O tecido do homem desfaço linha dentro linha fora linha linha linha ponto-cruz há um pequeno homem no grande homem que sente falta da mãe - o desfaço todo homem e seu tecido até ser o menino na cama o faço doente todo criança entrego-lhe a força dos reinos da morte dos impérios intangíveis e o faço mais homem desfaço o laço desfaço refaço o cogumelo é o tecido do corpo é o tecido da carne é o tecido da força é o traje erótico de Masoch.
"Tudo existe lado a lado. São como grandes padrões mudando a todo tempo. Da mesma forma, devem haver incontáveis realidades, não somente a que percebemos com nossos fúteis sentidos mas sim um tumulto de realidades se sobrepondo para dentro e para fora. É somente medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites nem para pensamentos. A ansiedade que cria limites."
Começa como uma gota, partícula particular de água, difusa forma toma ordem, torna-se ondulação, gota a gota une-se o ódio e numa só estrutura fundamente-se a onda, imponente tsunami, derruba a paz e o indivíduo, qual gota é a gota de outrora hoje não mais gota mal-se-sabe o que é qual o motivo? qual a causa? a onda não responde, somente derruba os desiguais, as pedras, os inocentes.
A flor foi deflorada pela cruz Pela cruz, a flor foi deflorada Deflorada, pela cruz, a flor foi Foi pela cruz, deflorada a flor Deflorada foi, a flor, pela cruz
Cinco flores despetalam A pala cor branca sangra Em dóceis riachos sujos A morte as beija faceira Rumo ao reino, ao reino
As bençãos são um pecado Quando castram o sagrado De um feminino tão eterno Quanto as jovens que se vão De mãos dadas pro inferno
O salto ao abismo, O cordão ribomba, O gás que cozinhas, O sono encapsulado, O carro mensageiro;
A árvore é demolida, A flor é despetalada, A carnalma é vencida, A irmandade é suicida, A cruz é um genocídio.
Bacurau, uma cidade não mapeada, perdida entre tantas cidades outras, com o nome de um pássaro que só aparece na noite. Desgovernada por um prefeito aproveitador e demagogo, nela surgem alegorias e mais alegorias do ser e estar brasileiro. Porque, não se enganem, Bacurau é mais que ficção. Uma cidade inexistente existe com mais força pelo fato de simplesmente não existir? Ou talvez ela exista por demasia?
Bacurau é Brasil, é Nordeste. É Brasiral. De tantas faces e pluralidades, ver esse filme é acima de tudo pensar em identidade. Em geopolítica. A primeira faísca que me surgiu como um incêndio assistindo ao filme, talvez como no efeito do poderoso psicotrópico, foi o drone OVNI. Primariamente surgindo para se referir a talvez uma ameaça alienígena, no desdobrar do filme descobrimos realmente haver aliens a ameaçar a cidadezinha perdida.
Alienígena, se me permitem dizer, surge da nomenclatura alemã, carregando como significado a ideia de estrangeiro. E o alien que sonda Bacurau é literalmente os estrangeiros: no caso, os norte-americanos. Daí brota quiçá a mais maravilhosa alegoria de todo o filme.
Mas para além dos states, temos estrangeiros no próprio Brasil. Ao vermos os dois motoqueiros do Sul-Sudeste do Brasil como aliados (e em seguida, exterminados) dos americans, vemos uma das questões mais sutis de geopolítica do filme: o brasileiro que se volta contra o brasileiro em defesa de ideais do exterior. Como já é de praxe na nossa estrutura cultural, nós das regiões ao Sul do Brasil muitas vezes nos vemos como alheios ao resto país, ensimesmados em nosso narcisismo de ver-se europeu com peles morenas, pretas ou um loiro artificial qualquer. Mas o filme, como bem mostra a própria vida, exibe que não é bem assim. Tentando ser como o pessoal dos States, os dois motoqueiros acabam cavando suas próprias covas. Ah, se os sulistas entendessem isso...
O objetivo dos estrangeiros é mais outra geopolítica básica: dominância. A todo momento tratam a gente de Bacurau como seres inferiores, animais a serem literalmente caçados e acuados das mais diversas formas. Tentam acabar com o estoque de água, a energia elétrica e até os meios de comunicação da cidadezinha. Tudo isso para então viverem um jogo de caça e caçador contra aqueles que consideram presas. Mas o povo de Bacurau, tal qual o brasileiro contemporâneo, por mais que viva onde Judas bateu as botas, já carrega em si as tecnologias do exterior. E diferente do resto do Brasil que abraça a mentira das fake news, se unem frente a adversidade dos caçadores pra mostrar que o bacurau é um pássaro que não se faz de presa: ataca na noite.
Identidade, identidade. Na cidadezinha todo mundo se junta frente ao inimigo em comum: é bandido, ex-bandido, puta, cafetão, gay, lésbica, médica, professor e tanto quanto mais gente, exceto o prefeito e a polícia, por que será? todos se unem contra a ameaça do alienígena.
É engraçado que a introdução da história e, aparentemente o estopim simbólico de toda essa guerra que sucede é a morte da matriarca Carmelita. Ela, a amada e respeitada figura que mais carregava o passado e o legado da cidade, ao falecer reúne a todos num luto em comum. Ela, um símbolo do passado, ao morrer é como se fosse a própria ideia do passado a ser perdido, ignorado, objetado. O brasileiro, tentando perder o passado, mais se fada a repeti-lo. Mas talvez mais do que isso, Ela como símbolo de tradições antigas, mostra um Brasil que deixa suas tradições morrerem e, por fazê-lo, se deixa sucumbir perante culturas do exterior e sua agressiva tentativa dos dominar.
Teresa, sob o efeito do psicotrópico, vê água escorrer no túmulo dela. Algo há de transbordar para além de lágrimas. A água, como símbolo do que se adequa, ao transbordar mostra que há certas coisas que estão para além dos limites da adequação e das estruturas. Se é preciso lutar, é preciso. E não tem como escapar. E como um rio que transborda e faz-se corredeira, cascata e catarata, o pessoal de Bacurau lança sua cólera contra os norte-americanos que buscam destruir sua identidade. É engraçado que parte do massacre acontece dentro do museu histórico de Bacurau. É preciso se lembrar das guerras de um povo, jamais esquecer o sangue derramado.
O brasileiro tem essa mania de querer esquecer. Talvez seja por isso que o povo de Bacurau elegeu um presidente, quer dizer, prefeito, como Tony Junior. Esse homem com nome todo americanizado que se põe na rua todo megafone e música de campanha eleitoral prometendo mundos e fundos a um povo que não acredita mais nele. E que como um certo poderoso das terras tupiniquins, acha que educação é simplesmente derramar livros no chão da frente de uma escola e saúde é entregar comida fora de validade e remédios tarja preta pra sedar a fúria de uma população traída. Mas ninguém mais se engana com um tipo como ele, ou pelo menos o brasileiro, a exemplo da gente de Bacurau, não devia.
Numa jogada de gênio das alegorias e alegorias do filme, é revelado por fim que o prefeito era um United States acima de tudo, Deus contra todos. Ele, tal qual uma certa pessoa que eu não me lembro o nome exato, entrega seu próprio povo para ser massacrado pelos norte-americanos. Mas o pessoal de Bacurau não é desses que perdoa. Será que a realidade repetirá a ficção? Talvez, talvez. A mim ficam as palavras do alemão que naturalizou-se americano, um alienígena mais alienígena que os outros: isso é só o começo. Mas talvez, bem talvez, quem sabe se buscarmos a nossa memória, nossa identidade, a nossa dona Carmelita ou quiçá o sonhado matriarcado de Pindorama, pode ser que esse começo, seja um fim.
Uma comédia romântica que começa com tentativa de suicídio só podia me agradar. Hollywood devia aprender a fazer comédias românticas com o sr. Billy Wilder, mestre do cinismo!
Eu pensava que isso aqui seria um pastiche de clichês escolares ruim. Mas é muito mais engraçado, icônico e interessante do que eu pensava que seria. São tantas tiradas hilárias e uma construção realmente interessante do tema. Eu estou surpreso. São filmes como esse que demonstram que nem sempre os filmes clichês são essencialmente ruins. é possível subverter tropos de maneira favorável.
O homem é mero utensílio do fuzil, É mera arma, veículo da violência. O homem não mata: a arma se humaniza. E por tornar-se homem, o fuzil assassina Sem piedade ou resquício de Deus. Isto é a humanidade: um aglutinado de fuzis, algo a usar e ser usado, uma máquina da morte, algo frio que porém mata quente, sendo afiada, sendo manipulada, sendo fatal, Marca uma vida com o desígnio do sangue, Com o selo do ódio, do desprezo ao sagrado.
O homem fez-se deus no ato da morte: quando mata, faz-se senhor de outro destino.
Pois a vida brasileira, não vale mais que o pó. Quia pulvis es et in pulverem reverteris.
BANDERSNATCH: A 1984 DE ÉDIPO REI (Escrito por mim, Conrado Mpl )
Aviso: Massivos, massivos SPOILERS. E um copo d'água, minha cara. Minhas meias estão pegando fogo. Vocês não sabem como eu dormi ansioso pra escrever isso aqui, SÉRIO.
"Agora eles têm a ilusão de livre-arbítrio. Mas sou eu quem decide o final."
Black Mirror, como sempre, é uma série que tem muito o que falar. Amada por uns, desprezada por outros, contudo, nunca silenciada por ambos os lados, é inclusive usada como bordão para algumas pessoas quando notícias distópicas envolvendo tecnologia surgem na mídia. Eu não considero a melhor série da Netflix, mas tenho que dizer que a ousadia e cinismo apresentados por ela em muito me satisfazem. E Bandersnatch é um misto desse sentimento de escárnio inovativo que me traz um sorriso ao rosto.
O filme da série não é propriamente uma inovação no sentido mais amplo da palavra. Existem outras obras dentro da própria Netflix que já usaram essa estrutura interativa. E muito antes do serviço de streaming, vários meios, principalmente o dos jogos, ainda mais as Visual Novels japonesas vide Fate/stay night e Tsukihime, usaram a ideia de jogos interativos com diversos finais alternativos. A inovação de Black Mirror propriamente é a forma como essa interação é feita, toda atrelada a um simbolismo inerente a tão discutida dualidade destino e livre-arbítrio.
A existência ou ausência do livre-arbítrio é uma das questões mais discutidas da filosofia. De São Tomás de Aquino à Nietzsche, passando do existencialismo primevo de Kierkegaard até o ateísta de Sartre e o absurdismo de Albert Camus, praticamente todos os filósofos já se posicionaram de alguma forma sobre o assunto, criando inclusive conceitos relativos a essa eterna dúvida, como a ideia de Amor Fati, o amor ao destino.
Black Mirror, ao usar esse formato conceitual de escolha no filme, discute e ironiza o tema do livre-arbítrio, centrando tudo na visão tecnológica presente na série, mostrando que por mais que você possa escolher o que vai acontecer, em tese não há verdadeira independência: você pode pegar qualquer maçã, mas precisa ser necessariamente daquela macieira.
Da mesma forma, algumas escolhas que fazemos no jogo-filme acabam causando o mesmo resultado. Você pode aceitar ou não a droga, mas será drogado não importa sua vontade. Você pode enterrar ou decepar, mas cedo ou tarde vai acabar preso do mesmo jeito. Você pode desenvolver o jogo dentro da empresa, mas logo de cara isso vai impedir que seu jogo seja um sucesso e você vai ter que mudar a opção. Ou seja, você tem e não tem livre-arbítrio, é quase um duplipensamento. Não é a toa que a história se passa em 1984, aquela data quase cabalística para quem conhece o bom e velho George Orwell.
Para os mais leigos, 1984 é a obra literária mais conhecida de Orwell, uma distopia sobre uma sociedade tecnológica onde a todo momento as pessoas são observadas pela figura do Grande Irmão ou Big Brother para os leitores mais anglicanos. 1984 é uma das mães simbólicas de Black Mirror, obviamente, tanto pelas questões tecnológicas que ambas as obras possuem quanto pelo onipresente sentimento de desespero e paranoia. E os anos 80 per se foram uma época onde houve um grande boom dos videogames, então o filme se passar nesse ano foi unir o útil ao agradável, o simbólico ao concreto.
O Big Brother do protagonista Stefan somos nós, que delimitamos a todo momento sua capacidade de agir com liberdade. E o nosso Grande Irmão é o próprio filme, que delimita nossas ações de forma a impedir que possamos ser livres quando o assunto é tentar, digamos, ajudar o personagem principal. Quanto mais tentamos ajudar, mais parece que arruinamos a situação. Qualquer tentativa de reconciliar pai e filho parece impossível para o determinismo da Netflix. E falando em destino e relação pai-e-filho, a gente logo pensa em Édipo Rei, o clássico das tragédias gregas.
Uma breve sinopse: Édipo é o filho de Laio e Jocasta que foi destinado pelos deuses a matar o pai e desposar a mãe. Horrorizados com a profecia do oráculo de Delfos, o marido e esposa decidem matar a criança. Contudo, sem coragem para tal feito, decidem deixar que os deuses decidam o destino do garoto, o abandonando a própria sorte em uma montanha. Não dá outra: ele é encontrado, criado por outra família, cresce, descobre seu destino e se afasta da família adotiva pensando que faria isso com eles, encontra o pai verdadeiro, acaba o matando e se tornando o rei de Tebas, casando assim com a própria mãe e tendo vários filhinhos incestuosos, consumando assim seu amaldiçoado destino.
Fado, destino, fatalidade. Se existe um assunto que os gregos amavam era isso. Oráculo etimologicamente vem de boca, era a voz dos deuses. Se algo era destinado pelas deidades, não havia escape. Se oráculo é boca, você precisava ter um bom ouvido pra entender o que diziam. Não é a toa que a maioria dos oráculos carrega em si a latente ideia da ausência de livre-arbítrio. A astrologia antes de sofrer com o new-wave era toda fatalista e determinista. Se você não vai se casar, não vai. Se você vai morrer amanhã, vai morrer amanhã. Se vai ganhar na mega-sena, vai ganhar. A palavra "não" era uma impossibilidade. E Édipo é o exemplo mais latente da cultura grega acerca dessa ideia. Uma figura mítica tão invariável ao ponto de se tornar assunto da psicanálise freudiana, o famoso Complexo de Édipo.
A relação pai-e-filho em Bandersnatch é Édipo Rei purinho. Stefan tem um amor latente pela mãe e de certa forma culpa a si mesmo e ao pai pela morte que a ela foi destinada. Essa angústia que carrega transforma sua relação com o pai em algo repleto de um desprezo muitas vezes reprimido, mas que em vários momentos da trama acaba explodindo, por vezes chegando a limites extremos, como surtos psicóticos notáveis. Ah, psicose, doenças psicológicas, isso também não é de certa forma uma questão que está além do livre-arbítrio?
Existe uma corrente da filosofia no que se refere ao assunto determinismo que diz que estamos determinados biologicamente a certas coisas e por isso não existe um livre-arbítrio verdadeiro. Se você se apaixona, você está destinado a isso, porque são seus hormônios que estão controlando você e não o contrário. Se quisermos nos aprofundar ainda mais, podemos falar até de filosofia budista aqui: os desejos são a causa do sofrimento humano e a única forma de alcançar a liberdade do Nirvana é se livrar dos desejos, fazendo assim com que saíamos do ciclo de reencarnação do samsara, que de certa forma é um destino,
Budas à parte, acho que estou indo muito pra fora do ponto: Black Mirror é acima de tudo uma obra sobre a influência das tecnologias na nossa sociedade moderna e um filme como Bandersnatch espelha propriamente a questão do livre-arbítrio na era digital. Nessas horas, é fácil lembrar aquela clássica frase dos familiares: você controla a máquina ou a máquina te controla? Bem, hoje em dia isso é algo bem mais denso do que podemos imaginar. Da maneira como as empresas se aproveitam dos nossos dados para vender e divulgar produtos, de certa forma o destino é algo marcante até mesmo quando estamos vendo vídeos de gato tocando piano no Youtube.
Como assim? Ora, digamos que você vê uma publicidade acerca de uma guitarra e decide comprar o produto. Você decidiu isso ou você foi "destinado" a comprar a guitarra? Porque se você estava assistindo vídeos sobre guitarras no Youtube e os motores de pesquisa se aproveitaram disso para indicar um possível conteúdo que você teria interesse em comprar, de certa forma você não teve propriamente escolha, porque não coube a você comprar a guitarra, mas sim a publicidade de guitarra que veio até você. Resumindo, até que ponto vai nosso livre-arbítrio quando assistimos vídeos de gato tocando piano no Youtube?
Tenso, pois é, tenso. E pra mim é nisso que reside a genialidade de Bandersnatch. É um filme interessante pelo que está nas entrelinhas do simbolismo. A partir do momento que você decide assistir, você já não tem mais livre arbítrio, mas somente a ilusão disso. Quando o filme começa com a música RELAX, DON'T DO IT, é como se a própria Netflix brincasse com você, dizendo que a única forma de ter livre-arbítrio assistindo Bandersnatch é não assistindo Bandersnatch. De explodir os miolos, não?
Mas se tem algo que me fez explodir mesmo foram aqueles finais mais escrachados que quebram a quarta, quinta, sexta, nonagésima parede, misturando o filme com a realidade e deixando tudo ainda mais confuso. Tem horas que o filme parecia até mesmo uma obra do David Lynch onde sonho e realidade se confundem. Acho que o final mais agradável que o pobre Stefan pôde ter foi morrer em meio a consulta na terapia, sonhando que morreu junto da mãe no acidente de metrô.
Porque olha, o garoto foi destinado a se dar mal. E nós, a impotência de não poder agir.
O filme é bom, gostei das atuações. Acho que o mais incômodo mesmo na obra são algumas incoerências temporais, como o término com a Mary e a criação de We Will Rock You em 1980, sendo que ambos os acontecimentos foram antes disso. No demais, ficou bom e eu discordo acerca das críticas relativas a um excesso de moralismo na obra. Mary sempre foi uma figura marcante na vida de Freddie e o filme demonstra bem que apesar do término, ele nunca abandonou o apreço e até mesmo a paixão por ela. A presença marcante da Mary na história só pontua como foi uma relação angular na vida dele apesar das tantas que ele viveu.
PS.: Bem que o filme podia ter cenas do Freddie no final da vida, certeza que eu ia cair no choro. Ainda mais se tocasse These Are The Days of Our Lives.
Entender todos os mistérios de Twin Peaks é como escavar a procura de um diamante que desde o inicio nunca esteve ali: quanto mais se escava, maior o buraco.
Senhor Almodóvar, eu estou envergonhado com sua figura... Fazer filme romantizando Síndrome de Estocolmo e dando final feliz pra macho escroto. Olha... Eu não esperava isso de você.
"God says we need to love our enemies. It hard to do. But it can start by telling the truth. No one had ever asked me what it feel like to be me. Once I told the truth about that, I felt free. And I got to thinking about all the people I know. And the things I seen and done. My boy Trelaw always said we gonna have a writer in the family one day. I guess it's gonna be me."
Uma história de representatividade marcante, com um elenco feminino forte e uma trama forte, dramática mas sem melodrama, com uma crítica forte ao racismo norte-americano. Amei muitíssimo!
"For over a thousand years, Roman conquerors returning from the wars enjoyed the honor of a triumph - a tumultuous parade. In the procession came trumpeters and musicians and strange animals from the conquered territories, together with carts laden with treasure and captured armaments. The conqueror rode in a triumphal chariot, the dazed prisoners walking in chains before him. Sometimes his children, robed in white, stood with him in the chariot, or rode the trace horses. A slave stood behind the conqueror, holding a golden crown, and whispering in his ear a warning: that all glory is fleeting."
Uma grande metáfora de Chaplin acerca da sua própria carreira e a desvalorização que ele recebeu com o passar dos anos, tendo sua comédia substituída pela de outros comediantes com o passar dos anos. Apesar de tudo, este filme também demonstra ao final que seu legado ao cinema é eterno mesmo que tenha sido deixado de lado.
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraTRAMA FANTASMA
O tecido do homem
desfaço
linha dentro
linha fora
linha linha
linha ponto-cruz
há um pequeno homem
no grande homem
que sente falta da mãe
- o desfaço
todo homem e seu tecido
até ser o menino
na cama o faço doente
todo criança
entrego-lhe a força
dos reinos da morte
dos impérios intangíveis
e o faço mais homem
desfaço o laço
desfaço
refaço
o cogumelo
é o tecido do corpo
é o tecido da carne
é o tecido da força
é o traje erótico
de Masoch.
Noites de Cabíria
4.5 381 Assista AgoraMais outra noite, Cabíria se entrega
Para homens maus que pagam bem.
Teu olhar é triste e o sorriso alegre;
Uma arlequina que porta a luz do sol
Por entre infinitos de asfalto e ruas,
Se movendo entre bares e estrelas
Conhece cineastas e hipnoses vastas,
Mas o amor nunca vem: sempre trai
Se põe a rezar pai-nossos, ave-marias
Mas na treva persiste no triste auguro,
Afogada nos lagos, furtada nos bosques
É triste seu andar em mais outra noite,
Perdido o ouro, o amor: resta lágrima
Mas Cabíria sorri: ainda tem esperança.
Sonata de Outono
4.5 491"Tudo existe lado a lado. São como grandes padrões mudando a todo tempo. Da mesma forma, devem haver incontáveis realidades, não somente a que percebemos com nossos fúteis sentidos mas sim um tumulto de realidades se sobrepondo para dentro e para fora. É somente medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites nem para pensamentos. A ansiedade que cria limites."
A Onda
4.2 1,9KDIE WELLE
Começa como uma gota,
partícula particular de água,
difusa forma toma ordem,
torna-se ondulação,
gota a gota une-se o ódio
e numa só estrutura
fundamente-se a onda,
imponente tsunami,
derruba a paz e o indivíduo,
qual gota é a gota de outrora
hoje não mais gota
mal-se-sabe o que é
qual o motivo?
qual a causa?
a onda não responde,
somente derruba
os desiguais, as pedras,
os inocentes.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraA flor foi deflorada pela cruz
Pela cruz, a flor foi deflorada
Deflorada, pela cruz, a flor foi
Foi pela cruz, deflorada a flor
Deflorada foi, a flor, pela cruz
Cinco flores despetalam
A pala cor branca sangra
Em dóceis riachos sujos
A morte as beija faceira
Rumo ao reino, ao reino
As bençãos são um pecado
Quando castram o sagrado
De um feminino tão eterno
Quanto as jovens que se vão
De mãos dadas pro inferno
O salto ao abismo,
O cordão ribomba,
O gás que cozinhas,
O sono encapsulado,
O carro mensageiro;
A árvore é demolida,
A flor é despetalada,
A carnalma é vencida,
A irmandade é suicida,
A cruz é um genocídio.
Pânico
3.6 1,6K Assista Agora"No, please don't kill me, Mr. Ghostface, I wanna be in the sequel!"
Por que Terrir é um gênero tão desvalorizado?
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraUM PAÍS QUE SE CHAMAVA BACURAU
"- Quem nasce em Bacurau é o quê?
- É gente."
Bacurau, uma cidade não mapeada, perdida entre tantas cidades outras, com o nome de um pássaro que só aparece na noite. Desgovernada por um prefeito aproveitador e demagogo, nela surgem alegorias e mais alegorias do ser e estar brasileiro. Porque, não se enganem, Bacurau é mais que ficção. Uma cidade inexistente existe com mais força pelo fato de simplesmente não existir? Ou talvez ela exista por demasia?
Bacurau é Brasil, é Nordeste. É Brasiral. De tantas faces e pluralidades, ver esse filme é acima de tudo pensar em identidade. Em geopolítica. A primeira faísca que me surgiu como um incêndio assistindo ao filme, talvez como no efeito do poderoso psicotrópico, foi o drone OVNI. Primariamente surgindo para se referir a talvez uma ameaça alienígena, no desdobrar do filme descobrimos realmente haver aliens a ameaçar a cidadezinha perdida.
Alienígena, se me permitem dizer, surge da nomenclatura alemã, carregando como significado a ideia de estrangeiro. E o alien que sonda Bacurau é literalmente os estrangeiros: no caso, os norte-americanos. Daí brota quiçá a mais maravilhosa alegoria de todo o filme.
Mas para além dos states, temos estrangeiros no próprio Brasil. Ao vermos os dois motoqueiros do Sul-Sudeste do Brasil como aliados (e em seguida, exterminados) dos americans, vemos uma das questões mais sutis de geopolítica do filme: o brasileiro que se volta contra o brasileiro em defesa de ideais do exterior. Como já é de praxe na nossa estrutura cultural, nós das regiões ao Sul do Brasil muitas vezes nos vemos como alheios ao resto país, ensimesmados em nosso narcisismo de ver-se europeu com peles morenas, pretas ou um loiro artificial qualquer. Mas o filme, como bem mostra a própria vida, exibe que não é bem assim. Tentando ser como o pessoal dos States, os dois motoqueiros acabam cavando suas próprias covas. Ah, se os sulistas entendessem isso...
O objetivo dos estrangeiros é mais outra geopolítica básica: dominância. A todo momento tratam a gente de Bacurau como seres inferiores, animais a serem literalmente caçados e acuados das mais diversas formas. Tentam acabar com o estoque de água, a energia elétrica e até os meios de comunicação da cidadezinha. Tudo isso para então viverem um jogo de caça e caçador contra aqueles que consideram presas. Mas o povo de Bacurau, tal qual o brasileiro contemporâneo, por mais que viva onde Judas bateu as botas, já carrega em si as tecnologias do exterior. E diferente do resto do Brasil que abraça a mentira das fake news, se unem frente a adversidade dos caçadores pra mostrar que o bacurau é um pássaro que não se faz de presa: ataca na noite.
Identidade, identidade. Na cidadezinha todo mundo se junta frente ao inimigo em comum: é bandido, ex-bandido, puta, cafetão, gay, lésbica, médica, professor e tanto quanto mais gente, exceto o prefeito e a polícia, por que será? todos se unem contra a ameaça do alienígena.
É engraçado que a introdução da história e, aparentemente o estopim simbólico de toda essa guerra que sucede é a morte da matriarca Carmelita. Ela, a amada e respeitada figura que mais carregava o passado e o legado da cidade, ao falecer reúne a todos num luto em comum. Ela, um símbolo do passado, ao morrer é como se fosse a própria ideia do passado a ser perdido, ignorado, objetado. O brasileiro, tentando perder o passado, mais se fada a repeti-lo. Mas talvez mais do que isso, Ela como símbolo de tradições antigas, mostra um Brasil que deixa suas tradições morrerem e, por fazê-lo, se deixa sucumbir perante culturas do exterior e sua agressiva tentativa dos dominar.
Teresa, sob o efeito do psicotrópico, vê água escorrer no túmulo dela. Algo há de transbordar para além de lágrimas. A água, como símbolo do que se adequa, ao transbordar mostra que há certas coisas que estão para além dos limites da adequação e das estruturas. Se é preciso lutar, é preciso. E não tem como escapar. E como um rio que transborda e faz-se corredeira, cascata e catarata, o pessoal de Bacurau lança sua cólera contra os norte-americanos que buscam destruir sua identidade. É engraçado que parte do massacre acontece dentro do museu histórico de Bacurau. É preciso se lembrar das guerras de um povo, jamais esquecer o sangue derramado.
O brasileiro tem essa mania de querer esquecer. Talvez seja por isso que o povo de Bacurau elegeu um presidente, quer dizer, prefeito, como Tony Junior. Esse homem com nome todo americanizado que se põe na rua todo megafone e música de campanha eleitoral prometendo mundos e fundos a um povo que não acredita mais nele. E que como um certo poderoso das terras tupiniquins, acha que educação é simplesmente derramar livros no chão da frente de uma escola e saúde é entregar comida fora de validade e remédios tarja preta pra sedar a fúria de uma população traída. Mas ninguém mais se engana com um tipo como ele, ou pelo menos o brasileiro, a exemplo da gente de Bacurau, não devia.
Numa jogada de gênio das alegorias e alegorias do filme, é revelado por fim que o prefeito era um United States acima de tudo, Deus contra todos. Ele, tal qual uma certa pessoa que eu não me lembro o nome exato, entrega seu próprio povo para ser massacrado pelos norte-americanos. Mas o pessoal de Bacurau não é desses que perdoa. Será que a realidade repetirá a ficção? Talvez, talvez. A mim ficam as palavras do alemão que naturalizou-se americano, um alienígena mais alienígena que os outros: isso é só o começo. Mas talvez, bem talvez, quem sabe se buscarmos a nossa memória, nossa identidade, a nossa dona Carmelita ou quiçá o sonhado matriarcado de Pindorama, pode ser que esse começo, seja um fim.
Até lá, quem nasce no Brasil é gente.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraIcônico, um baluarte feminista dos mais lindos.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraMinha sinopse do filme:
Um filme dos Irmãos Coen que não foi dirigido pelos Irmãos Coen? Eu tô tipo ???
Sabrina
4.1 332 Assista AgoraUma comédia romântica que começa com tentativa de suicídio só podia me agradar. Hollywood devia aprender a fazer comédias românticas com o sr. Billy Wilder, mestre do cinismo!
Meninas Malvadas
3.7 2,1K Assista AgoraEu pensava que isso aqui seria um pastiche de clichês escolares ruim. Mas é muito mais engraçado, icônico e interessante do que eu pensava que seria. São tantas tiradas hilárias e uma construção realmente interessante do tema. Eu estou surpreso. São filmes como esse que demonstram que nem sempre os filmes clichês são essencialmente ruins. é possível subverter tropos de maneira favorável.
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 842 Assista AgoraEu poderia fazer uma crítica concisa e profunda, mas eu prefiro dizer:
MEU JESSEZINHO, MEU JESSE
VINCE GILLIGAN, EU TE IDOLATRO ATÉ O FIM DO ESPAÇO E DO TEMPO!
Os Fuzis
4.1 71O homem é mero utensílio do fuzil,
É mera arma, veículo da violência.
O homem não mata: a arma se humaniza.
E por tornar-se homem, o fuzil assassina
Sem piedade ou resquício de Deus.
Isto é a humanidade: um aglutinado de fuzis,
algo a usar e ser usado,
uma máquina da morte,
algo frio que porém mata quente,
sendo afiada, sendo manipulada, sendo fatal,
Marca uma vida com o desígnio do sangue,
Com o selo do ódio, do desprezo ao sagrado.
O homem fez-se deus no ato da morte:
quando mata, faz-se senhor de outro destino.
Pois a vida brasileira, não vale mais que o pó.
Quia pulvis es et in pulverem reverteris.
Megarrromântico
3.1 565 Assista AgoraConceito genial. Desenvolvimento, bem, dá pro gasto.
Você Já Foi à Bahia?
3.4 175 Assista AgoraPelos estereótipos e o enredo o filme é fraco, mas a estética e o experimentalismo técnico da obra são um primor.
Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4KBANDERSNATCH: A 1984 DE ÉDIPO REI
(Escrito por mim, Conrado Mpl )
Aviso: Massivos, massivos SPOILERS. E um copo d'água, minha cara. Minhas meias estão pegando fogo. Vocês não sabem como eu dormi ansioso pra escrever isso aqui, SÉRIO.
"Agora eles têm a ilusão de livre-arbítrio. Mas sou eu quem decide o final."
Black Mirror, como sempre, é uma série que tem muito o que falar. Amada por uns, desprezada por outros, contudo, nunca silenciada por ambos os lados, é inclusive usada como bordão para algumas pessoas quando notícias distópicas envolvendo tecnologia surgem na mídia. Eu não considero a melhor série da Netflix, mas tenho que dizer que a ousadia e cinismo apresentados por ela em muito me satisfazem. E Bandersnatch é um misto desse sentimento de escárnio inovativo que me traz um sorriso ao rosto.
O filme da série não é propriamente uma inovação no sentido mais amplo da palavra. Existem outras obras dentro da própria Netflix que já usaram essa estrutura interativa. E muito antes do serviço de streaming, vários meios, principalmente o dos jogos, ainda mais as Visual Novels japonesas vide Fate/stay night e Tsukihime, usaram a ideia de jogos interativos com diversos finais alternativos. A inovação de Black Mirror propriamente é a forma como essa interação é feita, toda atrelada a um simbolismo inerente a tão discutida dualidade destino e livre-arbítrio.
A existência ou ausência do livre-arbítrio é uma das questões mais discutidas da filosofia. De São Tomás de Aquino à Nietzsche, passando do existencialismo primevo de Kierkegaard até o ateísta de Sartre e o absurdismo de Albert Camus, praticamente todos os filósofos já se posicionaram de alguma forma sobre o assunto, criando inclusive conceitos relativos a essa eterna dúvida, como a ideia de Amor Fati, o amor ao destino.
Black Mirror, ao usar esse formato conceitual de escolha no filme, discute e ironiza o tema do livre-arbítrio, centrando tudo na visão tecnológica presente na série, mostrando que por mais que você possa escolher o que vai acontecer, em tese não há verdadeira independência: você pode pegar qualquer maçã, mas precisa ser necessariamente daquela macieira.
Da mesma forma, algumas escolhas que fazemos no jogo-filme acabam causando o mesmo resultado. Você pode aceitar ou não a droga, mas será drogado não importa sua vontade. Você pode enterrar ou decepar, mas cedo ou tarde vai acabar preso do mesmo jeito. Você pode desenvolver o jogo dentro da empresa, mas logo de cara isso vai impedir que seu jogo seja um sucesso e você vai ter que mudar a opção. Ou seja, você tem e não tem livre-arbítrio, é quase um duplipensamento. Não é a toa que a história se passa em 1984, aquela data quase cabalística para quem conhece o bom e velho George Orwell.
Para os mais leigos, 1984 é a obra literária mais conhecida de Orwell, uma distopia sobre uma sociedade tecnológica onde a todo momento as pessoas são observadas pela figura do Grande Irmão ou Big Brother para os leitores mais anglicanos. 1984 é uma das mães simbólicas de Black Mirror, obviamente, tanto pelas questões tecnológicas que ambas as obras possuem quanto pelo onipresente sentimento de desespero e paranoia. E os anos 80 per se foram uma época onde houve um grande boom dos videogames, então o filme se passar nesse ano foi unir o útil ao agradável, o simbólico ao concreto.
O Big Brother do protagonista Stefan somos nós, que delimitamos a todo momento sua capacidade de agir com liberdade. E o nosso Grande Irmão é o próprio filme, que delimita nossas ações de forma a impedir que possamos ser livres quando o assunto é tentar, digamos, ajudar o personagem principal. Quanto mais tentamos ajudar, mais parece que arruinamos a situação. Qualquer tentativa de reconciliar pai e filho parece impossível para o determinismo da Netflix. E falando em destino e relação pai-e-filho, a gente logo pensa em Édipo Rei, o clássico das tragédias gregas.
Uma breve sinopse: Édipo é o filho de Laio e Jocasta que foi destinado pelos deuses a matar o pai e desposar a mãe. Horrorizados com a profecia do oráculo de Delfos, o marido e esposa decidem matar a criança. Contudo, sem coragem para tal feito, decidem deixar que os deuses decidam o destino do garoto, o abandonando a própria sorte em uma montanha. Não dá outra: ele é encontrado, criado por outra família, cresce, descobre seu destino e se afasta da família adotiva pensando que faria isso com eles, encontra o pai verdadeiro, acaba o matando e se tornando o rei de Tebas, casando assim com a própria mãe e tendo vários filhinhos incestuosos, consumando assim seu amaldiçoado destino.
Fado, destino, fatalidade. Se existe um assunto que os gregos amavam era isso. Oráculo etimologicamente vem de boca, era a voz dos deuses. Se algo era destinado pelas deidades, não havia escape. Se oráculo é boca, você precisava ter um bom ouvido pra entender o que diziam. Não é a toa que a maioria dos oráculos carrega em si a latente ideia da ausência de livre-arbítrio. A astrologia antes de sofrer com o new-wave era toda fatalista e determinista. Se você não vai se casar, não vai. Se você vai morrer amanhã, vai morrer amanhã. Se vai ganhar na mega-sena, vai ganhar. A palavra "não" era uma impossibilidade. E Édipo é o exemplo mais latente da cultura grega acerca dessa ideia. Uma figura mítica tão invariável ao ponto de se tornar assunto da psicanálise freudiana, o famoso Complexo de Édipo.
A relação pai-e-filho em Bandersnatch é Édipo Rei purinho. Stefan tem um amor latente pela mãe e de certa forma culpa a si mesmo e ao pai pela morte que a ela foi destinada. Essa angústia que carrega transforma sua relação com o pai em algo repleto de um desprezo muitas vezes reprimido, mas que em vários momentos da trama acaba explodindo, por vezes chegando a limites extremos, como surtos psicóticos notáveis. Ah, psicose, doenças psicológicas, isso também não é de certa forma uma questão que está além do livre-arbítrio?
Existe uma corrente da filosofia no que se refere ao assunto determinismo que diz que estamos determinados biologicamente a certas coisas e por isso não existe um livre-arbítrio verdadeiro. Se você se apaixona, você está destinado a isso, porque são seus hormônios que estão controlando você e não o contrário. Se quisermos nos aprofundar ainda mais, podemos falar até de filosofia budista aqui: os desejos são a causa do sofrimento humano e a única forma de alcançar a liberdade do Nirvana é se livrar dos desejos, fazendo assim com que saíamos do ciclo de reencarnação do samsara, que de certa forma é um destino,
Budas à parte, acho que estou indo muito pra fora do ponto: Black Mirror é acima de tudo uma obra sobre a influência das tecnologias na nossa sociedade moderna e um filme como Bandersnatch espelha propriamente a questão do livre-arbítrio na era digital. Nessas horas, é fácil lembrar aquela clássica frase dos familiares: você controla a máquina ou a máquina te controla? Bem, hoje em dia isso é algo bem mais denso do que podemos imaginar. Da maneira como as empresas se aproveitam dos nossos dados para vender e divulgar produtos, de certa forma o destino é algo marcante até mesmo quando estamos vendo vídeos de gato tocando piano no Youtube.
Como assim? Ora, digamos que você vê uma publicidade acerca de uma guitarra e decide comprar o produto. Você decidiu isso ou você foi "destinado" a comprar a guitarra? Porque se você estava assistindo vídeos sobre guitarras no Youtube e os motores de pesquisa se aproveitaram disso para indicar um possível conteúdo que você teria interesse em comprar, de certa forma você não teve propriamente escolha, porque não coube a você comprar a guitarra, mas sim a publicidade de guitarra que veio até você. Resumindo, até que ponto vai nosso livre-arbítrio quando assistimos vídeos de gato tocando piano no Youtube?
Tenso, pois é, tenso. E pra mim é nisso que reside a genialidade de Bandersnatch. É um filme interessante pelo que está nas entrelinhas do simbolismo. A partir do momento que você decide assistir, você já não tem mais livre arbítrio, mas somente a ilusão disso. Quando o filme começa com a música RELAX, DON'T DO IT, é como se a própria Netflix brincasse com você, dizendo que a única forma de ter livre-arbítrio assistindo Bandersnatch é não assistindo Bandersnatch. De explodir os miolos, não?
Mas se tem algo que me fez explodir mesmo foram aqueles finais mais escrachados que quebram a quarta, quinta, sexta, nonagésima parede, misturando o filme com a realidade e deixando tudo ainda mais confuso. Tem horas que o filme parecia até mesmo uma obra do David Lynch onde sonho e realidade se confundem. Acho que o final mais agradável que o pobre Stefan pôde ter foi morrer em meio a consulta na terapia, sonhando que morreu junto da mãe no acidente de metrô.
Porque olha, o garoto foi destinado a se dar mal. E nós, a impotência de não poder agir.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraO filme é bom, gostei das atuações. Acho que o mais incômodo mesmo na obra são algumas incoerências temporais, como o término com a Mary e a criação de We Will Rock You em 1980, sendo que ambos os acontecimentos foram antes disso. No demais, ficou bom e eu discordo acerca das críticas relativas a um excesso de moralismo na obra. Mary sempre foi uma figura marcante na vida de Freddie e o filme demonstra bem que apesar do término, ele nunca abandonou o apreço e até mesmo a paixão por ela. A presença marcante da Mary na história só pontua como foi uma relação angular na vida dele apesar das tantas que ele viveu.
PS.: Bem que o filme podia ter cenas do Freddie no final da vida, certeza que eu ia cair no choro. Ainda mais se tocasse These Are The Days of Our Lives.
Os Incríveis 2
4.1 1,4K Assista AgoraÉ bom, apesar do ritmo não estar muito bom e a conclusão parecer muito apressada. Uma continuação digna do primeiro filme.
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer
3.9 273 Assista AgoraEntender todos os mistérios de Twin Peaks é como escavar a procura de um diamante que desde o inicio nunca esteve ali: quanto mais se escava, maior o buraco.
Ata-me!
3.7 550Senhor Almodóvar, eu estou envergonhado com sua figura... Fazer filme romantizando Síndrome de Estocolmo e dando final feliz pra macho escroto. Olha... Eu não esperava isso de você.
Histórias Cruzadas
4.4 3,8K Assista Agora"God says we need to love our enemies. It hard to do. But it can start by telling the truth. No one had ever asked me what it feel like to be me. Once I told the truth about that, I felt free. And I got to thinking about all the people I know. And the things I seen and done. My boy Trelaw always said we gonna have a writer in the family one day. I guess it's gonna be me."
Uma história de representatividade marcante, com um elenco feminino forte e uma trama forte, dramática mas sem melodrama, com uma crítica forte ao racismo norte-americano. Amei muitíssimo!
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista Agora"For over a thousand years, Roman conquerors returning from the wars enjoyed the honor of a triumph - a tumultuous parade. In the procession came trumpeters and musicians and strange animals from the conquered territories, together with carts laden with treasure and captured armaments. The conqueror rode in a triumphal chariot, the dazed prisoners walking in chains before him. Sometimes his children, robed in white, stood with him in the chariot, or rode the trace horses. A slave stood behind the conqueror, holding a golden crown, and whispering in his ear a warning: that all glory is fleeting."
À Espera de Um Milagre
4.4 2,1K Assista AgoraUma obra artística que qualquer pessoa devia assistir antes de ousar debater qualquer coisa acerca de pena de morte. De um primor dramático elevado.
Luzes da Ribalta
4.5 280 Assista AgoraUma grande metáfora de Chaplin acerca da sua própria carreira e a desvalorização que ele recebeu com o passar dos anos, tendo sua comédia substituída pela de outros comediantes com o passar dos anos. Apesar de tudo, este filme também demonstra ao final que seu legado ao cinema é eterno mesmo que tenha sido deixado de lado.