Imagens fascinantes em um ritmo frenético. Para os menos ortodoxos sugiro improvisar uma trilha sonora atualizada nos fones de ouvido e se deixar levar pelas imagens de Vertov, pois apesar das parafernálias tecnológicas que nos cercam, a essência humana continua a mesma após quase um século.
O filme é um singelo conto de fadas envolvendo uma protagonista muito carismática e engraçada com ambições modestas, mas que ultrapassam seu poder. Com seu bom humor e subtexto político, o filme consegue afastar qualquer discurso raso sobre consumismo levantando questões sobre o poder da moda como arte, criando objetos de fascínio além da compreensão que atravessam fronteiras tanto territoriais quanto sociais.
Longe de ser um drama cuidadosamente elaborado e ousado, o roteiro mantém os dois pés fincados na realidade, por mais deprimente que ela seja, ou as vezes simplesmente ordinária, o que abre espaço para o humor em diversas passagens inesperadas. Claro que a boa atuação de Andrea Riseborough se torna o ponto alto do filme. Uma história contada sem a intenção de explorar situações vexatórias e despertar a compaixão do espectador, mas que nos faz sentir o peso insuportável de estar na espiral descendente que se tornou a vida de Leslie, principalmente na forma como o alcoolismo afetou seus relacionamentos.
A fotografia é incrível e junto com a edição cria uma narrativa quase sem diálogos porém completamente envolvente. Alguns momentos a trilha sonora une tudo em cenas que beiram a fantasia. Já a temática de bem estar animal abordada pelo diretor parece ser uma visão estreita, o que prejudica o desenvolvimento do filme. O diretor consegue brincar com nosso instinto de preservação da vida mas não vai além disso.
O filme tem um objetivo narrativo claro, desmascarar a filantropia artística da família Sackler, grande financiadora de museus que esconde sua participação na obtenção de lucros às custas do vício e morte de milhares de pessoas usando campanhas de desinformação e lobby agressivo na prescrição de opioides. A diretora mergulha fundo na vida de Nan Goldin, sua carreira incrível como fotógrafa que demonstra perfeitamente suas motivações pessoais e artísticas ao criar um grupo para denunciar e ajudar pessoas que perderam familiares para as drogas. Um trabalho poético que sabe usar muito bem as imagens feitas por Goldin e sua narração, além de seus protestos criando uma evolução onde o mundo real e a arte se chocam e se fundem.
Assisti ao filme sem nenhum conhecimento prévio da história e foi uma experiência angustiante. A simplicidade dos cenários e o foco quase exclusivo nos diálogos transmite a opressão e isolamento e ajuda a entender as motivações muitas vezes conflitantes das personagens. A violência é representada no filme por meio de suas consequências, igualmente chocantes mas que passa uma mensagem profunda que vai além do choque inicial. A principal reflexão que permeia toda a história é o papel da religião organizada como legitimadora da misoginia.
Baseado na experiência de ser criado por sua mãe que convivia com transtorno bipolar, o diretor não tem a pretensão de retratar detalhadamente algo que só ela poderia entender, mas tenta exemplificar quais as consequências enfrentadas por ela e todo o esforço que isso exigia. No início do filme fica difícil compreender como as agressões racistas sofridas por Stephen, o jovem funcionário com quem Hilary se envolve e o uso do cinema como pano de fundo se relacionam com o transtorno bipolar. Porém com o tempo é possível perceber que assim como Hilary teme por Stephen mas não consegue compreender seu sofrimento, o mesmo vale para o inverso. Nesse contexto o cinema funciona como um ambiente onde as emoções são facilmente controladas ao pressionar os botões do projetor, sem consequências reais e uma antítese da situação vivida por Hilary. As atuações de Olivia Colman e Micheal Ward são ótimas e entregam um filme cheio de conteúdo nas entrelinhas, mas que dependem muito das experiências do espectador para que ocorra uma identificação.
Marcel, com apenas um olho e dois sapatos tem carisma capaz de cativar qualquer espectador. Parte graças ao trabalho talentosíssimo na dublagem de Jenny Slate, mas também o roteiro que traz um personagem engraçado, sincero e com vários questionamentos sobre sua vida e sua família com uma inocência única. O diretor atua como o documentarista e divide os créditos do roteiro com Jenny Slate, com quem foi casado, isso ajuda a explicar várias questões abordadas ao decorrer da história e entendemos melhor o cuidado e carinho com que Marcel é tratado, afinal é uma criação conjunta importantíssima para ambos. O stop-motion e o elemento fantástico presente nos personagens se funde ao mundo real naturalmente, seja nos elementos gráficos ou na demonstração de emoções e relações muito humanas. Uma aventura criativa, divertida e muito emocionante.
Um trabalho incrível na captação de imagens que apresentam a complexa relação entre os irmãos, os pássaros que salvam e o ambiente muitas vezes inóspito da cidade. O documentário segue o caminho quase poético de tentar descobrir o que leva os irmãos à um trabalho tão difícil e adverso, acabamos descobrindo que eles encontraram na ocupação uma forma de salvarem suas próprias vidas. As vezes as imagens e o ritmo em que os eventos foram apresentados me fizeram perder o foco, mas nada tira o mérito do trabalho incrível tanto do documentarista quanto dos irmãos.
Uma animação com detalhes impressionantes e uma identidade visual marcante que cria um universo próprio ao mesmo tempo cheio de fantasia e recheado de duras porções de realidade. Sempre tive limitações com a história do boneco pois a forma como ele é submetido à injustiças e sempre culpado por tudo sem parar é algo enervante. O maior acerto desse filme é retirar a culpa de Pinóquio, cuja amoral inocência dificilmente chega perto dos erros e falhas humanas. Ao colocar temas como a infância contra a guerra temos a maior contradição moral possível e somente Pinóquio como não-humano pode nos fazer refletir sobre esses conflitos e muitos outros como mortalidade, perda e relações familiares. Belo, divertido e emocionante, essa é facilmente a minha versão favorita da história para o cinema.
Um épico/ação/fantasia/musical no melhor estilo "sem medo de exagerar" que mostra como a Índia se tornou um terreno fértil para o desenvolvimento de um estilo próprio de cinema produtivo e rentável que serve ao seu próprio público e representa sua cultura. O único ponto que incomodou foi a dublagem. O longa foi gravado em telugu e posteriormente dublado em hindi, o que me causou estranhamento. Os personagens principais são heróis sobre-humanos representados pela ótica de um povo que foi oprimido pelo império britânico e perdeu milhões de habitantes. O excesso de drama, a duração de mais de três horas, as sequências mirabolantes de ação e as músicas aleatórias podem ser as principais reclamações dos espectadores, mas são justamente o que tornam o filme interessante e divertido.
O filme traz uma reflexão incisiva sobre construção social e como ela atua na aniquilação da individualidade. Ao focar na perspectiva de Léo, o diretor esconde razões e encobre boa parte das emoções de Rémi, o que acaba ampliando o impacto no espectador e deixando um vazio que não pode ser preenchido. Os belos cenários floridos são uma poderosa metáfora, pois as belas flores são colhidas alheias aos propósitos dos que as cultivaram e também passam por uma seleção artificial que contraria sua natureza. O diretor consegue trazer um tema pesadíssimo com certa beleza que ressoa mesmo após o final.
Spielberg assume a corajosa e desafiadora tarefa de apresentar a si mesmo, suas relações familiares e sua gênese como cineasta. O cuidado e afeto com que o diretor conta sua história transparece na tela, principalmente quando retrata sua família. Sem evitar temas sensíveis ele cria uma nostalgia e estabelece uma espécie de terapia cinematográfica à la Jodorowsky, sem poesia ou surrealismo, mas igualmente potente. O final é genial e mostra a importância do próprio diretor contar sua história, pois com uma carreira tão prolífica quanto a de Spielberg, quem mais pensaria em terminar com um episódio totalmente aleatório mas absolutamente marcante?
O maior erro do documentário é entregar a narrativa nas mãos de Navalny, figura controversa que a todo momento parece subestimar o regime autoritário de Putin. Falta uma narração com uma apresentação clara dos fatos e desdobramentos, que as vezes ficam confusos e somente lendo reportagens após assistir tudo ficou mais claro. Poderia ter abordado mais a repressão russa e como ela cria esse cenário onde tudo é possível e justificável e como isso torna impossível quantificar e qualificar incidentes de cerceamento de liberdade. O final também tenta passar uma mensagem revolucionária e otimista porém os últimos desdobramentos do caso incluem a transferência de Navalny para um presídio secreto sem o conhecimento da família ou advogados. Serve como um alerta sobre os riscos à democracia e como é impossível justificar autoritarismo.
Uma bela animação que seduz pelo humor que já nos acostumamos e também pela incrível direção de arte que cria um universo detalhado e cheio de referências aos contos de fada. Cada personagem é inserido em um contexto próprio, seja ele novo ou inspirado em histórias preexistentes. A reimaginação de alguns e a maneira como se conectam com a jornada do Gato deixam a história simples e divertida, além de criar um rol de personagens incríveis que devem ser reaproveitados futuramente. A trama onde o herói contempla sua própria mortalidade cria novas camadas para o personagem e estabelece um ótimo terreno para sequências.
Por um pequeno momento no início do filme, eu ingenuamente achei que o roteiro desenvolveria a história a partir do ponto de vista do conflito entre nações e que a instabilidade em Wakanda seria usada para o surgimento de um novo herói. Cheguei ao surto de imaginar que o trono seria derrubado e Aneka surgiria como nova pantera e uniria seu povo. Porém surge Namor, um vilão (?) com uma história interessante, mas que serve como bode expiatório para conflitos imbecis e cenas de ação que custam um milhão de dólares por minuto. Os conflitos dos personagens são os mesmos do primeiro filme mas sem a criatividade que o tornou interessante.
Ao mesmo tempo que o diretor mostra a inocência e o cotidiano das crianças, cada gesto delas ou interação social vem carregada do peso que carregam desde muito jovens da negligência, violência e do abandono. Vemos o trabalho louvável e desafiador do serviço social para tentar lidar com situações muitas vezes sem solução e com escolhas muito difíceis que contrariam nossas emoções. Uma estrutura de amparo tão essencial como essa ainda tem que lidar com o agravante da invasão russa, que coloca tudo em risco. Belo, angustiante e nos faz refletir sobre as falhas da sociedade e suas consequências, onde as crianças são as primeiras a sofrer.
O roteiro traz para consideração todos os aspectos que envolveram o julgamento, inclusive a dificuldade para que o mesmo ocorresse, pois havia uma conjuntura de poder que esperava a impunidade, construindo narrativas e culpando as vítimas. Também é mostrada a incrível e trabalhosa tarefa de reunir provas e depoimentos que ajudassem no caso. A trilha sonora é excelente e a atuação de Ricardo Darín consegue trazer um carisma ao desajeitado protagonista. O diretor consegue tratar um tema tão pesado e complexo de maneira simples e que acaba envolvendo emocionalmente o espectador em um julgamento exemplar que não deve ficar restrito aos livros de história. O final do julgamento foi o primeiro passo, a Lei de Ponto Final, que buscava a impunidade dos envolvidos na ditadura foi aprovada em 1986 e só foi considerada inconstitucional em 2003. O próprio filme faz questão de mostrar que a luta é constante e ainda assim merece todos os esforços.
Uma frase do Marquês de Sade descreveria esse filme: "Tudo é bom quando é excessivo". Ainda que a trama seja predominantemente uma fantasia do diretor sobre os mitos que se tornaram os acontecimentos da época, essencialmente o filme representa uma crença no poder inabalável de Hollywood, além de pontuar os dilemas inerentes aos que tiram seu sustento dessa indústria. Como ponto negativo o longa as vezes parece funcionar com um musical onde nenhum personagem ousa tomar a frente, então no final não temos uma conexão real necessária para o final catártico pretendido pelo diretor. No geral gostei do filme, o excesso de música, comédia duvidosa e drama as vezes não deixa espaço para reflexão, mas podemos aproveitar o espetáculo.
As imagens de arquivo são impressionantes e demonstram o cuidado do casal em documentar tudo para que todo seu conhecimento pudesse ser aproveitado futuramente. A narrativa criada para abordar primeiro a relação do casal e como vieram a se unir é muito bem construída e somos envolvidos pelo amor científico que ambos tinham pelos vulcões. Dois pontos que pessoalmente não me agradaram foram a narração e a trilha sonora, que não tem um destaque especial e não conseguem acompanhar a excitação, fascínio, beleza e horror das imagens.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
3.6 506 Assista AgoraTrês estrelas pelo filme e meia porque estou viciado em Baldur's Gate III
Aurora
4.4 204 Assista AgoraComo salvar seu casamento com uma tentativa de homicídio.
A Paixão de Joana d'Arc
4.5 229 Assista AgoraUma janela atemporal para um pesadelo primitivo, religioso e político.
O Reino Animal
3.4 10Às vezes a doença é a cura.
Um Homem com uma Câmera
4.4 196 Assista AgoraImagens fascinantes em um ritmo frenético. Para os menos ortodoxos sugiro improvisar uma trilha sonora atualizada nos fones de ouvido e se deixar levar pelas imagens de Vertov, pois apesar das parafernálias tecnológicas que nos cercam, a essência humana continua a mesma após quase um século.
Sra. Harris vai a Paris
3.6 92 Assista AgoraO filme é um singelo conto de fadas envolvendo uma protagonista muito carismática e engraçada com ambições modestas, mas que ultrapassam seu poder.
Com seu bom humor e subtexto político, o filme consegue afastar qualquer discurso raso sobre consumismo levantando questões sobre o poder da moda como arte, criando objetos de fascínio além da compreensão que atravessam fronteiras tanto territoriais quanto sociais.
A Sorte Grande
3.4 89 Assista AgoraLonge de ser um drama cuidadosamente elaborado e ousado, o roteiro mantém os dois pés fincados na realidade, por mais deprimente que ela seja, ou as vezes simplesmente ordinária, o que abre espaço para o humor em diversas passagens inesperadas.
Claro que a boa atuação de Andrea Riseborough se torna o ponto alto do filme.
Uma história contada sem a intenção de explorar situações vexatórias e despertar a compaixão do espectador, mas que nos faz sentir o peso insuportável de estar na espiral descendente que se tornou a vida de Leslie, principalmente na forma como o alcoolismo afetou seus relacionamentos.
Eo
3.3 96 Assista AgoraA fotografia é incrível e junto com a edição cria uma narrativa quase sem diálogos porém completamente envolvente. Alguns momentos a trilha sonora une tudo em cenas que beiram a fantasia.
Já a temática de bem estar animal abordada pelo diretor parece ser uma visão estreita, o que prejudica o desenvolvimento do filme.
O diretor consegue brincar com nosso instinto de preservação da vida mas não vai além disso.
All the Beauty and the Bloodshed
3.6 23O filme tem um objetivo narrativo claro, desmascarar a filantropia artística da família Sackler, grande financiadora de museus que esconde sua participação na obtenção de lucros às custas do vício e morte de milhares de pessoas usando campanhas de desinformação e lobby agressivo na prescrição de opioides.
A diretora mergulha fundo na vida de Nan Goldin, sua carreira incrível como fotógrafa que demonstra perfeitamente suas motivações pessoais e artísticas ao criar um grupo para denunciar e ajudar pessoas que perderam familiares para as drogas.
Um trabalho poético que sabe usar muito bem as imagens feitas por Goldin e sua narração, além de seus protestos criando uma evolução onde o mundo real e a arte se chocam e se fundem.
Entre Mulheres
3.7 262Assisti ao filme sem nenhum conhecimento prévio da história e foi uma experiência angustiante.
A simplicidade dos cenários e o foco quase exclusivo nos diálogos transmite a opressão e isolamento e ajuda a entender as motivações muitas vezes conflitantes das personagens.
A violência é representada no filme por meio de suas consequências, igualmente chocantes mas que passa uma mensagem profunda que vai além do choque inicial.
A principal reflexão que permeia toda a história é o papel da religião organizada como legitimadora da misoginia.
Império da Luz
3.3 65 Assista AgoraBaseado na experiência de ser criado por sua mãe que convivia com transtorno bipolar, o diretor não tem a pretensão de retratar detalhadamente algo que só ela poderia entender, mas tenta exemplificar quais as consequências enfrentadas por ela e todo o esforço que isso exigia.
No início do filme fica difícil compreender como as agressões racistas sofridas por Stephen, o jovem funcionário com quem Hilary se envolve e o uso do cinema como pano de fundo se relacionam com o transtorno bipolar. Porém com o tempo é possível perceber que assim como Hilary teme por Stephen mas não consegue compreender seu sofrimento, o mesmo vale para o inverso. Nesse contexto o cinema funciona como um ambiente onde as emoções são facilmente controladas ao pressionar os botões do projetor, sem consequências reais e uma antítese da situação vivida por Hilary.
As atuações de Olivia Colman e Micheal Ward são ótimas e entregam um filme cheio de conteúdo nas entrelinhas, mas que dependem muito das experiências do espectador para que ocorra uma identificação.
Marcel a Concha de Sapatos
3.8 103 Assista AgoraMarcel, com apenas um olho e dois sapatos tem carisma capaz de cativar qualquer espectador. Parte graças ao trabalho talentosíssimo na dublagem de Jenny Slate, mas também o roteiro que traz um personagem engraçado, sincero e com vários questionamentos sobre sua vida e sua família com uma inocência única.
O diretor atua como o documentarista e divide os créditos do roteiro com Jenny Slate, com quem foi casado, isso ajuda a explicar várias questões abordadas ao decorrer da história e entendemos melhor o cuidado e carinho com que Marcel é tratado, afinal é uma criação conjunta importantíssima para ambos.
O stop-motion e o elemento fantástico presente nos personagens se funde ao mundo real naturalmente, seja nos elementos gráficos ou na demonstração de emoções e relações muito humanas.
Uma aventura criativa, divertida e muito emocionante.
Tudo o que Respira
3.2 38 Assista AgoraUm trabalho incrível na captação de imagens que apresentam a complexa relação entre os irmãos, os pássaros que salvam e o ambiente muitas vezes inóspito da cidade.
O documentário segue o caminho quase poético de tentar descobrir o que leva os irmãos à um trabalho tão difícil e adverso, acabamos descobrindo que eles encontraram na ocupação uma forma de salvarem suas próprias vidas.
As vezes as imagens e o ritmo em que os eventos foram apresentados me fizeram perder o foco, mas nada tira o mérito do trabalho incrível tanto do documentarista quanto dos irmãos.
Pinóquio
4.2 542 Assista AgoraUma animação com detalhes impressionantes e uma identidade visual marcante que cria um universo próprio ao mesmo tempo cheio de fantasia e recheado de duras porções de realidade.
Sempre tive limitações com a história do boneco pois a forma como ele é submetido à injustiças e sempre culpado por tudo sem parar é algo enervante.
O maior acerto desse filme é retirar a culpa de Pinóquio, cuja amoral inocência dificilmente chega perto dos erros e falhas humanas.
Ao colocar temas como a infância contra a guerra temos a maior contradição moral possível e somente Pinóquio como não-humano pode nos fazer refletir sobre esses conflitos e muitos outros como mortalidade, perda e relações familiares.
Belo, divertido e emocionante, essa é facilmente a minha versão favorita da história para o cinema.
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
4.1 321 Assista AgoraUm épico/ação/fantasia/musical no melhor estilo "sem medo de exagerar" que mostra como a Índia se tornou um terreno fértil para o desenvolvimento de um estilo próprio de cinema produtivo e rentável que serve ao seu próprio público e representa sua cultura.
O único ponto que incomodou foi a dublagem. O longa foi gravado em telugu e posteriormente dublado em hindi, o que me causou estranhamento.
Os personagens principais são heróis sobre-humanos representados pela ótica de um povo que foi oprimido pelo império britânico e perdeu milhões de habitantes.
O excesso de drama, a duração de mais de três horas, as sequências mirabolantes de ação e as músicas aleatórias podem ser as principais reclamações dos espectadores, mas são justamente o que tornam o filme interessante e divertido.
Close
4.2 470 Assista AgoraO filme traz uma reflexão incisiva sobre construção social e como ela atua na aniquilação da individualidade.
Ao focar na perspectiva de Léo, o diretor esconde razões e encobre boa parte das emoções de Rémi, o que acaba ampliando o impacto no espectador e deixando um vazio que não pode ser preenchido.
Os belos cenários floridos são uma poderosa metáfora, pois as belas flores são colhidas alheias aos propósitos dos que as cultivaram e também passam por uma seleção artificial que contraria sua natureza.
O diretor consegue trazer um tema pesadíssimo com certa beleza que ressoa mesmo após o final.
Os Fabelmans
4.0 388Spielberg assume a corajosa e desafiadora tarefa de apresentar a si mesmo, suas relações familiares e sua gênese como cineasta.
O cuidado e afeto com que o diretor conta sua história transparece na tela, principalmente quando retrata sua família. Sem evitar temas sensíveis ele cria uma nostalgia e estabelece uma espécie de terapia cinematográfica à la Jodorowsky, sem poesia ou surrealismo, mas igualmente potente.
O final é genial e mostra a importância do próprio diretor contar sua história, pois com uma carreira tão prolífica quanto a de Spielberg, quem mais pensaria em terminar com um episódio totalmente aleatório mas absolutamente marcante?
Navalny
3.5 54 Assista AgoraO maior erro do documentário é entregar a narrativa nas mãos de Navalny, figura controversa que a todo momento parece subestimar o regime autoritário de Putin. Falta uma narração com uma apresentação clara dos fatos e desdobramentos, que as vezes ficam confusos e somente lendo reportagens após assistir tudo ficou mais claro.
Poderia ter abordado mais a repressão russa e como ela cria esse cenário onde tudo é possível e justificável e como isso torna impossível quantificar e qualificar incidentes de cerceamento de liberdade.
O final também tenta passar uma mensagem revolucionária e otimista porém os últimos desdobramentos do caso incluem a transferência de Navalny para um presídio secreto sem o conhecimento da família ou advogados.
Serve como um alerta sobre os riscos à democracia e como é impossível justificar autoritarismo.
Gato de Botas 2: O Último Pedido
4.1 450 Assista AgoraUma bela animação que seduz pelo humor que já nos acostumamos e também pela incrível direção de arte que cria um universo detalhado e cheio de referências aos contos de fada.
Cada personagem é inserido em um contexto próprio, seja ele novo ou inspirado em histórias preexistentes. A reimaginação de alguns e a maneira como se conectam com a jornada do Gato deixam a história simples e divertida, além de criar um rol de personagens incríveis que devem ser reaproveitados futuramente.
A trama onde o herói contempla sua própria mortalidade cria novas camadas para o personagem e estabelece um ótimo terreno para sequências.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraPor um pequeno momento no início do filme, eu ingenuamente achei que o roteiro desenvolveria a história a partir do ponto de vista do conflito entre nações e que a instabilidade em Wakanda seria usada para o surgimento de um novo herói. Cheguei ao surto de imaginar que o trono seria derrubado e Aneka surgiria como nova pantera e uniria seu povo.
Porém surge Namor, um vilão (?) com uma história interessante, mas que serve como bode expiatório para conflitos imbecis e cenas de ação que custam um milhão de dólares por minuto.
Os conflitos dos personagens são os mesmos do primeiro filme mas sem a criatividade que o tornou interessante.
A House Made of Splinters
3.5 21Ao mesmo tempo que o diretor mostra a inocência e o cotidiano das crianças, cada gesto delas ou interação social vem carregada do peso que carregam desde muito jovens da negligência, violência e do abandono.
Vemos o trabalho louvável e desafiador do serviço social para tentar lidar com situações muitas vezes sem solução e com escolhas muito difíceis que contrariam nossas emoções.
Uma estrutura de amparo tão essencial como essa ainda tem que lidar com o agravante da invasão russa, que coloca tudo em risco.
Belo, angustiante e nos faz refletir sobre as falhas da sociedade e suas consequências, onde as crianças são as primeiras a sofrer.
Argentina, 1985
4.3 334O roteiro traz para consideração todos os aspectos que envolveram o julgamento, inclusive a dificuldade para que o mesmo ocorresse, pois havia uma conjuntura de poder que esperava a impunidade, construindo narrativas e culpando as vítimas. Também é mostrada a incrível e trabalhosa tarefa de reunir provas e depoimentos que ajudassem no caso.
A trilha sonora é excelente e a atuação de Ricardo Darín consegue trazer um carisma ao desajeitado protagonista.
O diretor consegue tratar um tema tão pesado e complexo de maneira simples e que acaba envolvendo emocionalmente o espectador em um julgamento exemplar que não deve ficar restrito aos livros de história.
O final do julgamento foi o primeiro passo, a Lei de Ponto Final, que buscava a impunidade dos envolvidos na ditadura foi aprovada em 1986 e só foi considerada inconstitucional em 2003. O próprio filme faz questão de mostrar que a luta é constante e ainda assim merece todos os esforços.
Babilônia
3.6 332 Assista AgoraUma frase do Marquês de Sade descreveria esse filme: "Tudo é bom quando é excessivo". Ainda que a trama seja predominantemente uma fantasia do diretor sobre os mitos que se tornaram os acontecimentos da época, essencialmente o filme representa uma crença no poder inabalável de Hollywood, além de pontuar os dilemas inerentes aos que tiram seu sustento dessa indústria.
Como ponto negativo o longa as vezes parece funcionar com um musical onde nenhum personagem ousa tomar a frente, então no final não temos uma conexão real necessária para o final catártico pretendido pelo diretor.
No geral gostei do filme, o excesso de música, comédia duvidosa e drama as vezes não deixa espaço para reflexão, mas podemos aproveitar o espetáculo.
Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft
3.9 68 Assista AgoraAs imagens de arquivo são impressionantes e demonstram o cuidado do casal em documentar tudo para que todo seu conhecimento pudesse ser aproveitado futuramente. A narrativa criada para abordar primeiro a relação do casal e como vieram a se unir é muito bem construída e somos envolvidos pelo amor científico que ambos tinham pelos vulcões.
Dois pontos que pessoalmente não me agradaram foram a narração e a trilha sonora, que não tem um destaque especial e não conseguem acompanhar a excitação, fascínio, beleza e horror das imagens.