Consegue ser um exercício pleno da espera da consequência - ou não. A discussão classista é muito sutil, está sucumbida aos pequenos detalhes, no ordinário, e é exatamente nisso que triunfa. Na criação desse microcosmo claustrofóbico, onde muito se concentra no movimento da janela dos carros, tem-se na introspectividade da imagem um poder de assombro absurdo. É um filme que na sua apresentação realiza ser palpável, até demais.
O Chan consegue tão bem moldar o tempo com cortes (e recortes) da vida dos amigos-amantes, duas pessoas que são um acontecimento milagroso naquela Hong Kong engolida por uma globalização capitalista que sufoca, une e afasta. Recomendação única para quem busca ser compensado mesmo em meio a tanto caos.
Hoje eu não tirei da cabeça os sambas interpretados por Grande Otelo e tampouco a emblemática cena do trem. O berço do cinema novo é divino maravilhoso.
Boudu cuspir num Balzac é um gesto alegórico que em si resume toda a intenção do filme em sua crítica ao 'paternalismo' burguês, seus valores e sua moral, enquanto busca uma atitude completamente anárquica, desestruturante.
Muito além de mostrar o outro lado da moeda que veio como consequência da Revolução Russa, é exaltar o íntimo dos indivíduos e a "voz solitária do homem" que por mais que tente se fazer ouvir, na maioria das vezes, apenas lhe volte o eco. Com isso há a inquieta e desesperadora busca humana de algo que parece impossível de almejar e a falta de um sentido real nesse mundo que impulsione o sentido de existência. A nova reforma política/econômica da Perestroika permitiu a recuperação desse filme, ainda bem, imaginem a enorme perda para o cinema.
Primeira experiência com o giallo de Lucio Fulci e fui positivamente surpreendida. Num primeiro olhar esse filme parece único sob os outros do gênero, tanto pelas montagens psicodélicas primorosamente elaboradas com cortes rápidos para gerar o suspense, como a maneira de narrar a história para o clímax ao final (explorar a psicologia e os sonhos para esse fim).
Com certeza o mais interessante é o estilo autoral para abordar o tema do distanciamento em uma relação rodeada pela mesquinhez burguesa, pelo contrato formal entre um casal. Mesmo alguns pontos me incomodando na duração do filme, entendo ser o estilo do Antonioni.
Amor e felicidade discutidos com o pano de fundo do coletivismo soviético e pelos olhos sensíveis de Muratova. As cores no filme trouxeram possibilidades de explorar melhor cenários e emoções; e flores, muitas flores vermelhas, evocando esses símbolos.
Discussão bem típica do Miklós Jancsó sobre o poder da ala conservadora de direita, ''...eu mataria meu próprio pai se me ordenassem.'' Ele lida muito bem em mostrar uma cultura construída na virtude de obedecer às cegas e como a hierarquia dita o modus vivendi desses indivíduos onde qualquer capacidade de humanismo é nula. As mulheres, que aos olhos dos condutores de poder não passam de um mero objeto de manipulação, na verdade exercem grande poder na trama em conspirar à sua maneira contra os mesmos. A câmera dançante do Jancsó completa a trama inserindo um ar sombrio e melancólico aos acontecimentos.
Balzac pós-moderno. ''Enquanto existir a pobreza, você não é rico. Enquanto existir o sofrimento, você não é feliz. Enquanto existirem as prisões, você não é livre.''
Como ajudante e seguidor de Tarkovsky, Lopushansky emula o cenário pós-apocalíptico nuclear tal como no filme Stalker, mas dando a sua tônica (seus próprios conflitos existenciais, sua própria estética). Tirando a inevitável comparação entre professor e aluno, a narrativa do filme acabou saindo um pouco dos trilhos. Porém, ele tem a sua importância dentro do cenário de ficção científica do período soviético, e é deslumbrante o uso da fotografia, que remete ao expressionismo alemão nos cenários vermelhos e amarelados.
O pesadelo americano. Steinbeck foi audacioso em sua época e não teve medo da perseguição das autoridades ao retratar a Grande Depressão na obra As Vinhas da Ira. Ford, ao transpassar na tela em 1940, foi tão audacioso quanto. Há uma série de questões presentes em ambos que são de extrema importância e atemporais: a relação entre homem e terra; a estranheza seguida da alienação provocadas pela separação do homem e suas ferramentas/meio de trabalho; o preconceito entre os próprios norte-americanos por aqueles que migram; a unidade e a comunidade que acabam balançadas; o medo gerado pelo êxodo e a falta de trabalho, entre indivíduos que só gostariam de sobreviver e não conseguem. Se fermenta a ira, e um grito abafado por uma transformação profunda nas condições de vida. Os ciclos do capital são implacáveis e a ira dos homens, inevitável. Apesar de datado, dá para se tirar muito de Vinhas da Ira, mantendo uma ideia lúcida entre nós: ''os ricos nascem, morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos. Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo.''
Isto é novo na Renascença: o homem consciente de si mesmo, consequentemente, consciente de suas ações e de seus erros. Na peça (e também no filme) é apresentada uma mudança drástica de situação, diversas reviravoltas e a queda do personagem principal por uma falha trágica, seu erro foi se tornar cego diante do poder que tinha em mãos. Esta tragédia está ligada principalmente a queda de um dado prestígio e de uma alta posição social. O centro de poder, a figura de Lear, se segue de usurpação e morte, fazendo uma analogia às crises políticas da época. A tragédia renascentista mistura elementos inimagináveis: um rei e um bobo, o que seria as classes subalternas zombando de seus superiores. É importante ressaltar que toda a história não resulta de forças superiores mas sim da própria ação humana, o que leva o público à reflexão de sua própria condição individual e coletiva.
A Mulher Sem Cabeça
3.5 63Consegue ser um exercício pleno da espera da consequência - ou não. A discussão classista é muito sutil, está sucumbida aos pequenos detalhes, no ordinário, e é exatamente nisso que triunfa. Na criação desse microcosmo claustrofóbico, onde muito se concentra no movimento da janela dos carros, tem-se na introspectividade da imagem um poder de assombro absurdo. É um filme que na sua apresentação realiza ser palpável, até demais.
Companheiros, Quase Uma História de Amor
4.3 30O Chan consegue tão bem moldar o tempo com cortes (e recortes) da vida dos amigos-amantes, duas pessoas que são um acontecimento milagroso naquela Hong Kong engolida por uma globalização capitalista que sufoca, une e afasta. Recomendação única para quem busca ser compensado mesmo em meio a tanto caos.
Amor à Flor da Pele
4.3 500 Assista AgoraBrief Encounter chinês quando a chave da união é certamente uma revista de artes marciais.
Rio, Zona Norte
4.2 50Hoje eu não tirei da cabeça os sambas interpretados por Grande Otelo e tampouco a emblemática cena do trem. O berço do cinema novo é divino maravilhoso.
Boudu Salvo das Águas
3.8 18Boudu cuspir num Balzac é um gesto alegórico que em si resume toda a intenção do filme em sua crítica ao 'paternalismo' burguês, seus valores e sua moral, enquanto busca uma atitude completamente anárquica, desestruturante.
O Outono
3.1 7A referência das mãos à la Bresson no final.
Hotel Monterey
3.9 4 Assista AgoraChantal e sua estética do confinamento... Claustrofóbico, distante, aprisionado; como essa sociedade pós-moderna só haveria de ser.
A Voz Solitária do Homem
3.8 6Muito além de mostrar o outro lado da moeda que veio como consequência da Revolução Russa, é exaltar o íntimo dos indivíduos e a "voz solitária do homem" que por mais que tente se fazer ouvir, na maioria das vezes, apenas lhe volte o eco. Com isso há a inquieta e desesperadora busca humana de algo que parece impossível de almejar e a falta de um sentido real nesse mundo que impulsione o sentido de existência. A nova reforma política/econômica da Perestroika permitiu a recuperação desse filme, ainda bem, imaginem a enorme perda para o cinema.
Uma Lagartixa num Corpo de Mulher
3.6 43Primeira experiência com o giallo de Lucio Fulci e fui positivamente surpreendida. Num primeiro olhar esse filme parece único sob os outros do gênero, tanto pelas montagens psicodélicas primorosamente elaboradas com cortes rápidos para gerar o suspense, como a maneira de narrar a história para o clímax ao final (explorar a psicologia e os sonhos para esse fim).
Repulsa ao Sexo
4.0 462 Assista AgoraMise-en-scène magnífica. Opressor até o osso.
Agatha e as Leituras Ilimitadas
4.1 8As palavras enchem as imagens de imaginação e nos transportam para aquele pequeno mundo de lembranças e sentimentos. Catarse.
A Noite
4.2 103Com certeza o mais interessante é o estilo autoral para abordar o tema do distanciamento em uma relação rodeada pela mesquinhez burguesa, pelo contrato formal entre um casal. Mesmo alguns pontos me incomodando na duração do filme, entendo ser o estilo do Antonioni.
Sabor da Vida
4.2 129 Assista AgoraChorei sim, chorei muito. Ah, Kawase...
Conhecendo o Grande e Vasto Mundo
3.9 10Amor e felicidade discutidos com o pano de fundo do coletivismo soviético e pelos olhos sensíveis de Muratova. As cores no filme trouxeram possibilidades de explorar melhor cenários e emoções; e flores, muitas flores vermelhas, evocando esses símbolos.
Silêncio e Grito
3.7 1Discussão bem típica do Miklós Jancsó sobre o poder da ala conservadora de direita, ''...eu mataria meu próprio pai se me ordenassem.'' Ele lida muito bem em mostrar uma cultura construída na virtude de obedecer às cegas e como a hierarquia dita o modus vivendi desses indivíduos onde qualquer capacidade de humanismo é nula. As mulheres, que aos olhos dos condutores de poder não passam de um mero objeto de manipulação, na verdade exercem grande poder na trama em conspirar à sua maneira contra os mesmos. A câmera dançante do Jancsó completa a trama inserindo um ar sombrio e melancólico aos acontecimentos.
Os Renegados
4.1 86 Assista AgoraA falsa 'liberdade'. O sistema danificou e matou Mona Bergeron (e tantos outros).
Édes Anna
3.8 6Assombrosa a realidade classista presente no filme e que perpetua nas suas formas e atos simbólicos.
Le Joli Mai
4.6 6Balzac pós-moderno.
''Enquanto existir a pobreza, você não é rico. Enquanto existir o sofrimento, você não é feliz. Enquanto existirem as prisões, você não é livre.''
O Visitante do Museu
3.5 8Como ajudante e seguidor de Tarkovsky, Lopushansky emula o cenário pós-apocalíptico nuclear tal como no filme Stalker, mas dando a sua tônica (seus próprios conflitos existenciais, sua própria estética). Tirando a inevitável comparação entre professor e aluno, a narrativa do filme acabou saindo um pouco dos trilhos. Porém, ele tem a sua importância dentro do cenário de ficção científica do período soviético, e é deslumbrante o uso da fotografia, que remete ao expressionismo alemão nos cenários vermelhos e amarelados.
A Pirâmide Humana
4.2 7 Assista AgoraGrande experimento de Jean Rouch. Afinal, o filme para aqui, mas a história não acabou.
Paris nos Pertence
3.7 24''Nunca se é homem enquanto se não encontra alguma coisa pela qual se estaria disposto a morrer.''
Jean-Paul Sartre.
Maldone
3.9 1A cena do baile é simplesmente sublime.
Vinhas da Ira
4.4 205O pesadelo americano. Steinbeck foi audacioso em sua época e não teve medo da perseguição das autoridades ao retratar a Grande Depressão na obra As Vinhas da Ira. Ford, ao transpassar na tela em 1940, foi tão audacioso quanto. Há uma série de questões presentes em ambos que são de extrema importância e atemporais: a relação entre homem e terra; a estranheza seguida da alienação provocadas pela separação do homem e suas ferramentas/meio de trabalho; o preconceito entre os próprios norte-americanos por aqueles que migram; a unidade e a comunidade que acabam balançadas; o medo gerado pelo êxodo e a falta de trabalho, entre indivíduos que só gostariam de sobreviver e não conseguem. Se fermenta a ira, e um grito abafado por uma transformação profunda nas condições de vida. Os ciclos do capital são implacáveis e a ira dos homens, inevitável. Apesar de datado, dá para se tirar muito de Vinhas da Ira, mantendo uma ideia lúcida entre nós: ''os ricos nascem, morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos. Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo.''
Rei Lear
4.2 11Isto é novo na Renascença: o homem consciente de si mesmo, consequentemente, consciente de suas ações e de seus erros. Na peça (e também no filme) é apresentada uma mudança drástica de situação, diversas reviravoltas e a queda do personagem principal por uma falha trágica, seu erro foi se tornar cego diante do poder que tinha em mãos. Esta tragédia está ligada principalmente a queda de um dado prestígio e de uma alta posição social. O centro de poder, a figura de Lear, se segue de usurpação e morte, fazendo uma analogia às crises políticas da época. A tragédia renascentista mistura elementos inimagináveis: um rei e um bobo, o que seria as classes subalternas zombando de seus superiores. É importante ressaltar que toda a história não resulta de forças superiores mas sim da própria ação humana, o que leva o público à reflexão de sua própria condição individual e coletiva.