O roteiro é simples, sem grandes surpresas. O romance também. Acredito que isso não desqualifica o filme. Além disso, penso que aborda uma questão pertinente: a dúvida. Penso que é angustiante para o ser humano conviver com uma dúvida e por isso a tendência de darmos um sentido para as coisas. O que aconteceu com George Malley era um mistério e, a partir disso, surgem mil e uma explicações para este fenômeno. Sério, que asco que eu senti, na cena em que
alguns amigos de George comentam no bar o que realmente estava acontecendo com ele. Será que ele jogou algo no espelho quando o quebrou? Será que tinha fios quase invisíveis quando ele mexia o óculos sem encostar nele? O asco era de perceber uma tentativa de denegrir a imagem de George e da dificuldade em aceitar o outro como melhor ou mais capaz que a gente.
Até que ponto nós conseguimos conviver com algo inexplicável? Até que ponto precisamos dar um sentido para os fenômenos misteriosos para podermos dormir bem à noite? O Doc disse, logo após a cena que falei acima:
Por que vocês tem que falar mal dele? Do que vocês têm tanto medo? O que vocês tem a perder? Ele não estava vendendo nada! Ele não queria nada de ninguém! Ele não queria nada de ninguém! Nada! As pessoas têm de falar mal dele para que possam dormir melhor à noite! Aí vocês podem provar que o mundo é plano e então vocês podem dormir melhor à noite! Estou certo? Estou certo? ... Para o inferno com todos vocês. Vocês todos podem ir para o inferno.
Tudo bem que é só um filme, mas é um tanto quanto complicado analisar as pessoas ou um relacionamento de uma época diferente da nossa. É uma sociedade futurista. A cultura é diferente. Julgaremos com outros valores. Além disso, o próprio conceito de inteligência artificial é complexo. O filme é cativante, com algumas reflexões existencialistas na abordagem da interação do ser humano com a tecnologia e os dilemas de se encontrar apaixonado por um sistema operacional.
Enfim, romance à parte, como é triste ver a dificuldade do ser humano de se relacionar com seus semelhantes. Ao meu ver, o filme é um reflexo da nossa sociedade, apenas um pouco mais distante no tempo. A dificuldade em se expressar e se expor, de se permitir sentir vulnerável, de conhecer a si mesmo, de aceitar a si mesmo, são alguns reflexos dessa complexidade. Não sei como exatamente isso vem se construindo ao longo do tempo. Um salve à modernidade líquida de Bauman. Por outro lado, parece que essas dificuldades são quase nulas em uma esfera virtual. E muito se constrói para o virtual. Relacionamentos, realizações, desejos, satisfações. Um faz de conta sobre a vida. Talvez seja nesse sentido que Theodore comenta, numa reflexão existencialista,
Pergunto-me se os seres humanos tivessem a capacidade e o tempo pra conversar com tantas pessoas como Samantha conversava, se iríamos nos apaixonar tantas vezes também...
Pensar que a nossa vida está à mercê do acaso, de coincidências e casualidades é angustiante. Parece que tudo se torna tão frágil e um detalhe poderia ter um rumo totalmente diferente.
E se Summer não fosse na festa do karaokê? E se Summer não tivesse beijado Tom na sala de xerox? E se Tom tivesse marcado a entrevista, no final do filme, para outro dia e não encontrasse a Autumn?
Mas por outro lado, encarar o mundo desta forma propicia que possamos aproveitar as oportunidades que surgem pra gente. Ou pelo menos deveria. Ao filme. Acredito que é difícil alguém não se identificar com algum dos personagens: Tom ou Summer.
Mas este é um filme sobre a visão de Tom. Seus medos, receios, expectativas, projeções, inseguranças e outros sentimentos e pensamentos. O que nós sabemos sobre Summer é o que Tom viveu com ela e o que Tom pensa sobre ela. Minha crítica a ele como pessoa, independente se homem ou mulher, independente se está em um relacionamento ou não, é a sua passividade. Desde o começo. Quando o amigo que estava bêbado conta que Tom gosta de Summer e ela pergunta se é verdade, ele confirma que é só como amigos. Quando Summer diz que não quer nada sério, ele diz que está tudo bem. Indo um pouco mais além, podemos até falar sobre a passividade para com o seu emprego: o que era pra ser provisório estava se tornando permanente. Para mim, um dos raros momentos que ele se posiciona com Summer é depois da briga do bar. A questão não é brigar, mas se posicionar frente a uma situação. Suas expectativas só podem se tornar realidade se ele agir em função delas. A cena que ele critica a função dos cartões na empresa onde trabalha e pede demissão eu achei fascinante. Radical, sim, mas não deixa de ser verdade. Por um lado, ele se expressava tanto com os cartões, mas não conseguia se expressar com a Summer. E para mim toda a história se baseia nisso: as expectativas de Tom x realidade. É claro que Summer tem sua parcela de culpa no sofrimento de Tom. Mas penso que o sofrimento dele diz muito mais respeito à sua dificuldade em se expressar e posicionar perante a vida, do que culpar a Summer por não ter correspondido às expectativas de Tom.
Eu sempre me perguntei: "como será que o cristianismo se tornou a religião com mais fieis no mundo? Qual processo histórico, o passo a passo, pessoa a pessoa, que fez isso acontecer?" Não que o filme seja um documentário sobre a expansão do Cristianismo, mas é um retrato da ascensão do mesmo e também da intolerância religiosa. Fascinante a construção de como um fenômeno "curioso", digamos assim, pode se tornar um milagre, como
o Parabolani cruzando o fogo. A cena da entrega dos pães aos famintos ao discurso de "O Senhor esteja convosco" também é complexa. Sempre existe a polêmica de "compra de votos" pelo bolsa-família. É simples caridade ou um meio para um fim?
Pergunto-me até que ponto as Escrituras não foram forjadas, como um meio para um fim, para que o Cristianismo tivesse mais poder. Acredito que o melhor exemplo é a parte que
o Bispo Cyryl lê: "A mulher aprenderá a submissão silenciosa e completa e não será permitido a uma mulher ensinar ou ter autoridade sobre qualquer homem, devendo ficar em silêncio" para por em xeque os conselhos de Hypatia a Orestes.
A intolerância religiosa é um tema intensamente retratado. A gente vê isso todo dia na mídia. Esses dias um nigeriano foi internado numa instituição psiquiátrica por ter se declarado ateu. Link: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/06/1476610-nigeriano-e-internado-depois-de-se-dizer-ateu.shtml. Então me pergunto quão distante nossa sociedade ainda está daquela retratada no filme. Embora haja outros fenômenos históricos nesse contexto que fogem ao meu comentário, até que ponto a "ascensão" do cristianismo é entendida como imposição? Será que as colonizações foram muito diferentes?
A construção da ideia de heliocentrismo e das órbitas elípticas que Hypatia sugere é pertinente.
Já vi pessoas comentando que essa ideia foi forçada, mas independente de ser verdade ou não, considero uma agulha no palheiro do tanto de conhecimento que deve ter sido destruído e esquecido em função da intolerância religiosa. É isso aí. "Se não questiona o que acredita, você não pode acreditar. E eu preciso questionar". Hypatia.
Uma aula em (des)construção de ideias. Impossível não fazer uma analogia com a nossa sociedade. Um preconceituoso, um desinteressado, um com conflitos emocionais, um passivo... Ideias que estão internalizadas e que nem temos consciência e, pior, não temos noção da complexidade que essas ideias exercem sobre a nossa visão de mundo e o julgamento que fazemos do mesmo. Qual desses papeis (dos 12) nós mesmos não exercemos no nosso cotidiano e, consequentemente, que ideologia perpetuamos?
Quando escutei a história pela primeira vez, eu sempre me perguntava como seria realmente a história da arca de Noé. Como todos os animais entraram na arca? Como eles ficaram lá dentro? Todo mundo morria afogado? Como a família de Noé deu origem a uma diversidade tão complexa de atuais etnias hoje existentes? Enfim. Vamos falar sobre o filme. Este é um filme. Ponto. É ficção. Ponto. Baseado em uma das histórias da Bíblia, um livro que é interpretado de forma muito controversa em todo o mundo. Ponto. Partindo disso, não tem porque falar que é distorcido e inconsistente, porque ninguém falou que ia ser um retrato fidedigno da história bíblica. Ninguém falou que ia ser um documentário, com o intuito de explorar a realidade. É cinema. Sétima arte. Repito: é arte. Sujeita a interpretações. Embora o Aronofsky possa ter tido uma intenção em passar alguma mensagem, cada um interpreta como bem quiser. O filme é repleto de metáforas.
Pra mim, os Gigantes de Pedra foram uma surpresa negativa. Eu não gostei. Mas compreendi que eles tinham sua função em defender a arca.
No geral, ao meu ver, Aronofsky quis dar um viés de veracidade ao filme, em uma perspectiva de caráter rústico. Demonstrar um passo a passo mais realístico e, claro, aproveitando pra fazer críticas à história bíblica. Por exemplo:
A cena que Noé conta a origem do mundo, ao fundo das imagens da evolução é fascinante.
Isso é uma contradição clara. Confesso que pra mim o dilúvio por uma vontade divina não faz sentido. Provavelmente para o Aronofsky também não faça, já que ele é ateu. Se a Bíblia não tivesse um sentido religioso, seria visto por todos como um livro repleto de fantasias e metáforas. Mas como é, sim, religioso, muitos entendem como uma ofensa qualquer visão que se afaste da crença, ou até mesmo coloque em xeque a posição religiosa. É só um filme. Ps.:
O filme é muito bom e pra mim foi um resgate à minha infância. Foi incrível perceber como coisas que são insignificantes para os adultos podem ser riquíssimas em experiências às crianças. Ver um estourar de pipoca, ver um ganso andando, tatear uma lama, ver uma correnteza de água, comer uma laranja, martelar uma pedra, sentir a textura de um mamão, ouvir uma história. Coisas tão simples, mas que, juntas, formam um conjunto riquíssimo de experiências e vivências para as crianças. Claro, já que, para elas, tudo é novidade. Gostei muito da postura das educadoras em discriminar adequadamente eventos que, supostamente, são maduramente incompreensíveis à uma consciência infantil. Elas utilizam uma linguagem simples, discriminando o evento do enterro, por exemplo, e, assim, evitando possíveis medos num futuro. A criança precisa ter consciência do que acontece, em uma linguagem adequada ao seu entendimento. Isso traz aquele velho comentário de que: "se você não ensinar, outra pessoa vai". E sabe-se lá como isso vai acontecer. Vê-se bem a imposição de limites, a empatia (se colocar no lugar do outro, como por exemplo, com os animais e outras crianças), a exigência que a família seja participativa na vida da criança (em que a escola demanda as pesquisas somente com a família, e não em livros e internet). Embora possa se criticar sobre essa ideia de se recusar um conhecimento acadêmico e científico sobre os fatos, acredito que nesta fase que as crianças estão ainda não é a hora de priorizar isso - mas sim a família. Há uma exigência de consciência das crianças logo cedo. Há uma aproximação da escola com as crianças. Há uma aproximação da escola com os pais. Há reuniões com integrantes da escola com os pais e com o aluno. Há uma exigência de consciência dos pais. Aquela reunião em que a mãe ainda quer segurar a filha no colo é memorável. Todo essa comunicação (Instituição, pais e criança) faz com que o processo se torne mais eficiente. De fato, pode-se perceber que toda a filosofia da escola é eficiente (pelos relatos dos pais) e, de acordo com o comentário do Caio Faiad, a procura à escola é grande. Isso me levou a outro questionamento. Durante o filme, perguntei à minha namorada: "Além do músico, você já viu outros negros? Viu alguma criança negra?" Ela disse que não. Só apareceu ou outro educador negro. Pelo que percebi, a única criança que diferenciava do padrão das outras era uma de origem asiática. Esse padrão das crianças fez com que eu deduzisse que a escola devia ser muito cara. E de fato, como o Caio comentou acima, é cara. Que esta filosofia pode ser implementada em uma escala maior não há dúvida. Mas fica muito difícil de visualizar que esta filosofia ultrapasse as classes dominantes e atinja classes menos favorecidas, com menor poder aquisitivo.
Pra quem tá em dúvida sobre o título do filme, olha só...Tem uma entrevista de Harmony Korine (diretor do filme) com o David Letterman. Eis o link: http://www.angelfire.com/ab/harmonykorine/letterman1.html. Nessa entrevista, Harmony fala que Gummo é o quinto irmão dos Irmãos Marx, um grupo de irmãos comediantes, que fizeram, teatro, cinema e televisão no início do século XX. Uma das curiosidades que Harmony fala sobre Gummo, é que ele saiu do grupo porque ele gostava de usar roupas femininas. Letterman pergunta: "ele é um personagem que você gostou e admirou e até nomeou o filme, mas o filme não tem nada a ver com ele?" Harmony responde que sim.
É incrível como o impulso sexual de Brandon se manifesta de forma obsessiva. A cena que ele toca a genitália da mulher no bar é fascinante. Parece que está implícito no sorriso do Brandon uma espécie de satisfação quando o namorado a leva do bar, como se o sorriso de Brandon dissesse: "É, ela me quer... MUA HA HA!" Mas é um impulso pelo prazer que é, basicamente, destituído de afeto, já que na ocasião onde ele marcou um encontro com sua colega de trabalho, conversaram sobre suas vidas (e ele cita que seu relacionamento mais longo foi de quatro meses, o que não deixa de ser um aspecto relevante) e que existia a possibilidade de um relacionamento afetivo, ele ficou impotente. Isso é significativo. Há, portanto, uma grande dificuldade de sua parte em expressar suas emoções e sentimentos. Mas ele precisava liberar seu desejo de alguma forma e, na cena seguinte, já está com uma prostituta para se satisfazer. A impotência não existe nesse contexto de sexo por ser "apenas sexo", portanto. Percebi essa obsessão, também, quando ele entra na boate gay. O segurança o barra na entrada do local anterior que ele estava, impedindo-o de entrar. Mas penso que seu impulso era tão intenso na hora que a primeira oportunidade que avistou, seguiu instantaneamente, sem pensar, mesmo que não costumasse se relacionar com homens. Parece-me que, naquela altura, não importava quem iria satisfazer seu desejo, desde que seu desejo fosse satisfeito. A questão de afeto também pode ser observada com sua irmã, Sissy. Mesmo ela sendo irmã, ele se manifesta afetivamente com muita dificuldade, praticamente ignorando o laço afetivo que os envolve quando Sissy diz: "You're my brother!".
Mas o que me deixou fascinado (e aqui, pra mim, é a grande sacada do filme) foi que, independente da sua própria obsessão por sexo e seu universo pessoal estar intensamente envolvido em torno do sexo, ele sentia repulsa e repugnância pela sua irmã quando ela se envolvia sexualmente com outros pessoas, ou seja, se comportava de forma similar a ele. (Penso até se "Sissy" não tem alguma conotação sexual implícita no nome.) Ela inclusive fala para Brandon, algo como: "Você, justamente você, vem me julgar?" Se a promiscuidade (não tenho outra palavra para definir no momento) é tão normal no universo de Brandon, por que ele sente repulsa, repugnância e vergonha pela irmã quando ela se comporta de forma similar? E é aqui que eu penso que existe a grande possibilidade de ele sentir essa repugnância por si mesmo, se sentir vergonha de si mesmo (e eu já explico isso), tanto que ele chora no final do filme. Não que essa seja a única causa de suas lágrimas, (justamente por a irmã ter acabado de tentar um suicídio e isso talvez tenha sido a gota d'água para ele liberar sua carga emocional chorando), mas pode ser UM dos fatores. Por exemplo (pra quem gosta de psicanálise): ele, inconscientemente, considera todo seu universo sexual repugnante e vergonhoso, ou seja, possui esse sentimento de repugnância e vergonha em si mesmo, mas como é um conteúdo inconsciente, é incapaz de reconhecer conscientemente que ele próprio está fazendo tudo aquilo que considera repugnante e vergonhoso e acaba projetando seus sentimentos para outra pessoa. Que, no caso, é sua irmã. Como se Brandon dissesse para sua irmã: "Você deveria se sentir envergonhada do que faz". Mas será que é ela que deveria se sentir assim? Nessa perspectiva, não é à toa que Sissy comenta que nunca sabe porque Brandon está sempre tão furioso com ela e nunca sabe o que ela fez pra deixá-lo assim. E aí que eu penso: "qual é o nome do filme mesmo?" Ééé... faz sentido, hahaha. Enfim, são hipóteses, apenas.
Mas a incógnita que permanece é o que acontece depois de todos esses eventos. A mesma mulher no metrô. "Aqueles" olhares que descartam descrições. Ele foi atrás dela ou não? Eu, particularmente, penso que ele iria atrás, sim. Por mais que exista a possibilidade de ele ter sentido repugnância a si mesmo e ter demonstrado seu lado afetivo com sua irmã quando ela tenta o suicídio, onde está o seu impulso sexual que era manifestado de forma tão obsessiva? A princípio, penso em três alternativas. Primeira (1): existe a possibilidade de ele re-elaborar seu conflito de "impulso sexual x repugnância", o que muito dificilmente ele mesmo conseguiria fazer sozinho (e é aí que surge a ideia de terapia). Não estou inferindo que ele necessita de terapia, isso somente ele, o Brandon, poderia decidir, de acordo com seu sofrimento; Segunda (2): ele substitui seu impulso sexual para alguma outra coisa (e isso aconteceria basicamente sem ser um ato voluntário e dirigido para a substituição, do tipo: "ah, agora vou mudar pra isso"... Não funciona assim. Essa substituição buscaria satisfazê-lo também de alguma forma (como por exemplo, um fanatismo por alguma coisa: jogos, religião ou até mesmo drogas, embora este último seja mais complexo). Portanto, esses exemplos, assim como o sexo que já é propriamente do Brandon, são apenas FORMAS como ele busca se satisfazer. Quando digo substituir, quero dizer que mudaria a forma como ele buscaria a satisfação; E Terceira (3) e mais provável, que ele continua se sentindo da mesma forma. Isso não impede que ele tenha "recaídas", como ter crises de choro e se expressar emocionalmente de vez em quando (e provavelmente isso aconteça em contextos em que ele está sozinho, isolado), e também de sentir a repugnância com relação a si mesmo. Mas, talvez, essa é simplesmente a única forma que ele saiba lidar com tudo isso e, na intensidade do momento, só queira satisfazer seu impulso sexual. É a vida, né? Que coisa linda, HAHAHAHAHA! Que filme do caralho...
Quando eu escutava: "Maria Lúcia se arrependeu depois, e morreu junto com João seu protetor", SEMPRE ficava me perguntando, como que a Maria Lúcia morria? HAHAHA! Enfim... Quem espera uma história fidedigna da canção do Legião se frustra um pouco. Eu, particularmente, imaginava toda a canção e esperava ansioso por algumas cenas.
Eu esperei muito pela cena em que o João dissesse: "Olha pra cá filha da puta, sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue, vem sentir o seu perdão..." Ou a cena em que o senhor de alta classe diz "você perdeu a sua vida, meu irmão". E a cena do duelo, em que todo o povo assistia, "e se lembrou de quando era uma criança, e de tudo que vivera até ali". Porra, quantas vezes passou uma cena da minha vida em poucos segundos ao escutar essa parte. E eu gostaria de ter visto essa cena também, em uma sequência de flashs, por exemplo.
Enfim, houve algumas mudanças, mas não dava pra esperar um filme igualzinho à canção. Claro que algumas coisas iriam faltar e outras seriam adaptadas. O filme é muito bom. Eu gostei muito. Gostei dos atores e, pra falar a verdade, gostei das mudanças e adaptações também, mas esperava que algumas coisas da letra da música fossem melhor retratadas no filme. Senti falta de uma trilha sonora durante o filme também.
Mas pra falar a verdade, o que mais me deixou frustrado no filme, foi o real motivo (de acordo com a canção) que ele foi pra Brasília: "ele queria era falar pro presidente, pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer". Porra, não fala praticamente NADA disso no filme. Eu imaginava um João de Santo Cristo engajado com a sociedade e, pra falar a verdade, isso é um dos motivos que eu admirava tanto o Santo Cristo, mas isso não foi abordado no filme. Triste...
O título me atraiu muito. Quando comecei a ver, achei muito interessante, pelo roteiro que se apresentava e pela fotografia que é muito boa. Eu não sou fã de musicais, mas gostei muito das canções até a primeira metade do filme, especialmente a do primeiro cliente suicida que os irmãos de Alain assistem.
Algumas cenas são memoráveis, como a irmã do Alain dançando nua e os meninos olhando, ou a cena do ônibus em que eles estão indo pra escola, em que a maioria está desanimada e uma meia dúzia lá atrás dançando, e depois o motorista acaba atropelando um senhor. O discurso do pai a cada venda achei interessante (em que ele poderia cobrar qualquer preço, por exemplo), e o desdém com relação aos cadáveres nas ruas também, em que apenas era dado uma multa. Se fizermos algumas analogias, será que é muito diferente da "nossa" sociedade?
Críticas ao sistema capitalista e sentido da vida são bem colocadas, mas poderiam ter explorado mais. O começo foi muito interessante, por isso criei expectativa quanto ao desenvolvimento da animação, mas não manteve o mesmo ritmo.
A ideia da música e do amor são realmente interessantes, mas tudo se resolveu muito fácil e tão bonitinho.
O ambiente mudou muito, e a ênfase nas canções e na troca tão repentina de humor, como se todo mundo pudesse ter insights tão facilmente numa questão tão complexa, foi forçada. Enfim, 3,5 pela ideia do filme que é bem criativa, pela fotografia, por algumas cenas memoráveis e outras colocações e críticas. Última coisa: eu fiquei perdido no contexto de uma cena em especial, alguém poderia me ajudar, por favor?
No final, o pai entrega um crepe de cianeto (se não me engano) a um cliente. Pensei que o pai continuaria com a ideia da loja de suicídios, mas depois começa a cantoria toda lá e eu fiquei sem entender o que ele realmente queria...
Cadê o Cliff Martinez? Po, tem que começar a colocar os responsáveis pelas trilhas sonoras do filme. Tem Hanz Zimmer, Howard Shore, Clint Mansell, John Williams por aí... Cliff Martinez, por esse filme, merece pelo menos um cadastro aqui. Se eu soubesse fazer, juro que já tinha feito, hahaha.
Fenômeno
3.4 165 Assista AgoraO roteiro é simples, sem grandes surpresas. O romance também. Acredito que isso não desqualifica o filme.
Além disso, penso que aborda uma questão pertinente: a dúvida. Penso que é angustiante para o ser humano conviver com uma dúvida e por isso a tendência de darmos um sentido para as coisas. O que aconteceu com George Malley era um mistério e, a partir disso, surgem mil e uma explicações para este fenômeno.
Sério, que asco que eu senti, na cena em que
alguns amigos de George comentam no bar o que realmente estava acontecendo com ele. Será que ele jogou algo no espelho quando o quebrou? Será que tinha fios quase invisíveis quando ele mexia o óculos sem encostar nele? O asco era de perceber uma tentativa de denegrir a imagem de George e da dificuldade em aceitar o outro como melhor ou mais capaz que a gente.
Até que ponto nós conseguimos conviver com algo inexplicável? Até que ponto precisamos dar um sentido para os fenômenos misteriosos para podermos dormir bem à noite? O Doc disse, logo após a cena que falei acima:
Por que vocês tem que falar mal dele? Do que vocês têm tanto medo? O que vocês tem a perder? Ele não estava vendendo nada! Ele não queria nada de ninguém! Ele não queria nada de ninguém! Nada! As pessoas têm de falar mal dele para que possam dormir melhor à noite! Aí vocês podem provar que o mundo é plano e então vocês podem dormir melhor à noite! Estou certo? Estou certo? ... Para o inferno com todos vocês. Vocês todos podem ir para o inferno.
O Meu Amigo Imaginário
3.5 84Romance à parte, que doideira essa história.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraTudo bem que é só um filme, mas é um tanto quanto complicado analisar as pessoas ou um relacionamento de uma época diferente da nossa. É uma sociedade futurista. A cultura é diferente. Julgaremos com outros valores. Além disso, o próprio conceito de inteligência artificial é complexo.
O filme é cativante, com algumas reflexões existencialistas na abordagem da interação do ser humano com a tecnologia e os dilemas de se encontrar apaixonado por um sistema operacional.
Penso que o final deixou um pouco a desejar.
Enfim, romance à parte, como é triste ver a dificuldade do ser humano de se relacionar com seus semelhantes. Ao meu ver, o filme é um reflexo da nossa sociedade, apenas um pouco mais distante no tempo. A dificuldade em se expressar e se expor, de se permitir sentir vulnerável, de conhecer a si mesmo, de aceitar a si mesmo, são alguns reflexos dessa complexidade. Não sei como exatamente isso vem se construindo ao longo do tempo. Um salve à modernidade líquida de Bauman. Por outro lado, parece que essas dificuldades são quase nulas em uma esfera virtual. E muito se constrói para o virtual. Relacionamentos, realizações, desejos, satisfações. Um faz de conta sobre a vida. Talvez seja nesse sentido que Theodore comenta, numa reflexão existencialista,
que "Às vezes, acho que senti tudo que poderia sentir. Não sentirei nunca mais nada inédito, apenas versões mais suaves do que experimentei”.
Hmm, e outra coisa...
Pergunto-me se os seres humanos tivessem a capacidade e o tempo pra conversar com tantas pessoas como Samantha conversava, se iríamos nos apaixonar tantas vezes também...
(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraPensar que a nossa vida está à mercê do acaso, de coincidências e casualidades é angustiante. Parece que tudo se torna tão frágil e um detalhe poderia ter um rumo totalmente diferente.
E se Summer não fosse na festa do karaokê? E se Summer não tivesse beijado Tom na sala de xerox? E se Tom tivesse marcado a entrevista, no final do filme, para outro dia e não encontrasse a Autumn?
Mas por outro lado, encarar o mundo desta forma propicia que possamos aproveitar as oportunidades que surgem pra gente. Ou pelo menos deveria.
Ao filme. Acredito que é difícil alguém não se identificar com algum dos personagens: Tom ou Summer.
Mas este é um filme sobre a visão de Tom. Seus medos, receios, expectativas, projeções, inseguranças e outros sentimentos e pensamentos. O que nós sabemos sobre Summer é o que Tom viveu com ela e o que Tom pensa sobre ela. Minha crítica a ele como pessoa, independente se homem ou mulher, independente se está em um relacionamento ou não, é a sua passividade. Desde o começo. Quando o amigo que estava bêbado conta que Tom gosta de Summer e ela pergunta se é verdade, ele confirma que é só como amigos. Quando Summer diz que não quer nada sério, ele diz que está tudo bem. Indo um pouco mais além, podemos até falar sobre a passividade para com o seu emprego: o que era pra ser provisório estava se tornando permanente. Para mim, um dos raros momentos que ele se posiciona com Summer é depois da briga do bar. A questão não é brigar, mas se posicionar frente a uma situação. Suas expectativas só podem se tornar realidade se ele agir em função delas. A cena que ele critica a função dos cartões na empresa onde trabalha e pede demissão eu achei fascinante. Radical, sim, mas não deixa de ser verdade. Por um lado, ele se expressava tanto com os cartões, mas não conseguia se expressar com a Summer. E para mim toda a história se baseia nisso: as expectativas de Tom x realidade. É claro que Summer tem sua parcela de culpa no sofrimento de Tom. Mas penso que o sofrimento dele diz muito mais respeito à sua dificuldade em se expressar e posicionar perante a vida, do que culpar a Summer por não ter correspondido às expectativas de Tom.
Alexandria
4.0 583 Assista AgoraEu sempre me perguntei: "como será que o cristianismo se tornou a religião com mais fieis no mundo? Qual processo histórico, o passo a passo, pessoa a pessoa, que fez isso acontecer?"
Não que o filme seja um documentário sobre a expansão do Cristianismo, mas é um retrato da ascensão do mesmo e também da intolerância religiosa.
Fascinante a construção de como um fenômeno "curioso", digamos assim, pode se tornar um milagre, como
o Parabolani cruzando o fogo. A cena da entrega dos pães aos famintos ao discurso de "O Senhor esteja convosco" também é complexa. Sempre existe a polêmica de "compra de votos" pelo bolsa-família. É simples caridade ou um meio para um fim?
Pergunto-me até que ponto as Escrituras não foram forjadas, como um meio para um fim, para que o Cristianismo tivesse mais poder. Acredito que o melhor exemplo é a parte que
o Bispo Cyryl lê: "A mulher aprenderá a submissão silenciosa e completa e não será permitido a uma mulher ensinar ou ter autoridade sobre qualquer homem, devendo ficar em silêncio" para por em xeque os conselhos de Hypatia a Orestes.
A intolerância religiosa é um tema intensamente retratado. A gente vê isso todo dia na mídia. Esses dias um nigeriano foi internado numa instituição psiquiátrica por ter se declarado ateu. Link: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/06/1476610-nigeriano-e-internado-depois-de-se-dizer-ateu.shtml. Então me pergunto quão distante nossa sociedade ainda está daquela retratada no filme.
Embora haja outros fenômenos históricos nesse contexto que fogem ao meu comentário, até que ponto a "ascensão" do cristianismo é entendida como imposição? Será que as colonizações foram muito diferentes?
A construção da ideia de heliocentrismo e das órbitas elípticas que Hypatia sugere é pertinente.
É isso aí. "Se não questiona o que acredita, você não pode acreditar. E eu preciso questionar". Hypatia.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraUma aula em (des)construção de ideias. Impossível não fazer uma analogia com a nossa sociedade. Um preconceituoso, um desinteressado, um com conflitos emocionais, um passivo... Ideias que estão internalizadas e que nem temos consciência e, pior, não temos noção da complexidade que essas ideias exercem sobre a nossa visão de mundo e o julgamento que fazemos do mesmo. Qual desses papeis (dos 12) nós mesmos não exercemos no nosso cotidiano e, consequentemente, que ideologia perpetuamos?
Noé
3.0 2,6K Assista AgoraQuando escutei a história pela primeira vez, eu sempre me perguntava como seria realmente a história da arca de Noé. Como todos os animais entraram na arca? Como eles ficaram lá dentro? Todo mundo morria afogado? Como a família de Noé deu origem a uma diversidade tão complexa de atuais etnias hoje existentes?
Enfim. Vamos falar sobre o filme.
Este é um filme. Ponto. É ficção. Ponto. Baseado em uma das histórias da Bíblia, um livro que é interpretado de forma muito controversa em todo o mundo. Ponto. Partindo disso, não tem porque falar que é distorcido e inconsistente, porque ninguém falou que ia ser um retrato fidedigno da história bíblica. Ninguém falou que ia ser um documentário, com o intuito de explorar a realidade. É cinema. Sétima arte. Repito: é arte. Sujeita a interpretações. Embora o Aronofsky possa ter tido uma intenção em passar alguma mensagem, cada um interpreta como bem quiser. O filme é repleto de metáforas.
Pra mim, os Gigantes de Pedra foram uma surpresa negativa. Eu não gostei. Mas compreendi que eles tinham sua função em defender a arca.
No geral, ao meu ver, Aronofsky quis dar um viés de veracidade ao filme, em uma perspectiva de caráter rústico. Demonstrar um passo a passo mais realístico e, claro, aproveitando pra fazer críticas à história bíblica. Por exemplo:
A cena que Noé conta a origem do mundo, ao fundo das imagens da evolução é fascinante.
Isso é uma contradição clara.
Confesso que pra mim o dilúvio por uma vontade divina não faz sentido. Provavelmente para o Aronofsky também não faça, já que ele é ateu. Se a Bíblia não tivesse um sentido religioso, seria visto por todos como um livro repleto de fantasias e metáforas. Mas como é, sim, religioso, muitos entendem como uma ofensa qualquer visão que se afaste da crença, ou até mesmo coloque em xeque a posição religiosa. É só um filme.
Ps.:
Quem não fez uma piada com a fumaça relaxante pros animais? HAHAHAHA!
Sementes do Nosso Quintal
4.4 4O filme é muito bom e pra mim foi um resgate à minha infância. Foi incrível perceber como coisas que são insignificantes para os adultos podem ser riquíssimas em experiências às crianças. Ver um estourar de pipoca, ver um ganso andando, tatear uma lama, ver uma correnteza de água, comer uma laranja, martelar uma pedra, sentir a textura de um mamão, ouvir uma história. Coisas tão simples, mas que, juntas, formam um conjunto riquíssimo de experiências e vivências para as crianças. Claro, já que, para elas, tudo é novidade.
Gostei muito da postura das educadoras em discriminar adequadamente eventos que, supostamente, são maduramente incompreensíveis à uma consciência infantil. Elas utilizam uma linguagem simples, discriminando o evento do enterro, por exemplo, e, assim, evitando possíveis medos num futuro. A criança precisa ter consciência do que acontece, em uma linguagem adequada ao seu entendimento. Isso traz aquele velho comentário de que: "se você não ensinar, outra pessoa vai". E sabe-se lá como isso vai acontecer.
Vê-se bem a imposição de limites, a empatia (se colocar no lugar do outro, como por exemplo, com os animais e outras crianças), a exigência que a família seja participativa na vida da criança (em que a escola demanda as pesquisas somente com a família, e não em livros e internet). Embora possa se criticar sobre essa ideia de se recusar um conhecimento acadêmico e científico sobre os fatos, acredito que nesta fase que as crianças estão ainda não é a hora de priorizar isso - mas sim a família. Há uma exigência de consciência das crianças logo cedo. Há uma aproximação da escola com as crianças. Há uma aproximação da escola com os pais. Há reuniões com integrantes da escola com os pais e com o aluno. Há uma exigência de consciência dos pais. Aquela reunião em que a mãe ainda quer segurar a filha no colo é memorável. Todo essa comunicação (Instituição, pais e criança) faz com que o processo se torne mais eficiente.
De fato, pode-se perceber que toda a filosofia da escola é eficiente (pelos relatos dos pais) e, de acordo com o comentário do Caio Faiad, a procura à escola é grande.
Isso me levou a outro questionamento. Durante o filme, perguntei à minha namorada: "Além do músico, você já viu outros negros? Viu alguma criança negra?" Ela disse que não. Só apareceu ou outro educador negro. Pelo que percebi, a única criança que diferenciava do padrão das outras era uma de origem asiática. Esse padrão das crianças fez com que eu deduzisse que a escola devia ser muito cara. E de fato, como o Caio comentou acima, é cara.
Que esta filosofia pode ser implementada em uma escala maior não há dúvida. Mas fica muito difícil de visualizar que esta filosofia ultrapasse as classes dominantes e atinja classes menos favorecidas, com menor poder aquisitivo.
Vidas sem Destino
3.7 659Pra quem tá em dúvida sobre o título do filme, olha só...Tem uma entrevista de Harmony Korine (diretor do filme) com o David Letterman. Eis o link: http://www.angelfire.com/ab/harmonykorine/letterman1.html.
Nessa entrevista, Harmony fala que Gummo é o quinto irmão dos Irmãos Marx, um grupo de irmãos comediantes, que fizeram, teatro, cinema e televisão no início do século XX. Uma das curiosidades que Harmony fala sobre Gummo, é que ele saiu do grupo porque ele gostava de usar roupas femininas. Letterman pergunta: "ele é um personagem que você gostou e admirou e até nomeou o filme, mas o filme não tem nada a ver com ele?" Harmony responde que sim.
Shame
3.6 2,0K Assista AgoraQue filme do caralho! Vi pela segunda vez essa semana e prestei atenção em alguns fenômenos que até então tinham passado despercebidos por mim.
Michael Fassbender trabalhou muito bem. Não vou fazer um resumo do filme, apenas ressaltar alguns aspectos interessantes que observei...
É incrível como o impulso sexual de Brandon se manifesta de forma obsessiva. A cena que ele toca a genitália da mulher no bar é fascinante. Parece que está implícito no sorriso do Brandon uma espécie de satisfação quando o namorado a leva do bar, como se o sorriso de Brandon dissesse: "É, ela me quer... MUA HA HA!"
Mas é um impulso pelo prazer que é, basicamente, destituído de afeto, já que na ocasião onde ele marcou um encontro com sua colega de trabalho, conversaram sobre suas vidas (e ele cita que seu relacionamento mais longo foi de quatro meses, o que não deixa de ser um aspecto relevante) e que existia a possibilidade de um relacionamento afetivo, ele ficou impotente. Isso é significativo. Há, portanto, uma grande dificuldade de sua parte em expressar suas emoções e sentimentos. Mas ele precisava liberar seu desejo de alguma forma e, na cena seguinte, já está com uma prostituta para se satisfazer. A impotência não existe nesse contexto de sexo por ser "apenas sexo", portanto.
Percebi essa obsessão, também, quando ele entra na boate gay. O segurança o barra na entrada do local anterior que ele estava, impedindo-o de entrar. Mas penso que seu impulso era tão intenso na hora que a primeira oportunidade que avistou, seguiu instantaneamente, sem pensar, mesmo que não costumasse se relacionar com homens. Parece-me que, naquela altura, não importava quem iria satisfazer seu desejo, desde que seu desejo fosse satisfeito.
A questão de afeto também pode ser observada com sua irmã, Sissy. Mesmo ela sendo irmã, ele se manifesta afetivamente com muita dificuldade, praticamente ignorando o laço afetivo que os envolve quando Sissy diz: "You're my brother!".
Mas o que me deixou fascinado (e aqui, pra mim, é a grande sacada do filme) foi que, independente da sua própria obsessão por sexo e seu universo pessoal estar intensamente envolvido em torno do sexo, ele sentia repulsa e repugnância pela sua irmã quando ela se envolvia sexualmente com outros pessoas, ou seja, se comportava de forma similar a ele. (Penso até se "Sissy" não tem alguma conotação sexual implícita no nome.) Ela inclusive fala para Brandon, algo como: "Você, justamente você, vem me julgar?" Se a promiscuidade (não tenho outra palavra para definir no momento) é tão normal no universo de Brandon, por que ele sente repulsa, repugnância e vergonha pela irmã quando ela se comporta de forma similar?
E é aqui que eu penso que existe a grande possibilidade de ele sentir essa repugnância por si mesmo, se sentir vergonha de si mesmo (e eu já explico isso), tanto que ele chora no final do filme. Não que essa seja a única causa de suas lágrimas, (justamente por a irmã ter acabado de tentar um suicídio e isso talvez tenha sido a gota d'água para ele liberar sua carga emocional chorando), mas pode ser UM dos fatores.
Por exemplo (pra quem gosta de psicanálise): ele, inconscientemente, considera todo seu universo sexual repugnante e vergonhoso, ou seja, possui esse sentimento de repugnância e vergonha em si mesmo, mas como é um conteúdo inconsciente, é incapaz de reconhecer conscientemente que ele próprio está fazendo tudo aquilo que considera repugnante e vergonhoso e acaba projetando seus sentimentos para outra pessoa. Que, no caso, é sua irmã. Como se Brandon dissesse para sua irmã: "Você deveria se sentir envergonhada do que faz".
Mas será que é ela que deveria se sentir assim?
Nessa perspectiva, não é à toa que Sissy comenta que nunca sabe porque Brandon está sempre tão furioso com ela e nunca sabe o que ela fez pra deixá-lo assim.
E aí que eu penso: "qual é o nome do filme mesmo?" Ééé... faz sentido, hahaha.
Enfim, são hipóteses, apenas.
Mas a incógnita que permanece é o que acontece depois de todos esses eventos. A mesma mulher no metrô. "Aqueles" olhares que descartam descrições. Ele foi atrás dela ou não? Eu, particularmente, penso que ele iria atrás, sim. Por mais que exista a possibilidade de ele ter sentido repugnância a si mesmo e ter demonstrado seu lado afetivo com sua irmã quando ela tenta o suicídio, onde está o seu impulso sexual que era manifestado de forma tão obsessiva? A princípio, penso em três alternativas. Primeira (1): existe a possibilidade de ele re-elaborar seu conflito de "impulso sexual x repugnância", o que muito dificilmente ele mesmo conseguiria fazer sozinho (e é aí que surge a ideia de terapia). Não estou inferindo que ele necessita de terapia, isso somente ele, o Brandon, poderia decidir, de acordo com seu sofrimento;
Segunda (2): ele substitui seu impulso sexual para alguma outra coisa (e isso aconteceria basicamente sem ser um ato voluntário e dirigido para a substituição, do tipo: "ah, agora vou mudar pra isso"... Não funciona assim. Essa substituição buscaria satisfazê-lo também de alguma forma (como por exemplo, um fanatismo por alguma coisa: jogos, religião ou até mesmo drogas, embora este último seja mais complexo). Portanto, esses exemplos, assim como o sexo que já é propriamente do Brandon, são apenas FORMAS como ele busca se satisfazer. Quando digo substituir, quero dizer que mudaria a forma como ele buscaria a satisfação;
E Terceira (3) e mais provável, que ele continua se sentindo da mesma forma. Isso não impede que ele tenha "recaídas", como ter crises de choro e se expressar emocionalmente de vez em quando (e provavelmente isso aconteça em contextos em que ele está sozinho, isolado), e também de sentir a repugnância com relação a si mesmo. Mas, talvez, essa é simplesmente a única forma que ele saiba lidar com tudo isso e, na intensidade do momento, só queira satisfazer seu impulso sexual. É a vida, né?
Que coisa linda, HAHAHAHAHA!
Que filme do caralho...
Faroeste Caboclo
3.2 2,4KQuando eu escutava: "Maria Lúcia se arrependeu depois, e morreu junto com João seu protetor", SEMPRE ficava me perguntando, como que a Maria Lúcia morria? HAHAHA!
Enfim... Quem espera uma história fidedigna da canção do Legião se frustra um pouco. Eu, particularmente, imaginava toda a canção e esperava ansioso por algumas cenas.
Eu esperei muito pela cena em que o João dissesse: "Olha pra cá filha da puta, sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue, vem sentir o seu perdão..."
Ou a cena em que o senhor de alta classe diz "você perdeu a sua vida, meu irmão".
E a cena do duelo, em que todo o povo assistia, "e se lembrou de quando era uma criança, e de tudo que vivera até ali". Porra, quantas vezes passou uma cena da minha vida em poucos segundos ao escutar essa parte. E eu gostaria de ter visto essa cena também, em uma sequência de flashs, por exemplo.
Enfim, houve algumas mudanças, mas não dava pra esperar um filme igualzinho à canção. Claro que algumas coisas iriam faltar e outras seriam adaptadas.
O filme é muito bom. Eu gostei muito. Gostei dos atores e, pra falar a verdade, gostei das mudanças e adaptações também, mas esperava que algumas coisas da letra da música fossem melhor retratadas no filme. Senti falta de uma trilha sonora durante o filme também.
Mas pra falar a verdade, o que mais me deixou frustrado no filme, foi o real motivo (de acordo com a canção) que ele foi pra Brasília: "ele queria era falar pro presidente, pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer". Porra, não fala praticamente NADA disso no filme. Eu imaginava um João de Santo Cristo engajado com a sociedade e, pra falar a verdade, isso é um dos motivos que eu admirava tanto o Santo Cristo, mas isso não foi abordado no filme. Triste...
A Pequena Loja de Suicídios
3.7 774O título me atraiu muito. Quando comecei a ver, achei muito interessante, pelo roteiro que se apresentava e pela fotografia que é muito boa. Eu não sou fã de musicais, mas gostei muito das canções até a primeira metade do filme, especialmente a do primeiro cliente suicida que os irmãos de Alain assistem.
Algumas cenas são memoráveis, como a irmã do Alain dançando nua e os meninos olhando, ou a cena do ônibus em que eles estão indo pra escola, em que a maioria está desanimada e uma meia dúzia lá atrás dançando, e depois o motorista acaba atropelando um senhor. O discurso do pai a cada venda achei interessante (em que ele poderia cobrar qualquer preço, por exemplo), e o desdém com relação aos cadáveres nas ruas também, em que apenas era dado uma multa. Se fizermos algumas analogias, será que é muito diferente da "nossa" sociedade?
Críticas ao sistema capitalista e sentido da vida são bem colocadas, mas poderiam ter explorado mais.
O começo foi muito interessante, por isso criei expectativa quanto ao desenvolvimento da animação, mas não manteve o mesmo ritmo.
A ideia da música e do amor são realmente interessantes, mas tudo se resolveu muito fácil e tão bonitinho.
O ambiente mudou muito, e a ênfase nas canções e na troca tão repentina de humor, como se todo mundo pudesse ter insights tão facilmente numa questão tão complexa, foi forçada. Enfim, 3,5 pela ideia do filme que é bem criativa, pela fotografia, por algumas cenas memoráveis e outras colocações e críticas.
Última coisa: eu fiquei perdido no contexto de uma cena em especial, alguém poderia me ajudar, por favor?
No final, o pai entrega um crepe de cianeto (se não me engano) a um cliente. Pensei que o pai continuaria com a ideia da loja de suicídios, mas depois começa a cantoria toda lá e eu fiquei sem entender o que ele realmente queria...
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraCadê o Cliff Martinez? Po, tem que começar a colocar os responsáveis pelas trilhas sonoras do filme. Tem Hanz Zimmer, Howard Shore, Clint Mansell, John Williams por aí... Cliff Martinez, por esse filme, merece pelo menos um cadastro aqui. Se eu soubesse fazer, juro que já tinha feito, hahaha.