Filme um tanto cansativo em sua primeira metade, mas como não se maravilhar com a belíssima interpretação de Philip Seymour Hoffman nesse filme? Como era versátil esse ator em papéis fortes e muitas vezes bem distintos, como em "Boogie Nights" (1997), "Magnolia" (1999) ou como o Padre Flynn em "Dúvida" (2008) e o Mestre em "The Master" (2012).
A princípio, "Capote" me causou estranheza em seu início. Truman Capote, em sua genialidade, me parece um tanto oportunista ao construir uma grande história em cima de uma tragédia. No entanto, vamos percebendo claramente como é fácil simplesmente tomar partido para o “óbvio” em punir os assassinos Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickcock (Mark Pellegrino). Sim, eles merecem punição sem dúvida, mas por que não ouvir suas histórias? Por que não tentar “compreender” o incompreensível? De certa forma, é essa a intenção e o esforço por parte de Truman, mas não é fácil aceitar essa condição de “benevolência” para com os assassinos. Algo muito interessante é a semelhança de história de vida entre Perry e Capote. Sua curiosidade para com Perry se reflete justamente no que Capote poderia ter se transformado. Ele poderia estar naquele lugar sombrio do corredor da morte, já que a infância de ambos foi conturbada. A definição dele para isso é essencial para essa compreensão, onde ele cita que “Perry escolheu a porta dos fundos para sair e eu a porta da frente”. Isso acaba definindo tudo praticamente e, por fim, percebe-se que mesmo com o sucesso de "A Sangue Frio" (In Cold Blood), toda a trajetória para escrever o livro mudou toda a ótica de Truman Capote.
Ron Howard, mais uma vez, consegue dar um toque muito humano em mais uma cinebiografia, tirando toda a questão "mítica" que muitas vezes envolve certas personalidades, seja com o filme "Uma Mente Brilhante" (A Beautiful Mind, 2001), "Frost/Nixon" (2008) e agora com "Rush". Para qualquer amante de automobilismo, o filme é um prato cheio. Mesmo que se saiba muito pouco sobre a Fórmula 1, o filme tem muito a oferecer, mostrando uma pequena parte da época de ouro da categoria e o que representava ser piloto em uma época em que morriam em média dois pilotos por ano nas pistas.
É muito interessante ver as diferenças gigantes de personalidades entre Niki Lauda, interpretado brilhantemente por Daniel Brühl, e James Hunt, com uma interpretação igualmente impressionante por parte de Chris Hemsworth. Para se chegar a um mesmo objetivo, mesmo que desde o início haja uma empatia maior pelo metódico e centrado Niki Lauda, ao longo do filme vamos compreendendo toda a personalidade "inconsequente" de James Hunt. Além disso, mesmo para quem não viveu naquela época, fica claro que para ser piloto era necessário ter uma dose extra de coragem e, por que não dizer, uma "insanidade" para correr!
Filme muito interessante. Jean-Claude Van Damme está muito bem. Apesar de muita gente "abominar" seus trabalhos, ao conhecer um pouco da trajetória da pessoa em si, e não apenas do artista através da fama e glamour, percebemos que nem tudo são flores. Fica claro como a propaganda nos engana, vendendo e criando um ideal de busca em torno dos artistas. São falsos ideais, sonhos equivocados em nome de um estilo de vida ilusório, e muitos artistas fazem questão de manter as aparências, mesmo que isso signifique, muitas vezes, destruir-se por completo para estar em evidência.
O monólogo que ele faz sobre sua vida, em um determinado momento do filme (caso seja aquilo mesmo), mostra claramente como funciona o jogo e a busca para ser um artista. Obviamente, há exceções de histórias mais "bonitas", mas não nos iludimos: para estar nesse mundinho, é preciso estar muito bem preparado para enfrentar as dificuldades e pressões. Em alguns momentos, esse filme me fez lembrar, de alguma forma, mas não com a mesma qualidade e intensidade, o drama do artista em ser descartado, como o que acontece em "Crepúsculo dos Deuses" de Billy Wilder (Sunset Boulevard 1950).
A crítica e o conteúdo desta animação são excepcionais. As grandes cidades, tanto no Brasil quanto no mundo, são caóticas em sua grande maioria, com rotinas estressantes, trânsito infernal e poluição. A luta pela sobrevivência nessas megalópoles muitas vezes nos faz perder nossa qualidade de vida e, em alguns casos, até mesmo a vontade de viver, por inúmeros fatores. Cada vez mais, as pessoas e a nossa sociedade estão cansadas devido a esse ritmo insano, e "A Pequena Loja de Suicídios" (Le Magasin des Suicides 2012) retrata isso de forma direta e incisiva.
O filme nos faz perceber constantemente como a modernidade nos torna dependentes de soluções rápidas e "fáceis" para os problemas do dia a dia. Nossas farmácias estão cheias dessas soluções rápidas, e a própria loja de suicídios é uma crítica direta a essa mentalidade. Mostra também como somos cínicos e, em nome dessa sobrevivência insana, estamos dispostos a fazer e vender quase tudo em busca do lucro, mesmo que isso possa destruir o próximo. Tudo se transforma em meros negócios.
Há momentos de otimismo e simplicidade ao longo do filme. O personagem Alan, sendo o único a estar bem com a vida e sorridente o tempo todo, demonstra como um simples gesto de afeto pode acalentar e até mesmo mudar a mentalidade depressiva, trazendo felicidade e alegria aos que estão ao seu redor.
Do ponto de vista técnico, "A Pequena Loja de Suicídios" é muito consistente. A trilha sonora é envolvente, os cenários são predominantemente cinzentos e esfumaçados, o que confere uma aura depressiva à animação. Os personagens estão sempre cansados, demonstrando a exaustão de viver em um grande centro urbano. Ironicamente, o único lugar bem colorido é justamente a loja de suicídios, quase que afirmando que tudo pode se tornar um negócio dependendo da situação, mesmo que isso signifique a morte de alguém.
O documentário é verdadeiramente corajoso e impressionante em sua capacidade de estabelecer uma ligação entre o comunismo soviético e o nazismo antes da Segunda Guerra Mundial. Ele afirma e demonstra que, na prática, ambos os regimes compartilhavam semelhanças significativas em quase todos os aspectos. Destaca-se como a máquina de extermínio soviética não apenas serviu de inspiração, mas também pode ter sido uma influência direta para Hitler na execução do Holocausto. Além disso, o filme lança uma crítica contundente ao comunismo. Embora possa haver tentativas de justificar as ações mostradas no documentário, especialmente por marxistas, é difícil ignorar as atrocidades cometidas por Stalin para manter o regime comunista soviético. Essas revelações desafiam nossa compreensão histórica e nos forçam a confrontar as complexidades e os horrores do século XX.
A luta pela sobrevivência da família é inquestionável. A qualidade técnica das cenas do tsunami e a subsequente destruição causada foram impressionantes, porém angustiantes.
A reflexão que surge a partir disso, sob a ótica da família, pode ser um tanto questionável devido à forma como o roteiro e a direção do filme foram conduzidos. Durante o longa, tive a sensação de que aquela família, apesar de toda a tragédia e luta pela sobrevivência, meio que se tornou "especial". Subconscientemente, ou até conscientemente, torcemos "exclusivamente" para que tudo desse certo para eles. Isso não é de todo ruim, mas indiretamente vamos nos esquecendo da dimensão que o tsunami causou. Foram mais de 230 mil mortes, atingindo 15 países. Imagine quantas famílias foram destruídas ou quantas tiveram a mesma chance de se reencontrar no meio de toda a devastação.
Ao assistir ao filme com os comentários do diretor Juan Antonio Bayona, do roteirista Sergio G. Sánchez, da produtora Belén Atienza e da própria Maria Belon, fica clara a intenção de não mostrar exatamente como algumas coisas aconteceram, devido ao choque negativo que isso poderia causar em quem estivesse assistindo. No entanto, se fosse mostrado, ficaria claro que a família em questão era apenas mais uma no meio de milhares de outras. Assim, poderíamos chorar e refletir por todas as perdas e comemorar todas as possíveis vitórias retratadas em meio a esse caos, com base na luta pela sobrevivência da família.
O grande mérito de O Impossível é nos mostrar o quão frágeis somos perante o poder destrutivo e magnífico da natureza, e como os valores mudam rapidamente quando algo grandioso assim acontece. Não importa o status ou o dinheiro que se tem; quando se luta pela sobrevivência e pela vida de quem se ama, nada disso importa. Muitas vezes, são nesses momentos que as pessoas percebem que não são especiais, e é onde acontece o verdadeiro altruísmo.
Gênio Indomável surpreendeu muitos e foi agraciado com o Oscar de melhor roteiro original em 1998. Além da direção impecável, as atuações convincentes de Matt Damon e Robin Williams também merecem destaque.
O verdadeiro cerne de Gênio Indomável reside em seu conteúdo, crítica e reflexão. A jornada de Will Hunting (interpretado por Matt Damon), um jovem gênio, em busca de seu lugar na sociedade pode parecer uma narrativa recorrente, porém o filme mergulha em questionamentos cada vez mais pertinentes nos dias de hoje. Um desses questionamentos diz respeito ao valor atribuído aos diplomas na sociedade contemporânea. Atualmente, possuir um diploma é frequentemente associado a inteligência, importância e conhecimento, alimentando um pseudo-intelectualismo. No entanto, Will Hunting representa uma antítese a essa concepção. Apesar de sua genialidade, ele busca a felicidade genuína, independentemente do reconhecimento social.
Outro aspecto crucial explorado no filme é a psicologia por trás do personagem de Will Hunting. Sendo considerado indomável e problemático, ele é obrigado a frequentar sessões de terapia para evitar a prisão. Surge então a questão: quem pode determinar o que é realmente importante na vida de alguém? Será que os profissionais de saúde mental compreendem verdadeiramente a singularidade de cada indivíduo ou simplesmente seguem protocolos pré-estabelecidos? Nesse contexto, Sean Maguire (interpretado por Robin Williams) se destaca como o único terapeuta capaz de conquistar o respeito de Will Hunting. Ao invés de adotar uma abordagem padronizada, ele compreende a complexidade do indivíduo e o orienta em direção ao autoconhecimento e crescimento pessoal.
A complexidade da mente de Will Hunting transcende sua genialidade e aborda questões universais que ressoam na vida de muitas pessoas. O filme evidencia que o status de gênio é apenas um detalhe; qualquer indivíduo pode se deparar com desafios semelhantes ao longo de sua jornada.
Nascido em 4 de Julho é, para mim, um dos melhores trabalhos de Tom Cruise, com uma direção impecável de Oliver Stone. Mesmo tendo sido consagrado anteriormente com um filme sobre a Guerra do Vietnã (Platoon, 1986), o grande mérito deste filme é mostrar a capacidade de superação e evolução mental de um soldado destruído pela guerra. Escrito pelo próprio Ron Kovic em conjunto com Oliver Stone, é inevitável não sentir agonia, desespero e até mesmo pena ao conhecer a história de vida de Ron Kovic.
A lição do filme é extraordinária, mostrando a evolução do personagem e a interpretação de Tom Cruise nas fases de "inocência", com a típica mentalidade de um soldado condicionado em busca de um falso ideal, e depois quando ele acorda verdadeiramente para o que foi feito com ele. Apesar de triste, muitas vezes só é possível despertar para a realidade quando se chega ao fundo do poço, e a lição apresentada aqui é simplesmente incrível. No entanto, o tempo passa e temos cada vez mais exemplos dos absurdos da guerra, mas o dinheiro e o poder, sempre presentes, fazem com que se encontrem sempre "motivos" e "explicações plausíveis" para que, de tempos em tempos, tudo se repita de uma forma diferente.
Se não fosse por Daniel Day-Lewis em Meu Pé Esquerdo, com certeza Tom Cruise ganharia um Oscar de melhor ator por este filme.
"Dúvida" (Doubt 2008) nos apresenta de forma intrigante como o julgamento baseado na incerteza pode acarretar consequências irreversíveis na vida de uma pessoa. A maneira como a ótica religiosa é abordada de forma distinta entre dois personagens, Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) e Irmã Aloysius (Meryl Streep), é fascinante. Irmã Aloysius é ortodoxa, fechada a qualquer mudança, e não se preocupa com o crescimento das pessoas, mantendo-se presa às regras e dogmas da religião. Padre Flynn, por sua vez, é uma figura mais contemporânea, tentando exercer sua religiosidade de forma dinâmica e amorosa. Vale ressaltar que o filme não faz propaganda a favor ou contra religião, pois esta serve apenas como pano de fundo, enquanto a trama poderia se encaixar em qualquer contexto.
Uma suspeita é levantada, uma incerteza de que a proximidade do padre com os alunos da escola possa não ser tão altruísta quanto parece. No entanto, como evitar o julgamento imediato e as conclusões precipitadas sobre o caráter de alguém? É preciso ter paciência e esperar por provas concretas antes de acusar? Irmã Aloysius representa aqueles que estão dispostos a acusar a qualquer custo, mesmo na ausência de provas concretas, agindo por orgulho e paranoia, desejando acreditar em algo que pode ser apenas uma coincidência.
O filme deixa para o espectador a tarefa de chegar a sua própria conclusão, de fazer seu próprio julgamento. Afinal, Padre Flynn é culpado de algo? Quem se arrisca a proferir um veredito?
O debate entre Irmã Aloysius e Padre Flynn próximo ao final do filme foi espetacular, com interpretações de Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman que chegam a arrepiar!
O Cerco a Leningrado durante a 2ª Guerra Mundial pelos alemães é um exemplo assustador dos horrores e da estupidez da guerra. Mesmo para aqueles que nunca ouviram falar desse evento, é difícil imaginar e não se questionar: isso realmente aconteceu? Sim, aconteceu! Durante aproximadamente 900 dias, a cidade foi cercada, e mais de um milhão de civis sucumbiram à fome, ao frio e ao próprio conflito. É angustiante pensar nas dificuldades que essas pessoas enfrentaram para sobreviver com o mínimo possível e nas terríveis escolhas que tiveram que fazer em meio ao caos.
Leningrado não é apenas uma lição de história, mas também um lembrete doloroso dos horrores da guerra. No entanto, é triste constatar que, apesar de todas essas lições, a humanidade continua cometendo as mesmas atrocidades, embora agora em nome do "terrorismo", "liberdade", "democracia" ou qualquer que seja a justificativa. A história parece se repetir, como se uma citação do filme Magnólia fosse apropriada: "Talvez já tenhamos passado pelo passado, mas o passado não passou por nós." A reflexão sobre esse ciclo interminável de violência e sofrimento é fundamental para buscarmos um futuro mais humano e pacífico.
O filme faz uma crítica interessante, destacando as consequências da ganância na vida das pessoas e fazendo uma analogia com a terceira lei de Newton, onde toda ação gera uma reação. No entanto, a falta de uma ação também pode gerar uma reação quando se trata de pessoas e sentimentos.
Kathy (Jennifer Connelly), uma mulher angustiada pela perda do casamento, não consegue encontrar equilíbrio em sua vida e só acorda para a situação quando está prestes a perder sua casa por falta de pagamento de impostos ou pela falta de busca por um acordo devido às dificuldades. Aqui, fica claro como somos tratados como meras mercadorias, onde, em qualquer país, se não pagarmos nossos impostos, o governo pode tomar o que é nosso por direito, em um verdadeiro assalto silencioso!
Behrani (Ben Kingsley) mantém as aparências a todo custo, mesmo estando completamente endividado. O orgulhoso não quer admitir que não terá mais o alto padrão de vida que um dia desfrutou. A aquisição da casa, a princípio, poderia indicar um amadurecimento do personagem para as coisas que realmente importavam, mas a ganância sempre presente o cega, e as consequências disso são terríveis. O conflito com a antiga moradora, agora sem teto, que deseja reaver sua casa, é comovente, mostrando dois lados de uma mesma moeda. Enquanto uns choram, outros desfrutam da tragédia dos que choram. Infelizmente, a sociedade está repleta de exemplos assim.
O final é angustiante; Behrani, ao ver o filho baleado, simplesmente abdica de tudo imediatamente. Somente nesse momento ele percebe o que é importante de fato, mas agora é tarde demais. Todas as chances foram dadas para que fosse diferente. O ato de matar sua mulher e suicidar-se é covarde, mas ao perceber que tudo o que perseguiu era apenas uma ilusão, uma névoa, algo nada concreto, tudo deixa de fazer sentido. Não há mais motivação com seu filho morto. Por fim, depois de tanta coisa e tanta luta, nem para Kathy faz sentido reaver a casa após tanta tragédia.
O filme é uma lição e tanto, embora seja uma história bastante decadente.
Analisar "The Man from Earth" (O Homem da Terra) unicamente por parâmetros técnicos seria limitado; tentar desqualificá-lo por eventuais falhas é injusto. O conteúdo desse filme transcende qualquer crítica que possa surgir de uma análise fria, técnica e dogmática.
É relevante destacar que este filme é uma produção independente de baixíssimo custo. Rotular o roteiro como fraco ou as interpretações como "ruins" seria um equívoco tremendo. Seria como criticar "El Mariachi", de Robert Rodriguez, apontando falhas em uma obra feita na época com um orçamento de apenas 7 mil dólares e equipamentos mínimos. É simplesmente ilógico.
Estamos vivendo na era da informação, onde supostamente "sabemos" tudo e temos "certeza" sobre tudo, graças ao vasto conhecimento humano acessível em diversas áreas. No entanto, e se alguém fosse capaz de desafiar todo esse conhecimento, não negando-o, mas oferecendo uma nova perspectiva para aquilo que aprendemos até agora? Como as pessoas reagiriam? O filme traz esse debate à tona.
"The Man from Earth" nos mostra com simplicidade como seria e o quão difícil seria para alguém assimilar uma "verdade" que contradiz o que foi aprendido e estudado durante anos. Ele explora a dificuldade de admitir possibilidades que, embora lógicas, fogem totalmente da nossa compreensão inicial.
O protagonista, John (David Lee Smith), um homem das cavernas literalmente, levanta questionamentos incríveis sobre o nosso conceito de "verdade absoluta" e a distância entre essa realidade percebida e a "verdadeira verdade", devido às distorções que ocorrem na história ao longo do tempo.
O filme aborda o mito da caverna de Platão de uma forma diferente. Em vez de alguém ser retirado para ver o mundo real, como em "Matrix", por exemplo, temos um ser totalmente liberto que retorna à caverna para tentar "libertar" seus amigos. O que acontece é o espanto, a negação, a desqualificação e, em certo momento, ele é considerado louco por seus próprios amigos. Tentar libertar alguém das correntes, sair da caverna e ver a luz é algo extremamente difícil e assustador, e muitos preferem continuar observando as sombras, as projeções na parede da caverna, do que encarar a realidade.
Dos filmes de Michael Mann que tive a oportunidade de assistir, considero este o melhor. O conteúdo desse filme é extraordinário, ao mostrar de maneira clara como os interesses da indústria, neste caso a do tabaco, enganaram e omitiram informações sobre os malefícios do cigarro durante décadas. Além disso, evidencia a força do controle de informações que essas empresas exerciam, por meio de lobby, e o desenvolvimento de fórmulas específicas para viciar os consumidores ainda mais rapidamente, tudo isso sob o pretexto de que a nicotina não causava dependência. Basicamente, estamos todos sujeitos a algo semelhante nos dias de hoje: o consumo crescente de produtos industrializados, cujo processo de fabricação muitas vezes desconhecemos por completo, levanta a questão das garantias sobre a veracidade das informações fornecidas.
A interpretação de Russell Crowe no papel de Jeffrey Wigand é angustiante, retratando um homem comum lutando para fazer o que é certo e expor os podres de uma indústria poderosa. No entanto, ele se vê pressionado e coagido de todos os lados, com sua vida, carreira e família em risco caso insista em seu objetivo. Al Pacino (Lowell Bergman) aparece em parte do filme de forma discreta, mas quando seu personagem se destaca, é excepcional, demonstrando toda a credibilidade de um jornalista que é jogada no lixo devido a interesses econômicos. O filme aborda a corrupção da mídia para ocultar fatos e a luta desse jornalista para manter seus princípios éticos no meio dessa sujeira é verdadeiramente memorável.
Embora a imprensa, em geral, se orgulhe de sua imparcialidade e se considere detentora da verdade, ou pelo menos em busca dela, a realidade é que, quando há poder envolvido, tudo pode acontecer. Portanto, nunca é demais permanecer vigilante em relação a tudo que nos cerca. "O Informante" (The Insider) oferece uma crítica poderosa e um conteúdo incrível, dignos de serem vistos e revistos, especialmente em uma era marcada pela desinformação e manipulação.
Apesar de o filme ter um apelo religioso que, em muitos momentos, chega a ser grotesco e as cenas de ação à la Dragon Ball, como já foi dito por alguém aqui, ficaram estranhas. Mas esse Superman é muito interessante. Os primeiros 20 minutos em Krypton foram sensacionais; o filme explica com detalhes toda a origem do Super-Homem e os significados de sua roupa, o porquê de sua força aqui na terra. É impossível alguém dizer que não entendeu a história e os porquês.
O tom meio sombrio dado por Zack Snyder também ficou muito bom, mostrando os conflitos e as descobertas do 'super-boy', a questão da humanidade não estar preparada para uma verdade, no caso de que não estamos sozinhos no universo, quase que uma crítica indireta ao fato de termos a mente 'pequena' ou obscurecida para aceitação do novo, já que algo assim mudaria toda nossa noção sobre muitas coisas. Mas tudo isso, infelizmente, fica implícito, mascarado por toda ação que há no filme, mas ainda sim muito válido esse "O Homem de Aço (Man of Steel)".
A retórica da trama ao expor a luta de uma garota e seu meio-irmão com o padrasto é interessante, trazendo elementos naturais, como o dilema de deixar o irmão autista em uma clínica para que a protagonista possa ir para a faculdade e seguir sua vida, apesar do vazio deixado pela morte da mãe.
Apesar do sentimento fraterno em relação ao seu irmão, é um fardo pesado para ela, pois precisa escolher entre a família (seu único irmão dependente) ou largar tudo para ter um "futuro". Isso por si só já poderia resultar em uma ótima história.
O padrasto, desde o início, demonstra ser oportunista, ganancioso e sem caráter, e ao longo do filme isso se confirma ainda mais, já que seus planos envolvem matar toda a sua família, começando pela própria mulher, e depois sua enteada e filho, pelo dinheiro.
Mas onde o tigre se encaixa nisso tudo? A tentativa de "demonizar" e fazer dele o vilão, chegando a ser chamado de Lúcifer em um momento, é simplesmente absurda. Tentar justificar a ideia oportunista do padrasto dessa maneira é grotesco. É terrível ver essas representações no cinema para qualquer pessoa que respeita ou gosta de animais. Apesar de ser um animal selvagem e caçador por natureza, acaba-se criando uma ideia deturpada e falsa sobre ele, dependendo dos olhos de quem vê. Isso já aconteceu com tubarões devido ao filme "Tubarão" de 1975 de Spielberg, e com orcas devido ao filme "Orca, a Baleia Assassina" de 1977 de Michael Anderson, entre outros.
Voltando para a trama, mais precisamente, ver um tigre derrubando portas, quase como um ser "racional", é chamar muita gente de idiota. Esse sentimento de caça e caçador dentro de uma casa é antinatural e desinteressante. Bastava remover o tigre para termos um drama muito mais interessante e reflexivo!
"Eles Vivem" é um filme simples e divertido, mas com uma grande capacidade de nos fazer questionar sobre aspectos do nosso cotidiano e, de certa forma, nos alertar sobre como podemos estar sendo condicionados pelas informações que recebemos. Isso ocorre devido à nossa vida de certa forma robotizada e automatizada, o que nos torna propensos a seguir e obedecer à ordem preestabelecida, aos padrões, à moda, e a ser controlados pela propaganda, sem questionar as coisas.
Quem assiste a "Eles Vivem" e compra a ideia de que podemos ter seres inteligentes de outros planetas entre nós está cometendo um erro. A alusão que o filme faz a isso é brilhante, pois a ideia é mostrar que os "ETs" na verdade são as instituições, os governos e as grandes corporações em que confiamos, os quais nos controlam através da propaganda. Com isso, o filme mostra que a busca pela verdade é simples, mas está profundamente maquiada para que nós não a vejamos. A sacada dos óculos foi genial; quanto mais se usa, mais a cabeça dói, o que é uma clara afirmação de que a verdade não é confortável para quem não está acostumado com ela. Mais tarde, no filme "Matrix", há algo semelhante em um diálogo entre Neo (Keanu Reeves) e Morpheus (Laurence Fishburne), onde Neo, logo após acordar do mundo da Matrix, pergunta: "Por que meus olhos doem?" e Morpheus responde: "Porque você nunca os usou".
E por que as coisas ficam em preto e branco? Outra sacada interessante, já que a verdade é simples, não se precisa de múltiplas cores e nitidez para vê-la e compreendê-la. Muitas vezes, não são necessárias milhares de páginas de livros ou milhares de palavras em revistas para explicar ou entender algo.
Por sua simplicidade, criatividade e profundidade, "Eles Vivem" se torna tão único e genial."
A fotografia desse filme é um espetáculo, bem colorido; todas as cenas, praticamente, têm um excesso de cor representando a personalidade da protagonista isso chama a atenção logo nos primeiros momentos. A trilha sonora, em várias cenas, também é bastante marcante e condizente com a proposta do filme. Cada personagem tem uma peculiaridade, uma excentricidade, que nos mantém atentos.
A trama principal, centrada em Amélie Poulain (Audrey Tautou), é muito interessante, abordando temas comuns. De início, nota-se como nossa educação às vezes nos torna diferentes, até "estranhos" em algumas situações. A falta de afeto dos pais perante Amélie a torna reclusa e distante na idade adulta. Ela prefere idealizar coisas apenas em sua mente, um ideal de perfeição, mas apenas para sua mente, o que a torna um tanto infantil e medrosa para determinadas situações. Isso reflete a realidade para muitas pessoas. Outro ponto muito interessante é quando ela encontra alguém parecido com ela de alguma forma, alguém que de fato poderia preenchê-la e fazê-la feliz. Ela também sente a necessidade de fazer alguém feliz. Mas aí surge uma questão excepcional: quando surge tal oportunidade, como perder o medo por, às vezes, se sentir inseguro(a) consigo mesmo(a) e viver algo intensamente? Essa questão permeia nosso cotidiano, afetando uns mais do que outros. A indecisão dela perante isso é muito interessante, e a forma como isso é demonstrado também, na maior parte do tempo, na pura inocência.
Um diálogo interessantíssimo é quando ela decide ir atrás daquela paixão quase platônica que já estava vivendo, onde seu vizinho diz: "Você não tem ossos de vidro; pode suportar os baques da vida. E se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto." Achei brilhante esse diálogo no finalzinho, pois representa algo muito real. Quantas vezes as pessoas não desistem de algo por medo ou mera insegurança e, com o tempo, deixam de acreditar nelas mesmas, tornando-se secas e quebradiças. É possível ter uma grande reflexão em um filme como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".
O filme é uma obra magnífica que aborda temas poderosos como o perdão e a união em uma nação dividida pelo regime segregacionista do Apartheid. Após 27 anos de prisão Mandela se revela um líder extraordinário, personificando a capacidade de perdoar e unir, na busca em transcender as divisões raciais e unir brancos e negros em prol de um ideal comum. Este filme serve como uma lição moral, mostrando a importância do perdão e da reconciliação para a cura de feridas históricas profundas.
A utilização do esporte como instrumento de união e inspiração é outro aspecto marcante do filme. Mandela reconhece o poder unificador do rugby e o utiliza como uma ferramenta para unir a nação, independentemente das diferenças passadas. Esta abordagem contrasta fortemente com a comercialização excessiva do esporte na sociedade contemporânea, onde muitas vezes é reduzido a um mero entretenimento voltado para o lucro. "Invictus" nos lembra do potencial transformador do esporte quando utilizado para promover causas nobres e justas, oferecendo uma visão inspiradora de como ele pode impactar positivamente a vida das pessoas e unir comunidades.
Está animação é uma obra marcante que aborda de forma corajosa e bela os horrores da guerra no Líbano entre 1982 e 1985, especialmente os massacres terríveis cometidos contra civis. A animação se destaca não apenas pela sua qualidade técnica, impressionante dado o seu orçamento, mas também pela sua crítica social e reflexão profunda sobre os impactos psicológicos da guerra nos soldados e nas pessoas em geral.
O filme expõe de maneira vívida como a violência e o trauma da guerra deixam marcas impagáveis nas vidas das pessoas, tanto a curto quanto a longo prazo. Através de uma narrativa envolvente, somos levados a refletir sobre a natureza devastadora do conflito armado e suas consequências desumanas sobre as vítimas e agressores.
Um dos aspectos mais impressionantes do filme é a sua transição das animações para imagens reais no final, que têm um impacto visceral e nos confrontam diretamente com a crueldade e a brutalidade dos eventos retratados. Essas imagens autênticas nos forçam a sair de nossa zona de conforto e nos lembram da terrível realidade por trás da ficção, despertando em nós um profundo senso de indignação e tristeza diante da barbárie humana.
"Valsa com Bashir" é uma animação poderosa uma obra de arte que nos lembra da necessidade de compreender e confrontar os horrores da guerra.
"Elefante" é uma obra corajosa, não só pela sua abordagem não convencional, mas também por se recusar a seguir o padrão hollywoodiano de buscar sentido ou explicação para o inexplicável.
O massacre de Columbine é um evento emblemático que gerou espanto, comoção e muitos debates, especialmente sobre o controle de armas de fogo, conforme evidenciado no documentário "Tiros em Columbine" de Michael Moore. Gus Van Sant conduz "Elefante" de maneira simples, retratando um dia comum em uma escola americana, sem tentar estabelecer vínculos emocionais específicos com os personagens. A ausência de trilha sonora em muitos momentos e os diálogos vazios refletem claramente a monotonia do cotidiano, levantando a questão: o que pode ser considerado especial em meio à rotina?
A escolha de uma narrativa não linear nos faz questionar quem será o responsável pelo massacre. Gus Van Sant opta por não traçar perfis psicológicos ou explicar os atos dos jovens envolvidos. A frieza dos diálogos e a robotização das conversas sugerem uma tentativa de criticar ou explicar o massacre: será que uma maior proximidade entre alunos, família e escola poderia ter evitado essa tragédia? Essa é uma questão complexa e difícil de responder.
A qualidade de "Elefante" reside na sua simplicidade. O filme não romantiza o massacre e não se rende aos clichês de Hollywood ao contar essa história. Ele consegue ser reflexivo sem perder sua autenticidade.
É interessante notar alguns comentários sobre "A Caixa", principalmente daqueles que não conseguiram entender ou nem mesmo tentaram.
Realmente, o filme é desafiador de assimilar certas coisas de imediato. Logo após a conclusão da visualização, fiquei bastante confuso, mas posteriormente refleti sobre algumas questões e consegui chegar a um ponto de vista interessante e simples.
Um aspecto notável em "A Caixa" é a abordagem das consequências de uma escolha, ou a incapacidade de enxergar além dela, e como a pressão financeira muitas vezes nos leva a tomar decisões sem considerar suas implicações futuras. Inicialmente, a vida financeira do casal estava estável até Arthur Lewis (James Marsden) perder o emprego. Com a possibilidade iminente de dificuldades financeiras, surge uma oportunidade aparentemente irresistível: apertar um botão em troca de um milhão de dólares. No entanto, o custo é a vida de um desconhecido. A profundidade dessa escolha e a aceitação de suas consequências futuras são exploradas de forma perspicaz. Mesmo quando Arthur procura respostas para o improvável, ele luta contra o peso da culpa, incapaz de admitir a possibilidade de ter causado a morte de alguém. No entanto, é tarde demais para voltar atrás, e suas tentativas de investigação podem ter resultados devastadores, já que as regras antes de apertar o botão foram claramente estabelecidas. Essa narrativa nos leva a um mundo de possibilidades surreais, desafiando nossas percepções e sensações habituais. O filme destaca como uma escolha equivocada pode transformar nosso mundo em um caos, onde tudo é incerto e até os mais íntegros podem ser corrompidos pela tentação do poder e do dinheiro.
A consequência final da escolha de Norma Lewis (Cameron Diaz) e Arthur Lewis foi um preço alto e brutal: ela precisou morrer pelas mãos do marido para que um ser inocente, o filho deles, pudesse ter uma chance de ter uma vida normal.
Uma observação intrigante feita pelo personagem Arlington Steward (Frank Langella) é sua esperança de que eles não tivessem apertado o botão, sugerindo subliminarmente que tudo era um teste para a moralidade das pessoas comuns. Essa reflexão nos convida a questionar nossa própria integridade diante das tentações que enfrentamos.
"A Caixa" representa um filme desafiador que requer uma análise mais profunda e expansiva para ser compreendido completamente.
É um documentário notável que vai muito além do jogo de Xadrez para explorar a vida tumultuada e complexa de Bobby Fischer. O filme mergulha na mente desse gênio enxadrista, revelando os conflitos internos e pessoais que o atormentavam ao longo de sua vida. Enquanto o Xadrez serve quase como pano de fundo, é a jornada emocional e psicológica de Fischer que realmente cativa. Sua luta com seu ego, a fama e a solidão é apresentada de forma comovente e provocativa, oferecendo uma visão íntima de um homem cuja genialidade era ao mesmo tempo sua bênção e sua maldição. Este documentário é uma obrigação para qualquer pessoa interessada na mente humana e na complexidade da fama, e é especialmente impactante para os enxadristas, que podem encontrar paralelos intrigantes entre a vida de Fischer e seu próprio relacionamento com o jogo.
"Lincoln" oferece uma visão envolvente do esforço de um homem em liderança, imerso em uma jornada para concretizar seus ideais de justiça em meio a um período tumultuado da história dos Estados Unidos. Embora o filme possa às vezes cair em um certo sentimentalismo patriótico, não se pode negar a sua capacidade de retratar os desafios enfrentados por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil e o processo de abolição da escravidão. Daniel Day-Lewis entrega uma performance excepcional ao encarnar Lincoln, transmitindo sua profundidade emocional e convicção política de forma magistral. Sua atuação é o ponto central do filme, elevando-o além das questões técnicas. "Lincoln" não apenas nos convida a refletir sobre os eventos históricos cruciais da época, mas também sobre os valores e ideais que continuam a moldar a sociedade americana até os dias de hoje.
"O Homem de Palha" é um espetáculo que mergulha nas profundezas do fanatismo religioso e na dificuldade de aceitar o que é diferente. O filme expõe de forma impactante os conflitos gerados pelo choque cultural e religioso quando nos deparamos com algo novo e estranho.
Por meio do personagem do sargento Howie (Edward Woodward), somos confrontados com a ideia da verdade absoluta e como ela pode cegar indivíduos, impedindo-os de aceitar e conviver com as diferenças. Howie é um exemplo claro dessa cegueira, incapaz de compreender e respeitar as tradições do povo da ilha, enraizadas em uma crença pagã há muito tempo banida dos costumes.
Por outro lado, os habitantes da ilha também estão presos em suas próprias crenças, a ponto de cometerem assassinato em nome delas. Essa atitude não pode ser respeitada ou aceita, independentemente da tradição religiosa. No entanto, o filme destaca o valor que esses habitantes atribuem à comunidade, à natureza e ao simples, colocando em questão o que realmente importa na vida: não o poder ou o dinheiro, mas sim as necessidades básicas e a harmonia com o ambiente ao seu redor.
"O Homem de Palha" oferece uma reflexão profunda sobre a natureza humana, os limites da tolerância e os perigos do fanatismo religioso. É um filme que nos desafia a questionar nossas próprias crenças e preconceitos, lembrando-nos da importância de buscar a compreensão e o respeito mútuo, mesmo diante das diferenças mais profundas.
Capote
3.8 372 Assista AgoraFilme um tanto cansativo em sua primeira metade, mas como não se maravilhar com a belíssima interpretação de Philip Seymour Hoffman nesse filme? Como era versátil esse ator em papéis fortes e muitas vezes bem distintos, como em "Boogie Nights" (1997), "Magnolia" (1999) ou como o Padre Flynn em "Dúvida" (2008) e o Mestre em "The Master" (2012).
A princípio, "Capote" me causou estranheza em seu início. Truman Capote, em sua genialidade, me parece um tanto oportunista ao construir uma grande história em cima de uma tragédia. No entanto, vamos percebendo claramente como é fácil simplesmente tomar partido para o “óbvio” em punir os assassinos Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickcock (Mark Pellegrino). Sim, eles merecem punição sem dúvida, mas por que não ouvir suas histórias? Por que não tentar “compreender” o incompreensível? De certa forma, é essa a intenção e o esforço por parte de Truman, mas não é fácil aceitar essa condição de “benevolência” para com os assassinos. Algo muito interessante é a semelhança de história de vida entre Perry e Capote. Sua curiosidade para com Perry se reflete justamente no que Capote poderia ter se transformado. Ele poderia estar naquele lugar sombrio do corredor da morte, já que a infância de ambos foi conturbada. A definição dele para isso é essencial para essa compreensão, onde ele cita que “Perry escolheu a porta dos fundos para sair e eu a porta da frente”. Isso acaba definindo tudo praticamente e, por fim, percebe-se que mesmo com o sucesso de "A Sangue Frio" (In Cold Blood), toda a trajetória para escrever o livro mudou toda a ótica de Truman Capote.
Rush: No Limite da Emoção
4.2 1,3K Assista AgoraRon Howard, mais uma vez, consegue dar um toque muito humano em mais uma cinebiografia, tirando toda a questão "mítica" que muitas vezes envolve certas personalidades, seja com o filme "Uma Mente Brilhante" (A Beautiful Mind, 2001), "Frost/Nixon" (2008) e agora com "Rush". Para qualquer amante de automobilismo, o filme é um prato cheio. Mesmo que se saiba muito pouco sobre a Fórmula 1, o filme tem muito a oferecer, mostrando uma pequena parte da época de ouro da categoria e o que representava ser piloto em uma época em que morriam em média dois pilotos por ano nas pistas.
É muito interessante ver as diferenças gigantes de personalidades entre Niki Lauda, interpretado brilhantemente por Daniel Brühl, e James Hunt, com uma interpretação igualmente impressionante por parte de Chris Hemsworth. Para se chegar a um mesmo objetivo, mesmo que desde o início haja uma empatia maior pelo metódico e centrado Niki Lauda, ao longo do filme vamos compreendendo toda a personalidade "inconsequente" de James Hunt. Além disso, mesmo para quem não viveu naquela época, fica claro que para ser piloto era necessário ter uma dose extra de coragem e, por que não dizer, uma "insanidade" para correr!
JCVD: A Maior Luta de Sua Vida
3.4 193Filme muito interessante. Jean-Claude Van Damme está muito bem. Apesar de muita gente "abominar" seus trabalhos, ao conhecer um pouco da trajetória da pessoa em si, e não apenas do artista através da fama e glamour, percebemos que nem tudo são flores. Fica claro como a propaganda nos engana, vendendo e criando um ideal de busca em torno dos artistas. São falsos ideais, sonhos equivocados em nome de um estilo de vida ilusório, e muitos artistas fazem questão de manter as aparências, mesmo que isso signifique, muitas vezes, destruir-se por completo para estar em evidência.
O monólogo que ele faz sobre sua vida, em um determinado momento do filme (caso seja aquilo mesmo), mostra claramente como funciona o jogo e a busca para ser um artista. Obviamente, há exceções de histórias mais "bonitas", mas não nos iludimos: para estar nesse mundinho, é preciso estar muito bem preparado para enfrentar as dificuldades e pressões. Em alguns momentos, esse filme me fez lembrar, de alguma forma, mas não com a mesma qualidade e intensidade, o drama do artista em ser descartado, como o que acontece em "Crepúsculo dos Deuses" de Billy Wilder (Sunset Boulevard 1950).
A Pequena Loja de Suicídios
3.7 774A crítica e o conteúdo desta animação são excepcionais. As grandes cidades, tanto no Brasil quanto no mundo, são caóticas em sua grande maioria, com rotinas estressantes, trânsito infernal e poluição. A luta pela sobrevivência nessas megalópoles muitas vezes nos faz perder nossa qualidade de vida e, em alguns casos, até mesmo a vontade de viver, por inúmeros fatores. Cada vez mais, as pessoas e a nossa sociedade estão cansadas devido a esse ritmo insano, e "A Pequena Loja de Suicídios" (Le Magasin des Suicides 2012) retrata isso de forma direta e incisiva.
O filme nos faz perceber constantemente como a modernidade nos torna dependentes de soluções rápidas e "fáceis" para os problemas do dia a dia. Nossas farmácias estão cheias dessas soluções rápidas, e a própria loja de suicídios é uma crítica direta a essa mentalidade. Mostra também como somos cínicos e, em nome dessa sobrevivência insana, estamos dispostos a fazer e vender quase tudo em busca do lucro, mesmo que isso possa destruir o próximo. Tudo se transforma em meros negócios.
Há momentos de otimismo e simplicidade ao longo do filme. O personagem Alan, sendo o único a estar bem com a vida e sorridente o tempo todo, demonstra como um simples gesto de afeto pode acalentar e até mesmo mudar a mentalidade depressiva, trazendo felicidade e alegria aos que estão ao seu redor.
Do ponto de vista técnico, "A Pequena Loja de Suicídios" é muito consistente. A trilha sonora é envolvente, os cenários são predominantemente cinzentos e esfumaçados, o que confere uma aura depressiva à animação. Os personagens estão sempre cansados, demonstrando a exaustão de viver em um grande centro urbano. Ironicamente, o único lugar bem colorido é justamente a loja de suicídios, quase que afirmando que tudo pode se tornar um negócio dependendo da situação, mesmo que isso signifique a morte de alguém.
A História Soviética
4.2 46 Assista AgoraO documentário é verdadeiramente corajoso e impressionante em sua capacidade de estabelecer uma ligação entre o comunismo soviético e o nazismo antes da Segunda Guerra Mundial. Ele afirma e demonstra que, na prática, ambos os regimes compartilhavam semelhanças significativas em quase todos os aspectos. Destaca-se como a máquina de extermínio soviética não apenas serviu de inspiração, mas também pode ter sido uma influência direta para Hitler na execução do Holocausto. Além disso, o filme lança uma crítica contundente ao comunismo. Embora possa haver tentativas de justificar as ações mostradas no documentário, especialmente por marxistas, é difícil ignorar as atrocidades cometidas por Stalin para manter o regime comunista soviético. Essas revelações desafiam nossa compreensão histórica e nos forçam a confrontar as complexidades e os horrores do século XX.
O Impossível
4.1 3,1K Assista AgoraA luta pela sobrevivência da família é inquestionável. A qualidade técnica das cenas do tsunami e a subsequente destruição causada foram impressionantes, porém angustiantes.
A reflexão que surge a partir disso, sob a ótica da família, pode ser um tanto questionável devido à forma como o roteiro e a direção do filme foram conduzidos. Durante o longa, tive a sensação de que aquela família, apesar de toda a tragédia e luta pela sobrevivência, meio que se tornou "especial". Subconscientemente, ou até conscientemente, torcemos "exclusivamente" para que tudo desse certo para eles. Isso não é de todo ruim, mas indiretamente vamos nos esquecendo da dimensão que o tsunami causou. Foram mais de 230 mil mortes, atingindo 15 países. Imagine quantas famílias foram destruídas ou quantas tiveram a mesma chance de se reencontrar no meio de toda a devastação.
Ao assistir ao filme com os comentários do diretor Juan Antonio Bayona, do roteirista Sergio G. Sánchez, da produtora Belén Atienza e da própria Maria Belon, fica clara a intenção de não mostrar exatamente como algumas coisas aconteceram, devido ao choque negativo que isso poderia causar em quem estivesse assistindo. No entanto, se fosse mostrado, ficaria claro que a família em questão era apenas mais uma no meio de milhares de outras. Assim, poderíamos chorar e refletir por todas as perdas e comemorar todas as possíveis vitórias retratadas em meio a esse caos, com base na luta pela sobrevivência da família.
O grande mérito de O Impossível é nos mostrar o quão frágeis somos perante o poder destrutivo e magnífico da natureza, e como os valores mudam rapidamente quando algo grandioso assim acontece. Não importa o status ou o dinheiro que se tem; quando se luta pela sobrevivência e pela vida de quem se ama, nada disso importa. Muitas vezes, são nesses momentos que as pessoas percebem que não são especiais, e é onde acontece o verdadeiro altruísmo.
Gênio Indomável
4.2 1,3K Assista AgoraGênio Indomável surpreendeu muitos e foi agraciado com o Oscar de melhor roteiro original em 1998. Além da direção impecável, as atuações convincentes de Matt Damon e Robin Williams também merecem destaque.
O verdadeiro cerne de Gênio Indomável reside em seu conteúdo, crítica e reflexão. A jornada de Will Hunting (interpretado por Matt Damon), um jovem gênio, em busca de seu lugar na sociedade pode parecer uma narrativa recorrente, porém o filme mergulha em questionamentos cada vez mais pertinentes nos dias de hoje. Um desses questionamentos diz respeito ao valor atribuído aos diplomas na sociedade contemporânea. Atualmente, possuir um diploma é frequentemente associado a inteligência, importância e conhecimento, alimentando um pseudo-intelectualismo. No entanto, Will Hunting representa uma antítese a essa concepção. Apesar de sua genialidade, ele busca a felicidade genuína, independentemente do reconhecimento social.
Outro aspecto crucial explorado no filme é a psicologia por trás do personagem de Will Hunting. Sendo considerado indomável e problemático, ele é obrigado a frequentar sessões de terapia para evitar a prisão. Surge então a questão: quem pode determinar o que é realmente importante na vida de alguém? Será que os profissionais de saúde mental compreendem verdadeiramente a singularidade de cada indivíduo ou simplesmente seguem protocolos pré-estabelecidos? Nesse contexto, Sean Maguire (interpretado por Robin Williams) se destaca como o único terapeuta capaz de conquistar o respeito de Will Hunting. Ao invés de adotar uma abordagem padronizada, ele compreende a complexidade do indivíduo e o orienta em direção ao autoconhecimento e crescimento pessoal.
A complexidade da mente de Will Hunting transcende sua genialidade e aborda questões universais que ressoam na vida de muitas pessoas. O filme evidencia que o status de gênio é apenas um detalhe; qualquer indivíduo pode se deparar com desafios semelhantes ao longo de sua jornada.
Nascido em 4 de Julho
3.7 242 Assista AgoraNascido em 4 de Julho é, para mim, um dos melhores trabalhos de Tom Cruise, com uma direção impecável de Oliver Stone. Mesmo tendo sido consagrado anteriormente com um filme sobre a Guerra do Vietnã (Platoon, 1986), o grande mérito deste filme é mostrar a capacidade de superação e evolução mental de um soldado destruído pela guerra. Escrito pelo próprio Ron Kovic em conjunto com Oliver Stone, é inevitável não sentir agonia, desespero e até mesmo pena ao conhecer a história de vida de Ron Kovic.
A lição do filme é extraordinária, mostrando a evolução do personagem e a interpretação de Tom Cruise nas fases de "inocência", com a típica mentalidade de um soldado condicionado em busca de um falso ideal, e depois quando ele acorda verdadeiramente para o que foi feito com ele. Apesar de triste, muitas vezes só é possível despertar para a realidade quando se chega ao fundo do poço, e a lição apresentada aqui é simplesmente incrível. No entanto, o tempo passa e temos cada vez mais exemplos dos absurdos da guerra, mas o dinheiro e o poder, sempre presentes, fazem com que se encontrem sempre "motivos" e "explicações plausíveis" para que, de tempos em tempos, tudo se repita de uma forma diferente.
Se não fosse por Daniel Day-Lewis em Meu Pé Esquerdo, com certeza Tom Cruise ganharia um Oscar de melhor ator por este filme.
Dúvida
3.9 1,0K Assista Agora“Quem acusa, assume o ônus da prova.”
"Dúvida" (Doubt 2008) nos apresenta de forma intrigante como o julgamento baseado na incerteza pode acarretar consequências irreversíveis na vida de uma pessoa. A maneira como a ótica religiosa é abordada de forma distinta entre dois personagens, Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) e Irmã Aloysius (Meryl Streep), é fascinante. Irmã Aloysius é ortodoxa, fechada a qualquer mudança, e não se preocupa com o crescimento das pessoas, mantendo-se presa às regras e dogmas da religião. Padre Flynn, por sua vez, é uma figura mais contemporânea, tentando exercer sua religiosidade de forma dinâmica e amorosa. Vale ressaltar que o filme não faz propaganda a favor ou contra religião, pois esta serve apenas como pano de fundo, enquanto a trama poderia se encaixar em qualquer contexto.
Uma suspeita é levantada, uma incerteza de que a proximidade do padre com os alunos da escola possa não ser tão altruísta quanto parece. No entanto, como evitar o julgamento imediato e as conclusões precipitadas sobre o caráter de alguém? É preciso ter paciência e esperar por provas concretas antes de acusar? Irmã Aloysius representa aqueles que estão dispostos a acusar a qualquer custo, mesmo na ausência de provas concretas, agindo por orgulho e paranoia, desejando acreditar em algo que pode ser apenas uma coincidência.
O filme deixa para o espectador a tarefa de chegar a sua própria conclusão, de fazer seu próprio julgamento. Afinal, Padre Flynn é culpado de algo? Quem se arrisca a proferir um veredito?
O debate entre Irmã Aloysius e Padre Flynn próximo ao final do filme foi espetacular, com interpretações de Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman que chegam a arrepiar!
Leningrado: A Odisséia
3.5 66O Cerco a Leningrado durante a 2ª Guerra Mundial pelos alemães é um exemplo assustador dos horrores e da estupidez da guerra. Mesmo para aqueles que nunca ouviram falar desse evento, é difícil imaginar e não se questionar: isso realmente aconteceu? Sim, aconteceu! Durante aproximadamente 900 dias, a cidade foi cercada, e mais de um milhão de civis sucumbiram à fome, ao frio e ao próprio conflito. É angustiante pensar nas dificuldades que essas pessoas enfrentaram para sobreviver com o mínimo possível e nas terríveis escolhas que tiveram que fazer em meio ao caos.
Leningrado não é apenas uma lição de história, mas também um lembrete doloroso dos horrores da guerra. No entanto, é triste constatar que, apesar de todas essas lições, a humanidade continua cometendo as mesmas atrocidades, embora agora em nome do "terrorismo", "liberdade", "democracia" ou qualquer que seja a justificativa. A história parece se repetir, como se uma citação do filme Magnólia fosse apropriada: "Talvez já tenhamos passado pelo passado, mas o passado não passou por nós." A reflexão sobre esse ciclo interminável de violência e sofrimento é fundamental para buscarmos um futuro mais humano e pacífico.
Casa de Areia e Névoa
3.9 312Que filme depressivo, mas de grande valor!
O filme faz uma crítica interessante, destacando as consequências da ganância na vida das pessoas e fazendo uma analogia com a terceira lei de Newton, onde toda ação gera uma reação. No entanto, a falta de uma ação também pode gerar uma reação quando se trata de pessoas e sentimentos.
Kathy (Jennifer Connelly), uma mulher angustiada pela perda do casamento, não consegue encontrar equilíbrio em sua vida e só acorda para a situação quando está prestes a perder sua casa por falta de pagamento de impostos ou pela falta de busca por um acordo devido às dificuldades. Aqui, fica claro como somos tratados como meras mercadorias, onde, em qualquer país, se não pagarmos nossos impostos, o governo pode tomar o que é nosso por direito, em um verdadeiro assalto silencioso!
Behrani (Ben Kingsley) mantém as aparências a todo custo, mesmo estando completamente endividado. O orgulhoso não quer admitir que não terá mais o alto padrão de vida que um dia desfrutou. A aquisição da casa, a princípio, poderia indicar um amadurecimento do personagem para as coisas que realmente importavam, mas a ganância sempre presente o cega, e as consequências disso são terríveis. O conflito com a antiga moradora, agora sem teto, que deseja reaver sua casa, é comovente, mostrando dois lados de uma mesma moeda. Enquanto uns choram, outros desfrutam da tragédia dos que choram. Infelizmente, a sociedade está repleta de exemplos assim.
O final é angustiante; Behrani, ao ver o filho baleado, simplesmente abdica de tudo imediatamente. Somente nesse momento ele percebe o que é importante de fato, mas agora é tarde demais. Todas as chances foram dadas para que fosse diferente. O ato de matar sua mulher e suicidar-se é covarde, mas ao perceber que tudo o que perseguiu era apenas uma ilusão, uma névoa, algo nada concreto, tudo deixa de fazer sentido. Não há mais motivação com seu filho morto. Por fim, depois de tanta coisa e tanta luta, nem para Kathy faz sentido reaver a casa após tanta tragédia.
O filme é uma lição e tanto, embora seja uma história bastante decadente.
O Homem da Terra
4.0 454 Assista AgoraAnalisar "The Man from Earth" (O Homem da Terra) unicamente por parâmetros técnicos seria limitado; tentar desqualificá-lo por eventuais falhas é injusto. O conteúdo desse filme transcende qualquer crítica que possa surgir de uma análise fria, técnica e dogmática.
É relevante destacar que este filme é uma produção independente de baixíssimo custo. Rotular o roteiro como fraco ou as interpretações como "ruins" seria um equívoco tremendo. Seria como criticar "El Mariachi", de Robert Rodriguez, apontando falhas em uma obra feita na época com um orçamento de apenas 7 mil dólares e equipamentos mínimos. É simplesmente ilógico.
Estamos vivendo na era da informação, onde supostamente "sabemos" tudo e temos "certeza" sobre tudo, graças ao vasto conhecimento humano acessível em diversas áreas. No entanto, e se alguém fosse capaz de desafiar todo esse conhecimento, não negando-o, mas oferecendo uma nova perspectiva para aquilo que aprendemos até agora? Como as pessoas reagiriam? O filme traz esse debate à tona.
"The Man from Earth" nos mostra com simplicidade como seria e o quão difícil seria para alguém assimilar uma "verdade" que contradiz o que foi aprendido e estudado durante anos. Ele explora a dificuldade de admitir possibilidades que, embora lógicas, fogem totalmente da nossa compreensão inicial.
O protagonista, John (David Lee Smith), um homem das cavernas literalmente, levanta questionamentos incríveis sobre o nosso conceito de "verdade absoluta" e a distância entre essa realidade percebida e a "verdadeira verdade", devido às distorções que ocorrem na história ao longo do tempo.
O filme aborda o mito da caverna de Platão de uma forma diferente. Em vez de alguém ser retirado para ver o mundo real, como em "Matrix", por exemplo, temos um ser totalmente liberto que retorna à caverna para tentar "libertar" seus amigos. O que acontece é o espanto, a negação, a desqualificação e, em certo momento, ele é considerado louco por seus próprios amigos. Tentar libertar alguém das correntes, sair da caverna e ver a luz é algo extremamente difícil e assustador, e muitos preferem continuar observando as sombras, as projeções na parede da caverna, do que encarar a realidade.
O filme trata "apenas" disso!
O Informante
3.8 244Dos filmes de Michael Mann que tive a oportunidade de assistir, considero este o melhor. O conteúdo desse filme é extraordinário, ao mostrar de maneira clara como os interesses da indústria, neste caso a do tabaco, enganaram e omitiram informações sobre os malefícios do cigarro durante décadas. Além disso, evidencia a força do controle de informações que essas empresas exerciam, por meio de lobby, e o desenvolvimento de fórmulas específicas para viciar os consumidores ainda mais rapidamente, tudo isso sob o pretexto de que a nicotina não causava dependência. Basicamente, estamos todos sujeitos a algo semelhante nos dias de hoje: o consumo crescente de produtos industrializados, cujo processo de fabricação muitas vezes desconhecemos por completo, levanta a questão das garantias sobre a veracidade das informações fornecidas.
A interpretação de Russell Crowe no papel de Jeffrey Wigand é angustiante, retratando um homem comum lutando para fazer o que é certo e expor os podres de uma indústria poderosa. No entanto, ele se vê pressionado e coagido de todos os lados, com sua vida, carreira e família em risco caso insista em seu objetivo. Al Pacino (Lowell Bergman) aparece em parte do filme de forma discreta, mas quando seu personagem se destaca, é excepcional, demonstrando toda a credibilidade de um jornalista que é jogada no lixo devido a interesses econômicos. O filme aborda a corrupção da mídia para ocultar fatos e a luta desse jornalista para manter seus princípios éticos no meio dessa sujeira é verdadeiramente memorável.
Embora a imprensa, em geral, se orgulhe de sua imparcialidade e se considere detentora da verdade, ou pelo menos em busca dela, a realidade é que, quando há poder envolvido, tudo pode acontecer. Portanto, nunca é demais permanecer vigilante em relação a tudo que nos cerca. "O Informante" (The Insider) oferece uma crítica poderosa e um conteúdo incrível, dignos de serem vistos e revistos, especialmente em uma era marcada pela desinformação e manipulação.
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraApesar de o filme ter um apelo religioso que, em muitos momentos, chega a ser grotesco e as cenas de ação à la Dragon Ball, como já foi dito por alguém aqui, ficaram estranhas. Mas esse Superman é muito interessante. Os primeiros 20 minutos em Krypton foram sensacionais; o filme explica com detalhes toda a origem do Super-Homem e os significados de sua roupa, o porquê de sua força aqui na terra. É impossível alguém dizer que não entendeu a história e os porquês.
O tom meio sombrio dado por Zack Snyder também ficou muito bom, mostrando os conflitos e as descobertas do 'super-boy', a questão da humanidade não estar preparada para uma verdade, no caso de que não estamos sozinhos no universo, quase que uma crítica indireta ao fato de termos a mente 'pequena' ou obscurecida para aceitação do novo, já que algo assim mudaria toda nossa noção sobre muitas coisas. Mas tudo isso, infelizmente, fica implícito, mascarado por toda ação que há no filme, mas ainda sim muito válido esse "O Homem de Aço (Man of Steel)".
Nas Garras do Tigre
3.2 90 Assista AgoraA retórica da trama ao expor a luta de uma garota e seu meio-irmão com o padrasto é interessante, trazendo elementos naturais, como o dilema de deixar o irmão autista em uma clínica para que a protagonista possa ir para a faculdade e seguir sua vida, apesar do vazio deixado pela morte da mãe.
Apesar do sentimento fraterno em relação ao seu irmão, é um fardo pesado para ela, pois precisa escolher entre a família (seu único irmão dependente) ou largar tudo para ter um "futuro". Isso por si só já poderia resultar em uma ótima história.
O padrasto, desde o início, demonstra ser oportunista, ganancioso e sem caráter, e ao longo do filme isso se confirma ainda mais, já que seus planos envolvem matar toda a sua família, começando pela própria mulher, e depois sua enteada e filho, pelo dinheiro.
Mas onde o tigre se encaixa nisso tudo? A tentativa de "demonizar" e fazer dele o vilão, chegando a ser chamado de Lúcifer em um momento, é simplesmente absurda. Tentar justificar a ideia oportunista do padrasto dessa maneira é grotesco. É terrível ver essas representações no cinema para qualquer pessoa que respeita ou gosta de animais. Apesar de ser um animal selvagem e caçador por natureza, acaba-se criando uma ideia deturpada e falsa sobre ele, dependendo dos olhos de quem vê. Isso já aconteceu com tubarões devido ao filme "Tubarão" de 1975 de Spielberg, e com orcas devido ao filme "Orca, a Baleia Assassina" de 1977 de Michael Anderson, entre outros.
Voltando para a trama, mais precisamente, ver um tigre derrubando portas, quase como um ser "racional", é chamar muita gente de idiota. Esse sentimento de caça e caçador dentro de uma casa é antinatural e desinteressante. Bastava remover o tigre para termos um drama muito mais interessante e reflexivo!
Eles Vivem
3.7 731 Assista Agora"Eles Vivem" é um filme simples e divertido, mas com uma grande capacidade de nos fazer questionar sobre aspectos do nosso cotidiano e, de certa forma, nos alertar sobre como podemos estar sendo condicionados pelas informações que recebemos. Isso ocorre devido à nossa vida de certa forma robotizada e automatizada, o que nos torna propensos a seguir e obedecer à ordem preestabelecida, aos padrões, à moda, e a ser controlados pela propaganda, sem questionar as coisas.
Quem assiste a "Eles Vivem" e compra a ideia de que podemos ter seres inteligentes de outros planetas entre nós está cometendo um erro. A alusão que o filme faz a isso é brilhante, pois a ideia é mostrar que os "ETs" na verdade são as instituições, os governos e as grandes corporações em que confiamos, os quais nos controlam através da propaganda. Com isso, o filme mostra que a busca pela verdade é simples, mas está profundamente maquiada para que nós não a vejamos. A sacada dos óculos foi genial; quanto mais se usa, mais a cabeça dói, o que é uma clara afirmação de que a verdade não é confortável para quem não está acostumado com ela. Mais tarde, no filme "Matrix", há algo semelhante em um diálogo entre Neo (Keanu Reeves) e Morpheus (Laurence Fishburne), onde Neo, logo após acordar do mundo da Matrix, pergunta: "Por que meus olhos doem?" e Morpheus responde: "Porque você nunca os usou".
E por que as coisas ficam em preto e branco? Outra sacada interessante, já que a verdade é simples, não se precisa de múltiplas cores e nitidez para vê-la e compreendê-la. Muitas vezes, não são necessárias milhares de páginas de livros ou milhares de palavras em revistas para explicar ou entender algo.
Por sua simplicidade, criatividade e profundidade, "Eles Vivem" se torna tão único e genial."
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
4.3 5,0K Assista AgoraA fotografia desse filme é um espetáculo, bem colorido; todas as cenas, praticamente, têm um excesso de cor representando a personalidade da protagonista isso chama a atenção logo nos primeiros momentos. A trilha sonora, em várias cenas, também é bastante marcante e condizente com a proposta do filme. Cada personagem tem uma peculiaridade, uma excentricidade, que nos mantém atentos.
A trama principal, centrada em Amélie Poulain (Audrey Tautou), é muito interessante, abordando temas comuns. De início, nota-se como nossa educação às vezes nos torna diferentes, até "estranhos" em algumas situações. A falta de afeto dos pais perante Amélie a torna reclusa e distante na idade adulta. Ela prefere idealizar coisas apenas em sua mente, um ideal de perfeição, mas apenas para sua mente, o que a torna um tanto infantil e medrosa para determinadas situações. Isso reflete a realidade para muitas pessoas. Outro ponto muito interessante é quando ela encontra alguém parecido com ela de alguma forma, alguém que de fato poderia preenchê-la e fazê-la feliz. Ela também sente a necessidade de fazer alguém feliz. Mas aí surge uma questão excepcional: quando surge tal oportunidade, como perder o medo por, às vezes, se sentir inseguro(a) consigo mesmo(a) e viver algo intensamente? Essa questão permeia nosso cotidiano, afetando uns mais do que outros. A indecisão dela perante isso é muito interessante, e a forma como isso é demonstrado também, na maior parte do tempo, na pura inocência.
Um diálogo interessantíssimo é quando ela decide ir atrás daquela paixão quase platônica que já estava vivendo, onde seu vizinho diz: "Você não tem ossos de vidro; pode suportar os baques da vida. E se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto." Achei brilhante esse diálogo no finalzinho, pois representa algo muito real. Quantas vezes as pessoas não desistem de algo por medo ou mera insegurança e, com o tempo, deixam de acreditar nelas mesmas, tornando-se secas e quebradiças. É possível ter uma grande reflexão em um filme como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain".
Invictus
3.8 805 Assista AgoraO filme é uma obra magnífica que aborda temas poderosos como o perdão e a união em uma nação dividida pelo regime segregacionista do Apartheid. Após 27 anos de prisão Mandela se revela um líder extraordinário, personificando a capacidade de perdoar e unir, na busca em transcender as divisões raciais e unir brancos e negros em prol de um ideal comum. Este filme serve como uma lição moral, mostrando a importância do perdão e da reconciliação para a cura de feridas históricas profundas.
A utilização do esporte como instrumento de união e inspiração é outro aspecto marcante do filme. Mandela reconhece o poder unificador do rugby e o utiliza como uma ferramenta para unir a nação, independentemente das diferenças passadas. Esta abordagem contrasta fortemente com a comercialização excessiva do esporte na sociedade contemporânea, onde muitas vezes é reduzido a um mero entretenimento voltado para o lucro. "Invictus" nos lembra do potencial transformador do esporte quando utilizado para promover causas nobres e justas, oferecendo uma visão inspiradora de como ele pode impactar positivamente a vida das pessoas e unir comunidades.
Valsa com Bashir
4.2 305 Assista AgoraEstá animação é uma obra marcante que aborda de forma corajosa e bela os horrores da guerra no Líbano entre 1982 e 1985, especialmente os massacres terríveis cometidos contra civis. A animação se destaca não apenas pela sua qualidade técnica, impressionante dado o seu orçamento, mas também pela sua crítica social e reflexão profunda sobre os impactos psicológicos da guerra nos soldados e nas pessoas em geral.
O filme expõe de maneira vívida como a violência e o trauma da guerra deixam marcas impagáveis nas vidas das pessoas, tanto a curto quanto a longo prazo. Através de uma narrativa envolvente, somos levados a refletir sobre a natureza devastadora do conflito armado e suas consequências desumanas sobre as vítimas e agressores.
Um dos aspectos mais impressionantes do filme é a sua transição das animações para imagens reais no final, que têm um impacto visceral e nos confrontam diretamente com a crueldade e a brutalidade dos eventos retratados. Essas imagens autênticas nos forçam a sair de nossa zona de conforto e nos lembram da terrível realidade por trás da ficção, despertando em nós um profundo senso de indignação e tristeza diante da barbárie humana.
"Valsa com Bashir" é uma animação poderosa uma obra de arte que nos lembra da necessidade de compreender e confrontar os horrores da guerra.
Elefante
3.6 1,2K Assista Agora"Elefante" é uma obra corajosa, não só pela sua abordagem não convencional, mas também por se recusar a seguir o padrão hollywoodiano de buscar sentido ou explicação para o inexplicável.
O massacre de Columbine é um evento emblemático que gerou espanto, comoção e muitos debates, especialmente sobre o controle de armas de fogo, conforme evidenciado no documentário "Tiros em Columbine" de Michael Moore. Gus Van Sant conduz "Elefante" de maneira simples, retratando um dia comum em uma escola americana, sem tentar estabelecer vínculos emocionais específicos com os personagens. A ausência de trilha sonora em muitos momentos e os diálogos vazios refletem claramente a monotonia do cotidiano, levantando a questão: o que pode ser considerado especial em meio à rotina?
A escolha de uma narrativa não linear nos faz questionar quem será o responsável pelo massacre. Gus Van Sant opta por não traçar perfis psicológicos ou explicar os atos dos jovens envolvidos. A frieza dos diálogos e a robotização das conversas sugerem uma tentativa de criticar ou explicar o massacre: será que uma maior proximidade entre alunos, família e escola poderia ter evitado essa tragédia? Essa é uma questão complexa e difícil de responder.
A qualidade de "Elefante" reside na sua simplicidade. O filme não romantiza o massacre e não se rende aos clichês de Hollywood ao contar essa história. Ele consegue ser reflexivo sem perder sua autenticidade.
A Caixa
2.5 2,0KÉ interessante notar alguns comentários sobre "A Caixa", principalmente daqueles que não conseguiram entender ou nem mesmo tentaram.
Realmente, o filme é desafiador de assimilar certas coisas de imediato. Logo após a conclusão da visualização, fiquei bastante confuso, mas posteriormente refleti sobre algumas questões e consegui chegar a um ponto de vista interessante e simples.
Um aspecto notável em "A Caixa" é a abordagem das consequências de uma escolha, ou a incapacidade de enxergar além dela, e como a pressão financeira muitas vezes nos leva a tomar decisões sem considerar suas implicações futuras. Inicialmente, a vida financeira do casal estava estável até Arthur Lewis (James Marsden) perder o emprego. Com a possibilidade iminente de dificuldades financeiras, surge uma oportunidade aparentemente irresistível: apertar um botão em troca de um milhão de dólares. No entanto, o custo é a vida de um desconhecido. A profundidade dessa escolha e a aceitação de suas consequências futuras são exploradas de forma perspicaz. Mesmo quando Arthur procura respostas para o improvável, ele luta contra o peso da culpa, incapaz de admitir a possibilidade de ter causado a morte de alguém. No entanto, é tarde demais para voltar atrás, e suas tentativas de investigação podem ter resultados devastadores, já que as regras antes de apertar o botão foram claramente estabelecidas. Essa narrativa nos leva a um mundo de possibilidades surreais, desafiando nossas percepções e sensações habituais. O filme destaca como uma escolha equivocada pode transformar nosso mundo em um caos, onde tudo é incerto e até os mais íntegros podem ser corrompidos pela tentação do poder e do dinheiro.
A consequência final da escolha de Norma Lewis (Cameron Diaz) e Arthur Lewis foi um preço alto e brutal: ela precisou morrer pelas mãos do marido para que um ser inocente, o filho deles, pudesse ter uma chance de ter uma vida normal.
Uma observação intrigante feita pelo personagem Arlington Steward (Frank Langella) é sua esperança de que eles não tivessem apertado o botão, sugerindo subliminarmente que tudo era um teste para a moralidade das pessoas comuns. Essa reflexão nos convida a questionar nossa própria integridade diante das tentações que enfrentamos.
"A Caixa" representa um filme desafiador que requer uma análise mais profunda e expansiva para ser compreendido completamente.
Bobby Fischer Against the World
4.2 14É um documentário notável que vai muito além do jogo de Xadrez para explorar a vida tumultuada e complexa de Bobby Fischer. O filme mergulha na mente desse gênio enxadrista, revelando os conflitos internos e pessoais que o atormentavam ao longo de sua vida. Enquanto o Xadrez serve quase como pano de fundo, é a jornada emocional e psicológica de Fischer que realmente cativa. Sua luta com seu ego, a fama e a solidão é apresentada de forma comovente e provocativa, oferecendo uma visão íntima de um homem cuja genialidade era ao mesmo tempo sua bênção e sua maldição. Este documentário é uma obrigação para qualquer pessoa interessada na mente humana e na complexidade da fama, e é especialmente impactante para os enxadristas, que podem encontrar paralelos intrigantes entre a vida de Fischer e seu próprio relacionamento com o jogo.
Lincoln
3.5 1,5K"Lincoln" oferece uma visão envolvente do esforço de um homem em liderança, imerso em uma jornada para concretizar seus ideais de justiça em meio a um período tumultuado da história dos Estados Unidos. Embora o filme possa às vezes cair em um certo sentimentalismo patriótico, não se pode negar a sua capacidade de retratar os desafios enfrentados por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil e o processo de abolição da escravidão. Daniel Day-Lewis entrega uma performance excepcional ao encarnar Lincoln, transmitindo sua profundidade emocional e convicção política de forma magistral. Sua atuação é o ponto central do filme, elevando-o além das questões técnicas. "Lincoln" não apenas nos convida a refletir sobre os eventos históricos cruciais da época, mas também sobre os valores e ideais que continuam a moldar a sociedade americana até os dias de hoje.
O Homem de Palha
4.0 483 Assista Agora"O Homem de Palha" é um espetáculo que mergulha nas profundezas do fanatismo religioso e na dificuldade de aceitar o que é diferente. O filme expõe de forma impactante os conflitos gerados pelo choque cultural e religioso quando nos deparamos com algo novo e estranho.
Por meio do personagem do sargento Howie (Edward Woodward), somos confrontados com a ideia da verdade absoluta e como ela pode cegar indivíduos, impedindo-os de aceitar e conviver com as diferenças. Howie é um exemplo claro dessa cegueira, incapaz de compreender e respeitar as tradições do povo da ilha, enraizadas em uma crença pagã há muito tempo banida dos costumes.
Por outro lado, os habitantes da ilha também estão presos em suas próprias crenças, a ponto de cometerem assassinato em nome delas. Essa atitude não pode ser respeitada ou aceita, independentemente da tradição religiosa. No entanto, o filme destaca o valor que esses habitantes atribuem à comunidade, à natureza e ao simples, colocando em questão o que realmente importa na vida: não o poder ou o dinheiro, mas sim as necessidades básicas e a harmonia com o ambiente ao seu redor.
"O Homem de Palha" oferece uma reflexão profunda sobre a natureza humana, os limites da tolerância e os perigos do fanatismo religioso. É um filme que nos desafia a questionar nossas próprias crenças e preconceitos, lembrando-nos da importância de buscar a compreensão e o respeito mútuo, mesmo diante das diferenças mais profundas.