A História Vai ao Cinema #12 Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981, Hector Babenco)
Será possível depois de ver esse filme, achar que a diminuição da maioridade penal é uma solução? Uma das imagens mais emblemáticas do cinema brasileiro, de um dos filmes mais fortes já feitos no país (pelo menos um dos mais tristes). Não apenas por mostrar muitas coisas que incomodam, mas, sobretudo, por ser um dos primeiros filmes a mostrar o que incomoda. O filme foi produzido no contexto da reabertura política, quando havia mais liberdade ao retratar as mazelas da população, coisa que foi impossível nas últimas duas décadas. Outra coisa que o filme evidencia é a questão bastante problemática do jovem infrator, que é uma permanência (não apenas da ditadura militar, mas de antes disso), portanto não é algo novo ao cenário brasileiro (como algumas pessoas hoje querem nos fazer acreditar. Mas o que o filme nos mostra (na verdade sobre o meu prisma, que pode ser, e é, diferente das outras pessoas) é que o "menor" está inserido numa sociedade doente, que não o acolhe, que não o dá a possibilidade/oportunidade de mudança. Que é mais difícil crescer uma árvore forte num solo "pobre". Então se queremos resolver a situação não adianta buscar outra semente, mas, melhorar o solo. Marília Pera rouba a cena (talvez por ser uma das únicas atrizes profissionais do elenco principal).
A História Vai ao Cinema #10 O Homem Que Virou Suco (1980, João Batista de Andrade).
Esse filme me tocou profundamente, porque é a história do meu povo. O filme trata de Deraldo, que é utilizado como alegoria para a migração do povo nordestino para o centro-sul, processo que se deu, com ênfase, na segunda metade do século XX. Deraldo, poeta, em São Paulo é descaracterizado, torna-se "paraíba", "cabeça chata", "nortista", "Silva" (assim como todo nordestino no "sul"). Além do preconceito, Deraldo tem que enfrentar a opressão, que sofre a maior parte da população das grandes cidades brasileiras, por parte dos poderes constituídos, seus patrões e demais autoridades (sobretudo a polícia). No entanto, Deraldo, assim como Jéssica (Que Horas Ela Volta?) não aceita essa opressão, por isso é julgado por não "saber seu lugar", por não entender "que aqui não é o nordeste", e que "não é o seu lugar". "-- Isso aqui é São Paulo, entendeu? -- Grande bosta!"
A História Vai ao Cinema #8 Xica da Silva (1976, Cacá Diegues).
Quem é Ch(X)ica da Silva? O filme de Cacá Diegues, mostra apenas uma das faces da mulher que entrou no imaginário popular, descrita em crônicas, poemas, romances, novelas, enredos de carnaval, tradição oral... Xica (interpretada brilhantemente por Zezé Motta), é elencada no contexto do cinema novo, a partir de sua subversão dos padrões, sobretudo, sexuais. Num momento em que a subversão era uma necessidade, mas quando não se podia subverter, pelo menos no campo político. Mas a figura mitológica vai muito além disso. Existem muitas outras chicas. Resgatadas, dependendo das necessidades das diferentes épocas.
A História Vai ao Cinema #4 Central do Brasil (1998, Walter Salles)
Um filme sobre mudança: desde os espaços (mobilidade), sobretudo por se tratar de um road movie; quanto sobre a transmutação dos personagens. A música "preciso me encontrar" de Candeia, cantada por Cartola, trilha do filme, dá precisamente essa sensação:
"Deixe-me ir, preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Se alguém por mim perguntar Diga que eu só vou voltar Depois que eu me encontrar"
A História Vai ao Cinema #3 Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995, Carla Camurati)
Um filme que eu assisti na escola, na minha aula de História. O mais interessante é revê-lo hoje, como graduando em História e perceber o quanto a minha professora estava equivocada ao exibi-lo. O filme de Carla Camurati é extremamente importante para o cinema brasileiro, já que ele marca a retomada do cinema na década de 1990, e depois dele vieram diversos outros filmes brasileiros muito bem sucedidos, nos planos nacional e internacional (O Quatrilho, O Que é Isso, Companheiro?, Central do Brasil). Os principais pontos positivos do filme, além de sua importância para a retomada do cinema nacional, é a presença de Marieta Severo, sempre muito bem em todas as suas aparições, nem que seja por poucos segundos, neste filme, ela tem a oportunidade de mostrar todo o seu talento nas 130 min da obra. Mas o filme (em si) não é muito bom (odeio escrever negativamente sobre filmes), o seu principal erro é a utilização da história de forma bastante deturpada, sem qualquer preocupação factual, construindo muitos esteriótipos. Sobretudo em relação a Carlota Joaquina, uma mulher extremamente interessante historicamente, decidida, a procura da liderança (que não lhe era possível por ser mulher) resumida a uma mulher arrogante, adultera e promíscua. Carlota Joaquina merecia uma cinebiografia melhor.
A História Vai ao Cinema #2 Cabra Marcado Para Morrer (1984, Eduardo Coutinho)
O documentário poderia muito bem ser intitulado "mulher marcada para morrer", porque a grande personagem desse filme (além da memória) é Elizabeth Teixeira, a mulher que teve o marido, líder sindical, assassinado pelos coronéis regionais, e com a chegada do regime militar em 1964, teve que fugir, mudar de nome, perder sua identidade.
Nas palavras de Antônio Torres Montenegro: "Essa peregrinação [...] transforma o filme Cabra Marcado Para Morrer em um documentário de vida. Não apenas um registro histórico sobre o peso da violência de um regime, mas a tentativa de interromper, de barrar o silêncio, a perda, a dor, a tristeza"(A História vai ao Cinema, pág. 191)
Bye, Bye Brasil (1979, Cacá Diegues) Um dos filmes mais importantes do nosso cinema "Bye, Bye Brasil" é segundo seu realizador, Cacá Diegues, um filme sobre mudança. A morte de um país e o nascimento de outro em seu lugar. O Brasil arcaico, rural dá lugar ao Brasil modernizado, civilizado, urbano (nem que seja pela adesão das televisões públicas nas pequenas cidades, ou a explosão das discotecas) Acompanhamos a saga de uma trupe mambembe pelo interior do país dentro da "Caravana Rolidei" (numa espécie de road movie), encontrando-se com as mais diferentes pessoas nos mais diversos "brasis", viajando do sertão nordestino a Altamira, no Pará, através da Transamazônica, principal obra do período militar, numa tentativa de integração nacional. Uma declaração de amor ao Brasil e todas as suas contradições.
Esse documentário brasileiro trata de um evento muito interessante da nossa história recente. Em 1982, no contexto da reabertura política (lenta e progressiva) depois de quase 2 décadas de ditadura, um dos times de futebol mais populares do país, o Corinthians, inflado por toda uma geração de músicos contestadores (rock Brasil 80), "vestiu a camisa" da democracia e foi um dos responsáveis pela mobilização nacional em favor das eleições diretas para governador de estados do mesmo ano (em 15 de Novembro). Assim como em favor das "Diretas Já". O movimento ficou conhecido como "Democracia Corinthiana". O documentário que é narrado pela ilustre corinthiana Rita Lee, tem a participação de alguns dos jogadores do período como Sócrates, Wladimir e Casagrande (alguns dos líderes do movimento), de músicos e de jornalistas. Recomendo a todos irrestritamente. Não gosto de futebol, mas amo política, rock e história. Se vocês também amam, vejam.
O filme ganhador da "Palma de Ouro" em Cannes (2013), trata da vida de Adèle, assim como indica o título original (La vie d'Adèle). Por esse motivo acompanhamos pequenos detalhes da sua vida, ela comendo, lendo um livro, conversando com as amigas, dançando... nada de muito extraordinário. O grande ápice da sua vida (e do filme) é o seu encontro, e posterior relacionamento com Emma, a garota de cabelos azuis. O seu encontro com Emma também representa a descoberta da sua sexualidade. Gostei muito do filme, no entanto, achei que foi um pouco longo demais, podia diminuir uns 20 minutos e se tornaria bem mais agradável. Também achei as cenas de sexo entre as protagonistas excessivas, e li que as atrizes se sentiram incomodadas pela forma como elas foram conduzidas.
Endosso tudo que foi dito até o momento sobre o documentário e sobre a figura icônica de Bob Dylan. Mas queria reforçar o talento de Joan Baez, a voz dela é impressionante e durante o tempo em que ela apareceu toda a minha atenção ficou voltada para ela.
“Nós que aqui estamos, por vós esperamos” (filme brasileiro de 1999) é sobre pessoas, “grandes” e “pequenas”, tanto aqueles que povoam os livros de História, mas, sobretudo, aquelas pessoas invisíveis, esquecidas. Pessoas que construíram o século XX, recorte escolhido pelo diretor, Marcelo Masagão, baseando-se no livro do historiador inglês Eric Hobsbawn, “A Era dos Extremos”. O filme trata do nosso fim irremediável, todos os personagens representados estão mortos. Mas que continuam vivos através da imagem (não é isso que o cinema faz, eternizar?), num instante contínuo, como escreve Geoff Dyer. Entramos em contato com cem anos da família Jones, na sua jornada por contínuas guerras; Um alfaiate, M. Reisfeldt, que tem por sonho voar, realizando-o em 1911; Paul Norman, um homem sentenciado a cadeira elétrica, apesar de não ter energia elétrica em casa; e entre tantas outras mulheres, Doris White (foto do cartaz do filme), que abusou na ousadia do maiô, em 1901 em Atlantic City. Esse é um exemplar de documentário de montagem, apesar de ser leigo, acredito que deva ser uma produção que utiliza (recorta) imagens e as edita dentro de uma nova configuração. E é assim que esse filme lida com as imagens, um recorte de várias delas que ajudam a contar essa história. No fim, descobrimos a origem do título do filme, um letreiro na entrada de um cemitério no estado de São Paulo. Letreiro que vem para nos alertar sobre nossa finitude, mas o filme vem para nos lembrar que é possível ser eterno.
O filme propõe uma visão extremamente sensível sobre um tema muito difícil, ditadura militar no Brasil. Esse período é representado a partir da visão de uma criança, que vê seus pais "saírem de férias", isto é, seus país, opositores ao regime, tem de fugir da perseguição dos militares. Para isso, o menino é deixado na casa do avô, e vive uma espécie de "esqueceram de mim" made in Brazil. Só que ao contrário do filme com Macaulay Culkin, o roteiro de "o ano..." é muito bom (não por acaso tem a participação de Anna Muylaert), assim como a atuação de Michel Joelsas (que nós também conhecemos como Fabinho) está ótima. O ano escolhido, não poderia ser melhor e mais significativo, 1970, o ano em que o Brasil foi tri-campeão na Copa do mundo do México. De um lado a euforia com o campeonato e do outro a apreensão com os rumos políticos do país. No fim, a vitória acaba por servir como uma forma de mascarar os problemas do Brasil, amortecendo muitos dos movimentos sociais de oposição, que já haviam sofrido um grande golpe com o AI-5, em fins de 1968.
Como é possível criar uma obra que discute tantos assuntos delicados e relevantes com tamanha sensibilidade? Me emocionei em vários momentos do filme. Eficiente ao trabalhar com fatos históricos, nem sempre isso ocorre nos filmes.
Em meio a essas discussões a respeito do segundo ano consecutivo em que todos os indicados ao oscar de atuação, tanto feminino quanto masculino, são pessoas brancas. Isso sendo apenas um indicativo da própria indústria de cinema norte-americano, já que o prêmio existe justamente para evidenciar o que está sendo produzido. É preciso pensar também no caso brasileiro. Para muito além de uma reflexão sobre o nosso cinema, que continua sendo ainda muito elitista, circulando apenas entre uma pequena parte de nossa sociedade. É preciso pensar qual é a cara que aparece cotidianamente na televisão, sobretudo nas novelas, acompanhadas diariamente por milhões de brasileiros. Para esse propósito indico um documentário de 2001, "A Negação do Brasil" (Joel Zito Araújo), nele existe essa reflexão sobre o negro nas telenovelas brasileiras desde os seus primeiros momentos, nas produções da Tv Tupi, até o momento em que o filme havia sido produzido, com os produtos da Rede Globo, maior produtora desse gênero no país nas últimas décadas. O documentário conta com a participação de diversos atores negros brasileiros relatando as suas experiências nas telenovelas, as barreiras que tiveram que ultrapassar até chegar a TV, assim como o preconceito que enfrentaram já estando na TV. Entre os casos mais estúpidos está o relatado por Zezé Motta que já tinha uma carreira bem sucedida no cinema, com filmes como Xica da Silva de Cacá Diegues. No documentário Zezé conta sobre uma novela na qual ela foi par romântico de Marcos Paulo, um galã na época, durante toda a produção ela recebeu cartas raivosas de alguns telespectadores que não aceitavam que o ator tivesse um romance com uma mulher negra. O documentário também reflete como normalmente os personagens interpretados por atores negros nas novelas são personagens mais estereotipados e negativos. (Como não lembrar Escrava Isaura, a escrava branca que sofre preconceito e perseguição de uma escrava negra).
O filme indicado pela França para representar o país no oscar de 2016, Mustang (ou Cinco Graças) é um filme sobre o protagonismo feminino. Além de ter 5 protagonistas femininas e toda a trama estar voltada para elas, o filme traz diretora e roteirista mulheres. Apesar de ser o filme francês indicado ao oscar, ele retrata as vivências de um lugarejo no interior da Turquia. Ele joga uma luz numa sociedade que pensa a mulher como um ser unicamente apto ao casamento, sendo este sua única função e/ou ambição. No entanto, por outro lado, mostra mulheres, ou melhor, meninas que querem muitas outras coisas além disso. Querem brincar na praia, curtir a vida, sair com garotos que elas gostem e conheçam, ir a um estádio de futebol, entre outras coisas É um filme muito delicado, com uma fotografia linda e muito melancólico. Meu favorito para Melhor Filme Estrangeiro, mesmo que eu não tenha visto nenhum dos outros.
É difícil falar sobre esse filme, porque eu acredito que a linguagem a partir da palavra escrita é bastante limitada. Nada do que eu escreva aqui poderia ser suficiente frente a essa obra-prima. Apenas sintam esse filme.
Que filme absolutamente lindo. Meu amor por esse casal só aumentou. A cena na qual Liv mostra uma porta na casa da ilha em que eles desenharam corações e outros grafismos, foi uma coisa que me marcou. As linhas vão se apagar com o tempo, assim como você e eu, todos nós.
De volta ao meu projeto de entender como esse gênero se constituiu historicamente. É interessante como o terror teve que se modelar "aos novos tempos". Outro detalhe importante é que essa obra trabalha a questão do voyeurismo, muito presente atualmente. Mas entre os problemas, eu destaco a falta de construção do "vilão".
Apesar de todos os problemas, que são muitos. O filme me ganhou por retratar umas das minhas grandes paixões, e relembrar essas músicas e ver esses momentos retratados, acabou me conquistando.
Fernanda Torres tem um magnetismo que faz com que eu volte minha atenção sempre para a sua performance, inclusive o filme pecou em não enfocar mais ela, o seu arco parecia ser bem melhor do que do protagonista masculino. É interessante como o filme tenta retratar um momento histórico, o confisco das poupanças, talvez o primeiro filme a retratar os efeitos dessa medida na população brasileira. Outro destaque é a fotografia, a cena na praia com o "velho navio" ao fundo é primorosa. Aliás, a escolha da trilha não poderia ser melhor, tanto pela grande canção que é "Vapor Barato", mas também porque ela se encaixa perfeitamente com a história. E toda a melancolia que a canção passa, também é vivida pelos personagens nas terras estrangeiras.
Um filme que é bastante sutil. Em todos os aspectos. E isso acaba fazendo com que os diálogos ganhem evidência. Faz com que toda a nossa atenção esteja, a todo momento, voltada para os protagonistas. Eu também gostei de todo o desenvolvimento da relação deles, sem situações previsíveis. Muito Bom.
Um filme tão sensível. Com atuações muito boas, sobretudo os protagonistas: Brie Larson e Jacob Tremblay. O roteiro é evidentemente uma adaptação moderna da "Alegoria da Caverna", que está contido no livro A República, de Platão. Obviamente existem outras situações criadas no filme, que não se limitam a isso.
Espero que leve o oscar, e todos os prémios que tem direito. Entre os que eu vi dessa temporada foi o mais completo, além do mais é eficaz no que se propõe. Além disso ele chama atenção para um tema importante, essencial. Curioso é que nessas últimas semanas eu vi dois filmes que tratam do jornalismo por uma outra perspectiva. "A montanha dos Sete Abutres" e "Mercado de Notícias" tratam do jornalismo como mercadoria, com enfâse no jornalismo conhecido como sensacionalista. Recomendo ambos.
Pixote: A Lei do Mais Fraco
4.0 448A História Vai ao Cinema #12
Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981, Hector Babenco)
Será possível depois de ver esse filme, achar que a diminuição da maioridade penal é uma solução?
Uma das imagens mais emblemáticas do cinema brasileiro, de um dos filmes mais fortes já feitos no país (pelo menos um dos mais tristes). Não apenas por mostrar muitas coisas que incomodam, mas, sobretudo, por ser um dos primeiros filmes a mostrar o que incomoda. O filme foi produzido no contexto da reabertura política, quando havia mais liberdade ao retratar as mazelas da população, coisa que foi impossível nas últimas duas décadas.
Outra coisa que o filme evidencia é a questão bastante problemática do jovem infrator, que é uma permanência (não apenas da ditadura militar, mas de antes disso), portanto não é algo novo ao cenário brasileiro (como algumas pessoas hoje querem nos fazer acreditar.
Mas o que o filme nos mostra (na verdade sobre o meu prisma, que pode ser, e é, diferente das outras pessoas) é que o "menor" está inserido numa sociedade doente, que não o acolhe, que não o dá a possibilidade/oportunidade de mudança. Que é mais difícil crescer uma árvore forte num solo "pobre". Então se queremos resolver a situação não adianta buscar outra semente, mas, melhorar o solo.
Marília Pera rouba a cena (talvez por ser uma das únicas atrizes profissionais do elenco principal).
O Homem que Virou Suco
4.1 185A História Vai ao Cinema #10
O Homem Que Virou Suco (1980, João Batista de Andrade).
Esse filme me tocou profundamente, porque é a história do meu povo.
O filme trata de Deraldo, que é utilizado como alegoria para a migração do povo nordestino para o centro-sul, processo que se deu, com ênfase, na segunda metade do século XX.
Deraldo, poeta, em São Paulo é descaracterizado, torna-se "paraíba", "cabeça chata", "nortista", "Silva" (assim como todo nordestino no "sul").
Além do preconceito, Deraldo tem que enfrentar a opressão, que sofre a maior parte da população das grandes cidades brasileiras, por parte dos poderes constituídos, seus patrões e demais autoridades (sobretudo a polícia).
No entanto, Deraldo, assim como Jéssica (Que Horas Ela Volta?) não aceita essa opressão, por isso é julgado por não "saber seu lugar", por não entender "que aqui não é o nordeste", e que "não é o seu lugar".
"-- Isso aqui é São Paulo, entendeu? -- Grande bosta!"
Xica da Silva
3.4 44A História Vai ao Cinema #8
Xica da Silva (1976, Cacá Diegues).
Quem é Ch(X)ica da Silva?
O filme de Cacá Diegues, mostra apenas uma das faces da mulher que entrou no imaginário popular, descrita em crônicas, poemas, romances, novelas, enredos de carnaval, tradição oral...
Xica (interpretada brilhantemente por Zezé Motta), é elencada no contexto do cinema novo, a partir de sua subversão dos padrões, sobretudo, sexuais. Num momento em que a subversão era uma necessidade, mas quando não se podia subverter, pelo menos no campo político.
Mas a figura mitológica vai muito além disso. Existem muitas outras chicas. Resgatadas, dependendo das necessidades das diferentes épocas.
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraA História Vai ao Cinema #4
Central do Brasil (1998, Walter Salles)
Um filme sobre mudança: desde os espaços (mobilidade), sobretudo por se tratar de um road movie; quanto sobre a transmutação dos personagens. A música "preciso me encontrar" de Candeia, cantada por Cartola, trilha do filme, dá precisamente essa sensação:
"Deixe-me ir, preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que eu me encontrar"
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil
3.1 240A História Vai ao Cinema #3
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995, Carla Camurati)
Um filme que eu assisti na escola, na minha aula de História. O mais interessante é revê-lo hoje, como graduando em História e perceber o quanto a minha professora estava equivocada ao exibi-lo.
O filme de Carla Camurati é extremamente importante para o cinema brasileiro, já que ele marca a retomada do cinema na década de 1990, e depois dele vieram diversos outros filmes brasileiros muito bem sucedidos, nos planos nacional e internacional (O Quatrilho, O Que é Isso, Companheiro?, Central do Brasil).
Os principais pontos positivos do filme, além de sua importância para a retomada do cinema nacional, é a presença de Marieta Severo, sempre muito bem em todas as suas aparições, nem que seja por poucos segundos, neste filme, ela tem a oportunidade de mostrar todo o seu talento nas 130 min da obra.
Mas o filme (em si) não é muito bom (odeio escrever negativamente sobre filmes), o seu principal erro é a utilização da história de forma bastante deturpada, sem qualquer preocupação factual, construindo muitos esteriótipos. Sobretudo em relação a Carlota Joaquina, uma mulher extremamente interessante historicamente, decidida, a procura da liderança (que não lhe era possível por ser mulher) resumida a uma mulher arrogante, adultera e promíscua. Carlota Joaquina merecia uma cinebiografia melhor.
Cabra Marcado Para Morrer
4.5 253 Assista AgoraA História Vai ao Cinema #2
Cabra Marcado Para Morrer (1984, Eduardo Coutinho)
O documentário poderia muito bem ser intitulado "mulher marcada para morrer", porque a grande personagem desse filme (além da memória) é Elizabeth Teixeira, a mulher que teve o marido, líder sindical, assassinado pelos coronéis regionais, e com a chegada do regime militar em 1964, teve que fugir, mudar de nome, perder sua identidade.
Nas palavras de Antônio Torres Montenegro:
"Essa peregrinação [...] transforma o filme Cabra Marcado Para Morrer em um documentário de vida. Não apenas um registro histórico sobre o peso da violência de um regime, mas a tentativa de interromper, de barrar o silêncio, a perda, a dor, a tristeza"(A História vai ao Cinema, pág. 191)
Bye Bye Brasil
3.9 145 Assista AgoraA História Vai ao Cinema #1
Bye, Bye Brasil (1979, Cacá Diegues)
Um dos filmes mais importantes do nosso cinema "Bye, Bye Brasil" é segundo seu realizador, Cacá Diegues, um filme sobre mudança. A morte de um país e o nascimento de outro em seu lugar.
O Brasil arcaico, rural dá lugar ao Brasil modernizado, civilizado, urbano (nem que seja pela adesão das televisões públicas nas pequenas cidades, ou a explosão das discotecas)
Acompanhamos a saga de uma trupe mambembe pelo interior do país dentro da "Caravana Rolidei" (numa espécie de road movie), encontrando-se com as mais diferentes pessoas nos mais diversos "brasis", viajando do sertão nordestino a Altamira, no Pará, através da Transamazônica, principal obra do período militar, numa tentativa de integração nacional.
Uma declaração de amor ao Brasil e todas as suas contradições.
Democracia em Preto e Branco
4.1 35Esse documentário brasileiro trata de um evento muito interessante da nossa história recente. Em 1982, no contexto da reabertura política (lenta e progressiva) depois de quase 2 décadas de ditadura, um dos times de futebol mais populares do país, o Corinthians, inflado por toda uma geração de músicos contestadores (rock Brasil 80), "vestiu a camisa" da democracia e foi um dos responsáveis pela mobilização nacional em favor das eleições diretas para governador de estados do mesmo ano (em 15 de Novembro). Assim como em favor das "Diretas Já".
O movimento ficou conhecido como "Democracia Corinthiana".
O documentário que é narrado pela ilustre corinthiana Rita Lee, tem a participação de alguns dos jogadores do período como Sócrates, Wladimir e Casagrande (alguns dos líderes do movimento), de músicos e de jornalistas.
Recomendo a todos irrestritamente. Não gosto de futebol, mas amo política, rock e história. Se vocês também amam, vejam.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraO filme ganhador da "Palma de Ouro" em Cannes (2013), trata da vida de Adèle, assim como indica o título original (La vie d'Adèle). Por esse motivo acompanhamos pequenos detalhes da sua vida, ela comendo, lendo um livro, conversando com as amigas, dançando... nada de muito extraordinário. O grande ápice da sua vida (e do filme) é o seu encontro, e posterior relacionamento com Emma, a garota de cabelos azuis. O seu encontro com Emma também representa a descoberta da sua sexualidade.
Gostei muito do filme, no entanto, achei que foi um pouco longo demais, podia diminuir uns 20 minutos e se tornaria bem mais agradável. Também achei as cenas de sexo entre as protagonistas excessivas, e li que as atrizes se sentiram incomodadas pela forma como elas foram conduzidas.
Dont Look Back
4.4 37Endosso tudo que foi dito até o momento sobre o documentário e sobre a figura icônica de Bob Dylan. Mas queria reforçar o talento de Joan Baez, a voz dela é impressionante e durante o tempo em que ela apareceu toda a minha atenção ficou voltada para ela.
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416“Nós que aqui estamos, por vós esperamos” (filme brasileiro de 1999) é sobre pessoas, “grandes” e “pequenas”, tanto aqueles que povoam os livros de História, mas, sobretudo, aquelas pessoas invisíveis, esquecidas. Pessoas que construíram o século XX, recorte escolhido pelo diretor, Marcelo Masagão, baseando-se no livro do historiador inglês Eric Hobsbawn, “A Era dos Extremos”.
O filme trata do nosso fim irremediável, todos os personagens representados estão mortos. Mas que continuam vivos através da imagem (não é isso que o cinema faz, eternizar?), num instante contínuo, como escreve Geoff Dyer.
Entramos em contato com cem anos da família Jones, na sua jornada por contínuas guerras; Um alfaiate, M. Reisfeldt, que tem por sonho voar, realizando-o em 1911; Paul Norman, um homem sentenciado a cadeira elétrica, apesar de não ter energia elétrica em casa; e entre tantas outras mulheres, Doris White (foto do cartaz do filme), que abusou na ousadia do maiô, em 1901 em Atlantic City.
Esse é um exemplar de documentário de montagem, apesar de ser leigo, acredito que deva ser uma produção que utiliza (recorta) imagens e as edita dentro de uma nova configuração. E é assim que esse filme lida com as imagens, um recorte de várias delas que ajudam a contar essa história.
No fim, descobrimos a origem do título do filme, um letreiro na entrada de um cemitério no estado de São Paulo. Letreiro que vem para nos alertar sobre nossa finitude, mas o filme vem para nos lembrar que é possível ser eterno.
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
3.7 455O filme propõe uma visão extremamente sensível sobre um tema muito difícil, ditadura militar no Brasil. Esse período é representado a partir da visão de uma criança, que vê seus pais "saírem de férias", isto é, seus país, opositores ao regime, tem de fugir da perseguição dos militares. Para isso, o menino é deixado na casa do avô, e vive uma espécie de "esqueceram de mim" made in Brazil. Só que ao contrário do filme com Macaulay Culkin, o roteiro de "o ano..." é muito bom (não por acaso tem a participação de Anna Muylaert), assim como a atuação de Michel Joelsas (que nós também conhecemos como Fabinho) está ótima.
O ano escolhido, não poderia ser melhor e mais significativo, 1970, o ano em que o Brasil foi tri-campeão na Copa do mundo do México. De um lado a euforia com o campeonato e do outro a apreensão com os rumos políticos do país. No fim, a vitória acaba por servir como uma forma de mascarar os problemas do Brasil, amortecendo muitos dos movimentos sociais de oposição, que já haviam sofrido um grande golpe com o AI-5, em fins de 1968.
Adeus, Lenin!
4.2 1,1K Assista AgoraComo é possível criar uma obra que discute tantos assuntos delicados e relevantes com tamanha sensibilidade? Me emocionei em vários momentos do filme.
Eficiente ao trabalhar com fatos históricos, nem sempre isso ocorre nos filmes.
A Negação do Brasil
4.3 49Em meio a essas discussões a respeito do segundo ano consecutivo em que todos os indicados ao oscar de atuação, tanto feminino quanto masculino, são pessoas brancas. Isso sendo apenas um indicativo da própria indústria de cinema norte-americano, já que o prêmio existe justamente para evidenciar o que está sendo produzido.
É preciso pensar também no caso brasileiro.
Para muito além de uma reflexão sobre o nosso cinema, que continua sendo ainda muito elitista, circulando apenas entre uma pequena parte de nossa sociedade. É preciso pensar qual é a cara que aparece cotidianamente na televisão, sobretudo nas novelas, acompanhadas diariamente por milhões de brasileiros.
Para esse propósito indico um documentário de 2001, "A Negação do Brasil" (Joel Zito Araújo), nele existe essa reflexão sobre o negro nas telenovelas brasileiras desde os seus primeiros momentos, nas produções da Tv Tupi, até o momento em que o filme havia sido produzido, com os produtos da Rede Globo, maior produtora desse gênero no país nas últimas décadas.
O documentário conta com a participação de diversos atores negros brasileiros relatando as suas experiências nas telenovelas, as barreiras que tiveram que ultrapassar até chegar a TV, assim como o preconceito que enfrentaram já estando na TV.
Entre os casos mais estúpidos está o relatado por Zezé Motta que já tinha uma carreira bem sucedida no cinema, com filmes como Xica da Silva de Cacá Diegues. No documentário Zezé conta sobre uma novela na qual ela foi par romântico de Marcos Paulo, um galã na época, durante toda a produção ela recebeu cartas raivosas de alguns telespectadores que não aceitavam que o ator tivesse um romance com uma mulher negra.
O documentário também reflete como normalmente os personagens interpretados por atores negros nas novelas são personagens mais estereotipados e negativos. (Como não lembrar Escrava Isaura, a escrava branca que sofre preconceito e perseguição de uma escrava negra).
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraO filme indicado pela França para representar o país no oscar de 2016, Mustang (ou Cinco Graças) é um filme sobre o protagonismo feminino. Além de ter 5 protagonistas femininas e toda a trama estar voltada para elas, o filme traz diretora e roteirista mulheres.
Apesar de ser o filme francês indicado ao oscar, ele retrata as vivências de um lugarejo no interior da Turquia. Ele joga uma luz numa sociedade que pensa a mulher como um ser unicamente apto ao casamento, sendo este sua única função e/ou ambição. No entanto, por outro lado, mostra mulheres, ou melhor, meninas que querem muitas outras coisas além disso. Querem brincar na praia, curtir a vida, sair com garotos que elas gostem e conheçam, ir a um estádio de futebol, entre outras coisas
É um filme muito delicado, com uma fotografia linda e muito melancólico. Meu favorito para Melhor Filme Estrangeiro, mesmo que eu não tenha visto nenhum dos outros.
Paris, Texas
4.3 698 Assista AgoraÉ difícil falar sobre esse filme, porque eu acredito que a linguagem a partir da palavra escrita é bastante limitada. Nada do que eu escreva aqui poderia ser suficiente frente a essa obra-prima.
Apenas sintam esse filme.
Questão de Tempo
4.3 4,0K Assista AgoraO interessante é que o filme trata do amor em seu sentido amplo. Amor romântico, mas também amor entre pais e filhos, entres irmãos.
Liv & Ingmar - Uma História de Amor
4.2 125Que filme absolutamente lindo. Meu amor por esse casal só aumentou. A cena na qual Liv mostra uma porta na casa da ilha em que eles desenharam corações e outros grafismos, foi uma coisa que me marcou. As linhas vão se apagar com o tempo, assim como você e eu, todos nós.
Jogos Mortais
3.7 1,6K Assista AgoraDe volta ao meu projeto de entender como esse gênero se constituiu historicamente. É interessante como o terror teve que se modelar "aos novos tempos". Outro detalhe importante é que essa obra trabalha a questão do voyeurismo, muito presente atualmente.
Mas entre os problemas, eu destaco a falta de construção do "vilão".
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KApesar de todos os problemas, que são muitos. O filme me ganhou por retratar umas das minhas grandes paixões, e relembrar essas músicas e ver esses momentos retratados, acabou me conquistando.
Terra Estrangeira
4.1 182 Assista AgoraFernanda Torres tem um magnetismo que faz com que eu volte minha atenção sempre para a sua performance, inclusive o filme pecou em não enfocar mais ela, o seu arco parecia ser bem melhor do que do protagonista masculino.
É interessante como o filme tenta retratar um momento histórico, o confisco das poupanças, talvez o primeiro filme a retratar os efeitos dessa medida na população brasileira.
Outro destaque é a fotografia, a cena na praia com o "velho navio" ao fundo é primorosa. Aliás, a escolha da trilha não poderia ser melhor, tanto pela grande canção que é "Vapor Barato", mas também porque ela se encaixa perfeitamente com a história. E toda a melancolia que a canção passa, também é vivida pelos personagens nas terras estrangeiras.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraUm filme que é bastante sutil. Em todos os aspectos. E isso acaba fazendo com que os diálogos ganhem evidência. Faz com que toda a nossa atenção esteja, a todo momento, voltada para os protagonistas. Eu também gostei de todo o desenvolvimento da relação deles, sem situações previsíveis. Muito Bom.
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista AgoraUm filme tão sensível. Com atuações muito boas, sobretudo os protagonistas: Brie Larson e Jacob Tremblay. O roteiro é evidentemente uma adaptação moderna da "Alegoria da Caverna", que está contido no livro A República, de Platão. Obviamente existem outras situações criadas no filme, que não se limitam a isso.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraEspero que leve o oscar, e todos os prémios que tem direito. Entre os que eu vi dessa temporada foi o mais completo, além do mais é eficaz no que se propõe. Além disso ele chama atenção para um tema importante, essencial. Curioso é que nessas últimas semanas eu vi dois filmes que tratam do jornalismo por uma outra perspectiva.
"A montanha dos Sete Abutres" e "Mercado de Notícias" tratam do jornalismo como mercadoria, com enfâse no jornalismo conhecido como sensacionalista. Recomendo ambos.