A vingança contra "Le Tenia" nunca concretizou-se, prestando atenção a caótica cena na boate, Marcus e Pierre pegam o cara errado, de camisa preta, que justamente conversava com Tenia no momento. Achei bem curiosa essa situação, que passa desapercebida por causa da alucinada direção de Noé.
Filme sensacional, e o fato mencionado acima na minha opinião o engrandece.
A atmosfera das corridas é contagiante. O final do GP da Bélgica é muito angustiante. Particularmente acho Sarti o mais decente dos protagonistas apresentados, o carisma de Yves Montand é peça fundamental nisso.
Bom filme ambientado num perigoso período da Fórmula Um onde incompetência, imprudência e morte faziam parte de cada corrida.
Poucos filmes têm a capacidade de transportar o espectador para épocas longínquas, e Fitzcarraldo com certeza está entre eles, constituindo-se numa aventura de proporções épicas pela selva amazônica.
Testemunhando uma jornada de esforço descomunal, logo você é cativado pelos devaneios de grandeza do protagonista enquanto segura o fôlego diante de tantas situações tensas.
Werner incrível. Kinski grandioso. Final deslumbrante.
Interessante o uso de cenários com poucos elementos e a escolha por cores frias que ilustram o vazio sentido pelo personagem de Fassbender.
Direção brilhante de McQueen, que assim como em Hunger, opta pela sutileza de olhares ao invés de palavras para contar uma história, sem que seja necessário explorar o passado das personagens. Apenas uma coisa não me agradou, que aliás foi meu maior problema com a segunda parte de Ninfomaníaca, a necessidade de encontrar culpados, que basicamente foi o que aconteceu com Brandon.
Interessante notar como o diretor dá ênfase a ambientes fechados e muros altos de cores sem vida para ilustrar a impossibilidade de mudança na vida das personagens. A figura do "Senhor" jamais é destacada, pelo contrário, é caracterizada pelas Lanternas Vermelhas, que representam um dia de privilégios para a mulher escolhida por ele para passar a noite. Songlian e as outras concubinas encontram-se numa competição e não-declarada disputa pela atenção de seu mestre, e Yimou em toda sua sutileza deixa bem claro que o prêmio, a princípio a presença de seu Senhor, na verdade não passa de meros agrados como massagens no pés e a escolha do menu do dia. Essa é a pequena felicidade que lhes são ofertadas.
Num sistema arcaico de tradições milenares perpetuadas por velhos homens, a arma encontrada pela mulher para sobreviver a dura realidade de ser um objeto é a malícia, mesmo que isso signifique machucar outras em iguais condições.
Amargura e ressentimento capazes de corromper uma vida inocente. Perturbador acompanhar a relação de uma família presa às convenções sociais e quão cruéis os personagens podem ser um com o outro.
Interessante o confronto de ideias entre um Freud ávido em diagnosticar o homem como um ser recheado de complexos e Jung que acreditava que o paciente precisa de entendimento e a oportunidade de se reinventar.
A psicologia de fato é intrigante, cada autor da área defendendo calorosamente suas teorias em oposição a tantas outras foi capaz de, intencionalmente ou não, avançar o estudo do comportamento humano nos mais diferentes aspectos. Cada objeto de estudo sendo de fundamental importância na busca por esclarecer o enigma do homem.
Impressionante a poderosa e apaixonada atuação de Anne Bancroft diante da jovem e feroz Patty Duke. Cada embate físico entre as duas, em especial na cena do jantar onde a professora Anne Sullivan luta para ensinar obediência e bons modos à Helen, atinge em cheio o coração do espectador.
Lembrou-me "Terra do Silêncio e da Escuridão" que trata sobre as histórias reais de pessoas na mesma condição de Helen Keller, e "O Enigma de Kasper Hauser" onde o protagonista, a princípio mais besta que homem, deparando-se com um novo mundo de possibilidades e descobertas. Curiosamente dois filmes dirigidos por Werner Herzog, que sempre buscou novas perspectivas em suas obras.
Creio que a perda da fé seja o principal elemento da história de "Calvário", um filme que aborda temas religiosos sem cair na armadilha de defender lados e apontar culpados, mas apresentando uma visão pessimista e crítica do homem.
Em dado momento, padre James diz: "Para a maioria, fé é medo da morte." Saindo do aspecto religioso devemos entender a fé não como obediência a uma entidade superior, mas devoção a algo que nos motiva, nos impulsiona, rege nossa vida. "Calvário" é brilhante por retratar justamente essa visão. Alguns perderam a fé na vida, no amor, no dinheiro, na Igreja. Padre James, não é o típico padre de coração bondoso reverenciado pelos habitantes de uma pacata cidade, ao contrário, é visto como um sujeito arrogante que do alto de sua magnanimidade observa a inútil luta de pequenos homens tentando viver com seus próprios pecados. Mas ele também é humano, ele chora, sente tristeza, raiva, e necessita ser perdoado. Ao ser ameaçado durante uma confissão ouve a justificativa: ser inocente. Seu algoz, abusado na infância por um membro da Igreja, ressentido pela perda de sua inocência, faz da inocência de padre James sua culpa. Que mal faria à Igreja a morte de um padre ruim? O filme acompanha a derradeira semana, onde precisará aguentar as provocações dos perdidos cidadãos que acreditam que sua única função é expurgar os pecados dos outros.
Brendan Gleeson está irrepreensível no papel de um padre que acredita no perdão mas é obrigado a servir de bode expiatório, constantemente lembrado dos pecados da Igreja como associação ao nazismo e os inúmeros casos de pedofilia cometidos por seus padres.
"Calvário" é um filme que o fará refletir o significado de perdão, pecado e fé. E o melhor, sem querer converter ou fazer troça com a crença alheia, mas ilustrando o ser humano como ele é.
O nível de beleza de Ra só não é maior que sua filhadaputice. Ele elogiando os humanos por descobrirem o poder do átomo é sensacional. Filme muito bacana pra quem curte teorias sobre alienígenas. Um dos filmes que mais me impressionou na infância. Dr. Daniel é um herói!
E o homem-que-faz-sempre-a-mesma-coisa ataca novamente. Lembra, de certa forma, "A Viagem de Chihiro", com a diferença que em Chihiro há um plot definido desde o início. Em "O Castelo Animado" o plot está espalhado, não é dada uma exploração maior das causas e curas das maldições. O final é abrupto, previsível, e de alguma forma tudo acaba bem e os "vilões" criam consciência e param com suas maldades. Pra variar...
Muitos elementos já bastante utilizados por Hayao como antimilitarismo e aviação, os personagens são todos no estilo Ghibli, em especial a garota-jovem-não-sexualizada-que-vive-um-romance-inocente, com a diferença que ela é velha. Enfim, nada que o telespectador não tenha visto antes.
Há filmes melhores de Miyazaki, mesmo utilizando-se da mesma fórmula há décadas.
Confesso que não entendi a proposta do filme. Achava que o mistério do desaparecimento de um dos gêmeos seria a peça central, em certo momento pensei que o filme dissecaria as consequências em uma família marcada pelo sentimento de perda e vazio, ao final tive a impressão que a história era sobre seguir em frente, renascer. Talvez tenha sido de tudo isso um pouco, mas a falta de uma narrativa mais objetiva, de um plot mais concreto tenha feito com que não entrasse completamente na atmosfera da obra. Uma pena já que a direção pessoal de Kawase é bastante interessante e a ideia de pessoas simples cultivando suas tradições me é fascinante.
Diferentemente de Nausicaa e Laputa, "O Serviço de Entregas da Kiki" não cai no já característico aspecto dos filmes da Ghibli de infindáveis perseguições, apesar de partilhar similaridades como o gosto pela aviação. Há suficiente espaço para Kiki explorar o mundo a sua volta e a condução do inocente romance entre Kiki e Tombo possui melhor desenvolvimento que em outros filmes de Hayao. Bem como a maturação da protagonista é melhor executada que em Chihiro. Kiki não precisa de inimigos ou um mundo massivamente fantasioso para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia e a responsabilidade de amadurecer.
Uma pérola não tão aclamada quanto outras obras de Hayao Miyazaki cuja força reside na simplicidade.
Uma aula de história para os mais calejados e uma oportunidade de conhecer o Japão para iniciantes. Kurosawa mescla ficção e história para recriar a queda de um clã num dos períodos mais conturbados do Japão.
Ambientado nos anos finais do Período Sengoku, um ladrão é poupado da crucificação por ser assustadoramente semelhante a Takeda Shingen, lorde feudal e senhor do clã Takeda, semelhança essa que poderia mostrar-se útil, assim pensavam seus vassalos. Com a morte de Shingen e após espiões inimigos confabularem sobre a veracidade do acontecimento, Kagemusha (Tatsuya Nakadai, que também interpreta Takeda Shingen) decide ajudar da melhor forma possível o clã, tomando assim o papel de Takeda. Interessante notar a personalidade vulgar de Kagemusha transformando-se a medida que interage com guerreiros e o povo de Takeda, tornando-se amigável, destemido e inteligente, cultivando uma lealdade que seria magistralmente apresentada nos minutos finais do filme. O real Takeda Shingen era conhecido por sua perspicácia, senso de justiça e humildade.
Algo que merece atenção é o filho de Takeda, Takeda Katsuyori, que ao final lança um ambicioso e imprudente ataque contra as forças de Nobunaga e Ieyasu, levando a uma carnificina. As mortes não são mostradas, somente os tiros dos mosqueteiros que dizimariam a famosa cavalaria do clã Takeda. O pós-batalha é melancólico, cavalos e homens cambaleantes tentam em vão recobrar o poder sobre seus corpos para fugir do inferno do campo de batalha, sem resultados vemos que na hora da morte animais e homens lutam pela sobrevivência, nada mais que o instinto natural de preservação. Na hora da morte todos são iguais. E num último ato de desespero e lealdade Kagemusha solitariamente investe contra as forças dos inimigos e logo é atingido por disparos, estava acabado o clã Takeda. A batalha de Nagashino era um prelúdio para a sangrenta batalha de Sekigahara, que marcaria o início da ascensão do clã Tokugawa ao poder do Japão, o último shogunato que colocaria o país em relativa pacificidade. Dois séculos depois o shogunato Tokugawa daria lugar à Era Meiji, que varreria a classe dos samurai como lembranças de um Japão que já não tinha lugar em tempos de transição e modernidade, tal qual o corpo de Kagemusha é impiedosamente levado pelas águas.
Kurosawa era um mestre ao dançar nas sombras nos anos 50/60 e ao deparar-se com o universo colorido do cinema e suas infinitas possibilidades tornou-se criança, fazendo de cada quadro uma intensa e harmoniosa aquarela.
O sexto e último filme da série Lobo Solitário acontece em 1974, dois anos antes do final do mangá. Dito isso, não é o pior mas o que menos faz jus ao nome que carrega. Mesmo enfrentando a impossibilidade de adaptar o final original, o filme não apresenta uma conclusão à história, deixando-a aberta. Há também a falta do diálogo forte. Poucos elementos da obra original foram adaptados, e alguns superficialmente explorados. Quem interessar-se pelo desfecho épico entre Ogami Itto e Yagyu Retsudo precisa recorrer ao mangá.
Esse filme pode criar certas dúvidas no telespectador que, na minha opinião, são menores e talvez até desnecessárias face a grandeza da obra, como por exemplo se houve traição entre Su e Chow. A escolha do diretor Wai em não carnalizar a relação do casal não diminui o fato de que ambos apaixonaram-se e desejaram-se. Quando Su diz "Nós nunca vamos ser como eles" não tira o peso das costas de ambos, é apenas uma constatação de que que fizeram o mesmo que seus companheiros mas muito mais intensamente, logo, paixão e culpa são igualmente proporcionais.
Essa pergunta, que ao meu ver, não deve ser feita por quem assiste o filme, deve-se à direção e fotografia detalhistas. Acompanhamos a narrativa pelos corredores, por trás das portas, as personagens não precisam de close para passar suas emoções, por meio de pequenas mas relevantes situações de interação social percebemos a progressão de contato e intimidade entre Su e Chow. Um toque de mãos entre os dois revela mais que um beijo poderia dizer. Tudo no filme é pensado exclusivamente para sustentar um romance de segredos.
Qualquer adaptação é passível de insucesso quando comparada ao seu original, nossas próprias expectativas e as experiencias pessoais dos envolvidos no projeto inevitavelmente entrarão em conflito. "Kozure Ookami", por si só, é uma obra de perigoso desafio com seu cruel realismo e sentimentalismo. Pai e filho caminham através do meifumado (inferno budista) em busca de vingança; Ogami Itto, o último dos bushi, causa profundas impressões, sejam elas medo ou respeito, enquanto viaja por um Japão dominado por traições e tramas políticas onde honra é palavra há muito esquecida, sempre seguido de seu filho Daigoro, que mesmo pequeno traça o próprio caminho.
A frieza de um assassino e a inocência de uma criança marcaram o mundo das histórias em quadrinhos, e o filme de 1972 (dois anos após o lançamento do mangá) faz jus a fama do seu original que à época já era sucesso. Mais cinco filmes seriam lançados num período de dois anos evitando que as pontas soltas em "A Espada da Vingança" fossem uma imperfeição, mas sim um aperitivo para o que viria.
Carlos Sorin dá voz não a personagens grandiosos e marcantes, mas aos que nos cativam com sua singelez e despretensioso modo de levar a vida. Como o título diz, não são histórias espetaculares tampouco façanhas incríveis, mas ainda assim bonitas o bastante para virarem filme, cumprindo portanto o primordial propósito do cinema: encantar.
Trabalhando um assunto tabu que poucos exploraram à época, Kurosawa disseca os profundos medos de uma sociedade japonesa que tenta se reconstruir sem nunca esquecer do pavor da ameaça nuclear que permeava em um mundo de homens assombrados com a própria capacidade de destruição. Um poder que representava não conquista de cidades nem queda de países mas o fim do próprio homem.
O velho empresário Nakajima, afundado em medo, deseja mudar-se com a família para o Brasil, apegando-se a esperançosa ideia de escapar da ameaçar nuclear que o aflige mais que a todos os outros. Mas a família, com negócios no Japão, o toma como um tolo e tenta declará-lo incapaz frente às autoridades. Ansiedade, cobiça, egoísmo, amor, instinto de sobrevivência, todos elementos utilizados para justificar a decisão de cada personagem. É justo que uma família toda mude seu estilo de vida para que alguém tenha paz de espírito e livre-se de um medo, por vezes, além do normal? É justo que um velho que dedicou toda sua vivência na construção de sua empresa seja impedido pela família de viver em paz, com dignidade seus últimos anos de vida? Mesmo em disputas familiares, há espaço para momentos de afeição, como na cena em que Nakajima, após uma sessão na corte confrontando sua própria família, busca bebidas para cada um dos presentes, não só impressionando o telespectador pela sensibilidade de um pai, mas calando os próprios filhos.
É digno de aplausos a magistral atuação de Toshiro Mifune que, aos 35 anos, interpreta com maturidade um personagem 30 anos mais velho, mostrando por que é considerado o maior ator japonês da história. Sem esquecer a sempre crível atuação de Takashi Shimura. Acompanhar a parceria Kurosawa-Mifune-Shimura é um deleite a todo amante de filmes.
Poucos diretores conseguem construir finais verdadeiramente desoladores, e somente nos anos 50, Kurosawa nos presenteou com "Rashomon", "Anatomia do Medo" e "Trono Manchado de Sangue". Nada menos que um gênio.
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraA vingança contra "Le Tenia" nunca concretizou-se, prestando atenção a caótica cena na boate, Marcus e Pierre pegam o cara errado, de camisa preta, que justamente conversava com Tenia no momento. Achei bem curiosa essa situação, que passa desapercebida por causa da alucinada direção de Noé.
Filme sensacional, e o fato mencionado acima na minha opinião o engrandece.
Grand Prix
4.0 38A atmosfera das corridas é contagiante. O final do GP da Bélgica é muito angustiante. Particularmente acho Sarti o mais decente dos protagonistas apresentados, o carisma de Yves Montand é peça fundamental nisso.
Bom filme ambientado num perigoso período da Fórmula Um onde incompetência, imprudência e morte faziam parte de cada corrida.
Tempo de Viver
4.3 44História emocionante e um final lindo, simples e cativante. Gon Li e Ge You excepcionais. Mais um belíssimo filme de Yimou.
Fitzcarraldo
4.2 148 Assista AgoraPoucos filmes têm a capacidade de transportar o espectador para épocas longínquas, e Fitzcarraldo com certeza está entre eles, constituindo-se numa aventura de proporções épicas pela selva amazônica.
Testemunhando uma jornada de esforço descomunal, logo você é cativado pelos devaneios de grandeza do protagonista enquanto segura o fôlego diante de tantas situações tensas.
Werner incrível. Kinski grandioso. Final deslumbrante.
Shame
3.6 2,0K Assista AgoraInteressante o uso de cenários com poucos elementos e a escolha por cores frias que ilustram o vazio sentido pelo personagem de Fassbender.
Direção brilhante de McQueen, que assim como em Hunger, opta pela sutileza de olhares ao invés de palavras para contar uma história, sem que seja necessário explorar o passado das personagens. Apenas uma coisa não me agradou, que aliás foi meu maior problema com a segunda parte de Ninfomaníaca, a necessidade de encontrar culpados, que basicamente foi o que aconteceu com Brandon.
Bom filme.
Lanternas Vermelhas
4.3 201Interessante notar como o diretor dá ênfase a ambientes fechados e muros altos de cores sem vida para ilustrar a impossibilidade de mudança na vida das personagens. A figura do "Senhor" jamais é destacada, pelo contrário, é caracterizada pelas Lanternas Vermelhas, que representam um dia de privilégios para a mulher escolhida por ele para passar a noite. Songlian e as outras concubinas encontram-se numa competição e não-declarada disputa pela atenção de seu mestre, e Yimou em toda sua sutileza deixa bem claro que o prêmio, a princípio a presença de seu Senhor, na verdade não passa de meros agrados como massagens no pés e a escolha do menu do dia. Essa é a pequena felicidade que lhes são ofertadas.
Num sistema arcaico de tradições milenares perpetuadas por velhos homens, a arma encontrada pela mulher para sobreviver a dura realidade de ser um objeto é a malícia, mesmo que isso signifique machucar outras em iguais condições.
Amor e Sedução
4.1 24Amargura e ressentimento capazes de corromper uma vida inocente. Perturbador acompanhar a relação de uma família presa às convenções sociais e quão cruéis os personagens podem ser um com o outro.
Gong Li sensacional.
Um Método Perigoso
3.5 1,1KInteressante o confronto de ideias entre um Freud ávido em diagnosticar o homem como um ser recheado de complexos e Jung que acreditava que o paciente precisa de entendimento e a oportunidade de se reinventar.
A psicologia de fato é intrigante, cada autor da área defendendo calorosamente suas teorias em oposição a tantas outras foi capaz de, intencionalmente ou não, avançar o estudo do comportamento humano nos mais diferentes aspectos. Cada objeto de estudo sendo de fundamental importância na busca por esclarecer o enigma do homem.
O Milagre de Anne Sullivan
4.4 217 Assista AgoraImpressionante a poderosa e apaixonada atuação de Anne Bancroft diante da jovem e feroz Patty Duke. Cada embate físico entre as duas, em especial na cena do jantar onde a professora Anne Sullivan luta para ensinar obediência e bons modos à Helen, atinge em cheio o coração do espectador.
Lembrou-me "Terra do Silêncio e da Escuridão" que trata sobre as histórias reais de pessoas na mesma condição de Helen Keller, e "O Enigma de Kasper Hauser" onde o protagonista, a princípio mais besta que homem, deparando-se com um novo mundo de possibilidades e descobertas. Curiosamente dois filmes dirigidos por Werner Herzog, que sempre buscou novas perspectivas em suas obras.
Grandiosíssimo filme inspiracional.
Calvário
3.6 134Creio que a perda da fé seja o principal elemento da história de "Calvário", um filme que aborda temas religiosos sem cair na armadilha de defender lados e apontar culpados, mas apresentando uma visão pessimista e crítica do homem.
Em dado momento, padre James diz: "Para a maioria, fé é medo da morte." Saindo do aspecto religioso devemos entender a fé não como obediência a uma entidade superior, mas devoção a algo que nos motiva, nos impulsiona, rege nossa vida. "Calvário" é brilhante por retratar justamente essa visão. Alguns perderam a fé na vida, no amor, no dinheiro, na Igreja. Padre James, não é o típico padre de coração bondoso reverenciado pelos habitantes de uma pacata cidade, ao contrário, é visto como um sujeito arrogante que do alto de sua magnanimidade observa a inútil luta de pequenos homens tentando viver com seus próprios pecados. Mas ele também é humano, ele chora, sente tristeza, raiva, e necessita ser perdoado. Ao ser ameaçado durante uma confissão ouve a justificativa: ser inocente. Seu algoz, abusado na infância por um membro da Igreja, ressentido pela perda de sua inocência, faz da inocência de padre James sua culpa. Que mal faria à Igreja a morte de um padre ruim? O filme acompanha a derradeira semana, onde precisará aguentar as provocações dos perdidos cidadãos que acreditam que sua única função é expurgar os pecados dos outros.
Brendan Gleeson está irrepreensível no papel de um padre que acredita no perdão mas é obrigado a servir de bode expiatório, constantemente lembrado dos pecados da Igreja como associação ao nazismo e os inúmeros casos de pedofilia cometidos por seus padres.
"Calvário" é um filme que o fará refletir o significado de perdão, pecado e fé. E o melhor, sem querer converter ou fazer troça com a crença alheia, mas ilustrando o ser humano como ele é.
Stargate: A Chave para o Futuro da Humanidade
3.5 225 Assista AgoraO nível de beleza de Ra só não é maior que sua filhadaputice. Ele elogiando os humanos por descobrirem o poder do átomo é sensacional. Filme muito bacana pra quem curte teorias sobre alienígenas. Um dos filmes que mais me impressionou na infância. Dr. Daniel é um herói!
O Castelo Animado
4.4 1,3K Assista AgoraE o homem-que-faz-sempre-a-mesma-coisa ataca novamente. Lembra, de certa forma, "A Viagem de Chihiro", com a diferença que em Chihiro há um plot definido desde o início. Em "O Castelo Animado" o plot está espalhado, não é dada uma exploração maior das causas e curas das maldições. O final é abrupto, previsível, e de alguma forma tudo acaba bem e os "vilões" criam consciência e param com suas maldades. Pra variar...
Muitos elementos já bastante utilizados por Hayao como antimilitarismo e aviação, os personagens são todos no estilo Ghibli, em especial a garota-jovem-não-sexualizada-que-vive-um-romance-inocente, com a diferença que ela é velha. Enfim, nada que o telespectador não tenha visto antes.
Há filmes melhores de Miyazaki, mesmo utilizando-se da mesma fórmula há décadas.
Shara
4.1 31Confesso que não entendi a proposta do filme. Achava que o mistério do desaparecimento de um dos gêmeos seria a peça central, em certo momento pensei que o filme dissecaria as consequências em uma família marcada pelo sentimento de perda e vazio, ao final tive a impressão que a história era sobre seguir em frente, renascer. Talvez tenha sido de tudo isso um pouco, mas a falta de uma narrativa mais objetiva, de um plot mais concreto tenha feito com que não entrasse completamente na atmosfera da obra. Uma pena já que a direção pessoal de Kawase é bastante interessante e a ideia de pessoas simples cultivando suas tradições me é fascinante.
Porco Rosso: O Último Herói Romântico
3.9 285 Assista Agora"Um porco que não voa é apenas mais um porco."
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 776 Assista AgoraDiferentemente de Nausicaa e Laputa, "O Serviço de Entregas da Kiki" não cai no já característico aspecto dos filmes da Ghibli de infindáveis perseguições, apesar de partilhar similaridades como o gosto pela aviação. Há suficiente espaço para Kiki explorar o mundo a sua volta e a condução do inocente romance entre Kiki e Tombo possui melhor desenvolvimento que em outros filmes de Hayao. Bem como a maturação da protagonista é melhor executada que em Chihiro. Kiki não precisa de inimigos ou um mundo massivamente fantasioso para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia e a responsabilidade de amadurecer.
Uma pérola não tão aclamada quanto outras obras de Hayao Miyazaki cuja força reside na simplicidade.
Kagemusha, a Sombra do Samurai
4.2 100 Assista AgoraUma aula de história para os mais calejados e uma oportunidade de conhecer o Japão para iniciantes. Kurosawa mescla ficção e história para recriar a queda de um clã num dos períodos mais conturbados do Japão.
Ambientado nos anos finais do Período Sengoku, um ladrão é poupado da crucificação por ser assustadoramente semelhante a Takeda Shingen, lorde feudal e senhor do clã Takeda, semelhança essa que poderia mostrar-se útil, assim pensavam seus vassalos. Com a morte de Shingen e após espiões inimigos confabularem sobre a veracidade do acontecimento, Kagemusha (Tatsuya Nakadai, que também interpreta Takeda Shingen) decide ajudar da melhor forma possível o clã, tomando assim o papel de Takeda. Interessante notar a personalidade vulgar de Kagemusha transformando-se a medida que interage com guerreiros e o povo de Takeda, tornando-se amigável, destemido e inteligente, cultivando uma lealdade que seria magistralmente apresentada nos minutos finais do filme. O real Takeda Shingen era conhecido por sua perspicácia, senso de justiça e humildade.
Algo que merece atenção é o filho de Takeda, Takeda Katsuyori, que ao final lança um ambicioso e imprudente ataque contra as forças de Nobunaga e Ieyasu, levando a uma carnificina. As mortes não são mostradas, somente os tiros dos mosqueteiros que dizimariam a famosa cavalaria do clã Takeda. O pós-batalha é melancólico, cavalos e homens cambaleantes tentam em vão recobrar o poder sobre seus corpos para fugir do inferno do campo de batalha, sem resultados vemos que na hora da morte animais e homens lutam pela sobrevivência, nada mais que o instinto natural de preservação. Na hora da morte todos são iguais. E num último ato de desespero e lealdade Kagemusha solitariamente investe contra as forças dos inimigos e logo é atingido por disparos, estava acabado o clã Takeda. A batalha de Nagashino era um prelúdio para a sangrenta batalha de Sekigahara, que marcaria o início da ascensão do clã Tokugawa ao poder do Japão, o último shogunato que colocaria o país em relativa pacificidade. Dois séculos depois o shogunato Tokugawa daria lugar à Era Meiji, que varreria a classe dos samurai como lembranças de um Japão que já não tinha lugar em tempos de transição e modernidade, tal qual o corpo de Kagemusha é impiedosamente levado pelas águas.
Kurosawa era um mestre ao dançar nas sombras nos anos 50/60 e ao deparar-se com o universo colorido do cinema e suas infinitas possibilidades tornou-se criança, fazendo de cada quadro uma intensa e harmoniosa aquarela.
Vasco Campeão da Copa do Brasil
4.7 7Dvd de título, kkkkkkkk. Caralho, que vergonha, e olha que sou vascaíno.
Coisa de mulambo isso aí.
Lobo Solitário VI: Paraíso Branco No Inferno
4.0 13O sexto e último filme da série Lobo Solitário acontece em 1974, dois anos antes do final do mangá. Dito isso, não é o pior mas o que menos faz jus ao nome que carrega. Mesmo enfrentando a impossibilidade de adaptar o final original, o filme não apresenta uma conclusão à história, deixando-a aberta. Há também a falta do diálogo forte. Poucos elementos da obra original foram adaptados, e alguns superficialmente explorados. Quem interessar-se pelo desfecho épico entre Ogami Itto e Yagyu Retsudo precisa recorrer ao mangá.
Amor à Flor da Pele
4.3 501 Assista AgoraEsse filme pode criar certas dúvidas no telespectador que, na minha opinião, são menores e talvez até desnecessárias face a grandeza da obra, como por exemplo se houve traição entre Su e Chow. A escolha do diretor Wai em não carnalizar a relação do casal não diminui o fato de que ambos apaixonaram-se e desejaram-se. Quando Su diz "Nós nunca vamos ser como eles" não tira o peso das costas de ambos, é apenas uma constatação de que que fizeram o mesmo que seus companheiros mas muito mais intensamente, logo, paixão e culpa são igualmente proporcionais.
Essa pergunta, que ao meu ver, não deve ser feita por quem assiste o filme, deve-se à direção e fotografia detalhistas. Acompanhamos a narrativa pelos corredores, por trás das portas, as personagens não precisam de close para passar suas emoções, por meio de pequenas mas relevantes situações de interação social percebemos a progressão de contato e intimidade entre Su e Chow. Um toque de mãos entre os dois revela mais que um beijo poderia dizer. Tudo no filme é pensado exclusivamente para sustentar um romance de segredos.
A Mulher Daquela Noite
3.6 2Quando o mais puro sentimento o obriga a praticar o mais vil dos atos.
Homem Mau Dorme Bem
4.2 29Início e final sensacionais. Kurosawa sabia fazer desfechos intragáveis.
Lobo Solitário: A Espada da Vingança
4.0 35 Assista AgoraQualquer adaptação é passível de insucesso quando comparada ao seu original, nossas próprias expectativas e as experiencias pessoais dos envolvidos no projeto inevitavelmente entrarão em conflito. "Kozure Ookami", por si só, é uma obra de perigoso desafio com seu cruel realismo e sentimentalismo. Pai e filho caminham através do meifumado (inferno budista) em busca de vingança; Ogami Itto, o último dos bushi, causa profundas impressões, sejam elas medo ou respeito, enquanto viaja por um Japão dominado por traições e tramas políticas onde honra é palavra há muito esquecida, sempre seguido de seu filho Daigoro, que mesmo pequeno traça o próprio caminho.
A frieza de um assassino e a inocência de uma criança marcaram o mundo das histórias em quadrinhos, e o filme de 1972 (dois anos após o lançamento do mangá) faz jus a fama do seu original que à época já era sucesso. Mais cinco filmes seriam lançados num período de dois anos evitando que as pontas soltas em "A Espada da Vingança" fossem uma imperfeição, mas sim um aperitivo para o que viria.
Histórias Mínimas
3.8 49Carlos Sorin dá voz não a personagens grandiosos e marcantes, mas aos que nos cativam com sua singelez e despretensioso modo de levar a vida. Como o título diz, não são histórias espetaculares tampouco façanhas incríveis, mas ainda assim bonitas o bastante para virarem filme, cumprindo portanto o primordial propósito do cinema: encantar.
Anatomia do Medo
4.2 26Trabalhando um assunto tabu que poucos exploraram à época, Kurosawa disseca os profundos medos de uma sociedade japonesa que tenta se reconstruir sem nunca esquecer do pavor da ameaça nuclear que permeava em um mundo de homens assombrados com a própria capacidade de destruição. Um poder que representava não conquista de cidades nem queda de países mas o fim do próprio homem.
O velho empresário Nakajima, afundado em medo, deseja mudar-se com a família para o Brasil, apegando-se a esperançosa ideia de escapar da ameaçar nuclear que o aflige mais que a todos os outros. Mas a família, com negócios no Japão, o toma como um tolo e tenta declará-lo incapaz frente às autoridades. Ansiedade, cobiça, egoísmo, amor, instinto de sobrevivência, todos elementos utilizados para justificar a decisão de cada personagem. É justo que uma família toda mude seu estilo de vida para que alguém tenha paz de espírito e livre-se de um medo, por vezes, além do normal? É justo que um velho que dedicou toda sua vivência na construção de sua empresa seja impedido pela família de viver em paz, com dignidade seus últimos anos de vida? Mesmo em disputas familiares, há espaço para momentos de afeição, como na cena em que Nakajima, após uma sessão na corte confrontando sua própria família, busca bebidas para cada um dos presentes, não só impressionando o telespectador pela sensibilidade de um pai, mas calando os próprios filhos.
É digno de aplausos a magistral atuação de Toshiro Mifune que, aos 35 anos, interpreta com maturidade um personagem 30 anos mais velho, mostrando por que é considerado o maior ator japonês da história. Sem esquecer a sempre crível atuação de Takashi Shimura. Acompanhar a parceria Kurosawa-Mifune-Shimura é um deleite a todo amante de filmes.
Poucos diretores conseguem construir finais verdadeiramente desoladores, e somente nos anos 50, Kurosawa nos presenteou com "Rashomon", "Anatomia do Medo" e "Trono Manchado de Sangue". Nada menos que um gênio.