Minhas Impressões Sobre Coringa (2019) [SEM SPOILERS]
Tenho absoluta certeza que não foi à toa a escolha de Robert de Niro para o papel de Murray Franklin, ídolo de Arthur Fleck. Travis Bickle também foi, sem sombras de dúvida, uma grande inspiração para esta versão moderna do clássico Taxi Driver (1976). Mas Todd Philips e Joaquin Phoenix trazem muito mais que uma versão; de fato, Coringa (2019) pode, em alguns momentos, até superar uma das maiores obras-primas do Cinema. E esta não é sua única qualidade.
Coringa (2019) é um filme de duas caras, mas, perdoem o trocadilho, sem ser sobre o Duas-Caras. Para quem não conhece HQs, é um drama, centrado em uma pessoa que sofre de sérios distúrbios psiquiátricos. Quase um Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), com uma mãe inválida. Por outro lado, para quem conhece HQs, é uma ode à verdadeira origem do Coringa, o psicopata sádico de humor negro da década de 40 de muito antes da Comics Code Authority (lei de auto-regulamentação, digo, a censura dos quadrinhos dos anos 50). E mais: sem romper com o Palhaço do Crime dos anos 50 e a liderança do exército de palhaços-doentes de Arkham.
É um filme sobre altos e baixos exagerados, assim como a mente de alguém que sofre de um transtorno bipolar, onde a personalidade do protagonista se deteriora, e retorna à normalidade. Não é a descida linear de Travis Bickle ao abismo do seu imo, mas a visita periódica ao inferno de Arthur Fleck, mesmo tendo de suportar – e guardar – todo o inferno que há dentro dele. Como já disse o Coringa de Ledger, “vocês já sabem, a loucura é como a gravidade: só precisa de um empurrãozinho”. Arthur Fleck, no entanto, propõe que “empurrãozinhos” não são necessários. Às vezes, apenas basta ser você mesmo.
Joaquin Phoenix é um espetáculo à parte. Seu repertório de risadas pode ser identificado pelo público, que vai desde sua condição (pseudobulbar) à risada fake para se enturmar. A maneira estapafúrdia de correr, o físico escabroso, e as danças descompassadas em momentos inoportunos caracterizam o protagonista, transbordando suas condições psiquiátricas. Seus surtos, de choro e riso simultâneos, são perturbadores. Seu auge, seu “are you talking to me?”, não tem diálogos, mas tem danças. Seu amadurecimento é A CENA: o balé confiante na escadaria.
Gotham City é retratada como uma metrópole menos sombria e mais realista. Ao invés de brincar com a iluminação e retratar a criminalidade em cenas ou diálogos pontuais, é através da sujeira e deterioração de cada ambiente que Philips sugere a decadência da cidade, ou melhor, das periferias. Durante o filme, a dicotomia entre ricos e pobres se agrava cada vez mais como plano de fundo, misturando-se até a sujeira chegar aos ambientes que frequentam. Obviamente, com a arte imitando a vida, sem maculá-los por dentro, mas colocando seus habitantes em risco quando fora de suas mansões e teatros suntuosos.
Os únicos incômodos que senti, de maneira pessoal e não técnica, foram a mãozinha de Scorcese que se faz sempre presente, e a ingenuidade, muitas vezes exagerada, que quase transforma o protagonista em um incapaz. De resto, o ritmo é caótico quando não precisa ser, sublime quando não deveria ser. Ou seja: perfeito para o filme solo de um dos maiores e mais loucos personagens da ficção.
Coringa (2019) é um estudo de personagem, um filme baseado em HQ, a superação de um clássico. Tudo junto e misturado. É como se Murray Franklin quisesse humilhar Arthur Fleck como comediante, mas Fleck acabasse humilhando seu Bickle. Todd Philips entrega uma obra-prima moderna, que levanta questões morais para debate, sem dar qualquer direcionamento a elas. E Joaquin Phoenix entrega nada mais, nada menos, que o Coringa: o monstro ao qual já estamos tão acostumados e a aberração pela qual temos tanto carinho. Claro, desde que ele permaneça na ficção.
A história é interessante, mas personagens forçados e atuações caricatas. A parte política poderia ter sido mais bem trabalhada, mas o diretor se perde em tentativa de dramatizar o gore, foco que fica evidente após o início, mas que não é, tampouco, devidamente explorado. O roteiro é bem fraco, cheio de reviravoltas forçadas e situações que beiram ao ridículo apenas para tentar enganar o telespectador. Apesar de ser ruim em vários quesitos, consegue ser tenso em boa parte da duração. Vale a pena ser visto, mas só.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraEstamos trabalhando já com um total de 3 dias sem tirar da cabeça a performance de Joe Pesci em O Irlandês.
It's what it is.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraMinhas Impressões Sobre Coringa (2019)
[SEM SPOILERS]
Tenho absoluta certeza que não foi à toa a escolha de Robert de Niro para o papel de Murray Franklin, ídolo de Arthur Fleck. Travis Bickle também foi, sem sombras de dúvida, uma grande inspiração para esta versão moderna do clássico Taxi Driver (1976). Mas Todd Philips e Joaquin Phoenix trazem muito mais que uma versão; de fato, Coringa (2019) pode, em alguns momentos, até superar uma das maiores obras-primas do Cinema. E esta não é sua única qualidade.
Coringa (2019) é um filme de duas caras, mas, perdoem o trocadilho, sem ser sobre o Duas-Caras. Para quem não conhece HQs, é um drama, centrado em uma pessoa que sofre de sérios distúrbios psiquiátricos. Quase um Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), com uma mãe inválida. Por outro lado, para quem conhece HQs, é uma ode à verdadeira origem do Coringa, o psicopata sádico de humor negro da década de 40 de muito antes da Comics Code Authority (lei de auto-regulamentação, digo, a censura dos quadrinhos dos anos 50). E mais: sem romper com o Palhaço do Crime dos anos 50 e a liderança do exército de palhaços-doentes de Arkham.
É um filme sobre altos e baixos exagerados, assim como a mente de alguém que sofre de um transtorno bipolar, onde a personalidade do protagonista se deteriora, e retorna à normalidade. Não é a descida linear de Travis Bickle ao abismo do seu imo, mas a visita periódica ao inferno de Arthur Fleck, mesmo tendo de suportar – e guardar – todo o inferno que há dentro dele. Como já disse o Coringa de Ledger, “vocês já sabem, a loucura é como a gravidade: só precisa de um empurrãozinho”. Arthur Fleck, no entanto, propõe que “empurrãozinhos” não são necessários. Às vezes, apenas basta ser você mesmo.
Joaquin Phoenix é um espetáculo à parte. Seu repertório de risadas pode ser identificado pelo público, que vai desde sua condição (pseudobulbar) à risada fake para se enturmar. A maneira estapafúrdia de correr, o físico escabroso, e as danças descompassadas em momentos inoportunos caracterizam o protagonista, transbordando suas condições psiquiátricas. Seus surtos, de choro e riso simultâneos, são perturbadores. Seu auge, seu “are you talking to me?”, não tem diálogos, mas tem danças. Seu amadurecimento é A CENA: o balé confiante na escadaria.
Gotham City é retratada como uma metrópole menos sombria e mais realista. Ao invés de brincar com a iluminação e retratar a criminalidade em cenas ou diálogos pontuais, é através da sujeira e deterioração de cada ambiente que Philips sugere a decadência da cidade, ou melhor, das periferias. Durante o filme, a dicotomia entre ricos e pobres se agrava cada vez mais como plano de fundo, misturando-se até a sujeira chegar aos ambientes que frequentam. Obviamente, com a arte imitando a vida, sem maculá-los por dentro, mas colocando seus habitantes em risco quando fora de suas mansões e teatros suntuosos.
Os únicos incômodos que senti, de maneira pessoal e não técnica, foram a mãozinha de Scorcese que se faz sempre presente, e a ingenuidade, muitas vezes exagerada, que quase transforma o protagonista em um incapaz. De resto, o ritmo é caótico quando não precisa ser, sublime quando não deveria ser. Ou seja: perfeito para o filme solo de um dos maiores e mais loucos personagens da ficção.
Coringa (2019) é um estudo de personagem, um filme baseado em HQ, a superação de um clássico. Tudo junto e misturado. É como se Murray Franklin quisesse humilhar Arthur Fleck como comediante, mas Fleck acabasse humilhando seu Bickle. Todd Philips entrega uma obra-prima moderna, que levanta questões morais para debate, sem dar qualquer direcionamento a elas. E Joaquin Phoenix entrega nada mais, nada menos, que o Coringa: o monstro ao qual já estamos tão acostumados e a aberração pela qual temos tanto carinho. Claro, desde que ele permaneça na ficção.
A Casa de Tolerância
3.5 189A história é interessante, mas personagens forçados e atuações caricatas. A parte política poderia ter sido mais bem trabalhada, mas o diretor se perde em tentativa de dramatizar o gore, foco que fica evidente após o início, mas que não é, tampouco, devidamente explorado. O roteiro é bem fraco, cheio de reviravoltas forçadas e situações que beiram ao ridículo apenas para tentar enganar o telespectador. Apesar de ser ruim em vários quesitos, consegue ser tenso em boa parte da duração. Vale a pena ser visto, mas só.
Moolaadé
4.4 43Que filme, meus amigos! QUE FILME SENSACIONAL!
Não é apenas um dos melhores filmes africanos já feitos; é um dos melhores filmes que já vi. Uma aula de Cinema.
O Jardim das Aflições
3.5 152Um "documentário" sobre o estelionatário mais famoso do cenário brasileiro?
Deve ser uma comédia pastelão bem interessante sobre esquizofrenia e insanidade.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3K"Nunca melindre alguém cujo apoio é importante." - Moro, Sergio.
1964: O Brasil Entre Armas e Livros
3.1 332Um "documentário" que tem Olavo de Carvalho e não é sobre esquizofrenia ou insanidade não pode ser levado a sério.
Não quero ver, obrigado. Prezo pela minha sanidade.