A frase "tal filme não é para todos" me irrita profundamente. Indica pretensão e superioridade de quem a diz. E, nesse caso, tivemos a necessidade do próprio realizador de afirmar isso indiretamente. Mãe! tem metáforas até bem claras (e interessantes), que vão amadurecendo no decorrer do filme. Mas não sabe a hora de parar de ostentar a genialidade que acha ter. O filme é um nervosismo constante que passa a cair progressivamente através do absurdismo visto em cena. Em dado momento, pelo menos pra mim, não dava mais para levar a sério. Reforçando: o filme é inteligente, tem um roteiro instigante e uma direção visceral. Porém quase explode, em dado ponto, por conta de seu pretensioso realizador.
Roteiro engenhoso, atuações no tom certo e um twist fantástico no meio da história, que sustenta até o fim. A realidade aumentada, ao meu ver, diz respeito aos pais que colocam os filhos em um pedestal, os tratando como um tesouro, como se fossem indefesos. A metáfora nesse sentido é precisa.
Mesmo tendo total consciência de que o filme não quer se levar totalmente a sério com as situações que ocorrem na trama, em alguns momentos o absurdo quase me tirou da história. Estava pronto pra dar uma nota bem intermediária, mas as soluções encontradas para o final são brilhantes. Surpreso e feliz por ter visto Better Watch Out.
Se tem uma coisa que Dunkirk faz muito bem é te jogar para dentro da história. Nos melhores momentos, o filme usa do explendor visual para criar sequências grandiosas e minimalistas ao mesmo tempo, sem o exagero de tragédias cinematográficas como Pearl Harbor. O filme derrapa na questão da aproximação e do envolvimento do público com os seus personagens. O que poderia ser assumido como linguagem (a guerra sem uma 'cara') caso o arco do Mark Rylance não forçasse tanto para o sentimentalismo. Outro problema está em algumas transições entre as linhas temporais, propositalmente e desnecessariamente confusas por pretensão do diretor, além da tensão forçada em algumas cenas.
Que diferença faria se alguém saísse? Nenhuma. Era apenas para o personagem do Harry Styles poder falar o que queria e gerar conflito.
O filme, no entanto, jamais desaba, muito pelo contrário. O final é redentor e a resolução dos arcos dá brilho nos olhos. Em termos de atuação, destaque principalmente para o Rylance. Nolan demonstra aqui muito amadurecimento e evolução por trás das câmeras em seu trabalho mais visceral. Que tem problemas, mas não pode ser perdido.
Honesto e duro. Me impressiona o tom coeso da história, que se mantém amarga até mostrar suas verdadeiras caras na parte final. Mesmo nos momentos mais tranquilos, o incômodo é onipresente e essa é uma sensação perfeitamente passada pela ótima Dee Rees. Destaque também para o elenco recheado e com momentos reservados para que cada um brilhe. Meu destaque fica para o visceral Rob Morgan.
Os problemas que tive com a produção dizem respeito ao desequilíbrio do roteiro. Em determinado momento, acompanhamos um personagem, que é abandonado para a substituição por novos protagonistas. Assim, arcos ficam pelo caminho. E outros surgem sem muito nexo.
Como a traição entre Laura e Jamie. Mal desenvolvida e sem acrescentar em nada a trama em termos de relevância.
Por sorte, o filme nunca se perde, e muito pela sua verdade. Tudo o que vimos em tela existiu em algum momento, em algum lugar, e ainda acontece, mesmo que em dimensões menores. Vergonhoso.
Seria extremamente raso dizer que Michael Stone não consegue diferenciar as vozes que escuta pelo fato de estar em depressão. Aos poucos, algumas camadas da personalidade do protagonista vão sendo expostas para o público, em uma analogia muito bem conduzida sobre o que se tornou o indivíduo contemporâneo: apático, egoísta, superficial e egocêntrico.
Mesmo sendo representado por um boneco, o protagonista é desenvolvido de maneira muito humana, através de momentos triviais que reforçam seu desinteresse em relação ao mundo. Sua crise existencial é motivada por um constante delírio narcisista, até o ponto que se torna alguém esquecível, que passa pela vida das pessoas sem deixar nenhum tipo de marca ou legado. Refém de carinho e atenção, mas sem nada a oferecer em troca, sem nenhum contraponto.
Em meio a tudo isso, surge Lisa. Não há um recurso narrativo explicativo ou uma lógica coesa nos pensamentos de Michael que traga respostas ao público, mas, por algum motivo, a sua voz soa diferenciada. E a composição da personagem é riquíssima: traz consigo muita insegurança, evidente desconforto para externalizar seus sentimentos e um deslumbramento por Michael, já que ela havia ido até o hotel justamente para ver sua palestra.
Há, inevitavelmente, um envolvimento, que Michael investiu ao máximo com medo de perder aquele momento único. Entre os dois, diálogos belíssimos, quase sempre conduzidos pelas confusas palavras que saíam pela boca de Lisa, visivelmente nervosa e sem entender o porquê de ter sido “escolhida”, visto que se considera uma sem atrativos, estranha, incomum. Uma anomalia.
Mas, após momentos muito singelos e emocionalmente nostálgicos para Michael, o protagonista passa a ter consigo um anseio de posse, retornando para todos aqueles sentimentos expostos por aqui.
A cada perturbação que Lisa o causa (todas banais, mas irritantes na cabeça de Michael), sua voz vai sumindo em meio a ruídos que remetem a entonação dos sons que ele sempre escuta.
A vida lhe deu uma oportunidade, mas sua dominante egolatria não deixou com que aquela noite não passasse apenas de mais um momento como qualquer outro, ao ponto de ter um sonho em que tudo novamente girava a sua volta.
Incômodo, inteligente, real. Anomalisa é um marco.
Talvez o sentido da vida não seja viver sonhando. Esse pensamento, nos ocupando constantemente, pode tornar o "agora" chato e sem cor. Paterson não tem grandes ambições, se assusta com coisas triviais que fujam de sua regrada rotina (violão, telefone, "aviso" sobre o cachorro) e, acima de tudo, vê encantamento no que, para muitos, representa o vazio.
Aqui, a "felicidade de ser mais um" é representada de forma sincera e singular. Nunca afirmada, apenas vista através de uma pessoa que não está disposta a ser afetada por estresses do dia a dia. O real sentido da vida pode estar no simples acordar ao lado da pessoa amada.
Nada tem a capacidade maior de nos mudar do que outro alguém. Aqui, entendemos, a partir de uma trajetória riquíssima de provação e conhecimento, como é muito mais fácil ser uma pessoa ruim do que uma pessoa boa.
Ser egoísta, sacanear as pessoas que depositam fé em você. Não requer nenhum esforço e te mantem na zona de conforto. Através de uma viagem gigantesca, em que a personagem Dora vê Josué horas como um "fardo" e horas como um filho, descobrimos o quanto uma moral dúbia nesse tipo de caso ajuda no enriquecimento da personalidade de alguém.
Aliás, ninguém é 100% bonzinho. Não passa de uma máscara. E Walter Salles compreende isso. Expondo uma protagonista que não se relaciona bem, não está disposta a desafios e vivia confortável dentro de sua solidão. Acima de tudo, esse é o filme mais humano que já assisti.
Vivemos pautados pelo medo. Hoje, meses após ter assistido Brokeback Mountain pela última vez, me pego pensando no filme e no seu brilhante paralelo com nosso cotidiano. Encontrar nossa verdadeira essência, fazer o que realmente temos vontade, sem ter o anseio de ser olhado com desaprovação. Por que é tão difícil? Se, por um dia só, pudéssemos nos ver de fora, isso seria torturante.
Aqui, dois homens atormentados pelo "proibido", principalmente o "duro" Ennis Del Mar, que reluta durante todo o filme e não cita sobre seu relacionamento com Jack Twist para ninguém, nem mesmo no momento da morte de seu parceiro de montanha. Um homem angustiado, que jamais viveu ou se entregou ao que, de fato, lhe agradava. A cena próxima do final, em que ele cheira a camisa azul de Jack tentando encontrar um resquício de seu amado ali...Fantástica e dolorida.
Obviamente, esse afogo em abraçar o desejo tem muita relação com o contexto histórico muito bem empregado e inserido de forma sutil. Como na própria morte de Jack, mal explicada, e que provavelmente ocorreu como a imaginação de Ennis sugeriu. Se assumir como gay é uma luta, que já teve seus piores dias. Hoje, a intolerância ainda é cruel, mas por sorte é ofuscada muitas vezes por movimentos que incentivam essa libertação. temos que seguir caminhando para frente.
Há, também, outro ponto que vejo como interessante. Ennis e Jack jamais conseguiram se assumir, por temer as consequências. Porém, e se eles tivessem feito isso? Esse brilho, esse fogo e essa sensação constante de dependência continuaria? Vale pensar. Vivemos em busca daquilo que está distante.
Me falem sobre o Kevin!!! O desenvolvimento de personagem da mãe, do pai, da irmã, tudo funciona. Mas ficamos esperamos a todo momento as informações a respeito do personagem que dá título do longa. Da forma que foi feito, ele apenas ficou parecendo uma máquina de ódio e raiva sem nenhuma motivação aparente. Gente, não é assim.
Direção instigante e casting perfeito. O olhar psicopata do Ezra Miller é de tirar o fôlego e a serenidade da Tilda Swinton chega a ser tão assustadora quanto. O roteiro, entretanto, tem problemas consideráveis além do citado acima:
Que tipo de mãe deixaria a filha sob os cuidados do Kevin sabendo de sua psicopatia? E outra, ninguém ao menos desconfiou daquelas coisas que chegaram por encomenda? Ah não...
Eu realmente queria dar uma nota alta, pois acho que o Shyamalan é um dos diretores mais eficientes de sua safra no sentido de colocar tensão em tela. Mas, como roteirista, vai ficando cada vez mais falho.
Fragmentado cria diversas situações forjadas para causar suspense. Como na primeira cena, com aquela lentidão na ação e na fuga mais do que óbvia (ou que deveria ser) da personagem, enquanto o protagonista simplesmente fingia que não tinha a visto até o barulho feito pelo carro.
Seria interessante, também, abordar um número menor de personalidades, para que houvesse um trabalho mais decente de desenvolvimento. Além disso, algumas dessas facetas soam como caricatura, como alívio cômico. E estamos falando de um suspense.
E, ainda no campo de forjar conflitos e gerar um plot twist incoerente, o diretor demonstrou que provavelmente se tornou uma paródia de si mesmo, jogando vários flashbacks em tela para desenvolver uma das personagens, tocando em uma temática delicadíssima de forma superficial, e passando a sensação de que aquilo pertencia a outro filme.
Muito melhor do que eu imaginava. Filme completo, que toca em vários temas sem parecer forçado ou artificial, contando, também, com um elenco afiadíssimo. A questão do universo dos "quase famosos", parafraseando o título mais do que adequado, é sensacional. Mostra, dessa forma, pessoas com suficiente ego para pisar no "mundo real", mas que também tem seu momentos de refúgio, dando um passo para trás e vivendo como mais um.
No meio de tudo isso, um garoto de 15 anos, colocado em situações absurdas e fazendo aquilo que pode, mesmo estando numa fase de descobrimento, de desejo sexual a flor da pele e de dúvidas. Dúvidas, essas, que não entram em seu âmbito profissional. Ele quer ser jornalista na parte musical, mesmo em tempos difíceis tanto para o rock quanto para sua escolha de carreira.
Dentro disso, o filme também mostra como é frágil/tênue a linha entre o jornalismo e a autenticidade. É muito difícil fazer algo sincero ou produzir um conteúdo verdadeiro quando o microfone ou as câmeras estão ligadas. Naquele momento, mesmo que a verdade seja dita, ela virá carregada de interpretação. E o jornalista não pode fazer nada além de comprar aquela ideia.
Ps: sensacional, marcante e emocionante a cena de Tiny Dancer.
Um filme que se torna ainda mais triste ao olharmos para nosso próprio umbigo. Pois, caso tivéssemos acesso a tamanho avanço científico e tecnológico, será que olharíamos com tanta reprovação a atitude dos "humanos"? (entre aspas, mesmo). Somos cobertos de egoísmo e, se esse filme nos assusta, é porque ainda não caminhamos para chegar até lá. Mas, quem sabe um dia, não chegaremos? E acharemos normal?
Muitos reclamam da relação Tommy e Ruth, da falta de desenvolvimento do casal e da falta de empatia de um pelo outro. Entretanto, vejo como mais um ponto que busca humanizar os clones. No geral, sabemos que temos pouco tempo, que nossa vida é uma faísca. Porém, ainda assim, demoramos meses, anos, décadas, e muitas vezes morremos sem tomar a decisão correta, sem deixar de carregar um "fardo", um relacionamento destrutivo e sem cor. No caso, é até fácil se identificar, pois não é difícil citar ou reconhecer exemplos próximos de nós que se aproximem desse caso em específico.
Vejo tom de brilhantismo em toda a produção. Se eles não se rebelaram, além de serem controlados, é porque foram "educados", guiados a seguirem aquele caminho, e estavam relativamente sob controle. Tecnicamente falando, uma fotografia deslumbrante, e em termos de atuação, um grande resultado. Carey Mulligan é incrível, cresce a cada papel e está se tornando uma das melhores atrizes da atualidade. Andrew Garfield segura muito bem o seu personagem e Keira Knightley, mesmo que a mais "comum", não compromete.
O filme não é perfeito, tendo algumas inconsistências. Que são, porém, engolidas por uma grande mensagem, um esplendor visual e ótimas atuações.
Filme que explora perfeitamente, e acima de tudo, a natureza humana. Sempre seremos egoístas, e, em nossa realidade, todo altruísmo acaba soando como falso, com segundas intenções. Apostaria que a grande parte do público pensou: mas por que? Por que esse homem está sendo tão solidário? É praticamente um comportamento que vai contra o que presenciamos em nossa vivência. É natural que as pessoas atropelem umas as outras.
E, de maneira inteligentíssima, vemos que esse altruísmo realmente está carregado por outras questões. Será realmente impossível ser generoso sem, lá no fundo, estar carregado de egoísmo, de culpa?
A trama tem alguns problemas, principalmente pela falta de desenvolvimento no segundo ato. Entretanto, essas falhas ficam quase invisíveis quando estamos observando diálogos afiadíssimos, grandes atuações e personagens muito bem trabalhados. A direção de Paul Thomas Anderson dá um presságio para Boogie Nights, e é fácil perceber na escolha da paleta de cores, ambientação e tomadas longas. Estreia graciosa.
Ps: Existe ator mais subestimado que o John C. Reilly? Brilhante!
O truque está aí: você, como espectador, dificilmente se vê num debate moral sobre as ações dos protagonistas. É como se fosse puro entretenimento, até que venha o sadismo. Ninguém pediu para Henry Hill ser um gangster. Ele simplesmente amou aquilo, desde sempre, colocando a frente de sua própria família. Ter poder, controlar tudo e todos. É o máximo para aquele garoto, que cresce assim, aprendendo com os "melhores" (ou "piores", dependendo da percepção).
O filme termina e atesta sua qualidade ao gerar uma reação no público. Afinal, vale a pena viver como um zé ninguém?
Existem poucas coisas mais difíceis do que confrontar os próprios demônios. A jornada, mostrada aqui de maneira debochada e metafórica, é longa. Caminhamos por anos, décadas, sem um real propósito, esperando tal momento, tal encontro. É muito provável que a morte venha e a real sensação de liberdade jamais seja sentida. Por que é tão difícil confrontar a verdade, a dor que reside em nós?
Travis conseguiu, de maneira indireta, atrapalhada. Não poderia ficar novamente com a pessoa que amava, pois tudo o que aconteceu antes daquele reencontro já havia deixado muitas feridas abertas. Uma tentativa de reconciliação seria, provavelmente, revisitar um passado tão dolorido, vendo com que ele se repetisse.
Ainda assim, deu para sua amada uma chance de reencontrar a felicidade, de um jeito que não a machucaria. E seguiu. Novamente. Para seu caminho sem propósito.
Para ser bom, um filme não precisa ligar todas as pontas. Para ser bom, um filme não precisa apresentar um desfecho satisfatório. Para ser bom, um filme não precisa de momentos exatamente recompensantes, positivos. E a prova disso é Moonlight, uma preciosidade cinematográfica.
No melhor estilo Boyhood, Moonlight segue o crescimento de Chiron. A história transita entre três momentos diferentes da sua vida: infância, adolescência e fase adulta. E aqui temos, provavelmente, um dos melhores exemplos de como o impacto de um crescimento conturbado pode influenciar na formação de uma pessoa “distante”, amarga, e aparentemente vazia de sentimentos. Aparentemente.
Em seu segundo filme, Barry Jenkins alcança um grau de maturidade de um veterano. A história é construída através de sutilezas, fato que deixa momentos mais “pesados” terem um impacto ainda maior. Nem tudo aqui precisa ser dito. O diretor confia na habilidade e na inteligência de seu expectador, nunca o subestimando, e acreditando que ele enxergará além do óbvio.
A construção do personagem de Chiron é feito através de suas conexões humanas, dos diálogos, dos olhares e dos silêncios. Silêncios, esses, que parecem gritar para o público. São esses elementos que, de forma muito bem pincelada dentro da trama, moldam o caráter do protagonista. Toda a carga emocional que carrega o personagem na sua primeira fase são perfeitamente refletidas no adulto em que ele se tornou. E não é preciso ser dito nada. A expressão diz tudo.
O filme também é extremamente realista em seu debate social. Sexualidade/identidade, família e a desconstrução da masculinidade. Além de tudo isso, também está a questão das drogas, que é inserida com muita maturidade em um momento específico na transição do primeiro para o segundo ato, que provavelmente despedaçará o coração do público.
E essas questões são colocadas no longa sem que precisem ser expostas, de fato. A câmera está a todo momento focada no protagonismo de Chiron, e o desenvolvimento das críticas sociais são feitas através dos olhos do personagem, como se ele fosse a consciência, o público inserido ali dentro.
O elenco é simplesmente espetacular. Todos os personagens encontram equilíbrio narrativo e ajudam a empurrar a história com ótimas (e verdadeiras atuações). Os três “Chiron’s” funcionam muito bem: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, respectivamente. Um complementa bem o outro. Mas os destaques, em termos interpretativos, são os coadjuvantes. Principalmente Mahershala Ali e Naomie Harris.
O primeiro tem um espírito acolhedor, paterno. Entretanto, o personagem é claramente imperfeito, o que é mostrado em uma cena marcante no longa. Ele consta pouco, mas aproveita cada segundo na tela. Indicação e provável vitória no Oscar virão com merecimento. Já Naomie Harris consegue dar muita profundidade para sua atuação. Ela aparece nos três momentos da história em três estágios completamente diferentes. Uma mãe protetora, porém irresponsável, uma viciada em crack completamente devastada e uma mulher mais velha que amarga os erros de seu turbulento passado. Melhor atuação do filme e certamente a melhor atriz coadjuvante da temporada de premiações.
Moonlight é amargo, sutil, profundo e aborda várias camadas. Muito bem atuado, dirigido e escrito, além de contar com um debate social forte e necessário. Melhor filme da temporada de premiações.
A morte, em si, é utilizada em demasia no cinema. De certa forma, todas as pessoas acabam se identificando. Por já terem enfrentado a dor de uma perda, ou, talvez, pelo simples fato de ter presenciado o sofrimento de algum amigo, de alguma pessoa próxima. Dito isso, é relativamente fácil emocionar o público abordando esse tipo de material em uma produção. Mas dificilmente você fará ele pensar em tudo o que a morte aborda.
Arrogante, temperamental, frio e insensível, o personagem de Casey Affleck desperta a antipatia do público durante o primeiro ato da história. Principalmente pelo fato de, aparentemente, se sentir indiferente perante a morte de uma pessoa tão importante. Com o desenvolvimento da história, o filme vai te oferecendo detalhes sobre o passado de Lee. Que te faz, de certa forma, entendê-lo.
É mostrado, em essência, que muitas pessoas não escolhem viver com tristeza/distância perante o mundo. Mas sim que a tristeza é, simplesmente, a vida delas. Diante de determinadas situações, não existe reação. A sequência de fatos cria dessensibilização, uma forma de escudo, que as impede de sentir qualquer tipo de sentimento dali em frente.
Em meio a tudo isso, ele ainda terá que lidar com o sobrinho Patrick (Lucas Hedges), que agora está sob sua guarda. Nesse processo fica claro que, mesmo com a vontade de desenvolver um instinto paterno, ele não reside mais ali. E não irá mais residir.
Patrick, aliás, que é um estudo de personagem fantástico. De certa forma, ele lida de forma tranquila com a passagem do pai, e segue vivendo sua vida com uma aparente indiferença. Ele é jovem, tem namorada(s) e preocupações extremamente importantes, como seu WhatsApp, por exemplo.
Sua atuação serve como o retrato de uma geração: engolida pela rotina, e que parece ter necessidade incessante de continuar vivendo com todos os seus compromissos, futilidades. Como se não houvesse mais tempo para sentir a perda de alguém. E Lonergan mostra, com maestria, que saudade não deixará de existir. “A ficha vai cair” em momentos mundanos, pequenos, em que aquela pessoa estava com você. Outra coisa muito bem mostrada pelo filme é a dor de cabeça que um velório causa. Advogados, funerárias. Não há descanso, nem tempo para pensar. A dor do momento parece ser ignorada.
Casey Affleck, favorito ao Oscar de melhor ator, deve ganhar o prêmio. E com muita justiça. Nenhum dos indicados chegou perto de alcançar a profundidade que ele alcançou nesse filme. Ele parece tratar tudo com frieza, mas está a ponto de explodir a todo momento, como acontece em dois momentos da história. Ele é a alma e o coração do filme. Destaque para uma cena com Michelle Williams, também indicada. Os personagens claramente ainda se amam. Entretanto, o reencontro é marcado por frases desajeitadas, pelo desespero. Fica claríssimo o sentimento que reside entre ambos, mas, também, é entendido que uma possível reconciliação não passaria de uma nova tragédia na vida de ambos.
O roteiro, escrito também por Lonergan, é ácido, com momentos que variam entre humor negro e melancolia. Ambos acabam se equilibrando, e o filme não fica cansativo em momento algum. A fotografia contrasta os momentos mais leves, de alegria, presentes nos flashbacks, com a frieza da passagem para o presente, que é amargo, sem cor. É o trabalho de direção mais cuidadoso entre todos os indicados.
Mais do que um filme sobre luto ou perda, Manchester à Beira Mar discute rotina, relações humanas e dor. Muita dor, por uma série de razões, compreendidas ou não. Trabalho impecável que merece muito mais que algumas indicações ao Oscar. Mas, sim, uma marca no cinema contemporâneo.
Falta suavidade. O filme quer, a todo momento, jogar momentos inspiradores que têm zero naturalidade. Não há impacto dramático. Abordagem muito otimista de um problema sério. Passo
Uma pena cair para o ilógico perto do final. O filme, em sua maior parte, alcança a perfeição. É reflexível, emocionante e com boas doses de humor. Viggo Mortensen entrega a melhor atuação do ano (até o momento), cheio de melancolia e languidez, ao mesmo tempo que é orgulhoso, túrgido, necessitando passar aos seus filhos toda a confiança e conhecimento que reside em si. Filhos que, aliás, são uma graça, todos bem escalados e favorecidos pelo bom roteiro. Filme recomendadíssimo.
Surpreso. O filme não tem originalidade, mas é eficiente no que propõe. O elenco é carismático, a direção é competente e o roteiro funciona em sua maior parte. Mas o final...
depois da "lição" muito bem empregada pelo filme, temos um final acovardado, que faz o protagonista sair praticamente ileso de tudo o que aconteceu. Lamentável.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraA frase "tal filme não é para todos" me irrita profundamente. Indica pretensão e superioridade de quem a diz. E, nesse caso, tivemos a necessidade do próprio realizador de afirmar isso indiretamente. Mãe! tem metáforas até bem claras (e interessantes), que vão amadurecendo no decorrer do filme. Mas não sabe a hora de parar de ostentar a genialidade que acha ter. O filme é um nervosismo constante que passa a cair progressivamente através do absurdismo visto em cena. Em dado momento, pelo menos pra mim, não dava mais para levar a sério. Reforçando: o filme é inteligente, tem um roteiro instigante e uma direção visceral. Porém quase explode, em dado ponto, por conta de seu pretensioso realizador.
Perigo Próximo
3.4 485 Assista AgoraO filme é crível? Em sua maioria, não. Mas ele quer ser?
Roteiro engenhoso, atuações no tom certo e um twist fantástico no meio da história, que sustenta até o fim. A realidade aumentada, ao meu ver, diz respeito aos pais que colocam os filhos em um pedestal, os tratando como um tesouro, como se fossem indefesos. A metáfora nesse sentido é precisa.
Mesmo tendo total consciência de que o filme não quer se levar totalmente a sério com as situações que ocorrem na trama, em alguns momentos o absurdo quase me tirou da história. Estava pronto pra dar uma nota bem intermediária, mas as soluções encontradas para o final são brilhantes. Surpreso e feliz por ter visto Better Watch Out.
Lady Macbeth
3.5 158A atuação da Florence Pugh na cena em que é confrontada é deslumbrante, perfeita.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraSe tem uma coisa que Dunkirk faz muito bem é te jogar para dentro da história. Nos melhores momentos, o filme usa do explendor visual para criar sequências grandiosas e minimalistas ao mesmo tempo, sem o exagero de tragédias cinematográficas como Pearl Harbor. O filme derrapa na questão da aproximação e do envolvimento do público com os seus personagens. O que poderia ser assumido como linguagem (a guerra sem uma 'cara') caso o arco do Mark Rylance não forçasse tanto para o sentimentalismo. Outro problema está em algumas transições entre as linhas temporais, propositalmente e desnecessariamente confusas por pretensão do diretor, além da tensão forçada em algumas cenas.
Que diferença faria se alguém saísse? Nenhuma. Era apenas para o personagem do Harry Styles poder falar o que queria e gerar conflito.
O filme, no entanto, jamais desaba, muito pelo contrário. O final é redentor e a resolução dos arcos dá brilho nos olhos. Em termos de atuação, destaque principalmente para o Rylance. Nolan demonstra aqui muito amadurecimento e evolução por trás das câmeras em seu trabalho mais visceral. Que tem problemas, mas não pode ser perdido.
A Bela da Tarde
4.1 342 Assista AgoraAmo como o final faz você questionar absolutamente tudo que acabou de ver em tela.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraHonesto e duro. Me impressiona o tom coeso da história, que se mantém amarga até mostrar suas verdadeiras caras na parte final. Mesmo nos momentos mais tranquilos, o incômodo é onipresente e essa é uma sensação perfeitamente passada pela ótima Dee Rees. Destaque também para o elenco recheado e com momentos reservados para que cada um brilhe. Meu destaque fica para o visceral Rob Morgan.
Os problemas que tive com a produção dizem respeito ao desequilíbrio do roteiro. Em determinado momento, acompanhamos um personagem, que é abandonado para a substituição por novos protagonistas. Assim, arcos ficam pelo caminho. E outros surgem sem muito nexo.
Como a traição entre Laura e Jamie. Mal desenvolvida e sem acrescentar em nada a trama em termos de relevância.
Por sorte, o filme nunca se perde, e muito pela sua verdade. Tudo o que vimos em tela existiu em algum momento, em algum lugar, e ainda acontece, mesmo que em dimensões menores. Vergonhoso.
Anomalisa
3.8 497 Assista AgoraSeria extremamente raso dizer que Michael Stone não consegue diferenciar as vozes que escuta pelo fato de estar em depressão. Aos poucos, algumas camadas da personalidade do protagonista vão sendo expostas para o público, em uma analogia muito bem conduzida sobre o que se tornou o indivíduo contemporâneo: apático, egoísta, superficial e egocêntrico.
Mesmo sendo representado por um boneco, o protagonista é desenvolvido de maneira muito humana, através de momentos triviais que reforçam seu desinteresse em relação ao mundo. Sua crise existencial é motivada por um constante delírio narcisista, até o ponto que se torna alguém esquecível, que passa pela vida das pessoas sem deixar nenhum tipo de marca ou legado. Refém de carinho e atenção, mas sem nada a oferecer em troca, sem nenhum contraponto.
Em meio a tudo isso, surge Lisa. Não há um recurso narrativo explicativo ou uma lógica coesa nos pensamentos de Michael que traga respostas ao público, mas, por algum motivo, a sua voz soa diferenciada. E a composição da personagem é riquíssima: traz consigo muita insegurança, evidente desconforto para externalizar seus sentimentos e um deslumbramento por Michael, já que ela havia ido até o hotel justamente para ver sua palestra.
Há, inevitavelmente, um envolvimento, que Michael investiu ao máximo com medo de perder aquele momento único. Entre os dois, diálogos belíssimos, quase sempre conduzidos pelas confusas palavras que saíam pela boca de Lisa, visivelmente nervosa e sem entender o porquê de ter sido “escolhida”, visto que se considera uma sem atrativos, estranha, incomum. Uma anomalia.
Mas, após momentos muito singelos e emocionalmente nostálgicos para Michael, o protagonista passa a ter consigo um anseio de posse, retornando para todos aqueles sentimentos expostos por aqui.
A cada perturbação que Lisa o causa (todas banais, mas irritantes na cabeça de Michael), sua voz vai sumindo em meio a ruídos que remetem a entonação dos sons que ele sempre escuta.
A vida lhe deu uma oportunidade, mas sua dominante egolatria não deixou com que aquela noite não passasse apenas de mais um momento como qualquer outro, ao ponto de ter um sonho em que tudo novamente girava a sua volta.
Incômodo, inteligente, real. Anomalisa é um marco.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraTalvez o sentido da vida não seja viver sonhando. Esse pensamento, nos ocupando constantemente, pode tornar o "agora" chato e sem cor. Paterson não tem grandes ambições, se assusta com coisas triviais que fujam de sua regrada rotina (violão, telefone, "aviso" sobre o cachorro) e, acima de tudo, vê encantamento no que, para muitos, representa o vazio.
Aqui, a "felicidade de ser mais um" é representada de forma sincera e singular. Nunca afirmada, apenas vista através de uma pessoa que não está disposta a ser afetada por estresses do dia a dia. O real sentido da vida pode estar no simples acordar ao lado da pessoa amada.
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraNada tem a capacidade maior de nos mudar do que outro alguém. Aqui, entendemos, a partir de uma trajetória riquíssima de provação e conhecimento, como é muito mais fácil ser uma pessoa ruim do que uma pessoa boa.
Ser egoísta, sacanear as pessoas que depositam fé em você. Não requer nenhum esforço e te mantem na zona de conforto. Através de uma viagem gigantesca, em que a personagem Dora vê Josué horas como um "fardo" e horas como um filho, descobrimos o quanto uma moral dúbia nesse tipo de caso ajuda no enriquecimento da personalidade de alguém.
Aliás, ninguém é 100% bonzinho. Não passa de uma máscara. E Walter Salles compreende isso. Expondo uma protagonista que não se relaciona bem, não está disposta a desafios e vivia confortável dentro de sua solidão. Acima de tudo, esse é o filme mais humano que já assisti.
O Segredo de Brokeback Mountain
3.9 2,2K Assista AgoraVivemos pautados pelo medo. Hoje, meses após ter assistido Brokeback Mountain pela última vez, me pego pensando no filme e no seu brilhante paralelo com nosso cotidiano. Encontrar nossa verdadeira essência, fazer o que realmente temos vontade, sem ter o anseio de ser olhado com desaprovação. Por que é tão difícil? Se, por um dia só, pudéssemos nos ver de fora, isso seria torturante.
Aqui, dois homens atormentados pelo "proibido", principalmente o "duro" Ennis Del Mar, que reluta durante todo o filme e não cita sobre seu relacionamento com Jack Twist para ninguém, nem mesmo no momento da morte de seu parceiro de montanha. Um homem angustiado, que jamais viveu ou se entregou ao que, de fato, lhe agradava. A cena próxima do final, em que ele cheira a camisa azul de Jack tentando encontrar um resquício de seu amado ali...Fantástica e dolorida.
Obviamente, esse afogo em abraçar o desejo tem muita relação com o contexto histórico muito bem empregado e inserido de forma sutil. Como na própria morte de Jack, mal explicada, e que provavelmente ocorreu como a imaginação de Ennis sugeriu. Se assumir como gay é uma luta, que já teve seus piores dias. Hoje, a intolerância ainda é cruel, mas por sorte é ofuscada muitas vezes por movimentos que incentivam essa libertação. temos que seguir caminhando para frente.
Há, também, outro ponto que vejo como interessante. Ennis e Jack jamais conseguiram se assumir, por temer as consequências. Porém, e se eles tivessem feito isso? Esse brilho, esse fogo e essa sensação constante de dependência continuaria? Vale pensar. Vivemos em busca daquilo que está distante.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraMe falem sobre o Kevin!!! O desenvolvimento de personagem da mãe, do pai, da irmã, tudo funciona. Mas ficamos esperamos a todo momento as informações a respeito do personagem que dá título do longa. Da forma que foi feito, ele apenas ficou parecendo uma máquina de ódio e raiva sem nenhuma motivação aparente. Gente, não é assim.
Direção instigante e casting perfeito. O olhar psicopata do Ezra Miller é de tirar o fôlego e a serenidade da Tilda Swinton chega a ser tão assustadora quanto. O roteiro, entretanto, tem problemas consideráveis além do citado acima:
Que tipo de mãe deixaria a filha sob os cuidados do Kevin sabendo de sua psicopatia? E outra, ninguém ao menos desconfiou daquelas coisas que chegaram por encomenda? Ah não...
Temporário 12
4.3 590"É impossível pensar em qualquer coisa quando há sangue saindo de você"
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraEu realmente queria dar uma nota alta, pois acho que o Shyamalan é um dos diretores mais eficientes de sua safra no sentido de colocar tensão em tela. Mas, como roteirista, vai ficando cada vez mais falho.
Fragmentado cria diversas situações forjadas para causar suspense. Como na primeira cena, com aquela lentidão na ação e na fuga mais do que óbvia (ou que deveria ser) da personagem, enquanto o protagonista simplesmente fingia que não tinha a visto até o barulho feito pelo carro.
Seria interessante, também, abordar um número menor de personalidades, para que houvesse um trabalho mais decente de desenvolvimento. Além disso, algumas dessas facetas soam como caricatura, como alívio cômico. E estamos falando de um suspense.
E, ainda no campo de forjar conflitos e gerar um plot twist incoerente, o diretor demonstrou que provavelmente se tornou uma paródia de si mesmo, jogando vários flashbacks em tela para desenvolver uma das personagens, tocando em uma temática delicadíssima de forma superficial, e passando a sensação de que aquilo pertencia a outro filme.
Decepcionante. Define.
Quase Famosos
4.1 1,4K Assista AgoraMuito melhor do que eu imaginava. Filme completo, que toca em vários temas sem parecer forçado ou artificial, contando, também, com um elenco afiadíssimo. A questão do universo dos "quase famosos", parafraseando o título mais do que adequado, é sensacional. Mostra, dessa forma, pessoas com suficiente ego para pisar no "mundo real", mas que também tem seu momentos de refúgio, dando um passo para trás e vivendo como mais um.
No meio de tudo isso, um garoto de 15 anos, colocado em situações absurdas e fazendo aquilo que pode, mesmo estando numa fase de descobrimento, de desejo sexual a flor da pele e de dúvidas. Dúvidas, essas, que não entram em seu âmbito profissional. Ele quer ser jornalista na parte musical, mesmo em tempos difíceis tanto para o rock quanto para sua escolha de carreira.
Dentro disso, o filme também mostra como é frágil/tênue a linha entre o jornalismo e a autenticidade. É muito difícil fazer algo sincero ou produzir um conteúdo verdadeiro quando o microfone ou as câmeras estão ligadas. Naquele momento, mesmo que a verdade seja dita, ela virá carregada de interpretação. E o jornalista não pode fazer nada além de comprar aquela ideia.
Ps: sensacional, marcante e emocionante a cena de Tiny Dancer.
Não Me Abandone Jamais
3.8 2,1K Assista AgoraUm filme que se torna ainda mais triste ao olharmos para nosso próprio umbigo. Pois, caso tivéssemos acesso a tamanho avanço científico e tecnológico, será que olharíamos com tanta reprovação a atitude dos "humanos"? (entre aspas, mesmo). Somos cobertos de egoísmo e, se esse filme nos assusta, é porque ainda não caminhamos para chegar até lá. Mas, quem sabe um dia, não chegaremos? E acharemos normal?
Muitos reclamam da relação Tommy e Ruth, da falta de desenvolvimento do casal e da falta de empatia de um pelo outro. Entretanto, vejo como mais um ponto que busca humanizar os clones. No geral, sabemos que temos pouco tempo, que nossa vida é uma faísca. Porém, ainda assim, demoramos meses, anos, décadas, e muitas vezes morremos sem tomar a decisão correta, sem deixar de carregar um "fardo", um relacionamento destrutivo e sem cor. No caso, é até fácil se identificar, pois não é difícil citar ou reconhecer exemplos próximos de nós que se aproximem desse caso em específico.
Vejo tom de brilhantismo em toda a produção. Se eles não se rebelaram, além de serem controlados, é porque foram "educados", guiados a seguirem aquele caminho, e estavam relativamente sob controle. Tecnicamente falando, uma fotografia deslumbrante, e em termos de atuação, um grande resultado. Carey Mulligan é incrível, cresce a cada papel e está se tornando uma das melhores atrizes da atualidade. Andrew Garfield segura muito bem o seu personagem e Keira Knightley, mesmo que a mais "comum", não compromete.
O filme não é perfeito, tendo algumas inconsistências. Que são, porém, engolidas por uma grande mensagem, um esplendor visual e ótimas atuações.
Jogada de Risco
3.6 102 Assista AgoraFilme que explora perfeitamente, e acima de tudo, a natureza humana. Sempre seremos egoístas, e, em nossa realidade, todo altruísmo acaba soando como falso, com segundas intenções. Apostaria que a grande parte do público pensou: mas por que? Por que esse homem está sendo tão solidário? É praticamente um comportamento que vai contra o que presenciamos em nossa vivência. É natural que as pessoas atropelem umas as outras.
E, de maneira inteligentíssima, vemos que esse altruísmo realmente está carregado por outras questões. Será realmente impossível ser generoso sem, lá no fundo, estar carregado de egoísmo, de culpa?
A trama tem alguns problemas, principalmente pela falta de desenvolvimento no segundo ato. Entretanto, essas falhas ficam quase invisíveis quando estamos observando diálogos afiadíssimos, grandes atuações e personagens muito bem trabalhados. A direção de Paul Thomas Anderson dá um presságio para Boogie Nights, e é fácil perceber na escolha da paleta de cores, ambientação e tomadas longas. Estreia graciosa.
Ps: Existe ator mais subestimado que o John C. Reilly? Brilhante!
Os Bons Companheiros
4.4 1,2K Assista AgoraO truque está aí: você, como espectador, dificilmente se vê num debate moral sobre as ações dos protagonistas. É como se fosse puro entretenimento, até que venha o sadismo. Ninguém pediu para Henry Hill ser um gangster. Ele simplesmente amou aquilo, desde sempre, colocando a frente de sua própria família. Ter poder, controlar tudo e todos. É o máximo para aquele garoto, que cresce assim, aprendendo com os "melhores" (ou "piores", dependendo da percepção).
O filme termina e atesta sua qualidade ao gerar uma reação no público. Afinal, vale a pena viver como um zé ninguém?
Paris, Texas
4.3 698 Assista AgoraExistem poucas coisas mais difíceis do que confrontar os próprios demônios. A jornada, mostrada aqui de maneira debochada e metafórica, é longa. Caminhamos por anos, décadas, sem um real propósito, esperando tal momento, tal encontro. É muito provável que a morte venha e a real sensação de liberdade jamais seja sentida. Por que é tão difícil confrontar a verdade, a dor que reside em nós?
Travis conseguiu, de maneira indireta, atrapalhada. Não poderia ficar novamente com a pessoa que amava, pois tudo o que aconteceu antes daquele reencontro já havia deixado muitas feridas abertas. Uma tentativa de reconciliação seria, provavelmente, revisitar um passado tão dolorido, vendo com que ele se repetisse.
Ainda assim, deu para sua amada uma chance de reencontrar a felicidade, de um jeito que não a machucaria. E seguiu. Novamente. Para seu caminho sem propósito.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraPara ser bom, um filme não precisa ligar todas as pontas. Para ser bom, um filme não precisa apresentar um desfecho satisfatório. Para ser bom, um filme não precisa de momentos exatamente recompensantes, positivos. E a prova disso é Moonlight, uma preciosidade cinematográfica.
No melhor estilo Boyhood, Moonlight segue o crescimento de Chiron. A história transita entre três momentos diferentes da sua vida: infância, adolescência e fase adulta. E aqui temos, provavelmente, um dos melhores exemplos de como o impacto de um crescimento conturbado pode influenciar na formação de uma pessoa “distante”, amarga, e aparentemente vazia de sentimentos. Aparentemente.
Em seu segundo filme, Barry Jenkins alcança um grau de maturidade de um veterano. A história é construída através de sutilezas, fato que deixa momentos mais “pesados” terem um impacto ainda maior. Nem tudo aqui precisa ser dito. O diretor confia na habilidade e na inteligência de seu expectador, nunca o subestimando, e acreditando que ele enxergará além do óbvio.
A construção do personagem de Chiron é feito através de suas conexões humanas, dos diálogos, dos olhares e dos silêncios. Silêncios, esses, que parecem gritar para o público. São esses elementos que, de forma muito bem pincelada dentro da trama, moldam o caráter do protagonista. Toda a carga emocional que carrega o personagem na sua primeira fase são perfeitamente refletidas no adulto em que ele se tornou. E não é preciso ser dito nada. A expressão diz tudo.
O filme também é extremamente realista em seu debate social. Sexualidade/identidade, família e a desconstrução da masculinidade. Além de tudo isso, também está a questão das drogas, que é inserida com muita maturidade em um momento específico na transição do primeiro para o segundo ato, que provavelmente despedaçará o coração do público.
E essas questões são colocadas no longa sem que precisem ser expostas, de fato. A câmera está a todo momento focada no protagonismo de Chiron, e o desenvolvimento das críticas sociais são feitas através dos olhos do personagem, como se ele fosse a consciência, o público inserido ali dentro.
O elenco é simplesmente espetacular. Todos os personagens encontram equilíbrio narrativo e ajudam a empurrar a história com ótimas (e verdadeiras atuações). Os três “Chiron’s” funcionam muito bem: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, respectivamente. Um complementa bem o outro. Mas os destaques, em termos interpretativos, são os coadjuvantes. Principalmente Mahershala Ali e Naomie Harris.
O primeiro tem um espírito acolhedor, paterno. Entretanto, o personagem é claramente imperfeito, o que é mostrado em uma cena marcante no longa. Ele consta pouco, mas aproveita cada segundo na tela. Indicação e provável vitória no Oscar virão com merecimento. Já Naomie Harris consegue dar muita profundidade para sua atuação. Ela aparece nos três momentos da história em três estágios completamente diferentes. Uma mãe protetora, porém irresponsável, uma viciada em crack completamente devastada e uma mulher mais velha que amarga os erros de seu turbulento passado. Melhor atuação do filme e certamente a melhor atriz coadjuvante da temporada de premiações.
Moonlight é amargo, sutil, profundo e aborda várias camadas. Muito bem atuado, dirigido e escrito, além de contar com um debate social forte e necessário. Melhor filme da temporada de premiações.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraA morte, em si, é utilizada em demasia no cinema. De certa forma, todas as pessoas acabam se identificando. Por já terem enfrentado a dor de uma perda, ou, talvez, pelo simples fato de ter presenciado o sofrimento de algum amigo, de alguma pessoa próxima. Dito isso, é relativamente fácil emocionar o público abordando esse tipo de material em uma produção. Mas dificilmente você fará ele pensar em tudo o que a morte aborda.
Arrogante, temperamental, frio e insensível, o personagem de Casey Affleck desperta a antipatia do público durante o primeiro ato da história. Principalmente pelo fato de, aparentemente, se sentir indiferente perante a morte de uma pessoa tão importante. Com o desenvolvimento da história, o filme vai te oferecendo detalhes sobre o passado de Lee. Que te faz, de certa forma, entendê-lo.
É mostrado, em essência, que muitas pessoas não escolhem viver com tristeza/distância perante o mundo. Mas sim que a tristeza é, simplesmente, a vida delas. Diante de determinadas situações, não existe reação. A sequência de fatos cria dessensibilização, uma forma de escudo, que as impede de sentir qualquer tipo de sentimento dali em frente.
Em meio a tudo isso, ele ainda terá que lidar com o sobrinho Patrick (Lucas Hedges), que agora está sob sua guarda. Nesse processo fica claro que, mesmo com a vontade de desenvolver um instinto paterno, ele não reside mais ali. E não irá mais residir.
Patrick, aliás, que é um estudo de personagem fantástico. De certa forma, ele lida de forma tranquila com a passagem do pai, e segue vivendo sua vida com uma aparente indiferença. Ele é jovem, tem namorada(s) e preocupações extremamente importantes, como seu WhatsApp, por exemplo.
Sua atuação serve como o retrato de uma geração: engolida pela rotina, e que parece ter necessidade incessante de continuar vivendo com todos os seus compromissos, futilidades. Como se não houvesse mais tempo para sentir a perda de alguém. E Lonergan mostra, com maestria, que saudade não deixará de existir. “A ficha vai cair” em momentos mundanos, pequenos, em que aquela pessoa estava com você. Outra coisa muito bem mostrada pelo filme é a dor de cabeça que um velório causa. Advogados, funerárias. Não há descanso, nem tempo para pensar. A dor do momento parece ser ignorada.
Casey Affleck, favorito ao Oscar de melhor ator, deve ganhar o prêmio. E com muita justiça. Nenhum dos indicados chegou perto de alcançar a profundidade que ele alcançou nesse filme. Ele parece tratar tudo com frieza, mas está a ponto de explodir a todo momento, como acontece em dois momentos da história. Ele é a alma e o coração do filme. Destaque para uma cena com Michelle Williams, também indicada. Os personagens claramente ainda se amam. Entretanto, o reencontro é marcado por frases desajeitadas, pelo desespero. Fica claríssimo o sentimento que reside entre ambos, mas, também, é entendido que uma possível reconciliação não passaria de uma nova tragédia na vida de ambos.
O roteiro, escrito também por Lonergan, é ácido, com momentos que variam entre humor negro e melancolia. Ambos acabam se equilibrando, e o filme não fica cansativo em momento algum. A fotografia contrasta os momentos mais leves, de alegria, presentes nos flashbacks, com a frieza da passagem para o presente, que é amargo, sem cor. É o trabalho de direção mais cuidadoso entre todos os indicados.
Mais do que um filme sobre luto ou perda, Manchester à Beira Mar discute rotina, relações humanas e dor. Muita dor, por uma série de razões, compreendidas ou não. Trabalho impecável que merece muito mais que algumas indicações ao Oscar. Mas, sim, uma marca no cinema contemporâneo.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraFalta suavidade. O filme quer, a todo momento, jogar momentos inspiradores que têm zero naturalidade. Não há impacto dramático. Abordagem muito otimista de um problema sério. Passo
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraUma pena cair para o ilógico perto do final. O filme, em sua maior parte, alcança a perfeição. É reflexível, emocionante e com boas doses de humor. Viggo Mortensen entrega a melhor atuação do ano (até o momento), cheio de melancolia e languidez, ao mesmo tempo que é orgulhoso, túrgido, necessitando passar aos seus filhos toda a confiança e conhecimento que reside em si. Filhos que, aliás, são uma graça, todos bem escalados e favorecidos pelo bom roteiro. Filme recomendadíssimo.
Cães de Guerra
3.6 313 Assista AgoraSurpreso. O filme não tem originalidade, mas é eficiente no que propõe. O elenco é carismático, a direção é competente e o roteiro funciona em sua maior parte. Mas o final...
depois da "lição" muito bem empregada pelo filme, temos um final acovardado, que faz o protagonista sair praticamente ileso de tudo o que aconteceu. Lamentável.
Pets: A Vida Secreta dos Bichos
3.5 938 Assista AgoraRoteiro medíocre. O pouco que existe de bom é emprestado de outros filmes do gênero. Próximo.