Personagens viajantes são comuns nos filmes de Jim Jarmusch. Como se testemunhássemos uma fase transitória deles, ora com fim prognosticado, ora imprevisível - em Ghost Dog, por exemplo, essa transição óbvia da viagem assume outras dimensões; é um filme sobre transgressão, que olha para o passado. Mystery Train tem o simbolismo óbvio do trem, e segue três histórias distintas. Jarmusch faz questão de construir caminho para os três juntarem os trilhos. A casualidade do encontro, por sua vez inevitável (em Stranger than Paradise isso fica mais evidente, com a figura de Eva), o que nos remete as ocasiões indesejadas, e todos parecem seguir caminhos que não querem ir: o hotel vagabundo diz muito sobre isso. Aleatoriedades submetem a todos que se dispõem, e pra Jarmusch essa disposição é justamente a ação de viajar. O ser humano se torna mais frágil, mais suscetível a cair no ridículo. Depois de ouvir uma história sobre o fantasma de Elvis (experiência metafísica que se ouve da boca de um estranho), a moça italiana se vê totalmente exposta, sendo obrigada a seguir o mesmo caminho do casal de japoneses. Os trilhos construídos por Jarmusch sempre há imperfeições - em Dead Man a vida de um homem comum vira de cabeça pra baixo por motivos banais. O ridículo chega ao ápice com os três amigos bêbados discutindo. A falta de coerção é o principal motivador dos personagens. Mystery Train é um filme sobre transição. Transição de personagens deslocados geograficamente, onde até mesmo quem nasceu nos EUA pode perder o trem e ficar a mercê de seu próprio espaço.
Um trecho do filme diz muito mais que qualquer coisa que eu possa escrever (falta-me culhões pra isso).
- "Sou livre, sou apenas obediente àquilo que me beneficia. Ao que dá lucro, de preferência um grande lucro. A vida é como uma batalha. Uma batalha onde palavras não são necessárias. Notas bancárias bastam. Se pagar às pessoas, você não terá obrigações com ela. É ainda melhor se você fizer eles trabalharem de graça. Não são todos que pensam assim. Você percebe que pode fazer o que quiser e ainda ser respeitado. É uma questão de força e audácia.
- Tome de volta! Não preciso de dinheiro, mas de um amigo.
- Sim, um amigo...
- Um amigo que me diga como fugir. Eu sempre tive vontade de fugir.
- Fugir?
- Sim. Um amigo que partilhe minha dor e prazeres.
- Eu partilho sua dor... seus desejos. Mas espero ter mais prazeres que tristezas."
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Fuga de Los Angeles
3.0 178 Assista AgoraPense num filme caralhudo.
Trem Mistério
4.0 51 Assista AgoraPersonagens viajantes são comuns nos filmes de Jim Jarmusch. Como se testemunhássemos uma fase transitória deles, ora com fim prognosticado, ora imprevisível - em Ghost Dog, por exemplo, essa transição óbvia da viagem assume outras dimensões; é um filme sobre transgressão, que olha para o passado. Mystery Train tem o simbolismo óbvio do trem, e segue três histórias distintas. Jarmusch faz questão de construir caminho para os três juntarem os trilhos. A casualidade do encontro, por sua vez inevitável (em Stranger than Paradise isso fica mais evidente, com a figura de Eva), o que nos remete as ocasiões indesejadas, e todos parecem seguir caminhos que não querem ir: o hotel vagabundo diz muito sobre isso. Aleatoriedades submetem a todos que se dispõem, e pra Jarmusch essa disposição é justamente a ação de viajar.
O ser humano se torna mais frágil, mais suscetível a cair no ridículo. Depois de ouvir uma história sobre o fantasma de Elvis (experiência metafísica que se ouve da boca de um estranho), a moça italiana se vê totalmente exposta, sendo obrigada a seguir o mesmo caminho do casal de japoneses. Os trilhos construídos por Jarmusch sempre há imperfeições - em Dead Man a vida de um homem comum vira de cabeça pra baixo por motivos banais. O ridículo chega ao ápice com os três amigos bêbados discutindo. A falta de coerção é o principal motivador dos personagens.
Mystery Train é um filme sobre transição. Transição de personagens deslocados geograficamente, onde até mesmo quem nasceu nos EUA pode perder o trem e ficar a mercê de seu próprio espaço.
A Grande Testemunha
4.0 94 Assista AgoraUm trecho do filme diz muito mais que qualquer coisa que eu possa escrever (falta-me culhões pra isso).
- "Sou livre, sou apenas obediente àquilo que me beneficia. Ao que dá lucro, de preferência um grande lucro. A vida é como uma batalha. Uma batalha onde palavras não são necessárias. Notas bancárias bastam. Se pagar às pessoas, você não terá obrigações com ela. É ainda melhor se você fizer eles trabalharem de graça. Não são todos que pensam assim. Você percebe que pode fazer o que quiser e ainda ser respeitado. É uma questão de força e audácia.
- Tome de volta! Não preciso de dinheiro, mas de um amigo.
- Sim, um amigo...
- Um amigo que me diga como fugir. Eu sempre tive vontade de fugir.
- Fugir?
- Sim. Um amigo que partilhe minha dor e prazeres.
- Eu partilho sua dor... seus desejos. Mas espero ter mais prazeres que tristezas."