A fórmula de sucesso da Netflix vem sendo exaustivamente aplicada às suas séries, e You é um perfeito exemplo disso. Começando com a escolha de algum ator que tenha feito considerável sucesso em alguma série ou filmes de um mesmo tema – como havia sido Kevin Spacey em inúmeros longas; e como foi, a seu modo, Penn Badgley em Gossip Girl.
Este ator é inserido em alguma grande cidade americana dentro de um contexto da moda: se antes tínhamos intrigas políticas na capital dos EUA, agora temos um funcionário de uma livraria em NYC, recheando seus episódios de referências literárias – bem distantes de uma autêntica erudição ou de um humor inteligente, mas não por isso incapazes de entreter um público jovem capaz de pegá-las.
Ah, e não podemos nos esquecer de uma característica marcante desse modelo: acompanhar nossos protagonistas bem de perto. Se em House of Cards, Frank olhava e conversava diretamente conosco, neste caso em particular a proximidade é mais incômoda: vemos e ouvimos o fluxo de consciência de um psicopata. Não estamos mais ao seu lado, mas dentro de sua mente. Acompanhamos com desconforto cada um de seus passos, suas impressões, suas confissões e, principalmente, as justificativas que cria ao tentar se convencer de que não ultrapassa a barreira da normalidade ao fazer “de tudo” por Beck, a vítima da vez.
São vários os problemas – do mal desenvolvimento de suas personagens aos mais descabidos furos de roteiro. A ideia, contudo, não deixa de ser interessante. Talvez tivesse sido mais feliz no formato longa-metragem, sem a possibilidade de se estender em dez horas uma história que já teria sido bem contada em, no máximo, três.
Tendo terminado a série muito recentemente, minha experiência com o revival seguramente não se assemelha com a de alguém que acompanhou a série antes das expectativas de uma temporada extra. Desse modo, a atmosfera exageradamente dramática e nostálgica não conseguiu me envolver a ponto de tolerar aparições deslocadas. O que não me foi exatamente um problema. O que não dá para negar é a ausência enorme de
Richard Gilmore, certamente pela morte do ator que o interpretava. Percebe-se que a dor dos personagens é, de certo modo, também a dor dos próprios atores diante da falta que o amigo faz.
Nesse sentido, o destaque vai para Emily Gilmore e seu momento delicado e difícil. A evolução dela é um dos pontos altos da série. Gilmore Girls foi e continua sendo, acima de tudo, uma história sobre as relações entre mãe e filha - não raro, entre as mães e as filhas. Nesse sentido, nada a reclamar. Os incômodos me surgiram por outras razões, como o excesso de musicais e os malditos e confusos saltos temporais.
A sugestão de Jess, felizmente acatada por Rory, de escrever um livro sobre a relação dela com sua mãe, foi uma das decisões mais acertadas desse roteiro – embora soe clichê.
O Jess, aliás, é um dos personagens que também teve um desenrolar interessante, e não digo apenas do revival, mas ao longo da série como um todo. Também gostei muito de ver a Paris, personagem que nunca me decepcionou.
Particularmente desgosto dessas frases finais ambíguas – meio gancho para uma possível temporada, meio desfecho no caso da primeira opção não funcionar –, mas nesse caso me convenceu. Não sinto necessidade de continuação, mas também não nego que seria interessante acompanhar a nova jornada de Rory Gilmore – cujo revival só reafirmou seu papel de eterna garotinha imatura e mimada que não sabe dar um passo com as próprias pernas. São vários os exemplos possíveis: no âmbito profissional, aquele completo e injustificável despreparo para uma entrevista, algo que soaria como uma piada para aquela Rory Gilmore que se preparava para Harvard, tinha inúmeros métodos de estudo, e se realmente se esforçava para superar suas dificuldades. Sua vida pessoal é também um completo desastre. Continua sendo "a outra" dos relacionamentos, tratando seus namorados como descartáveis e depois sofrendo as consequências que a instabilidade tem sobre ela. Um belo contraste com a força e determinação da mãe.
E quando Cesare realmente encarnaria The Prince... a série é cancelada.
Apesar desse maldito fato, a série foi épica. No que ela deixa a desejar historicamente falando, compensa com atuações magníficas em um cenário visualmente deslumbrante. O trio (Jeremy, Holly, François) é imbatível, mas não posso deixar de ressaltar o talento dos coadjuvantes, em especial o Julian Bleach e a Gina Mckee, essa última ganha mais espaço nesses episódios.
A terceira temporada é quase completamente constituída de tensão. O preparo para a guerra, as reconciliações e intrigas dentro da família e alguns acertos de contas. A expectativa frustrada por não ver a melhor parte da série, um dia, quem sabe, vou esquecer. Até lá, creio que reassistirei, especialmente esse último episódio, umas mil vezes.
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Você (1ª Temporada)
3.7 916 Assista AgoraA fórmula de sucesso da Netflix vem sendo exaustivamente aplicada às suas séries, e You é um perfeito exemplo disso. Começando com a escolha de algum ator que tenha feito considerável sucesso em alguma série ou filmes de um mesmo tema – como havia sido Kevin Spacey em inúmeros longas; e como foi, a seu modo, Penn Badgley em Gossip Girl.
Este ator é inserido em alguma grande cidade americana dentro de um contexto da moda: se antes tínhamos intrigas políticas na capital dos EUA, agora temos um funcionário de uma livraria em NYC, recheando seus episódios de referências literárias – bem distantes de uma autêntica erudição ou de um humor inteligente, mas não por isso incapazes de entreter um público jovem capaz de pegá-las.
Ah, e não podemos nos esquecer de uma característica marcante desse modelo: acompanhar nossos protagonistas bem de perto. Se em House of Cards, Frank olhava e conversava diretamente conosco, neste caso em particular a proximidade é mais incômoda: vemos e ouvimos o fluxo de consciência de um psicopata. Não estamos mais ao seu lado, mas dentro de sua mente. Acompanhamos com desconforto cada um de seus passos, suas impressões, suas confissões e, principalmente, as justificativas que cria ao tentar se convencer de que não ultrapassa a barreira da normalidade ao fazer “de tudo” por Beck, a vítima da vez.
São vários os problemas – do mal desenvolvimento de suas personagens aos mais descabidos furos de roteiro. A ideia, contudo, não deixa de ser interessante. Talvez tivesse sido mais feliz no formato longa-metragem, sem a possibilidade de se estender em dez horas uma história que já teria sido bem contada em, no máximo, três.
Gilmore Girls: Um Ano para Recordar
4.2 419 Assista AgoraTendo terminado a série muito recentemente, minha experiência com o revival seguramente não se assemelha com a de alguém que acompanhou a série antes das expectativas de uma temporada extra. Desse modo, a atmosfera exageradamente dramática e nostálgica não conseguiu me envolver a ponto de tolerar aparições deslocadas. O que não me foi exatamente um problema. O que não dá para negar é a ausência enorme de
Richard Gilmore, certamente pela morte do ator que o interpretava. Percebe-se que a dor dos personagens é, de certo modo, também a dor dos próprios atores diante da falta que o amigo faz.
A sugestão de Jess, felizmente acatada por Rory, de escrever um livro sobre a relação dela com sua mãe, foi uma das decisões mais acertadas desse roteiro – embora soe clichê.
Particularmente desgosto dessas frases finais ambíguas – meio gancho para uma possível temporada, meio desfecho no caso da primeira opção não funcionar –, mas nesse caso me convenceu. Não sinto necessidade de continuação, mas também não nego que seria interessante acompanhar a nova jornada de Rory Gilmore – cujo revival só reafirmou seu papel de eterna garotinha imatura e mimada que não sabe dar um passo com as próprias pernas. São vários os exemplos possíveis: no âmbito profissional, aquele completo e injustificável despreparo para uma entrevista, algo que soaria como uma piada para aquela Rory Gilmore que se preparava para Harvard, tinha inúmeros métodos de estudo, e se realmente se esforçava para superar suas dificuldades. Sua vida pessoal é também um completo desastre. Continua sendo "a outra" dos relacionamentos, tratando seus namorados como descartáveis e depois sofrendo as consequências que a instabilidade tem sobre ela. Um belo contraste com a força e determinação da mãe.
Os Bórgias (3ª Temporada)
4.4 133 Assista AgoraE quando Cesare realmente encarnaria The Prince... a série é cancelada.
Apesar desse maldito fato, a série foi épica. No que ela deixa a desejar historicamente falando, compensa com atuações magníficas em um cenário visualmente deslumbrante. O trio (Jeremy, Holly, François) é imbatível, mas não posso deixar de ressaltar o talento dos coadjuvantes, em especial o Julian Bleach e a Gina Mckee, essa última ganha mais espaço nesses episódios.
A terceira temporada é quase completamente constituída de tensão. O preparo para a guerra, as reconciliações e intrigas dentro da família e alguns acertos de contas. A expectativa frustrada por não ver a melhor parte da série, um dia, quem sabe, vou esquecer. Até lá, creio que reassistirei, especialmente esse último episódio, umas mil vezes.