Entrelaços de significados e sentidos relacionados com a história da população negra brasileira, que é a própria história do país. O filme é uma janela temporal, tendo referências do passado e contemporâneas, com pouca preocupação com linearidade ou fatos explicados, deixando-nos navegar pela memória de Jerusa.
Este é o melhor filme sobre chegada de alienígenas ao planeta Terra. Uma boa dosagem de ficção científica e ação. O cenário não se localiza nos EUA ou Europa, como acontece geralmente, mas na grande cidade de Johanesburgo. Aaah, não desista nos primeiros 30 minutos, por favor! O plot twist é fantástico. No início, as cenas imitam um documentário genérico feito por algum canal de curiosidades/histórias. Mas, isso nos ajudará a enxergar o arco do personagem principal, um homem que traz características acentuadas (medo, paixão, ingenuidade, egoísmo), provavelmente para que tenhamos alguma empatia por ele, apesar das decepções com o mesmo. Depois, existe um clima de tensão até o final. Subvertendo a ideia de uma invasão por seres alienígenas agressivos e impiedosos, o longa nos avisa que o perigo pode está aqui: o próprio ser humano. De certo modo, as questões sociais, manipulação, terrorismo, ignorância humana e suas limitações, por exemplo, nos tornam uma espécie com forte poder (auto)destrutivo. Também há situações que suscitam temas latentes, como direitos humanos e de outras vidas, ética na ciência, justiça, biotecnologia, política, desigualdades e violência.
Apontado por muita gente como uma das melhores animações dos últimos tempos, traz determinados elementos da filosofia e do misticismo asiático. Existe uma profundidade e/ou angústia transmitida para o público, até mesmo por conta do mistério que se instaura em flashbacks complexos e pontas soltas que serão resolvidas apenas no último ato. Afinal, a vida não é linear, assim acontece o emaranhado de encontros, conexões, passagem, amor e lembranças. A crença de que estamos ligados a outras pessoas e que as idas e vindas podem nos levar até elas, é mostrada através do fenômeno da troca de corpos e sonhos de Mitsuha e Taki (vejam mais acerca de Akai Ito, uma lenda chinesa, também popularizada no Japão).
Contundente e revelador, Holocausto Brasileiro mostra uma face quase inimaginável da história recente. Deveria ser obrigatório na grade curricular dos cursos da área de Saúde, pois aponta para a origem da Reforma Sanitária Brasileira, consequentemente influenciando a Reforma Psiquiátrica, que mais tarde influenciaram as diretrizes de construção do Sistema Único de Saúde e direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988. O documentário consegue se aprofundar no debate acerca da luta anti manicomial a partir de uma pesquisa detalhada e cronológica, descrevendo fatos chocantes e mostrando a relação que existia com as questões políticas e de governo. Logo, notamos a cumplicidade do governo militar e a ambição das instituições privadas, em manter leitos psiquiátricos custeados com dinheiro público. A diretora do filme nos indaga de quem é a culpa; uma das pessoas ex-internas do Hospital Colônia, responde: “A culpa é coletiva”.
Uma leve dose de reflexão existencial com pouca complexidade psicológica, problemáticas do mundo juvenil e uma crítica sutil sobre medicalização e auto ajuda. A viagem no tempo como um processo complicado e ritualístico, salva a frágil construção do plot. Talvez, tenha sido um filme considerado intrigante e recheado de mistério, suscitando especulações e teorias, mas me parece superestimado. O que há em Donnie Darko é um roteiro que oculta pistas ou argumentos que expliquem o funcionamento da narrativa, embaralhando linhas temporais, e obviamente confundindo o expectador.
Além do teor biográfico, Mank desvela um pouco da história do mundo cinematográfico e de Hollywood, nos mostrando aspectos dos bastidores de alguns estúdios, seus produtores e roteiristas, numa época em que a sétima arte passava por transformações significativas. São tantas referências e personalidades que talvez seja preciso fazer breves consultas na Wikipédia para não se perder durante o filme. Mas, poucas são as cenas em que Orson Welles está presente, e isso faz com que o enredo esteja sendo visualizado a partir de um único ângulo da trama acerca dos créditos de "Cidadão Kane". Temos uma excelente sucessão de diálogos e a fotografia recria um clima visual que lembra os longas rodados na década de 1920 e 1930. Pelo visto, para homenagear Cidadão Kane, a narrativa se desvela também a partir de flashbacks. Mank é um filme denso, porém a performance de Gary Oldman e as características do próprio personagem, me fascinaram. "Um roteiro longo demais que sempre será lembrado" John Houseman
Rendeu muita risada! Um dos melhores roteiros de comédia nacional que eu já vi. Ainda que algumas piadas sejam repetidas ou já venham prontas, foi bem elaborado e repaginado, sendo facilmente algo para exportação (Get the Goat). O longa mostra a aventura de dois policiais atrapalhados, estilo hollywoodiano anos 80; se aproxima um pouco de filmes asiáticos que exploram a falta de lógica na realidade dos personagens. O trunfo de "Cabras da Peste", sem dúvida, é o humor e a linguagem nordestina sendo empregados em outro cenário bastante conhecido: a cidade de São Paulo. No filme, é interessante notar que essa metrópole é um ponto de encontro entre diversas pessoas e lugares.
A aclamação dada ao filme foi cristalizada, sem dúvida, e é merecida se considerarmos o ano de sua produção e as pequenas inovações. Visualmente bem construído, com marcantes transições de cenas, enquadramentos e composição de personagens. "Cidadão Kane" tem algumas pistas sobre a economia e trabalho nos EUA na primeira metade do século passado, e pode incluir o debate sobre ética/honestidade na política e jornalismo. A narrativa se desenrola pelos relatos que remontam a vida política, alguns acontecimentos privados e caprichos do personagem Charles Foster Kane. O mistério de sua última palavra (Rosebud) antes de morrer, é o fio condutor do enredo investigativo. A trama demonstra o quanto a figura dele estaria ligada ao seu próprio tempo, até mesmo a imagem de um país. Percebe-se que a combinação entre o acesso a informação, o poder da mídia e as disputas de governo fazem parte de cenários sócio econômicos desde o começo do século XX. É difícil falar sobre os processos ideológicos que formam ou desconstroem um povo, sem considerarmos a função da imprensa no noticiamento dos fatos ou as fake news que podem proliferar. No pano de fundo deste longa, também se projeta as disparidades e tensões existentes entre uma população e seus possíveis governantes, que na maioria das vezes são homens ricos capazes de exercer influencia social e política. A sensibilidade está na história sobre a infância de Kane, os relacionamentos do protagonista e sua morbidez em diferentes experiências.
Tentou manter elementos do primeiro filme, como o ritmo da comédia, a estética e os conflitos sociais entre determinados personagens. Os flashbacks ajudam bastante, então nem se preocupe se você nunca assistiu o anterior. O ponto de partida é muito simples e o longa pode parecer maçante em certos momentos, no entanto o desenvolvimento da história nos transporta para o universo de Zamunda e mais uma vez, temos um príncipe em busca do amor. De modo geral, conseguiu ficar bastante organizado, talvez pelo temor e desconfiança que uma sequência pode causar no público. Vale a pena assistir pelas interpretações de atrizes e atores veteranos, mas não espere por um roteiro super engraçado.
Me tirou o fôlego em diversos momentos e o desfecho impressiona. A intensidade e a desestabilização dos personagens, nos coloca diante de alguns questionamentos, enquanto o abismo da desigualdade social cresce durante o enredo. O quanto as condições financeiras (poder de acesso e/ou consumo) podem influenciar o nosso comportamento e modo de ver o mundo? Parasita nos lembra o quanto a riqueza está concentrada em poucos, distribuída de forma desigual, perversa. Os planos que fazemos, podem ser facilmente corrompidos, sequer cogitados. O mito da meritocracia se mostra cruel, pois nos deparamos com uma família talentosa e de pessoas inteligentes, mas que nunca alcançaram determinadas oportunidades devido a falta de dinheiro, muitas vezes resultado de trabalhos precarizados e desemprego. A situação os leva a criar uma alternativa arriscada e egoísta... é triste ver o quanto o sofrimento parece uma areia movediça, mesmo quando eles estão tentando melhorar.
Continua sendo um dos melhores filmes de ação + ficção científica, da última década. As atuações de Leonardo DiCaprio, Elliot Page e Joseph Gordon-Levitt, me cativam demais. A trama é bem estruturada, tornando-se até extensa porque explora bastante a premissa sobre a realidade dos sonhos e extratores. O roteiro é triunfante porque consegue atrair a nossa curiosidade, a fim de entender o que vai acontecer depois de todo o esquema inteligente, perseguição e tiroteio. O drama psicológico do personagem principal (Coob), incluindo indagações acerca do que é real, é mais um elemento que transforma tudo em um filme incrível.
É preciso estar atento, pois a narrativa mergulha entre arte, fantasia e vida real. Os acontecimentos de dois filmes dentro de outro e a vida imitando a arte. Porém, a maneira que Toby (Adam Driver) se mete nas confusões, não me convenceu totalmente. Faltou alguma tentativa genuína dele em argumentar para se defender; isso pode ser previsível e aborrecedor. Contudo, ainda é uma bela comédia dramática e se destaca pela ideia original, nos mostrando uma versão moderna da lenda de Dom Quixote de La Mancha, apostando em algumas cenas e frases reflexivas, além da loucura e paixão que move o enredo a partir do meio. Apesar de determinadas situações infundamentadas, o final causa surpresa, sem dúvida!
Belíssimo! Por meio dos caminhos de Fern (Frances McDormand), dos acampamentos e lugares pelos quais ela passa, desses enredos em que o capitalismo e certas políticas afundam pessoas em seus territórios, temos um longa carregado de doçura e sutilezas acerca da jornada em que estamos. Podemos experienciar dores e alegrias passageiras, sobretudo necessárias. Mas, que nem sempre são vivenciadas de forma plena, devido aos costumes que fomos forçados a adotar. O que podemos esperar de nossas velhices? O que estamos deixando após a morte? Antes disso, nos perguntemos, o que o sistema (social e econômico), em suas diferentes faces e níveis, fez conosco? A maioria das cenas e diálogos remontam a uma atmosfera de solidão, auto conhecimento e a busca pelo contato com o mundo, em especial a natureza. Esse desejo de estar mais próximos da terra, de afetos viajantes-comunitários e do fortalecimento de lembranças positivas, esse desejo é a engrenagem para as histórias que surgem. Se fosse filmado no Brasil, com certeza a canção "Cajuína" de Caetano Veloso, poderia ser colocada como trilha sonora. "Existirmos: a que será que se destina"... Assista Nomadland e (re)pense sobre a sua existência e o sentido (ou sentidos, significados) que te faz ser quem você é, além de analisar um pouco para onde está indo.
O ponto de partida e desfecho estão conectados de modo sensível, ágil e poderoso. O roteiro poderia ter sido trabalhado de maneira mais profunda, da forma que o tema das relações raciais merece, porém o longa traz tantas questões reais e corriqueiras que talvez seja difícil mesmo organizar tudo em um filme. Acho que fica a lição para outros que vierem no futuro a falar sobre o assunto. No entanto, filmes como M8 funcionam de experimento para medir a reação do público brasileiro. Ainda defendo as interpretações e performances de Mariana Nunes (Cida) e Juan Paiva (Maurício), respectivamente como mãe e filho, tornaram a história mais tangível e nota-se o quanto a dicotomia artista vs. realidade se desfaz em determinadas cenas, sentidas corporalmente. Através do personagem principal, vemos o contraste de um corpo preto ocupando espaços e cenários que historicamente são tomados pelas classes dominantes, a branquitude em si. As desigualdades socioeconômicas afetam o poder de acesso e a capacidade de agenciamento da pessoa. Com o desenrolar da narrativa, o pano de fundo nos permite discutir um pouco sobre ciência, fé/religiosidade e saúde emocional. O filme é recheado de easter eggs da vida real, referências a nomes importantes e as lutas contra o racismo (por exemplo, Conceição Evaristo, Mariele Franco, mães da Candelária, Wakanda, além da participação de atrizes e atores negros que são referências no Brasil).
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Um Dia com Jerusa
3.5 17Entrelaços de significados e sentidos relacionados com a história da população negra brasileira, que é a própria história do país. O filme é uma janela temporal, tendo referências do passado e contemporâneas, com pouca preocupação com linearidade ou fatos explicados, deixando-nos navegar pela memória de Jerusa.
Distrito 9
3.7 2,0K Assista AgoraEste é o melhor filme sobre chegada de alienígenas ao planeta Terra. Uma boa dosagem de ficção científica e ação. O cenário não se localiza nos EUA ou Europa, como acontece geralmente, mas na grande cidade de Johanesburgo. Aaah, não desista nos primeiros 30 minutos, por favor! O plot twist é fantástico. No início, as cenas imitam um documentário genérico feito por algum canal de curiosidades/histórias. Mas, isso nos ajudará a enxergar o arco do personagem principal, um homem que traz características acentuadas (medo, paixão, ingenuidade, egoísmo), provavelmente para que tenhamos alguma empatia por ele, apesar das decepções com o mesmo. Depois, existe um clima de tensão até o final. Subvertendo a ideia de uma invasão por seres alienígenas agressivos e impiedosos, o longa nos avisa que o perigo pode está aqui: o próprio ser humano. De certo modo, as questões sociais, manipulação, terrorismo, ignorância humana e suas limitações, por exemplo, nos tornam uma espécie com forte poder (auto)destrutivo. Também há situações que suscitam temas latentes, como direitos humanos e de outras vidas, ética na ciência, justiça, biotecnologia, política, desigualdades e violência.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraApontado por muita gente como uma das melhores animações dos últimos tempos, traz determinados elementos da filosofia e do misticismo asiático. Existe uma profundidade e/ou angústia transmitida para o público, até mesmo por conta do mistério que se instaura em flashbacks complexos e pontas soltas que serão resolvidas apenas no último ato. Afinal, a vida não é linear, assim acontece o emaranhado de encontros, conexões, passagem, amor e lembranças. A crença de que estamos ligados a outras pessoas e que as idas e vindas podem nos levar até elas, é mostrada através do fenômeno da troca de corpos e sonhos de Mitsuha e Taki (vejam mais acerca de Akai Ito, uma lenda chinesa, também popularizada no Japão).
Holocausto Brasileiro
4.4 145Contundente e revelador, Holocausto Brasileiro mostra uma face quase inimaginável da história recente. Deveria ser obrigatório na grade curricular dos cursos da área de Saúde, pois aponta para a origem da Reforma Sanitária Brasileira, consequentemente influenciando a Reforma Psiquiátrica, que mais tarde influenciaram as diretrizes de construção do Sistema Único de Saúde e direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988. O documentário consegue se aprofundar no debate acerca da luta anti manicomial a partir de uma pesquisa detalhada e cronológica, descrevendo fatos chocantes e mostrando a relação que existia com as questões políticas e de governo. Logo, notamos a cumplicidade do governo militar e a ambição das instituições privadas, em manter leitos psiquiátricos custeados com dinheiro público. A diretora do filme nos indaga de quem é a culpa; uma das pessoas ex-internas do Hospital Colônia, responde: “A culpa é coletiva”.
Donnie Darko
4.2 3,8K Assista AgoraUma leve dose de reflexão existencial com pouca complexidade psicológica, problemáticas do mundo juvenil e uma crítica sutil sobre medicalização e auto ajuda. A viagem no tempo como um processo complicado e ritualístico, salva a frágil construção do plot. Talvez, tenha sido um filme considerado intrigante e recheado de mistério, suscitando especulações e teorias, mas me parece superestimado. O que há em Donnie Darko é um roteiro que oculta pistas ou argumentos que expliquem o funcionamento da narrativa, embaralhando linhas temporais, e obviamente confundindo o expectador.
Mank
3.2 462 Assista AgoraAlém do teor biográfico, Mank desvela um pouco da história do mundo cinematográfico e de Hollywood, nos mostrando aspectos dos bastidores de alguns estúdios, seus produtores e roteiristas, numa época em que a sétima arte passava por transformações significativas. São tantas referências e personalidades que talvez seja preciso fazer breves consultas na Wikipédia para não se perder durante o filme. Mas, poucas são as cenas em que Orson Welles está presente, e isso faz com que o enredo esteja sendo visualizado a partir de um único ângulo da trama acerca dos créditos de "Cidadão Kane". Temos uma excelente sucessão de diálogos e a fotografia recria um clima visual que lembra os longas rodados na década de 1920 e 1930. Pelo visto, para homenagear Cidadão Kane, a narrativa se desvela também a partir de flashbacks. Mank é um filme denso, porém a performance de Gary Oldman e as características do próprio personagem, me fascinaram. "Um roteiro longo demais que sempre será lembrado" John Houseman
Cabras da Peste
3.2 255Rendeu muita risada! Um dos melhores roteiros de comédia nacional que eu já vi. Ainda que algumas piadas sejam repetidas ou já venham prontas, foi bem elaborado e repaginado, sendo facilmente algo para exportação (Get the Goat). O longa mostra a aventura de dois policiais atrapalhados, estilo hollywoodiano anos 80; se aproxima um pouco de filmes asiáticos que exploram a falta de lógica na realidade dos personagens. O trunfo de "Cabras da Peste", sem dúvida, é o humor e a linguagem nordestina sendo empregados em outro cenário bastante conhecido: a cidade de São Paulo. No filme, é interessante notar que essa metrópole é um ponto de encontro entre diversas pessoas e lugares.
Cidadão Kane
4.3 991 Assista AgoraA aclamação dada ao filme foi cristalizada, sem dúvida, e é merecida se considerarmos o ano de sua produção e as pequenas inovações. Visualmente bem construído, com marcantes transições de cenas, enquadramentos e composição de personagens. "Cidadão Kane" tem algumas pistas sobre a economia e trabalho nos EUA na primeira metade do século passado, e pode incluir o debate sobre ética/honestidade na política e jornalismo. A narrativa se desenrola pelos relatos que remontam a vida política, alguns acontecimentos privados e caprichos do personagem Charles Foster Kane. O mistério de sua última palavra (Rosebud) antes de morrer, é o fio condutor do enredo investigativo. A trama demonstra o quanto a figura dele estaria ligada ao seu próprio tempo, até mesmo a imagem de um país. Percebe-se que a combinação entre o acesso a informação, o poder da mídia e as disputas de governo fazem parte de cenários sócio econômicos desde o começo do século XX. É difícil falar sobre os processos ideológicos que formam ou desconstroem um povo, sem considerarmos a função da imprensa no noticiamento dos fatos ou as fake news que podem proliferar. No pano de fundo deste longa, também se projeta as disparidades e tensões existentes entre uma população e seus possíveis governantes, que na maioria das vezes são homens ricos capazes de exercer influencia social e política. A sensibilidade está na história sobre a infância de Kane, os relacionamentos do protagonista e sua morbidez em diferentes experiências.
Um Príncipe em Nova York 2
2.8 460 Assista AgoraTentou manter elementos do primeiro filme, como o ritmo da comédia, a estética e os conflitos sociais entre determinados personagens. Os flashbacks ajudam bastante, então nem se preocupe se você nunca assistiu o anterior. O ponto de partida é muito simples e o longa pode parecer maçante em certos momentos, no entanto o desenvolvimento da história nos transporta para o universo de Zamunda e mais uma vez, temos um príncipe em busca do amor. De modo geral, conseguiu ficar bastante organizado, talvez pelo temor e desconfiança que uma sequência pode causar no público. Vale a pena assistir pelas interpretações de atrizes e atores veteranos, mas não espere por um roteiro super engraçado.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraMe tirou o fôlego em diversos momentos e o desfecho impressiona. A intensidade e a desestabilização dos personagens, nos coloca diante de alguns questionamentos, enquanto o abismo da desigualdade social cresce durante o enredo. O quanto as condições financeiras (poder de acesso e/ou consumo) podem influenciar o nosso comportamento e modo de ver o mundo? Parasita nos lembra o quanto a riqueza está concentrada em poucos, distribuída de forma desigual, perversa. Os planos que fazemos, podem ser facilmente corrompidos, sequer cogitados. O mito da meritocracia se mostra cruel, pois nos deparamos com uma família talentosa e de pessoas inteligentes, mas que nunca alcançaram determinadas oportunidades devido a falta de dinheiro, muitas vezes resultado de trabalhos precarizados e desemprego. A situação os leva a criar uma alternativa arriscada e egoísta... é triste ver o quanto o sofrimento parece uma areia movediça, mesmo quando eles estão tentando melhorar.
A Origem
4.4 5,9K Assista AgoraContinua sendo um dos melhores filmes de ação + ficção científica, da última década. As atuações de Leonardo DiCaprio, Elliot Page e Joseph Gordon-Levitt, me cativam demais. A trama é bem estruturada, tornando-se até extensa porque explora bastante a premissa sobre a realidade dos sonhos e extratores. O roteiro é triunfante porque consegue atrair a nossa curiosidade, a fim de entender o que vai acontecer depois de todo o esquema inteligente, perseguição e tiroteio. O drama psicológico do personagem principal (Coob), incluindo indagações acerca do que é real, é mais um elemento que transforma tudo em um filme incrível.
O Homem Que Matou Dom Quixote
3.2 86 Assista AgoraÉ preciso estar atento, pois a narrativa mergulha entre arte, fantasia e vida real. Os acontecimentos de dois filmes dentro de outro e a vida imitando a arte. Porém, a maneira que Toby (Adam Driver) se mete nas confusões, não me convenceu totalmente. Faltou alguma tentativa genuína dele em argumentar para se defender; isso pode ser previsível e aborrecedor. Contudo, ainda é uma bela comédia dramática e se destaca pela ideia original, nos mostrando uma versão moderna da lenda de Dom Quixote de La Mancha, apostando em algumas cenas e frases reflexivas, além da loucura e paixão que move o enredo a partir do meio. Apesar de determinadas situações infundamentadas, o final causa surpresa, sem dúvida!
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraBelíssimo! Por meio dos caminhos de Fern (Frances McDormand), dos acampamentos e lugares pelos quais ela passa, desses enredos em que o capitalismo e certas políticas afundam pessoas em seus territórios, temos um longa carregado de doçura e sutilezas acerca da jornada em que estamos. Podemos experienciar dores e alegrias passageiras, sobretudo necessárias. Mas, que nem sempre são vivenciadas de forma plena, devido aos costumes que fomos forçados a adotar. O que podemos esperar de nossas velhices? O que estamos deixando após a morte? Antes disso, nos perguntemos, o que o sistema (social e econômico), em suas diferentes faces e níveis, fez conosco? A maioria das cenas e diálogos remontam a uma atmosfera de solidão, auto conhecimento e a busca pelo contato com o mundo, em especial a natureza. Esse desejo de estar mais próximos da terra, de afetos viajantes-comunitários e do fortalecimento de lembranças positivas, esse desejo é a engrenagem para as histórias que surgem. Se fosse filmado no Brasil, com certeza a canção "Cajuína" de Caetano Veloso, poderia ser colocada como trilha sonora. "Existirmos: a que será que se destina"... Assista Nomadland e (re)pense sobre a sua existência e o sentido (ou sentidos, significados) que te faz ser quem você é, além de analisar um pouco para onde está indo.
M8 – Quando a Morte Socorre a Vida
3.6 220O ponto de partida e desfecho estão conectados de modo sensível, ágil e poderoso. O roteiro poderia ter sido trabalhado de maneira mais profunda, da forma que o tema das relações raciais merece, porém o longa traz tantas questões reais e corriqueiras que talvez seja difícil mesmo organizar tudo em um filme. Acho que fica a lição para outros que vierem no futuro a falar sobre o assunto. No entanto, filmes como M8 funcionam de experimento para medir a reação do público brasileiro. Ainda defendo as interpretações e performances de Mariana Nunes (Cida) e Juan Paiva (Maurício), respectivamente como mãe e filho, tornaram a história mais tangível e nota-se o quanto a dicotomia artista vs. realidade se desfaz em determinadas cenas, sentidas corporalmente. Através do personagem principal, vemos o contraste de um corpo preto ocupando espaços e cenários que historicamente são tomados pelas classes dominantes, a branquitude em si. As desigualdades socioeconômicas afetam o poder de acesso e a capacidade de agenciamento da pessoa. Com o desenrolar da narrativa, o pano de fundo nos permite discutir um pouco sobre ciência, fé/religiosidade e saúde emocional. O filme é recheado de easter eggs da vida real, referências a nomes importantes e as lutas contra o racismo (por exemplo, Conceição Evaristo, Mariele Franco, mães da Candelária, Wakanda, além da participação de atrizes e atores negros que são referências no Brasil).