Guilherme

E tem algo mais agridoce que a idealização de um amor passado que não vingou? A pulguinha atrás da orelha que nos faz questionar os caminhos que a vida teria tomado se aquele relacionamento tivesse acontecido.

Por mais que o “fantasma do amor que não aconteceu” nos assombre, a vida quase sempre segue como está, adiante. O final do filme nos traz o nó na garganta pela doçura e pela nostalgia de algo que poderia ter sido diferente mas não foi. E isso é a vida real.

“If you leave something behind, you gain something, too”.

Um filme bonito, sensível. Em especial, me tocou quanto a relação entre Pietro e seu pai. Os desencontros que existem nas vidas de pessoas que se amam, como pai e filho, mas que não se compreendem no diálogo, nas vontades. Isso esteve presente na relação deles e me fez refletir, incomodado, por também me encontrar ali.

Que boa sorte de Bruno e Pietro em terem uma amizade tão genuína, uma conexão tão bonita. Amizade construída em partes por distância e solidão, mas também por muita lealdade e amor.

Não acho que a série irá agradar a quem apenas busca entretenimento para distrair. Digo isso pois para muitos dos diálogos é necessário sensibilidade, peito aberto para entender as camadas de cada personagem, em especial da Marianne. É incrível como, vendo de fora, o comportamento das personagens nos incomoda. E como temos dificuldade em entender as escolhas claramente ruins que elas tomam. Mas quando olhamos mais de perto, com empatia, conseguimos entender a profundidade dos traumas, da insegurança, de como os acontecimentos da “vida normal” afetam a maneira em como nos vemos e nos valoramos. É incrível perceber como as ações da Marianne adulta são consequências da vida da Marianne mais nova. É tão nítido que incomoda. Marianne me fez lembrar da frase do professor Mr. Anderson em The perks of being a wallflower: “we accept the love we think we deserve”. E quando somos moldados acreditando que merecemos pouco ou nada? O que receberemos, então? Acho que Marianne traz esta reflexão.