"Blue Valentine" é o tipo de romance verossímil que me agrada, por mais que a realidade mostrada seja cruel e te deixe apreensivo. Michelle Williams e Ryan Gosling estão ótimos e possuem uma química surpreendente, aliado a uma boa direção e ao bom recurso de intercalar o presente caótico com o passado do início de relação em que os protagonistas vão se conhecendo também em meio à vários conflitos. E o final também é bastante angustiante e foge de qualquer "happy ending" esperado, como a realidade.
Como animação, "Home" pode ser considerado aquele filme que cumpre seu papel de diversão, mostrando uma história de superação e de autoconhecimento através da amizade de seres diferentes e que precisam amadurecer. É previsível e sem muita criatividade, mas é fofo. Porém, o diferencial e que me deixou encantado pela animação, além da dublagem competente da Rihanna, é a grande representatividade que o filme possui através da diversidade. São raras as animações protagonizadas por crianças negras e de cabelos crespos e a diversidade ainda se espraia por todos os personagens figurantes, o que também raramente acontece em outras animações, onde os personagens ao redor são sempre brancos. Toda a identidade dos Boovs e as mudanças de temperamentos e de cor do Oh (lembra bastante os sentimentos de "Divertida Mente") são até certo ponto interessantes, mas em determinado momentos ficam enfadonhas e repetitivas, mas os personagens que realmente são adoráveis são a Tip e seu gato, que fazem o filme funcionar.
Não fazia a mínima questão de assistir "Cloverfield", mas o ótimo "Rua Cloverfield, 10" e a curiosidade sobre o mesmo universo de realidade me deixaram intrigado em assisti-lo. Confesso que o gênero Found Footage, que saturou após o sucesso de "A Bruxa de Blair" não é dos meus preferidos, mas se bem utilizado, pode render filmes interessantes, como é o caso de "Cloverfield", que consegue nos deixar apreensivos e incomodados por estarmos diante da perspectiva do olhar de quem está gravando, não ter noção exata do que ocorre ao redor e nos causar tensão, isso aliado a efeitos visuais eficientes. Claro, há inúmeras situações inverossímeis, como
os personagens gravemente feridos e subindo/descendo vários lances de escada e sobreviver a queda de helicóptero, fora o filme não explicar o que está acontecendo e que criatura é aquela que está atacando Nova York, o que particularmente não chega a me incomodar,
mas ao final, o resultado não decepciona (como eu esperava que acontecesse) e cumpre seu papel de entretenimento, mesmo considerando os furos.
"Educação" é muito menos um romance e muito mais um drama sobre escolhas, em um momento da vida cheio de incertezas sobre o que o futuro reserva, ainda mais para uma mulher na década de 60. É interessante toda as autodesconstruções feitas pela personagem adorável que é a Jenny, decidindo largar uma futura carreira por um amor que a tirou da monotonia em que vivia, e depois
descobrir que todo o seu relacionamento foi baseado em mentiras, se arrepender das escolhas anteriormente feitas, com muita maturidade e sem orgulho, e continuar em seus planos anteriores.
A vida é assim, cheia de avanços e retrocessos e uma escolha, por mais drástica que seja, não pode impedir você de se arrepender e voltar aos planos de antes. "Educação" é um filme adorável com seu ar melancólico e toda a ótima produção de época e a Carey Mulligan, que é uma atriz que cada vez gosto mais, interpreta a doce Jenny de uma forma cativante.
Pra muitos, como eu, a curiosidade em assistir "Party Monster" se deve mais ao Macaulay Culkin e a total desconstrução de imagem que temos dele como ex-garoto-prodígio da década de 90 e esse deve ter sido o último filme relevante de sua carreira instável. E o ator consegue convencer na pele do clubber viciado, com todas as "afetações" e visual alucinado. E também deve ser citada a atuação competente do Seth Green, que também convence no papel e faz um personagem cativante. A princípio, me incomodou a linguagem do filme, com suas idas e vindas iniciais e a fotografia "suja", simulando um filme amador, mas aos poucos fui me acostumando e percebendo que aquela era a linguagem ideal pra a obra, mostrando o submundo clubber de Nova York e toda a alucinação psicodélica das viagens nas drogas.
Apesar da não-convencionalidade de "Bronson" ter me incomodado em alguns momentos (mesmo com a utilidade da parte teatral, por exemplo, ela não me cativou), o que atrapalhou um pouco a fluidez da obra, temos um estudo de personalidade, com um sujeito singular que realmente se encontrava na violência e na prisão, e isso por si só já é suficiente pra uma história interessante. Mas além disso, temos uma atuação visceral do Tom Hardy, que se despe completamente (e literalmente) de qualquer amarra para se entregar a um papel de inúmeras facetas e que possui uma grande expressividade no olhar e nos gestos. E claro, a trilha sonora é uma maravilha!
"Deixa Ela Entrar" me surpreendeu pela abordagem "vampiresca" realista, tanto que eu custei a acreditar que essa seria uma das abordagens, já que a trama se inicia com um drama, envereda pelo bullying e nos mostra toda uma atmosfera de tédio e melancolia em uma Estocolmo tomada pela neve. Mas aos poucos, o problema de Eli vai sendo enfatizado, assim a construção sensível do relacionamento entre ela e Oskar. Por mais que vejamos um tema fantasioso, ele é abordado de uma maneira que nos parece real, assim como os personagens cativantes, com todos os seus problemas por serem deslocados no mundo. É realmente uma obra que não passa despercebida.
"Julie & Julia" é um filme simples e delicioso de se assistir, muito pelas atuações competentes e cativantes da Meryl Streep e Amy Adams, em duas histórias, com propósitos diferentes, mas de busca pelo seu lugar no mundo, que encontram através da cozinha. Por mais que não seja uma obra imperdível, cumpre sua função de entretenimento, com uma trama eficiente.
"Os Invasores de Corpos" foi uma grata surpresa, unindo terror, ficção científica e tensão psicológica de forma eficiente, com um elenco afinado, uma direção competente e um gore adequado. O grande destaque é o clima de tensão pela desconfiança de todos ao redor, que vai nos deixando tão neuróticos quanto os personagens principais. Agora preciso conhecer o clássico do Don Siegel, de 1956.
"I Origins" claramente se divide em duas partes: na primeira metade, temos o Ian tentando provar suas teses científicas e construíndo uma relação com Sofi; é basicamente um romance, com vários momentos reflexivos sobre a existência humana, onde a relação entre uma pessoa cética e outra com várias crenças que não podem ser explicadas cientificamente acabam gerando debates interessantes. A segunda, após a tragédia da metade do filme, mistura drama e ficção científica e é basicamente a refutação e desconstrução de muita coisa que o Ian acreditava. A cena final possui uma sutileza incrível e após o filme, ficamos refletindo sobre o sentido da vida e de que naturalmente muita coisa nunca vai fazer sentido e ser explicada cientificamente, mas que as nossas crenças continuam sendo importantes para nosso crescimento pessoal.
"Holy Motors" é aquele tipo de filme cheio de simbolismos que é praticamente impossível você absorver todas as mensagens (acho que mesmo revendo), mas que se você deixar se levar pela obra, ela consegue prender sua atenção e ser imensamente instigante, mesmo que não faça sentido. O filme, além de poder fazer referência aos vários papéis e identidades que temos na vida, parece ser uma obra dedicada ao cinema, não só à dedicação do ator em desenvolver cada personagem (e nesse sentido, o Denis Lavant está incrível), mas também uma crítica ao cinema de massa, com suas fórmulas pré-fabricadas e sua necessidade de se explicar minimamente. Certamente é um filme que não passa em branco e não agrada a todos, mas também certamente é uma obra que merece ser apreciada e debatida.
"Se Eu Ficar" possui aqueles elementos clichês de romamnces de adolescentes, mas o acidente, a decisão que a protagonista precisa tomar e os flashbacks deixam a trama um pouco mais interessante. A Chloë Grace Moretz possui uma grande presença de cena, mas ainda precisa evoluir bastante pra se tornar uma atriz melhor, apesar de que sua interpretação aqui é eficiente e cumpre seu papel em um romance-espírita-auto-ajuda-previsível.
Assisti ontem "Aquarius" pela segunda vez e poucos filmes me fazem ter essa ânsia de rever ainda no cinema, já que a obra precisa ser bastante envolvente. E essa revisitação foi tão agradável quanto a primeira, comigo me pegando sorrindo e emocionado em várias cenas e deslumbrado com a atuação espetacular da Sônia Braga (não é exagero dizer que é uma das melhores de nosso cinema). Uma pena o filme não ter sido valorizado (evidentemente por questões políticas) pelo nosso Ministério da Cultura e não ser o nosso representante no Oscar, mas ele já vem fazendo grande sucesso em nosso país e no exterior e a atuação da Sônia não vai passar em branco. ___ Ps.: Me impressiona a quantidade de "haters" do filme, que se deve à manifestação do Kleber Mendonça Filho e parte do elenco em Cannes. O filme em si não tem nenhuma construção de abordagem ideológica entre direita e esquerda e as pessoas perdem a oportunidade de ter uma boa experiência cinematográfica por pura birra. Deviam boicotar é os textos do Reinaldo Azevedo.
Apesar de não termos um filme tão bem construído quanto "Que Horas Ela Volta?", Anna Muylaert nos apresenta uma obra com várias nuances, a partir do choque que foi Pierre ter descoberto que quem achava ser sua mãe o tinha roubado e ter que aprender a conviver com uma família que é completamente diferente da em que foi criado. Nesse ambiente, a sexualidade desse personagem acaba aflorando não como uma forma de contestar o choque de realidades que vem passando, mas sim como uma autoafirmação, pra tentar se proteger daquele caos. O filme é curto e, assim, algumas situações não são muito bem desenvolvidas, como a convivência com a mulher que roubou Pierre ou o próprio crime e isso ocorre justamente de forma consciente, buscando enfatizar esse momento de transição. Mal posso esperar pelos próximos filmes da Anna Muylaert, que parece ainda ter várias histórias interessantes pra nos mostrar.
"Holding the Man" é um filme cativante e possui algumas abordagens que foram inesperadas pra mim. A obra basicamente se divide em duas: Tim e John se conhecendo, se descobrindo sexualmente e nutrindo uma relação em uma sociedade que era muito mais preconceituosa e homofóbica do que hoje em dia e em seguida, os dois
tendo que lidar com a AIDS, que foi foi uma tragédia na década de 80 e segue sem cura, apesar dos vários avanços.
Em resumo, é uma história de amor, mesmo nas adversidades (que não foram poucas) e ver uma relação (que realmente existiu) de tanta dedicação é bastante emocionante.
"Feliz Aniversário Para Mim" foi uma grata surpresa. O filme começa com um ritmo um pouco mais lento (após o primeiro assassinato, claro) e vai ganhando fôlego com o passar do tempo, pra nos surpreender com suas reviravoltas que se iniciam na metade e se desdobram no finzinho. Assistir muitos filmes do gênero nos faz achar a maioria dos trabalhos previsíveis e é ótima a sensação de ser surpreendido, após criar suas próprias teorias. Apesar do final um pouco corrido e com alguns furos de roteiro, o desfecho consegue ser icônico, mesmo pra um filme que é bem pouco conhecido.
A premissa de "Pets" parecia ser bem interessante e de certa forma inovadora, mas eu só consegui ver reciclarem "Toy Story" de todas as formas: os animais que se comportam diferente na ausência de humanos, o novo companheiro que acaba gerando intriga em casa, esses dois sujeitos e perdendo e aprendendo a conviver (Buzz Lightyear e Woody) e os amigos procurando eles. Mas tirando a falta de criatividade, é um entretenimento satisfatório, com uma qualidade visual incrível e vários momentos divertidos. Pra se ver sem grandes expectativas.
Mesmo não sendo um filme imperdível e inovador e ter inúmeras situações inverossímeis, "Águas Rasas" é uma obra com um bom valor de entretenimento, que segura bem seus quase 90min de duração, com uma direção competente e a atuação segura da Blake Lively (que eu tenho admirado cada vez mais). É inevitável fazer comparações com "Tubarão", principalmente em decorrência dos vários planos do ponto de vista do animal, embaixo d'água. As imagens paradisíacas e tomadas abertas mostrando uma natureza maravilhosa também são boas e, apesar do final meio que (totalmente) impossível, é uma obra que consegue ser acima da média.
Por mais que "Café Society" mostre Woody Allen em sua zona de conforto, com uma trama que lembra muito filmes anteriores seus e situações já bastante debatidas, como a família de judeus, o triângulo amoroso e o protagonista neurótico (Jesse Eisenberg é o alter ego do Woody Allen), a obra é encantadora visualmente, nos mostrando a Era de Ouro de Hollywood com um design de produção impecável e uma fotografia magnífica, além de atuações competentes, onde eu destacaria além do Eisenberg, a Kristen Stewart, bastante segura em seu papel e que cada vez mais vem evoluindo como atriz (até esquecemos que ela fez a péssima trilogia "Crepúsculo"). Por mais que não seja um Woody Allen marcante, um filme mediano seu é sempre bastante superior a grande maioria do que é produzido atualmente.
"Aquarius" renova meu amor pelo cinema nacional, com um dos melhores filmes atuais de nosso cinema. O cerne da obra é basicamente o afeto que Clara tem com seu apartamento, cheio de memórias de uma vida feliz, em um espaço que tem um significado especial para essa mulher, que vale mais do que uma boa indenização ou um novo apartamento moderno. O filme trata sobre essa resistência, em não deixar seus valores e crenças de lado e em lutar pelo que se acha certo, diante de um capitalismo avassalador, que nos mostra um mercado imobiliário cruel, que sepulta a história das pessoas e da cidade em nome do lucro.
E não tem como falar de "Aquarius" sem citar a fenomenal interpretação de Sônia Braga (provavelmente a melhor de sua carreira - e isso não é pouca coisa), cheia de sutilezas, onde muitas vezes gestos e olhares dizem mais que diálogos e o filme funciona justamente em função dela, que é o corpo e a alma do filme e que nos emociona em várias passagens.
Apesar de todas as discussões políticas (muito mais pela posição de Kleber Mendonça Filho e de parte do elenco em Cannes), em "Aquarius" não há nenhuma discussão entre direita e esquerda ou de qualquer forma panfletária. O filme fala muito da resistência de seu povo, das desigualdades sociais, da construção de caráter que independe de onde você estudou e quanto dinheiro você tem (e a discussão de Clara e Diego no estacionamento é maravilhosa nesse sentido) e da importância que devemos dar ao espaço em que vivemos. Todos temas abordados de forma maravilhosa e eu espero muito que seja a obra que represente o Brasil no Oscar (mais que merecido).
Outro detalhe muito bem explorado é a trilha sonora excelente, onde nenhuma música está ali de graça e faz parte de um contexto, dialoga com os personagens e as situações vividas. Escutar no filme Queen, Altemar Dutra, Gilberto Gil, Taiguara, Mateus Alves, Maria Bethânia, Reginaldo Rossi, Roberto Carlos, Vinícius de Moraes, Alcione foi ainda mais engrandecedor.
Não acho que o final seja problemático. Filmes não precisam ser enfadonhos e diretos ao ponto de esmiuçar tudo e muitas coisas podem ficar subentendidas pelo telespectador (que tem essa capacidade) e o corte final é perfeito. Enfim, mais um clássico de nosso cinema!
Apesar de todas as reflexões, sempre presentes nos filmes do Bergman, "Uma Lição de Amor" é um filme leve, com vários alívios cômicos e que é bem agradável de se assistir. A química entre Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand é muito grande e isso faz com que a obra flua bem, entre discussões, flashbacks e reflexões sobre a manutenção de um relacionamento longo, mesmo com episódios de infidelidade. Por mais que não seja um Bergman marcante, não deixa de ser um Bergman indispensável.
"Julieta" traz um Almodóvar mais contido nas extravagâncias, apesar de seu visual marcante estar ali, com a estética kirsch e a grande utilização do vermelho em praticamente todas as cenas. O roteiro é simples e a obra está longe de ser uma das melhores do diretor, mas a direção eficiente, a história cativante e as boas atuações de Emma Suárez e Adriana Ugarte, além da pequena e sensacional participação de Rossy de Palma, são alguns dos pontos fortes.
"Julieta" me tocou especificamente por sua abordagem em lidar com as consequências do passado, com culpas e aprender a seguir em frente, apesar das intempéries. Como Antia
sempre buscamos culpados por algo que aconteceu e não conseguimos superar, o que muitas vezes acaba se resolvendo quando temos empatia para estar na pele do outro e entender melhor suas dores, o que só aconteceu quando a Antia perdeu um filho e sentiu a dor de sua mãe.
Dá um pouco de incômodo por "Julieta" ter terminado quando ainda restava fôlego, quando queríamos ver um momento marcante, mas apesar disso, todas as resoluções já tinham sido feitas e era desnecessário ser clichê ao ponto de mostrar um provável "happy ending" (que a gente nem sabe se acontece). O difícil agora é esperar por um próximo filme do diretor, que eu espero que não demore muito para nos deixar admirados com seu cinema singular.
"Vicky Cristina Barcelona" é fruto de um momento de inovação do Woody Allen, não só por deixar Nova Yorke um pouco de lado e começar a gravar por vários países da Europa, mas por fazer abordagens de gêneros diferentes do que havia feito até então e talvez o mais marcante desse período seja "Match Point", que é completamente diferente de tudo o que diretor já tinha feito (apesar de já ter feito algumas abordagens sobre as consequências do assassinato e impunidade antes).
Aqui, temos definitivamente o filme mais sexy de sua carreira, mas é sensual de uma foma que não precisa mostrar sexo ou nudez, mas insinuar (como o Woody gosta de fazer) e abordar o sexo e relacionamentos sobre diferentes ângulos. Foi um dos primeiros filmes do diretor/roteirista que assisti e de cara gostei bastante e me motivou a "devorar" toda sua filmografia. Gosto de todos os elementos: o narrador sempre presente, a trilha sonora, a fotografia e cenários deslumbrantes de Barcelona, e claro, o fantástico quarteto Rebecca Hall/Scarlett Johansson/Javier Bardem/Penélope Cruz, que transpiram sensualidade e nos deixam interessados em todos os dilemas de seus personagens. Adoro as diferentes personalidades da Vicky e da Cristina e me identifico muito com essa última e toda sua sensibilidade e como se sente deslocada do mundo procurando sentido e que tem um diálogo que me representa muito e que não tem como não destacar aqui:
"Eu só tenho que encarar o fato de que não sou talentosa, sabe? Eu consigo apreciar a arte e adoro música, mas... É triste, realmente, porque eu sinto que tenho muito a expressar e não tenho talento".
O filme, em resumo é leve, tem um ritmo delicioso e acompanhar a personagem surtada da Penélope falando em espanhol é uma maravilha. E claro, o Allen sempre se preocupa em deixar clichês de lado e o final pode não agradar alguns, mas com certeza é inesperado, já que
a Vicky, com sua mania de estabilidade, não vai agir impulsivamente e destruir seu futuro casamento e vida planejada, mesmo que anteveja seu futuro infeliz e a Cristina vai se cansar do poliamor e descobrir que apesar de não ter certeza do que quer da vida e ter se aprofundado naquele relacionamento que a fez uma pessoa melhor, não é o que quer da vida a partir de então.
Enfim, um dos meus favoritos do Woody Allen. E isso não é pouca coisa, diante da sua extensa filmografia.
"O Filho da Noiva" poderia facilmente ser um drama clichê, protagonizado por alguém totalmente desconectado das pessoas que ama e que, após sofrer um problema de saúde, passa a prestar atenção as pessoas à sua volta. Mas o filme é muito mais do que isso, sem melodramas baratos, com uma pitada de humor, diálogos afiados e atuações eficientes, principalmente por parte de Norma Aleandro. A obra trata de renovação, de ressignificação e de dar a devida importância às pessoas que amamos, além de nos fazer encarar o problema do Alzheimer, que apesar de ser bastante grave, não pode impossibilitar que nutramos amor pela pessoa vítima da doença.
Namorados para Sempre
3.6 2,5K Assista Agora"Blue Valentine" é o tipo de romance verossímil que me agrada, por mais que a realidade mostrada seja cruel e te deixe apreensivo. Michelle Williams e Ryan Gosling estão ótimos e possuem uma química surpreendente, aliado a uma boa direção e ao bom recurso de intercalar o presente caótico com o passado do início de relação em que os protagonistas vão se conhecendo também em meio à vários conflitos.
E o final também é bastante angustiante e foge de qualquer "happy ending" esperado, como a realidade.
Cada Um na Sua Casa
3.7 574 Assista AgoraComo animação, "Home" pode ser considerado aquele filme que cumpre seu papel de diversão, mostrando uma história de superação e de autoconhecimento através da amizade de seres diferentes e que precisam amadurecer. É previsível e sem muita criatividade, mas é fofo. Porém, o diferencial e que me deixou encantado pela animação, além da dublagem competente da Rihanna, é a grande representatividade que o filme possui através da diversidade. São raras as animações protagonizadas por crianças negras e de cabelos crespos e a diversidade ainda se espraia por todos os personagens figurantes, o que também raramente acontece em outras animações, onde os personagens ao redor são sempre brancos.
Toda a identidade dos Boovs e as mudanças de temperamentos e de cor do Oh (lembra bastante os sentimentos de "Divertida Mente") são até certo ponto interessantes, mas em determinado momentos ficam enfadonhas e repetitivas, mas os personagens que realmente são adoráveis são a Tip e seu gato, que fazem o filme funcionar.
Cloverfield: Monstro
3.2 1,4K Assista AgoraNão fazia a mínima questão de assistir "Cloverfield", mas o ótimo "Rua Cloverfield, 10" e a curiosidade sobre o mesmo universo de realidade me deixaram intrigado em assisti-lo. Confesso que o gênero Found Footage, que saturou após o sucesso de "A Bruxa de Blair" não é dos meus preferidos, mas se bem utilizado, pode render filmes interessantes, como é o caso de "Cloverfield", que consegue nos deixar apreensivos e incomodados por estarmos diante da perspectiva do olhar de quem está gravando, não ter noção exata do que ocorre ao redor e nos causar tensão, isso aliado a efeitos visuais eficientes. Claro, há inúmeras situações inverossímeis, como
os personagens gravemente feridos e subindo/descendo vários lances de escada e sobreviver a queda de helicóptero, fora o filme não explicar o que está acontecendo e que criatura é aquela que está atacando Nova York, o que particularmente não chega a me incomodar,
Educação
3.8 1,2K Assista Agora"Educação" é muito menos um romance e muito mais um drama sobre escolhas, em um momento da vida cheio de incertezas sobre o que o futuro reserva, ainda mais para uma mulher na década de 60. É interessante toda as autodesconstruções feitas pela personagem adorável que é a Jenny, decidindo largar uma futura carreira por um amor que a tirou da monotonia em que vivia, e depois
descobrir que todo o seu relacionamento foi baseado em mentiras, se arrepender das escolhas anteriormente feitas, com muita maturidade e sem orgulho, e continuar em seus planos anteriores.
A vida é assim, cheia de avanços e retrocessos e uma escolha, por mais drástica que seja, não pode impedir você de se arrepender e voltar aos planos de antes. "Educação" é um filme adorável com seu ar melancólico e toda a ótima produção de época e a Carey Mulligan, que é uma atriz que cada vez gosto mais, interpreta a doce Jenny de uma forma cativante.
Party Monster
3.8 371 Assista AgoraPra muitos, como eu, a curiosidade em assistir "Party Monster" se deve mais ao Macaulay Culkin e a total desconstrução de imagem que temos dele como ex-garoto-prodígio da década de 90 e esse deve ter sido o último filme relevante de sua carreira instável. E o ator consegue convencer na pele do clubber viciado, com todas as "afetações" e visual alucinado. E também deve ser citada a atuação competente do Seth Green, que também convence no papel e faz um personagem cativante.
A princípio, me incomodou a linguagem do filme, com suas idas e vindas iniciais e a fotografia "suja", simulando um filme amador, mas aos poucos fui me acostumando e percebendo que aquela era a linguagem ideal pra a obra, mostrando o submundo clubber de Nova York e toda a alucinação psicodélica das viagens nas drogas.
Bronson
3.8 426Apesar da não-convencionalidade de "Bronson" ter me incomodado em alguns momentos (mesmo com a utilidade da parte teatral, por exemplo, ela não me cativou), o que atrapalhou um pouco a fluidez da obra, temos um estudo de personalidade, com um sujeito singular que realmente se encontrava na violência e na prisão, e isso por si só já é suficiente pra uma história interessante. Mas além disso, temos uma atuação visceral do Tom Hardy, que se despe completamente (e literalmente) de qualquer amarra para se entregar a um papel de inúmeras facetas e que possui uma grande expressividade no olhar e nos gestos.
E claro, a trilha sonora é uma maravilha!
Deixa Ela Entrar
4.0 1,6K"Deixa Ela Entrar" me surpreendeu pela abordagem "vampiresca" realista, tanto que eu custei a acreditar que essa seria uma das abordagens, já que a trama se inicia com um drama, envereda pelo bullying e nos mostra toda uma atmosfera de tédio e melancolia em uma Estocolmo tomada pela neve. Mas aos poucos, o problema de Eli vai sendo enfatizado, assim a construção sensível do relacionamento entre ela e Oskar.
Por mais que vejamos um tema fantasioso, ele é abordado de uma maneira que nos parece real, assim como os personagens cativantes, com todos os seus problemas por serem deslocados no mundo. É realmente uma obra que não passa despercebida.
Julie & Julia
3.6 1,1K Assista Agora"Julie & Julia" é um filme simples e delicioso de se assistir, muito pelas atuações competentes e cativantes da Meryl Streep e Amy Adams, em duas histórias, com propósitos diferentes, mas de busca pelo seu lugar no mundo, que encontram através da cozinha.
Por mais que não seja uma obra imperdível, cumpre sua função de entretenimento, com uma trama eficiente.
Os Invasores de Corpos
3.7 191 Assista Agora"Os Invasores de Corpos" foi uma grata surpresa, unindo terror, ficção científica e tensão psicológica de forma eficiente, com um elenco afinado, uma direção competente e um gore adequado. O grande destaque é o clima de tensão pela desconfiança de todos ao redor, que vai nos deixando tão neuróticos quanto os personagens principais.
Agora preciso conhecer o clássico do Don Siegel, de 1956.
O Universo No Olhar
4.2 1,3K"I Origins" claramente se divide em duas partes: na primeira metade, temos o Ian tentando provar suas teses científicas e construíndo uma relação com Sofi; é basicamente um romance, com vários momentos reflexivos sobre a existência humana, onde a relação entre uma pessoa cética e outra com várias crenças que não podem ser explicadas cientificamente acabam gerando debates interessantes. A segunda, após a tragédia da metade do filme, mistura drama e ficção científica e é basicamente a refutação e desconstrução de muita coisa que o Ian acreditava. A cena final possui uma sutileza incrível e após o filme, ficamos refletindo sobre o sentido da vida e de que naturalmente muita coisa nunca vai fazer sentido e ser explicada cientificamente, mas que as nossas crenças continuam sendo importantes para nosso crescimento pessoal.
Holy Motors
3.9 652"Holy Motors" é aquele tipo de filme cheio de simbolismos que é praticamente impossível você absorver todas as mensagens (acho que mesmo revendo), mas que se você deixar se levar pela obra, ela consegue prender sua atenção e ser imensamente instigante, mesmo que não faça sentido. O filme, além de poder fazer referência aos vários papéis e identidades que temos na vida, parece ser uma obra dedicada ao cinema, não só à dedicação do ator em desenvolver cada personagem (e nesse sentido, o Denis Lavant está incrível), mas também uma crítica ao cinema de massa, com suas fórmulas pré-fabricadas e sua necessidade de se explicar minimamente.
Certamente é um filme que não passa em branco e não agrada a todos, mas também certamente é uma obra que merece ser apreciada e debatida.
Se Eu Ficar
3.5 1,9K Assista Agora"Se Eu Ficar" possui aqueles elementos clichês de romamnces de adolescentes, mas o acidente, a decisão que a protagonista precisa tomar e os flashbacks deixam a trama um pouco mais interessante.
A Chloë Grace Moretz possui uma grande presença de cena, mas ainda precisa evoluir bastante pra se tornar uma atriz melhor, apesar de que sua interpretação aqui é eficiente e cumpre seu papel em um romance-espírita-auto-ajuda-previsível.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraAssisti ontem "Aquarius" pela segunda vez e poucos filmes me fazem ter essa ânsia de rever ainda no cinema, já que a obra precisa ser bastante envolvente. E essa revisitação foi tão agradável quanto a primeira, comigo me pegando sorrindo e emocionado em várias cenas e deslumbrado com a atuação espetacular da Sônia Braga (não é exagero dizer que é uma das melhores de nosso cinema).
Uma pena o filme não ter sido valorizado (evidentemente por questões políticas) pelo nosso Ministério da Cultura e não ser o nosso representante no Oscar, mas ele já vem fazendo grande sucesso em nosso país e no exterior e a atuação da Sônia não vai passar em branco.
___
Ps.: Me impressiona a quantidade de "haters" do filme, que se deve à manifestação do Kleber Mendonça Filho e parte do elenco em Cannes. O filme em si não tem nenhuma construção de abordagem ideológica entre direita e esquerda e as pessoas perdem a oportunidade de ter uma boa experiência cinematográfica por pura birra. Deviam boicotar é os textos do Reinaldo Azevedo.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraApesar de não termos um filme tão bem construído quanto "Que Horas Ela Volta?", Anna Muylaert nos apresenta uma obra com várias nuances, a partir do choque que foi Pierre ter descoberto que quem achava ser sua mãe o tinha roubado e ter que aprender a conviver com uma família que é completamente diferente da em que foi criado.
Nesse ambiente, a sexualidade desse personagem acaba aflorando não como uma forma de contestar o choque de realidades que vem passando, mas sim como uma autoafirmação, pra tentar se proteger daquele caos.
O filme é curto e, assim, algumas situações não são muito bem desenvolvidas, como a convivência com a mulher que roubou Pierre ou o próprio crime e isso ocorre justamente de forma consciente, buscando enfatizar esse momento de transição.
Mal posso esperar pelos próximos filmes da Anna Muylaert, que parece ainda ter várias histórias interessantes pra nos mostrar.
O Amor é Para Todos
4.0 333"Holding the Man" é um filme cativante e possui algumas abordagens que foram inesperadas pra mim. A obra basicamente se divide em duas: Tim e John se conhecendo, se descobrindo sexualmente e nutrindo uma relação em uma sociedade que era muito mais preconceituosa e homofóbica do que hoje em dia e em seguida, os dois
tendo que lidar com a AIDS, que foi foi uma tragédia na década de 80 e segue sem cura, apesar dos vários avanços.
Em resumo, é uma história de amor, mesmo nas adversidades (que não foram poucas) e ver uma relação (que realmente existiu) de tanta dedicação é bastante emocionante.
Feliz Aniversário Para Mim
3.1 132 Assista Agora"Feliz Aniversário Para Mim" foi uma grata surpresa. O filme começa com um ritmo um pouco mais lento (após o primeiro assassinato, claro) e vai ganhando fôlego com o passar do tempo, pra nos surpreender com suas reviravoltas que se iniciam na metade e se desdobram no finzinho. Assistir muitos filmes do gênero nos faz achar a maioria dos trabalhos previsíveis e é ótima a sensação de ser surpreendido, após criar suas próprias teorias. Apesar do final um pouco corrido e com alguns furos de roteiro, o desfecho consegue ser icônico, mesmo pra um filme que é bem pouco conhecido.
Pets: A Vida Secreta dos Bichos
3.5 937 Assista AgoraA premissa de "Pets" parecia ser bem interessante e de certa forma inovadora, mas eu só consegui ver reciclarem "Toy Story" de todas as formas: os animais que se comportam diferente na ausência de humanos, o novo companheiro que acaba gerando intriga em casa, esses dois sujeitos e perdendo e aprendendo a conviver (Buzz Lightyear e Woody) e os amigos procurando eles.
Mas tirando a falta de criatividade, é um entretenimento satisfatório, com uma qualidade visual incrível e vários momentos divertidos.
Pra se ver sem grandes expectativas.
Águas Rasas
3.4 1,3K Assista AgoraMesmo não sendo um filme imperdível e inovador e ter inúmeras situações inverossímeis, "Águas Rasas" é uma obra com um bom valor de entretenimento, que segura bem seus quase 90min de duração, com uma direção competente e a atuação segura da Blake Lively (que eu tenho admirado cada vez mais). É inevitável fazer comparações com "Tubarão", principalmente em decorrência dos vários planos do ponto de vista do animal, embaixo d'água. As imagens paradisíacas e tomadas abertas mostrando uma natureza maravilhosa também são boas e, apesar do final meio que (totalmente) impossível, é uma obra que consegue ser acima da média.
Café Society
3.3 530 Assista AgoraPor mais que "Café Society" mostre Woody Allen em sua zona de conforto, com uma trama que lembra muito filmes anteriores seus e situações já bastante debatidas, como a família de judeus, o triângulo amoroso e o protagonista neurótico (Jesse Eisenberg é o alter ego do Woody Allen), a obra é encantadora visualmente, nos mostrando a Era de Ouro de Hollywood com um design de produção impecável e uma fotografia magnífica, além de atuações competentes, onde eu destacaria além do Eisenberg, a Kristen Stewart, bastante segura em seu papel e que cada vez mais vem evoluindo como atriz (até esquecemos que ela fez a péssima trilogia "Crepúsculo").
Por mais que não seja um Woody Allen marcante, um filme mediano seu é sempre bastante superior a grande maioria do que é produzido atualmente.
Aquarius
4.2 1,9K Assista Agora"Aquarius" renova meu amor pelo cinema nacional, com um dos melhores filmes atuais de nosso cinema. O cerne da obra é basicamente o afeto que Clara tem com seu apartamento, cheio de memórias de uma vida feliz, em um espaço que tem um significado especial para essa mulher, que vale mais do que uma boa indenização ou um novo apartamento moderno. O filme trata sobre essa resistência, em não deixar seus valores e crenças de lado e em lutar pelo que se acha certo, diante de um capitalismo avassalador, que nos mostra um mercado imobiliário cruel, que sepulta a história das pessoas e da cidade em nome do lucro.
E não tem como falar de "Aquarius" sem citar a fenomenal interpretação de Sônia Braga (provavelmente a melhor de sua carreira - e isso não é pouca coisa), cheia de sutilezas, onde muitas vezes gestos e olhares dizem mais que diálogos e o filme funciona justamente em função dela, que é o corpo e a alma do filme e que nos emociona em várias passagens.
Apesar de todas as discussões políticas (muito mais pela posição de Kleber Mendonça Filho e de parte do elenco em Cannes), em "Aquarius" não há nenhuma discussão entre direita e esquerda ou de qualquer forma panfletária. O filme fala muito da resistência de seu povo, das desigualdades sociais, da construção de caráter que independe de onde você estudou e quanto dinheiro você tem (e a discussão de Clara e Diego no estacionamento é maravilhosa nesse sentido) e da importância que devemos dar ao espaço em que vivemos. Todos temas abordados de forma maravilhosa e eu espero muito que seja a obra que represente o Brasil no Oscar (mais que merecido).
Outro detalhe muito bem explorado é a trilha sonora excelente, onde nenhuma música está ali de graça e faz parte de um contexto, dialoga com os personagens e as situações vividas. Escutar no filme Queen, Altemar Dutra, Gilberto Gil, Taiguara, Mateus Alves, Maria Bethânia, Reginaldo Rossi, Roberto Carlos, Vinícius de Moraes, Alcione foi ainda mais engrandecedor.
Não acho que o final seja problemático. Filmes não precisam ser enfadonhos e diretos ao ponto de esmiuçar tudo e muitas coisas podem ficar subentendidas pelo telespectador (que tem essa capacidade) e o corte final é perfeito.
Enfim, mais um clássico de nosso cinema!
Uma Lição de Amor
3.9 17Apesar de todas as reflexões, sempre presentes nos filmes do Bergman, "Uma Lição de Amor" é um filme leve, com vários alívios cômicos e que é bem agradável de se assistir. A química entre Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand é muito grande e isso faz com que a obra flua bem, entre discussões, flashbacks e reflexões sobre a manutenção de um relacionamento longo, mesmo com episódios de infidelidade. Por mais que não seja um Bergman marcante, não deixa de ser um Bergman indispensável.
Julieta
3.8 529 Assista Agora"Julieta" traz um Almodóvar mais contido nas extravagâncias, apesar de seu visual marcante estar ali, com a estética kirsch e a grande utilização do vermelho em praticamente todas as cenas. O roteiro é simples e a obra está longe de ser uma das melhores do diretor, mas a direção eficiente, a história cativante e as boas atuações de Emma Suárez e Adriana Ugarte, além da pequena e sensacional participação de Rossy de Palma, são alguns dos pontos fortes.
"Julieta" me tocou especificamente por sua abordagem em lidar com as consequências do passado, com culpas e aprender a seguir em frente, apesar das intempéries. Como Antia
sempre buscamos culpados por algo que aconteceu e não conseguimos superar, o que muitas vezes acaba se resolvendo quando temos empatia para estar na pele do outro e entender melhor suas dores, o que só aconteceu quando a Antia perdeu um filho e sentiu a dor de sua mãe.
Dá um pouco de incômodo por "Julieta" ter terminado quando ainda restava fôlego, quando queríamos ver um momento marcante, mas apesar disso, todas as resoluções já tinham sido feitas e era desnecessário ser clichê ao ponto de mostrar um provável "happy ending" (que a gente nem sabe se acontece).
O difícil agora é esperar por um próximo filme do diretor, que eu espero que não demore muito para nos deixar admirados com seu cinema singular.
Vicky Cristina Barcelona
3.8 2,1K"Vicky Cristina Barcelona" é fruto de um momento de inovação do Woody Allen, não só por deixar Nova Yorke um pouco de lado e começar a gravar por vários países da Europa, mas por fazer abordagens de gêneros diferentes do que havia feito até então e talvez o mais marcante desse período seja "Match Point", que é completamente diferente de tudo o que diretor já tinha feito (apesar de já ter feito algumas abordagens sobre as consequências do assassinato e impunidade antes).
Aqui, temos definitivamente o filme mais sexy de sua carreira, mas é sensual de uma foma que não precisa mostrar sexo ou nudez, mas insinuar (como o Woody gosta de fazer) e abordar o sexo e relacionamentos sobre diferentes ângulos. Foi um dos primeiros filmes do diretor/roteirista que assisti e de cara gostei bastante e me motivou a "devorar" toda sua filmografia. Gosto de todos os elementos: o narrador sempre presente, a trilha sonora, a fotografia e cenários deslumbrantes de Barcelona, e claro, o fantástico quarteto Rebecca Hall/Scarlett Johansson/Javier Bardem/Penélope Cruz, que transpiram sensualidade e nos deixam interessados em todos os dilemas de seus personagens. Adoro as diferentes personalidades da Vicky e da Cristina e me identifico muito com essa última e toda sua sensibilidade e como se sente deslocada do mundo procurando sentido e que tem um diálogo que me representa muito e que não tem como não destacar aqui:
"Eu só tenho que encarar o fato de que não sou talentosa, sabe? Eu consigo apreciar a arte e adoro música, mas... É triste, realmente, porque eu sinto que tenho muito a expressar e não tenho talento".
O filme, em resumo é leve, tem um ritmo delicioso e acompanhar a personagem surtada da Penélope falando em espanhol é uma maravilha. E claro, o Allen sempre se preocupa em deixar clichês de lado e o final pode não agradar alguns, mas com certeza é inesperado, já que
a Vicky, com sua mania de estabilidade, não vai agir impulsivamente e destruir seu futuro casamento e vida planejada, mesmo que anteveja seu futuro infeliz e a Cristina vai se cansar do poliamor e descobrir que apesar de não ter certeza do que quer da vida e ter se aprofundado naquele relacionamento que a fez uma pessoa melhor, não é o que quer da vida a partir de então.
Enfim, um dos meus favoritos do Woody Allen. E isso não é pouca coisa, diante da sua extensa filmografia.
O Filho da Noiva
4.1 297"O Filho da Noiva" poderia facilmente ser um drama clichê, protagonizado por alguém totalmente desconectado das pessoas que ama e que, após sofrer um problema de saúde, passa a prestar atenção as pessoas à sua volta. Mas o filme é muito mais do que isso, sem melodramas baratos, com uma pitada de humor, diálogos afiados e atuações eficientes, principalmente por parte de Norma Aleandro.
A obra trata de renovação, de ressignificação e de dar a devida importância às pessoas que amamos, além de nos fazer encarar o problema do Alzheimer, que apesar de ser bastante grave, não pode impossibilitar que nutramos amor pela pessoa vítima da doença.