PRAYERS FOR BOBBY Direção: Russell Mulcahy Ano: 2009 Assistido em: 28/04/2024
Esse filme foi particularmente muito difícil de assistir, tanto que ele estava a mais de 8 anos no meu HD, e nunca tive coragem de encarar, o motivo? Simples! Por já saber da história, eu sempre me identifiquei muito com o Bobby, também sou filho de uma pessoa extremamente religiosa, permanentemente intransigente, e também sou homossexual, então, muito do que o Bobby sofreu, eu também sofri em uma escala diferente, e por isso foi um sofrimento muito muito grande acompanhar essa história.
Bobby é o filho perfeito de uma família extremamente bem estruturada, que acredita no pleno potencial dele para ser um grande homem na sua vida adulta. Entretanto, Bobby se vê como uma grande farsa, por ser homossexual, ele teme profundamente desapontar sua família e ir contra os desígnios de Deus. Bobby tem tantos questionamentos que sua vida será levada a um ponto sem retorno causado por uma forte depressão, sofrimento e problemas com auto aceitação.
Sou agnóstico, mas creio sim que Jesus Cristo existiu, só não creio na sua divindade. O mais importante legado de Jesus para mim, foi sua mensagem de amor, de compaixão, mas infelizmente esse belo ensinamento foi distorcido ao longo de séculos por pessoas que utilizavam da ingenuidade, medo e ignorância de muitos para manipular as massas ao seu bel prazer. É surreal acreditar que ainda existem pessoas que levam pensamentos de dois mil anos, completamente antiquados, de uma crença que surgiu em um contexto completamente diferente do atual, a ferro e fogo, como se fosse lei absoluta, somente para justificar seus preconceitos. Eu ouvi muito dentro da minha própria casa que homossexualidade era uma abominação, que fazia Jesus chorar, entre outras coisinhas, enfim, sei muito bem o que o Bobby passou. Infelizmente não posso julgá-lo por sua atitude desesperada, graças a um árduo trabalho e muita dedicação, consegui me livrar dessa lavagem cerebral imposta pela religião da minha mãe (que fui obrigado a seguir até meus 16 anos), e hoje eu estou livre disso, dessa pressão de me sentir errado, de me sentir culpado, pecador, me libertei desse mal, mas infelizmente muitos Bobbys não tem essa oportunidade, muitos ainda se sentem responsáveis, porque é só isso que eles escutam sair da boca daqueles que os dizem amar.
Sobre a personagem Mary, eu tenho uma opinião muito polêmica sobre ela, muitos acham que o que ela fez foi muito bonito, ao dedicar sua vida na luta pelos direitos LGBT, mas não seria muito mais bonito se o sentimento que a levou a essa luta não tivesse sido o amor pelo seu filho, ao invés do remorso por ter falhado com ele?! Ok, ela fez muito pela causa gay, mas não fez o mínimo por aquele que ela pôs no mundo e deveria ter amado incondicionalmente. Creio que a morte do filho foi uma punição suficiente para ela, mas isso não apaga o fato dela ter sido sim, uma das principais responsável por levar o Bobby a um ponto sem retorno. Portanto, jamais vou passar pano e enaltecer o trabalho de alguém que só se moveu, só se posicionou por culpa. No final, ela nunca esteve lá para quem mais precisou dela.
Sobre o filme, Sigourney Weaver é um espetáculo de atriz, ela estava tão maravilhosa que consegue nos fazer sentir todos os sentimentos que aquela personagem estava vivenciando, da mesma forma Ryan Kelley também estava maravilhoso, nos fazendo sofrer toda a angústia do pobre do Bobby. É uma tristeza que esse filme tenha sido produzido para televisão, uma história tão poderosa, tão triste, mas ao mesmo tempo tão necessária merecia o cinema, merecia um maior reconhecimento.
Após chorar uns bons minutos após o final, o sentimento que fica é o de preocupação, pelos muitos Bobbys que existem por aí, vítimas daqueles que deveriam protegê-los, sentindo na pele dentro de casa o descaso, o preconceito, o ódio, se sentindo menores, se sentindo inferiores, se sentindo presos, acuados e errados, e o mais doloroso é que isso vem daqueles que deveriam amá-los acima de qualquer coisa. É lamentável saber que preconceito, que crenças religiosas, são maiores do que o dito “sentimento mais forte de todos” que na teoria deveria ser o amor de um pai por um filho.
CITY HUNTER Direção: Yûichi Satô Ano: 2024 Assistido em: 28/04/2024
Conheci City Hunter em uma matéria da extinta revista Henshin lá pelos idos dos anos 2000. Entretanto, naquela época não tive a oportunidade de assistir, eram outros tempos, o acesso que a internet proporciona hoje em dia não era tão grande naquela época, e com o tempo, o interesse foi esfriando, e passados todos esses anos, nunca tive oportunidade de conferir, mas quando a Netflix anunciou que faria um filme baseado em City Hunter, tive a certeza absoluta que seria por ele a minha entrada nesse universo.
Ryo é um detetive particular nada convencional que usa todos os seus talentos das formas mais absurdas possível. Quando seu parceiro Hideyuki é morto durante uma importante investigação, caberá a ele com auxílio de Kaori, irmã mais jovem de Hideyuki, descobrir uma perigosa trama que está colocando os jovens de Tóquio em grande risco.
Não sou nenhum defensor de adaptações para live actions de mangás, as páginas possuem elementos e características muito particulares, que não funcionam bem com humanos fazendo, e para piorar os estúdios forçam demais, nada parece natural, soa como se fosse algo surreal, e eu senti muito disso em City Hunter. A personalidade do Ryo pelo que eu já li sobre essa franquia, é algo muito peculiar, ele é esse brincalhão, mulherengo, sem vergonha, que parece irresponsável, mas é excelente em seu trabalho, e por mais que tenham mantido todas essas características no roteiro, ficou estranho demais um homem de carne e osso agindo exatamente igual a um personagem de mangá/anime. Outro detalhe a chamar atenção é que o mangá foi publicado originalmente na década de 1980, ele tem um estética oitentista, que aqui tentaram recriar, só que a história não se passa nas anos 80, deixamos tudo muito esquisito, se queriam uma pegada anacronica, não conseguiram.
O elenco é bom, com destaque a Ryohei Suzuki que conseguiu dar muita leveza e descompromisso nos momentos que o Ryo pedia, mas ao mesmo tempo que conseguiu transmitir a seriedade quando necessário, infelizmente não posso dizer o mesmo do resto dos atores que estão bem esquecíveis em seus papeis. A direção conseguiu recriar excelentes cenas tal qual foram idealizadas, mas infelizmente o roteiro poderia ser mais caprichado.
City Hunter está longe de ser um desastre como são a maioria esmagadora das adaptações em live-action de animes e mangás, mas também não consegue sair do mediano, ele tem aquela aura de filme da Netflix, e infelizmente filmes da Netflix tem um quê de qualidade duvidosa. uma energia de filme de segunda mão, cinema B, que nos anos 1990/2000 eram direcionados direto para home video, mesmo sendo uma entrada divertida, que serve para despertar o interesse do público com relação ao universo de City Hunter, como cinema, bem que poderiam fazer algo um pouquinho melhor.
Eu não tenho praticamente nenhum preconceito cinéfilo, tirando o gênero de romance que não sou muito fã, assisto praticamente tudo, basta eu ler uma sinopse que julgue minimamente interessante, ou ver um elenco com ao menos um ator que eu gosto, que pronto, já é o suficiente para me cativar e conquistar minha atenção. Mas nesse processo eu acabo sendo atraído por muita coisa ruim, e só me dou conta disso quando já estou assistindo, e aí me obrigo a ir até o fim, e cá estou para mais um desses exemplos.
Na Londres de 1997, Steven Stelfox é um produtor musical em busca de seu próximo grande sucesso em um cenário dominado por boybands e grupos de gêneros que ele não gosta. Em meio, a muita drogas Stelfox vai ultrapassando todos os limites para sobreviver nesse mundo tão competitivo, mesmo que isso signifique matar pessoas próximas a ele.
Quando li sobre Kill Your Friends imediatamente me interessei, sou fã do Nicholas Hoult, amo comédias de humor negro, e fiquei extremamente animado com ambientação nos anos 90 e o tema proposto, afinal de contas o cenário musical naquele período era um caldeirão efervescente, e isso poderia render uma grande história, entretanto aqui, a soma dos diversos elementos não resultaram em algo positivo, Nicholas é desperdiçado, de comédia o filme não tem nada, e a localização no tempo e espaço é indiferente ao que a se propõe.
Com o roteiro profundamente desinteressante, o roteirista não sabe o que quer nos contar, o filme é classificado como uma comédia e um suspense, entretanto não é engraçado e muito menos nos deixa tensos o suficiente para querer saber o que vai acontecer a seguir, tem suas reviravoltas, uma surpresa aqui e outra acolá, mas não há nada que salve o resultado final de ser anêmico, capenga, sem vitalidade, sonolento e desinteressante.
Totalmente decepcionante, Kill Your Friends é um enorme desperdício, seja de elenco, de ideia, e até de orçamento, quantos filmes não poderiam ter sido produzidos com esse dinheiro?! Talvez em mãos mais capazes essa mesma história poderia ter rendido algo mais memorável. No final, a única certeza que tenho é que daqui alguns dias, quando eu olhar a lista de filmes que já assisti, vou me assustar quando me deparar com esse título, porque ele já foi rapidamente deletado da minha cabeça assim que os créditos começaram a subir.
LES TROIS MOUSQUETAIRES: MILADY Direção: Martin Bourboulon Ano: 2023 Assistido em: 27/04/2024
Um dos filmes que mais me impressionou no ano passado foi a primeira parte dessa duologia sobre Os Três Mosqueteiros. Como fã devoto do Alexandre Dumas, fiquei encantado em ver um projeto que respeitava a história sem fazer nenhuma alteração estúpida, e ainda mais falado em francês, a língua original dessa história. Logo minha expectativa para essa segunda parte estava nas alturas, mas como o cinema de minha cidade nunca traz nada que não seja blockbuster americano, tive que esperar ansiosamente ele ser disponibilizado em algum streaming, e infelizmente sou obrigado a admitir que Milady é inferior a D’Artagnan.
Após terem conseguido salvar o rei Louis XIII de um atentado, os mosqueteiros correm contra o tempo para impedir a conspiração que pretende levar a França a uma guerra civil. Ao mesmo tempo, D’Artagnan tenta salvar a sua amada Constance enquanto entra em confronto direto com a perigosa Milady de Winter sem saber que essa mulher esconde segredos muito mais obscuros do que ele poderia imaginar.
No quesito técnico Milady segue à risca tudo o que anterior tinha estabelecido, o design de produção é absurdo, os figurinos são lindíssimos, os cenários são ótimos, a trilha sonora é empolgante, a fotografia é muito bonita, enfim é um filme onde o capricho dos realizadores é palpável, bem superior à maioria das produções artificiais de hoje em dia, entretanto os problemas apresentados na primeira parte, foram acentuados nesta segunda.
O ponto que mais me incomodou em D'Artagnan sem sombra de dúvida foi a edição, o ritmo do filme não era bom, mas agora olhando para Milady, começo a achar que fui injusto com a primeira parte, porque o que lá era apenas um problema pontual, aqui se tornou uma senhora dor de cabeça. As cenas parecem completamente desconexas é como se uma sequência pulasse para o outra sem que exista coerência entre elas, sei que o livro é imenso, tem muita história paralelas, mas uma boa edição e montagem poderiam resolver essa situação, deixando o filme orgânico, o que não dá é o D’Artagnan em uma cena está preocupado com a Constance, e na outra nem lembrar que ela existe. O que salva Martin Bourboulon é o ótimo elenco que aliado com os grandes personagens do Dumas conseguem conquistar nossa atenção e interesse. E para agravar ainda mais a situação, aqui os roteiristas se entregaram aos invencionismos, criados situações inexistentes nos livros e deixando o final em aberto, sem saber se haverá possibilidade de um terceiro título.
Como esses dois longas não foram grandes sucessos de bilheteria, a possibilidade do terceiro título está em aberto, isso é uma tristeza, e espero muito que seja aprovado, mas espero ainda mais que voltem a focar nas histórias escritas pelo Dumas, mesmo assim, creio que foi uma irresponsabilidade imensa por parte dos produtores em finalizarem a história da maneira como foi feito, sem um novo filme a vista. Pelo menos ainda temos para este ano uma nova adaptação de O Conde de Monte Cristo, e que como já disse em outros comentários, esse é meu livro favorito da vida, então as minhas expectativas estão ainda mais altas do que as que eu tinha para Os Três Mosqueteiros, e só espero que o padrão de qualidade permanece e o respeito a obra mãe e a fidelidade AUMENTEM. O mundo precisa redescobrir porque o Dumas é um dos maiores autores de todos os tempos e o porquê de suas obras fazerem tanto sucesso quase 200 anos após os lançamentos originais.
O grande desafio de toda pessoa LGBT é a aceitação, e não apenas dos outros, como família e amigos, mas a aceitação interna, você se reconhecer e se assumir tanto quanto a sua orientação sexual quanto a sua identificação de gênero é algo complexo. Como um homem gay, sei o quão difícil é se aceitar antes de qualquer coisa, mas as pessoas trans têm uma dificuldade muito maior, porque não consigo nem imaginar como deve ser horrível se olhar no espelho e não aceitar a imagem que está sendo refletida.
Bree é uma mulher trans que está fazendo preparativos para sua operação de transição de gênero. Quando ela finalmente consegue seu almejado sonho, seu mundo vira de cabeça para baixo ao descobrir que ela teve um filho, e que a mãe do garoto cometeu suicídio deixando uma adolescente de 17 anos completamente desorientada no mundo. Caberá a Bree ir em busca desse filho sem revelar para ele que ela na realidade é seu pai biológico.
Transamerica é uma mistura de diversos tipos de filmes em um só, temos o drama sobre a dificuldade de um pai se conectar com filho, temos o road movie com uma dupla incomum viajando estrada afora à medida que vão se conhecendo melhor, e temos um filme LGBT que discute as dificuldades de uma pessoa trans e gay ser aceita pela sociedade, mas essa salada que poderia ocasionar em um filme desastroso, é bem organizada pelo diretor/roteirista Duncan Tucker, que sabe orientar todos os temas propostos sem que nenhum apague o outro e sem que o roteiro descambe agressivamente para um lado, mantendo o equilíbrio na produção como um todo.
Apesar de hoje em dia não ser politicamente correto uma mulher interpretar uma mulher trans, em 2005, ninguém dava a mínima para isso, independente da polêmica ou não, o que é inegável é que a Felicity Huffman está impecável no papel de Bree, ela consegue transmitir o medo, a angústia e os receios da personagem, e nos faz torcer para que tudo dê certo na vida dela. De igual modo, Kevin Zegers também se destaca como o problemático Toby, ambos têm muita química, e funcionam bem em cena, é muito bonito ver como eles se ajustaram e aprenderam a se aceitar mesmo diante das incompatibilidades.
Transamerica é um filme à frente do seu tempo, talvez hoje ele tivesse um impacto muito maior do que há 19 anos atrás, inegavelmente estava na vanguarda, um filme que levantou discussões em uma época em que a sociedade ainda era muito mais resistente do que é hoje em dia. E é disso que precisamos, de produções que tenham o atrevimento de discutir tabus, de incomodar a sociedade, porque só assim nós vamos conseguir combater preconceitos e pensamentos retrógrados, para quem sabe um dia conseguimos evoluir para um momento em que nenhuma pessoa tenha que se sentir acuada por simplesmente querer ser quem ela verdadeiramente é
UNITED 93 Direção: Paul Greengrass Ano: 2006 Assistido em: 21/04/2024
O dia 11 de setembro de 2001 foi daqueles que parou o planeta, o poderoso Estados Unidos estava sendo atacado dentro de casa, isso não era visto há uns 60 anos mais ou menos, sendo a última vez em Pearl Harbor. E quem teria coragem de atacar o mais poderoso país do mundo em seu próprio território?! Demorou um tempo para entendermos o que foi aquele atentado terrorista, e mais ainda para compreendermos quais eram os planos originais da Al-Qaeda. Hoje sabemos que eram quatro aviões sequestrados, entretanto, apenas três atingiram seus objetivos, e United 93 chega com a proposta de nos mostrar de uma maneira fictícia, o que teria ocorrido dentro daquele voo naquela manhã de terça-feira.
O que seria um voo simples entre Newark e São Francisco, logo se torna um verdadeiro pesadelo quando membros do grupo terrorista da Al-Qaeda sequestram o voo. Desesperados, os passageiros tentam de todas as formas impedir que os criminosos completem seu plano, que era usar o avião para atacar uma instituição do governo americano.
Eu não sou muito fã do Paul Greengrass, ele tem um estilo de direção que me incomoda demais, ele sempre pega histórias recentes e faz o filme mais frio e sem graça possível. Esse é o terceiro trabalho dele no qual vejo os mesmos problemas, estamos diante de uma situação desesperadora, mas é simplesmente impossível você se importar com os personagens porque o diretor não se dedica a desenvolver ninguém. Tudo que ocorre dentro do avião é ficção, mas do lado de fora é realidade, então ao invés de desenvolver aquelas pessoas que estão ali dentro, ele passa a primeira hora de filme nos mostrando a sala de controle aéreo norte-americano, todo mundo desorientado, igual um bando de barata tonta perdido em meio aos ataques iniciais. Entendo a importância de contextualizar, de mostrar o caos que estava acontecendo naquele dia, mas você não precisa de uma hora de nomes e números de avião em verde em uma tela, mostrando a rota de um lado para o outro. Isso é extremamente sem graça, foi extremamente chato, de forma que quantos os personagens no interior do avião estavam em risco, eu não estava nem aí para ninguém, porque simplesmente era impossível me importar com alguém ali dentro.
Com roteiro fraquíssimo, o diretor abusa dos seus vícios já conhecidos, ele não consegue (ou não sabe) fazer uma cena de plano aberto, é tudo fechado, tudo com close na cara das pessoas, com um trimilique irritante de câmera, enfim, os personagens não tem nenhum grande intérprete que se destaque, a trilha sonora é apagada, resumindo Greengrass pega uma história que tinha tudo para ser excelente e faz de qualquer jeito.
United 93 tinha tudo para ser um clássico, mas por culpa das manias de seu diretor acaba se tornando algo completamente descartável. Aquele ano marcava 5 anos da tragédia, e curiosamente, sabe-se lá porque raios Hollywood decidiu lançar dois filmes sobre o evento, este sobre o voo 93, e World Trade Center (2006) de Oliver Stone que retratava dois bombeiros que ficaram presos nos escombros das Torres, ambos extremamente superficiais, ambos extremamente sem graça, ambos sem conseguir demonstrar nem 1% do impacto que aquele dia teve, do choque, do horror, no final eles apenas deram a impressão de que tudo que Hollywood queria era se aproveitar que a carnificina ainda estava fresca na cabeça do povo americano e do mundo, e assim lançar qualquer coisa para ganhar dinheiro em cima.
Me recordo que quando esse filme foi lançado em 2009, ele causou bastante burburinho. Particularmente nunca quis assisti-lo, o motivo? Simples, já sabia toda a sua história, já que meus colegas do cursinho do pré-vestibular tinham contado toda trama e suas reviravoltas, logo perdi o interesse. Mas passado mais de uma década, escutando um podcast, fiquei sabendo do caso da menina Natalia Grace, que é muito similar com esse filme, bom similar até a página dois, então, decidi que era a hora de ir atrás do filme.
Após o trauma de perder um filho, o casal John e Kate decidem adotar uma nova criança. No orfanato, eles conhecem uma pequena Esther, uma garota vinda da Rússia que aparentemente era o perfeito encaixe para a vaga em aberto naquela família. Porém, não demora nada para Kate perceber que esta não é uma garotinha normal de 9 anos como ela dizia ser. Só que Kate não poderia imaginar, é que toda sua família está em grave perigo.
Eu amo thrillers, é meu gênero favorito, entretanto confesso que é muito fácil eles apelarem para o absurdo, ao ponto de beirar o ridículo. Consigo aceitar plenamente uma adulta com distúrbio hormonal se passando por uma garotinha de 9 anos, mas eu não consigo aceitar o quão fácil ela consegue manipular um casal de adultos, e amedrontar um adolescente com seus 13 anos mais ou menos. Todo mundo ali é tão inocente, tão puro e tão bonzinho, que Esther facilmente consegue direcioná-los para onde ela bem entende, e outra, mesmo sendo uma mulher de 33 anos, o corpo dela não é de um adulto, e mesmo assim ela consegue prodígios absurdos, ela mata pessoas com uma facilidade assustadora, parece até que são bonecas, enfim, não são detalhes que prejudiquem totalmente o filme, mais fazem com que a suspensão da descrença vá para as cucuias.
Orphan é protagonizado pelos excelentes Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, e Isabelle Fuhrman, que estava muito bem, ela conseguiu me fazer acreditar em determinados momentos no teatro da sua personagem. Entretanto a direção de Jaume Collet-Serra é a mesma, e até estranho perceber que mesmo passados 15 anos ele continua com os mesmos vícios, aqui ele fica o tempo todo criando jumpscares vagabundos, forçando uma atmosfera pouco natural, você sente a quilômetros que determinadas cena não vão dar em nada, e só estão ali para encher linguiça. Outro incômodo é o roteiro, que termina completamente aberto, não nos dando respostas sobre o real destino de alguns personagens, é de uma preguiça absurda por parte dos roteiristas que não se deram o trabalho de escrever uma conclusão satisfatória, ou quem sabe eles até fizeram, e o Collet-Serra que não filmou ou simplesmente cortou na edição final.
Produto de seu tempo, Orphan cheira a thrillers dos anos 2000, aqueles com psicopatas super inteligentes e mocinhos super burros que não enxergam um palmo na frente de seus narizes, facilitando bastante o trabalho dos vilões. Não é um filme revolucionário que vai marcar, ou entrar para a história, mas garante uma diversão momentânea graças a sua história mirabolantes que é feita para divertir e não necessariamente ser marcante.
PS: Eu no lugar da Kate teria curado a psicopatia dessa menina na base de tapa na primeira má resposta que ela me dava, ia fazer ela ficar mansinha em dois tempos.
THE SEARCHERS Direção: John Ford Ano: 1956 Assistido em: 20/04/2024
Ser considerado um dos melhores de todos os tempos coloca uma responsabilidade muito grande e até mesmo desnecessária em cima de alguns filmes, pois quando paramos para assistir queremos ver algo inacreditavelmente bom, completamente diferente dos demais, e por aí vai. Entretanto não é assim que as coisas funcionam, uma produção de 80/70 anos atrás não tem obrigação nenhuma de atender as expectativas que criamos em cima delas décadas depois. Durante anos escutei The Searchers era um dos melhores western de todos, e mesmo não sendo profundo admirador do gênero, cheguei aqui com expectativas demais, mas entretanto nem todas elas foram atendidas.
Nos Estados Unidos pós Guerra de Secessão, somos apresentados a Ethan, ex-militar que retorna a sua família. Entretanto, todo seu mundo vem abaixo quando seu irmão, cunhada e dois de seus sobrinhos são mortos em um ataque indígena. Ethan descobre que Debbie, sua sobrinha menor, estava viva e em poder dos indígenas, com ajuda de Martin, uma espécie de filho adotivo de seu irmão, ele embarca em uma jornada que duraria anos para encontrar sua sobrinha e vingar-se dos índios que mataram toda a sua família.
A dupla John Ford e John Wayne está entre as maiores e mais importantes da história do cinema, mas como disse anteriormente, não sou o maior amante de westerns, portanto é um gênero que eu não tenho muito conhecimento, mas esperava algo a mais vindo da dupla de ouro do cinema, algo diferente do comum, mas não, é o mesmo cowboy machão inveterado de sempre, o supra sumo do homem texano, republicano, o modelo-mor de todo redneck que combate os indígenas sanguinários, cujo maior crime foi terem nascido na terra que os americanos tanto queriam tomar. Mais um filme sobre a bravura do cowboy contra o indígena maligno, não que esses estereótipos formem um filme ruim, mas também não fazem dele especial.
Qualidades técnicas o filme tem de sobra, a direção do John Ford é excelente, com cenas belíssimas alinhadas a paisagens naturais que provam como CGI está longe de conseguir se igualar as belezas verdadeiras do nosso mundo. John Wayne é um bom ator, isso é inegável, entretanto seu personagem é extremamente chato, entendo perfeitamente que suas ações são justificáveis, entretanto Ethan é um personagem difícil de simpatizar, é muito mais fácil simpatizar com o co-protagonista, Martin, do excelente Jeffrey Hunter que estava ótimo no papel. Ainda completam o elenco Vera Miles é um papel bem ingrato, e Natalie Wood, lindíssima como sempre.
Longe de ser ruim, The Searchers não é o que eu esperava, imaginava que por ser um dos unanimemente reconhecidos como melhores de todos os tempos, ele apresentaria alguma diferença no quesito história, mas não, existem contemporâneos a ele que são mais interessantes, e subversivos. Mesmo bom, não consegui a conexão desejada, senti que para o nível dos envolvidos, o roteiro precisava ser mais elaborado.
Conheci a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett através dos novos títulos da franquia Pânico, e confesso que gostei do trabalho deles como diretores apesar de não ter caído de amores por esses últimos dois filmes, principalmente por conta de seus roteiros. Mas surpreendentemente os dois acabaram saindo da franquia antes de fazerem o sétimo episódio, o que se revelou um grande acerto da parte deles, já que a produção do mesmo virou o mais completo caos nos últimos meses, e não satisfeitos em sair, eles também trouxeram uma grande parte da equipe de realizadores junto com eles para essa empreitada, que a princípio, eu acreditava que era um remake de algum clássico de monstros da Universal Pictures, mas que se revelou uma reimaginação muito interessante de elementos utilizados no passado.
Quando um grupo misterioso de seis criminosos recebe a missão de sequestrar uma garotinha filha de um homem muito rico, eles acreditavam ser um trabalho simples, só que o que eles não imaginavam era a tremenda confusão que estavam se metendo. Além de não saberem que o pai de sua refém era um criminoso extremamente perigoso, eles não tinh a menor noção que a aparentemente doce menininha de 11 anos de idade, na realidade é uma vampira com séculos de existência e extremamente agressiva, perigosa e que gosta de brincar com a comida, e agora são eles que são os reféns do pequena filhote de Satanás.
Sempre fui apaixonado por comédias do terror as chamadas “terrir”, a mistura entre esses dois gêneros tão distantes é algo muito atraente, e funciona muito bem, entretanto é difícil encontrar boas histórias com essa pegada, porque é difícil equilibrar bem os dois lados, sem que um apague o outro, E para minha surpresa a dupla Bettinelli-Olpin e Gillett aqui estava bem melhor do que nas suas empreitadas da saga do Ghostface, seus personagens são mais carismáticos, e o elenco está bem confortável, o roteiro é o básico do básico, mas executado de uma maneira muito satisfatória. O filme não busca por grandes inovações, ele aposta no lugar comum, com um único cenário, um objetivo muito claro, gerando assim um bom resultado final.
Alisha Weir me surpreendeu como Abigail, ela consegue muito bem transitar entre a doçura infantil e a psicopatia de uma vampira secular, não sou maior fã da Melissa Barrera, mas aqui ela estava bem, por outro lado gosto muito do trabalho do Dan Stevens, e amo quando ele interpreta um vilão, e mesmo que seu personagem aqui não seja a grande ameaça, adoro quando ele tem um personagem brutal, me lembrou bastante o David de The Guest (2014), um dos melhores papéis da carreira dele. O restante do cast é composto por Kathryn Newton, Will Catlett, Kevin Durand, todos em personagens simples mas bem construídos, e também não podemos deixar de citar o recém falecido Angus Cloud em seu último trabalho, e o elo fraco da produção, Giancarlo Esposito, que deve estar com aluguel atrasado igual ao Seu Madruga, pois ele é grande demais para ter aceitado fazer um papel tão minúsculo, provavelmente deve está pagando algum favor aos executivos da Universal.
O problema do filme é que apesar de do roteiro ter personagens carismáticos, e bons atores os interpretando, o desenvolvimento dos mesmos é bem simplório. Tudo que sabemos sobre os criminosos ou sobre a própria Abigail é dito em linhas de diálogo, indo contra a máxima do cinema "não conte, mostre”, não teria nenhum problema se o corte final tivesse um pouco mais de tempo, talvez 15 a 20 minutos a mais que nos mostrasse um pouco de background tanto da vilã, quanto dos criminosos, nem que fosse dos dois personagens principais, Joey e Frank, mas mesmo assim a história consegue trazer muito mais detalhes sobre os personagem do que muito filminho famoso que por aí.
Abigail foi uma grata surpresa, queria assistir desde o anúncio porque, como disse, tinha a expectativa que fosse algo relacionado aos clássicos da Universal, mas quando revelaram que era uma comédia de terror, imediatamente me animei. Creio que a dupla de diretores tomou uma decisão muito sábia quando optou por deixar filmes de franquias de lado para se enveredar por algo um “pouquinho mais original” talvez esse seja o caminho correto para eles produzirem obras de maior qualidade.
LEGEND Direção: Brian Helgeland Ano: 2015 Assistido em: 14/04/2024
Certa vez lendo uma crítica, me deparei com uma frase cuja aplicação vejo em muitos e muitos filmes, e que que já repeti algumas vezes em meus comentários, a frase é a seguinte: “nem toda boa história, rende bons filmes”. Legend traz uma proposta bem interessante, nos mostrar como dois irmãos gêmeos membros da máfia inglesa tiveram uma vida bastante incomum na década de 1960, para melhorar ainda mais, o roteiro é baseado em uma história real, entretanto a execução dos envolvidos acabou entregando uma produção bem aquém das possibilidades.
Nos anos 1960, os irmãos Reggie e Ronnie Kray são gêmeos, porém bastante diferentes quanto a suas personalidades. Enquanto um tem sérios problemas psicológicos, o outro se vê sobrecarregado ao ser obrigado a assumir o controle das operações da família. Entretanto, eles estão na mira da polícia e de outras organizações criminosas rivais, e precisarão equilibrar essa vida arriscada de gangsters com suas conturbadas vidas pessoais.
O diretor Brian Helgeland não mediu esforços para executar a sua história de uma maneira convincente, ele recria os anos 60 de maneira bem realista, com bons cenários e figurinos, e temos sequências muito bem dirigidas. O elenco é primoroso com Tom Hardy brilhando como gêmeos idênticos fisicamente, mas bem diferentes emocionalmente, Emily Browning apresenta uma atuação bastante sensível, e o elenco de apoio também é repleto de estrelas como Christopher Eccleston, Paul Bettany, Colin Morgan, David Thewlis e Taron Egerton, resumindo Helgeland criou as circunstâncias perfeitas para nos entregar um grande filme de gângster, porém ele falhou no mais importante: na história.
Como bem disse o pessoal em comentários mais abaixo, a história começa do nada e termina em lugar nenhum, não existe uma boa introdução dos irmãos, nós não vemos nada de seu passado, eles apenas aparecem para nós como gêmeos mafiosos, do qual um tem sérios problemas psicológicos e o outro precisa se redobrar para proteger toda a sua operação. Fora isso, o filme não tem nenhuma grande história para ser contada, não tem nenhuma reviravolta e nenhum grande clímax, é como se pegassem um recorte aleatório da vida dos dois gangsters e decidiram levar para as telas, mas esse recorte foi o de uma semana comum e nada empolgante na vida dos gêmeos.
Legend tinha tudo para ser um clássico, mas é um filme fraco e vazio, inegavelmente tem seus valores principalmente na parte de produção e artística, mas é totalmente esquecível, nada marcante, e nem arranha o rodapé nas grandes produções sobre gangsters e sobre a máfia, que tanto são produzidas em Hollywood ao longo das décadas. Esse, por outro lado, é legitimamente frustrante, já que poderia render algo diferente para o gênero, com dois gêmeos criminosos como protagonistas, mas não foi nada além do mais do mesmo.
William Shakespeare sem sombra de dúvidas é o autor mais adaptado da história, isso é inquestionável. Entretanto, o que podemos questionar, e muito, é a qualidade das obras que adaptam suas histórias, já que à medida que temos clássicos, temos também aquelas que são bem aquém do que deveriam ser. Essa versão de Macbeth lançada em 2015 chegou com uma proposta bem ousada, adaptar a história utilizando o mesmo padrão de linguagem escrito por Shakespeare mais de 400 anos antes, porém o tiro aqui saiu pela culatra.
Após escutar a previsão de três bruxas que se tornaria rei, o general Macbeth repleto de ambição decide trair o rei da Escócia. Incitado por sua esposa, ele acaba cometendo regicídio e assumindo o trono. Entretanto, a corte do novo rei é repleta de maquinações, traições e manipulações, o que deixa um novo monarca completamente paranóico acerca de quem lhe quer mal, o levando a total tirania.
Esse foi o primeiro encontro do diretor Justin Kurzel com os atores Michael Fassbender e Marion Cotillard, eles se reencontraram um ano depois para fazer o assombroso Assassin's Creed (2016), que tive o desprazer de ter visto no cinema, mas enfim, minha expectativa é que essa produção apagasse o amargor que a outra havia deixado na minha boca, mas não foi isso que aconteceu. Apesar de possuir um valor de produção muito grande, fotografia, figurinos, cenários, maquiagens e atuações impecáveis, a decisão de manter um roteiro com um inglês arcaico acabou afastando o espectador ao invés de aproximar, por diversos momentos eu mal conseguia entender o que estava sendo dito, isso acabou me frustrando e por consequência fazendo com que minha atenção e interesse no filme se esvaziasse.
Macbeth é bonito, bem produzido com bastante capricho e esmero, o elenco é primoroso, como atores bem dedicados e com cenas de parecem pinturas de tão belas, tudo isso é inegável, mas em sua tentativa de soar diferente, o diretor e os três roteiristas acabaram por sacrificar uma oportunidade de entregar um filme mais acessível, resultando uma obra cansativa, arrastada, que não prende a atenção do público, e que não tem carisma, nunca assisti muitas produções sobre essa peça do Shakespeare em específico, mas creio que existem outras bem melhores por aí e com roteiros bem menos pedantes e enfadonhos.
Em linhas gerais, o grande sentimento que esse filme deixa é de frustração, porque ele não é de todo ruim, mas é muito decepcionante. Tinha absolutamente tudo para se tornar um clássico moderno, mas uma decisão mal calculada de seus realizadores, fez com que tudo acabasse passando batido. Tenho certeza que os professores de inglês clássico, ou estudantes de linguística, devem ter amado, eu particularmente não me enquadro nesse grupo e para mim simplesmente se tornou algo bem esquecível.
THE THIN RED LINE Direção: Terrence Malick Ano: 1998 Assistido em: 13/04/2024
E mais uma vez senti na pele que a frase “a expectativa é a mãe de todas as decepções” sempre está correta. Sou fascinado pela Segunda Guerra Mundial sempre adorei ler sobre o conflito e consumir os mais variados filmes e séries sobre episódios específicos desse período que mudou para sempre a nossa história, e por isso tinha muitas expectativas sobre esse projeto já que ele é muito cultuado, mas também tinha um receio muito grande sobre a forma como Terrence Malick iria contá-la, já que o estilo do diretor definitivamente não é para mim.
Em 1942, um batalhão americano chega à Ilha de Guadalcanal, um dos pontos mais estratégicos para o teatro de operações do Pacifico. Lá eles irão se deparar com os horrores da guerra, ao mesmo tempo que ficaram deslumbrados com a beleza natural do lugar.
Eu não sou cara de imagens bonitas com frases aleatórias sobre a vida, sobre a existência, sobre o universo e blá blá blá, gosto de roteiros com bastante diálogos, daqueles que fazem a narrativa andar, não me põe para assistir nada “introspectivo” ou que “desperte sensações” que não vai dar certo, não julgo quem goste, mas para mim não funciona. E a minha grande decepção, foi que cheguei esperando um grande filme sobre a chamada Operação Torre de Guarda, uma dos mais importantes conflitos da Batalha do Pacífico, mas nada disso é o ponto central, em muitas cenas diretor prefere tirar o som natural do espaço, para substituir por um voiceover repleto de frases que parecem ter saído de um livro de autoajuda. E para piorar os personagens não são bem trabalhados, por melhor que o elenco seja, todo mundo ali é descartável, não decorei o nome de absolutamente ninguém, pois nenhum tem desenvolvimento, não consegui simpatizar com nenhuma figura, e muito menos sentir suas mortes, já que o diretor prefere ficar mostrando paisagens ao som frases de efeito ao invés de trabalhar a história.
Além do fato de ter achado o roteiro raso, outro ponto bastante incômodo é a terrível edição, são 2h50min que parecem que tem o dobro de tempo. Mas apesar das muitas críticas que tenho, é impossível não reconhecer e elogiar a bela fotografia, a atuação do cast e principalmente a trilha sonora do Hans Zimmer, que é de longe uma das mais emblemáticas da carreira dele, e que não tem o reconhecimento que deveria, ela é tão incrível que em muitas cenas me serviu de âncora, não me deixando minha atenção dispersar, já que apenas as imagens não estavam surtindo efeito.
Sei que não é legal ficar comparando filmes mas é impossível não comparar The Thin Red Line com Saving Private Ryan (1998) já que ambos foram lançado no mesmo ano e inclusive disputaram o Oscar daquela temporada, e por mais que o filme do Spielberg também tenha seus problemas como, por exemplo, um patriotismo tão surreal que chega ser risível, como filme, ele é consegue ser muito mais marcante, curiosamente ambos têm a mesma duração, mas enquanto um é dinâmico e você nem sente o tempo passar, o outro é arrastado ao ponto de em muitos momentos chegar a ser tedioso. Esse é o segundo filme do Malick que assisto, e ainda tem alguns títulos dele que tenho a pretensão de assistir, mas ao ver a técnica do diretor, meu sinal de alerta foi a loucura, me avisando para me manter afastado.
PETER PAN Direção: P. J. Hogan Ano: 2003 Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
RAMPAGE Direção: William Friedkim Ano: 1987 Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS (FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN) Direção: Wuershan Ano: 2023 Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
BONNIE AND CLYDE Direção: Arthur Penn Ano: 1967 Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
PATTON Direção: Franklin J. Schaffner Ano: 1970 Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
GODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE Direção: Adam Wingard Ano: 2024 Assistido: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
BRING HIM TO ME Direção: Luke Sparke Ano: 2023 Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
ROAD HOUSE Direção: Doug Liman Ano: 2024 Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
LA VITA È BELLA Direção: Roberto Benigni Ano: 1997 Assistido: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
KUNG FU PANDA 4 Direção: Mike Mitchell Ano: 2024 Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
EX MACHINA Direção: Alex Garland Ano: 2014 Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Orações para Bobby
4.4 1,4KPRAYERS FOR BOBBY
Direção: Russell Mulcahy
Ano: 2009
Assistido em: 28/04/2024
Esse filme foi particularmente muito difícil de assistir, tanto que ele estava a mais de 8 anos no meu HD, e nunca tive coragem de encarar, o motivo? Simples! Por já saber da história, eu sempre me identifiquei muito com o Bobby, também sou filho de uma pessoa extremamente religiosa, permanentemente intransigente, e também sou homossexual, então, muito do que o Bobby sofreu, eu também sofri em uma escala diferente, e por isso foi um sofrimento muito muito grande acompanhar essa história.
Bobby é o filho perfeito de uma família extremamente bem estruturada, que acredita no pleno potencial dele para ser um grande homem na sua vida adulta. Entretanto, Bobby se vê como uma grande farsa, por ser homossexual, ele teme profundamente desapontar sua família e ir contra os desígnios de Deus. Bobby tem tantos questionamentos que sua vida será levada a um ponto sem retorno causado por uma forte depressão, sofrimento e problemas com auto aceitação.
Sou agnóstico, mas creio sim que Jesus Cristo existiu, só não creio na sua divindade. O mais importante legado de Jesus para mim, foi sua mensagem de amor, de compaixão, mas infelizmente esse belo ensinamento foi distorcido ao longo de séculos por pessoas que utilizavam da ingenuidade, medo e ignorância de muitos para manipular as massas ao seu bel prazer. É surreal acreditar que ainda existem pessoas que levam pensamentos de dois mil anos, completamente antiquados, de uma crença que surgiu em um contexto completamente diferente do atual, a ferro e fogo, como se fosse lei absoluta, somente para justificar seus preconceitos. Eu ouvi muito dentro da minha própria casa que homossexualidade era uma abominação, que fazia Jesus chorar, entre outras coisinhas, enfim, sei muito bem o que o Bobby passou. Infelizmente não posso julgá-lo por sua atitude desesperada, graças a um árduo trabalho e muita dedicação, consegui me livrar dessa lavagem cerebral imposta pela religião da minha mãe (que fui obrigado a seguir até meus 16 anos), e hoje eu estou livre disso, dessa pressão de me sentir errado, de me sentir culpado, pecador, me libertei desse mal, mas infelizmente muitos Bobbys não tem essa oportunidade, muitos ainda se sentem responsáveis, porque é só isso que eles escutam sair da boca daqueles que os dizem amar.
Sobre a personagem Mary, eu tenho uma opinião muito polêmica sobre ela, muitos acham que o que ela fez foi muito bonito, ao dedicar sua vida na luta pelos direitos LGBT, mas não seria muito mais bonito se o sentimento que a levou a essa luta não tivesse sido o amor pelo seu filho, ao invés do remorso por ter falhado com ele?! Ok, ela fez muito pela causa gay, mas não fez o mínimo por aquele que ela pôs no mundo e deveria ter amado incondicionalmente. Creio que a morte do filho foi uma punição suficiente para ela, mas isso não apaga o fato dela ter sido sim, uma das principais responsável por levar o Bobby a um ponto sem retorno. Portanto, jamais vou passar pano e enaltecer o trabalho de alguém que só se moveu, só se posicionou por culpa. No final, ela nunca esteve lá para quem mais precisou dela.
Sobre o filme, Sigourney Weaver é um espetáculo de atriz, ela estava tão maravilhosa que consegue nos fazer sentir todos os sentimentos que aquela personagem estava vivenciando, da mesma forma Ryan Kelley também estava maravilhoso, nos fazendo sofrer toda a angústia do pobre do Bobby. É uma tristeza que esse filme tenha sido produzido para televisão, uma história tão poderosa, tão triste, mas ao mesmo tempo tão necessária merecia o cinema, merecia um maior reconhecimento.
Após chorar uns bons minutos após o final, o sentimento que fica é o de preocupação, pelos muitos Bobbys que existem por aí, vítimas daqueles que deveriam protegê-los, sentindo na pele dentro de casa o descaso, o preconceito, o ódio, se sentindo menores, se sentindo inferiores, se sentindo presos, acuados e errados, e o mais doloroso é que isso vem daqueles que deveriam amá-los acima de qualquer coisa. É lamentável saber que preconceito, que crenças religiosas, são maiores do que o dito “sentimento mais forte de todos” que na teoria deveria ser o amor de um pai por um filho.
City Hunter
2.7 10 Assista AgoraCITY HUNTER
Direção: Yûichi Satô
Ano: 2024
Assistido em: 28/04/2024
Conheci City Hunter em uma matéria da extinta revista Henshin lá pelos idos dos anos 2000. Entretanto, naquela época não tive a oportunidade de assistir, eram outros tempos, o acesso que a internet proporciona hoje em dia não era tão grande naquela época, e com o tempo, o interesse foi esfriando, e passados todos esses anos, nunca tive oportunidade de conferir, mas quando a Netflix anunciou que faria um filme baseado em City Hunter, tive a certeza absoluta que seria por ele a minha entrada nesse universo.
Ryo é um detetive particular nada convencional que usa todos os seus talentos das formas mais absurdas possível. Quando seu parceiro Hideyuki é morto durante uma importante investigação, caberá a ele com auxílio de Kaori, irmã mais jovem de Hideyuki, descobrir uma perigosa trama que está colocando os jovens de Tóquio em grande risco.
Não sou nenhum defensor de adaptações para live actions de mangás, as páginas possuem elementos e características muito particulares, que não funcionam bem com humanos fazendo, e para piorar os estúdios forçam demais, nada parece natural, soa como se fosse algo surreal, e eu senti muito disso em City Hunter. A personalidade do Ryo pelo que eu já li sobre essa franquia, é algo muito peculiar, ele é esse brincalhão, mulherengo, sem vergonha, que parece irresponsável, mas é excelente em seu trabalho, e por mais que tenham mantido todas essas características no roteiro, ficou estranho demais um homem de carne e osso agindo exatamente igual a um personagem de mangá/anime. Outro detalhe a chamar atenção é que o mangá foi publicado originalmente na década de 1980, ele tem um estética oitentista, que aqui tentaram recriar, só que a história não se passa nas anos 80, deixamos tudo muito esquisito, se queriam uma pegada anacronica, não conseguiram.
O elenco é bom, com destaque a Ryohei Suzuki que conseguiu dar muita leveza e descompromisso nos momentos que o Ryo pedia, mas ao mesmo tempo que conseguiu transmitir a seriedade quando necessário, infelizmente não posso dizer o mesmo do resto dos atores que estão bem esquecíveis em seus papeis. A direção conseguiu recriar excelentes cenas tal qual foram idealizadas, mas infelizmente o roteiro poderia ser mais caprichado.
City Hunter está longe de ser um desastre como são a maioria esmagadora das adaptações em live-action de animes e mangás, mas também não consegue sair do mediano, ele tem aquela aura de filme da Netflix, e infelizmente filmes da Netflix tem um quê de qualidade duvidosa. uma energia de filme de segunda mão, cinema B, que nos anos 1990/2000 eram direcionados direto para home video, mesmo sendo uma entrada divertida, que serve para despertar o interesse do público com relação ao universo de City Hunter, como cinema, bem que poderiam fazer algo um pouquinho melhor.
Sucesso Acima de Tudo
3.1 39 Assista AgoraKILL YOUR FRIENDS
Direção: Owen Harris
Ano: 2015
Assistido em: 27/04/2024
Eu não tenho praticamente nenhum preconceito cinéfilo, tirando o gênero de romance que não sou muito fã, assisto praticamente tudo, basta eu ler uma sinopse que julgue minimamente interessante, ou ver um elenco com ao menos um ator que eu gosto, que pronto, já é o suficiente para me cativar e conquistar minha atenção. Mas nesse processo eu acabo sendo atraído por muita coisa ruim, e só me dou conta disso quando já estou assistindo, e aí me obrigo a ir até o fim, e cá estou para mais um desses exemplos.
Na Londres de 1997, Steven Stelfox é um produtor musical em busca de seu próximo grande sucesso em um cenário dominado por boybands e grupos de gêneros que ele não gosta. Em meio, a muita drogas Stelfox vai ultrapassando todos os limites para sobreviver nesse mundo tão competitivo, mesmo que isso signifique matar pessoas próximas a ele.
Quando li sobre Kill Your Friends imediatamente me interessei, sou fã do Nicholas Hoult, amo comédias de humor negro, e fiquei extremamente animado com ambientação nos anos 90 e o tema proposto, afinal de contas o cenário musical naquele período era um caldeirão efervescente, e isso poderia render uma grande história, entretanto aqui, a soma dos diversos elementos não resultaram em algo positivo, Nicholas é desperdiçado, de comédia o filme não tem nada, e a localização no tempo e espaço é indiferente ao que a se propõe.
Com o roteiro profundamente desinteressante, o roteirista não sabe o que quer nos contar, o filme é classificado como uma comédia e um suspense, entretanto não é engraçado e muito menos nos deixa tensos o suficiente para querer saber o que vai acontecer a seguir, tem suas reviravoltas, uma surpresa aqui e outra acolá, mas não há nada que salve o resultado final de ser anêmico, capenga, sem vitalidade, sonolento e desinteressante.
Totalmente decepcionante, Kill Your Friends é um enorme desperdício, seja de elenco, de ideia, e até de orçamento, quantos filmes não poderiam ter sido produzidos com esse dinheiro?! Talvez em mãos mais capazes essa mesma história poderia ter rendido algo mais memorável. No final, a única certeza que tenho é que daqui alguns dias, quando eu olhar a lista de filmes que já assisti, vou me assustar quando me deparar com esse título, porque ele já foi rapidamente deletado da minha cabeça assim que os créditos começaram a subir.
Os Três Mosqueteiros: Milady
3.3 19 Assista AgoraLES TROIS MOUSQUETAIRES: MILADY
Direção: Martin Bourboulon
Ano: 2023
Assistido em: 27/04/2024
Um dos filmes que mais me impressionou no ano passado foi a primeira parte dessa duologia sobre Os Três Mosqueteiros. Como fã devoto do Alexandre Dumas, fiquei encantado em ver um projeto que respeitava a história sem fazer nenhuma alteração estúpida, e ainda mais falado em francês, a língua original dessa história. Logo minha expectativa para essa segunda parte estava nas alturas, mas como o cinema de minha cidade nunca traz nada que não seja blockbuster americano, tive que esperar ansiosamente ele ser disponibilizado em algum streaming, e infelizmente sou obrigado a admitir que Milady é inferior a D’Artagnan.
Após terem conseguido salvar o rei Louis XIII de um atentado, os mosqueteiros correm contra o tempo para impedir a conspiração que pretende levar a França a uma guerra civil. Ao mesmo tempo, D’Artagnan tenta salvar a sua amada Constance enquanto entra em confronto direto com a perigosa Milady de Winter sem saber que essa mulher esconde segredos muito mais obscuros do que ele poderia imaginar.
No quesito técnico Milady segue à risca tudo o que anterior tinha estabelecido, o design de produção é absurdo, os figurinos são lindíssimos, os cenários são ótimos, a trilha sonora é empolgante, a fotografia é muito bonita, enfim é um filme onde o capricho dos realizadores é palpável, bem superior à maioria das produções artificiais de hoje em dia, entretanto os problemas apresentados na primeira parte, foram acentuados nesta segunda.
O ponto que mais me incomodou em D'Artagnan sem sombra de dúvida foi a edição, o ritmo do filme não era bom, mas agora olhando para Milady, começo a achar que fui injusto com a primeira parte, porque o que lá era apenas um problema pontual, aqui se tornou uma senhora dor de cabeça. As cenas parecem completamente desconexas é como se uma sequência pulasse para o outra sem que exista coerência entre elas, sei que o livro é imenso, tem muita história paralelas, mas uma boa edição e montagem poderiam resolver essa situação, deixando o filme orgânico, o que não dá é o D’Artagnan em uma cena está preocupado com a Constance, e na outra nem lembrar que ela existe. O que salva Martin Bourboulon é o ótimo elenco que aliado com os grandes personagens do Dumas conseguem conquistar nossa atenção e interesse. E para agravar ainda mais a situação, aqui os roteiristas se entregaram aos invencionismos, criados situações inexistentes nos livros e deixando o final em aberto, sem saber se haverá possibilidade de um terceiro título.
Como esses dois longas não foram grandes sucessos de bilheteria, a possibilidade do terceiro título está em aberto, isso é uma tristeza, e espero muito que seja aprovado, mas espero ainda mais que voltem a focar nas histórias escritas pelo Dumas, mesmo assim, creio que foi uma irresponsabilidade imensa por parte dos produtores em finalizarem a história da maneira como foi feito, sem um novo filme a vista. Pelo menos ainda temos para este ano uma nova adaptação de O Conde de Monte Cristo, e que como já disse em outros comentários, esse é meu livro favorito da vida, então as minhas expectativas estão ainda mais altas do que as que eu tinha para Os Três Mosqueteiros, e só espero que o padrão de qualidade permanece e o respeito a obra mãe e a fidelidade AUMENTEM. O mundo precisa redescobrir porque o Dumas é um dos maiores autores de todos os tempos e o porquê de suas obras fazerem tanto sucesso quase 200 anos após os lançamentos originais.
Transamerica
4.1 746 Assista AgoraTRANSAMERICA
Direção: Duncan Tucker
Ano: 2005
Assistido em: 21/04/2024
O grande desafio de toda pessoa LGBT é a aceitação, e não apenas dos outros, como família e amigos, mas a aceitação interna, você se reconhecer e se assumir tanto quanto a sua orientação sexual quanto a sua identificação de gênero é algo complexo. Como um homem gay, sei o quão difícil é se aceitar antes de qualquer coisa, mas as pessoas trans têm uma dificuldade muito maior, porque não consigo nem imaginar como deve ser horrível se olhar no espelho e não aceitar a imagem que está sendo refletida.
Bree é uma mulher trans que está fazendo preparativos para sua operação de transição de gênero. Quando ela finalmente consegue seu almejado sonho, seu mundo vira de cabeça para baixo ao descobrir que ela teve um filho, e que a mãe do garoto cometeu suicídio deixando uma adolescente de 17 anos completamente desorientada no mundo. Caberá a Bree ir em busca desse filho sem revelar para ele que ela na realidade é seu pai biológico.
Transamerica é uma mistura de diversos tipos de filmes em um só, temos o drama sobre a dificuldade de um pai se conectar com filho, temos o road movie com uma dupla incomum viajando estrada afora à medida que vão se conhecendo melhor, e temos um filme LGBT que discute as dificuldades de uma pessoa trans e gay ser aceita pela sociedade, mas essa salada que poderia ocasionar em um filme desastroso, é bem organizada pelo diretor/roteirista Duncan Tucker, que sabe orientar todos os temas propostos sem que nenhum apague o outro e sem que o roteiro descambe agressivamente para um lado, mantendo o equilíbrio na produção como um todo.
Apesar de hoje em dia não ser politicamente correto uma mulher interpretar uma mulher trans, em 2005, ninguém dava a mínima para isso, independente da polêmica ou não, o que é inegável é que a Felicity Huffman está impecável no papel de Bree, ela consegue transmitir o medo, a angústia e os receios da personagem, e nos faz torcer para que tudo dê certo na vida dela. De igual modo, Kevin Zegers também se destaca como o problemático Toby, ambos têm muita química, e funcionam bem em cena, é muito bonito ver como eles se ajustaram e aprenderam a se aceitar mesmo diante das incompatibilidades.
Transamerica é um filme à frente do seu tempo, talvez hoje ele tivesse um impacto muito maior do que há 19 anos atrás, inegavelmente estava na vanguarda, um filme que levantou discussões em uma época em que a sociedade ainda era muito mais resistente do que é hoje em dia. E é disso que precisamos, de produções que tenham o atrevimento de discutir tabus, de incomodar a sociedade, porque só assim nós vamos conseguir combater preconceitos e pensamentos retrógrados, para quem sabe um dia conseguimos evoluir para um momento em que nenhuma pessoa tenha que se sentir acuada por simplesmente querer ser quem ela verdadeiramente é
Vôo United 93
3.4 233 Assista AgoraUNITED 93
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2006
Assistido em: 21/04/2024
O dia 11 de setembro de 2001 foi daqueles que parou o planeta, o poderoso Estados Unidos estava sendo atacado dentro de casa, isso não era visto há uns 60 anos mais ou menos, sendo a última vez em Pearl Harbor. E quem teria coragem de atacar o mais poderoso país do mundo em seu próprio território?! Demorou um tempo para entendermos o que foi aquele atentado terrorista, e mais ainda para compreendermos quais eram os planos originais da Al-Qaeda. Hoje sabemos que eram quatro aviões sequestrados, entretanto, apenas três atingiram seus objetivos, e United 93 chega com a proposta de nos mostrar de uma maneira fictícia, o que teria ocorrido dentro daquele voo naquela manhã de terça-feira.
O que seria um voo simples entre Newark e São Francisco, logo se torna um verdadeiro pesadelo quando membros do grupo terrorista da Al-Qaeda sequestram o voo. Desesperados, os passageiros tentam de todas as formas impedir que os criminosos completem seu plano, que era usar o avião para atacar uma instituição do governo americano.
Eu não sou muito fã do Paul Greengrass, ele tem um estilo de direção que me incomoda demais, ele sempre pega histórias recentes e faz o filme mais frio e sem graça possível. Esse é o terceiro trabalho dele no qual vejo os mesmos problemas, estamos diante de uma situação desesperadora, mas é simplesmente impossível você se importar com os personagens porque o diretor não se dedica a desenvolver ninguém. Tudo que ocorre dentro do avião é ficção, mas do lado de fora é realidade, então ao invés de desenvolver aquelas pessoas que estão ali dentro, ele passa a primeira hora de filme nos mostrando a sala de controle aéreo norte-americano, todo mundo desorientado, igual um bando de barata tonta perdido em meio aos ataques iniciais. Entendo a importância de contextualizar, de mostrar o caos que estava acontecendo naquele dia, mas você não precisa de uma hora de nomes e números de avião em verde em uma tela, mostrando a rota de um lado para o outro. Isso é extremamente sem graça, foi extremamente chato, de forma que quantos os personagens no interior do avião estavam em risco, eu não estava nem aí para ninguém, porque simplesmente era impossível me importar com alguém ali dentro.
Com roteiro fraquíssimo, o diretor abusa dos seus vícios já conhecidos, ele não consegue (ou não sabe) fazer uma cena de plano aberto, é tudo fechado, tudo com close na cara das pessoas, com um trimilique irritante de câmera, enfim, os personagens não tem nenhum grande intérprete que se destaque, a trilha sonora é apagada, resumindo Greengrass pega uma história que tinha tudo para ser excelente e faz de qualquer jeito.
United 93 tinha tudo para ser um clássico, mas por culpa das manias de seu diretor acaba se tornando algo completamente descartável. Aquele ano marcava 5 anos da tragédia, e curiosamente, sabe-se lá porque raios Hollywood decidiu lançar dois filmes sobre o evento, este sobre o voo 93, e World Trade Center (2006) de Oliver Stone que retratava dois bombeiros que ficaram presos nos escombros das Torres, ambos extremamente superficiais, ambos extremamente sem graça, ambos sem conseguir demonstrar nem 1% do impacto que aquele dia teve, do choque, do horror, no final eles apenas deram a impressão de que tudo que Hollywood queria era se aproveitar que a carnificina ainda estava fresca na cabeça do povo americano e do mundo, e assim lançar qualquer coisa para ganhar dinheiro em cima.
A Órfã
3.6 3,4K Assista AgoraORPHAN
Direção: Jaume Collet-Serra
Ano: 2009
Assistido em: 20/04/2024
Me recordo que quando esse filme foi lançado em 2009, ele causou bastante burburinho. Particularmente nunca quis assisti-lo, o motivo? Simples, já sabia toda a sua história, já que meus colegas do cursinho do pré-vestibular tinham contado toda trama e suas reviravoltas, logo perdi o interesse. Mas passado mais de uma década, escutando um podcast, fiquei sabendo do caso da menina Natalia Grace, que é muito similar com esse filme, bom similar até a página dois, então, decidi que era a hora de ir atrás do filme.
Após o trauma de perder um filho, o casal John e Kate decidem adotar uma nova criança. No orfanato, eles conhecem uma pequena Esther, uma garota vinda da Rússia que aparentemente era o perfeito encaixe para a vaga em aberto naquela família. Porém, não demora nada para Kate perceber que esta não é uma garotinha normal de 9 anos como ela dizia ser. Só que Kate não poderia imaginar, é que toda sua família está em grave perigo.
Eu amo thrillers, é meu gênero favorito, entretanto confesso que é muito fácil eles apelarem para o absurdo, ao ponto de beirar o ridículo. Consigo aceitar plenamente uma adulta com distúrbio hormonal se passando por uma garotinha de 9 anos, mas eu não consigo aceitar o quão fácil ela consegue manipular um casal de adultos, e amedrontar um adolescente com seus 13 anos mais ou menos. Todo mundo ali é tão inocente, tão puro e tão bonzinho, que Esther facilmente consegue direcioná-los para onde ela bem entende, e outra, mesmo sendo uma mulher de 33 anos, o corpo dela não é de um adulto, e mesmo assim ela consegue prodígios absurdos, ela mata pessoas com uma facilidade assustadora, parece até que são bonecas, enfim, não são detalhes que prejudiquem totalmente o filme, mais fazem com que a suspensão da descrença vá para as cucuias.
Orphan é protagonizado pelos excelentes Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, e Isabelle Fuhrman, que estava muito bem, ela conseguiu me fazer acreditar em determinados momentos no teatro da sua personagem. Entretanto a direção de Jaume Collet-Serra é a mesma, e até estranho perceber que mesmo passados 15 anos ele continua com os mesmos vícios, aqui ele fica o tempo todo criando jumpscares vagabundos, forçando uma atmosfera pouco natural, você sente a quilômetros que determinadas cena não vão dar em nada, e só estão ali para encher linguiça. Outro incômodo é o roteiro, que termina completamente aberto, não nos dando respostas sobre o real destino de alguns personagens, é de uma preguiça absurda por parte dos roteiristas que não se deram o trabalho de escrever uma conclusão satisfatória, ou quem sabe eles até fizeram, e o Collet-Serra que não filmou ou simplesmente cortou na edição final.
Produto de seu tempo, Orphan cheira a thrillers dos anos 2000, aqueles com psicopatas super inteligentes e mocinhos super burros que não enxergam um palmo na frente de seus narizes, facilitando bastante o trabalho dos vilões. Não é um filme revolucionário que vai marcar, ou entrar para a história, mas garante uma diversão momentânea graças a sua história mirabolantes que é feita para divertir e não necessariamente ser marcante.
PS: Eu no lugar da Kate teria curado a psicopatia dessa menina na base de tapa na primeira má resposta que ela me dava, ia fazer ela ficar mansinha em dois tempos.
Rastros de Ódio
4.1 264 Assista AgoraTHE SEARCHERS
Direção: John Ford
Ano: 1956
Assistido em: 20/04/2024
Ser considerado um dos melhores de todos os tempos coloca uma responsabilidade muito grande e até mesmo desnecessária em cima de alguns filmes, pois quando paramos para assistir queremos ver algo inacreditavelmente bom, completamente diferente dos demais, e por aí vai. Entretanto não é assim que as coisas funcionam, uma produção de 80/70 anos atrás não tem obrigação nenhuma de atender as expectativas que criamos em cima delas décadas depois. Durante anos escutei The Searchers era um dos melhores western de todos, e mesmo não sendo profundo admirador do gênero, cheguei aqui com expectativas demais, mas entretanto nem todas elas foram atendidas.
Nos Estados Unidos pós Guerra de Secessão, somos apresentados a Ethan, ex-militar que retorna a sua família. Entretanto, todo seu mundo vem abaixo quando seu irmão, cunhada e dois de seus sobrinhos são mortos em um ataque indígena. Ethan descobre que Debbie, sua sobrinha menor, estava viva e em poder dos indígenas, com ajuda de Martin, uma espécie de filho adotivo de seu irmão, ele embarca em uma jornada que duraria anos para encontrar sua sobrinha e vingar-se dos índios que mataram toda a sua família.
A dupla John Ford e John Wayne está entre as maiores e mais importantes da história do cinema, mas como disse anteriormente, não sou o maior amante de westerns, portanto é um gênero que eu não tenho muito conhecimento, mas esperava algo a mais vindo da dupla de ouro do cinema, algo diferente do comum, mas não, é o mesmo cowboy machão inveterado de sempre, o supra sumo do homem texano, republicano, o modelo-mor de todo redneck que combate os indígenas sanguinários, cujo maior crime foi terem nascido na terra que os americanos tanto queriam tomar. Mais um filme sobre a bravura do cowboy contra o indígena maligno, não que esses estereótipos formem um filme ruim, mas também não fazem dele especial.
Qualidades técnicas o filme tem de sobra, a direção do John Ford é excelente, com cenas belíssimas alinhadas a paisagens naturais que provam como CGI está longe de conseguir se igualar as belezas verdadeiras do nosso mundo. John Wayne é um bom ator, isso é inegável, entretanto seu personagem é extremamente chato, entendo perfeitamente que suas ações são justificáveis, entretanto Ethan é um personagem difícil de simpatizar, é muito mais fácil simpatizar com o co-protagonista, Martin, do excelente Jeffrey Hunter que estava ótimo no papel. Ainda completam o elenco Vera Miles é um papel bem ingrato, e Natalie Wood, lindíssima como sempre.
Longe de ser ruim, The Searchers não é o que eu esperava, imaginava que por ser um dos unanimemente reconhecidos como melhores de todos os tempos, ele apresentaria alguma diferença no quesito história, mas não, existem contemporâneos a ele que são mais interessantes, e subversivos. Mesmo bom, não consegui a conexão desejada, senti que para o nível dos envolvidos, o roteiro precisava ser mais elaborado.
Abigail
3.3 52ABIGAIL
Direção: Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett
Ano: 2024
Assistido em: 19/04/2024
Conheci a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett através dos novos títulos da franquia Pânico, e confesso que gostei do trabalho deles como diretores apesar de não ter caído de amores por esses últimos dois filmes, principalmente por conta de seus roteiros. Mas surpreendentemente os dois acabaram saindo da franquia antes de fazerem o sétimo episódio, o que se revelou um grande acerto da parte deles, já que a produção do mesmo virou o mais completo caos nos últimos meses, e não satisfeitos em sair, eles também trouxeram uma grande parte da equipe de realizadores junto com eles para essa empreitada, que a princípio, eu acreditava que era um remake de algum clássico de monstros da Universal Pictures, mas que se revelou uma reimaginação muito interessante de elementos utilizados no passado.
Quando um grupo misterioso de seis criminosos recebe a missão de sequestrar uma garotinha filha de um homem muito rico, eles acreditavam ser um trabalho simples, só que o que eles não imaginavam era a tremenda confusão que estavam se metendo. Além de não saberem que o pai de sua refém era um criminoso extremamente perigoso, eles não tinh a menor noção que a aparentemente doce menininha de 11 anos de idade, na realidade é uma vampira com séculos de existência e extremamente agressiva, perigosa e que gosta de brincar com a comida, e agora são eles que são os reféns do pequena filhote de Satanás.
Sempre fui apaixonado por comédias do terror as chamadas “terrir”, a mistura entre esses dois gêneros tão distantes é algo muito atraente, e funciona muito bem, entretanto é difícil encontrar boas histórias com essa pegada, porque é difícil equilibrar bem os dois lados, sem que um apague o outro, E para minha surpresa a dupla Bettinelli-Olpin e Gillett aqui estava bem melhor do que nas suas empreitadas da saga do Ghostface, seus personagens são mais carismáticos, e o elenco está bem confortável, o roteiro é o básico do básico, mas executado de uma maneira muito satisfatória. O filme não busca por grandes inovações, ele aposta no lugar comum, com um único cenário, um objetivo muito claro, gerando assim um bom resultado final.
Alisha Weir me surpreendeu como Abigail, ela consegue muito bem transitar entre a doçura infantil e a psicopatia de uma vampira secular, não sou maior fã da Melissa Barrera, mas aqui ela estava bem, por outro lado gosto muito do trabalho do Dan Stevens, e amo quando ele interpreta um vilão, e mesmo que seu personagem aqui não seja a grande ameaça, adoro quando ele tem um personagem brutal, me lembrou bastante o David de The Guest (2014), um dos melhores papéis da carreira dele. O restante do cast é composto por Kathryn Newton, Will Catlett, Kevin Durand, todos em personagens simples mas bem construídos, e também não podemos deixar de citar o recém falecido Angus Cloud em seu último trabalho, e o elo fraco da produção, Giancarlo Esposito, que deve estar com aluguel atrasado igual ao Seu Madruga, pois ele é grande demais para ter aceitado fazer um papel tão minúsculo, provavelmente deve está pagando algum favor aos executivos da Universal.
O problema do filme é que apesar de do roteiro ter personagens carismáticos, e bons atores os interpretando, o desenvolvimento dos mesmos é bem simplório. Tudo que sabemos sobre os criminosos ou sobre a própria Abigail é dito em linhas de diálogo, indo contra a máxima do cinema "não conte, mostre”, não teria nenhum problema se o corte final tivesse um pouco mais de tempo, talvez 15 a 20 minutos a mais que nos mostrasse um pouco de background tanto da vilã, quanto dos criminosos, nem que fosse dos dois personagens principais, Joey e Frank, mas mesmo assim a história consegue trazer muito mais detalhes sobre os personagem do que muito filminho famoso que por aí.
Abigail foi uma grata surpresa, queria assistir desde o anúncio porque, como disse, tinha a expectativa que fosse algo relacionado aos clássicos da Universal, mas quando revelaram que era uma comédia de terror, imediatamente me animei. Creio que a dupla de diretores tomou uma decisão muito sábia quando optou por deixar filmes de franquias de lado para se enveredar por algo um “pouquinho mais original” talvez esse seja o caminho correto para eles produzirem obras de maior qualidade.
Lendas do Crime
3.3 183LEGEND
Direção: Brian Helgeland
Ano: 2015
Assistido em: 14/04/2024
Certa vez lendo uma crítica, me deparei com uma frase cuja aplicação vejo em muitos e muitos filmes, e que que já repeti algumas vezes em meus comentários, a frase é a seguinte: “nem toda boa história, rende bons filmes”. Legend traz uma proposta bem interessante, nos mostrar como dois irmãos gêmeos membros da máfia inglesa tiveram uma vida bastante incomum na década de 1960, para melhorar ainda mais, o roteiro é baseado em uma história real, entretanto a execução dos envolvidos acabou entregando uma produção bem aquém das possibilidades.
Nos anos 1960, os irmãos Reggie e Ronnie Kray são gêmeos, porém bastante diferentes quanto a suas personalidades. Enquanto um tem sérios problemas psicológicos, o outro se vê sobrecarregado ao ser obrigado a assumir o controle das operações da família. Entretanto, eles estão na mira da polícia e de outras organizações criminosas rivais, e precisarão equilibrar essa vida arriscada de gangsters com suas conturbadas vidas pessoais.
O diretor Brian Helgeland não mediu esforços para executar a sua história de uma maneira convincente, ele recria os anos 60 de maneira bem realista, com bons cenários e figurinos, e temos sequências muito bem dirigidas. O elenco é primoroso com Tom Hardy brilhando como gêmeos idênticos fisicamente, mas bem diferentes emocionalmente, Emily Browning apresenta uma atuação bastante sensível, e o elenco de apoio também é repleto de estrelas como Christopher Eccleston, Paul Bettany, Colin Morgan, David Thewlis e Taron Egerton, resumindo Helgeland criou as circunstâncias perfeitas para nos entregar um grande filme de gângster, porém ele falhou no mais importante: na história.
Como bem disse o pessoal em comentários mais abaixo, a história começa do nada e termina em lugar nenhum, não existe uma boa introdução dos irmãos, nós não vemos nada de seu passado, eles apenas aparecem para nós como gêmeos mafiosos, do qual um tem sérios problemas psicológicos e o outro precisa se redobrar para proteger toda a sua operação. Fora isso, o filme não tem nenhuma grande história para ser contada, não tem nenhuma reviravolta e nenhum grande clímax, é como se pegassem um recorte aleatório da vida dos dois gangsters e decidiram levar para as telas, mas esse recorte foi o de uma semana comum e nada empolgante na vida dos gêmeos.
Legend tinha tudo para ser um clássico, mas é um filme fraco e vazio, inegavelmente tem seus valores principalmente na parte de produção e artística, mas é totalmente esquecível, nada marcante, e nem arranha o rodapé nas grandes produções sobre gangsters e sobre a máfia, que tanto são produzidas em Hollywood ao longo das décadas. Esse, por outro lado, é legitimamente frustrante, já que poderia render algo diferente para o gênero, com dois gêmeos criminosos como protagonistas, mas não foi nada além do mais do mesmo.
Macbeth: Ambição e Guerra
3.5 382 Assista AgoraMACBETH
Direção: Justin Kurzel
Ano: 2015
Assistido em: 15/04/2024
William Shakespeare sem sombra de dúvidas é o autor mais adaptado da história, isso é inquestionável. Entretanto, o que podemos questionar, e muito, é a qualidade das obras que adaptam suas histórias, já que à medida que temos clássicos, temos também aquelas que são bem aquém do que deveriam ser. Essa versão de Macbeth lançada em 2015 chegou com uma proposta bem ousada, adaptar a história utilizando o mesmo padrão de linguagem escrito por Shakespeare mais de 400 anos antes, porém o tiro aqui saiu pela culatra.
Após escutar a previsão de três bruxas que se tornaria rei, o general Macbeth repleto de ambição decide trair o rei da Escócia. Incitado por sua esposa, ele acaba cometendo regicídio e assumindo o trono. Entretanto, a corte do novo rei é repleta de maquinações, traições e manipulações, o que deixa um novo monarca completamente paranóico acerca de quem lhe quer mal, o levando a total tirania.
Esse foi o primeiro encontro do diretor Justin Kurzel com os atores Michael Fassbender e Marion Cotillard, eles se reencontraram um ano depois para fazer o assombroso Assassin's Creed (2016), que tive o desprazer de ter visto no cinema, mas enfim, minha expectativa é que essa produção apagasse o amargor que a outra havia deixado na minha boca, mas não foi isso que aconteceu. Apesar de possuir um valor de produção muito grande, fotografia, figurinos, cenários, maquiagens e atuações impecáveis, a decisão de manter um roteiro com um inglês arcaico acabou afastando o espectador ao invés de aproximar, por diversos momentos eu mal conseguia entender o que estava sendo dito, isso acabou me frustrando e por consequência fazendo com que minha atenção e interesse no filme se esvaziasse.
Macbeth é bonito, bem produzido com bastante capricho e esmero, o elenco é primoroso, como atores bem dedicados e com cenas de parecem pinturas de tão belas, tudo isso é inegável, mas em sua tentativa de soar diferente, o diretor e os três roteiristas acabaram por sacrificar uma oportunidade de entregar um filme mais acessível, resultando uma obra cansativa, arrastada, que não prende a atenção do público, e que não tem carisma, nunca assisti muitas produções sobre essa peça do Shakespeare em específico, mas creio que existem outras bem melhores por aí e com roteiros bem menos pedantes e enfadonhos.
Em linhas gerais, o grande sentimento que esse filme deixa é de frustração, porque ele não é de todo ruim, mas é muito decepcionante. Tinha absolutamente tudo para se tornar um clássico moderno, mas uma decisão mal calculada de seus realizadores, fez com que tudo acabasse passando batido. Tenho certeza que os professores de inglês clássico, ou estudantes de linguística, devem ter amado, eu particularmente não me enquadro nesse grupo e para mim simplesmente se tornou algo bem esquecível.
Além da Linha Vermelha
3.9 382 Assista AgoraTHE THIN RED LINE
Direção: Terrence Malick
Ano: 1998
Assistido em: 13/04/2024
E mais uma vez senti na pele que a frase “a expectativa é a mãe de todas as decepções” sempre está correta. Sou fascinado pela Segunda Guerra Mundial sempre adorei ler sobre o conflito e consumir os mais variados filmes e séries sobre episódios específicos desse período que mudou para sempre a nossa história, e por isso tinha muitas expectativas sobre esse projeto já que ele é muito cultuado, mas também tinha um receio muito grande sobre a forma como Terrence Malick iria contá-la, já que o estilo do diretor definitivamente não é para mim.
Em 1942, um batalhão americano chega à Ilha de Guadalcanal, um dos pontos mais estratégicos para o teatro de operações do Pacifico. Lá eles irão se deparar com os horrores da guerra, ao mesmo tempo que ficaram deslumbrados com a beleza natural do lugar.
Eu não sou cara de imagens bonitas com frases aleatórias sobre a vida, sobre a existência, sobre o universo e blá blá blá, gosto de roteiros com bastante diálogos, daqueles que fazem a narrativa andar, não me põe para assistir nada “introspectivo” ou que “desperte sensações” que não vai dar certo, não julgo quem goste, mas para mim não funciona. E a minha grande decepção, foi que cheguei esperando um grande filme sobre a chamada Operação Torre de Guarda, uma dos mais importantes conflitos da Batalha do Pacífico, mas nada disso é o ponto central, em muitas cenas diretor prefere tirar o som natural do espaço, para substituir por um voiceover repleto de frases que parecem ter saído de um livro de autoajuda. E para piorar os personagens não são bem trabalhados, por melhor que o elenco seja, todo mundo ali é descartável, não decorei o nome de absolutamente ninguém, pois nenhum tem desenvolvimento, não consegui simpatizar com nenhuma figura, e muito menos sentir suas mortes, já que o diretor prefere ficar mostrando paisagens ao som frases de efeito ao invés de trabalhar a história.
Além do fato de ter achado o roteiro raso, outro ponto bastante incômodo é a terrível edição, são 2h50min que parecem que tem o dobro de tempo. Mas apesar das muitas críticas que tenho, é impossível não reconhecer e elogiar a bela fotografia, a atuação do cast e principalmente a trilha sonora do Hans Zimmer, que é de longe uma das mais emblemáticas da carreira dele, e que não tem o reconhecimento que deveria, ela é tão incrível que em muitas cenas me serviu de âncora, não me deixando minha atenção dispersar, já que apenas as imagens não estavam surtindo efeito.
Sei que não é legal ficar comparando filmes mas é impossível não comparar The Thin Red Line com Saving Private Ryan (1998) já que ambos foram lançado no mesmo ano e inclusive disputaram o Oscar daquela temporada, e por mais que o filme do Spielberg também tenha seus problemas como, por exemplo, um patriotismo tão surreal que chega ser risível, como filme, ele é consegue ser muito mais marcante, curiosamente ambos têm a mesma duração, mas enquanto um é dinâmico e você nem sente o tempo passar, o outro é arrastado ao ponto de em muitos momentos chegar a ser tedioso. Esse é o segundo filme do Malick que assisto, e ainda tem alguns títulos dele que tenho a pretensão de assistir, mas ao ver a técnica do diretor, meu sinal de alerta foi a loucura, me avisando para me manter afastado.
Peter Pan
3.5 495 Assista AgoraPETER PAN
Direção: P. J. Hogan
Ano: 2003
Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
Síndrome do Mal
2.9 8RAMPAGE
Direção: William Friedkim
Ano: 1987
Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
Creation of the Gods I: Kingdom of Storms
3.2 5CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS
(FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN)
Direção: Wuershan
Ano: 2023
Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraBONNIE AND CLYDE
Direção: Arthur Penn
Ano: 1967
Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista AgoraPATTON
Direção: Franklin J. Schaffner
Ano: 1970
Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
Godzilla e Kong: O Novo Império
3.2 105GODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE
Direção: Adam Wingard
Ano: 2024
Assistido: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
Bring Him to Me
3.3 1BRING HIM TO ME
Direção: Luke Sparke
Ano: 2023
Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
Matador de Aluguel
3.1 256 Assista AgoraROAD HOUSE
Direção: Doug Liman
Ano: 2024
Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraLA VITA È BELLA
Direção: Roberto Benigni
Ano: 1997
Assistido: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
Kung Fu Panda 4
3.0 50KUNG FU PANDA 4
Direção: Mike Mitchell
Ano: 2024
Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Última Parada 174
3.5 601ÚLTIMA PARADA 174
Direção: Bruno Barreto
Ano: 2008
Assistido em: 17/03/2024
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraEX MACHINA
Direção: Alex Garland
Ano: 2014
Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.