O horror dos campos de concentração e todo o imensurável sofrimento humano dos que pereceram neles, ou que à eles sobreviveram, faz do Holocausto uma tema emocionalmente carregado, não somente para os sobreviventes e para as pessoas de origem judaica, mas para grande parte das pessoas de qualquer lugar... O trailer, como quase todo trailer, evoca essa densidade emocional e promete emoções intensas em torno de um debate extremamente polêmico... Mas o filme, que achei fantástico, na verdade é bem contido e, mesmo se tratando de um evento tão emocionalmente carregado, é bastante cerebral... As decisões que a equipe de defesa toma acerca de estratégia jurídica-argumentativa são todas no sentido de não fornecer ao autor do processo absolutamente qualquer elemento que pudesse promover seu circo e alimentar uma mídia sensacionalista e desumana, para quem a questão da existência do Holocausto não tem a menor importância - política, ética, histórica ou humanitária, só importando a vendabilidade e a viralidade da notícia... O filme, assim como a estratégia de defesa, foge do apelativo e emocional, até mesmo do testemunho dos sobreviventes, para concentrar-se nos detalhes técnicos da pesquisa histórica, mostrando que a história não é um saber tão facilmente adulterável, mesmo por um homem que dedicou sua vida inteira ao estudo do Holocausto unicamente com intenção de negá-lo. É doce saber que todos esses negadores da ciência e da história só conseguem algum êxito - algum espaço, alguma visibilidade, alguma mídia, porque não foram verdadeiramente desafiados por um grupo (para não dizer comunidade) de cientistas ou historiadores... Nenhuma dessas pretensas contestações de verdades científicas ou históricas sedimentadas e aceitas pela comunidade de pesquisadores resistiria a um verdadeiro escrutínio, como o que ocorre no filme. O filme, para mim, é uma ode à verdade, à pesquisa histórica rigorosa e à ciência. É, também, de certa forma, uma ode à humanidade, como capacidade de empatia, de compaixão, de colocar-se no lugar do outro.
O título original do filme, Denial, traduzido corretamente por Negação, não é somente a negação do Holocausto. Faz um jogo interessante com uma "self denial" - isto é, a autonegação ou abnegação, que a personagem central Deborah Lipstadt (Rachel Weisz) precisa realizar: a escritora e réu no caso acaba sendo convencida pela sua equipe jurídica que a melhor forma de vencer esse debate é não se pronunciando, não tentando fazer ela mesma a defesa da verdade do Holocausto, pois se o fizesse, certamente sua própria personalidade, palavras e emoções contribuiriam para o circo que o autor do processo esperava criar. Ela aceitou e precisou realizar uma auto-negação, precisou calar sua ira, sua revolta, sua tristeza, suas emoções e até mesmo seu orgulho, permanecendo todo o tempo em silêncio e deixando que os advogados destruíssem o oponente com o rigor da pesquisa histórica e de inanição, por não lhe darem nada, absolutamente nenhum alimento para sua intenção sencionalista
Quando eu vi, no prólogo, aquele monte de gente correndo e pulando feito loucos (os ousados ou coisa que o valha), pressenti que o filme ia ser uma completa perda de tempo. Intuição certeira. Um dos piores filmes que vi nos últimos anos. Não vale nem os 0,5 que dei.
Como já dizia Francis Bacon, "saber é poder", e o saber absoluto é poder absoluto. Lucy é um ode ao conhecimento científico e, no entanto, sua narrativa não consegue criar uma intensa ligação ou empatia com a personagem: Lucy ecoa o sentimento de desconexão com a humanidade e com a sua própria humanidade de Dr. Manhattan em "Watchmen". No entanto, se essa perda da humanidade é gradual para Dr. Manhattan, ela é quase instantânea em Lucy. Ela é tão inteligente e tão poderosa que temos dificuldade em discernir uma motivação humana em suas ações. O que ela está fazendo ou tentando fazer? Nesse sentido, achei o filme menos interessante que outros com premissas parecidas, como "Sem Limites" ou a história de Dr. Manhattan em "Watchmen", que conseguem criar uma empatia com o personagem cuja inteligência e consciência se torna, em seguida, super-humana e chega a flertar com a onisciência divina. Quanto a ação do filme, ela se torna tão, mas tão inverossímil para nós, reles humanos, que as cenas perdem tensão dramática e ficam quase engraçadas. Lucy é uma mistura de Neo com Dr. Manhattan e todos os mutantes de X-men juntos e etcetera. Lucy é Deus
Pra quem gosta de ciência e filosofia, é óbvio que não deixa de ser interessante a forma como o diretor entrecruzou pequenos curtas científicos com à narrativa: até parece que você está assistindo um episódio de Cosmos. Mas, enquanto narrativa dramática ou de ação, não funciona tão bem.
A nota baixa não faz jus ao filme. Sim, claro, não é uma obra prima do Terror, mas é um bom filme, sim. Para começo, o filme flerta bastante com o terror psicológico: um espelho capaz de causar alucinações visuais e auditivas. Ora, se você não pode confiar plenamente no que vê ou escuta, você não pode confiar plenamente em si mesmo. E se você não pode confiar plenamente nem em si mesmo, no que você pode confiar? A atmosfera de loucura e esquizofrenia é um elemento interessante na trama. A maneira como cruzaram as narrativas do passado e do presente é outro ponto positivo do filme. Há, claro, alguns defeitos: o Tim adulto contribui pouquíssimo com a trama; na única vez em que atua, quando tenta convencer a irmã que ambos passaram por um trauma e que, portanto, suas memórias da infância não são muito confiáveis, sendo provavelmente mais imaginadas do que reais, ele não convence. Kaylie (Karen Gillan) carrega o filme nas costas. O fato de não terem dado, neste filme, um espaço para a narrativa do surgimento do espelho ou que a conclusão do filme
, não me incomoda. Os filmes são planejados hoje com várias deixas para uma possível continuação. Fazer o que? Seria difícil também integrar todas três narrativas numa só. Enfim, o filme é bom. Merece uma nota um pouco mais alta do que essa no filmow. E é um bom divertimento.
Observação: não considerei spoilers determinadas informações que constam, claramente, no trailer do filme.
Concordo com os comentários de vários usuários de que inúmeros elementos do filme foram mal explorados, não fazendo do filme um grande filme, mas não concordo com quem diz que o filme é ruim e sem méritos. Muito pelo contrário: primeiramente, a premissa do filme é genial. Será que um dia poderemos criar um robô consciente? Ou será que poderemos reproduzir uma consciência humana já existente num meio artificial? E supondo que sim, o que aconteceria se essa consciência pudesse acessar à todas as memorias e conhecimentos da rede que chamamos internet? Essa foi a premissa de uma série recente que, salvo engano, não decolou: Inteligence, protagonizada pelo ex-lost Josh Holloway. Vi os dois primeiros episódios da série e, embora estivesse ansioso, não gostei da forma como a premissa da interação consciência humana/rede foi tratada ali. Nesse sentido, acho a sacada de "desmaterializar" o dr. Will Caster e fazê-lo apenas uma consciência foi interessante e dramática. Tratava-se de salvar, se não sua vida, mas sua consciência, e esse não é um dos maiores sonhos da humanidade desde sempre? Feito isso, problemas adicionais surgem: como pode ser possível um relacionamento com um ser absolutamente virtual, mesmo que essa consciência seja a do seu marido morto? (Aliás, morto? Somos, fundamentalmente, a vida de nossas células ou a nossa consciência?). É a premissa do genial "Ela", mas acho que o argumento de Transcendence era bom e poderiam ter explorado mais esse romance impossível, por exemplo, levando a questão de se era ou não era o mesmo Dr. Will Caster ao ponto de exasperação [alimentar a dúvida].
Seria bom se o amor dele não tivesse sido deixado para o final apenas... Se ambos pudessem ter reproduzido "Ela", isto é, a afinidade espiritual, a saudade, o desejo sem, no entanto, ser possível o encontro dos corpos...
Ao mesmo tempo em que nutria nossa paranoia com a questão "será o mesmo amado Dr. Will Caster" essa inteligência assustadoramente onisciente e onipresente? É possível haver amor nessas condições, quando a máquina analisa sua neuroquímica e sabe de todas as suas disposições emocionais?
A verdade é que não houve mais romance entre os dois depois que ele morreu biologicamente, mas esse romance era plenamente possível (como Ela mostrou ser possível uma história de amor entre um SO e um ser humano)
. Muito interessante a questão da "Singularidade" e a questão da nanotecnologia... Acho que poderiam ter produzido novamente uma tensão mais forte entre as possibilidades esperançosas e aterradoras dessas tecnologias... Devemos temê-las ou esperar por elas? O grupo terrorista me pareceu mal construído ideologicamente: deveriam ter dado mais espaço e mais filosofia para Bree (Kate Mara), a líder terrorista antagonista do filme, fazendo-a corporificar não um medo irracional, mas um medo racional: afinal, que garantias teríamos de que essa consciência, munida de um conhecimento quase divino, não se voltaria contra nós? Acho que o grupo resistente poderia ter sido um pouco mais desenvolvido, no sentido de não soar tão lunático.
Por fim, o plot da revolução contra as máquinas foi interessantíssimo, mas pouco desenvolvido. Lembrei da série "Revolution", que retrata uma crise energética global e misteriosa. Acho que uma crise dessa natureza e dessas proporções teria ai uma boa justificativa...
Enfim, achei o filme muito interessante, com muitas questões filosóficas e muitos insights narrativos, mas pouco desenvolvidos. Daria uma ótima série.
O roteiro conseguiu tratar com certa profundidade vários personagens, como Wolverine, Xavier, Magneto e, sobretudo, Mística, que certamente é o centro do filme - já prefaciando o filme solo que ela vai ganhar. Tem cenas divertidas, como não poderiam faltar num filme da Marvel, mas o tom que prevalece é o drama. Os Sentinelas do futuro ficaram convincentemente assustadores (e com um design incrível), funcionando como um ótimo argumento e pontapé inicial para a narrativa. A atuação de Peter Dinklage como o cientista criador dos Sentinelas foi boa, sem exagero dramático, sem vilania excessiva - simplesmente um cientista convencido da ameaça que os mutantes representam à humanidade, com diálogos sempre se referindo à questões de evolução, mutação, luta entre espécies, extinção das espécies menos evoluídas. Enfim, o filme é bem divertido e, considerando o tom cômico dos filmes de ação e super-herói de Marvel, é um bom drama. E a cena pós-crédito, entusiasmante. Finalmente foi resolvido o enigma
O filme pode ser considerado marxista, ou neo-marxista. Tenta fazer uma crítica social à exploração dos pobres pelos ricos e busca revelar o contraste entre a vida de miséria da classe dominada e a vida de luxos da classe dominante... O trem é pensado, certamente, como um microcosmo da sociedade... No entanto, falta absolutamente sutileza, bom gosto... A crítica é feita de uma forma esteticamente rudimentar... O diálogo de Tilda sobre o lugar natural dos pobres é sofrível (O lugar dos sapatos não é na cabeça... )... Algum marxista ou neo-marxista pode argumentar que não é necessário sutileza para expressar a miséria dos pobres.. Não: a boa arte, mesmo quando expressa realidades trágicas, a expressa com sutileza, com bom gosto... Veja "A Vida de Galileu", de Bertold Bretch, por exemplo. Falta bom gosto nesse filme. É assistível: Tilda é engraçada e a ação é razoável... Mas está longe de fazer uma crítica social inteligente, sutil, bem eloborada, como, por exemplo, Wall-e faz.
Puts! Primeiro, gostaria de dizer que eu estava com o espírito apropriado para uma comédia: tem muita gente que assiste comédias de mau humor, sem espírito para achar graça de coisa alguma e, consequentemente, estragam qualquer comédia, mesmo as mais geniais e maravilhosas. Eu estava com o espírito apropriado... Até tomando umas cervejinhas... Super-descontraído e tal... Mas esse filme é um lixo. O roteiro desse filme não existe de tão ruim. Tudo é forçado. Teoricamente, o filme deveria tratar o conflito entre gerações, entre pessoas de uma época pré-digital e os jovens geeks, nerds, amamentados com leite digital... Deveria ter umas piadas geeks legais... Mas só achei um pouco de graça com a piada de Charles Xavier e um pouquinho com a piadinha de GOT no final... O romancezinho, elemento obrigatório em qualquer comédia, é a coisa mais forçada e sem sal que já vi na vida... Não achei que os dois protagonistas interagiram bem.... Aliás, os geeks são muitos mais carismáticos que os protagonistas... A filosofia google para o ambiente do trabalho é algo interessante, curioso, e até merecia um filme... Mas este filme.. Uma coisa que não compreendo: sei que gosto é gosto, e talvez algumas das pessoas que deram uma pontuação alta para este filme tenham, verdadeiramente, se divertido... Mas não entendo a cotação desse filme no Filmow. Não entendo. Ps: não tentem assistir de mau humor; pode piorá-lo drasticamente.
Eu sou fã de Daren Arenofsky. Vi todos os longas do diretor: Pi, Fonte da Vida, O Lutador e os meus prediletos, Réquiem para um Sonho e Cisne Negro, ambos verdadeiras viagens ao inconsciente. Estou com medo deste porque o trailer me pareceu muito ortodoxo, mas ao mesmo tempo confio no diretor e sei que isso pode ser uma grande jogada de marketing, afinal, o trailer nos revela só os aspectos bíblicos, o que deve atrair fiéis de todo mundo para as salas de cinema. Mas tenho confiança no diretor e sei que não será uma obra simples, nem ortodoxa.
Venho, após um ano, bater na mesma tecla: eu já fui um adolescente apaixonado pelo imaginário fantástico da Idade Média e, por extensão, de Terra Média de Tolkien, e continuo achando fantástico como Peter Jackson materializou esse imaginário, tornou real esse sonho. Do ponto de vista técnico e visual, a franquia "Hobbit" é tão deslumbrante, tão maravilhosa quanto a franquia anterior. O elenco também não deixa a desejar. E, no entanto, do ponto de vista da narrativa, algo me cansa, me desgosta nessa franquia. É que existe uma CONTRADIÇÃO entre a retórica dos personagens acerca dos perigos e do "mal" que começa a assolar o mundo - e a forma como as situações de ação e perigo são resolvidas; Gandalf, esse personagem incrível, passou parte considerável dessa película [e da anterior] falando de um mal inominável, de um terror abominável, de uma sombra que cresce, de um pavor silencioso que domina o mundo, etc... A retórica provoca um arrepio na espinha, um medo ansioso desse Mal... Entretanto, TODAS AS VEZES que a comitiva enfrenta esse mal, parece um videogame em que os anões simplesmente arrasam com os oponentes. No primeiro filme, um duzia de anões venceu uma cidade de Orcs (!!!!!) e, nesse, não mudou nada. Eu costumo brincar com os amigos que esses anões eram suficientes para vencer o Dia D, na segunda guerra; esses anões são mais fodões que Chuck Norris! Eu sei, eu sei, estamos falando da uma história fantástica, e que não podemos aplicar as regras do mundo real ao mundo fantástico da Terra Média. Entretanto, me cansa realmente essa CONTRADIÇÃO: fala-se demais de PERIGOS e de um mal ABOMINÁVEL, mas, na prática, todas as situações de perigos são resolvidas DE FORMA INFANTIL E LÚDICA. FALTA ABSOLUTAMENTE UMA DOSE de realismo em O Hobbit. Eu me diverto assistindo o filme, mas... Me cansa essa PROVIDÊNCIA (DIVINA?) que sempre chega na Hora H e salva todo mundo. Por isso que volto com minha campanha: #odinheirodohobbitpragamesofthrones. Game of Thrones, "a série de fantasia pra que odeia fantasia", também tem anões carismáticos, no entanto ESTES NÃO TÊM O CORPO FECHADO DE BRUCE WILLIS E podem ter o rosto cortado ao meio; LÁ HÁ UM HORROR QUE CRESCE, UM PAVOR ABOMINÁVEL E TERROR INOMINÁVEL, mas REALMENTE ABOMINÁVEL, REALMENTE INOMINÁVEL, ou, para simplificar, REALMENTE REAL. Por fim, lá também tem DRAGÕES (mas que não ficam conversando quando deveriam lançar chamas e que não ficam lançando chamas quando deveria estar conversando). Lá, quando se fala em PERIGO, o perigo é realmente perigoso, e ninguém está salvo; Lá, quando os personagens estão enrascados, nenhuma DIVINA PROVIDÊNCIA aparece na Hora H para salvá-los; eles se ferem e morrem. Enfim, me diverti assistindo esse novo episódio do Hobbit, e estarei o próximo ano no cinema para sua conclusão; é divertido, é bonito de ver e tal, mas não entendo esses fanboys que acham que o Hobbit é o melhor filme do ano.
Puts, antes de assistir o filme eu vim aqui no filmow, ordenei os comentários por "melhores" e sai lendo... Li não sei quantos, fui convencido por algumas críticas e acabei me convencendo de que valia à pena em função da música... Mas, como alguém disse lá embaixo, há um glee-factor, e ele é onipresente... E cansativo. A protagonista é o ser menos rock and roll da face da Terra: ela é linda, gostosa, mas absolutamente enjoadinha e artificial... O protagonista é o irmão gêmeo do Fiuk e, para piorar a coincidência, entra num "boy band". E as canções, que me desculpem, eu nem sou metaleiro nem nada, mas escolheram o que havia de mais pop no rock dos anos 80... Eu me diverti, porque liguei o botão de "foda-se" do meu cérebro e assisti o filme pra me divertir... Mas tive que vir aqui e tentar, de alguma forma, assinalar que o rock and roll está quase ausente desse filme. Revejam "Detroit City Rock", "Escola do Rock" ou mesmo "Across The Universe"... O filme só não foi um total perda de tempo porque ri algumas vezes, okay, com as mulheres alucinadamente loucas pelo Stace Jaxx (Tom Cruise)... Com a cena musical inesperada envolvendo o eterno Walther White (Bryan cranston)... Enfim, ri, o filme é divertido. É melhor como comédia do que como musical (e não estou dizendo que seja uma boa comédia). Como musical, eles pegaram exatamente aquelas canções que ficaram piegas com o tempo, que ficaram pops com o tempo, que perderam a aura de rock que talvez tivessem nos anos 80 e soam hoje tão pop, tão Glee!
"Invocação do Mal", como já foi dito, não é original, mas mistura com simplicidade e eficiência o melhor de diversos gêneros. Trata-se de um filme de casa mal assombrada que, em certa altura, torna-se um filme
e que, em certo sentido, é contado como se fosse um filme de suspense, com uma tensão onipresente e crescente. O primeiro mérito do filme são as atuações e os personagens, que são críveis, com salvas para Lili Taylor como Carolyn, a mãe das cinco meninas. O casal de investigadores paranormais interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga em nenhum segundo questionam sobre a realidade do que fazem. Aliás, essa atmosfera de crença perpassa o filme. Não há, como noutros exemplares do gênero possesão, um constraste com a ciência. O filme parte do pressuposto de que o mal é real, e todos aceitam rapida e facilmente isso. O resto é suspense, que às vezes chega a um nível desesperador. Como nos é concedido uma perspectiva oniciente, vemos a "solidão" e a total vulnerabilidade dos personagens, o que torna a situação desesperadora:
como na cena em Carolyn (Lili Taylor) desce ao porão e fica presa com a entidade maligna, ou a cena em que a pequena filha de Lorraine (Vera Farmiga) se vê sozinha numa casa com um quarto cheio de forças demôniacas e o mal avança sobre ela, sem que ajuda a providencial chegue nunca...
As luzes vão se apagando uma a uma, como se o mal se aproximasse da menina e não sabemos se sequer há um adulto para ajudá-la... (e você pensa, puta merda, e agora?). Certamente, como já foi dito, é um dos melhores do gênero feitos recentemente, e vale o ingresso.
Guerra Mundial Z é bom! Achei melhor que o hiper elogiado "Star Trek - Além da Escuridão", que, para mim, soou burocrático na história e de ação entediante... Já este Guerra Mundial Z, ainda que pipoca, é um pipoca muitíssimo bem feito. Não tem rodeios: a ação começa com uns três ou quatro minutos de película e só pára três ou quatro minutos antes do fim... Aliás, a ação é tão alucinante que você sai eletrizado... Não dá piscar. Roteiro simples, mas interessante: "a mãe natureza é uma serial killer" (É o que diria também Schopenhauer e Machado de Assis)... Os bons roteiros, mesmo quando parecerem intrincados, no final revelam uma simplicidade elegante... (O que, na minha opinião, não é o caso do novo Star Trek). Este não é complicado coisíssima nenhuma, é simples, mas é bom.
Devo começar admitindo que não sou exatamente um fã de musicais. E mesmo assim desejei ver este "Os miseráveis" porque é adaptação de um romance clássico de Victor Hugo, tinha sido indicado ao oscar e, além disso, eu tenho interesse em pesquisar a visão distópica das cidades na literatura e no cinema, e "Os miseráveis" de Hugo está para a França como "Oliver Twist" de Charlie Dickens está para a Inglaterra: é um acurado retrato socioeconômico da metrópole europeia, com toda sua miséria e exploração. E fui feliz nisso, porque para mim algumas das cenas mais interessantes do musical são as que retratam efetivamente os miseráveis e o fato do filme ser um musical fornece uma possibilidade única: dar voz a esta massa anônima de um jeito que um filme comum não permitiria; em "Oliver Twist" de Polanski, por exemplo, a miséria aparece, mas os miseráveis não falam ou cantam, são apenas figurantes para a história de Oliver; neste, a massa canta suas dores e sua descrença forçada, e isso produz, assim como algumas de peças de Brecht, um certo efeito provocador e revolucionário. Outra cena memorável é um jovem garoto louro cantando em tom irônico que os ideais da revolução francesa não passavam de sonhos inocentes: igualdade só se for a da morte... Salvas para Hugh Jackman, num papel intenso e difícil, e para Anne Hathaway, apesar de se tratar de uma
atuação... Divertidíssima a cena da estalagem, que lugar infernal!, protagonizada por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter... Eu não esperava de mogo algum essa cena, mas como é divertida! Mas há cenas cansativas e enjoativas, sobretudo as do triângulo amoroso juvenil... O filme caiu, certas horas, na mais mais insuportável das pieguices - a cantada!... E como é longo, como é longo... É cansativo, sem dúvida. O filme tem grandes momentos, creio eu, e consegue ir do muito divertido ao trágico, e vale o ingresso ou o download, mas é um filme que às vezes perde o ritmo e cujo final, na minha opinião, não é seu clímax (embora se trate de uma cena bastante comovente)... Aquela cenas "após o final", de todos os personagens - vivos ou mortos - aparecerem numa imensa barricada ecoou o fim de V de Vingança, quanto todos, vivos e mortos, tiram as máscaras de Guy Falkes para ver prédio explodir... Mas sem chegar aos pés do efeito dramático deste. E, quanto ao Oscar, não, não, e se eles derem a"os Miseráveis" será tão injusto quando deram o oscar ao "Discurso do Rei" - ao invés de Toy Story ou Cisne Negro, 127 horas ou Bravura Indômita, enfim, qualquer um dos outros!
"As Aventuras de Pi" ecoou para mim outros grandes filmes: um pitada de Forrest Gump no modo como Pi Patel adulto narra sua infância e juventude para o escritor (Rafe Spall) e a própria personalidade de Pi que, assim como Forrest, era um tanto excêntrica: uma excêntrica criança que possuía uma espontânea espiritualidade e uma mística inclinação de perceber na natureza e nos animais uma presença espiritual e que, contrariando a influência laica do pai, tem um verdadeiro fascínio pelas deidades do mundo; um menino que, com sua inocência infantil, "Obrigado Shiva por ter me apresentar à Cristo", não compreende porque não pode crer ao mesmo tempo em todos os deuses já que, para ele, parece óbvio que todos os deuses do mundo brotam de uma mesma fonte: a beleza e o mistério da vida, noutra palavra, da natureza. O conceito de Deus do filme me pareceu imensamente mais próximo do panteísmo que qualquer das religiões da atualidade com seus deuses pessoais. As cenas de sua infância e juventude são simplesmente fascinantes ao enfatizar a natureza exuberante em torno da qual Pi cresceu e é possível sentir seu dilaceramento e luto ao abandonar esse belo mundo, assim como sua amada... Durante o naufrágio, tenso e dramático, é incrível assistir a luta pela sobrevivência dos animais e como essa luta, esse desejo de viver, aproxima os animais de Pi: são todos seres vivos lutando, desesperadamente, para viver. Então, após um longo e fascinante prólogo, a deriva, que é o coração do filme, começa. É impossível não se emocionar, junto com Pi, com o destino da Zebra, da Orangotango, da Hiena: já não são mais tão-somente animais, mas personagens dotados de certa alma. Na minha opinião, apesar de uma premissa fabulosa, mágica, o filme é realista e até mesmo brutal. Navega nas águas do realismo mágico, o gênero literário a que comumente se associam autores como Kafka e Gabriel García Márquez e que foi transposto para o cinema com técnicas narrativas como o uso de câmeras amadoras para, por exemplo, narrar a invasão de um monstro gigantesco (Cloverfield, de J.J. Abrams) ou uma presença sobrenatural e maligna (“A Bruxa de Blair”, etc). Se não fosse por Richard Parker no bote salva-vidas, e algumas cenas que lembram a natureza brilhante e néon de Avatar, seria a história verossímil de um náufrago à deriva, tentando obter água potável e comida no meio do oceano. Ang Lee contrabalançou o fantástico da premissa com certa crueza: a urgência da fome, da sede, da tempestade tentando afundar o barco, de Richard Parker sempre tentando devorar Pi. As cenas à deriva são de realismo fantástico, e quão fantástica e bela é a relação que se vai construindo ali entre esses dois sobreviventes de espécies diferentes! Pi Patel e Richard Parker estão numa situação limite e, com a morte ininterruptamente à espreita, a vontade de viver desses dois seres cria um elo visceral entre ambos. O filme é lindíssimo: nalgumas cenas a beleza é tanta que chega rivalizar com a exuberância e mágica da natureza de Avatar. Finalmente, a explicação que é dada por Pi para sua versão fantástica do seu naufrágio e posterior deriva me lembrou um pouco “Peixe Grande”, de Tim Burton: entre uma realidade nua e crua ou essa mesma realidade transfigurada por uma faz-de-conta que não só embeleza a realidade, mas também lhe dota de sentido, qual preferiríamos?
Perdoem-me: minha crítica recairá, especialmente, sobre o sentido do filme e não sobre sua qualidade técnica, atuação, etc. Filósofo de formação e de vocação, eu não pude deixar de privilegiar esse aspecto. Eu esperei ansiosamente por este filme. Como fã dos três diretores dessa película, creio que poucas vezes esperei tão ansiosamente por um filme como por este. Tão ansiosamente que não suportei à demorada espera pela estréia no Brasil e baixei um release em 720p e uma legenda em português de Portugal, e fui. Lembram-se de V de Vingança e de Valerie, a atriz que é enviada para um campo de concentração por ser homoerótica e, da sua cela, em papel higiênico, escreve sua biografia? Vocês devem lembrar: ela diz, duas vezes, que sua integridade vale mais que sua própria vida: “Nossa integridade vale tão pouco, mas é tudo o que temos. É o mais importante em nós”... “Cada pedacinho do meu ser perecerá. Cada pedacinho... Menos um. O da integridade. É pequeno e frágil... E é a única coisa que vale a pena ter”. Lembro de cabeça, ainda que imperfeitamente, do discurso de William Wolace em “Coração Valente”: “Fujam, e sobreviverão. E daqui há alguns anos, velhos e deitados em suas camas, você desejarão trocar tudo por uma chance, apenas uma chance, de voltar aqui e dizer aos seus inimigos que podem tirar as suas vidas, mas nunca tirarão a sua liberdade!”. Isso é idealismo: o valor da vida é emprestado de outros valores, como a liberdade. Sócrates dizia: uma vida não examinada não vale à pena ser vivida. Leia-se: sem conhecimento, sem auto-conhecimento, sem lucidez, a vida não tem valor. Uma vida sem liberdade, tampouco, vale a pena ser vivida, era o que dizia, mais ou menos, o guerreiro-filósofo William Wolace. Mas será que um herói morto é realmente sempre preferível a um covarde vivo? Nunca deixei de confrontar o idealismo com uma frase que conheço de uma música dos Titãs: “nenhuma ideia vale uma vida”. A vida é valor originário: é o valor que dá valor aos valores. A liberdade, a honra, a dignidade, nada disso vale uma vida. Nietzsche se ria de Sócrates: o conhecimento serve a vida, e não a vida ao conhecimento. Os maiores genocídios do século XX foram perpetrados em nome do progresso, do Bem, da felicidade. Como diz o filósofo Isaiah Berlin: para fazer o omelete do bem geral, da felicidade coletiva e do progresso, não se deve considerar o número de ovos quebrados. Quantos horrores em nome da liberdade... Quantas vidas ceifadas em nome da paz... Será que esses ideais valeram, realmente, as vidas sacrificadas em seu nome? Será que qualquer ideal vale uma vida? Tome o seu partido. O partido, contudo, desses três diretores estava claro para mim desde V de Vingança: há idéias sem as quais a vida não tem valor nenhum. O começo de V dizia: um homem morre, mas uma ideia perdura e, séculos depois, essa ideia ainda pode mudar o mundo. V dizia: idéias são à prova de balas. V de Vingança é um ode ao poder das idéias. É uma oração: as idéias são maiores que os homens e transcendem os indivíduos. Cloud Atlas continua a deixa idealista de V de Vingança. Reitero: não pretendo falar da atuação dos atores, da qualidade técnica do filme, etc. O filme certamente não é o barril de pólvora de V de Vingança. E tenho que admitir: já vi filmes melhores que Cloud Atlas e que me tocaram mais fundo. Mas de uma coisa eu estou certo, convicto: Cloud Atlas busca, e obtém algum sucesso, em recuperar a grandiloquência das motivações éticas fundamentais, especialmente a ânsia por liberdade: as histórias temporalmente tão distantes de um escravo no século XVIII (eu creio) e de uma clone escrava num futuro distópico não deixam margem alguma à dúvida: o problema da liberdade humana ultrapassa os indivíduos. A história da clone-escrava Sonmi-451 é um provocação aos viventes do século XXI: é quase consenso hoje que história não tem uma finalidade prévia e que nós, assujeitados à história, não temos ideais nem força para orientá-la em alguma boa direção. A história de Sonmi-451 é anacrônica e provocante: ela derrama lágrimas ao dizer que sacrificaria de bom grado sua vida para destruir o sistema em que vive... E tem a chance de fazê-lo... Assim como com V, terminei o filme mais idealista. Terminei o filme sonhando com a grandeza dos ideais... E pensando na pequenez do eu.
Na sexta-série eu convenci minha turma inteira a fazer a feira-de-ciências sobre a idade média e, pela mesma época, eu joguei RPG exclusivamente situado numa Idade Média fantástica... E é absolutamente inegável a forma megalomaníaca como O HOBBIT [e O Senhor dos Anéis, antes dele] conseguiu materializar esse imaginário fantástico: os cenários, os figurinos, a maquiagem, os efeitos especiais são perfeitos. Tecnicamente, o filme é de cair o queixo. Há também atuações impressionantes, com salvas para Martin Freeman como um Bilbo Boseiro incrivalmente carismático, para Richard Armitage como um Thorion Escudo-de-Carvalho carrancudo e nobre, com um olhar intenso e autoridade de líder, para Ian McKellen sempre encantador como Gandalf, ainda mais malicioso como neste filme e, finalmente, para Andy Serkis como Gollum/Sméagol na que, para mim, foi a cena mais interessante do filme: as charadas no escuro... A forma como ele transmite bondade e inofensividade, com um olhar tão bondoso quanto o do gatinho do Shrek e, no instante seguinte, maldade e loucura, é incrível. O filme é engraçado, como algumas resenhas que li disseram; aliás, mais engraçado do que disseram as resenhas. Não posso julgar a fidelidade da transposição do material literário para o plano cinematográfico porque não li o livro... Alguns disseram que o filme era lento... Ok, após o prólogo do filme, com alguns cenários deslumbrantes e cenas impressionantes de destruição, o filme diminui, de forma necessária, o ritmo: mas , quando cessa a ação, começa a comédia. O filme certamente paga o ingresso e, de forma alguma, me arrependi de tê-lo assistido no cinema. Contudo, o filme também defeitos.
Primeiramente, na minha opinião, a comitiva enfrenta todo tipo de perigo - penhascos caindo/gigantes de pedra lutando, trolls, uma cidade inteira de orcs e quedas impressionantes nessa cidade do orcs, e nenhum dos anões morre e, pra ser sincero, em nenhum momento o risco é verdadeiramente real: tudo é cômico, mesmo nos momentos mais perigosos. Então, se os perigos não são reais, as cenas de ação são muitas, excessivamente longas e sem razão. Ninguém da comitiva morre ou mesmo se fere gravemente. Alguns argüirão que no livro, que não li, ninguém morre, e o filme segue o livro nesse ponto: como poderia matar personagens que não morrem no livro?
A trilogia anterior, apesar do tom sombrio, cinzento, nunca foi exatamente realista, adulta; o que dizer dessa, que tem a proposta de ser mais cômica e mais infantil até? [li que o livro O Hobbit tinha sido escrito para os filhos pequenos de J.R.R Tolkien]. Nalguns cenas, cansei. Me lembrei até da cidade de Nova Iorque caindo em Transformers 3: prolixidade visual sem objetivo nenhum. E dizer que O Hobbit não tem um pouco sequer da dureza e crueldade do mundo real e que isso é um defeito é como reclamar de pizzaria por vender pizza: à proposta estética de O Hobbit, assim como a de O Senhor dos Anéis, sempre faltou uma dose, uma dose apenas, da crueza do mundo real. E eu já sabia disso, mas fui! Eu era apaixonado pelo imaginário da Terra-Média na adolescência e, ao crescer, não larguei o vício, mas acrescentei a ele uma dose de realismo... Por isso eu digo: eu preferiria, mil vezes, que o dinheiro da trilogia O HOBBIT fosse generosamente doado para os produtos de Game of Thrones, “a série de fantasia para quem odeia fantasia”. Porque em Game of Thrones nobres puritanamente justos são decapitados e anões inteligentes e carismáticos têm o rosto cortado ao meio: não importa se são protagonistas ou não. E lá também tem dragões! #OdinheirodeOHOBBITparaGameofThrones #prontofalei!
Salve Wong Kar-wai, esse mestre da sublimação e do erotismo, do máximo no mínimo: sem beijos ou cenas de sexo, essa película consegue transpirar desejo por todos os seus poros: de sua fotografia inigualável, de sua trilha sonora ao mesmo tempo melancólica e sexual, dos figurinos e dos atores em atuações esplêndidas... Que história linda e triste! É um filme lento, porque contemplativo, porque explora os cenários com os sentidos - não só com a visão, e sim, sobretudo, o tato... Para alguns seus momentos de silêncio são chatos, para outros, como eu, divinos. Chow fumando seu cigarro ao lado do restaurante, na rua escura e tomando chuva, encostado no prédio onde tantas vezes se encontraram, inclusive sob chuva... Um neo-noir romântico... Esse filme fala mais quando não está falando, quando só mostra e só sugere... Para mim, até agora, o filme definitivo sobre paixão. Cinco estrelas e favoritado!
O filme, visualmente, é espetacular. Como diz a sinopse, trata-se de uma Escócia "mítica", de encher os olhos. Eu achei o filme meio comédia, com várias cenas que me arrancaram risos. Só não achei o argumento muito bom: primeiro, porque se trata de um anacronismo histórico e sócio-cultural: jovens mulheres medievais não tinha a mentalidade de uma mulher ocidental pós-moderna, isto é, nascida após a revolução sexual dos anos 1960... Nem o amor romântico tinha sido gerado ainda! É bem provável que as mulheres medievais estivessem realmente preparadas e, se não desejosas, ao menos resignadas com seu destino: o casamento arranjado. Estruturar toda a história apenas nisso -
Valente não quer casar com os nobres que querem disputar sua mão; Valente quer fazer atividades masculinas; Valente quer casar somente quando se apaixonar
- banalizou um pouco o filme pra mim: primeiro porque é um anacronismo um tanto clichê, já que todos os filmes históricos de hollywood tentam instilar, ao passado, os valores de contemporaneidade e, especialmente, essa mentalidade feminista às mulheres de ontem; segundo, porque ao quase resumir o filme nisso, quantas possibilidades não foram exploradas... Quantos estórias melhores não podiam ter sido contadas? O relacionamento com sua mãe, que exige que ela, Merida, se conforme ao comportamento comum de uma dama nobre - uma princesa, pra ser exato, chegou a me sufocar também. Achei muito legal, talvez a melhor coisa do filme, como a mãe passa por uma transformação psicológica radical ao "entrar em contato" com sua natureza primitiva, selvagem, animalesca; ela era tão contida e polida e, no final, parece mais solta, mais autêntica e até mais bela e sedutora... Achei isso bastante legal. Enfim, embora eu ache o mais fraquinho da Pixar, vale pela beleza dos cenários, de Merida, em suma, do filme como um todo, e pela comédia.
Reza a sabedoria popular, ou o senso comum, que os comediantes são mal humorados quando não estão fazendo graça. O clichê, portanto, se aplica ao "Palhaço"? Não exatamente, já que Benjamin não é mal-humorado: ele é depressivo, deslocado, vazio. É a história de um homem em busca de sua identidade e, portanto, de um palhaço em crise de identidade. Num mundo que, para nós, é nostálgico. Nostálgico por vários motivos: primeira e evidentemente, porque se passa noutra época.... Em segundo lugar, por retratar um Brasil de vilarejos e pequenas cidades, aonde a chegada de um circo quebrava realmente a monotonia do tempo - o "marasmo da fazenda" - e trazia um pouco de mágica às vidas de labuta do campo... Nostálgico para nós, citadinos pós-modernos que temos a televisão, o cinema, os videos-games hiper-realistas, as raves, a internet; nós, para quem o circo é um lazer quase ancestral... Se o mundo externo ao circo dá certa nostalgia, o que falar do próprio circo, com seus personagens excêntricos, mas amáveis, o que falar dessa grande família que é a comunidade circense? Sim, porque os sociólogos da atualidade anunciam o fim das comunidades e das grandes famílias - de não-sei-quantos primos e sobrinhos, tios, filhos e netos: o diâmetro da família contemporânea foi reduzido a um pai, uma mãe e um filho, quando muito; às vezes nem tanto, só uma mãe ou um filho (ou um pai e um filho). Ou, finalmente, nenhuma família, só o átomo social. E há sociólogos que dizem que sentimos saudade dessa grande família que é comunidade e da estabilidade simbólica, espiritual, identitária que ela proporcionava... Ali, no meio de personagens excêntricos e carismáticos à sua maneira, sentimos efetivamente um aconchego, um laço quase familiar, uma camaradagem de sofrimento e destino compartilhado...
Tanto que quando Lola (Giselle Motta) é expulsa, deixada à margem da estrada, ela sofre, e sofrem todos. É bastante triste quando Benjamin larga o Circo: naquele momento ele largou, simbolicamente, a segurança e o aconchego, ainda que sofridos, da família circense para buscar sua própria identidade. E psicologicamente, essa é uma etapa que todos precisamos realizar para nos individuar, para nos tornamos, como diz Kant, moralmente maiores de idade. Precisamos nos aventurar, ainda que seja para voltarmos para casa em seguida. Mas se podíamos sentir seu deslocamento, seu vazio interior, sua ânsia por testar o mundo para além das fronteiras já conhecidas e seguras do Circo, ele se vai e, muito rapidamente, muito facilmente, se encontra, resolve seu problema de identidade e volta. O que ele faz? Tenta namorar, e fracassa; arranja um emprego, compra um maldito ventilador e escuta uma piada contado por outro... Tão-pouco e tão-rápido. O argumento que estrutura o filme é bom e o primeiro ato, sua vida no circo, seu deslocamento, sua necessidade de partir para se encontrar, foi muitíssimo bem construído: sentimos seu deslocamento ali e, ao mesmo tempo, seu dilaceramento ao partir . O segundo ato, contudo, foi sub-desenvolvido: ele não vivencia o mundo, ele não tem quaisquer experiências que justifiquem tanto anseio para fugir do circo e tanto sofrimento infligido à seu pai, à todos e a ele mesmo; ele nem goza nem apanha do mundo. E então, o terceiro ato, sua volta ao circo, que é até emocionante, devido a magnífica interpretação de Paulo José, no fundo é sem sentido. Como um garotinho assustado com a vida longe do papai, ele volta correndo com um ventilador debaixo do braço...
Os três atos, somados, fazem com o filme seja meio despropositado, como se não dissesse o que veio dizer, apesar de algumas cenas memoráveis e, especialmente, do imaginário que constrói: um Brasil de beira de estrada em uma época passada... E um circo-família que trazia mágica aos lugares mais improváveis.
Diferentemente de outros filmes sobre o fim do mundo (como vários outros usuários já apontaram), este filme não é sobre a catástrofe em si e suas "belíssimas cenas de destruição", mas sobre o modo como os seres humanos lidam com a perspectiva da morte, com a certeza da morte iminente e inexorável e, portanto, é um filme sobre a humanidade, não sobre o cometa. Quase todos abandonam seus trabalhos; uns fazem baderna e causam destruição; outros usam drogas e fazem orgias e, inesperadamente, há aqueles que continuam fazendo seu trabalho ou que continuam respeitando as leis... E o filme é, definitivamente, sobre essas múltiplas maneiras de lidar com a morte. É um filme humano e, spoiler intencional para aqueles que pretendem assisti-lo, não há nenhuma cena impressionante de catástrofe: tirando os astros Steven Carrel e Keira Knigthley, deve ser um filme de orçamento baixo para os padrões hollywoodianos. E, interessante notar, enquanto filmes como Armageddon, Impacto Profundo, 2012,
centram-se na destruição, na luta pela sobrevivência e acabam, finalmente, com a salvação dos protagonistas, este não. E isso diz alguma coisa sobre o filme, faz com que ele ganhe uma dimensão humanista e filosófica, quase existencialista: somos seres-para-a-morte, como dizia o filósofo alemão Heidegger, e é sempre interessante perceber como as coisas ganham ou perdem valor ante a perspectiva da morte. Numa cena ótima, o dono de uma empresa oferece o cargo de diretor financeiro para meia dúzia de empregados remanescentes, e ninguém o quer...
Dogde (Steven Carrel) é um caro chato, daqueles que preferem a lucidez à embriaguez, que preferem relembrar os melhores momentos de sua vida que entregar-se a uma orgia, é um introvertido romântico "em crise de meia idade" (como ele mesmo diz) e Penny (Keira K.) é uma garota que tem "problema com autoridade", uma rebelde que gosta de música e de experiências novas e intensas, que gosta de se arriscar, uma rebelde romântica...
Eles fazem, realmente, um contraponto, A história de amor deles é esquisita, incomum e, ainda assim, natural
: eu arriscaria dizer que esse filme é sobre o amor e sua capacidade de dar sentido à existência, ainda que a morte certa pareça impossibilitá-lo; é um filme sobre a capacidade de redenção do amor, mas sem excessivas pieguices. Um filme introvertido, intimista, humanista e, finalmente, adorável... e triste!
Tinha tudo para superar Cassino Royale, mas passou longe disso. A fotografia é absurda, e creio que é a melhor coisa do filme: desde a abertura até as cenas de Xangai à noite: simplesmente espetacular. Do elenco estelar, creio que todos foram sub-aproveitados e, ainda assim, salvas para a interpretação de Ben Whishaw (Perfume, Cloud Atlas) como o gênio de computação Q e Javier Barden, fazendo uma vilão tão interessante que, em alguns momentos, pareceu que poderia rivalizar com o Coringa de Heath Ledger. Sim, porque para desafiar o super-homem-Bond só mesmo um vilão cerebral, astuto, refinado e, claro, psicótico: tudo isso que Javier Barden conseguiu passar nas cenas em que pôde atuar.. E, juro, eu estava realmente adorando! Se tivessem dado mais espaço à ele, talvez ele tivesse entrado na galeria de vilões memoráveis do cinema, mas não: preferiram fazer dele um vilão de comédia... A história tem sérios problemas de roteiro. Por exemplo: M, a líder da inteligência secreta britânica e a legendária espiã recrutadora de Bond, em nenhum momento mostrou seus dotes intelectuais... Foi só uma velinha neurastênica! E não, eu não queria que ela protagonizasse cenas de ação, mas que mostrasse porque ela é a líder da inteligência secreta britânica,
e não, em fuga à noite, acender a lanterna e entregar sua localização aos inimigos!
Como disse, apenas uma velhinha neurastênica... Que podia ter impressionado, porque Judi Dench daria conta, sem dúvida, e o filme, de certa forma, foi dedicado à ela, foi um elogia, e elegia, à ela. E Daniel Craig sem oportunidades pra mostrar sua inteligência, mas com todas pra mostrar seus músculos e sua capacidade de ação...
Um James Bond quase misógino que deixou uma bela mulher morrer para, no instante seguinte, agir.. E agir de uma maneira confiante, como se tudo estivesse sob controle desde o começo... Então porque deixá-la morrer? Misoginia.... Ok, do ponto de vista das relações internacionais e da economia da história, era só uma coadjuvante... Mas que deu a impressão de que ele a deixou morrer porque não ligava a mínima, isso deixou.
Enfim, bom filme, mas a milhas e milhas e milhas de Cassino Royale. E acredito, seriamente, que devem contratar um roteirista melhor pro próximo, porque foi só o que faltou nesse.
Pra quem lê a sinopse, talvez fique a impressão de que se trata, tão-só, de um filme de protesto contra o capitalismo. Sim, há diálogos memoráveis sobre isso e situações que fazem, de fato, você odiar o capitalismo. Mas o argumento anti-capitalista, embora estruture o filme, não o resume e nem o esgota. Ele é humanizado. Há aventura, suspense e uma interessante história de amor... Com desdobramentos imprevisíveis. E, então, como pano de fundo disso, o argumento anti-capitalista e uma trilha sonora foda. Não é um filme conceitual ou totalmente cerebral: é um filme vivo, intenso, com àquela faísca da adolescência... A vontade de mudar o mundo e de se apaixonar. É um filme extremamente divertido e, ao mesmo tempo, inteligente. Coisa realmente difícil nos últimos tempos!
Negação
3.8 132 Assista AgoraO horror dos campos de concentração e todo o imensurável sofrimento humano dos que pereceram neles, ou que à eles sobreviveram, faz do Holocausto uma tema emocionalmente carregado, não somente para os sobreviventes e para as pessoas de origem judaica, mas para grande parte das pessoas de qualquer lugar... O trailer, como quase todo trailer, evoca essa densidade emocional e promete emoções intensas em torno de um debate extremamente polêmico... Mas o filme, que achei fantástico, na verdade é bem contido e, mesmo se tratando de um evento tão emocionalmente carregado, é bastante cerebral... As decisões que a equipe de defesa toma acerca de estratégia jurídica-argumentativa são todas no sentido de não fornecer ao autor do processo absolutamente qualquer elemento que pudesse promover seu circo e alimentar uma mídia sensacionalista e desumana, para quem a questão da existência do Holocausto não tem a menor importância - política, ética, histórica ou humanitária, só importando a vendabilidade e a viralidade da notícia... O filme, assim como a estratégia de defesa, foge do apelativo e emocional, até mesmo do testemunho dos sobreviventes, para concentrar-se nos detalhes técnicos da pesquisa histórica, mostrando que a história não é um saber tão facilmente adulterável, mesmo por um homem que dedicou sua vida inteira ao estudo do Holocausto unicamente com intenção de negá-lo. É doce saber que todos esses negadores da ciência e da história só conseguem algum êxito - algum espaço, alguma visibilidade, alguma mídia, porque não foram verdadeiramente desafiados por um grupo (para não dizer comunidade) de cientistas ou historiadores... Nenhuma dessas pretensas contestações de verdades científicas ou históricas sedimentadas e aceitas pela comunidade de pesquisadores resistiria a um verdadeiro escrutínio, como o que ocorre no filme. O filme, para mim, é uma ode à verdade, à pesquisa histórica rigorosa e à ciência. É, também, de certa forma, uma ode à humanidade, como capacidade de empatia, de compaixão, de colocar-se no lugar do outro.
O título original do filme, Denial, traduzido corretamente por Negação, não é somente a negação do Holocausto. Faz um jogo interessante com uma "self denial" - isto é, a autonegação ou abnegação, que a personagem central Deborah Lipstadt (Rachel Weisz) precisa realizar: a escritora e réu no caso acaba sendo convencida pela sua equipe jurídica que a melhor forma de vencer esse debate é não se pronunciando, não tentando fazer ela mesma a defesa da verdade do Holocausto, pois se o fizesse, certamente sua própria personalidade, palavras e emoções contribuiriam para o circo que o autor do processo esperava criar. Ela aceitou e precisou realizar uma auto-negação, precisou calar sua ira, sua revolta, sua tristeza, suas emoções e até mesmo seu orgulho, permanecendo todo o tempo em silêncio e deixando que os advogados destruíssem o oponente com o rigor da pesquisa histórica e de inanição, por não lhe darem nada, absolutamente nenhum alimento para sua intenção sencionalista
Divergente
3.5 2,1K Assista AgoraQuando eu vi, no prólogo, aquele monte de gente correndo e pulando feito loucos (os ousados ou coisa que o valha), pressenti que o filme ia ser uma completa perda de tempo. Intuição certeira. Um dos piores filmes que vi nos últimos anos. Não vale nem os 0,5 que dei.
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraComo já dizia Francis Bacon, "saber é poder", e o saber absoluto é poder absoluto. Lucy é um ode ao conhecimento científico e, no entanto, sua narrativa não consegue criar uma intensa ligação ou empatia com a personagem: Lucy ecoa o sentimento de desconexão com a humanidade e com a sua própria humanidade de Dr. Manhattan em "Watchmen". No entanto, se essa perda da humanidade é gradual para Dr. Manhattan, ela é quase instantânea em Lucy. Ela é tão inteligente e tão poderosa que temos dificuldade em discernir uma motivação humana em suas ações. O que ela está fazendo ou tentando fazer? Nesse sentido, achei o filme menos interessante que outros com premissas parecidas, como "Sem Limites" ou a história de Dr. Manhattan em "Watchmen", que conseguem criar uma empatia com o personagem cuja inteligência e consciência se torna, em seguida, super-humana e chega a flertar com a onisciência divina. Quanto a ação do filme, ela se torna tão, mas tão inverossímil para nós, reles humanos, que as cenas perdem tensão dramática e ficam quase engraçadas. Lucy é uma mistura de Neo com Dr. Manhattan e todos os mutantes de X-men juntos e etcetera. Lucy é Deus
(o final presumível).
Pra quem gosta de ciência e filosofia, é óbvio que não deixa de ser interessante a forma como o diretor entrecruzou pequenos curtas científicos com à narrativa: até parece que você está assistindo um episódio de Cosmos. Mas, enquanto narrativa dramática ou de ação, não funciona tão bem.
O Espelho
2.9 932 Assista AgoraA nota baixa não faz jus ao filme. Sim, claro, não é uma obra prima do Terror, mas é um bom filme, sim. Para começo, o filme flerta bastante com o terror psicológico: um espelho capaz de causar alucinações visuais e auditivas. Ora, se você não pode confiar plenamente no que vê ou escuta, você não pode confiar plenamente em si mesmo. E se você não pode confiar plenamente nem em si mesmo, no que você pode confiar? A atmosfera de loucura e esquizofrenia é um elemento interessante na trama. A maneira como cruzaram as narrativas do passado e do presente é outro ponto positivo do filme. Há, claro, alguns defeitos: o Tim adulto contribui pouquíssimo com a trama; na única vez em que atua, quando tenta convencer a irmã que ambos passaram por um trauma e que, portanto, suas memórias da infância não são muito confiáveis, sendo provavelmente mais imaginadas do que reais, ele não convence. Kaylie (Karen Gillan) carrega o filme nas costas. O fato de não terem dado, neste filme, um espaço para a narrativa do surgimento do espelho ou que a conclusão do filme
não seja bem uma conclusão
Transcendence: A Revolução
3.2 1,1K Assista AgoraObservação: não considerei spoilers determinadas informações que constam, claramente, no trailer do filme.
Concordo com os comentários de vários usuários de que inúmeros elementos do filme foram mal explorados, não fazendo do filme um grande filme, mas não concordo com quem diz que o filme é ruim e sem méritos. Muito pelo contrário: primeiramente, a premissa do filme é genial. Será que um dia poderemos criar um robô consciente? Ou será que poderemos reproduzir uma consciência humana já existente num meio artificial? E supondo que sim, o que aconteceria se essa consciência pudesse acessar à todas as memorias e conhecimentos da rede que chamamos internet? Essa foi a premissa de uma série recente que, salvo engano, não decolou: Inteligence, protagonizada pelo ex-lost Josh Holloway. Vi os dois primeiros episódios da série e, embora estivesse ansioso, não gostei da forma como a premissa da interação consciência humana/rede foi tratada ali. Nesse sentido, acho a sacada de "desmaterializar" o dr. Will Caster e fazê-lo apenas uma consciência foi interessante e dramática. Tratava-se de salvar, se não sua vida, mas sua consciência, e esse não é um dos maiores sonhos da humanidade desde sempre? Feito isso, problemas adicionais surgem: como pode ser possível um relacionamento com um ser absolutamente virtual, mesmo que essa consciência seja a do seu marido morto? (Aliás, morto? Somos, fundamentalmente, a vida de nossas células ou a nossa consciência?). É a premissa do genial "Ela", mas acho que o argumento de Transcendence era bom e poderiam ter explorado mais esse romance impossível, por exemplo, levando a questão de se era ou não era o mesmo Dr. Will Caster ao ponto de exasperação [alimentar a dúvida].
Seria bom se o amor dele não tivesse sido deixado para o final apenas... Se ambos pudessem ter reproduzido "Ela", isto é, a afinidade espiritual, a saudade, o desejo sem, no entanto, ser possível o encontro dos corpos...
A verdade é que não houve mais romance entre os dois depois que ele morreu biologicamente, mas esse romance era plenamente possível (como Ela mostrou ser possível uma história de amor entre um SO e um ser humano)
Por fim, o plot da revolução contra as máquinas foi interessantíssimo, mas pouco desenvolvido. Lembrei da série "Revolution", que retrata uma crise energética global e misteriosa. Acho que uma crise dessa natureza e dessas proporções teria ai uma boa justificativa...
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraO roteiro conseguiu tratar com certa profundidade vários personagens, como Wolverine, Xavier, Magneto e, sobretudo, Mística, que certamente é o centro do filme - já prefaciando o filme solo que ela vai ganhar. Tem cenas divertidas, como não poderiam faltar num filme da Marvel, mas o tom que prevalece é o drama. Os Sentinelas do futuro ficaram convincentemente assustadores (e com um design incrível), funcionando como um ótimo argumento e pontapé inicial para a narrativa. A atuação de Peter Dinklage como o cientista criador dos Sentinelas foi boa, sem exagero dramático, sem vilania excessiva - simplesmente um cientista convencido da ameaça que os mutantes representam à humanidade, com diálogos sempre se referindo à questões de evolução, mutação, luta entre espécies, extinção das espécies menos evoluídas. Enfim, o filme é bem divertido e, considerando o tom cômico dos filmes de ação e super-herói de Marvel, é um bom drama. E a cena pós-crédito, entusiasmante. Finalmente foi resolvido o enigma
das Pirâmides.
Expresso do Amanhã
3.5 1,3K Assista grátisO filme pode ser considerado marxista, ou neo-marxista. Tenta fazer uma crítica social à exploração dos pobres pelos ricos e busca revelar o contraste entre a vida de miséria da classe dominada e a vida de luxos da classe dominante... O trem é pensado, certamente, como um microcosmo da sociedade... No entanto, falta absolutamente sutileza, bom gosto... A crítica é feita de uma forma esteticamente rudimentar... O diálogo de Tilda sobre o lugar natural dos pobres é sofrível (O lugar dos sapatos não é na cabeça... )... Algum marxista ou neo-marxista pode argumentar que não é necessário sutileza para expressar a miséria dos pobres.. Não: a boa arte, mesmo quando expressa realidades trágicas, a expressa com sutileza, com bom gosto... Veja "A Vida de Galileu", de Bertold Bretch, por exemplo. Falta bom gosto nesse filme. É assistível: Tilda é engraçada e a ação é razoável... Mas está longe de fazer uma crítica social inteligente, sutil, bem eloborada, como, por exemplo, Wall-e faz.
Os Estagiários
3.3 1,2K Assista AgoraPuts! Primeiro, gostaria de dizer que eu estava com o espírito apropriado para uma comédia: tem muita gente que assiste comédias de mau humor, sem espírito para achar graça de coisa alguma e, consequentemente, estragam qualquer comédia, mesmo as mais geniais e maravilhosas. Eu estava com o espírito apropriado... Até tomando umas cervejinhas... Super-descontraído e tal... Mas esse filme é um lixo. O roteiro desse filme não existe de tão ruim. Tudo é forçado. Teoricamente, o filme deveria tratar o conflito entre gerações, entre pessoas de uma época pré-digital e os jovens geeks, nerds, amamentados com leite digital... Deveria ter umas piadas geeks legais... Mas só achei um pouco de graça com a piada de Charles Xavier e um pouquinho com a piadinha de GOT no final... O romancezinho, elemento obrigatório em qualquer comédia, é a coisa mais forçada e sem sal que já vi na vida... Não achei que os dois protagonistas interagiram bem.... Aliás, os geeks são muitos mais carismáticos que os protagonistas... A filosofia google para o ambiente do trabalho é algo interessante, curioso, e até merecia um filme... Mas este filme..
Uma coisa que não compreendo: sei que gosto é gosto, e talvez algumas das pessoas que deram uma pontuação alta para este filme tenham, verdadeiramente, se divertido... Mas não entendo a cotação desse filme no Filmow. Não entendo. Ps: não tentem assistir de mau humor; pode piorá-lo drasticamente.
Noé
3.0 2,6K Assista AgoraEu sou fã de Daren Arenofsky. Vi todos os longas do diretor: Pi, Fonte da Vida, O Lutador e os meus prediletos, Réquiem para um Sonho e Cisne Negro, ambos verdadeiras viagens ao inconsciente. Estou com medo deste porque o trailer me pareceu muito ortodoxo, mas ao mesmo tempo confio no diretor e sei que isso pode ser uma grande jogada de marketing, afinal, o trailer nos revela só os aspectos bíblicos, o que deve atrair fiéis de todo mundo para as salas de cinema. Mas tenho confiança no diretor e sei que não será uma obra simples, nem ortodoxa.
O Hobbit: A Desolação de Smaug
4.0 2,5K Assista AgoraVenho, após um ano, bater na mesma tecla: eu já fui um adolescente apaixonado pelo imaginário fantástico da Idade Média e, por extensão, de Terra Média de Tolkien, e continuo achando fantástico como Peter Jackson materializou esse imaginário, tornou real esse sonho. Do ponto de vista técnico e visual, a franquia "Hobbit" é tão deslumbrante, tão maravilhosa quanto a franquia anterior. O elenco também não deixa a desejar. E, no entanto, do ponto de vista da narrativa, algo me cansa, me desgosta nessa franquia. É que existe uma CONTRADIÇÃO entre a retórica dos personagens acerca dos perigos e do "mal" que começa a assolar o mundo - e a forma como as situações de ação e perigo são resolvidas; Gandalf, esse personagem incrível, passou parte considerável dessa película [e da anterior] falando de um mal inominável, de um terror abominável, de uma sombra que cresce, de um pavor silencioso que domina o mundo, etc... A retórica provoca um arrepio na espinha, um medo ansioso desse Mal... Entretanto, TODAS AS VEZES que a comitiva enfrenta esse mal, parece um videogame em que os anões simplesmente arrasam com os oponentes. No primeiro filme, um duzia de anões venceu uma cidade de Orcs (!!!!!) e, nesse, não mudou nada. Eu costumo brincar com os amigos que esses anões eram suficientes para vencer o Dia D, na segunda guerra; esses anões são mais fodões que Chuck Norris! Eu sei, eu sei, estamos falando da uma história fantástica, e que não podemos aplicar as regras do mundo real ao mundo fantástico da Terra Média. Entretanto, me cansa realmente essa CONTRADIÇÃO: fala-se demais de PERIGOS e de um mal ABOMINÁVEL, mas, na prática, todas as situações de perigos são resolvidas DE FORMA INFANTIL E LÚDICA. FALTA ABSOLUTAMENTE UMA DOSE de realismo em O Hobbit. Eu me diverto assistindo o filme, mas... Me cansa essa PROVIDÊNCIA (DIVINA?) que sempre chega na Hora H e salva todo mundo. Por isso que volto com minha campanha: #odinheirodohobbitpragamesofthrones.
Game of Thrones, "a série de fantasia pra que odeia fantasia", também tem anões carismáticos, no entanto ESTES NÃO TÊM O CORPO FECHADO DE BRUCE WILLIS E podem ter o rosto cortado ao meio; LÁ HÁ UM HORROR QUE CRESCE, UM PAVOR ABOMINÁVEL E TERROR INOMINÁVEL, mas REALMENTE ABOMINÁVEL, REALMENTE INOMINÁVEL, ou, para simplificar, REALMENTE REAL. Por fim, lá também tem DRAGÕES (mas que não ficam conversando quando deveriam lançar chamas e que não ficam lançando chamas quando deveria estar conversando). Lá, quando se fala em PERIGO, o perigo é realmente perigoso, e ninguém está salvo; Lá, quando os personagens estão enrascados, nenhuma DIVINA PROVIDÊNCIA aparece na Hora H para salvá-los; eles se ferem e morrem.
Enfim, me diverti assistindo esse novo episódio do Hobbit, e estarei o próximo ano no cinema para sua conclusão; é divertido, é bonito de ver e tal, mas não entendo esses fanboys que acham que o Hobbit é o melhor filme do ano.
Rock of Ages: O Filme
3.1 1,3K Assista AgoraPuts, antes de assistir o filme eu vim aqui no filmow, ordenei os comentários por "melhores" e sai lendo... Li não sei quantos, fui convencido por algumas críticas e acabei me convencendo de que valia à pena em função da música... Mas, como alguém disse lá embaixo, há um glee-factor, e ele é onipresente... E cansativo. A protagonista é o ser menos rock and roll da face da Terra: ela é linda, gostosa, mas absolutamente enjoadinha e artificial... O protagonista é o irmão gêmeo do Fiuk e, para piorar a coincidência, entra num "boy band". E as canções, que me desculpem, eu nem sou metaleiro nem nada, mas escolheram o que havia de mais pop no rock dos anos 80... Eu me diverti, porque liguei o botão de "foda-se" do meu cérebro e assisti o filme pra me divertir... Mas tive que vir aqui e tentar, de alguma forma, assinalar que o rock and roll está quase ausente desse filme. Revejam "Detroit City Rock", "Escola do Rock" ou mesmo "Across The Universe"... O filme só não foi um total perda de tempo porque ri algumas vezes, okay, com as mulheres alucinadamente loucas pelo Stace Jaxx (Tom Cruise)... Com a cena musical inesperada envolvendo o eterno Walther White (Bryan cranston)... Enfim, ri, o filme é divertido. É melhor como comédia do que como musical (e não estou dizendo que seja uma boa comédia). Como musical, eles pegaram exatamente aquelas canções que ficaram piegas com o tempo, que ficaram pops com o tempo, que perderam a aura de rock que talvez tivessem nos anos 80 e soam hoje tão pop, tão Glee!
Invocação do Mal
3.8 3,9K Assista Agora"Invocação do Mal", como já foi dito, não é original, mas mistura com simplicidade e eficiência o melhor de diversos gêneros. Trata-se de um filme de casa mal assombrada que, em certa altura, torna-se um filme
sobre possessão e exorcismo
como na cena em Carolyn (Lili Taylor) desce ao porão e fica presa com a entidade maligna, ou a cena em que a pequena filha de Lorraine (Vera Farmiga) se vê sozinha numa casa com um quarto cheio de forças demôniacas e o mal avança sobre ela, sem que ajuda a providencial chegue nunca...
Guerra Mundial Z
3.5 3,2K Assista AgoraGuerra Mundial Z é bom! Achei melhor que o hiper elogiado "Star Trek - Além da Escuridão", que, para mim, soou burocrático na história e de ação entediante... Já este Guerra Mundial Z, ainda que pipoca, é um pipoca muitíssimo bem feito. Não tem rodeios: a ação começa com uns três ou quatro minutos de película e só pára três ou quatro minutos antes do fim... Aliás, a ação é tão alucinante que você sai eletrizado... Não dá piscar. Roteiro simples, mas interessante: "a mãe natureza é uma serial killer" (É o que diria também Schopenhauer e Machado de Assis)... Os bons roteiros, mesmo quando parecerem intrincados, no final revelam uma simplicidade elegante... (O que, na minha opinião, não é o caso do novo Star Trek). Este não é complicado coisíssima nenhuma, é simples, mas é bom.
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraDevo começar admitindo que não sou exatamente um fã de musicais. E mesmo assim desejei ver este "Os miseráveis" porque é adaptação de um romance clássico de Victor Hugo, tinha sido indicado ao oscar e, além disso, eu tenho interesse em pesquisar a visão distópica das cidades na literatura e no cinema, e "Os miseráveis" de Hugo está para a França como "Oliver Twist" de Charlie Dickens está para a Inglaterra: é um acurado retrato socioeconômico da metrópole europeia, com toda sua miséria e exploração. E fui feliz nisso, porque para mim algumas das cenas mais interessantes do musical são as que retratam efetivamente os miseráveis e o fato do filme ser um musical fornece uma possibilidade única: dar voz a esta massa anônima de um jeito que um filme comum não permitiria; em "Oliver Twist" de Polanski, por exemplo, a miséria aparece, mas os miseráveis não falam ou cantam, são apenas figurantes para a história de Oliver; neste, a massa canta suas dores e sua descrença forçada, e isso produz, assim como algumas de peças de Brecht, um certo efeito provocador e revolucionário. Outra cena memorável é um jovem garoto louro cantando em tom irônico que os ideais da revolução francesa não passavam de sonhos inocentes: igualdade só se for a da morte... Salvas para Hugh Jackman, num papel intenso e difícil, e para Anne Hathaway, apesar de se tratar de uma
breve
Norbit
2.4 1,1K Assista AgoraÉ trash... Hilário a paródia de "Drink no Inferno" no final do filme.. Só que, ao invés de Salma Hayek, Rasputia é quem dança!
As Aventuras de Pi
3.9 4,4K"As Aventuras de Pi" ecoou para mim outros grandes filmes: um pitada de Forrest Gump no modo como Pi Patel adulto narra sua infância e juventude para o escritor (Rafe Spall) e a própria personalidade de Pi que, assim como Forrest, era um tanto excêntrica: uma excêntrica criança que possuía uma espontânea espiritualidade e uma mística inclinação de perceber na natureza e nos animais uma presença espiritual e que, contrariando a influência laica do pai, tem um verdadeiro fascínio pelas deidades do mundo; um menino que, com sua inocência infantil, "Obrigado Shiva por ter me apresentar à Cristo", não compreende porque não pode crer ao mesmo tempo em todos os deuses já que, para ele, parece óbvio que todos os deuses do mundo brotam de uma mesma fonte: a beleza e o mistério da vida, noutra palavra, da natureza. O conceito de Deus do filme me pareceu imensamente mais próximo do panteísmo que qualquer das religiões da atualidade com seus deuses pessoais. As cenas de sua infância e juventude são simplesmente fascinantes ao enfatizar a natureza exuberante em torno da qual Pi cresceu e é possível sentir seu dilaceramento e luto ao abandonar esse belo mundo, assim como sua amada... Durante o naufrágio, tenso e dramático, é incrível assistir a luta pela sobrevivência dos animais e como essa luta, esse desejo de viver, aproxima os animais de Pi: são todos seres vivos lutando, desesperadamente, para viver. Então, após um longo e fascinante prólogo, a deriva, que é o coração do filme, começa. É impossível não se emocionar, junto com Pi, com o destino da Zebra, da Orangotango, da Hiena: já não são mais tão-somente animais, mas personagens dotados de certa alma. Na minha opinião, apesar de uma premissa fabulosa, mágica, o filme é realista e até mesmo brutal. Navega nas águas do realismo mágico, o gênero literário a que comumente se associam autores como Kafka e Gabriel García Márquez e que foi transposto para o cinema com técnicas narrativas como o uso de câmeras amadoras para, por exemplo, narrar a invasão de um monstro gigantesco (Cloverfield, de J.J. Abrams) ou uma presença sobrenatural e maligna (“A Bruxa de Blair”, etc). Se não fosse por Richard Parker no bote salva-vidas, e algumas cenas que lembram a natureza brilhante e néon de Avatar, seria a história verossímil de um náufrago à deriva, tentando obter água potável e comida no meio do oceano. Ang Lee contrabalançou o fantástico da premissa com certa crueza: a urgência da fome, da sede, da tempestade tentando afundar o barco, de Richard Parker sempre tentando devorar Pi. As cenas à deriva são de realismo fantástico, e quão fantástica e bela é a relação que se vai construindo ali entre esses dois sobreviventes de espécies diferentes! Pi Patel e Richard Parker estão numa situação limite e, com a morte ininterruptamente à espreita, a vontade de viver desses dois seres cria um elo visceral entre ambos. O filme é lindíssimo: nalgumas cenas a beleza é tanta que chega rivalizar com a exuberância e mágica da natureza de Avatar. Finalmente, a explicação que é dada por Pi para sua versão fantástica do seu naufrágio e posterior deriva me lembrou um pouco “Peixe Grande”, de Tim Burton: entre uma realidade nua e crua ou essa mesma realidade transfigurada por uma faz-de-conta que não só embeleza a realidade, mas também lhe dota de sentido, qual preferiríamos?
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraPerdoem-me: minha crítica recairá, especialmente, sobre o sentido do filme e não sobre sua qualidade técnica, atuação, etc. Filósofo de formação e de vocação, eu não pude deixar de privilegiar esse aspecto.
Eu esperei ansiosamente por este filme. Como fã dos três diretores dessa película, creio que poucas vezes esperei tão ansiosamente por um filme como por este. Tão ansiosamente que não suportei à demorada espera pela estréia no Brasil e baixei um release em 720p e uma legenda em português de Portugal, e fui.
Lembram-se de V de Vingança e de Valerie, a atriz que é enviada para um campo de concentração por ser homoerótica e, da sua cela, em papel higiênico, escreve sua biografia? Vocês devem lembrar: ela diz, duas vezes, que sua integridade vale mais que sua própria vida: “Nossa integridade vale tão pouco, mas é tudo o que temos. É o mais importante em nós”... “Cada pedacinho do meu ser perecerá. Cada pedacinho... Menos um. O da integridade. É pequeno e frágil... E é a única coisa que vale a pena ter”.
Lembro de cabeça, ainda que imperfeitamente, do discurso de William Wolace em “Coração Valente”: “Fujam, e sobreviverão. E daqui há alguns anos, velhos e deitados em suas camas, você desejarão trocar tudo por uma chance, apenas uma chance, de voltar aqui e dizer aos seus inimigos que podem tirar as suas vidas, mas nunca tirarão a sua liberdade!”. Isso é idealismo: o valor da vida é emprestado de outros valores, como a liberdade. Sócrates dizia: uma vida não examinada não vale à pena ser vivida. Leia-se: sem conhecimento, sem auto-conhecimento, sem lucidez, a vida não tem valor. Uma vida sem liberdade, tampouco, vale a pena ser vivida, era o que dizia, mais ou menos, o guerreiro-filósofo William Wolace. Mas será que um herói morto é realmente sempre preferível a um covarde vivo?
Nunca deixei de confrontar o idealismo com uma frase que conheço de uma música dos Titãs: “nenhuma ideia vale uma vida”. A vida é valor originário: é o valor que dá valor aos valores. A liberdade, a honra, a dignidade, nada disso vale uma vida. Nietzsche se ria de Sócrates: o conhecimento serve a vida, e não a vida ao conhecimento. Os maiores genocídios do século XX foram perpetrados em nome do progresso, do Bem, da felicidade. Como diz o filósofo Isaiah Berlin: para fazer o omelete do bem geral, da felicidade coletiva e do progresso, não se deve considerar o número de ovos quebrados. Quantos horrores em nome da liberdade... Quantas vidas ceifadas em nome da paz... Será que esses ideais valeram, realmente, as vidas sacrificadas em seu nome? Será que qualquer ideal vale uma vida?
Tome o seu partido.
O partido, contudo, desses três diretores estava claro para mim desde V de Vingança: há idéias sem as quais a vida não tem valor nenhum. O começo de V dizia: um homem morre, mas uma ideia perdura e, séculos depois, essa ideia ainda pode mudar o mundo. V dizia: idéias são à prova de balas. V de Vingança é um ode ao poder das idéias. É uma oração: as idéias são maiores que os homens e transcendem os indivíduos.
Cloud Atlas continua a deixa idealista de V de Vingança. Reitero: não pretendo falar da atuação dos atores, da qualidade técnica do filme, etc. O filme certamente não é o barril de pólvora de V de Vingança. E tenho que admitir: já vi filmes melhores que Cloud Atlas e que me tocaram mais fundo. Mas de uma coisa eu estou certo, convicto: Cloud Atlas busca, e obtém algum sucesso, em recuperar a grandiloquência das motivações éticas fundamentais, especialmente a ânsia por liberdade: as histórias temporalmente tão distantes de um escravo no século XVIII (eu creio) e de uma clone escrava num futuro distópico não deixam margem alguma à dúvida: o problema da liberdade humana ultrapassa os indivíduos. A história da clone-escrava Sonmi-451 é um provocação aos viventes do século XXI: é quase consenso hoje que história não tem uma finalidade prévia e que nós, assujeitados à história, não temos ideais nem força para orientá-la em alguma boa direção. A história de Sonmi-451 é anacrônica e provocante: ela derrama lágrimas ao dizer que sacrificaria de bom grado sua vida para destruir o sistema em que vive... E tem a chance de fazê-lo...
Assim como com V, terminei o filme mais idealista. Terminei o filme sonhando com a grandeza dos ideais... E pensando na pequenez do eu.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraNa sexta-série eu convenci minha turma inteira a fazer a feira-de-ciências sobre a idade média e, pela mesma época, eu joguei RPG exclusivamente situado numa Idade Média fantástica... E é absolutamente inegável a forma megalomaníaca como O HOBBIT [e O Senhor dos Anéis, antes dele] conseguiu materializar esse imaginário fantástico: os cenários, os figurinos, a maquiagem, os efeitos especiais são perfeitos. Tecnicamente, o filme é de cair o queixo. Há também atuações impressionantes, com salvas para Martin Freeman como um Bilbo Boseiro incrivalmente carismático, para Richard Armitage como um Thorion Escudo-de-Carvalho carrancudo e nobre, com um olhar intenso e autoridade de líder, para Ian McKellen sempre encantador como Gandalf, ainda mais malicioso como neste filme e, finalmente, para Andy Serkis como Gollum/Sméagol na que, para mim, foi a cena mais interessante do filme: as charadas no escuro... A forma como ele transmite bondade e inofensividade, com um olhar tão bondoso quanto o do gatinho do Shrek e, no instante seguinte, maldade e loucura, é incrível. O filme é engraçado, como algumas resenhas que li disseram; aliás, mais engraçado do que disseram as resenhas. Não posso julgar a fidelidade da transposição do material literário para o plano cinematográfico porque não li o livro... Alguns disseram que o filme era lento... Ok, após o prólogo do filme, com alguns cenários deslumbrantes e cenas impressionantes de destruição, o filme diminui, de forma necessária, o ritmo: mas , quando cessa a ação, começa a comédia. O filme certamente paga o ingresso e, de forma alguma, me arrependi de tê-lo assistido no cinema. Contudo, o filme também defeitos.
Primeiramente, na minha opinião, a comitiva enfrenta todo tipo de perigo - penhascos caindo/gigantes de pedra lutando, trolls, uma cidade inteira de orcs e quedas impressionantes nessa cidade do orcs, e nenhum dos anões morre e, pra ser sincero, em nenhum momento o risco é verdadeiramente real: tudo é cômico, mesmo nos momentos mais perigosos. Então, se os perigos não são reais, as cenas de ação são muitas, excessivamente longas e sem razão. Ninguém da comitiva morre ou mesmo se fere gravemente. Alguns argüirão que no livro, que não li, ninguém morre, e o filme segue o livro nesse ponto: como poderia matar personagens que não morrem no livro?
Eu era apaixonado pelo imaginário da Terra-Média na adolescência e, ao crescer, não larguei o vício, mas acrescentei a ele uma dose de realismo... Por isso eu digo: eu preferiria, mil vezes, que o dinheiro da trilogia O HOBBIT fosse generosamente doado para os produtos de Game of Thrones, “a série de fantasia para quem odeia fantasia”. Porque em Game of Thrones nobres puritanamente justos são decapitados e anões inteligentes e carismáticos têm o rosto cortado ao meio: não importa se são protagonistas ou não. E lá também tem dragões!
#OdinheirodeOHOBBITparaGameofThrones #prontofalei!
Amor à Flor da Pele
4.3 500 Assista AgoraSalve Wong Kar-wai, esse mestre da sublimação e do erotismo, do máximo no mínimo: sem beijos ou cenas de sexo, essa película consegue transpirar desejo por todos os seus poros: de sua fotografia inigualável, de sua trilha sonora ao mesmo tempo melancólica e sexual, dos figurinos e dos atores em atuações esplêndidas... Que história linda e triste! É um filme lento, porque contemplativo, porque explora os cenários com os sentidos - não só com a visão, e sim, sobretudo, o tato... Para alguns seus momentos de silêncio são chatos, para outros, como eu, divinos. Chow fumando seu cigarro ao lado do restaurante, na rua escura e tomando chuva, encostado no prédio onde tantas vezes se encontraram, inclusive sob chuva... Um neo-noir romântico... Esse filme fala mais quando não está falando, quando só mostra e só sugere... Para mim, até agora, o filme definitivo sobre paixão. Cinco estrelas e favoritado!
Valente
3.8 2,8K Assista AgoraO filme, visualmente, é espetacular. Como diz a sinopse, trata-se de uma Escócia "mítica", de encher os olhos. Eu achei o filme meio comédia, com várias cenas que me arrancaram risos. Só não achei o argumento muito bom: primeiro, porque se trata de um anacronismo histórico e sócio-cultural: jovens mulheres medievais não tinha a mentalidade de uma mulher ocidental pós-moderna, isto é, nascida após a revolução sexual dos anos 1960... Nem o amor romântico tinha sido gerado ainda! É bem provável que as mulheres medievais estivessem realmente preparadas e, se não desejosas, ao menos resignadas com seu destino: o casamento arranjado. Estruturar toda a história apenas nisso -
Valente não quer casar com os nobres que querem disputar sua mão; Valente quer fazer atividades masculinas; Valente quer casar somente quando se apaixonar
O Palhaço
3.6 2,2K Assista AgoraReza a sabedoria popular, ou o senso comum, que os comediantes são mal humorados quando não estão fazendo graça. O clichê, portanto, se aplica ao "Palhaço"? Não exatamente, já que Benjamin não é mal-humorado: ele é depressivo, deslocado, vazio. É a história de um homem em busca de sua identidade e, portanto, de um palhaço em crise de identidade. Num mundo que, para nós, é nostálgico. Nostálgico por vários motivos: primeira e evidentemente, porque se passa noutra época.... Em segundo lugar, por retratar um Brasil de vilarejos e pequenas cidades, aonde a chegada de um circo quebrava realmente a monotonia do tempo - o "marasmo da fazenda" - e trazia um pouco de mágica às vidas de labuta do campo... Nostálgico para nós, citadinos pós-modernos que temos a televisão, o cinema, os videos-games hiper-realistas, as raves, a internet; nós, para quem o circo é um lazer quase ancestral... Se o mundo externo ao circo dá certa nostalgia, o que falar do próprio circo, com seus personagens excêntricos, mas amáveis, o que falar dessa grande família que é a comunidade circense? Sim, porque os sociólogos da atualidade anunciam o fim das comunidades e das grandes famílias - de não-sei-quantos primos e sobrinhos, tios, filhos e netos: o diâmetro da família contemporânea foi reduzido a um pai, uma mãe e um filho, quando muito; às vezes nem tanto, só uma mãe ou um filho (ou um pai e um filho). Ou, finalmente, nenhuma família, só o átomo social. E há sociólogos que dizem que sentimos saudade dessa grande família que é comunidade e da estabilidade simbólica, espiritual, identitária que ela proporcionava... Ali, no meio de personagens excêntricos e carismáticos à sua maneira, sentimos efetivamente um aconchego, um laço quase familiar, uma camaradagem de sofrimento e destino compartilhado...
Tanto que quando Lola (Giselle Motta) é expulsa, deixada à margem da estrada, ela sofre, e sofrem todos. É bastante triste quando Benjamin larga o Circo: naquele momento ele largou, simbolicamente, a segurança e o aconchego, ainda que sofridos, da família circense para buscar sua própria identidade. E psicologicamente, essa é uma etapa que todos precisamos realizar para nos individuar, para nos tornamos, como diz Kant, moralmente maiores de idade. Precisamos nos aventurar, ainda que seja para voltarmos para casa em seguida. Mas se podíamos sentir seu deslocamento, seu vazio interior, sua ânsia por testar o mundo para além das fronteiras já conhecidas e seguras do Circo, ele se vai e, muito rapidamente, muito facilmente, se encontra, resolve seu problema de identidade e volta. O que ele faz? Tenta namorar, e fracassa; arranja um emprego, compra um maldito ventilador e escuta uma piada contado por outro... Tão-pouco e tão-rápido. O argumento que estrutura o filme é bom e o primeiro ato, sua vida no circo, seu deslocamento, sua necessidade de partir para se encontrar, foi muitíssimo bem construído: sentimos seu deslocamento ali e, ao mesmo tempo, seu dilaceramento ao partir . O segundo ato, contudo, foi sub-desenvolvido: ele não vivencia o mundo, ele não tem quaisquer experiências que justifiquem tanto anseio para fugir do circo e tanto sofrimento infligido à seu pai, à todos e a ele mesmo; ele nem goza nem apanha do mundo. E então, o terceiro ato, sua volta ao circo, que é até emocionante, devido a magnífica interpretação de Paulo José, no fundo é sem sentido. Como um garotinho assustado com a vida longe do papai, ele volta correndo com um ventilador debaixo do braço...
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
3.5 1,8K Assista AgoraDiferentemente de outros filmes sobre o fim do mundo (como vários outros usuários já apontaram), este filme não é sobre a catástrofe em si e suas "belíssimas cenas de destruição", mas sobre o modo como os seres humanos lidam com a perspectiva da morte, com a certeza da morte iminente e inexorável e, portanto, é um filme sobre a humanidade, não sobre o cometa. Quase todos abandonam seus trabalhos; uns fazem baderna e causam destruição; outros usam drogas e fazem orgias e, inesperadamente, há aqueles que continuam fazendo seu trabalho ou que continuam respeitando as leis... E o filme é, definitivamente, sobre essas múltiplas maneiras de lidar com a morte. É um filme humano e, spoiler intencional para aqueles que pretendem assisti-lo, não há nenhuma cena impressionante de catástrofe: tirando os astros Steven Carrel e Keira Knigthley, deve ser um filme de orçamento baixo para os padrões hollywoodianos. E, interessante notar, enquanto filmes como Armageddon, Impacto Profundo, 2012,
centram-se na destruição, na luta pela sobrevivência e acabam, finalmente, com a salvação dos protagonistas, este não. E isso diz alguma coisa sobre o filme, faz com que ele ganhe uma dimensão humanista e filosófica, quase existencialista: somos seres-para-a-morte, como dizia o filósofo alemão Heidegger, e é sempre interessante perceber como as coisas ganham ou perdem valor ante a perspectiva da morte. Numa cena ótima, o dono de uma empresa oferece o cargo de diretor financeiro para meia dúzia de empregados remanescentes, e ninguém o quer...
Dogde (Steven Carrel) é um caro chato, daqueles que preferem a lucidez à embriaguez, que preferem relembrar os melhores momentos de sua vida que entregar-se a uma orgia, é um introvertido romântico "em crise de meia idade" (como ele mesmo diz) e Penny (Keira K.) é uma garota que tem "problema com autoridade", uma rebelde que gosta de música e de experiências novas e intensas, que gosta de se arriscar, uma rebelde romântica...
Eles fazem, realmente, um contraponto, A história de amor deles é esquisita, incomum e, ainda assim, natural
007: Operação Skyfall
3.9 2,5K Assista AgoraTinha tudo para superar Cassino Royale, mas passou longe disso. A fotografia é absurda, e creio que é a melhor coisa do filme: desde a abertura até as cenas de Xangai à noite: simplesmente espetacular. Do elenco estelar, creio que todos foram sub-aproveitados e, ainda assim, salvas para a interpretação de Ben Whishaw (Perfume, Cloud Atlas) como o gênio de computação Q e Javier Barden, fazendo uma vilão tão interessante que, em alguns momentos, pareceu que poderia rivalizar com o Coringa de Heath Ledger. Sim, porque para desafiar o super-homem-Bond só mesmo um vilão cerebral, astuto, refinado e, claro, psicótico: tudo isso que Javier Barden conseguiu passar nas cenas em que pôde atuar.. E, juro, eu estava realmente adorando! Se tivessem dado mais espaço à ele, talvez ele tivesse entrado na galeria de vilões memoráveis do cinema, mas não: preferiram fazer dele um vilão de comédia... A história tem sérios problemas de roteiro. Por exemplo: M, a líder da inteligência secreta britânica e a legendária espiã recrutadora de Bond, em nenhum momento mostrou seus dotes intelectuais... Foi só uma velinha neurastênica! E não, eu não queria que ela protagonizasse cenas de ação, mas que mostrasse porque ela é a líder da inteligência secreta britânica,
e não, em fuga à noite, acender a lanterna e entregar sua localização aos inimigos!
Um James Bond quase misógino que deixou uma bela mulher morrer para, no instante seguinte, agir.. E agir de uma maneira confiante, como se tudo estivesse sob controle desde o começo... Então porque deixá-la morrer? Misoginia.... Ok, do ponto de vista das relações internacionais e da economia da história, era só uma coadjuvante... Mas que deu a impressão de que ele a deixou morrer porque não ligava a mínima, isso deixou.
Edukators: Os Educadores
4.1 663Pra quem lê a sinopse, talvez fique a impressão de que se trata, tão-só, de um filme de protesto contra o capitalismo. Sim, há diálogos memoráveis sobre isso e situações que fazem, de fato, você odiar o capitalismo. Mas o argumento anti-capitalista, embora estruture o filme, não o resume e nem o esgota. Ele é humanizado. Há aventura, suspense e uma interessante história de amor... Com desdobramentos imprevisíveis. E, então, como pano de fundo disso, o argumento anti-capitalista e uma trilha sonora foda. Não é um filme conceitual ou totalmente cerebral: é um filme vivo, intenso, com àquela faísca da adolescência... A vontade de mudar o mundo e de se apaixonar. É um filme extremamente divertido e, ao mesmo tempo, inteligente. Coisa realmente difícil nos últimos tempos!