O Que Terá Acontecido a Baby Jane? é um filme muito intenso e sufocante sobre uma relação complexa e doentia entre duas irmãs que foram artistas de sucesso em um passado distante. Baby Jane (magistralmente interpretada por Bette Davis) é uma pessoa totalmente psicótica, que aparenta ter mais de uma personalidade. É dócil na frente de estranhos, mas pode se tornar um demônio na frente de sua irmã ou quando há assuntos envolvendo a sua irmã. Por outro lado, Blanche é uma senhora que se encontra em uma condição frágil (já que é cadeirante e depende quase que totalmente da irmã para viver), mas que parece ter uma personalidade mais submissa e até certo ponto releva os caprichos da irmã. O problema é que os tais "caprichos" ficam cada vez mais agressivos e doentios. Adoro a ambientação decadente e gótica e o clima de tensão constante que permeia a obra, porém o grande destaque do filme com certeza vai para as atuações poderosíssimas de Bette Davis e Joan Crawford. O que me impede de dar nota máxima é que certas atitudes pouco inteligentes de determinados personagens (por pura conveniência de roteiro) me incomodaram bastante. Robert Aldrich foi um excelente diretor. Muito corajoso para a época.
Em Busca do Ouro traz o que o mestre Charles Chaplin tem de melhor: A fusão entre comédia, drama e romance de forma extremamente encantadora e melancólica. É impossível deixar de se sensibilizar pelo carisma e pela inocência do protagonista em busca da própria sobrevivência e de Georgia, um amor que lhe parece muito distante. A ambientação do filme é incrível. Todo o clima gélido do Alasca se faz totalmente presente do começo ao final e você sente toda a dificuldade dos personagens tentando ganhar a vida em um lugar tão inóspito. O cinema mudo possui algo que se perdeu ao longo do tempo, mas eu não sei dizer bem o que. Talvez a magia... Em Busca do Ouro é um daqueles filmes que te fazem pensar que no cinema tudo é possível. Foi uma experiência muitíssimo agradável. 5 estrelas e favoritado.
Late Night With the Devil é um excelente e criativo filme de terror. Consegue realizar uma recriação impecável em relação ao que é um talk show e também em relação aos anos 70. É imersivo e às vezes você até se esquece que é um filme e pensa estar assistindo a um programa de televisão do naipe de um Johnny Carson ou de um David Letterman. O terror vem do sobrenatural, mas também há espaço para o terror psicológico. O final é bem interpretativo.
Na minha interpretação, Jack fez um pacto com o diabo para ser o apresentador número 1 da televisão e teve a sua esposa utilizada como sacrifício (não sei se deliberadamente ou não). A entidade demoníaca que era canalizada pelo corpo da menina também estava presente no ritual, mas ela se soltou da menina na primeira demonstração de possessão. Aí a tal entidade possuiu o Jack e fez com que ele delirasse e dentro de seu delírio matasse a todos ao seu redor. Foi o preço final a se pagar para ele finalmente se tornar o apresentador mais famoso da televisão, mesmo que a sua fama tenha vindo do massacre que ele fez.
Além de tudo há uma certa crítica ao sensacionalismo da televisão em busca da audiência. Enfim, é um grande filme e me surpreendeu.
Homem Morto é fantástico. Um faroeste experimental e atmosférico com um teor existencialista e uma ambientação gótica. É apenas o segundo filme de Jim Jamursch que assisto, mas já consegui notar que ele é um cineasta que possui uma forma bem original e peculiar de fazer cinema. A jornada do protagonista William Blake não possui um rumo definido, o que resulta em encontros aleatórios com figuras totalmente excêntricas em uma ambientação sombria que sempre destaca a morte. A morte (seja ela literal ou metafórica) é o mote da obra. A evolução do protagonista é muito bem desenvolvida. Ele começa como alguém frágil e inseguro e se torna forte, confiante e resiliente. Apesar de ser um filme sombrio, com cenas gráficas de violência, vale ressaltar que possui um humor negro bem interessante e muito bem encaixado que não tira o peso dos acontecimentos. Vale também destacar o elenco recheado de grandes atores e a trilha sonora que é perfeita. Virou um dos meus favoritos.
As Duas Vidas de Audrey Rose é um drama poderoso com uma boa dose de suspense e elementos sobrenaturais. Não considero terror, já que o foco aqui é o drama familiar e o sentimento de insegurança e de perda, mas não nego que tenha momentos arrepiantes. O grande destaque vai para as atuações, principalmente para a atriz que interpreta a protagonista. A atmosfera é bem enigmática e inquietante e o tema em si de reencarnação me agrada muito. Só não entendi muito bem qual era o propósito do personagem do Anthony Hopkins. Ele mais atrapalhou do que ajudou. Mas é um bom filme.
O Espírito da Colmeia é um filme bem interessante. A atmosfera é bem hipnótica e enigmática e a obra em si é bem contemplativa e filosófica. Não posso dizer que compreendi totalmente as metáforas, mas o que eu captei foi que se trata de um filme sobre a ótica das crianças em relação ao caos causado pela guerra. A fantasia se torna uma válvula de escape e ajuda a manter a pureza característica da infância. Toda a analogia sobre vida e morte em relação ao clássico Frankenstein é genial. A criatura é um ser inocente, vítima das circunstâncias, que vive no limiar entre a vida e a morte assim como as duas irmãs. Em certos aspectos me lembrou Brinquedo Proibido, obra-prima francesa de 1952. É muito bem feito em todos os quesitos técnicos, principalmente em termos de fotografia e trilha sonora. As duas atrizes mirins são fenomenais, principalmente a que interpreta a Ana. Poucas vezes vi olhos tão expressivos quanto os dela. É um filme fantástico e virou um dos meus favoritos.
É difícil analisar um filme como Limite. Com certeza é uma obra muito importante, extremamente experimental e inovadora em termos de montagem e estrutura narrativa, mas que possui uma trama muito difícil de ser compreendida. O que eu entendi foi que:
As três pessoas no barco tiveram passados traumatizantes e turbulentos e queriam escapar de suas próprias realidades. Se cruzam pelo acaso e resolvem encarar uma aventura. Passam dificuldades durante a jornada e ao refletirem sobre suas vidas relembram de acontecimentos do passado.
O filme é ousado em inserir vários flashbacks em uma narrativa não-linear, mas eu senti que na restauração tentaram montar um quebra-cabeça com algumas peças faltando.
Limite é, em sua essência, um filme existencialista sobre a falta de esperança e a busca por um norteamento na vida. Antes de qualquer coisa, os protagonistas não estão apenas perdidos em um barco à deriva, estão perdidos em suas próprias vidas. É uma metáfora.
É extremamente bem filmado, bem atuado, com uma fotografia lindíssima e uma trilha sonora imponente.
É cansativo? Muito. É confuso? Sim. Mas vale a pena como experiência cinematográfica sem a menor sombra de dúvidas.
O Pagador de Promessas é um filme fantástico. Eu já tinha assistido, mas há muito tempo e não me lembrava de muita coisa. É um filme sobre um homem simples do campo sem muita instrução, porém verdadeiro, que deseja pagar uma promessa para a Santa Bárbara. Ele só queria agradecer a Santa por ter salvo o seu burro. Um ato de dignidade e devoção. Porém, o que deveria ser fácil de se conseguir se torna extremamente difícil e caótico pelo caráter falho do ser humano. Zé do Burro e Rosa são personagens puros e ingênuos no meio de uma sociedade repleta de pessoas interesseiras e manipuladoras. As críticas são bem amplas e bem diversificadas e o que eu identifiquei foi que o filme toca em temas como politicagem, panfletarismo, jornalismo tendencioso empenhado em distorcer os fatos, choque de culturas repleto de hostilidade e incompreensão, etc. O filme em si não critica a fé verdadeira, muito pelo contrário, a enaltece. Zé do Burro é um devoto convicto e que deseja cumprir os seus objetivos sem segundos interesses. O que acontece é que ele é usado por muitos grupos de pessoas maliciosas ao seu redor de forma arriscada (como um peão em um tabuleiro de xadrez) e muitas vezes sem nem perceber que está sendo usado. Algo que é muito presente no Brasil até os dias de hoje (eu diria até que é o retrato do brasileiro médio), independentemente do viés político. Obviamente se trata de um filme de baixo orçamento, mas é muito bem feito em termos técnicos. É bem dirigido, tem uma ótima estrutura narrativa, sabe desenvolver os seus personagens, tem uma linda fotografia e uma ótima trilha sonora. Vale muito a pena assistir. Conheço pouco do cinema nacional e pretendo corrigir esta falha. Tem disponível no YouTube.
O Importante é Amar é o quinto filme do Andrzej Zulawski que eu assisto e notei que é um trabalho mais sutil e menos histérico (apesar de ter os seus excessos) do que os outros. Não diria que é um filme padrão de romance e sim sobre a aflição que o ato de amar pode causar a uma ou mais pessoas, seja diretamente ou indiretamente. O triângulo amoroso e todos os seus dilemas morais que os cercam funcionam muito bem. Os personagens transbordam sensibilidade e são bem complexos. O elenco todo está de parabéns, principalmente a Romy Schneider. O que rebaixa um pouco a obra na minha opinião são certas cenas gratuitas de obscenidade e depravação. Algumas ficaram tão avulsas que só me pareceu que o diretor quis causar algum rebuliço. Sim, eu sei que a decadência moral faz parte deste universo e é necessária para que a mensagem seja efetiva, mas o diretor poderia filmar as cenas de uma forma menos explícita. O Importante é Amar no fundo é um filme sobre sacrifícios. Sobre o quanto você está disposto a ir por uma determinada pessoa. Nos aspectos técnicos o filme é muito bem feito, contando com uma excelente direção, excelentes atuações e uma trilha sonora extremamente melancólica. O final é arrebatador. É impossível deixar de pensar no quanto que O Importante é Amar e outros trabalhos do Zulawski devem ter influenciado a carreira do Gaspar Noé.
Juventude Desenfreada é antes de tudo o retrato de uma época e um filme bem corajoso e relevante do Nagisa Oshima, porém com uma narrativa inconsistente e que tinha potencial para ser melhor. Oshima mostra um Japão pós-guerra decadente e passando por uma "crise de identidade" que gera um processo de transição brusco entre o tradicionalismo e o excesso de liberdade, o que afeta muitas pessoas, principalmente os jovens. Os jovens possuem mais liberdade do que nunca e a liberdade em si é fundamental para qualquer sociedade, mas o que jovens estão fazendo com a liberdade é racional ou saudável? É uma das questões que o filme traz à tona. O casal de protagonistas pensa que a vida é apenas uma aventura em busca de prazer e se esquecem que determinados atos irresponsáveis geram consequências muito devastadoras. Como eu disse antes, a temática em si é muito relevante e continua atual até os dias de hoje, mas eu senti uma certa inexperiência do diretor em conduzir a trama, o que a torna enfadonha em alguns momentos. Eu pesquisei e vi que se trata apenas do segundo filme da carreira do diretor. Talvez seja a explicação. Enfim, é um grande filme? Não, mas é uma obra que toca em temas delicados em pleno ano de 1960 e mostra que o Oshima sempre buscou realizar filmes autorais e honestos que incomodam e fazem pensar. Vale a pena assistir. Para quem se interessar, existe um outro filme do Oshima chamado O Garoto Toshio que tem bastante em comum com Juventude Desenfreada, mas que na minha opinião é muito superior.
O Jardim dos Prazeres. A estréia de Alfred Hitchcock como diretor de cinema. Que momento. Olha, eu gostei deste filme muito mais do que eu esperava. É uma trama demasiadamente simples e previsível, mas muito bem executada. Apesar de ter uma curta duração, o ritmo é muito bom, há várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e os personagens até que são bem desenvolvidos. Acredito que as duas moças são muito parecidas por um motivo: Hitchcock quis mostrar como o ser humano pode ser tão igual, mas tão distinto ao mesmo tempo. Enquanto Patsy é uma moça ingênua com um coração de ouro, Jill é uma alpinista social sem o menor escrúpulo. Os personagens masculinos Hugh e Lavett também possuem características em comum, mas são totalmente diferentes em termos de caráter. É um filme sobre os extremos do ser humano. O drama e romance são bem encaixados. Apesar de ter momentos tensos, é um filme encantador. Os filmes mudos possuem uma magia que os falados não têm. Ainda mais com um cachorro tão carismático. 4 estrelas está de bom tamanho.
Péssimo filme. Simplesmente reúne praticamente tudo o que eu menos aprecio em filmes de ação e de terror: Fotografia escura, câmera tremida, cenas chocantes sem muito fundamento, gritaria excessiva, etc. (A) Fronteira é uma bagunça total que atira para todos os lados.
Começa com a França vivendo um momento político conturbado por ter um "governo totalitário de extrema direita" e depois parte para uma família de neonazistas canibais adeptos da eugenia, criaturas rastejantes estranhas que não tem como saber se são humanas ou não e um monte de porcos que grunhem o tempo todo.
E nada disso é aprofundado, é tudo jogado. Não tem um contexto. E os personagens são todos burros e sem um pingo de carisma. Odiei. Um amigo me indicou, mas não é um filme para mim.
O pior do Hitchcock que eu vi até agora. Artificial e sem alma. A trama em si sobre espionagem e conspirações na Guerra Fria é interessante e tem potencial, mas o problema está na direção (nunca pensei que falaria algo assim sobre o Hitchcock) e no casal de protagonistas. O roteiro é muito bom, mas a execução é péssima. Hitchcock não consegue envolver o telespectador e a tensão é mínima. Poucas vezes eu vi um ator tão desinteressado em atuar como o Paul Newman neste filme. Ele simplesmente entregou a atuação mais burocrática que eu já vi. Fora o fato dele não ter nenhuma química com a Julie Andrews. Para não dizer que eu detestei tudo, eu digo que gostei muito da trilha sonora, que foi pouco aproveitada, e de uma cena em específico em que o
A Mulher do Século foi-me recomendado por uma amiga e mesmo não sendo um tipo de filme que eu costumo ver, dei uma chance e não me arrependi. É um ótimo filme que sabe ser hilariante em seus momentos espontâneos de comédia, mas que também conta com momentos dramáticos muito tocantes. Mame Dennis é uma personagem extremamente extrovertida e extravagante que em determinados momentos até passa dos limites do bom senso, mas que nitidamente vive em um mundo de falsas aparências (algo que a incomoda profundamente) e ela resolve ser ela mesma em 100% do tempo. Por mais que ela tenha uma forma diferente de encarar a vida, fica claro que ela tem um coração de ouro e tenta ajudar a todos que ela estima. A ligação dela com o sobrinho é muito bonita. O filme tem uma estrutura bem interessante. São pequenos capítulos que se interligam uns aos outros e sinceramente eu afirmo que gostei, já que proporcionou uma narrativa bem dinâmica à obra. E não é só a Mame que é uma personagem cheia de peculiaridades. Todos os seus amigos são personagens bem incomuns e engraçados. O humor aqui é pautado no contraste entre uma suposta normalidade e a excentricidade de certos personagens. Olha, eu adorei. Foi uma grata surpresa.
Sabotagem me surpreendeu. Talvez seja o filme mais trágico e sombrio que vi do mestre Hitchcock até o presente momento. A temática em si não é uma novidade para o diretor, já que ele fez muitos filmes sobre espionagem e organizações secretas, mas Sabotagem adota um ar mais cru e realista do que os outros, com uma abordagem corajosa sobre um tema tão pesado como
algo que não poderia ser mais relevante nos dias de hoje. O humor sutil característico do Hitchcock é praticamente inexistente e o que vemos é o peso gerado pelas consequências de ações extremistas. Sabotagem é um filme extremamente bem dirigido, bem atuado, com uma narrativa visual muito sagaz e com uma trama de suspense repleta de tensão que sabe ser sutil em seu desenvolvimento, mas intensa em seu clímax e prende o telespectador do começo ao final. É um dos melhores do diretor e já virou um dos meus favoritos.
Um Barco e Nove Destinos é um filme até certo ponto desconhecido da brilhante filmografia do mestre Hitchcock, mas é um de seus melhores trabalhos. O filme é sobre um barco à deriva com alguns sobreviventes de um ataque nazista que até tentam trabalhar em conjunto, mas toda a urgência da situação e diferenças étnicas e sociais (e até de personalidade) os fazem entrar em conflitos uns contra os outros. A ambientação repleta de insegurança e angústia faz toda a diferença. A fome e a sede não dão trégua e há todo um esgotamento físico e mental. Os personagens são muito interessantes e bem desenvolvidos e os diálogos são muito ricos em conteúdo. O elenco merece aplausos. Vale ressaltar que é um filme bem corajoso por inserir um personagem negro e um outro personagem alemão (que realmente fala alemão) em pleno ano de 1944, época em que o preconceito racial era muito explícito nos EUA e a Segunda Guerra Mundial ainda estava em andamento. É um grandíssimo trabalho de Hitchcock que merece ser descoberto.
Sete Oportunidades é um dos trabalhos mais engraçados que vi do mestre Buster Keaton até o momento. A premissa é simples, mas a forma extremamente engenhosa como o humor se desenvolve em relação à ela é que é o diferencial. Eu admiro muito a coragem do Buster Keaton em fazer filmes emotivos e empolgantes sem nunca deixar nenhum outro gênero se sobrepor à comédia, mas sempre conciliando a comédia de forma magistral com outros gêneros cinematográficos. As piadas visuais aqui estão absurdamente elaboradas. Toda a sequência da perseguição das noivas é uma aula de cinema! Eu não parei de rir por um instante sequer e senti toda a adrenalina das cenas inacreditáveis de ação. Buster Keaton revolucionou o cinema, simples assim. Ele foi um divisor de águas para a ação, a aventura, a comédia, o drama e o romance. Realmente tem algumas piadas preconceituosas, mas acredito que devemos relevar pela época em que o filme foi lançado. E vale ressaltar que é algo praticamente inexistente no cinema de Buster Keaton. Mais um filme dele que classifico com 5 estrelas. Está virando rotina.
O Agente Secreto é apenas um filme regular do mestre Hitchcock, mas que possui alguns aspectos interessantes. Dá para notar que o Hitchcock sempre foi diferenciado ao ver como ele como ele utiliza técnicas de filmagens bem criativas e transmite muita malícia nos diálogos de forma sutil. Certas cenas me impressionaram muito como a sequência da igreja ou a do cachorro aflito pelo seu dono. Porém, o filme se perde em sua reta final e soa um tanto quanto afobado e desleixado em seu desfecho.
Já havia visto Cinzas e Diamantes, mas senti que não tinha dado a devida importância na época. Resolvi rever depois de muitos anos e com um olhar mais maduro. Valeu muito a pena. O que vi foi uma obra com extrema qualidade artística e importantíssima em termos de linguagem.
As cinzas são o resultado da guerra e dos conflitos internos pelos quais a Polônia passava na época e os diamantes são os belos e honestos relacionamentos humanos tentando florescer no meio de toda essa turbulência, mas que infelizmente são encobertos pelas cinzas.
É muito poético. A trama é cerebral e concilia muito bem o drama, o romance e o suspense. Acredito que para entendê-la 100% você deve ter um conhecimento prévio sobre o contexto histórico do local e da época. Infelizmente é algo que eu não tenho, mas mesmo assim consegui aproveitar muito da obra. Andrzej Wajda conseguiu criar uma ambientação perfeita, com uma fotografia de beleza ímpar e utilizando de forma muito inventiva certos elementos do cenário para realçar os desejos e as inquietações dos personagens. A forma como ele posiciona os atores em cena é absolutamente genial. Apesar de ser bem dramático, senti que há elementos pontuais de humor sarcástico, principalmente em certos diálogos. A crítica é muito bem feita em relação às pessoas que comandam um país, mostrando que em muitas vezes o que importa para elas são os cargos que elas ocupam e os status que elas possuem. Enfim, mais uma obra-prima vinda do grande cinema polonês.
É um bom filme com todas as características marcantes do cinema de Fellini, como a complexidade dos personagens que não são nem mocinhos e nem vilões e a atmosfera onírica e melancólica, mas eu senti que faltou um algo a mais. Gostei da fusão entre o drama e a comédia.
Não gostei. Até o momento é o filme mais fraco do Bergman que assisti. Acredito que filmes introspectivos sobre vazio existencial e com ausência parcial ou total de uma trilha sonora não sejam a minha praia. Acontece. Dou 3 estrelas pelos diálogos que são interessantes e pela parte técnica, mas não consegui me conectar com os personagens e muito menos com a trama.
Cavalo de Guerra é um bom filme do Spielberg, feito à moda antiga e com bastante influência de diretores clássicos. Tem todas as características marcantes de sua bem-sucedida carreira, o que acarreta pontos positivos e negativos. Cavalo de Guerra tem uma trama consistente e é muito caprichado em todos os aspectos técnicos. Cumpre bem o seu papel de emocionar o público. O problema é que a trama é exageradamente sentimental, como é de praxe no cinema do Spielberg, e também é previsível em muitos momentos. Cavalo de Guerra me lembra muito os filmes de Hollywood dos anos 40 e 50 na forma simples (porém consistente) de narrar uma história dramática. Senti muita influência de John Ford na obra, principalmente em relação à fotografia. Ao me deparar com a belíssima fotografia visualizei no ato filmes como Como Era Verde o Meu Vale, Depois do Vendaval e Rastros de Ódio. Nas cenas de batalha (em que há um clima claustrofóbico e repleto de insegurança nas trincheiras) é nítida a influência de Glória Feita de Sangue do Kubrick. A ligação entre Albert e Joey é realmente muito especial e bem desenvolvida e gosto muito como a trajetória do cavalo passa por várias pessoas e vários lugares diferentes e o animal se torna uma figura marcante para todos. É poético ver como o mundo ao redor de Joey é caótico e passa por uma constante mudança, mas o animal se mantém firme, buscando viver a todo momento. Enfim, é um bom filme, mas faltou mais ousadia e vontade de sair do lugar-comum. Spielberg é um grande contador de histórias, mas Cavalo de Guerra poderia ter um pouco mais de personalidade própria.
Umberto D. é um grande exemplar do neorrealismo italiano. A trama em si é até demasiadamente simples, mas o grande diferencial é como ela é conduzida. Umberto D. pode ser considerado como uma poesia em movimento. Em uma outra análise que fiz sobre a trilogia de Apu (do diretor Satyajit Ray) eu disse que ele conseguiu extrair beleza do que não deveria ser naturalmente belo. Pois eu digo o mesmo sobre Vittorio De Sica e Umberto D.. O que é mostrado é apenas o cotidiano de pessoas comuns buscando o pão de cada dia e o cenário é na maior parte do tempo extremamente rústico e até decadente, em certos momentos, mas é filmado sempre da maneira mais graciosa possível. O drama do protagonista é muito verdadeiro e temas como velhice, desamparo, carência afetiva, ausência de empatia e dignidade são abordados com maestria. O Sr. Umberto sabe de suas condições, ele apenas quer viver a pequena parcela de vida que lhe resta com alguma dignidade. Não é pedir muito. Infelizmente as pessoas do filme (e muitas vezes da vida real) não enxergam desta forma. O neorrealismo italiano, por ser muitas vezes o retrato do homem comum, tem o poder de se comunicar com pessoas de todos os lugares e de todas as eras. Quantos "Umbertos" devem existir por aí... De ponto negativo, eu só acredito que o filme poderia ter uma duração maior e desenvolver melhor a subtrama da personagem Maria. Enfim, filme primoroso tecnicamente em todos os aspectos como direção, fotografia, trilha sonora e atuações. Umberto e Flike formam uma das amizades mais lindas que o cinema já produziu. Incrível saber que Carlo Battisti não era ator profissional. Um grandíssimo filme.
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
4.4 829 Assista AgoraO Que Terá Acontecido a Baby Jane? é um filme muito intenso e sufocante sobre uma relação complexa e doentia entre duas irmãs que foram artistas de sucesso em um passado distante. Baby Jane (magistralmente interpretada por Bette Davis) é uma pessoa totalmente psicótica, que aparenta ter mais de uma personalidade. É dócil na frente de estranhos, mas pode se tornar um demônio na frente de sua irmã ou quando há assuntos envolvendo a sua irmã. Por outro lado, Blanche é uma senhora que se encontra em uma condição frágil (já que é cadeirante e depende quase que totalmente da irmã para viver), mas que parece ter uma personalidade mais submissa e até certo ponto releva os caprichos da irmã. O problema é que os tais "caprichos" ficam cada vez mais agressivos e doentios. Adoro a ambientação decadente e gótica e o clima de tensão constante que permeia a obra, porém o grande destaque do filme com certeza vai para as atuações poderosíssimas de Bette Davis e Joan Crawford. O que me impede de dar nota máxima é que certas atitudes pouco inteligentes de determinados personagens (por pura conveniência de roteiro) me incomodaram bastante. Robert Aldrich foi um excelente diretor. Muito corajoso para a época.
Em Busca do Ouro
4.4 276 Assista AgoraEm Busca do Ouro traz o que o mestre Charles Chaplin tem de melhor: A fusão entre comédia, drama e romance de forma extremamente encantadora e melancólica. É impossível deixar de se sensibilizar pelo carisma e pela inocência do protagonista em busca da própria sobrevivência e de Georgia, um amor que lhe parece muito distante. A ambientação do filme é incrível. Todo o clima gélido do Alasca se faz totalmente presente do começo ao final e você sente toda a dificuldade dos personagens tentando ganhar a vida em um lugar tão inóspito. O cinema mudo possui algo que se perdeu ao longo do tempo, mas eu não sei dizer bem o que. Talvez a magia... Em Busca do Ouro é um daqueles filmes que te fazem pensar que no cinema tudo é possível. Foi uma experiência muitíssimo agradável. 5 estrelas e favoritado.
Tarde da Noite Com o Diabo
3.5 285Late Night With the Devil é um excelente e criativo filme de terror. Consegue realizar uma recriação impecável em relação ao que é um talk show e também em relação aos anos 70. É imersivo e às vezes você até se esquece que é um filme e pensa estar assistindo a um programa de televisão do naipe de um Johnny Carson ou de um David Letterman. O terror vem do sobrenatural, mas também há espaço para o terror psicológico. O final é bem interpretativo.
Na minha interpretação, Jack fez um pacto com o diabo para ser o apresentador número 1 da televisão e teve a sua esposa utilizada como sacrifício (não sei se deliberadamente ou não). A entidade demoníaca que era canalizada pelo corpo da menina também estava presente no ritual, mas ela se soltou da menina na primeira demonstração de possessão. Aí a tal entidade possuiu o Jack e fez com que ele delirasse e dentro de seu delírio matasse a todos ao seu redor. Foi o preço final a se pagar para ele finalmente se tornar o apresentador mais famoso da televisão, mesmo que a sua fama tenha vindo do massacre que ele fez.
Homem Morto
3.8 202 Assista AgoraHomem Morto é fantástico. Um faroeste experimental e atmosférico com um teor existencialista e uma ambientação gótica. É apenas o segundo filme de Jim Jamursch que assisto, mas já consegui notar que ele é um cineasta que possui uma forma bem original e peculiar de fazer cinema. A jornada do protagonista William Blake não possui um rumo definido, o que resulta em encontros aleatórios com figuras totalmente excêntricas em uma ambientação sombria que sempre destaca a morte. A morte (seja ela literal ou metafórica) é o mote da obra. A evolução do protagonista é muito bem desenvolvida. Ele começa como alguém frágil e inseguro e se torna forte, confiante e resiliente. Apesar de ser um filme sombrio, com cenas gráficas de violência, vale ressaltar que possui um humor negro bem interessante e muito bem encaixado que não tira o peso dos acontecimentos. Vale também destacar o elenco recheado de grandes atores e a trilha sonora que é perfeita. Virou um dos meus favoritos.
As Duas Vidas de Audrey Rose
3.4 73 Assista AgoraAs Duas Vidas de Audrey Rose é um drama poderoso com uma boa dose de suspense e elementos sobrenaturais. Não considero terror, já que o foco aqui é o drama familiar e o sentimento de insegurança e de perda, mas não nego que tenha momentos arrepiantes. O grande destaque vai para as atuações, principalmente para a atriz que interpreta a protagonista. A atmosfera é bem enigmática e inquietante e o tema em si de reencarnação me agrada muito. Só não entendi muito bem qual era o propósito do personagem do Anthony Hopkins. Ele mais atrapalhou do que ajudou. Mas é um bom filme.
O Espírito da Colméia
4.2 145 Assista AgoraO Espírito da Colmeia é um filme bem interessante. A atmosfera é bem hipnótica e enigmática e a obra em si é bem contemplativa e filosófica. Não posso dizer que compreendi totalmente as metáforas, mas o que eu captei foi que se trata de um filme sobre a ótica das crianças em relação ao caos causado pela guerra. A fantasia se torna uma válvula de escape e ajuda a manter a pureza característica da infância. Toda a analogia sobre vida e morte em relação ao clássico Frankenstein é genial. A criatura é um ser inocente, vítima das circunstâncias, que vive no limiar entre a vida e a morte assim como as duas irmãs. Em certos aspectos me lembrou Brinquedo Proibido, obra-prima francesa de 1952. É muito bem feito em todos os quesitos técnicos, principalmente em termos de fotografia e trilha sonora. As duas atrizes mirins são fenomenais, principalmente a que interpreta a Ana. Poucas vezes vi olhos tão expressivos quanto os dela. É um filme fantástico e virou um dos meus favoritos.
Limite
4.0 167 Assista AgoraÉ difícil analisar um filme como Limite. Com certeza é uma obra muito importante, extremamente experimental e inovadora em termos de montagem e estrutura narrativa, mas que possui uma trama muito difícil de ser compreendida. O que eu entendi foi que:
As três pessoas no barco tiveram passados traumatizantes e turbulentos e queriam escapar de suas próprias realidades. Se cruzam pelo acaso e resolvem encarar uma aventura. Passam dificuldades durante a jornada e ao refletirem sobre suas vidas relembram de acontecimentos do passado.
O filme é ousado em inserir vários flashbacks em uma narrativa não-linear, mas eu senti que na restauração tentaram montar um quebra-cabeça com algumas peças faltando.
Limite é, em sua essência, um filme existencialista sobre a falta de esperança e a busca por um norteamento na vida. Antes de qualquer coisa, os protagonistas não estão apenas perdidos em um barco à deriva, estão perdidos em suas próprias vidas. É uma metáfora.
É extremamente bem filmado, bem atuado, com uma fotografia lindíssima e uma trilha sonora imponente.
É cansativo? Muito. É confuso? Sim. Mas vale a pena como experiência cinematográfica sem a menor sombra de dúvidas.
O Pagador de Promessas
4.3 363 Assista AgoraO Pagador de Promessas é um filme fantástico. Eu já tinha assistido, mas há muito tempo e não me lembrava de muita coisa. É um filme sobre um homem simples do campo sem muita instrução, porém verdadeiro, que deseja pagar uma promessa para a Santa Bárbara. Ele só queria agradecer a Santa por ter salvo o seu burro. Um ato de dignidade e devoção. Porém, o que deveria ser fácil de se conseguir se torna extremamente difícil e caótico pelo caráter falho do ser humano. Zé do Burro e Rosa são personagens puros e ingênuos no meio de uma sociedade repleta de pessoas interesseiras e manipuladoras. As críticas são bem amplas e bem diversificadas e o que eu identifiquei foi que o filme toca em temas como politicagem, panfletarismo, jornalismo tendencioso empenhado em distorcer os fatos, choque de culturas repleto de hostilidade e incompreensão, etc. O filme em si não critica a fé verdadeira, muito pelo contrário, a enaltece. Zé do Burro é um devoto convicto e que deseja cumprir os seus objetivos sem segundos interesses. O que acontece é que ele é usado por muitos grupos de pessoas maliciosas ao seu redor de forma arriscada (como um peão em um tabuleiro de xadrez) e muitas vezes sem nem perceber que está sendo usado. Algo que é muito presente no Brasil até os dias de hoje (eu diria até que é o retrato do brasileiro médio), independentemente do viés político. Obviamente se trata de um filme de baixo orçamento, mas é muito bem feito em termos técnicos. É bem dirigido, tem uma ótima estrutura narrativa, sabe desenvolver os seus personagens, tem uma linda fotografia e uma ótima trilha sonora. Vale muito a pena assistir. Conheço pouco do cinema nacional e pretendo corrigir esta falha. Tem disponível no YouTube.
O Importante é Amar
4.0 34O Importante é Amar é o quinto filme do Andrzej Zulawski que eu assisto e notei que é um trabalho mais sutil e menos histérico (apesar de ter os seus excessos) do que os outros. Não diria que é um filme padrão de romance e sim sobre a aflição que o ato de amar pode causar a uma ou mais pessoas, seja diretamente ou indiretamente. O triângulo amoroso e todos os seus dilemas morais que os cercam funcionam muito bem. Os personagens transbordam sensibilidade e são bem complexos. O elenco todo está de parabéns, principalmente a Romy Schneider. O que rebaixa um pouco a obra na minha opinião são certas cenas gratuitas de obscenidade e depravação. Algumas ficaram tão avulsas que só me pareceu que o diretor quis causar algum rebuliço. Sim, eu sei que a decadência moral faz parte deste universo e é necessária para que a mensagem seja efetiva, mas o diretor poderia filmar as cenas de uma forma menos explícita. O Importante é Amar no fundo é um filme sobre sacrifícios. Sobre o quanto você está disposto a ir por uma determinada pessoa. Nos aspectos técnicos o filme é muito bem feito, contando com uma excelente direção, excelentes atuações e uma trilha sonora extremamente melancólica. O final é arrebatador. É impossível deixar de pensar no quanto que O Importante é Amar e outros trabalhos do Zulawski devem ter influenciado a carreira do Gaspar Noé.
Juventude Desenfreada
3.7 14Juventude Desenfreada é antes de tudo o retrato de uma época e um filme bem corajoso e relevante do Nagisa Oshima, porém com uma narrativa inconsistente e que tinha potencial para ser melhor. Oshima mostra um Japão pós-guerra decadente e passando por uma "crise de identidade" que gera um processo de transição brusco entre o tradicionalismo e o excesso de liberdade, o que afeta muitas pessoas, principalmente os jovens. Os jovens possuem mais liberdade do que nunca e a liberdade em si é fundamental para qualquer sociedade, mas o que jovens estão fazendo com a liberdade é racional ou saudável? É uma das questões que o filme traz à tona. O casal de protagonistas pensa que a vida é apenas uma aventura em busca de prazer e se esquecem que determinados atos irresponsáveis geram consequências muito devastadoras. Como eu disse antes, a temática em si é muito relevante e continua atual até os dias de hoje, mas eu senti uma certa inexperiência do diretor em conduzir a trama, o que a torna enfadonha em alguns momentos. Eu pesquisei e vi que se trata apenas do segundo filme da carreira do diretor. Talvez seja a explicação. Enfim, é um grande filme? Não, mas é uma obra que toca em temas delicados em pleno ano de 1960 e mostra que o Oshima sempre buscou realizar filmes autorais e honestos que incomodam e fazem pensar. Vale a pena assistir. Para quem se interessar, existe um outro filme do Oshima chamado O Garoto Toshio que tem bastante em comum com Juventude Desenfreada, mas que na minha opinião é muito superior.
O Jardim dos Prazeres
3.2 40O Jardim dos Prazeres. A estréia de Alfred Hitchcock como diretor de cinema. Que momento. Olha, eu gostei deste filme muito mais do que eu esperava. É uma trama demasiadamente simples e previsível, mas muito bem executada. Apesar de ter uma curta duração, o ritmo é muito bom, há várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e os personagens até que são bem desenvolvidos. Acredito que as duas moças são muito parecidas por um motivo: Hitchcock quis mostrar como o ser humano pode ser tão igual, mas tão distinto ao mesmo tempo. Enquanto Patsy é uma moça ingênua com um coração de ouro, Jill é uma alpinista social sem o menor escrúpulo. Os personagens masculinos Hugh e Lavett também possuem características em comum, mas são totalmente diferentes em termos de caráter. É um filme sobre os extremos do ser humano. O drama e romance são bem encaixados. Apesar de ter momentos tensos, é um filme encantador. Os filmes mudos possuem uma magia que os falados não têm. Ainda mais com um cachorro tão carismático. 4 estrelas está de bom tamanho.
Sr. & Sra. Smith - Um Casal do Barulho
3.3 36...
Com todo respeito ao Hitchcock, mas foi uma das piores porcarias que eu já vi.
(A) Fronteira
3.4 493Péssimo filme. Simplesmente reúne praticamente tudo o que eu menos aprecio em filmes de ação e de terror: Fotografia escura, câmera tremida, cenas chocantes sem muito fundamento, gritaria excessiva, etc. (A) Fronteira é uma bagunça total que atira para todos os lados.
Começa com a França vivendo um momento político conturbado por ter um "governo totalitário de extrema direita" e depois parte para uma família de neonazistas canibais adeptos da eugenia, criaturas rastejantes estranhas que não tem como saber se são humanas ou não e um monte de porcos que grunhem o tempo todo.
Cortina Rasgada
3.4 126 Assista AgoraO pior do Hitchcock que eu vi até agora. Artificial e sem alma. A trama em si sobre espionagem e conspirações na Guerra Fria é interessante e tem potencial, mas o problema está na direção (nunca pensei que falaria algo assim sobre o Hitchcock) e no casal de protagonistas. O roteiro é muito bom, mas a execução é péssima. Hitchcock não consegue envolver o telespectador e a tensão é mínima. Poucas vezes eu vi um ator tão desinteressado em atuar como o Paul Newman neste filme. Ele simplesmente entregou a atuação mais burocrática que eu já vi. Fora o fato dele não ter nenhuma química com a Julie Andrews. Para não dizer que eu detestei tudo, eu digo que gostei muito da trilha sonora, que foi pouco aproveitada, e de uma cena em específico em que o
cientista alemão Lindt passa os seus conhecimentos ao professor Armstrong sem querer.
A Mulher do Século
3.6 20A Mulher do Século foi-me recomendado por uma amiga e mesmo não sendo um tipo de filme que eu costumo ver, dei uma chance e não me arrependi. É um ótimo filme que sabe ser hilariante em seus momentos espontâneos de comédia, mas que também conta com momentos dramáticos muito tocantes. Mame Dennis é uma personagem extremamente extrovertida e extravagante que em determinados momentos até passa dos limites do bom senso, mas que nitidamente vive em um mundo de falsas aparências (algo que a incomoda profundamente) e ela resolve ser ela mesma em 100% do tempo. Por mais que ela tenha uma forma diferente de encarar a vida, fica claro que ela tem um coração de ouro e tenta ajudar a todos que ela estima. A ligação dela com o sobrinho é muito bonita. O filme tem uma estrutura bem interessante. São pequenos capítulos que se interligam uns aos outros e sinceramente eu afirmo que gostei, já que proporcionou uma narrativa bem dinâmica à obra. E não é só a Mame que é uma personagem cheia de peculiaridades. Todos os seus amigos são personagens bem incomuns e engraçados. O humor aqui é pautado no contraste entre uma suposta normalidade e a excentricidade de certos personagens. Olha, eu adorei. Foi uma grata surpresa.
Sabotagem
3.7 73 Assista AgoraSabotagem me surpreendeu. Talvez seja o filme mais trágico e sombrio que vi do mestre Hitchcock até o presente momento. A temática em si não é uma novidade para o diretor, já que ele fez muitos filmes sobre espionagem e organizações secretas, mas Sabotagem adota um ar mais cru e realista do que os outros, com uma abordagem corajosa sobre um tema tão pesado como
o planejamento de um ataque terrorista,
Um Barco e Nove Destinos
4.0 121Um Barco e Nove Destinos é um filme até certo ponto desconhecido da brilhante filmografia do mestre Hitchcock, mas é um de seus melhores trabalhos. O filme é sobre um barco à deriva com alguns sobreviventes de um ataque nazista que até tentam trabalhar em conjunto, mas toda a urgência da situação e diferenças étnicas e sociais (e até de personalidade) os fazem entrar em conflitos uns contra os outros. A ambientação repleta de insegurança e angústia faz toda a diferença. A fome e a sede não dão trégua e há todo um esgotamento físico e mental. Os personagens são muito interessantes e bem desenvolvidos e os diálogos são muito ricos em conteúdo. O elenco merece aplausos. Vale ressaltar que é um filme bem corajoso por inserir um personagem negro e um outro personagem alemão (que realmente fala alemão) em pleno ano de 1944, época em que o preconceito racial era muito explícito nos EUA e a Segunda Guerra Mundial ainda estava em andamento. É um grandíssimo trabalho de Hitchcock que merece ser descoberto.
Sete Oportunidades
4.1 62Sete Oportunidades é um dos trabalhos mais engraçados que vi do mestre Buster Keaton até o momento. A premissa é simples, mas a forma extremamente engenhosa como o humor se desenvolve em relação à ela é que é o diferencial. Eu admiro muito a coragem do Buster Keaton em fazer filmes emotivos e empolgantes sem nunca deixar nenhum outro gênero se sobrepor à comédia, mas sempre conciliando a comédia de forma magistral com outros gêneros cinematográficos. As piadas visuais aqui estão absurdamente elaboradas. Toda a sequência da perseguição das noivas é uma aula de cinema! Eu não parei de rir por um instante sequer e senti toda a adrenalina das cenas inacreditáveis de ação. Buster Keaton revolucionou o cinema, simples assim. Ele foi um divisor de águas para a ação, a aventura, a comédia, o drama e o romance. Realmente tem algumas piadas preconceituosas, mas acredito que devemos relevar pela época em que o filme foi lançado. E vale ressaltar que é algo praticamente inexistente no cinema de Buster Keaton. Mais um filme dele que classifico com 5 estrelas. Está virando rotina.
O Agente Secreto
3.2 35 Assista AgoraO Agente Secreto é apenas um filme regular do mestre Hitchcock, mas que possui alguns aspectos interessantes. Dá para notar que o Hitchcock sempre foi diferenciado ao ver como ele como ele utiliza técnicas de filmagens bem criativas e transmite muita malícia nos diálogos de forma sutil. Certas cenas me impressionaram muito como a sequência da igreja ou a do cachorro aflito pelo seu dono. Porém, o filme se perde em sua reta final e soa um tanto quanto afobado e desleixado em seu desfecho.
Cinzas e Diamantes
4.1 40 Assista AgoraJá havia visto Cinzas e Diamantes, mas senti que não tinha dado a devida importância na época. Resolvi rever depois de muitos anos e com um olhar mais maduro. Valeu muito a pena. O que vi foi uma obra com extrema qualidade artística e importantíssima em termos de linguagem.
As cinzas são o resultado da guerra e dos conflitos internos pelos quais a Polônia passava na época e os diamantes são os belos e honestos relacionamentos humanos tentando florescer no meio de toda essa turbulência, mas que infelizmente são encobertos pelas cinzas.
Os Boas-Vidas
4.0 53 Assista AgoraÉ um bom filme com todas as características marcantes do cinema de Fellini, como a complexidade dos personagens que não são nem mocinhos e nem vilões e a atmosfera onírica e melancólica, mas eu senti que faltou um algo a mais. Gostei da fusão entre o drama e a comédia.
Só queria dizer duas coisas:
1. A sequência do Carnaval é genial.
2. Fausto é um dos personagens mais desprezíveis da história do cinema.
Luz de Inverno
4.3 173Não gostei. Até o momento é o filme mais fraco do Bergman que assisti. Acredito que filmes introspectivos sobre vazio existencial e com ausência parcial ou total de uma trilha sonora não sejam a minha praia. Acontece. Dou 3 estrelas pelos diálogos que são interessantes e pela parte técnica, mas não consegui me conectar com os personagens e muito menos com a trama.
Cavalo de Guerra
4.0 1,9KCavalo de Guerra é um bom filme do Spielberg, feito à moda antiga e com bastante influência de diretores clássicos. Tem todas as características marcantes de sua bem-sucedida carreira, o que acarreta pontos positivos e negativos. Cavalo de Guerra tem uma trama consistente e é muito caprichado em todos os aspectos técnicos. Cumpre bem o seu papel de emocionar o público. O problema é que a trama é exageradamente sentimental, como é de praxe no cinema do Spielberg, e também é previsível em muitos momentos. Cavalo de Guerra me lembra muito os filmes de Hollywood dos anos 40 e 50 na forma simples (porém consistente) de narrar uma história dramática. Senti muita influência de John Ford na obra, principalmente em relação à fotografia. Ao me deparar com a belíssima fotografia visualizei no ato filmes como Como Era Verde o Meu Vale, Depois do Vendaval e Rastros de Ódio. Nas cenas de batalha (em que há um clima claustrofóbico e repleto de insegurança nas trincheiras) é nítida a influência de Glória Feita de Sangue do Kubrick. A ligação entre Albert e Joey é realmente muito especial e bem desenvolvida e gosto muito como a trajetória do cavalo passa por várias pessoas e vários lugares diferentes e o animal se torna uma figura marcante para todos. É poético ver como o mundo ao redor de Joey é caótico e passa por uma constante mudança, mas o animal se mantém firme, buscando viver a todo momento. Enfim, é um bom filme, mas faltou mais ousadia e vontade de sair do lugar-comum. Spielberg é um grande contador de histórias, mas Cavalo de Guerra poderia ter um pouco mais de personalidade própria.
Umberto D.
4.4 124 Assista AgoraUmberto D. é um grande exemplar do neorrealismo italiano. A trama em si é até demasiadamente simples, mas o grande diferencial é como ela é conduzida. Umberto D. pode ser considerado como uma poesia em movimento. Em uma outra análise que fiz sobre a trilogia de Apu (do diretor Satyajit Ray) eu disse que ele conseguiu extrair beleza do que não deveria ser naturalmente belo. Pois eu digo o mesmo sobre Vittorio De Sica e Umberto D.. O que é mostrado é apenas o cotidiano de pessoas comuns buscando o pão de cada dia e o cenário é na maior parte do tempo extremamente rústico e até decadente, em certos momentos, mas é filmado sempre da maneira mais graciosa possível. O drama do protagonista é muito verdadeiro e temas como velhice, desamparo, carência afetiva, ausência de empatia e dignidade são abordados com maestria. O Sr. Umberto sabe de suas condições, ele apenas quer viver a pequena parcela de vida que lhe resta com alguma dignidade. Não é pedir muito. Infelizmente as pessoas do filme (e muitas vezes da vida real) não enxergam desta forma. O neorrealismo italiano, por ser muitas vezes o retrato do homem comum, tem o poder de se comunicar com pessoas de todos os lugares e de todas as eras. Quantos "Umbertos" devem existir por aí... De ponto negativo, eu só acredito que o filme poderia ter uma duração maior e desenvolver melhor a subtrama da personagem Maria. Enfim, filme primoroso tecnicamente em todos os aspectos como direção, fotografia, trilha sonora e atuações. Umberto e Flike formam uma das amizades mais lindas que o cinema já produziu. Incrível saber que Carlo Battisti não era ator profissional. Um grandíssimo filme.