Filme pesadíssimo, visceral. A gente fica agoniado com a coragem que a mulher tem. No fim, só ficou uma frase (ainda que clichê, mas profunda) na minha cabeça:
"na vida, não é tão importante o que te fizeram, mas sim o que você faz com aquilo que te fizeram".
Filme muito delicado e sutil, apesar de falar de um tema visceral (religião e sexualidade). Só quem é LGBT sabe como é duro se sentir desencaixado de sua comunidade.
Gosto muito de filmes e séries sobre a comunidade judia, sobre os Haredi, e gosto ainda mais quando tem um final feliz, de aceitação, como ocorre em Desobediência. A reação final de Dovid foi linda. Mas não pude deixar de desejar que eles formassem um trisal, rs.
Enfim, apesar de ter me parecido bonito, o filme foi um pouco arrastado, demorado (nada insuportável para mim).
Fofo demais. Excelente continuação. Me lembrei que assisti A Fuga 1 no cinema, com a escola, quando eu era pequenininho. É um ótimo filme para introjetar luta de classes nas crianças, hihihihi.
O filme até pretende passar uma mensagem legal: o mundo tá acabando, a massa é refém dos ricos, precisamos nos unir, só quem tem grana conseguirá fugir... mas, a sensação que me fica é que a trama promete muito e entrega pouco. Uma coisa bem sei lá.
Algumas atuações não são perfeitas, mas tem uma história fofinha. As trilhas sonoras dialogam com o roteiro e valorizam demais a MPB. O filme tem diversidade e pode trazer umas reflexões profundas através de alguns diálogos. As cenas de sexo são muito sexys e esse Lee Taylor é um gostoso desgraçado da porra.
You're so vain You probably think this song is about you You're so vain (you're so vain) I bet you think this song is about you Don't you don't you?
Filme poético, inteligente, desvelador da inferiorização das culturas populares. Tudo que é do pobre é inferiorizado e o filme denuncia isso de uma maneira muito sensível.
Para mim, que cresci ouvindo brega (e aprendi a não gostar e a inferiorizar também) é uma libertação compreender essa relação do capital com a cultura brega.
Entre os temas atuais que o filme toca, estão: racismo, classe, prostituição, sexualidade, transgeneridade, machismo, autoaceitação, gozo.
É verdade que a diretora errou (e feio!) ao final, quando fez uma pergunta ridícula pra Marquise. Porém, vamos dar um desconto: o filme é de 2012. Nessa época, não se discutia sobre pessoas trans como hoje se discute. Aliás, para a época foi um grande avanço a diretora trazer a questão da sexualidade e das pessoas trans, porque ela poderia ter deixado a narrativa apenas na ótica hétero (ontem vi um filme sobre a cultura brega e fizeram isso). Estamos falando de oito anos atrás.
Enfim, errou? Errou e provavelmente não sabia que estava errado. Tomara que hoje tenha aprendido. O erro tirou o valor do filme? Definitivamente não.
Documentário maravilhoso. Abriu a minha mente num tanto!
A cultura popular é sempre vista como inferior porque é uma cultura que vem do povo. E tentam matar e inferiorizar tudo que é do povo: das empregadas, dos pedreiros, das putas, das atendentes, dos vendedores, dos cozinheiros... de todas as gentes e profissões que sustentam esse país tão desigual.
O brega é música com influências de nossos países irmãos da américa latina. Por isso, faz sentido a Bossa Nova ser valorizada, já que possui influências no jazz. O que é nosso é rejeitado, e o que é de fora, o que é da gringa, é visto como bonito.
É uma tristeza ver, por exemplo, que muitos filmes gringos possuem grande apelação e visibilidade, enquanto um documentário tão bonito como esse, sobre nossa cultura, possua apenas mil visualizações no youtube. Acabei de pesquisar e um documentário de pop arte possui 20 mil visualizações.
A colonização resiste na mente. Ainda somos colonizados. Talvez só tenha mudado o colono...
Eu achei que não fosse gostar e não estava mesmo, nos primeiros vinte minutos, em que a gente fica perdido: quem são essas duas meninas? Foram namoradas? Amigas de infância? Por que estão morando juntas? Por que possuem contatos tão íntimos? Essas perguntas incomodam a gente, mas para entender o filme, é preciso esquecê-las, e só deixar ir.
"A cidade onde envelheço" me tocou com a temática de "ser estrangeiro na terra do outro". Só quem já foi estrangeiro, em outro país, ou mesmo em uma cidade, em que não conhecia ninguém, pode entender como isso é difícil. E olha que no filme, as protagonistas se conheciam. Para viver uma experiência de estrangeirismo assim, é preciso ser aberto pro novo, pras pessoas novas, pras risadas, para o incômodo, para a surpresa.
Há prazeres e dores em se estar longe de casa, e em estar em uma casa com outro, seja qual for o seu interesse: trabalho, curtição, auto descobrimento... os prazeres advém de se sentir independente, capaz de conquistar o mundo e de ver beleza nas coisas. Prazer de ser diferente em meio a tanta gente, prazer de conhecer um lugar novo e de ser quem você é sem se importar com pessoas que conheçam quem você foi, prazer em ter uma história singular que é facilmente identificada diante de sua origem terrestre destoante (marcada, por exemplo, por um sotaque).
Mas, também dor: ao aceitar os barulhos alheios, ao passar dias difíceis sem ter uma pessoa familiar para te abraçar, ao querer se comunicar e não ser totalmente entendido (principalmente se você está em uma língua diferente, ou ainda que igual, com sotaques muito distantes), dor em não ter ninguém conhecido, dor em não conhecer toda a cidade, dor em se perder nessa cidade, dor de saudade...
O sotaque é mesmo uma constante no filme. As diversas maneiras de se falar qualquer língua faz a gente pensar em como é bonita a diferença. Tive que colocar legenda. Mas confesso que eu, que sempre achei o sotaque português chato, consegui achar super encantador nesse filme. Nesse filme, é gostoso demais ver o contraste do sotaque mineiro com o sotaque português.
Li muita gente criticando o filme mostrar apenas uma imagem higienizada de Belo Horizonte. Mas é preciso considerar que a proposta do filme não é falar da cidade de BH, mas sim trazer uma narrativa POÉTICA que se passa na cidade de BH. E o filme faz isso e uma maneira magnífica. E outra, nem sei se concordo tanto com que o filme traga uma cidade higienizada: os cenários são cheios de ruídos que me pareceram muito naturais, sujeiras das ruas, figurantes reais, cenários reais. Enfim, pra mim que conheço BH, foi uma excelente experiência e surpresa ver essa cidade por meio desse olhar poético, e isso acontece já de cara, quando o filme começa na rodoviária. Se a intenção é saber sobre as nunces da paisagem belorizontina, recomendo que busquem um documentário sobre a cidade, e não que vejam o filme.
Uma coisa que eu achei muito legal no filme: tem pessoas negras e não somente como figurantes. Aliás, os dois atores negros que contracenam (o peguete da Francisca e o Neguinho) são lindos de morrer. Ótima escolha! Já as duas protagonistas, apesar de terem me parecido boas atrizes, achei muito feias. São iguais, idênticas. Não consegui diferenciar quem era quem o tempo todo, porque confundi as duas personagens toda hora. O que me salvou era o cabelo, que de uma era curto e de outra, longo. Mas quando estavam presos... putz!
O filme tem uma trilha sonora linda e dinâmica, com destaque para as músicas Jards Macalé, que eu ainda não conhecia e já entrou na minha playlist. Além disso, o filme também traz um trecho de uma carta, que parecia mais poema, e deixo aqui abaixo registrada:
"De onde venho, meu velho, para onde vou? Mas nenhum traço de comoção dramatiza minha voz. Estou calmo, lúcido, fumando. Nem careço rigorosamente de escrever uma carta: ninguém me chama, ninguém me espera, ninguém me denuncia. Iluminando melhor, não é o sentimento para que me sevicia, mas os sentimentos intransitivos, os inumeráveis sentimentos que recolho, pescador das almas das coisas, em mil acontecimentos cotidianos, em cada fase, cada gesto, em cada minuto que vem substituir o minuto que foi. Entretanto, tudo é. O coração pesa e se refugia silencioso entre possibilidades e apreensões. Dir-se-ia um coração cansado. Entretanto, meu velho, esse é um valente coração." (Paulo Mendes Campos, 1945).
O filme é legal, porém podia ser mais. Toca em alguns temas muito importantes, a começar pela referência do título. A questão da escravização é uma permanente no filme, e o ponto máximo desse debate é quando acontece a cena do churrasco. É interessante ver que, pela qualidade das cenas e pelo figurino dos personagens, eu poderia jurar que o filme se passava em 2006 (se não fosse a questão da discussão da cota, eu teria certeza). Alguns pontos realmente ficam soltos durante a trama, e isso acaba perdendo tempo e minando a qualidade:
quem tirou as fotos da empregada? De quem era a camisinha achada no lixo? Como o pai perdeu o dinheiro? Enfim, detalhes que não apagam o total da obra, mas que fariam a diferença.
Engraçado em alguns momentos, emocionalmente apelativo em outros, forçado em alguns tantos também. Ainda assim, a pegada autobiográfica é curiosa de se ver.
A personagem protagonista é legal no começo, mas com o tempo vai aumentando a impressão de que conviver com alguém assim deve ser insuportável. Teria sido muito bonito se esse terceiro filme aprofundasse na questão da "crise do ninho vazio", mas sem perder o tom humorístico. Por exemplo, explorando questões como: o que uma mãe pode fazer depois de que os filhos crescem? Uma mãe-pessoa idosa pode se apaixonar de novo? As mães precisam mesmo dedicar toda sua vida aos seus filhos a ponte de se resumirem a eles? Acho que isso foi feito no segundo filme, mas ainda havia o que se explorar.
Me incomodou as piadas preconceituosas contra pessoas idosas. Paulo Gustavo tinha tudo pra não ter um humor tão "tiozão", mas em muitos momentos acaba caindo nisso. Outra coisa que me incomoda muito: a única personagem negra no filme é uma empregada. Há figurantes negros, mas personagens com falas, somente uma. O resto é todo mundo muito branquinho e ricos, em casas chiquérrimas e cenários esplendorosos. Até a casa que tentam passar como a mais simples (a da Dona Hermínia) é chique pra caralho. Nem parece que é o Rio de Janeiro das favelas, da desigualdade e da violência gritante. É a típica estética "higienizada" que se vende sobre o Brasil.
Enfim, o filme não é uma total perda de tempo, mas não é nem de longe o melhor humor do cinema nacional. E esperava mais, já que foi líder de vendas. É isso. Infelizmente não vende grandes quantidades aquilo que tem qualidade. Se vende o que é mais comercial.
No final, fiquei puto, pensando: como o protagonista pôde transar com o cara que matou um ex dele, que se fingiu de apaixonado pela irmã, que o incriminou, enfim, que fez da vida dele um inferno?
Depois, fiz a autocrítica: e se fosse eu, no lugar do protagonista, com um cara belíssimo me "amando" e fazendo loucuras por mim? Eu não iria ceder? Eu não iria cair no jogo?
Acho que ninguém fica numa relação tóxica porque quer e esse filme exemplifica isso. Não estou romantizando e nem dizendo que o protagonista estava certo em ficar com o cara que era tóxico, mas o que quero dizer é que as vezes a equação de um relacionamento assim não é tão simples quanto quem está de fora pensa.
Porque quem está de fora sempre pensa: "cara, se é tão ruim, por que a pessoa não cai fora?" ou "A pessoa só tá nesse relacionamento porque quer!". Mas não é simples assim. E acho que Almodovár me tocou neste sentido, despertando essa leitura em mim.
Enfim, o legal do filme é que ele deixa a gente desconfortável. Mas é um desconforto que faz pensar.
Eu achei que o enredo é um pouco demorado no desenvolvimento da trama, a gente vai entender o que tá acontecendo lá pra mais da metade do filme, e confesso que isso foi cansativo em algumas vezes.
Ainda assim, o filme tem uma estética bacana (no começo meus olhos doeram um pouco pela claridade, mas depois me acostumei), os atores são lindos demais (o detetive, o esposo da Ada e o namorado são pftos, afe!), as atrizes são maravilhosas e os cenários são intrigantes.
Gostei de perceber como os detalhes conversavam com a proposta do filme: iphone, perfumes caros e importados, perucas de cabelos lisos, blusinhas com estampas dos EUA. E é bonito de ver como Ada recusa tudo isso e parece não dar importância nenhuma, nem quando ganha o iphone e nem quando vê a casa chique do esposo.
Seriamos menos colonizados, em nossa atualidade, se seguíssemos o exemplo de Ada e fossemos indiferentes as culturas exteriores que nos tentam fazer comprar em uma imposição cotidiana. Triste saber que a maioria de nós é como o esposo de Ada: finge nem ser dali, se acha superior, tem uma casa brega e sem estilo, se torna uma cópia empobrecida e feia de uma outra cultura.
Sempre tive curiosidade de visitar o Senegal e assistir esse filme me deixou ainda mais curioso sobre esse país. Por mais que se veja reportagens sobre Senegal, ver o país pelos olhos da arte é muito instigante.
Putz! Que filme lindo. Tudo transcorre sem pressa. Quem o fez, sabia o que estava fazendo, como começar e como terminar. Filme sobre pessoas idosas sem estereotipos, apenas a vida como ela é. Tem drama, tem humor, tem suspense, tem ação, tem romance.
É lindo ver como o tema da morte tava ali o tempo todo e eu não percebi. Depois que Victor Hugo cai da bicicleta, me esqueci, achei que o tema não era esse. Muito menos pensei que fosse ser com Candelaria. A passagem do tempo marcada pelos pintinhos, que sacada, que sensibilidade!
O comprador de velharias roubadas ser um gringo foi uma sacada genial também. Uma crítica ao colonialismo e ao processo de desumanização que os Estados Unidos sempre impôs à Cuba. Gostei de pensar que gringo representa os Estados Unidos, o capital, que quer roubar tudo da gente, quer fazer tudo virar dinheiro, colocar um preço nas coisas que não tem preço. Inclusive nossa intimidade, algo que a priori não interessaria nada. A isso damos o nome de fetichização.
Outra coisa que é linda é como Candelaria consegue ser tão inteligente a ponto de tocar o seu marido, Victor, que é tão durão. Primeiro, o convence a ficar com a câmera: "ah, você pode vender seus charutos e eu não?". Depois, argumenta: "nós podemos vender pornô, mas eu não posso cantar no palco?". E aí Victor aceita que sua mulher é uma artista e vai até o show dela (nesse momento que eu entendi o porquê das pessoas perguntarem por ele no bar, o porquê dele se recusar a entrar no bar, talvez fosse um preconceito que ele descontruiu com a ajuda da argumentação de Candelaria).
Outra cena linda é quando Candelaria enfrenta o gringo com a sabedoria que só tem as pessoas maduras: cirurgicamente colocando as palavras, com a calma que só tem as pessoas de consciência limpa. Sem ofender e arrumando a situação que o marido estava estragando por não saber se expressar.
Foi perfeito, ao final, terminarem com a música de Célia Cruz, "te busco". Eu sempre pensei que essa música falava de um amor que teria terminado, mas agora penso que a música faz sentido se também pensarmos nela narrando um amor que partiu.
O filme terminar com Victor sorrindo e nos lembrando a cena em que ele, depois de cair da bicicleta, faz uma fala sobre sorrir e aceitar a morte é um grande ensinamento.
De tudo, talvez, o que nos reste, o que não pode nos ser roubado, é isso: a capacidade de sorrir, por mais duro que seja tudo.
TRADUÇÃO DA MÚSICA FINAL: Te Busco Célia Cruz
Um longo olhar para o céu procurando um pouco da minha vida minhas estrelas não respondem Para me iluminar seu sorriso Ondas que se quebram dos meus olhos Em uma legião lembranças suas Me roubam as formas do teu rosto Deixando areia no silênci Te busco perdida entre sonhos O barulho de pessoas Me envolvem em um véu Te procuro voando no céu O vento te levou Como um lenço velho E não faço mais que (re)buscar Paisagens conhecidas Em lugares tão estranhos que não posso dar contigo
Bom, eu não vou comentar o mesmo que todos: realmente, poderíamos trocar o protagonista do filme pelo nosso presidente. Ia caber perfeitamente.
Mas, fiquei me perguntando, é sobre a construção do filme. Tem momentos em que o filme parece ter sido amador (propositalmente, eu acredito), e os diálogos são bem verdadeiros. Será mesmo que o diretor andou com um Hitler pela Alemanha e as pessoas reagiram daquela forma? Eu sempre tive a ilusão de que lá todas as pessoas fossem educadas o suficiente para repudiar e se envergonharem diante do fascismo.
Enfim, o filme fala sobre a relação do fascismo com a sociedade. Cabe perfeitamente no atual contexto brasileiro, já que nosso desgoverno flerta com o fascismo toda hora. Enquanto não houver um sistema político de igualdade social e de educação que permita refletir sobre o passado, o fascismo estará presente entre nós. A gente pode achar que deu tiro na cara dele e que ele caiu do prédio. Mas ele não vai embora assim tão fácil.
A gente fica pensando que "fala comigo" é porque o Diogo liga pra Ângela e ela pede pra ele responder, falar alguma coisa. Mas não. "Fala comigo" é o Diogo e a irmã dele pedindo pros pais deles.
"Falem comigo!": na mesa de jantar, sobre minhas ansiedades e hipocondrias; sobre meus interesses, sobre as músicas que eu componho; falem sobre este silêncio que impera em nossa casa (como se queixa o pai em determinado momento do filme). Além de retratar essa situação chata, de pais que não se interessam por seus filhos, o filme ainda trata do tema tabu do relacionamento entre um cara mais novo e uma mulher mais velha.
Diogo é jovem, sim, mas é ele quem busca Ângela. Por isso, fiquei pistola quando a mãe de Diogo invade toda a privacidade do filho, indo atrás da Ângela, e julgando que foi ela quem buscou o menino. Eu também fiquei com medo de Ângela ser uma doida que fosse matar o menino (e acho que muita gente também pensou que a história poderia caminhar por esse lado). Mas isso só mostra o quanto temos preconceito por pensar que aqueles que vão a um psiquiatra tem muito a esconder, que são pessoas capazes de fazer mal para outras quando, na verdade, podem apenas estar passando por um momento delicado da vida.
Ângela me pareceu uma mulher muito legal. Teve paciência com Diogo, não surtou com as provocações do amigo dele e tratou ele muito bem. Há quem pergunte: mas isso é garantia de alguém ser uma pessoa "normal", que não vai me fazer mal? E eu respondo: ué, e a gente tem essa garantia alguma vez na vida? A gente só se ilude que tem, mas corremos risco mesmo com aqueles com quem sempre convivemos. O risco sempre está presente na nossa vida. O que não podemos é deixar de viver por medo do risco. E tem pais que parecem que querem impedir seus filhos de viverem somente pra que eles não corram nenhum risco.
Para mim, fica claro que o filme trata do relacionamento abusivo de pais quando a irmã do Diogo fica com dor e vai até a casa da Ângela e é tão bem recebida e cuidada, falando: "agora eu entendo porque você fica tanto tempo fora". Depois, a mãe liga, depois de ter deixado a menina só, nem escuta ela e já começa a gritar. Que raiva!
E o pior é que os pais do Diogo nem podem reclamar dos filhos não serem abertos. A irmã de Diogo é aberta quando fala do seu medo de apêndice, e a mãe corre. Diogo é aberto, quando fala da sua descoberta com o amigo Guilherme, e a mãe fica toda quadrada ao não saber como receber aquele carinho/abertura/intimidade do filho. Diogo é aberto com o pai ao conversar sobre cigarro de uma maneira desprendida, mas o pai tá mais tentando correr daquela situação familiar do que pensando nos filhos.
Fico com dó da irmã do Diogo quando ela se compara com a cadela Laika. E Diogo, na sua maturidade, diz: "você está mais para macaca". E eu entendi isso como uma mensagem como: "daqui a pouco você vai poder sair daqui também, vai poder fugir, porque você terá capacidade para isso como eu estou tendo".
É, eu sei que nenhum pai ou mãe recebe manual de convivência e criação com os filhos, mas porra, é preciso muita falta de bom senso para pensar que uma boa criação não envolve diálogo, conversa, respeito. Os filhos precisam conversar e serem escutados, e a resposta para eles não pode ser "você não precisa entender, vai ser assim e pronto!", como diz o pai do Diogo já no final do filme.
Se algum dia eu tiver filho, vou querer ser muito amigo dele. Vou querer que ele me conte sobre sua vida, quero estar aberto a ele e as coisas que ele goste. Sei que deve ser muito difícil na prática, afinal, não deve ser fácil ter alguém sob nossa responsabilidade. Mas ser responsável é diferente de ser dono de alguém. Só quem teve pais abusivos sabe disso. Hoje li uma mensagem no tt que combina muito com isso:
"Seu pai foi mau pra você? Então seja um bom pai pro seu filho. Sua mãe foi má? Então seja uma boa mãe. Seu patrão foi ruim com você? Então, seja um dia, um bom patrão. Aprenda com os erros dos outros para não fazer igual. Seja o exemplo que um dia você quis ter de alguém".
Filme cômico e discretamente profundo, representando bem a qualidade do cinema nacional. Ana Lúcia Torre e Fabiula Nascimento são mesmo ótimas atrizes.
A trama dá umas boas reflexões sobre linguagem e a constituição da linguagem em nós, sobre a relação da linguagem com o que nos acontece e com o nosso entorno.
O filme tem um clima nostálgico e parece ter parado num tempo bom, retratando um tempo em que se tinha amizades profundas e descontraídas com vizinhos, em que o carteiro, mais que carteiro, era amigo. As pessoas podiam entrar na sua casa ainda que você nunca as tenha visto e você não desconfiava. É legal esse jogo de inocência e maldade, de loucura e racionalidade, o tempo todo no enredo.
Adorei o cenário do filme. Ambientação perfeita. A cozinha, os ladrilhos brancos-encardidos de casa velha e antiga. Aliás, adoro cenários que são da vida real. Adoro pensar que a arte pode acontecer em qualquer lugar e sem precisar de extravagante palcos.
Esperava um outro final, confesso, embora também não saiba como seria um final melhor. Foi legal terminar assim, dando a impressão da vida da Elvira seguindo normalmente.
A relação da vizinha com o marido e os relatos que ela confidencia com Elvira pode parecer, em um primeiro olhar, um ponto solto. Mas dá pra gente comparar a diferença entre a vida dos casais Elvira e marido, e vizinha e marido. Dá pra gente pensar nas singularidades das relações e como é difícil sustentar essa coisa chamada monogamia, já que somos humanos e explodimos desejos estranhos (como por exemplo, pêlos no braço, como tinha a vizinha. Ou fetiche por hálitos, como tinha a enfermeira).
Uma coisa que me causou muita curiosidade e estranhamento foi eles colocarem o empalhamento de animais sendo feito como se fosse algo comum e isso me deixou bastante incomodado. Mas não um incômodo ruim. Não estou falando de um estranhamento ruim. O estranho é ótimo porque tira a gente do nosso lugar de conforto, nos faz pensar que o diferente pode ser particular e também maravilhoso. Acontece que na vida somos tão fechados pro estranho e pro diferente... temos medo até de abrir a porta pra um desconhecido ou de sermos íntimos da vizinha.
O filme é um estranho que poderia continuar por três horas e eu não me daria conta, de tão gostoso que foi assistir. Falo isso, mas sei que terminou na hora certa. A direção foi esperta até nesse sentido: soube quando terminar o filme.
Maravilhoso. Queria ter mais acesso à filmes nacionais assim.
Apesar de ser clichê, é um filme legal e uma comédia romântica bem feita. Traz uma mensagem bonita de que é preciso estar sozinho para aprender estar acompanhado.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraFilme pesadíssimo, visceral. A gente fica agoniado com a coragem que a mulher tem. No fim, só ficou uma frase (ainda que clichê, mas profunda) na minha cabeça:
"na vida, não é tão importante o que te fizeram, mas sim o que você faz com aquilo que te fizeram".
Obrigado, Marina!
Desobediência
3.7 720 Assista AgoraFilme muito delicado e sutil, apesar de falar de um tema visceral (religião e sexualidade). Só quem é LGBT sabe como é duro se sentir desencaixado de sua comunidade.
Gosto muito de filmes e séries sobre a comunidade judia, sobre os Haredi, e gosto ainda mais quando tem um final feliz, de aceitação, como ocorre em Desobediência. A reação final de Dovid foi linda. Mas não pude deixar de desejar que eles formassem um trisal, rs.
Enfim, apesar de ter me parecido bonito, o filme foi um pouco arrastado, demorado (nada insuportável para mim).
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraResisti em ver, mas até que é bonzinho.
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraInstigante. Provocador. Vale a pena ver.
A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets
3.4 231 Assista AgoraFofo demais. Excelente continuação. Me lembrei que assisti A Fuga 1 no cinema, com a escola, quando eu era pequenininho. É um ótimo filme para introjetar luta de classes nas crianças, hihihihi.
O Mundo Depois de Nós
3.2 882 Assista AgoraO filme até pretende passar uma mensagem legal: o mundo tá acabando, a massa é refém dos ricos, precisamos nos unir, só quem tem grana conseguirá fugir... mas, a sensação que me fica é que a trama promete muito e entrega pouco. Uma coisa bem sei lá.
Boi Neon
3.6 461 Assista AgoraEsse Cazarré é um gostoso, pena que é negacionista.
Os Salafrários
2.7 132 Assista AgoraMais ridículo impossível.
Vergolha alheia.
Paraíso Perdido
3.8 266Algumas atuações não são perfeitas, mas tem uma história fofinha.
As trilhas sonoras dialogam com o roteiro e valorizam demais a MPB.
O filme tem diversidade e pode trazer umas reflexões profundas através de alguns diálogos. As cenas de sexo são muito sexys e esse Lee Taylor é um gostoso desgraçado da porra.
You're so vain
You probably think this song is about you
You're so vain (you're so vain)
I bet you think this song is about you
Don't you don't you?
Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar
4.2 993 Assista AgoraSó há duas maneiras de se ver a animação:
ou com os olhos de uma criança,
ou se conhecendo a beleza de uma criança.
Vou Rifar Meu Coração
4.1 214Filme poético, inteligente, desvelador da inferiorização das culturas populares. Tudo que é do pobre é inferiorizado e o filme denuncia isso de uma maneira muito sensível.
Para mim, que cresci ouvindo brega (e aprendi a não gostar e a inferiorizar também) é uma libertação compreender essa relação do capital com a cultura brega.
Entre os temas atuais que o filme toca, estão: racismo, classe, prostituição, sexualidade, transgeneridade, machismo, autoaceitação, gozo.
É verdade que a diretora errou (e feio!) ao final, quando fez uma pergunta ridícula pra Marquise. Porém, vamos dar um desconto: o filme é de 2012. Nessa época, não se discutia sobre pessoas trans como hoje se discute. Aliás, para a época foi um grande avanço a diretora trazer a questão da sexualidade e das pessoas trans, porque ela poderia ter deixado a narrativa apenas na ótica hétero (ontem vi um filme sobre a cultura brega e fizeram isso). Estamos falando de oito anos atrás.
Enfim, errou? Errou e provavelmente não sabia que estava errado. Tomara que hoje tenha aprendido. O erro tirou o valor do filme? Definitivamente não.
Amor & Brega
3.5 2Documentário maravilhoso.
Abriu a minha mente num tanto!
A cultura popular é sempre vista como inferior porque é uma cultura que vem do povo.
E tentam matar e inferiorizar tudo que é do povo: das empregadas, dos pedreiros, das putas, das atendentes, dos vendedores, dos cozinheiros... de todas as gentes e profissões que sustentam esse país tão desigual.
O brega é música com influências de nossos países irmãos da américa latina. Por isso, faz sentido a Bossa Nova ser valorizada, já que possui influências no jazz. O que é nosso é rejeitado, e o que é de fora, o que é da gringa, é visto como bonito.
É uma tristeza ver, por exemplo, que muitos filmes gringos possuem grande apelação e visibilidade, enquanto um documentário tão bonito como esse, sobre nossa cultura, possua apenas mil visualizações no youtube. Acabei de pesquisar e um documentário de pop arte possui 20 mil visualizações.
A colonização resiste na mente. Ainda somos colonizados. Talvez só tenha mudado o colono...
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraQueria muito ser amigo de Clara.
A Cidade Onde Envelheço
3.6 130 Assista AgoraEu achei que não fosse gostar e não estava mesmo, nos primeiros vinte minutos, em que a gente fica perdido: quem são essas duas meninas? Foram namoradas? Amigas de infância? Por que estão morando juntas? Por que possuem contatos tão íntimos? Essas perguntas incomodam a gente, mas para entender o filme, é preciso esquecê-las, e só deixar ir.
"A cidade onde envelheço" me tocou com a temática de "ser estrangeiro na terra do outro". Só quem já foi estrangeiro, em outro país, ou mesmo em uma cidade, em que não conhecia ninguém, pode entender como isso é difícil. E olha que no filme, as protagonistas se conheciam. Para viver uma experiência de estrangeirismo assim, é preciso ser aberto pro novo, pras pessoas novas, pras risadas, para o incômodo, para a surpresa.
Há prazeres e dores em se estar longe de casa, e em estar em uma casa com outro, seja qual for o seu interesse: trabalho, curtição, auto descobrimento... os prazeres advém de se sentir independente, capaz de conquistar o mundo e de ver beleza nas coisas. Prazer de ser diferente em meio a tanta gente, prazer de conhecer um lugar novo e de ser quem você é sem se importar com pessoas que conheçam quem você foi, prazer em ter uma história singular que é facilmente identificada diante de sua origem terrestre destoante (marcada, por exemplo, por um sotaque).
Mas, também dor: ao aceitar os barulhos alheios, ao passar dias difíceis sem ter uma pessoa familiar para te abraçar, ao querer se comunicar e não ser totalmente entendido (principalmente se você está em uma língua diferente, ou ainda que igual, com sotaques muito distantes), dor em não ter ninguém conhecido, dor em não conhecer toda a cidade, dor em se perder nessa cidade, dor de saudade...
O sotaque é mesmo uma constante no filme. As diversas maneiras de se falar qualquer língua faz a gente pensar em como é bonita a diferença. Tive que colocar legenda. Mas confesso que eu, que sempre achei o sotaque português chato, consegui achar super encantador nesse filme. Nesse filme, é gostoso demais ver o contraste do sotaque mineiro com o sotaque português.
Li muita gente criticando o filme mostrar apenas uma imagem higienizada de Belo Horizonte. Mas é preciso considerar que a proposta do filme não é falar da cidade de BH, mas sim trazer uma narrativa POÉTICA que se passa na cidade de BH. E o filme faz isso e uma maneira magnífica. E outra, nem sei se concordo tanto com que o filme traga uma cidade higienizada: os cenários são cheios de ruídos que me pareceram muito naturais, sujeiras das ruas, figurantes reais, cenários reais. Enfim, pra mim que conheço BH, foi uma excelente experiência e surpresa ver essa cidade por meio desse olhar poético, e isso acontece já de cara, quando o filme começa na rodoviária. Se a intenção é saber sobre as nunces da paisagem belorizontina, recomendo que busquem um documentário sobre a cidade, e não que vejam o filme.
Uma coisa que eu achei muito legal no filme: tem pessoas negras e não somente como figurantes. Aliás, os dois atores negros que contracenam (o peguete da Francisca e o Neguinho) são lindos de morrer. Ótima escolha! Já as duas protagonistas, apesar de terem me parecido boas atrizes, achei muito feias. São iguais, idênticas. Não consegui diferenciar quem era quem o tempo todo, porque confundi as duas personagens toda hora. O que me salvou era o cabelo, que de uma era curto e de outra, longo. Mas quando estavam presos... putz!
O filme tem uma trilha sonora linda e dinâmica, com destaque para as músicas Jards Macalé, que eu ainda não conhecia e já entrou na minha playlist. Além disso, o filme também traz um trecho de uma carta, que parecia mais poema, e deixo aqui abaixo registrada:
"De onde venho, meu velho, para onde vou? Mas nenhum traço de comoção dramatiza minha voz. Estou calmo, lúcido, fumando. Nem careço rigorosamente de escrever uma carta: ninguém me chama, ninguém me espera, ninguém me denuncia. Iluminando melhor, não é o sentimento para que me sevicia, mas os sentimentos intransitivos, os inumeráveis sentimentos que recolho, pescador das almas das coisas, em mil acontecimentos cotidianos, em cada fase, cada gesto, em cada minuto que vem substituir o minuto que foi. Entretanto, tudo é. O coração pesa e se refugia silencioso entre possibilidades e apreensões. Dir-se-ia um coração cansado. Entretanto, meu velho, esse é um valente coração."
(Paulo Mendes Campos, 1945).
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraO filme é legal, porém podia ser mais.
Toca em alguns temas muito importantes, a começar pela referência do título. A questão da escravização é uma permanente no filme, e o ponto máximo desse debate é quando acontece a cena do churrasco.
É interessante ver que, pela qualidade das cenas e pelo figurino dos personagens, eu poderia jurar que o filme se passava em 2006 (se não fosse a questão da discussão da cota, eu teria certeza).
Alguns pontos realmente ficam soltos durante a trama, e isso acaba perdendo tempo e minando a qualidade:
quem tirou as fotos da empregada? De quem era a camisinha achada no lixo? Como o pai perdeu o dinheiro? Enfim, detalhes que não apagam o total da obra, mas que fariam a diferença.
Minha Mãe é uma Peça 3
3.7 569Engraçado em alguns momentos, emocionalmente apelativo em outros, forçado em alguns tantos também. Ainda assim, a pegada autobiográfica é curiosa de se ver.
A personagem protagonista é legal no começo, mas com o tempo vai aumentando a impressão de que conviver com alguém assim deve ser insuportável. Teria sido muito bonito se esse terceiro filme aprofundasse na questão da "crise do ninho vazio", mas sem perder o tom humorístico. Por exemplo, explorando questões como: o que uma mãe pode fazer depois de que os filhos crescem? Uma mãe-pessoa idosa pode se apaixonar de novo? As mães precisam mesmo dedicar toda sua vida aos seus filhos a ponte de se resumirem a eles? Acho que isso foi feito no segundo filme, mas ainda havia o que se explorar.
Me incomodou as piadas preconceituosas contra pessoas idosas. Paulo Gustavo tinha tudo pra não ter um humor tão "tiozão", mas em muitos momentos acaba caindo nisso. Outra coisa que me incomoda muito: a única personagem negra no filme é uma empregada. Há figurantes negros, mas personagens com falas, somente uma. O resto é todo mundo muito branquinho e ricos, em casas chiquérrimas e cenários esplendorosos. Até a casa que tentam passar como a mais simples (a da Dona Hermínia) é chique pra caralho. Nem parece que é o Rio de Janeiro das favelas, da desigualdade e da violência gritante. É a típica estética "higienizada" que se vende sobre o Brasil.
Enfim, o filme não é uma total perda de tempo, mas não é nem de longe o melhor humor do cinema nacional. E esperava mais, já que foi líder de vendas. É isso. Infelizmente não vende grandes quantidades aquilo que tem qualidade. Se vende o que é mais comercial.
E é triste quando a arte se vende.
A Lei do Desejo
3.8 317 Assista AgoraÓtimo filme. A frente do seu tempo, estética bacana para a época. A gente vê a personalidade artística do Almodovár.
No final, fiquei puto, pensando: como o protagonista pôde transar com o cara que matou um ex dele, que se fingiu de apaixonado pela irmã, que o incriminou, enfim, que fez da vida dele um inferno?
Depois, fiz a autocrítica: e se fosse eu, no lugar do protagonista, com um cara belíssimo me "amando" e fazendo loucuras por mim? Eu não iria ceder? Eu não iria cair no jogo?
Acho que ninguém fica numa relação tóxica porque quer e esse filme exemplifica isso. Não estou romantizando e nem dizendo que o protagonista estava certo em ficar com o cara que era tóxico, mas o que quero dizer é que as vezes a equação de um relacionamento assim não é tão simples quanto quem está de fora pensa.
Porque quem está de fora sempre pensa: "cara, se é tão ruim, por que a pessoa não cai fora?" ou "A pessoa só tá nesse relacionamento porque quer!". Mas não é simples assim. E acho que Almodovár me tocou neste sentido, despertando essa leitura em mim.
Enfim, o legal do filme é que ele deixa a gente desconfortável.
Mas é um desconforto que faz pensar.
Atlantique
3.6 129Eu achei que o enredo é um pouco demorado no desenvolvimento da trama, a gente vai entender o que tá acontecendo lá pra mais da metade do filme, e confesso que isso foi cansativo em algumas vezes.
Ainda assim, o filme tem uma estética bacana (no começo meus olhos doeram um pouco pela claridade, mas depois me acostumei), os atores são lindos demais (o detetive, o esposo da Ada e o namorado são pftos, afe!), as atrizes são maravilhosas e os cenários são intrigantes.
Gostei de perceber como os detalhes conversavam com a proposta do filme: iphone, perfumes caros e importados, perucas de cabelos lisos, blusinhas com estampas dos EUA. E é bonito de ver como Ada recusa tudo isso e parece não dar importância nenhuma, nem quando ganha o iphone e nem quando vê a casa chique do esposo.
Seriamos menos colonizados, em nossa atualidade, se seguíssemos o exemplo de Ada e fossemos indiferentes as culturas exteriores que nos tentam fazer comprar em uma imposição cotidiana. Triste saber que a maioria de nós é como o esposo de Ada: finge nem ser dali, se acha superior, tem uma casa brega e sem estilo, se torna uma cópia empobrecida e feia de uma outra cultura.
Sempre tive curiosidade de visitar o Senegal e assistir esse filme me deixou ainda mais curioso sobre esse país. Por mais que se veja reportagens sobre Senegal, ver o país pelos olhos da arte é muito instigante.
14/06/2020
Candelaria
4.1 38Putz! Que filme lindo. Tudo transcorre sem pressa. Quem o fez, sabia o que estava fazendo, como começar e como terminar. Filme sobre pessoas idosas sem estereotipos, apenas a vida como ela é. Tem drama, tem humor, tem suspense, tem ação, tem romance.
É lindo ver como o tema da morte tava ali o tempo todo e eu não percebi. Depois que Victor Hugo cai da bicicleta, me esqueci, achei que o tema não era esse. Muito menos pensei que fosse ser com Candelaria. A passagem do tempo marcada pelos pintinhos, que sacada, que sensibilidade!
O comprador de velharias roubadas ser um gringo foi uma sacada genial também. Uma crítica ao colonialismo e ao processo de desumanização que os Estados Unidos sempre impôs à Cuba. Gostei de pensar que gringo representa os Estados Unidos, o capital, que quer roubar tudo da gente, quer fazer tudo virar dinheiro, colocar um preço nas coisas que não tem preço. Inclusive nossa intimidade, algo que a priori não interessaria nada. A isso damos o nome de fetichização.
Outra coisa que é linda é como Candelaria consegue ser tão inteligente a ponto de tocar o seu marido, Victor, que é tão durão. Primeiro, o convence a ficar com a câmera: "ah, você pode vender seus charutos e eu não?". Depois, argumenta: "nós podemos vender pornô, mas eu não posso cantar no palco?". E aí Victor aceita que sua mulher é uma artista e vai até o show dela (nesse momento que eu entendi o porquê das pessoas perguntarem por ele no bar, o porquê dele se recusar a entrar no bar, talvez fosse um preconceito que ele descontruiu com a ajuda da argumentação de Candelaria).
Outra cena linda é quando Candelaria enfrenta o gringo com a sabedoria que só tem as pessoas maduras: cirurgicamente colocando as palavras, com a calma que só tem as pessoas de consciência limpa. Sem ofender e arrumando a situação que o marido estava estragando por não saber se expressar.
Foi perfeito, ao final, terminarem com a música de Célia Cruz, "te busco". Eu sempre pensei que essa música falava de um amor que teria terminado, mas agora penso que a música faz sentido se também pensarmos nela narrando um amor que partiu.
O filme terminar com Victor sorrindo e nos lembrando a cena em que ele, depois de cair da bicicleta, faz uma fala sobre sorrir e aceitar a morte é um grande ensinamento.
De tudo, talvez, o que nos reste, o que não pode nos ser roubado, é isso: a capacidade de sorrir, por mais duro que seja tudo.
TRADUÇÃO DA MÚSICA FINAL:
Te Busco
Célia Cruz
Um longo olhar para o céu
procurando um pouco da minha vida
minhas estrelas não respondem
Para me iluminar seu sorriso
Ondas que se quebram dos meus olhos
Em uma legião lembranças suas
Me roubam as formas do teu rosto
Deixando areia no silênci
Te busco perdida entre sonhos
O barulho de pessoas
Me envolvem em um véu
Te procuro voando no céu
O vento te levou
Como um lenço velho
E não faço mais que (re)buscar
Paisagens conhecidas
Em lugares tão estranhos
que não posso dar contigo
Ele Está de Volta
3.8 681Bom, eu não vou comentar o mesmo que todos: realmente, poderíamos trocar o protagonista do filme pelo nosso presidente. Ia caber perfeitamente.
Mas, fiquei me perguntando, é sobre a construção do filme. Tem momentos em que o filme parece ter sido amador (propositalmente, eu acredito), e os diálogos são bem verdadeiros. Será mesmo que o diretor andou com um Hitler pela Alemanha e as pessoas reagiram daquela forma? Eu sempre tive a ilusão de que lá todas as pessoas fossem educadas o suficiente para repudiar e se envergonharem diante do fascismo.
Enfim, o filme fala sobre a relação do fascismo com a sociedade. Cabe perfeitamente no atual contexto brasileiro, já que nosso desgoverno flerta com o fascismo toda hora. Enquanto não houver um sistema político de igualdade social e de educação que permita refletir sobre o passado, o fascismo estará presente entre nós. A gente pode achar que deu tiro na cara dele e que ele caiu do prédio. Mas ele não vai embora assim tão fácil.
"A cadela do fascismo está sempre no cio", B. B.
Fala Comigo
2.9 183 Assista AgoraQue filme foda e inteligente. Quebra tabus.
A gente fica pensando que "fala comigo" é porque o Diogo liga pra Ângela e ela pede pra ele responder, falar alguma coisa. Mas não. "Fala comigo" é o Diogo e a irmã dele pedindo pros pais deles.
"Falem comigo!": na mesa de jantar, sobre minhas ansiedades e hipocondrias; sobre meus interesses, sobre as músicas que eu componho; falem sobre este silêncio que impera em nossa casa (como se queixa o pai em determinado momento do filme).
Além de retratar essa situação chata, de pais que não se interessam por seus filhos, o filme ainda trata do tema tabu do relacionamento entre um cara mais novo e uma mulher mais velha.
Diogo é jovem, sim, mas é ele quem busca Ângela. Por isso, fiquei pistola quando a mãe de Diogo invade toda a privacidade do filho, indo atrás da Ângela, e julgando que foi ela quem buscou o menino. Eu também fiquei com medo de Ângela ser uma doida que fosse matar o menino (e acho que muita gente também pensou que a história poderia caminhar por esse lado). Mas isso só mostra o quanto temos preconceito por pensar que aqueles que vão a um psiquiatra tem muito a esconder, que são pessoas capazes de fazer mal para outras quando, na verdade, podem apenas estar passando por um momento delicado da vida.
Ângela me pareceu uma mulher muito legal. Teve paciência com Diogo, não surtou com as provocações do amigo dele e tratou ele muito bem. Há quem pergunte: mas isso é garantia de alguém ser uma pessoa "normal", que não vai me fazer mal? E eu respondo: ué, e a gente tem essa garantia alguma vez na vida? A gente só se ilude que tem, mas corremos risco mesmo com aqueles com quem sempre convivemos. O risco sempre está presente na nossa vida. O que não podemos é deixar de viver por medo do risco. E tem pais que parecem que querem impedir seus filhos de viverem somente pra que eles não corram nenhum risco.
Para mim, fica claro que o filme trata do relacionamento abusivo de pais quando a irmã do Diogo fica com dor e vai até a casa da Ângela e é tão bem recebida e cuidada, falando: "agora eu entendo porque você fica tanto tempo fora". Depois, a mãe liga, depois de ter deixado a menina só, nem escuta ela e já começa a gritar. Que raiva!
E o pior é que os pais do Diogo nem podem reclamar dos filhos não serem abertos. A irmã de Diogo é aberta quando fala do seu medo de apêndice, e a mãe corre. Diogo é aberto, quando fala da sua descoberta com o amigo Guilherme, e a mãe fica toda quadrada ao não saber como receber aquele carinho/abertura/intimidade do filho. Diogo é aberto com o pai ao conversar sobre cigarro de uma maneira desprendida, mas o pai tá mais tentando correr daquela situação familiar do que pensando nos filhos.
Fico com dó da irmã do Diogo quando ela se compara com a cadela Laika. E Diogo, na sua maturidade, diz: "você está mais para macaca". E eu entendi isso como uma mensagem como: "daqui a pouco você vai poder sair daqui também, vai poder fugir, porque você terá capacidade para isso como eu estou tendo".
É, eu sei que nenhum pai ou mãe recebe manual de convivência e criação com os filhos, mas porra, é preciso muita falta de bom senso para pensar que uma boa criação não envolve diálogo, conversa, respeito. Os filhos precisam conversar e serem escutados, e a resposta para eles não pode ser "você não precisa entender, vai ser assim e pronto!", como diz o pai do Diogo já no final do filme.
Se algum dia eu tiver filho, vou querer ser muito amigo dele. Vou querer que ele me conte sobre sua vida, quero estar aberto a ele e as coisas que ele goste. Sei que deve ser muito difícil na prática, afinal, não deve ser fácil ter alguém sob nossa responsabilidade. Mas ser responsável é diferente de ser dono de alguém. Só quem teve pais abusivos sabe disso.
Hoje li uma mensagem no tt que combina muito com isso:
"Seu pai foi mau pra você? Então seja um bom pai pro seu filho. Sua mãe foi má? Então seja uma boa mãe. Seu patrão foi ruim com você? Então, seja um dia, um bom patrão. Aprenda com os erros dos outros para não fazer igual. Seja o exemplo que um dia você quis ter de alguém".
14/05/2020
Reflexões de um Liquidificador
3.8 583 Assista AgoraFilme cômico e discretamente profundo, representando bem a qualidade do cinema nacional. Ana Lúcia Torre e Fabiula Nascimento são mesmo ótimas atrizes.
A trama dá umas boas reflexões sobre linguagem e a constituição da linguagem em nós, sobre a relação da linguagem com o que nos acontece e com o nosso entorno.
O filme tem um clima nostálgico e parece ter parado num tempo bom, retratando um tempo em que se tinha amizades profundas e descontraídas com vizinhos, em que o carteiro, mais que carteiro, era amigo. As pessoas podiam entrar na sua casa ainda que você nunca as tenha visto e você não desconfiava. É legal esse jogo de inocência e maldade, de loucura e racionalidade, o tempo todo no enredo.
Adorei o cenário do filme. Ambientação perfeita. A cozinha, os ladrilhos brancos-encardidos de casa velha e antiga. Aliás, adoro cenários que são da vida real. Adoro pensar que a arte pode acontecer em qualquer lugar e sem precisar de extravagante palcos.
Esperava um outro final, confesso, embora também não saiba como seria um final melhor. Foi legal terminar assim, dando a impressão da vida da Elvira seguindo normalmente.
A relação da vizinha com o marido e os relatos que ela confidencia com Elvira pode parecer, em um primeiro olhar, um ponto solto. Mas dá pra gente comparar a diferença entre a vida dos casais Elvira e marido, e vizinha e marido. Dá pra gente pensar nas singularidades das relações e como é difícil sustentar essa coisa chamada monogamia, já que somos humanos e explodimos desejos estranhos (como por exemplo, pêlos no braço, como tinha a vizinha. Ou fetiche por hálitos, como tinha a enfermeira).
Uma coisa que me causou muita curiosidade e estranhamento foi eles colocarem o empalhamento de animais sendo feito como se fosse algo comum e isso me deixou bastante incomodado. Mas não um incômodo ruim. Não estou falando de um estranhamento ruim. O estranho é ótimo porque tira a gente do nosso lugar de conforto, nos faz pensar que o diferente pode ser particular e também maravilhoso. Acontece que na vida somos tão fechados pro estranho e pro diferente... temos medo até de abrir a porta pra um desconhecido ou de sermos íntimos da vizinha.
O filme é um estranho que poderia continuar por três horas e eu não me daria conta, de tão gostoso que foi assistir. Falo isso, mas sei que terminou na hora certa. A direção foi esperta até nesse sentido: soube quando terminar o filme.
Maravilhoso. Queria ter mais acesso à filmes nacionais assim.
14/05/2020
Meu Melhor Amigo
3.2 168Deixa a desejar e poderia ser resumido em um curta se a intenção era contar a história que conta.
28/04/2020
Como Ser Solteira
3.3 485 Assista AgoraApesar de ser clichê, é um filme legal e uma comédia romântica bem feita. Traz uma mensagem bonita de que é preciso estar sozinho para aprender estar acompanhado.
26/04/2020