O filme se diferencia habilmente de uma leva de produções que retratam a infância e a adolescência de uma forma idealizada e pouco questionadora, trazendo à tona reflexões importantes, especialmente sobre sexualidade. É interessante ver o amadurecimento gradativo das personagens principais ao longo da trama, em particular o de Andrew Robertson, em atuação notável, trazendo em sua interpretação a inocência das descobertas, e as malícias de uma puberdade que se aflora, diante de um ambiente familiar complexo, especialmente após a morte dos pais. O filme não apela para sentimentalismos e nem induz o espectador a fazer juízos de valor, contando com uma trilha sonora sutil e enigmática. Se os eventos mostrados são "moralmente duvidosos" ou não, isso é outra discussão. O que o filme faz, e de forma muito precisa e convincente, é apenas apresentá-los, de maneira que o enxergo como uma bela incursão sobre a adolescência e seus desafios, diante das situações abruptas da vida. Destaque-se também a atuação da excelente Charlotte Gainsbourg (musa de Von Trier), em início de carreira, captando em sua linguagem corporal o medo/atração pelo "proibido" e pelas consequências dessa relação. Franco e coerente com o que se propõe, "O jardim de cimento" é um filme complexo, mas entusiasticamente reflexivo e melancólico.
Um estudo de personagem profundo e nenhum pouco auspicioso quanto à humanidade em seu estado puro. Assistindo ao filme e lendo o livro "Sobressalto" , de Kenneth Cook, pouco tempo depois, lembrei-me de "O cortiço", de Aluísio Azevedo pelo grau de degradação humana e pela animalização das personagens (característica comum do Naturalismo). Gary Bond tem a performance de sua vida como o professor almofadinha delicado e passivo no início do filme, perfeitamente civilizado, uma vez que sua condição social lhe confere esse status (ainda que seja insatisfeito com a mesma). Somente quando tal estabilidade é posta em xeque (ao perder todo o dinheiro num jogo) e se vir às custas da "boa vontade" dos habitantes da cidadela em que faz conexão para Sidney (onde vive sua namorada), é que podemos ver o que restará deste homem, que será brutalmente influenciado pelo meio (não se exclua o fato que mesmo sob influência, John se diverte diante das atrocidades que presencia e pratica, a todo momento exercendo o livre arbítrio). Totalmente impotente, ele tem que se adaptar aos costumes locais, onde recusar um copo de cerveja é tão vil quanto qualquer outro crime, matar animais indefesos é tão natural quanto andar na rua, e desrespeitar mulheres é algo comum e plenamente rotineiro (vide Janette Hynes, ofendida pelos valentões amigos de seu pai, em sua própria casa, e sob os olhares totalmente apáticos do próprio pai).
Ao final da jornada de insanidade e de frustração por não conseguir abandonar este inferno na Terra, só resta uma tentativa (frustrada) de suicídio. Após os cuidados médicos, ele consegue assistência para voltar para casa e para seu trabalho, mas consciente de tudo que viveu e de tudo a que se submeteu, reconhecendo que aquelas férias foram "as melhores" (?), talvez pelo aprendizado dos erros que nunca cometerá novamente ou porque no fim das contas acabou se divertindo, conhecendo todos os limites do seu próprio eu.
Este filme termina sendo um grande exercício sociológico absolutamente sem igual...
Já havia visto há muito tempo no extinto "cinema em casa", mas não tinha uma lembrança vívida o suficiente para avaliá-lo de forma justa. Revendo-o, saboreei-o em toda a nostalgia que me desperta, e me diverti muito com a originalidade (rs) da estória, apesar dos furos no roteiro. "O Homem Cobra" é uma experiência lisérgica e um passatempo muito válido. Pelo efeito que tem em mim, sou obrigado a favoritá-lo!
Vinte anos depois daquele que é tido como seu filme mais representativo, "Re-Animator" (1985), Stuart Gordon dirige este complexo drama existencial, a respeito de um indivíduo que se cansa da vida que leva, e resolve abandonar tudo depois de consultar uma cigana. Aqui não há um momento sequer de uma veia cômica, exceto pela ponta de Jeffrey Combs (grande ator colaborador de Gordon), diferente do que venho vendo do diretor. Pra mim, soam assustadoras todas as situações a que o protagonista é submetido.
Em especial, fiquei horrorizado com o assassinato da garçonete (em parte por ele ser meio abrupto e inesperado). Senti ecos de um "Psicopata americano" (2000), porém não vejo de maneira tão clara as motivações de Edmond para a atrocidade que comete contra a moça. Talvez numa revisão entenda melhor a jornada de autodescoberta do personagem principal...
O sci-fi mais divertido que já vi! "Re-Animator" cumpre perfeitamente o que promete, entregando uma narrativa bizarra, repleta de momentos que geram estranhamento pela sua natureza imoral e surreal, despertando horror e humor simultâneos. Excelente estréia de Stuart Gordon na direção!
Ninguém melhor que Dustin Hoffman para passar de um cara tranquilo e calmo para um ensandecido e vingador sujeito para defender sua esposa e sua casa, depois de todos os abusos inomináveis que sofreram.
Como disseram mais abaixo, lembra muito "Taxi Driver", seja pelo retrato da decadência urbana (e da subsequente criminalidade), seja pela narração "em off" dos personagens principais, ou mesmo pela busca de redenção destes.
Creio, contudo, que em "Taxi Driver", Travis buscava uma redenção social, enquanto LeTour busca algo mais pessoal, depois do que aconteceu à Marianne. Fico pensando que são poucos os filmes que trazem um final poético e sublime (que nos eleva) como o do filme de Schrader: um gesto tão nobre e simples (uma cena sem cortes até subirem os créditos) que fica em nossa memória. Apesar de considerar "Taxi" superior (ainda que com seu final inverossímil), este "Light Sleeper" é meu favorito se tivesse que optar entre um dos dois.
Lamento muito por esse filme. A trilha de John Barry é, na minha opinião, a mais linda de sua carreira. Atores com ótimos desempenhos numa premissa excelente. Mas, infelizmente, o segundo ato repleto de irregularidades quase "mata" o filme. "Mania" conhecida de Adrian Lyne por querer sempre "agradar" ao grande público
Nas mãos de um grande diretor seria um filme excelente, que abordaria com seriedade a ganância, o desejo, a infidelidade e diversas questões morais. Uma pena...
É interessante que na terceira possibilidade da vida de Witek, depois de não conseguir pegar o trem, e após a escolha de uma vida apartidária (já que não acredito no termo apolítico), seu avião explode. Kieslowski nos mostra então que num universo de possibilidades e de escolhas, estamos, ainda assim, à mercê de nossa existência e do acaso (um dos títulos do filme, inclusive).
Acredito que seja um ótimo filme para se estudar Filosofia, e espero revê-lo depois.
Num pôster de Coração Valente, vem um belíssimo e apropriado slogan: "sua paixão cativou uma mulher; sua coragem inspirou um país; seu coração desafiou um rei". O filme que transformou minha vida.
“O Franco Atirador” é um filme de grande impacto emocional. Isso se deve às suas belíssimas atuações, um roteiro bastante coeso, uma excelente direção de Michael Cimino, somado à belíssima canção “Cavatina”, de John Williams. O filme acompanha a vida de três jovens amigos - Michael (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken) e Steven (John Savage) - que trabalham numa siderúrgica e são convocados para a guerra do Vietnã. Lá, serão submetidos às mais cruéis e tensas torturas, embarcando numa verdadeira “viagem ao fundo do inferno”, como sugere o título do filme em francês.
Os amigos são obrigados a jogar roleta russa entre si, e são nessas cenas onde estão as maiores emoções. Um Robert De Niro inspirado (como sempre) nos entrega uma atuação fortíssima (segundo uma entrevista do próprio De Niro, sua melhor atuação), sempre encorajando os companheiros a obedecerem os vietcongues e a contarem com a sorte: “Três balas, eu quero três balas!”, diz Michael numa cena em que joga com Nick, quando planeja uma fuga. Eu poderia citar várias cenas especiais, mas o filme tem tantas, que fica difícil escolher uma aqui e outra ali. A cena em que Michael vai caçar os cervos e não consegue matar (após voltar do Vietnã) é uma das mais significativas do filme, pois, sem que se precise de nenhuma palavra dita, temos o mesmo sentimento de Michael naquele momento. Mas a cena em que Michael contempla a foto de Linda (Meryl Streep)- amada de seu melhor amigo Nick, que permaneceu no Vietnã - ao som de Cavatina é uma das minhas preferidas. Posteriormente, Michael e Linda viverão um romance. Quem poderia julgar essas duas almas tão maltratadas pela guerra? O filme segue ao longo de suas três horas - que de nenhuma forma chegam a ser maçantes, exatamente para nos mostrar aquelas pessoas: o que fazem,como vivem, como se divertem -, culminando com o jogo mortal entre Michael e Nick (que permanecera no Vietnã e entra numa espécie de colapso nervoso).
Enfim, temos um filme que explora o ser humano, abordando suas diversas facetas. Um dos filmes mais marcantes que já vi na vida; uma brilhante produção, com uma mensagem fortíssima. Intenso e, acima de tudo, lindo.
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O Jardim de Cimento
3.8 65O filme se diferencia habilmente de uma leva de produções que retratam a infância e a adolescência de uma forma idealizada e pouco questionadora, trazendo à tona reflexões importantes, especialmente sobre sexualidade. É interessante ver o amadurecimento gradativo das personagens principais ao longo da trama, em particular o de Andrew Robertson, em atuação notável, trazendo em sua interpretação a inocência das descobertas, e as malícias de uma puberdade que se aflora, diante de um ambiente familiar complexo, especialmente após a morte dos pais. O filme não apela para sentimentalismos e nem induz o espectador a fazer juízos de valor, contando com uma trilha sonora sutil e enigmática. Se os eventos mostrados são "moralmente duvidosos" ou não, isso é outra discussão. O que o filme faz, e de forma muito precisa e convincente, é apenas apresentá-los, de maneira que o enxergo como uma bela incursão sobre a adolescência e seus desafios, diante das situações abruptas da vida. Destaque-se também a atuação da excelente Charlotte Gainsbourg (musa de Von Trier), em início de carreira, captando em sua linguagem corporal o medo/atração pelo "proibido" e pelas consequências dessa relação. Franco e coerente com o que se propõe, "O jardim de cimento" é um filme complexo, mas entusiasticamente reflexivo e melancólico.
Pelos Caminhos do Inferno
3.9 79Um estudo de personagem profundo e nenhum pouco auspicioso quanto à humanidade em seu estado puro. Assistindo ao filme e lendo o livro "Sobressalto" , de Kenneth Cook, pouco tempo depois, lembrei-me de "O cortiço", de Aluísio Azevedo pelo grau de degradação humana e pela animalização das personagens (característica comum do Naturalismo). Gary Bond tem a performance de sua vida como o professor almofadinha delicado e passivo no início do filme, perfeitamente civilizado, uma vez que sua condição social lhe confere esse status (ainda que seja insatisfeito com a mesma). Somente quando tal estabilidade é posta em xeque (ao perder todo o dinheiro num jogo) e se vir às custas da "boa vontade" dos habitantes da cidadela em que faz conexão para Sidney (onde vive sua namorada), é que podemos ver o que restará deste homem, que será brutalmente influenciado pelo meio (não se exclua o fato que mesmo sob influência, John se diverte diante das atrocidades que presencia e pratica, a todo momento exercendo o livre arbítrio). Totalmente impotente, ele tem que se adaptar aos costumes locais, onde recusar um copo de cerveja é tão vil quanto qualquer outro crime, matar animais indefesos é tão natural quanto andar na rua, e desrespeitar mulheres é algo comum e plenamente rotineiro (vide Janette Hynes, ofendida pelos valentões amigos de seu pai, em sua própria casa, e sob os olhares totalmente apáticos do próprio pai).
Ao final da jornada de insanidade e de frustração por não conseguir abandonar este inferno na Terra, só resta uma tentativa (frustrada) de suicídio. Após os cuidados médicos, ele consegue assistência para voltar para casa e para seu trabalho, mas consciente de tudo que viveu e de tudo a que se submeteu, reconhecendo que aquelas férias foram "as melhores" (?), talvez pelo aprendizado dos erros que nunca cometerá novamente ou porque no fim das contas acabou se divertindo, conhecendo todos os limites do seu próprio eu.
O Homem Cobra
2.7 124Já havia visto há muito tempo no extinto "cinema em casa", mas não tinha uma lembrança vívida o suficiente para avaliá-lo de forma justa. Revendo-o, saboreei-o em toda a nostalgia que me desperta, e me diverti muito com a originalidade (rs) da estória, apesar dos furos no roteiro. "O Homem Cobra" é uma experiência lisérgica e um passatempo muito válido. Pelo efeito que tem em mim, sou obrigado a favoritá-lo!
Submundo
3.2 23Vinte anos depois daquele que é tido como seu filme mais representativo, "Re-Animator" (1985), Stuart Gordon dirige este complexo drama existencial, a respeito de um indivíduo que se cansa da vida que leva, e resolve abandonar tudo depois de consultar uma cigana. Aqui não há um momento sequer de uma veia cômica, exceto pela ponta de Jeffrey Combs (grande ator colaborador de Gordon), diferente do que venho vendo do diretor. Pra mim, soam assustadoras todas as situações a que o protagonista é submetido.
Em especial, fiquei horrorizado com o assassinato da garçonete (em parte por ele ser meio abrupto e inesperado). Senti ecos de um "Psicopata americano" (2000), porém não vejo de maneira tão clara as motivações de Edmond para a atrocidade que comete contra a moça. Talvez numa revisão entenda melhor a jornada de autodescoberta do personagem principal...
A Hora dos Mortos-Vivos
3.8 354O sci-fi mais divertido que já vi! "Re-Animator" cumpre perfeitamente o que promete, entregando uma narrativa bizarra, repleta de momentos que geram estranhamento pela sua natureza imoral e surreal, despertando horror e humor simultâneos. Excelente estréia de Stuart Gordon na direção!
Sob o Domínio do Medo
3.8 268Sempre penso nesse filme como um exemplo perfeito de transformação de personagem.
Ninguém melhor que Dustin Hoffman para passar de um cara tranquilo e calmo para um ensandecido e vingador sujeito para defender sua esposa e sua casa, depois de todos os abusos inomináveis que sofreram.
O Dono da Noite
3.5 33 Assista AgoraComo disseram mais abaixo, lembra muito "Taxi Driver", seja pelo retrato da decadência urbana (e da subsequente criminalidade), seja pela narração "em off" dos personagens principais, ou mesmo pela busca de redenção destes.
Creio, contudo, que em "Taxi Driver", Travis buscava uma redenção social, enquanto LeTour busca algo mais pessoal, depois do que aconteceu à Marianne. Fico pensando que são poucos os filmes que trazem um final poético e sublime (que nos eleva) como o do filme de Schrader: um gesto tão nobre e simples (uma cena sem cortes até subirem os créditos) que fica em nossa memória. Apesar de considerar "Taxi" superior (ainda que com seu final inverossímil), este "Light Sleeper" é meu favorito se tivesse que optar entre um dos dois.
Proposta Indecente
3.3 421 Assista AgoraLamento muito por esse filme. A trilha de John Barry é, na minha opinião, a mais linda de sua carreira. Atores com ótimos desempenhos numa premissa excelente. Mas, infelizmente, o segundo ato repleto de irregularidades quase "mata" o filme. "Mania" conhecida de Adrian Lyne por querer sempre "agradar" ao grande público
e romantizar os finais.
Sorte Cega
4.1 62 Assista AgoraÉ um ótimo filme, de fato. Apenas não me encantou tanto quanto os demais filmes do diretor.
É interessante que na terceira possibilidade da vida de Witek, depois de não conseguir pegar o trem, e após a escolha de uma vida apartidária (já que não acredito no termo apolítico), seu avião explode. Kieslowski nos mostra então que num universo de possibilidades e de escolhas, estamos, ainda assim, à mercê de nossa existência e do acaso (um dos títulos do filme, inclusive).
Coração Valente
4.1 1,3K Assista AgoraNum pôster de Coração Valente, vem um belíssimo e apropriado slogan: "sua paixão cativou uma mulher; sua coragem inspirou um país; seu coração desafiou um rei". O filme que transformou minha vida.
O Franco Atirador
4.0 356 Assista Agora“O Franco Atirador” é um filme de grande impacto emocional. Isso se deve às suas belíssimas atuações, um roteiro bastante coeso, uma excelente direção de Michael Cimino, somado à belíssima canção “Cavatina”, de John Williams. O filme acompanha a vida de três jovens amigos - Michael (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken) e Steven (John Savage) - que trabalham numa siderúrgica e são convocados para a guerra do Vietnã. Lá, serão submetidos às mais cruéis e tensas torturas, embarcando numa verdadeira “viagem ao fundo do inferno”, como sugere o título do filme em francês.
Os amigos são obrigados a jogar roleta russa entre si, e são nessas cenas onde estão as maiores emoções. Um Robert De Niro inspirado (como sempre) nos entrega uma atuação fortíssima (segundo uma entrevista do próprio De Niro, sua melhor atuação), sempre encorajando os companheiros a obedecerem os vietcongues e a contarem com a sorte: “Três balas, eu quero três balas!”, diz Michael numa cena em que joga com Nick, quando planeja uma fuga. Eu poderia citar várias cenas especiais, mas o filme tem tantas, que fica difícil escolher uma aqui e outra ali. A cena em que Michael vai caçar os cervos e não consegue matar (após voltar do Vietnã) é uma das mais significativas do filme, pois, sem que se precise de nenhuma palavra dita, temos o mesmo sentimento de Michael naquele momento. Mas a cena em que Michael contempla a foto de Linda (Meryl Streep)- amada de seu melhor amigo Nick, que permaneceu no Vietnã - ao som de Cavatina é uma das minhas preferidas. Posteriormente, Michael e Linda viverão um romance. Quem poderia julgar essas duas almas tão maltratadas pela guerra? O filme segue ao longo de suas três horas - que de nenhuma forma chegam a ser maçantes, exatamente para nos mostrar aquelas pessoas: o que fazem,como vivem, como se divertem -, culminando com o jogo mortal entre Michael e Nick (que permanecera no Vietnã e entra numa espécie de colapso nervoso).