal nesse filme. a angústia de estar entre coisas: a vontade de se emancipar e descobrir uma nova cidade, a saudade e a culpa pelo que deixou para trás. a angústia existe porque não parece haver saída fácil. em ambos os lugares a clausura, o controle opressivo, está lá, nos planos de Nova York e nas cartas da mãe. esse clima sombrio e controlado, paciente e melancólico, parece ser uma marca forte do cinema dela, mas há também sempre alguma coisa, uma esperança, uma certa beleza, que emerge. é estranho falar de uma cineasta que se expõe tanto, que mostra feridas abertas dessa forma: é como se precisássemos falar de nós mesmos para comentar o filme. mas essa intimidade toda respira e ressoa na nova york nos anos 70, no mundo dos anos 70, dá pra sentir bem o clima dessa época. me lembrou bastante a atmosfera de "férias permanentes", do jim jarmusch.
No Coração do Mundo
3.9 62 Assista AgoraO universo já visto nos filmes de André Novais, especialmente em "Temporada", parece ainda mais consolidado e rico em possibilidades em "No coração do mundo", de seus companheiros da "Filmes de Plástico", os irmãos diretores Gabriel e Maurílio Martins. Se em "Ela volta na quinta", esse mundo ficcional ainda está em uma espécie de simbiose com a "realidade" da própria vida pessoal de Novais - a presença do diretor e sua família representando a si próprios é sintomática disso - em "Temporada" já é possível vislumbrar o desejo de um espaço ficcional mais expandido. A jornada de Juliana, conhecendo o novo bairro e criando novas relações afetivas por lá, é também a porta de entrada para que o espectador conheça esse espaço - Contagem - tanto do ponto de vista estritamente físico, como das vivências e conflitos que os moradores da região vivenciam cotidianamente. Essa construção é lenta e delicada, e bastante marcada pelo estilo pessoal de Novais: longos planos fixos dos personagens batendo papo, e uma dramaturgia de nuances.
Em "No coração do mundo", esse mesmo universo - um bairro periférico de Contagem - é cenário para uma trama que remete ao cinema de gênero: o filme de assalto, o thriller. Nessa operação, havia o risco de que o mundo cuidadosamente construído nas obras anteriores perdesse a autenticidade ao entrar em contato com os códigos do cinema de gênero. Pior, que reproduzisse a abordagem dos "favela movies", de exotização da pobreza e da criminalidade. Felizmente, acontece o contrário: a absorção de elementos do filme de gênero parece criar um cinema ainda mais potente, e assim consolida um espaço ficcional marcado por um forte realismo e que, no caso de "No coração do mundo", usa a temática da violência para criar situações limites (o que pode ser observado também no curta "Rapsódia para o homem negro", do Gabriel Martins) em que os conflitos existenciais e materiais (e há um discurso de classe muito marcado) dos personagens são amplificados em direção à tragédia, criando assim uma dinâmica interessante entre o local e o universal. Essa dinâmica local/universal (que se está contida no próprio título do filme "No coração do mundo"), realismo/cinema de gênero se expressa, por exemplo, na cena em que Ana vai contar a Marquinhos que topou o plano do roubo: a câmera segue os dois em direção à lage, mas inesperadamente para em um grupo de idosos rezando, e a história é interrompida por esse momento de registro quase documental.
É interessante pensar nas trajetórias das personagens de Grace Passô em "Temporada" e "No coração do mundo". Em ambos os filmes ela é uma forasteira. No filme de Novais Juliana é uma sútil heroína, que se reconstrói psicologicamente em um novo espaço depois de sucessivos traumas. Já em "No coração do mundo", Selma se assemelha mais ao forasteiro do western: o personagem de origem desconhecida, que desestabiliza as relações da comunidade, para depois ir embora sabe-se lá para onde. Enquanto uma nos mostra as belezas e as possibilidades de reinvenção na vida da nova comunidade (mesmo com os perrengues), a outra nos deixa com o sabor amargo do desalento, do esfacelamento dessa mesma comunidade. São, de certa forma, duas faces da moeda.
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4.2 3,4K Assista Agoragente por mim o filme era só ela ensinando ingles pros aliens (q eram otimos mesmo abott and costello s2s2), o resto eu achei mt ruim, a viagem do tempo, o drama da criança, achei meio besta :(
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4.1 32 Assista Agorasinto muito a angústia da chantal nesse filme. a angústia de estar entre coisas: a vontade de se emancipar e descobrir uma nova cidade, a saudade e a culpa pelo que deixou para trás. a angústia existe porque não parece haver saída fácil. em ambos os lugares a clausura, o controle opressivo, está lá, nos planos de Nova York e nas cartas da mãe. esse clima sombrio e controlado, paciente e melancólico, parece ser uma marca forte do cinema dela, mas há também sempre alguma coisa, uma esperança, uma certa beleza, que emerge. é estranho falar de uma cineasta que se expõe tanto, que mostra feridas abertas dessa forma: é como se precisássemos falar de nós mesmos para comentar o filme. mas essa intimidade toda respira e ressoa na nova york nos anos 70, no mundo dos anos 70, dá pra sentir bem o clima dessa época. me lembrou bastante a atmosfera de "férias permanentes", do jim jarmusch.