Talvez se os grandes diretores exclamam que trama não é o elemento mais importante de um filme e sim os personagens e as emoções que eles invocam, aqui temos uma aula. Jim Jarmusch é o responsável pela direção e roteiro de uma pequena obra-prima independente do ano de 2016. Acompanhamos Paterson (Adam Driver) durante uma semana, acordamos com ele em uma segunda-feira e assim acompanhamos o seu mundo particular. Ele é um motorista de ônibus de uma cidade pequena, também chamada Paterson, e fascinado por poesia. Em legendas brancas no canto superior da tela, vemos um simples homem recitando suas prosas do dia-a-dia. A narrativa é baseada em uma rotina comum, que é alterada por acontecimentos casuais. Todo dia ele acorda, olha seu relógio, beija Laura (Golshifteh Farahani) e vai trabalhar. Vemos ele dirigindo o ônibus e observando conversas casuais com um sorriso no rosto. No seu horário de almoço, senta, olha a cachoeira da cidade e escreve poemas, volta para casa, encontra a sua caixa de correios entortada e descobre que sua esposa tem algum novo projeto em sua hiperatividade latente (ele sempre a apoia) e em seguida saí com o seu Bulldog para passear, parando em um pequeno bar para conversar com Doc (Barry Shabaka), dono do bar, e beber uma caneca de chopp. Ele volta e acorda no dia seguinte, repetindo a sua rotina. O diretor parece se divertir com o filme, logo de início Laura cita que sonhou com gêmeos e a semana inteira Paterson vê diariamente pelo menos um casal de gêmeos. Laura é obcecada por preto e branco e a decoração da casa reflete essa obsessão, ela também sempre quer mudar alguma coisa, aprender guitarra, abrir um negócio, fazer um jantar diferente todo dia (gerando momentos hilários) e sempre apoia os poemas do marido, mesmo sem lê-los. Paterson é construído com perfeição por Adam Driver, no que considero a melhor performance de sua carreira, ele é um homem comum, retraído e de poucas palavras que vê beleza em coisas comuns sempre se divertindo com o ordinário. É romântico com sua esposa, apoia ela em absolutamente tudo e simplesmente leva a vida como muitas pessoas, um dia de cada vez. O ator consegue projetar os sonhos de Paterson sem nunca acreditar de fato que eles irão se concretizar, é tudo muito sutil e gera ao final uma explosão de empatia. Farahani também está adorável e em toda a sua esquisitice, temos um dos melhores casais dos últimos anos. Quadros de cachorros estranhos, gêmeos pela cidade, conversas sobre anarquismo, um ator tentando buscar o amor de sua vida de volta, conversas sobre poesia com uma garotinha e um japonês, ângulos engraçados e inusitados e diversas outras coisas fazem de costumes corriqueiros uma diversão por cada novo detalhe exposto na tela. Foi o longa-metragem mais encantador que vi no ano de 2016, é simplesmente sobre um homem comum, cheio de sonhos, é sobre o nada e tudo que o compõe. Apresenta um final pequeno, sutil, como o resto do filme, que é emocionante por abrir portas, por estabelecer o acaso, por fazer de cada dia único e mesmo em uma narrativa tão delicada, jorra sentimentos como uma cachoeira em um dia de sol.
Sala Verde é um ótimo exemplo de como se ater a convenções do gênero de terror ao mesmo tempo em que constrói elementos originais e marcantes. Escrito e Dirigido por Jeremy Saulnier, responsável pelo também ótimo Ruína Azul (2013), o longa acompanha uma banda de punk rock formada por jovens que tentam arranjar pequenos bicos para se sustentarem e manterem seus sonhos intactos. Através de um contato, eles são indicados para tocar em um clube neonazista. Vemos a aura do local, a podridão e principalmente raiva e energia em todos assistindo ao conserto da banda, que saí como esperado. A banda no camarim (um quarto) atrás do palco presencia por acaso um homicídio cometido por um dos membros do clube e após isso, eles se veem trancados enquanto os donos, liderados por Darcy (Patrick Stewart) tentam resolver a situação. A estrutura narrativa já foi vista antes em vários outros filmes, os vilões tentam eliminar os jovens para ocultar um crime. Todos os elementos clássicos de filme de terror estão lá, mas o que o roteiro consegue construir de forma extraordinária é o senso de realidade daquela subcultura dos nazistas. Os diálogos não são maquiavélicos, na verdade tudo é feito com certa frieza que se amarra na construção de mundo feita pelo diretor. É um filme bastante pequeno, mas que tecnicamente consegue entregar resultados magníficos. A cinematografia é sufocante dentro do quarto e invoca várias cores (principalmente o verde), o corredor visto pelo olho da porta apresenta uma perspectiva uma simetria perfeita e maximiza a presença dos vilões nos momentos de comunicação. A edição é ao mesmo tempo calma e frenética e consegue manipular perfeitamente as emoções do espetador, seja ao mostrar por um pouco mais de tempo um detalhe horroroso, ou por segurar momentos silenciosos por um bom tempo. Alton Yelchin (R.I.P.), está excelente como a figura mais contemplativa e amedrontada da banda e é através dele e de Imogen Poots, enérgica e segura de si, que o filme se resolve. Patrick Stewart está excelente como o vilão do filme, sempre frio e calculista. Porém, mesmo achando a performance muito boa, acredito que ele poderia ter sido mais marcante como personagem. Ele é ultraviolento, sufocante, dinâmico e um dos melhores filmes de terror de 2016 (Estreou em Cannes em 2015, porém sua distribuição foi feita em 2016) e contém algumas das imagens mais marcantes do ano (arrepio).
Steven Soderbergh e George Clooney. Em entrevista para o filme, Clooney disse: " Irresistível Paixão foi a primeira vez que eu tive uma palavra a dizer, e foi o primeiro bom roteiro que eu li onde eu simplesmente fui," É isso ". E mesmo que não tenha feito muito bem na bilheteria - foi um filme muito bom ". Aqui temos o primeiro filme da colaboração de longa data entre eles. Lançado em 1998, o filme é uma adaptação do livro de Elmore Leonard, autor responsável também pelo O Nome do Jogo (1995). Irresistível Paixão apresenta uma premissa básica. Jack Foley (George Clooney), um ladrão de bancos ao tentar escapar da prisão com a ajuda de seu parceiro de longa data, Buddy (Ving Rhames), se vê conectado com Karen Sisco (Jennifer Lopez), uma policial que simplesmente estava no lugar errado e na hora errada (Ou não). Temos também Glenn (Steve Zahn), um personagem hilário que parece não conseguir fazer nada certo e que não só ajuda no resgate de Jack, mas também possui informações sobre um milionário, Richard Ripley (Albert Brooks), e seus diamantes. Ao longo do filme vamos descobrindo através de flashbacks muito bem colocados pelo roteiro sobre a estadia de Jack na prisão. Lá estava também Maurice (Don Cheadle), ex boxeador profissional e também assaltante. No final de tudo, todos foram informados da existência dos diamantes e com todos soltos, começa a caçada pelo tão precioso prêmio. Do outro lado temos a caçada policial liderada pelo FBI e com a participação de Karen em busca de Jack. A premissa é simples o suficiente, mas o filme é muito mais do que isso. Em uma cena filmada com primor, Jack e Karen se veem presos em um porta malas de um carro enquanto ele tenta fugir da prisão. Filmada em tons fortes de vermelho - cor recorrente durante toda a projeção - os personagens se veem extremamente próximos e no que seria em uma situação normal tenso no mínimo, se estabelece uma grande tensão sexual entre os personagens através dos diálogos relaxantes, do ambiente fechado e principalmente da movimentação de close-ups nas mãos dos atores. Os dois se separam após esse contato inicial, mas a conexão foi estabelecida e eles não parar de pensar uns nos outros. A interpretação de Clooney é cheia de sarcasmo, classe e polida (ele aparentemente é o assaltante de bancos mais educado de todos os tempos) e Lopez exala sensualidade desde o início, mas de forma nenhuma se resume a isso, ela faz uma mulher independente, inteligente e que sabe lidar com qualquer marmanjo que queira fazer gracinhas com ela. Destaque também é o companheirismo de Jack e Buddy, sem nenhum melodrama nem declarações de amor bregas, eles confiam uns nos outros e isso faz com que sintamos empatia por eles. Don Cheadle está hilário como um mafioso que mesmo violento nunca consegue passar ameaça real. O roteiro é muito engraçado e cada personagem individualmente tem suas particularidades. A caracterização é muito bem-feita e nada é bem-humorado por ser bem humorado, tudo move a história pra frente, construindo uma narrativa dinâmica e divertidíssima. Recebeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado (muito merecida). A direção é marcada por vários freeze-frames e flashbacks e a edição é perfeita ao amarrar completamente os flashbacks e por fazer com que diálogos sejam desenvolvidos no presente apresentando imagens do futuro, gerando uma expectativa gradual no espectador. (Espere um restaurante de hotel surgir no filme). E também é perfeita ao estabelecer o timing cômico dos atores. Outros reconhecimentos que o filme recebeu foram: Foi eleito o melhor filme de 1998 pela associação de críticos dos Estados Unidos e a revista Entertainment Weekly elegeu o filme como o mais sexy de todos os tempos. Irresistível Paixão é uma comédia, um romance, um filme policial. Sua premissa é simples, mas têm um diretor maximizando e fazendo de um filme potencialmente comum uma obra-prima. Steven Soderbergh é o cara.
O Franco Atirador, constituí junto com os outros clássicos sobre a guerra do Vietnã: Apocalipse Now (1979), Platoon (1986), Nascido para Matar (1987), uma obra-prima cinematográfica que vai muito além dos horrores da batalha. Dirigido por Michael Cimino, a ideia do filme surgiu de um roteiro que ainda não havia sido produzido chamado “ The Man Who Came to Play “ por Louis Garfinkle e Quinn K. sobre Las Vegas e Roleta Russa. O produtor Michael Deeley contratou Cimino que, com Deric Washburn, reescreveu o roteiro, tomando os elementos de Roleta Russa e colocando-os na guerra do Vietnã. A produção custou mais de quinze milhões de dólares para ser feita e constantemente saía do orçamento - Esse detalhe seria importante na produção de O Portal do Paraíso (1980), também feita por Cimino, que se tornou um dos maiores fracassos de bilheteria da história, faturando apenas 3.5 milhões de dólares por um valor de produção de 44. O filme conta a história de dois amigos, Nick (Christopher Walken) e Michael (Robert De Niro) e Steven (John Savage), trabalhadores em uma fábrica de Clairton, Pennsylvania que irão servir os Estados Unidos na guerra do Vietnã. Estabelece por mais de uma hora as relações de amizade e amor entre o círculo de amigos e o quanto um significa para o outro. Mais importante, introduz a tensão entre Michael e Linda (Meryl Streep), namorada de Nick. Assim como o amor entre os amigos e os Hobbies (Caçar e beber, principalmente). Durante o casamento de Steven (Relembrando a cena inicial do Poderoso Chefão) o roteiro toma conta de amarrar todos os nós entre os personagens em uma atmosfera grandiosa e colorida. Nick pede Linda em casamento e ela aceita. Isso é a parte um. Em um corte de edição marcante, nós vemos no horror da guerra, os três amigos são sequestrados por vietnamitas e são torturados e forçados a jogar Roleta Russa (Jogo que consiste em colocar uma bala em um revolver e contar com a sorte para sobreviver). Somos transportados imediatamente de uma atmosfera de tranquilidade para uma de caos. Os amigos trabalham juntos para tentar escapar e assim a história do filme se torna mais complexa e dramática. Nick e Michael se perdem e Steven se machuca. Qualquer outro detalhe em relação a história seria atrapalhar a experiência de um novo espectador assistindo ao filme. Robert De Niro faz um homem íntegro e forte, mas com desejos escondidos que tornam seu personagem difícil. Ele é um homem bom que ama seus amigos e que ao mesmo tempo tem dificuldade de olha-los nos olhos. Christopher Walken, que ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel, interpreta brilhantemente um homem que lentamente perde sua sanidade mental em um local onde a loucura faz parte da sua terra e Meryl Streep, que foi indicada pela primeira vez ao Oscar pelo filme (ela acaba de receber sua vigésima indicação em 2017), constrói uma personagem amável, complexa, cheia de contradições e mistérios que nunca parece saber exatamente por que caminho seguir. O filme é grandioso, lotado de figurantes e planos abertos das montanhas dos Estados Unidos aos rios do Vietnã - sua câmera é sempre atenta as reações dos personagens e aos ambientes em que eles estão. O som do filme foi revolucionário em 1978, foi o primeiro a utilizar a tecnologia Dolby de redução de ruído, tornando as explosões, tiros e diálogos mais nítidos. O longa levou o Oscar de Melhor Som. Foi o grande vencedor do Oscar de 1979, ganhando Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante, Edição e Som e ainda foi um sucesso de bilheteria, faturando mais de 50 milhões de dólares. O Franco Atirador é uma obra-prima. É um filme que em nenhum momento subestima o espectador através de seu roteiro direto e sua edição violenta, nunca nos pegando pela mão durante a narrativa. É um estudo sobre amizade e amor e os conflitos nas relações humanas, sobre o horror de uma guerra desnecessária e recheado de momentos inesquecíveis. Você nunca mais vai olhar para um revolver da mesma forma.
O filme dirigido e escrito por Steven Spielberg foi lançado no mesmo ano que Star Wars (1977) e nesse trabalho o diretor ampliou o escopo dos efeitos especiais e práticos (que já haviam sido iniciados em Tubarão). Oferece muito mais perguntas do que respostas, nos em uma aventura divertida e engraçada que culmina em uma apoteose visual. Os últimos 10 minutos do filme não possuem diálogos expositivos, é complemente imersivo na música de John Williams e nos efeitos de luz e cores (O filme ganhou o Oscar de melhor fotografia) gerando uma experiência sensorial no espectador. É um filme corajoso, que estabelece premissas que são deixadas de lado e nos momentos de exposição visual, faz com que reflitamos sobre o universo e o quanto as nossas perguntas sempre vão ficar sem respostas. O show de cores é um espetáculo a parte e a ideia de estabelecer a música como linguagem de comunicação é brilhante. Novamente o diretor consegue esconder os mistérios durante o filme, criando suspense, e focando na construção de seus personagens. O que faz com que todas as resoluções finais sejam mais impactantes. A construção do arco do personagem de Richard Dreyfuss é a onde o filme passa a maior parte do seu tempo. É um roteiro inteligente que imputa no ator todas as dúvidas e perguntas dos espectadores e passamos a ver o mundo através do seu ponto de vista. E no fim, nós queremos entrar na nave assim como ele. Novamente, uma lição: Desenvolva seus personagens, eles entregam qualquer final de forma melhor.
O filme que revolucionou e praticamente criou o que se entende como filme Blockbuster - estreiou em 20 de junto de 1975. Na abertura do verão americano. Essa característica estabeleceu um padrão para Hollywood, tanto em estrutura (os filmes eventos) como em programação (o período entre o fim de maio e o início de agosto). Se tornou o filme com a maior bilheteria de todos os tempos até a estreia de Star Wars (1977) e pode-se argumentar que é o pai do sistema ainda em recorrência nos dias atuais. Filmes da Marvel, DC e o modelo de franquia, de evento, o tipo de filme que faz as pessoas fazerem filas quilométricas para assistir. O diretor Steven Spielberg com a sua estratégia de manter o tubarão fora da tela pela maior parte da tela aprendeu com os mestres do suspense - especialmente Hitchcock - a construir suspense. Todos os personagens apresentam motivações individuais para estarem ali e isso é muito marcante no roteiro de Peter Benchley e Carl Gottlieb, porque faz com que nos importemos não só com um, mas com três personagens ao mesmo tempo. A trilha-sonora de John Williams é uma das mais marcantes da história, construindo tensão e estabelecendo o ritmo do filme. Mal consigo imaginar como deve ter sido a experiência para quem teve a oportunidade de assisti-lo em 1975. Diferente de tudo que já havia sido feito anteriormente. Três personagens marcantes (Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss) e um tubarão. Steven Spielberg é um dos maiores diretores - senão o maior - da história e o tempo vem provando isso. E tudo começou em 1975. Ele criou os Blockbuster’s e os manteve vivos (indiana Jones, Jurassic Park, E.T., Contatos Imediatos). Fez dois dos melhores dramas da história do cinema (A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan) e vem conseguindo entregar trabalhos sólidos a 40 anos. É o tipo de filme que todo mundo conhece, mas que muitos não viram e aqui deixamos a recomendação máxima da Curadoria.
A frase mais marcante do filme não faz jus ao Diretor. Não, Spielberg, você não vai precisar de um barco maior.
“ You’re going to need a bigger boat “ - Tubarão (1975)
Uma das maiores obras-primas da história do cinema. Impossível não refletir por dias sobre o filme, não querer ser um pouco melhor com a sua família e repensar muitas das suas próprias atitudes como pessoa. Quando um filme consegue fazer tudo isso como um soco na cara, ele é especial. E Era uma Vez em Tokyo é muito especial.
Dirigido por J.A. Bayona e escrito por Patrick Ness - adaptando o seu próprio livro - Sete Minutos Depois da Meia-Noite é original, bonito e cheio de lições importantes, apesar de uma falta de foco. É também um ótimo exemplo de um marketing horrível (Assistam o trailer), não vende a essência e faz o filme parecer algo que ele não é. Conor (Lewis MacDougal) é um garoto que sofre em todos os aspectos da sua vida - sua mãe tem câncer, ele odeia a sua avó, o seu pai mora nos Estados Unidos, mas não o valoriza suficientemente, sofre bullying no colégio, entre outras coisas. Durante esse processo, uma árvore localizada no cemitério local decide acordar as 12:07 de cada noite para contar três histórias para ele e demanda que ele conte uma quarta. A narrativa do filme é melancólica assim como a vida do menino e as histórias contadas são visualmente belíssimas e passam mensagens importantes - especialmente para o público mais novo assistindo ao filme. As atuações são boas do início ao filme, Lewis MacDougal passa intensidade emocional e tristeza, boa parte do filme acontece na sua cabeça e ele materializa isso muito bem em sua interpretação. Felicity Jones, que interpreta a mãe, poderia ter conseguido uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante se o filme tivesse se vendido dessa forma. Ela está completamente contida em sua dor e fala muito dizendo pouco - ela é ocultada por boa parte do roteiro, mas quando aparece sempre rouba a atenção do espectador. Sigourney Weaver faz a avô que no meio da sua própria dor lidando com a doença da filha não consegue dar a atenção e a compaixão necessária ao neto e Tony Kebbel como o pai demonstra insegurança e carisma e uma fraqueza enorme como homem. Os efeitos especiais e a dublagem feita por Liam Neeson interpretando a árvore são incríveis - ela consegue ser grandiosa e ameaçadora, fisicamente e no tom de voz do ator, e ao mesmo tempo gentil e amorosa e enquanto estamos com ela o filme cresce automaticamente. A cinematografia é nublada como na maioria dos filmes de atmosfera triste e uma paleta verde é sempre colocada em destaque - principalmente nas vestimentas de Conor - simbolizando a árvore de forma literal, mas também vida. É um bom filme e passa lições importantes sobre aparências, morte, ambição e estimula ação como uma forma de felicidade. Porém, durante uma jornada dinâmica e bem construída durante quase a totalidade do seu tempo, no final o filme se entrega a diversos clichés, melodramas e tenta de todas as formas mover o espectador - e isso não é feito de maneira nada sutil. Assim, ele perde a coragem que parecia ter.
Hidden Figures é um filme dirigido por Theodore Melfi e escrito por Allison Schroeder e narra a história de três mulheres negras que em 1961 superaram um ambiente de segregação e foram de extrema importância para a corrida espacial entre os Estados Unidos e a Rússia. Katherine Johnson (Taraji P. Henson) interpreta uma especialista em matemática que se mostra essencial em todos os cálculos feitos para lançamentos espaciais - especialmente o de John Glenn (Primeiro astronauta a orbitar a terra e voltar seguro). Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) é líder de um setor de checagem de cálculos e programações matemáticas em um prédio separado e é uma peça fundamental da implementação do sistema da iBM de cálculos - fator que fez os Estados Unidos tomassem a frente na corrida especial. Mary Jackson (Janelle Monae) trabalha no setor de Dorothy e tem o sonho de ser engenheira. Todas elas entregam atuações memoráveis, Janelle Monae rouba as cenas do filme com o seu jeito descontraído e desafiador. Octavia Spencer que passa em seu olhar uma racionalização e dor da realidade que habita (As duas vão brigar por uma indicação ao Oscar de melhor Atriz Coadjuvante). Henson é a protagonista é carrega com sua confiança e resiliência a história do negativo ao positivo. Todo o roteiro é marcado por uma palavra - segregação - os banheiros, prédios, faculdades só para brancos, ônibus com lugares para negros, café só para negros, tudo para intensificar as dificuldades das personagens em busca dos seus sonhos e objetivos. Al Harrison (Kevin Costner), chefe do programa de cálculos espaciais, Paul Stafford (Jim Parsons), em um personagem bastante odiável pelo seu racismo é um supervisor do mesmo setor e constantemente traz constrangimento para Katherine e Vivian Michael (Kirsten Dunst), é também outro exemplo de uma pessoa racista que acha que por não ser radical é uma boa pessoa. Mesmo com tantos obstáculos e um contexto horrível, o trabalho faz o espectador ter uma experiência leve, positiva e divertida e ao mesmo tempo entrega mensagens importantes sobre o racismo e machismo. Ele é todo contextualizado dentro de uma época de grande choque de pensamentos com o movimento de direitos civis liderado por Martin Luther King e utiliza imagens documentadas, indicando uma possível mudança de pensamento. A trilha sonora foi composta por dois grandes nomes, Hans Zimmer - mais conhecido pelo seu grande trabalho com Christopher Nolan e pelo produtor e cantor Pharrell Williams. Ela mistura vários elementos da cultura afro-americana como Soul, Jazz e Blues combinados com uma belíssima orquestração feita por Zimmer. A música Runnin’, interpretada e composta por Pharrell é favorita a uma indicação ao Oscar. O trabalho de figurino e produção de design são muito competentes na ambientação do passado e as roupas apresentam cores - como o presente vermelho Katherine em um ambiente branco - que diferenciam e chamam atenção para as protagonistas. Hidden Figures mostra que todos somos iguais e uma mensagem de reflexão sobre um passado ainda muito presente.
Hacksaw Ridge marca o retorno de Mel Gibson como diretor e traz consigo uma história sobre fé, coragem e os horrores da guerra. O filme é baseado em fatos reais e conta a história de Desmond Doss (Andrew Garfield) que, adventista muito religioso que ao se alistar para a segunda guerra mundial se recusou a pegar em armas ou cometer assassinato. A sua jornada de covarde - ao menos aos olhos dos militares e companheiros de treinamento- a herói. Desmond mora em uma cidade pequena e possui um pai alcoólatra ex combatente da primeira guerra mundial Tom Doss (Hugo Weaving), uma mãe amorosa e muito religiosa Bertha Doss (Rachel Griffiths) - ambos atores mostram muita competência ao transmitir as dores do passado e da realidade familiar. Após salvar um homem em sua cidade, Desmond conhece Dorothy (Teresa Palmer) e logo se apaixonam, porém, em um contexto de alistamento intenso, inclusive de seu irmão Hal, ele decide ir para guerra. O filme passa metade de seu roteiro em terras americanas, exibindo o treinamento do batalhão liderado pelo Sargento Howell (Vince Vaughn) - que rouba a cena enquanto contracena com seus recrutas, lembrando um pouco Nascidos para Matar (1987) mas com um toque mais humano - e também narra todos os conflitos e debates políticos que culminam na decisão final de Desmond ir para a guerra - mesmo desarmado. Em sua primeira metade o filme consegue desenvolver toda a personalidade do personagem principal e Andrew Garfield está brilhante como um homem simples, apaixonado, corajoso e decidido sobre as escolhas em sua vida. Ele passa ao mesmo tempo inocência e sabedoria em seu olhar e sua corporalidade é firme e intensa, principalmente nas cenas de batalha, e ele merece todo o reconhecimento que vem tendo na temporada de premiações e pode ser indicado ao Oscar pelo papel. A cinematografia é inteligente em destacar o céu azul claro em terras americanas na primeira metade com a constante névoa que permeia os campos de batalha em solo japonês. A edição do filme é bastante dinâmica e consegue contar a história de forma direta e simples, a sensação é que tudo acontece muito rápido e consegue imergir e entreter o espectador. Todo o trabalho de edição e mixagem de som é perfeito e provavelmente o filme será indicado em várias categorias técnicas no Oscar 2017. Comparações com o Resgate do Soldado Ryan (1998) são quase impossíveis de não serem feitas. A cenas de batalha trazem a mesma crueza e adrenalina do filme do mestre Steven Spielberg, apenas em uma escala menor - talvez o orçamento do filme tenha pesado nesse aspecto. O relacionamento do batalhão é tratado de forma direta e simples, o filme estabelece companheirismo, mas não se perde em tentar desenvolver conexões fortes entre os personagens e por esse fator conseguimos assistir os horrores da guerra de uma forma mais genuína e menos melodramática - por não sermos apegados a vários personagens da narrativa, apenas Desmond. Hacksaw Ridge é um ótimo filme e um retrato de um verdadeiro herói, que mesmo subjugado e sendo apenas um homem comum mostra que todos podemos ser maiores do que esperam.
Hell or High Water é um filme dirigido por David Mackenzie e escrito por Taylor Sheridan, antigo ator de Sons of Anarchy e roteirista de Sicario (2015). O filme conta a história de dois irmãos - Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) e a jornada dos dois enquanto assaltam bancos pequenos pelo interior do Texas por um motivo misterioso. Após um dos assaltos, uma dupla de delegados perto da aposentadoria é designada para o caso, são eles Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Gil Birmingham (Alberto Parker). Assim se estabelece o confronto das duplas. Chris Pine consegue fugir do seu perfil de galã de blockbusters e faz um homem retraído e de poucas palavras que mesmo durante os assaltos consegue manter seus valores preservados. Ben Foster rouba o filme ao interpretar um caipira clássico - cerveja, durão, cabeça quente e sempre tentando ser engraçado e provocar o irmão e por trás de toda uma carcaça e fisicalidade que o protegeu de um ambiente selvagem consegue mostrar vulnerabilidade e verdadeiro amor pelo seu irmão. Jeff Bridges repete de certa forma os seus papeis em Bravura Indômita (2010) e Coração Louco (2009) pelo qual foi vencedor do Oscar de melhor ator. Ele mantém o sotaque e o sarcasmo presente nos personagens interiores e, definitivamente poucos atores interpretam um homem do Texas como Jeff Bridges e a sua dinâmica com Alberto Parker apresenta um humor agressivo por trás de uma forte amizade e companheirismo. Jeff Bridges ainda consegue passar uma ambição e ansiedade nos olhos de um homem velho que no meio de um tédio e pessimismo encontra em uma caçada a bandidos adrenalina e animação. O roteiro orbita muito bem pelos dois universos e consegue construir tensão ao nunca revelar ao espectador o caminho ou o porquê das ações dos irmãos, nunca previsível e surpreendente durante todos os seus 102 minutos de projeção. A cinematografia do filme apresenta uma paleta amarela saturada forte e realça em seus grandes planos abertos o tom de abandono nas cidades do Texas. Ela lembra em certos momentos o estilo de Roger Deakins em Onde os Fracos Não têm vez (2008). A trilha sonora também é evocativa do abandono da região e foi composta pela aclamada banda Nick Cave and the Bad Seeds, conhecida por não ser tão positiva com suas mensagens sobre a vida. (Definitivamente não são positivas) É um filme de assalto, drama familiar, amizade, heroismo e uma das melhores experiências do ano de 2016 - O terceiro ato do filme é uma das melhores doses de adrenalina em muito tempo.
Dirigido e escrito por Ciro Guerra e fotografado por David Gallego o filme conta duas histórias paralelamente e que se misturam ao longo do filme. Uma envolve um pesquisador alemão doente que com a ajuda de um fiel ajudante e um índio que acredita ser o último de sua tribo. Juntos eles viajam pela imensidão do rio amazonas em busca de uma planta chamada Yakruna - que curaria o enfermo estrangeiro. A outra história envolve um pesquisador americano que após ler o diário e relatos do alemão decide voltar para a Colômbia em busca da suposta planta milagrosa e com a ajuda de um índio também embarca em uma jornada pelo interior da selva amazona. A filme é fotografado em preto e branco e lembra Sebastião Salgado em seu alto contraste e pelo nível de detalhe em cada cena do filme - as pinturas no corpo dos índios, o reflexo do rio em movimento e a grandiosidade daquele universo. (Uma sequência no terceiro ato tira o fôlego e faz refletir sobre a grandeza do mundo) O roteiro foi baseado nos diários dos pesquisadores e traz consigo diversos temas relevantes históricos para a jornada - a catequese dos índios, apropriação cultural, a guerra pela borracha, escambo, entre outros. Simbolismo é uma palavra que marca a narrativa, a noção do sonho é transformada em uma metáfora para a realidade que nos negamos a enxergar. A serpente do título pode ser interpretada como o próprio rio amazonas - cheio de curvas e “sem fim”, mas também como a grandeza do universo, as curvas até mesmo físicas que não vemos mas que formam o mundo que conhecemos. Em um determinado momento o seguinte diálogo é dito “ É como se fosse o pior dos dois mundos “ em uma cena memorável que lembra Apocalipse Now. O Abraço da Serpente abraço o abstrato, valoriza a natureza e a cultura dos povos indígenas. Nos convida a uma jornada sem fim e sem resposta e no meio dos seus conflitos culturais pede para que abramos a mente. Uma obra-prima.
Moonlight é um filme escrito e dirigido por Barry Jenkins e vem sendo considerado pelos críticos do mundo inteiro o melhor filme de 2016. De fato, há muito o que se considerar e aqui os aspectos técnicos ou a grandeza do filme definitivamente não é o mais importante. O filme é dividido em três partes e narra a história de Chiron, um menino que mora em uma comunidade dura de Miami, com uma mãe drogada em casa e isolado e perseguido por todos na sua escola. Destaque total para todos os atores que interpretaram a criança (Alex R. Hibbert), o adolescente (Ashton Sanders) e o adulto (Trevante Rhodes) - as mudanças físicas não mudam a essência e a dor do personagem e aqui eles conseguem desenvolver o personagem ao mesmo tempo em que existem entre si. Juan (Mahershala Ali) interpreta no primeiro ato do filme um traficante de drogas local que serve como a figura paterna que Chiron nunca teve. A compaixão e empatia do personagem é contagiante e no meio da solidão de Chiron ele se mostrou, mesmo com todos os seus defeitos, um modelo a ser seguido pela criança - ressalto também que todos os prêmios e indicações que o ator vem recebendo são totalmente merecidas, o personagem é complexo e mostra que mesmo em um ambiente violento existe amor. Teresa (Janelle Monae) é casada com Juan e também serve como escudo e travesseiro em diversos momentos de dor que o personagem vive durante a projeção. Paula (Naomi Harris) interpreta a mãe de Chiron em uma interpretação que consegue ser durante o filme tanto um sinônimo de raiva, descontrole, dor e amor - também merece todos os méritos e reconhecimentos que vem recebendo. O diretor tem o filme na mão dele. Ele escreveu. Ele tinha uma visão. E sentimos isso desde a abertura do filme. Os aspectos técnicos são simples, o filme é pequeno em escala mas é impossível não ressaltar a belíssima fotografia do filme - principalmente em momentos sensoriais da narrativa e sobre a lua que dá o título a película. Impossível também não ressaltar a edição que mantém o filme um ritmo que suga o espectador para dentro da narrativa que é ao mesmo linear, abstrata e sensorial. Moonlight é um filme sobre um homem. Sim, os atores são negros, todo o ambiente e contexto é afro-americano, porém, é a história de um homem confrontando os seus próprios medos e aqui não há distinção de raça ou nenhum outro tipo de preconceito. É uma jornada pela mente de um garoto, um adolescente e um adulto. E que jornada.
Dirigido pelo já consagrado diretor Denis Villeneuve e escrito por Eric Heisserer, o filme conta a história da linguista Louise Banks (Amy Adams) que após a chegada de alienígenas na terra é recrutada para tentar entender a linguagem dos invasores e o propósito deles na terra. Ela é acompanhada na missão pelo físico Ian (Jeremy Renner) e pelo coronel Weber (Forest Whitaker), responsável por coordenar a missão terrestre e reportar ao governo. O filme possui uma atmosfera sempre presente - todas as visões da nave são estonteantes e na frente dela uma neblina comum ao filme. O diretor de fotografia regular do diretor é o genial Roger Deakins, porém, aqui quem controla a câmera é Bradford Young, uma das revelações do ano. Destaque também para a belíssima trilha sonora composta por Jóhann Jóhannsson, conseguindo introduzir melodias ao mesmo tempo belas e melancólicas, aumentando a carga sensorial do filme. O filme tem sua força na sua forte atmosfera de mistério, tensão e dúvida e na magnifica performance de Amy Adams em uma personagem contida, mas que precisa comunicar muito somente com os olhos - característica similar a também ótima atuação da atriz em Animais Noturnos. A chegada é um filme de ficção científica que consegue desafiar o espectador com perguntas nem sempre respondidas através de um roteiro inteligente que consegue inverter lógicas e padrões e mesmo assim manter o nível de entretenimento alto. É também mais um grande trabalho de um diretor que parece ser incapaz de fazer um trabalho ruim e que não só faz o público ver a história passar diante de seus olhos com grande competência mas convida todos a uma jornada sensorial as texturas do mundo construído.
The Nice Guys é um filme escrito e dirigido por Shane Blake, responsável pelo sensacional Kiss Kiss Bang Bang e por Homem de Ferro 3. Aqui temos um filme que possui muitos dos elementos da carreira do diretor - um sarcasmo e ironia onipresentes durante o filme e a narração em off também é marca do diretor. Aqui, temos a história de dois investigadores, Holland March (Ryan Gosling) e Jackson Healy (Russell Crowe) que são ligados a um mesmo caso envolvendo uma garota chamada Amelia (Margaret Qualley) e com a ajuda - mesmo não solicitada - da filha de Holland, Holly March (Angourie Rice), mergulham no caso buscando resolve-lo. Toda a estrutura narrativa do filme é baseada totalmente em estrutura clássica de film-noir - filmes em que a história não é o mais importante e sim um mecanismo para amarrar o espectador dentro de um tom ou dinâmica do filme. Clássicos como Chinatown e Touch of Evil são belos exemplos do gênero. O filme se estabelece nesse gênero e acrescenta vários elementos de clássicos dos anos 80 de duplas de policiais e uma boa dose de humor físico. Ryan Gosling está hilário como um investigador claramente incompetente e de humor rápido cheio de sarcasmo e Russell Crowe constrói um personagem com uma presença física intimidante e o contraste entre o palhaço e o durão funciona muito bem e ambos se entregam completamente as cenas de humor físico. A revelação do filme está na Angourie Rice, que interpreta uma criança que criada ao lado de seu pai, se mostra mais inteligente que os dois detetives e esbanja carisma, independência e firmeza durante a projeção, nunca servindo somente como recurso narrativo. O filme relembra o contexto da indústria pornô no final da década de 70 e vários aspectos da produção de design lembram o clássico de Paul Thomas Anderson sobre o tema. Boggie Nights - cheio de manequins, objetos e figurinos estranhos ambientando o filme. A trilha-sonora também é cheia de referencias a transição das décadas com disco, rock. Mas, antes de mais nada, o filme é uma comédia e traz uma das melhores experiências cinematográficas do ano de 2016 ao ver esses dois detetives buscando a resolução da maneira mais idiota possível. As cenas de ação são ótimas e intensas, nunca deixando o espectador perdido sobre o que está acontecendo nas cenas de tiro e maximizando o impacto das lutas físicas. A trama não importa nesse filme, a jornada sim, e com mais um grande filme de Shane Black temos um dos filmes mais engraçados e enérgicos do ano de 2016.
Ave, César! É mais um filme dirigido pelos renomeados irmãos Coen. Aqui eles trazem mais uma comédia de humor negro misturada com uma dose de homenagem a era clássica do cinema Hollywoodiano. O filme conta a história de Eddie Mannix (Josh Brolin), executivo de um grande estúdio responsável por não só fazer com que os filmes façam o sucesso esperado na bilheteria, mas também por resolver os constantes problemas em que os atores se metem nas suas vidas pessoais. Durante a sua rotina comum, Baird Whitlock (George Clooney) é sequestrado por uma dupla de figurantes para uma mansão recheada de comunistas - e aqui os diretores fazem inúmeras referencias a famosa blacklist, que barrava roteiros que pudessem conter algum tipo de conteúdo comunista. A história do filme é inicialmente bastante simples, porém recheado com cenas revivendo o sistema de estúdios. Uma cena envolvendo uma sereia e uma atriz famosa (Scarlett Johansson) em um tanque de água em uma belíssima coreografia; um musical de marinheiros estrelado por outra estrela da época (Channing Tatum); uma reconstrução do gênero do faroeste americano em uma das estrelas do gênero (Alden Ehrenreich) que também estrela um romance clássico em uma sequencia hilária envolvendo o diretor do filme (Ralph Fiennes) e é claro, o épico clássico sobre o império romano contando a história de Jesus Cristo. Todas essas mudanças de tom são trabalhadas com perfeição por Roger Deakins, diretor de fotografia do filme, fazendo com que sejamos imersos nos diferentes gêneros ao mesmo tempo em que mantém o padrão estético do filme. Todos os atores do filme estão igualmente hilários e entram na proposta do roteiro que é contar a história do período ao mesmo tempo em que tiram sarro dela. Aqui temos também uma extensa variedade de comentários sobre os mais diversos temas: Roteiristas comunistas, religião e as suas mais diversas visões, o crescimento da TV e da força do marketing, uma mídia constantemente sensacionalista buscando furos diários, o início da guerra fria, o cigarro já como um problema e muitos outros em um roteiro extremamente inteligente e engraçado de forma continua. O maior problema do filme é justamente o número excessivo de subtramas, personagens e mudanças de tom, fazendo com que o espectador nunca saiba exatamente para onde o filme está indo e fazendo com que a premissa inicial se torne menos importante durante a progressão do filme, mesmo sendo muito inteligente, falta foco narrativo ao filme. Mas, é um retratado hilário de uma época marcante da história do cinema americano e se como um todo o filme tem problemas, ele é recheado de pequenos momentos que fazem valer a experiência de assisti-lo.
La La Land é um longa metragem escrito e dirigido por Damien Chazelle, diretor de um dos meus filmes favoritos, Whiplash (2014) e aqui ele repete vários dos temas do filme que alavancou a sua carreira. Em entrevista, o próprio diretor confessou que realizou Whiplash com a esperança de conseguir um financiamento para a realização de La La Land junto com o seu colega de faculdade, Justin Hurwitz, responsável pela trilha sonora do filme, incrível por sinal. O diretor também fala abertamente sobre a sua frustração como baterista de jazz e o seu amor pelo gênero musical é ressonante nos dois filmes. La La Land é um musical, mas eu diria que ancorado em uma narrativa contemporânea e em performances ao mesmo tempo dramáticas e espontâneas pelas suas duas estrelas, Ryan Gosling que vive Sebastian - um pianista de jazz frustrado com o sonho de ter o seu próprio clube e Emma Stone que vive Mia - uma jovem atriz tentando conseguir sucesso durante um processo difícil da cidade de Los Angeles. O filme homenageia diversos musicais e o filme na sua produção de design e fotografia homenageia os filmes dos anos 40 e 50 com maestria - vemos aqui referencias a Cantando na Chuva e principalmente - Os Guarda-chuvas do amor, filme francês vencedor da Palma de Ouro de 1964 - vencendo inclusive Deus e o Diabo na Terra do Sol do diretor brasileiro Glauber Rocha. Homenageia a história de Hollywood inclusive incorporando discussões sobre filmes clássicos no seu roteiro e Los Angeles é fotografada como uma cidade mágica com cores vibrantes - destaque para o céu azul roxeado na primeira cena completa com os dois personagens. A edição do filme - feita pelo ganhador do Oscar por Whiplash, Tom Cross faz com que o filme tenha um ritmo frenético e com que todas as performances musicais tenham a dose certa de tempo - nunca cortando excessivamente e deixando o espectador observar por completo as coreografias e canções. Outro destaque é a maneira com que o diretor consegue filmar performances musicais ao-vivo - isso já era um dos grandes destaques de Whiplash e aqui é mantido com maestria principalmente nas cenas que possuem uma banda de Jazz tocando. O filme é de Sebastian e Mia e não sobra espaço para mais ninguém, os atores já haviam contracenado em dois filmes anteriormente e a química entre os dois é instantaneamente sentida e eles exalam carisma durante todos os segundos do filme. Ryan Gosling mostra talento e sutileza ao cantar - novamente, o filme é um musical contemporâneo e o que eu senti vendo os números do ator é uma pessoa normal tentando transmitir sentimentos ao cantar, mas não necessariamente precisando ser um cantor profissional - ele se mantém afinado e mesmo não tendo a mesma habilidade de canto e dança dos astros do gênero como Gene Kelly e Fred Astaire - esse nunca é o propósito ou o tom do filme. O mesmo é sentido na performance de Emma Stone, porém, a sua performance é mais chamativa e dramática do que a do seu companheiro e uma cena no terceiro ato do filme traz uma apoteose emocional ao ver a personagem cantando com paixão o hino do filme - em cada frase ela mostra o propósito do diretor. O filme é dinâmico, belíssimo visualmente, cheio de momentos hilários e dramáticos, grande edição, grande trilha-sonora, produção de design perfeita, atuações marcantes, músicas memoráveis, coreografias ao mesmo tempo grandes e retraídas - o filme é perfeito no que ele se propõe. La La Land é uma história sobre sonhadores e sobre amor e mostra como o peso das escolhas pode muitas vezes afastar um do outro - O final do filme é um dos mais memoráveis da história do cinema e mostra como um projeto feito com propósito e paixão por um diretor comprometido com a sua mensagem pode fazer com que muitos ao sair do filme corram atrás dos seus sonhos - um filme perfeito depois de um ano como 2016.
Manchester By The Sea é um longa metragem escrito e dirigido por Kenneth Lonergan, diretor do aclamado “ You Can Count on Me” (2000) e de Margaret (2011), ambos filmes que trazem uma ressonância dramática ao espectador. Em Manchester By the Sea o diretor faz o seu melhor trabalho, o filme foi produzido por Matt Damon em parceria com a Amazon e juntos eles conseguem construir um filme ancorado na realidade por personagens inesquecíveis. Casey Affleck vive Lee Chandler, um faxineiro que precisa voltar a sua cidade natal após a morte do seu irmão (Kyle Chandler) e viver com as consequências do seu passado e lidar com a responsabilidade de cuidar do seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), vivido uma das revelações do ano de 2016. O roteiro do filme que utiliza flashbacks para contar ao público a história de Lee poderia dar errado nas mãos de um diretor menos competente, junto com a edição do filme, temos os flashbacks como memórias de uma realidade sempre mais forte que o passado, fazendo com que observemos os fatos passados sobre o olhar do personagem no presente - fazendo com que tudo seja mais devastador. A fotografia do filme ressalta o frio da cidade com uma atmosfera sempre nublada e sombria e a maior parte das cenas internas apresentam uma iluminação amarelada e escura, ao mesmo tempo consegue capturar a beleza da cidade de Manchester através do seu sempre presente mar azul - que em combinação com a montagem do filme gera um impacto emocional ao simbolizar um passado que existiu, mas sempre voltamos para o nublado. A atuação de todo o elenco é magnífica, Casey Affleck que a essa altura já é o favorito ao Oscar no dia 24 de fevereiro constrói um personagem sombrio, dormente e impulsivo e como dito anteriormente - vemos o filme pelos olhos dele e se eles não fossem tão expressivos na sua inexpressão, o roteiro não funcionaria, performance marcante e ele merece todos os prêmios que possa vir a ganhar. Lucas Hedges consegue manter o nível de atuação durante as interações com o seu tio - mostra um adolescente bastante real, cheio de desejos, amigos e namoradas - essa palavra no plural é motivo de vários risos durante o filme - e demostra ao mesmo tempo empatia, medo e um sempre presente companheirismo com as pessoas ao seu redor, ele é cheio de carisma. Michelle Williams aparece pouco no filme, mas quando aparece rouba todas as cenas e em um momento no final do filme ela simplesmente transmite a mensagem do filme emocionalmente para todos os espectadores em uma das cenas mais fortes do ano. Manchester By The Sea é um filme depressivo mas que se mantém verdadeiro as suas premissas desde o início. A vida é dura e o filme sabe disso e não, nem tudo pode ser superado e não, nem tudo vai ficar bem.
Esse filme tem a dose perfeita de vergonha alheia, momentos hilários e empatia pela figura de Anthony Weiner. É um carro em câmera lenta desviando da estrada e batendo em tudo que vê pela frente - definitivamente um dos melhores documentários do ano de 2016.
Escrito e criado pelos parceiros de longa data Seth Rogen e Evan Goldberg - a festa da salsicha consegue ter êxito em um longa bem animado e propaga mensagens políticas e sobre fé no meio de palavrões e piadas de adolescente. Eu diria que esse filme seria uma propaganda ateísta bem feita, deixando claro que não acredita em nenhuma fé, mas respeitando as crenças individuais - como a personagem da Kristen Wiig aponta em um dos momentos do filme. A narrativa do filme é toda envolta na construção da temática do abstrato, do que estaria do outro lado da porta (ou da morte) a salvação ou a morte? O filme é sem limites no que diz respeito a sexo, palavrões, violência, drogas, tudo está aqui e o humor padrão da dupla de roteiristas responsável pelo clássico Superbad é sem noção para não dizer o mínimo - a sequencia final do filme é de deixar o queixo caído de qualquer espectador. Destaco também as performances de voz de todo o elenco - Kristen Wiig,Seth Rogen, Jonah Hill, James Franco, Bill Hader (que faz dois personagens), Edward Norton, entre outros da turma do Judd Appatow. O filme faz comentários sobre a fronteira com o méxico, o confronto de Israel com a Palestina, comenta sobre fé e ainda consegue quebrar a quarta parede. Só não é tão bom porque é uma comédia e o humor do filme se torna repetitivo ao longo da projeção, mas, isso não tira os méritos do filme - se não se fosse as piadas e o excesso de palavrões que muitas vezes tentam se passar como “ humor “ são os pecados do filme, em meio a tantos outros.
Em uma jornada que envolve a busca de três itens de uma armadura, uma macaca e um besouro, um garoto chamado Kubo passa por uma jornada de descoberta pessoal e reflexões filosóficas - o filme fala muito sobre morte e sobre como lidar com esse fato. O filme é mais uma empreitada do estúdio Laika, responsável também pelos ótimos Coraline (2009) e Paranorman (2012) e é dirigido pelo estreante Travis Knight. Antes de qualquer coisa, esse filme é estonteante - todas as cenas envolvendo o personagem do Kubo tocando sua “guitarra” e fazendo com que os papeis ganhem vida em forma de origami são momentos marcantes e imagens imediatamente gravadas. Vale ressaltar que todo o filme é feito em stop-motion, o que torna todo o trabalho de produção de design e fotografia que ressaltam a cultura asiática e vários dos símbolos de forma belíssima e faz também com que cada período do dia seja sentido com cores vibrantes - uma manhã vibrante, o por do sol colorido e uma noite escura lindamente iluminada por uma lua sempre presente, é um dos filmes mais lindos visualmente que eu já vi. As interpretações da Charlize Theron como a Macaca e do Matthew Mcconaughey como o besouro são ambas excelentes - ela consegue passar um senso de seriedade e impaciência que funcionam como elementos cômicos em contraste com a performance do besouro que tem um tom brincalhão e jocoso. O filme é sobre histórias e tem vários elementos mágicos na sua narrativa, personagens possuem poderes e o mundo nunca é explicado didaticamente ao espectador. Dentro da jornada em busca dos itens, o filme consegue ser divertido, belo e ao mesmo tempo carregar uma seriedade sempre presente desde o início da história. O meu único problema com o filme é o terceiro ato-as motivações do vilão, o The Moon King, não são bem explicadas e o filme acaba de maneira apressada e não consegue entregar o peso dramático que a sua jornada sugeria. Eu poderia terminar a crítica aqui, mas, dentro da história fica claro que o personagem do Kubo não sabe terminar as suas histórias, se isso é um subtexto do roteiro e do diretor, faria sentido esse final apressado e “mal-acabado”
PS: Temos no filme um personagem que é literalmente um Beetle e a versão da Regina Spektor ao final do filme da música dos The Beatles - While My Guitar Gently Weeps é brilhante por sugerir dos elementos presentes na narrativa inteira do filme. Junto com Zootopia é a melhor animação do ano de 2016.
O fade out no fim do filme é um soco na cara. Lily Gladstone merecia uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pela terceira história - todos os sentimentos estampados no rosto dela, atuação contida e extrema ao mesmo tempo.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraTalvez se os grandes diretores exclamam que trama não é o elemento mais importante de um filme e sim os personagens e as emoções que eles invocam, aqui temos uma aula.
Jim Jarmusch é o responsável pela direção e roteiro de uma pequena obra-prima independente do ano de 2016. Acompanhamos Paterson (Adam Driver) durante uma semana, acordamos com ele em uma segunda-feira e assim acompanhamos o seu mundo particular. Ele é um motorista de ônibus de uma cidade pequena, também chamada Paterson, e fascinado por poesia. Em legendas brancas no canto superior da tela, vemos um simples homem recitando suas prosas do dia-a-dia. A narrativa é baseada em uma rotina comum, que é alterada por acontecimentos casuais. Todo dia ele acorda, olha seu relógio, beija Laura (Golshifteh Farahani) e vai trabalhar. Vemos ele dirigindo o ônibus e observando conversas casuais com um sorriso no rosto. No seu horário de almoço, senta, olha a cachoeira da cidade e escreve poemas, volta para casa, encontra a sua caixa de correios entortada e descobre que sua esposa tem algum novo projeto em sua hiperatividade latente (ele sempre a apoia) e em seguida saí com o seu Bulldog para passear, parando em um pequeno bar para conversar com Doc (Barry Shabaka), dono do bar, e beber uma caneca de chopp. Ele volta e acorda no dia seguinte, repetindo a sua rotina.
O diretor parece se divertir com o filme, logo de início Laura cita que sonhou com gêmeos e a semana inteira Paterson vê diariamente pelo menos um casal de gêmeos. Laura é obcecada por preto e branco e a decoração da casa reflete essa obsessão, ela também sempre quer mudar alguma coisa, aprender guitarra, abrir um negócio, fazer um jantar diferente todo dia (gerando momentos hilários) e sempre apoia os poemas do marido, mesmo sem lê-los. Paterson é construído com perfeição por Adam Driver, no que considero a melhor performance de sua carreira, ele é um homem comum, retraído e de poucas palavras que vê beleza em coisas comuns sempre se divertindo com o ordinário. É romântico com sua esposa, apoia ela em absolutamente tudo e simplesmente leva a vida como muitas pessoas, um dia de cada vez. O ator consegue projetar os sonhos de Paterson sem nunca acreditar de fato que eles irão se concretizar, é tudo muito sutil e gera ao final uma explosão de empatia. Farahani também está adorável e em toda a sua esquisitice, temos um dos melhores casais dos últimos anos.
Quadros de cachorros estranhos, gêmeos pela cidade, conversas sobre anarquismo, um ator tentando buscar o amor de sua vida de volta, conversas sobre poesia com uma garotinha e um japonês, ângulos engraçados e inusitados e diversas outras coisas fazem de costumes corriqueiros uma diversão por cada novo detalhe exposto na tela.
Foi o longa-metragem mais encantador que vi no ano de 2016, é simplesmente sobre um homem comum, cheio de sonhos, é sobre o nada e tudo que o compõe. Apresenta um final pequeno, sutil, como o resto do filme, que é emocionante por abrir portas, por estabelecer o acaso, por fazer de cada dia único e mesmo em uma narrativa tão delicada, jorra sentimentos como uma cachoeira em um dia de sol.
Sala Verde
3.3 546 Assista AgoraSala Verde é um ótimo exemplo de como se ater a convenções do gênero de terror ao mesmo tempo em que constrói elementos originais e marcantes.
Escrito e Dirigido por Jeremy Saulnier, responsável pelo também ótimo Ruína Azul (2013), o longa acompanha uma banda de punk rock formada por jovens que tentam arranjar pequenos bicos para se sustentarem e manterem seus sonhos intactos. Através de um contato, eles são indicados para tocar em um clube neonazista. Vemos a aura do local, a podridão e principalmente raiva e energia em todos assistindo ao conserto da banda, que saí como esperado. A banda no camarim (um quarto) atrás do palco presencia por acaso um homicídio cometido por um dos membros do clube e após isso, eles se veem trancados enquanto os donos, liderados por Darcy (Patrick Stewart) tentam resolver a situação.
A estrutura narrativa já foi vista antes em vários outros filmes, os vilões tentam eliminar os jovens para ocultar um crime. Todos os elementos clássicos de filme de terror estão lá, mas o que o roteiro consegue construir de forma extraordinária é o senso de realidade daquela subcultura dos nazistas. Os diálogos não são maquiavélicos, na verdade tudo é feito com certa frieza que se amarra na construção de mundo feita pelo diretor.
É um filme bastante pequeno, mas que tecnicamente consegue entregar resultados magníficos. A cinematografia é sufocante dentro do quarto e invoca várias cores (principalmente o verde), o corredor visto pelo olho da porta apresenta uma perspectiva uma simetria perfeita e maximiza a presença dos vilões nos momentos de comunicação. A edição é ao mesmo tempo calma e frenética e consegue manipular perfeitamente as emoções do espetador, seja ao mostrar por um pouco mais de tempo um detalhe horroroso, ou por segurar momentos silenciosos por um bom tempo.
Alton Yelchin (R.I.P.), está excelente como a figura mais contemplativa e amedrontada da banda e é através dele e de Imogen Poots, enérgica e segura de si, que o filme se resolve. Patrick Stewart está excelente como o vilão do filme, sempre frio e calculista. Porém, mesmo achando a performance muito boa, acredito que ele poderia ter sido mais marcante como personagem.
Ele é ultraviolento, sufocante, dinâmico e um dos melhores filmes de terror de 2016 (Estreou em Cannes em 2015, porém sua distribuição foi feita em 2016) e contém algumas das imagens mais marcantes do ano (arrepio).
Irresistível Paixão
3.0 74 Assista AgoraSteven Soderbergh e George Clooney. Em entrevista para o filme, Clooney disse: " Irresistível Paixão foi a primeira vez que eu tive uma palavra a dizer, e foi o primeiro bom roteiro que eu li onde eu simplesmente fui," É isso ". E mesmo que não tenha feito muito bem na bilheteria - foi um filme muito bom ".
Aqui temos o primeiro filme da colaboração de longa data entre eles. Lançado em 1998, o filme é uma adaptação do livro de Elmore Leonard, autor responsável também pelo O Nome do Jogo (1995).
Irresistível Paixão apresenta uma premissa básica. Jack Foley (George Clooney), um ladrão de bancos ao tentar escapar da prisão com a ajuda de seu parceiro de longa data, Buddy (Ving Rhames), se vê conectado com Karen Sisco (Jennifer Lopez), uma policial que simplesmente estava no lugar errado e na hora errada (Ou não). Temos também Glenn (Steve Zahn), um personagem hilário que parece não conseguir fazer nada certo e que não só ajuda no resgate de Jack, mas também possui informações sobre um milionário, Richard Ripley (Albert Brooks), e seus diamantes. Ao longo do filme vamos descobrindo através de flashbacks muito bem colocados pelo roteiro sobre a estadia de Jack na prisão. Lá estava também Maurice (Don Cheadle), ex boxeador profissional e também assaltante. No final de tudo, todos foram informados da existência dos diamantes e com todos soltos, começa a caçada pelo tão precioso prêmio.
Do outro lado temos a caçada policial liderada pelo FBI e com a participação de Karen em busca de Jack. A premissa é simples o suficiente, mas o filme é muito mais do que isso.
Em uma cena filmada com primor, Jack e Karen se veem presos em um porta malas de um carro enquanto ele tenta fugir da prisão. Filmada em tons fortes de vermelho - cor recorrente durante toda a projeção - os personagens se veem extremamente próximos e no que seria em uma situação normal tenso no mínimo, se estabelece uma grande tensão sexual entre os personagens através dos diálogos relaxantes, do ambiente fechado e principalmente da movimentação de close-ups nas mãos dos atores. Os dois se separam após esse contato inicial, mas a conexão foi estabelecida e eles não parar de pensar uns nos outros.
A interpretação de Clooney é cheia de sarcasmo, classe e polida (ele aparentemente é o assaltante de bancos mais educado de todos os tempos) e Lopez exala sensualidade desde o início, mas de forma nenhuma se resume a isso, ela faz uma mulher independente, inteligente e que sabe lidar com qualquer marmanjo que queira fazer gracinhas com ela. Destaque também é o companheirismo de Jack e Buddy, sem nenhum melodrama nem declarações de amor bregas, eles confiam uns nos outros e isso faz com que sintamos empatia por eles. Don Cheadle está hilário como um mafioso que mesmo violento nunca consegue passar ameaça real.
O roteiro é muito engraçado e cada personagem individualmente tem suas particularidades. A caracterização é muito bem-feita e nada é bem-humorado por ser bem humorado, tudo move a história pra frente, construindo uma narrativa dinâmica e divertidíssima. Recebeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado (muito merecida).
A direção é marcada por vários freeze-frames e flashbacks e a edição é perfeita ao amarrar completamente os flashbacks e por fazer com que diálogos sejam desenvolvidos no presente apresentando imagens do futuro, gerando uma expectativa gradual no espectador. (Espere um restaurante de hotel surgir no filme). E também é perfeita ao estabelecer o timing cômico dos atores.
Outros reconhecimentos que o filme recebeu foram: Foi eleito o melhor filme de 1998 pela associação de críticos dos Estados Unidos e a revista Entertainment Weekly elegeu o filme como o mais sexy de todos os tempos.
Irresistível Paixão é uma comédia, um romance, um filme policial. Sua premissa é simples, mas têm um diretor maximizando e fazendo de um filme potencialmente comum uma obra-prima. Steven Soderbergh é o cara.
O Franco Atirador
4.0 354 Assista AgoraO Franco Atirador, constituí junto com os outros clássicos sobre a guerra do Vietnã: Apocalipse Now (1979), Platoon (1986), Nascido para Matar (1987), uma obra-prima cinematográfica que vai muito além dos horrores da batalha.
Dirigido por Michael Cimino, a ideia do filme surgiu de um roteiro que ainda não havia sido produzido chamado “ The Man Who Came to Play “ por Louis Garfinkle e Quinn K. sobre Las Vegas e Roleta Russa. O produtor Michael Deeley contratou Cimino que, com Deric Washburn, reescreveu o roteiro, tomando os elementos de Roleta Russa e colocando-os na guerra do Vietnã. A produção custou mais de quinze milhões de dólares para ser feita e constantemente saía do orçamento - Esse detalhe seria importante na produção de O Portal do Paraíso (1980), também feita por Cimino, que se tornou um dos maiores fracassos de bilheteria da história, faturando apenas 3.5 milhões de dólares por um valor de produção de 44.
O filme conta a história de dois amigos, Nick (Christopher Walken) e Michael (Robert De Niro) e Steven (John Savage), trabalhadores em uma fábrica de Clairton, Pennsylvania que irão servir os Estados Unidos na guerra do Vietnã. Estabelece por mais de uma hora as relações de amizade e amor entre o círculo de amigos e o quanto um significa para o outro. Mais importante, introduz a tensão entre Michael e Linda (Meryl Streep), namorada de Nick. Assim como o amor entre os amigos e os Hobbies (Caçar e beber, principalmente). Durante o casamento de Steven (Relembrando a cena inicial do Poderoso Chefão) o roteiro toma conta de amarrar todos os nós entre os personagens em uma atmosfera grandiosa e colorida. Nick pede Linda em casamento e ela aceita. Isso é a parte um.
Em um corte de edição marcante, nós vemos no horror da guerra, os três amigos são sequestrados por vietnamitas e são torturados e forçados a jogar Roleta Russa (Jogo que consiste em colocar uma bala em um revolver e contar com a sorte para sobreviver). Somos transportados imediatamente de uma atmosfera de tranquilidade para uma de caos. Os amigos trabalham juntos para tentar escapar e assim a história do filme se torna mais complexa e dramática. Nick e Michael se perdem e Steven se machuca. Qualquer outro detalhe em relação a história seria atrapalhar a experiência de um novo espectador assistindo ao filme.
Robert De Niro faz um homem íntegro e forte, mas com desejos escondidos que tornam seu personagem difícil. Ele é um homem bom que ama seus amigos e que ao mesmo tempo tem dificuldade de olha-los nos olhos. Christopher Walken, que ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel, interpreta brilhantemente um homem que lentamente perde sua sanidade mental em um local onde a loucura faz parte da sua terra e Meryl Streep, que foi indicada pela primeira vez ao Oscar pelo filme (ela acaba de receber sua vigésima indicação em 2017), constrói uma personagem amável, complexa, cheia de contradições e mistérios que nunca parece saber exatamente por que caminho seguir.
O filme é grandioso, lotado de figurantes e planos abertos das montanhas dos Estados Unidos aos rios do Vietnã - sua câmera é sempre atenta as reações dos personagens e aos ambientes em que eles estão. O som do filme foi revolucionário em 1978, foi o primeiro a utilizar a tecnologia Dolby de redução de ruído, tornando as explosões, tiros e diálogos mais nítidos. O longa levou o Oscar de Melhor Som.
Foi o grande vencedor do Oscar de 1979, ganhando Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante, Edição e Som e ainda foi um sucesso de bilheteria, faturando mais de 50 milhões de dólares.
O Franco Atirador é uma obra-prima. É um filme que em nenhum momento subestima o espectador através de seu roteiro direto e sua edição violenta, nunca nos pegando pela mão durante a narrativa. É um estudo sobre amizade e amor e os conflitos nas relações humanas, sobre o horror de uma guerra desnecessária e recheado de momentos inesquecíveis. Você nunca mais vai olhar para um revolver da mesma forma.
“ One Shot "
Contatos Imediatos do Terceiro Grau
3.7 577 Assista AgoraO filme dirigido e escrito por Steven Spielberg foi lançado no mesmo ano que Star Wars (1977) e nesse trabalho o diretor ampliou o escopo dos efeitos especiais e práticos (que já haviam sido iniciados em Tubarão). Oferece muito mais perguntas do que respostas, nos em uma aventura divertida e engraçada que culmina em uma apoteose visual.
Os últimos 10 minutos do filme não possuem diálogos expositivos, é complemente imersivo na música de John Williams e nos efeitos de luz e cores (O filme ganhou o Oscar de melhor fotografia) gerando uma experiência sensorial no espectador.
É um filme corajoso, que estabelece premissas que são deixadas de lado e nos momentos de exposição visual, faz com que reflitamos sobre o universo e o quanto as nossas perguntas sempre vão ficar sem respostas.
O show de cores é um espetáculo a parte e a ideia de estabelecer a música como linguagem de comunicação é brilhante. Novamente o diretor consegue esconder os mistérios durante o filme, criando suspense, e focando na construção de seus personagens. O que faz com que todas as resoluções finais sejam mais impactantes.
A construção do arco do personagem de Richard Dreyfuss é a onde o filme passa a maior parte do seu tempo. É um roteiro inteligente que imputa no ator todas as dúvidas e perguntas dos espectadores e passamos a ver o mundo através do seu ponto de vista.
E no fim, nós queremos entrar na nave assim como ele. Novamente, uma lição: Desenvolva seus personagens, eles entregam qualquer final de forma melhor.
Tubarão
3.7 1,2K Assista AgoraComo um filme consegue mudar a história do cinema
O filme que revolucionou e praticamente criou o que se entende como filme Blockbuster - estreiou em 20 de junto de 1975. Na abertura do verão americano. Essa característica estabeleceu um padrão para Hollywood, tanto em estrutura (os filmes eventos) como em programação (o período entre o fim de maio e o início de agosto). Se tornou o filme com a maior bilheteria de todos os tempos até a estreia de Star Wars (1977) e pode-se argumentar que é o pai do sistema ainda em recorrência nos dias atuais. Filmes da Marvel, DC e o modelo de franquia, de evento, o tipo de filme que faz as pessoas fazerem filas quilométricas para assistir.
O diretor Steven Spielberg com a sua estratégia de manter o tubarão fora da tela pela maior parte da tela aprendeu com os mestres do suspense - especialmente Hitchcock - a construir suspense. Todos os personagens apresentam motivações individuais para estarem ali e isso é muito marcante no roteiro de Peter Benchley e Carl Gottlieb, porque faz com que nos importemos não só com um, mas com três personagens ao mesmo tempo. A trilha-sonora de John Williams é uma das mais marcantes da história, construindo tensão e estabelecendo o ritmo do filme. Mal consigo imaginar como deve ter sido a experiência para quem teve a oportunidade de assisti-lo em 1975. Diferente de tudo que já havia sido feito anteriormente. Três personagens marcantes (Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss) e um tubarão.
Steven Spielberg é um dos maiores diretores - senão o maior - da história e o tempo vem provando isso. E tudo começou em 1975. Ele criou os Blockbuster’s e os manteve vivos (indiana Jones, Jurassic Park, E.T., Contatos Imediatos). Fez dois dos melhores dramas da história do cinema (A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan) e vem conseguindo entregar trabalhos sólidos a 40 anos.
É o tipo de filme que todo mundo conhece, mas que muitos não viram e aqui deixamos a recomendação máxima da Curadoria.
A frase mais marcante do filme não faz jus ao Diretor. Não, Spielberg, você não vai precisar de um barco maior.
“ You’re going to need a bigger boat “ - Tubarão (1975)
Operação França
3.9 253 Assista AgoraPor trás de uma das melhores cenas de perseguição, também temos uma obra-prima.
Era uma Vez em Tóquio
4.4 187 Assista AgoraUma das maiores obras-primas da história do cinema. Impossível não refletir por dias sobre o filme, não querer ser um pouco melhor com a sua família e repensar muitas das suas próprias atitudes como pessoa. Quando um filme consegue fazer tudo isso como um soco na cara, ele é especial. E Era uma Vez em Tokyo é muito especial.
A Paixão de Joana d'Arc
4.5 229 Assista AgoraA maior aula de close-ups da história do cinema.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite
4.1 991 Assista AgoraDirigido por J.A. Bayona e escrito por Patrick Ness - adaptando o seu próprio livro - Sete Minutos Depois da Meia-Noite é original, bonito e cheio de lições importantes, apesar de uma falta de foco. É também um ótimo exemplo de um marketing horrível (Assistam o trailer), não vende a essência e faz o filme parecer algo que ele não é.
Conor (Lewis MacDougal) é um garoto que sofre em todos os aspectos da sua vida - sua mãe tem câncer, ele odeia a sua avó, o seu pai mora nos Estados Unidos, mas não o valoriza suficientemente, sofre bullying no colégio, entre outras coisas. Durante esse processo, uma árvore localizada no cemitério local decide acordar as 12:07 de cada noite para contar três histórias para ele e demanda que ele conte uma quarta.
A narrativa do filme é melancólica assim como a vida do menino e as histórias contadas são visualmente belíssimas e passam mensagens importantes - especialmente para o público mais novo assistindo ao filme. As atuações são boas do início ao filme, Lewis MacDougal passa intensidade emocional e tristeza, boa parte do filme acontece na sua cabeça e ele materializa isso muito bem em sua interpretação. Felicity Jones, que interpreta a mãe, poderia ter conseguido uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante se o filme tivesse se vendido dessa forma. Ela está completamente contida em sua dor e fala muito dizendo pouco - ela é ocultada por boa parte do roteiro, mas quando aparece sempre rouba a atenção do espectador. Sigourney Weaver faz a avô que no meio da sua própria dor lidando com a doença da filha não consegue dar a atenção e a compaixão necessária ao neto e Tony Kebbel como o pai demonstra insegurança e carisma e uma fraqueza enorme como homem.
Os efeitos especiais e a dublagem feita por Liam Neeson interpretando a árvore são incríveis - ela consegue ser grandiosa e ameaçadora, fisicamente e no tom de voz do ator, e ao mesmo tempo gentil e amorosa e enquanto estamos com ela o filme cresce automaticamente.
A cinematografia é nublada como na maioria dos filmes de atmosfera triste e uma paleta verde é sempre colocada em destaque - principalmente nas vestimentas de Conor - simbolizando a árvore de forma literal, mas também vida.
É um bom filme e passa lições importantes sobre aparências, morte, ambição e estimula ação como uma forma de felicidade. Porém, durante uma jornada dinâmica e bem construída durante quase a totalidade do seu tempo, no final o filme se entrega a diversos clichés, melodramas e tenta de todas as formas mover o espectador - e isso não é feito de maneira nada sutil. Assim, ele perde a coragem que parecia ter.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraHidden Figures é um filme dirigido por Theodore Melfi e escrito por Allison Schroeder e narra a história de três mulheres negras que em 1961 superaram um ambiente de segregação e foram de extrema importância para a corrida espacial entre os Estados Unidos e a Rússia.
Katherine Johnson (Taraji P. Henson) interpreta uma especialista em matemática que se mostra essencial em todos os cálculos feitos para lançamentos espaciais - especialmente o de John Glenn (Primeiro astronauta a orbitar a terra e voltar seguro). Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) é líder de um setor de checagem de cálculos e programações matemáticas em um prédio separado e é uma peça fundamental da implementação do sistema da iBM de cálculos - fator que fez os Estados Unidos tomassem a frente na corrida especial. Mary Jackson (Janelle Monae) trabalha no setor de Dorothy e tem o sonho de ser engenheira. Todas elas entregam atuações memoráveis, Janelle Monae rouba as cenas do filme com o seu jeito descontraído e desafiador. Octavia Spencer que passa em seu olhar uma racionalização e dor da realidade que habita (As duas vão brigar por uma indicação ao Oscar de melhor Atriz Coadjuvante). Henson é a protagonista é carrega com sua confiança e resiliência a história do negativo ao positivo.
Todo o roteiro é marcado por uma palavra - segregação - os banheiros, prédios, faculdades só para brancos, ônibus com lugares para negros, café só para negros, tudo para intensificar as dificuldades das personagens em busca dos seus sonhos e objetivos.
Al Harrison (Kevin Costner), chefe do programa de cálculos espaciais, Paul Stafford (Jim Parsons), em um personagem bastante odiável pelo seu racismo é um supervisor do mesmo setor e constantemente traz constrangimento para Katherine e Vivian Michael (Kirsten Dunst), é também outro exemplo de uma pessoa racista que acha que por não ser radical é uma boa pessoa.
Mesmo com tantos obstáculos e um contexto horrível, o trabalho faz o espectador ter uma experiência leve, positiva e divertida e ao mesmo tempo entrega mensagens importantes sobre o racismo e machismo. Ele é todo contextualizado dentro de uma época de grande choque de pensamentos com o movimento de direitos civis liderado por Martin Luther King e utiliza imagens documentadas, indicando uma possível mudança de pensamento.
A trilha sonora foi composta por dois grandes nomes, Hans Zimmer - mais conhecido pelo seu grande trabalho com Christopher Nolan e pelo produtor e cantor Pharrell Williams. Ela mistura vários elementos da cultura afro-americana como Soul, Jazz e Blues combinados com uma belíssima orquestração feita por Zimmer. A música Runnin’, interpretada e composta por Pharrell é favorita a uma indicação ao Oscar.
O trabalho de figurino e produção de design são muito competentes na ambientação do passado e as roupas apresentam cores - como o presente vermelho Katherine em um ambiente branco - que diferenciam e chamam atenção para as protagonistas.
Hidden Figures mostra que todos somos iguais e uma mensagem de reflexão sobre um passado ainda muito presente.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraHacksaw Ridge marca o retorno de Mel Gibson como diretor e traz consigo uma história sobre fé, coragem e os horrores da guerra. O filme é baseado em fatos reais e conta a história de Desmond Doss (Andrew Garfield) que, adventista muito religioso que ao se alistar para a segunda guerra mundial se recusou a pegar em armas ou cometer assassinato. A sua jornada de covarde - ao menos aos olhos dos militares e companheiros de treinamento- a herói. Desmond mora em uma cidade pequena e possui um pai alcoólatra ex combatente da primeira guerra mundial Tom Doss (Hugo Weaving), uma mãe amorosa e muito religiosa Bertha Doss (Rachel Griffiths) - ambos atores mostram muita competência ao transmitir as dores do passado e da realidade familiar. Após salvar um homem em sua cidade, Desmond conhece Dorothy (Teresa Palmer) e logo se apaixonam, porém, em um contexto de alistamento intenso, inclusive de seu irmão Hal, ele decide ir para guerra. O filme passa metade de seu roteiro em terras americanas, exibindo o treinamento do batalhão liderado pelo Sargento Howell (Vince Vaughn) - que rouba a cena enquanto contracena com seus recrutas, lembrando um pouco Nascidos para Matar (1987) mas com um toque mais humano - e também narra todos os conflitos e debates políticos que culminam na decisão final de Desmond ir para a guerra - mesmo desarmado.
Em sua primeira metade o filme consegue desenvolver toda a personalidade do personagem principal e Andrew Garfield está brilhante como um homem simples, apaixonado, corajoso e decidido sobre as escolhas em sua vida. Ele passa ao mesmo tempo inocência e sabedoria em seu olhar e sua corporalidade é firme e intensa, principalmente nas cenas de batalha, e ele merece todo o reconhecimento que vem tendo na temporada de premiações e pode ser indicado ao Oscar pelo papel.
A cinematografia é inteligente em destacar o céu azul claro em terras americanas na primeira metade com a constante névoa que permeia os campos de batalha em solo japonês. A edição do filme é bastante dinâmica e consegue contar a história de forma direta e simples, a sensação é que tudo acontece muito rápido e consegue imergir e entreter o espectador. Todo o trabalho de edição e mixagem de som é perfeito e provavelmente o filme será indicado em várias categorias técnicas no Oscar 2017.
Comparações com o Resgate do Soldado Ryan (1998) são quase impossíveis de não serem feitas. A cenas de batalha trazem a mesma crueza e adrenalina do filme do mestre Steven Spielberg, apenas em uma escala menor - talvez o orçamento do filme tenha pesado nesse aspecto.
O relacionamento do batalhão é tratado de forma direta e simples, o filme estabelece companheirismo, mas não se perde em tentar desenvolver conexões fortes entre os personagens e por esse fator conseguimos assistir os horrores da guerra de uma forma mais genuína e menos melodramática - por não sermos apegados a vários personagens da narrativa, apenas Desmond.
Hacksaw Ridge é um ótimo filme e um retrato de um verdadeiro herói, que mesmo subjugado e sendo apenas um homem comum mostra que todos podemos ser maiores do que esperam.
A Qualquer Custo
3.8 802 Assista AgoraHell or High Water é um filme dirigido por David Mackenzie e escrito por Taylor Sheridan, antigo ator de Sons of Anarchy e roteirista de Sicario (2015).
O filme conta a história de dois irmãos - Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) e a jornada dos dois enquanto assaltam bancos pequenos pelo interior do Texas por um motivo misterioso. Após um dos assaltos, uma dupla de delegados perto da aposentadoria é designada para o caso, são eles Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Gil Birmingham (Alberto Parker). Assim se estabelece o confronto das duplas.
Chris Pine consegue fugir do seu perfil de galã de blockbusters e faz um homem retraído e de poucas palavras que mesmo durante os assaltos consegue manter seus valores preservados. Ben Foster rouba o filme ao interpretar um caipira clássico - cerveja, durão, cabeça quente e sempre tentando ser engraçado e provocar o irmão e por trás de toda uma carcaça e fisicalidade que o protegeu de um ambiente selvagem consegue mostrar vulnerabilidade e verdadeiro amor pelo seu irmão. Jeff Bridges repete de certa forma os seus papeis em Bravura Indômita (2010) e Coração Louco (2009) pelo qual foi vencedor do Oscar de melhor ator. Ele mantém o sotaque e o sarcasmo presente nos personagens interiores e, definitivamente poucos atores interpretam um homem do Texas como Jeff Bridges e a sua dinâmica com Alberto Parker apresenta um humor agressivo por trás de uma forte amizade e companheirismo. Jeff Bridges ainda consegue passar uma ambição e ansiedade nos olhos de um homem velho que no meio de um tédio e pessimismo encontra em uma caçada a bandidos adrenalina e animação.
O roteiro orbita muito bem pelos dois universos e consegue construir tensão ao nunca revelar ao espectador o caminho ou o porquê das ações dos irmãos, nunca previsível e surpreendente durante todos os seus 102 minutos de projeção.
A cinematografia do filme apresenta uma paleta amarela saturada forte e realça em seus grandes planos abertos o tom de abandono nas cidades do Texas. Ela lembra em certos momentos o estilo de Roger Deakins em Onde os Fracos Não têm vez (2008).
A trilha sonora também é evocativa do abandono da região e foi composta pela aclamada banda Nick Cave and the Bad Seeds, conhecida por não ser tão positiva com suas mensagens sobre a vida. (Definitivamente não são positivas)
É um filme de assalto, drama familiar, amizade, heroismo e uma das melhores experiências do ano de 2016 - O terceiro ato do filme é uma das melhores doses de adrenalina em muito tempo.
O Abraço da Serpente
4.4 237 Assista AgoraDirigido e escrito por Ciro Guerra e fotografado por David Gallego o filme conta duas histórias paralelamente e que se misturam ao longo do filme. Uma envolve um pesquisador alemão doente que com a ajuda de um fiel ajudante e um índio que acredita ser o último de sua tribo. Juntos eles viajam pela imensidão do rio amazonas em busca de uma planta chamada Yakruna - que curaria o enfermo estrangeiro.
A outra história envolve um pesquisador americano que após ler o diário e relatos do alemão decide voltar para a Colômbia em busca da suposta planta milagrosa e com a ajuda de um índio também embarca em uma jornada pelo interior da selva amazona.
A filme é fotografado em preto e branco e lembra Sebastião Salgado em seu alto contraste e pelo nível de detalhe em cada cena do filme - as pinturas no corpo dos índios, o reflexo do rio em movimento e a grandiosidade daquele universo. (Uma sequência no terceiro ato tira o fôlego e faz refletir sobre a grandeza do mundo)
O roteiro foi baseado nos diários dos pesquisadores e traz consigo diversos temas relevantes históricos para a jornada - a catequese dos índios, apropriação cultural, a guerra pela borracha, escambo, entre outros.
Simbolismo é uma palavra que marca a narrativa, a noção do sonho é transformada em uma metáfora para a realidade que nos negamos a enxergar. A serpente do título pode ser interpretada como o próprio rio amazonas - cheio de curvas e “sem fim”, mas também como a grandeza do universo, as curvas até mesmo físicas que não vemos mas que formam o mundo que conhecemos. Em um determinado momento o seguinte diálogo é dito “ É como se fosse o pior dos dois mundos “ em uma cena memorável que lembra Apocalipse Now.
O Abraço da Serpente abraço o abstrato, valoriza a natureza e a cultura dos povos indígenas. Nos convida a uma jornada sem fim e sem resposta e no meio dos seus conflitos culturais pede para que abramos a mente.
Uma obra-prima.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraMoonlight é um filme escrito e dirigido por Barry Jenkins e vem sendo considerado pelos críticos do mundo inteiro o melhor filme de 2016. De fato, há muito o que se considerar e aqui os aspectos técnicos ou a grandeza do filme definitivamente não é o mais importante.
O filme é dividido em três partes e narra a história de Chiron, um menino que mora em uma comunidade dura de Miami, com uma mãe drogada em casa e isolado e perseguido por todos na sua escola.
Destaque total para todos os atores que interpretaram a criança (Alex R. Hibbert), o adolescente (Ashton Sanders) e o adulto (Trevante Rhodes) - as mudanças físicas não mudam a essência e a dor do personagem e aqui eles conseguem desenvolver o personagem ao mesmo tempo em que existem entre si.
Juan (Mahershala Ali) interpreta no primeiro ato do filme um traficante de drogas local que serve como a figura paterna que Chiron nunca teve. A compaixão e empatia do personagem é contagiante e no meio da solidão de Chiron ele se mostrou, mesmo com todos os seus defeitos, um modelo a ser seguido pela criança - ressalto também que todos os prêmios e indicações que o ator vem recebendo são totalmente merecidas, o personagem é complexo e mostra que mesmo em um ambiente violento existe amor. Teresa (Janelle Monae) é casada com Juan e também serve como escudo e travesseiro em diversos momentos de dor que o personagem vive durante a projeção.
Paula (Naomi Harris) interpreta a mãe de Chiron em uma interpretação que consegue ser durante o filme tanto um sinônimo de raiva, descontrole, dor e amor - também merece todos os méritos e reconhecimentos que vem recebendo.
O diretor tem o filme na mão dele. Ele escreveu. Ele tinha uma visão. E sentimos isso desde a abertura do filme. Os aspectos técnicos são simples, o filme é pequeno em escala mas é impossível não ressaltar a belíssima fotografia do filme - principalmente em momentos sensoriais da narrativa e sobre a lua que dá o título a película. Impossível também não ressaltar a edição que mantém o filme um ritmo que suga o espectador para dentro da narrativa que é ao mesmo linear, abstrata e sensorial.
Moonlight é um filme sobre um homem. Sim, os atores são negros, todo o ambiente e contexto é afro-americano, porém, é a história de um homem confrontando os seus próprios medos e aqui não há distinção de raça ou nenhum outro tipo de preconceito. É uma jornada pela mente de um garoto, um adolescente e um adulto. E que jornada.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraDirigido pelo já consagrado diretor Denis Villeneuve e escrito por Eric Heisserer, o filme conta a história da linguista Louise Banks (Amy Adams) que após a chegada de alienígenas na terra é recrutada para tentar entender a linguagem dos invasores e o propósito deles na terra. Ela é acompanhada na missão pelo físico Ian (Jeremy Renner) e pelo coronel Weber (Forest Whitaker), responsável por coordenar a missão terrestre e reportar ao governo.
O filme possui uma atmosfera sempre presente - todas as visões da nave são estonteantes e na frente dela uma neblina comum ao filme. O diretor de fotografia regular do diretor é o genial Roger Deakins, porém, aqui quem controla a câmera é Bradford Young, uma das revelações do ano.
Destaque também para a belíssima trilha sonora composta por Jóhann Jóhannsson, conseguindo introduzir melodias ao mesmo tempo belas e melancólicas, aumentando a carga sensorial do filme.
O filme tem sua força na sua forte atmosfera de mistério, tensão e dúvida e na magnifica performance de Amy Adams em uma personagem contida, mas que precisa comunicar muito somente com os olhos - característica similar a também ótima atuação da atriz em Animais Noturnos.
A chegada é um filme de ficção científica que consegue desafiar o espectador com perguntas nem sempre respondidas através de um roteiro inteligente que consegue inverter lógicas e padrões e mesmo assim manter o nível de entretenimento alto. É também mais um grande trabalho de um diretor que parece ser incapaz de fazer um trabalho ruim e que não só faz o público ver a história passar diante de seus olhos com grande competência mas convida todos a uma jornada sensorial as texturas do mundo construído.
Dois Caras Legais
3.6 637 Assista AgoraThe Nice Guys é um filme escrito e dirigido por Shane Blake, responsável pelo sensacional Kiss Kiss Bang Bang e por Homem de Ferro 3. Aqui temos um filme que possui muitos dos elementos da carreira do diretor - um sarcasmo e ironia onipresentes durante o filme e a narração em off também é marca do diretor.
Aqui, temos a história de dois investigadores, Holland March (Ryan Gosling) e Jackson Healy (Russell Crowe) que são ligados a um mesmo caso envolvendo uma garota chamada Amelia (Margaret Qualley) e com a ajuda - mesmo não solicitada - da filha de Holland, Holly March (Angourie Rice), mergulham no caso buscando resolve-lo.
Toda a estrutura narrativa do filme é baseada totalmente em estrutura clássica de film-noir - filmes em que a história não é o mais importante e sim um mecanismo para amarrar o espectador dentro de um tom ou dinâmica do filme. Clássicos como Chinatown e Touch of Evil são belos exemplos do gênero.
O filme se estabelece nesse gênero e acrescenta vários elementos de clássicos dos anos 80 de duplas de policiais e uma boa dose de humor físico. Ryan Gosling está hilário como um investigador claramente incompetente e de humor rápido cheio de sarcasmo e Russell Crowe constrói um personagem com uma presença física intimidante e o contraste entre o palhaço e o durão funciona muito bem e ambos se entregam completamente as cenas de humor físico. A revelação do filme está na Angourie Rice, que interpreta uma criança que criada ao lado de seu pai, se mostra mais inteligente que os dois detetives e esbanja carisma, independência e firmeza durante a projeção, nunca servindo somente como recurso narrativo.
O filme relembra o contexto da indústria pornô no final da década de 70 e vários aspectos da produção de design lembram o clássico de Paul Thomas Anderson sobre o tema. Boggie Nights - cheio de manequins, objetos e figurinos estranhos ambientando o filme. A trilha-sonora também é cheia de referencias a transição das décadas com disco, rock.
Mas, antes de mais nada, o filme é uma comédia e traz uma das melhores experiências cinematográficas do ano de 2016 ao ver esses dois detetives buscando a resolução da maneira mais idiota possível. As cenas de ação são ótimas e intensas, nunca deixando o espectador perdido sobre o que está acontecendo nas cenas de tiro e maximizando o impacto das lutas físicas.
A trama não importa nesse filme, a jornada sim, e com mais um grande filme de Shane Black temos um dos filmes mais engraçados e enérgicos do ano de 2016.
Ave, César!
3.2 311 Assista AgoraAve, César! É mais um filme dirigido pelos renomeados irmãos Coen. Aqui eles trazem mais uma comédia de humor negro misturada com uma dose de homenagem a era clássica do cinema Hollywoodiano.
O filme conta a história de Eddie Mannix (Josh Brolin), executivo de um grande estúdio responsável por não só fazer com que os filmes façam o sucesso esperado na bilheteria, mas também por resolver os constantes problemas em que os atores se metem nas suas vidas pessoais. Durante a sua rotina comum, Baird Whitlock (George Clooney) é sequestrado por uma dupla de figurantes para uma mansão recheada de comunistas - e aqui os diretores fazem inúmeras referencias a famosa blacklist, que barrava roteiros que pudessem conter algum tipo de conteúdo comunista.
A história do filme é inicialmente bastante simples, porém recheado com cenas revivendo o sistema de estúdios. Uma cena envolvendo uma sereia e uma atriz famosa (Scarlett Johansson) em um tanque de água em uma belíssima coreografia; um musical de marinheiros estrelado por outra estrela da época (Channing Tatum); uma reconstrução do gênero do faroeste americano em uma das estrelas do gênero (Alden Ehrenreich) que também estrela um romance clássico em uma sequencia hilária envolvendo o diretor do filme (Ralph Fiennes) e é claro, o épico clássico sobre o império romano contando a história de Jesus Cristo. Todas essas mudanças de tom são trabalhadas com perfeição por Roger Deakins, diretor de fotografia do filme, fazendo com que sejamos imersos nos diferentes gêneros ao mesmo tempo em que mantém o padrão estético do filme.
Todos os atores do filme estão igualmente hilários e entram na proposta do roteiro que é contar a história do período ao mesmo tempo em que tiram sarro dela. Aqui temos também uma extensa variedade de comentários sobre os mais diversos temas: Roteiristas comunistas, religião e as suas mais diversas visões, o crescimento da TV e da força do marketing, uma mídia constantemente sensacionalista buscando furos diários, o início da guerra fria, o cigarro já como um problema e muitos outros em um roteiro extremamente inteligente e engraçado de forma continua.
O maior problema do filme é justamente o número excessivo de subtramas, personagens e mudanças de tom, fazendo com que o espectador nunca saiba exatamente para onde o filme está indo e fazendo com que a premissa inicial se torne menos importante durante a progressão do filme, mesmo sendo muito inteligente, falta foco narrativo ao filme.
Mas, é um retratado hilário de uma época marcante da história do cinema americano e se como um todo o filme tem problemas, ele é recheado de pequenos momentos que fazem valer a experiência de assisti-lo.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLa La Land é um longa metragem escrito e dirigido por Damien Chazelle, diretor de um dos meus filmes favoritos, Whiplash (2014) e aqui ele repete vários dos temas do filme que alavancou a sua carreira.
Em entrevista, o próprio diretor confessou que realizou Whiplash com a esperança de conseguir um financiamento para a realização de La La Land junto com o seu colega de faculdade, Justin Hurwitz, responsável pela trilha sonora do filme, incrível por sinal. O diretor também fala abertamente sobre a sua frustração como baterista de jazz e o seu amor pelo gênero musical é ressonante nos dois filmes.
La La Land é um musical, mas eu diria que ancorado em uma narrativa contemporânea e em performances ao mesmo tempo dramáticas e espontâneas pelas suas duas estrelas, Ryan Gosling que vive Sebastian - um pianista de jazz frustrado com o sonho de ter o seu próprio clube e Emma Stone que vive Mia - uma jovem atriz tentando conseguir sucesso durante um processo difícil da cidade de Los Angeles.
O filme homenageia diversos musicais e o filme na sua produção de design e fotografia homenageia os filmes dos anos 40 e 50 com maestria - vemos aqui referencias a Cantando na Chuva e principalmente - Os Guarda-chuvas do amor, filme francês vencedor da Palma de Ouro de 1964 - vencendo inclusive Deus e o Diabo na Terra do Sol do diretor brasileiro Glauber Rocha. Homenageia a história de Hollywood inclusive incorporando discussões sobre filmes clássicos no seu roteiro e Los Angeles é fotografada como uma cidade mágica com cores vibrantes - destaque para o céu azul roxeado na primeira cena completa com os dois personagens.
A edição do filme - feita pelo ganhador do Oscar por Whiplash, Tom Cross faz com que o filme tenha um ritmo frenético e com que todas as performances musicais tenham a dose certa de tempo - nunca cortando excessivamente e deixando o espectador observar por completo as coreografias e canções. Outro destaque é a maneira com que o diretor consegue filmar performances musicais ao-vivo - isso já era um dos grandes destaques de Whiplash e aqui é mantido com maestria principalmente nas cenas que possuem uma banda de Jazz tocando.
O filme é de Sebastian e Mia e não sobra espaço para mais ninguém, os atores já haviam contracenado em dois filmes anteriormente e a química entre os dois é instantaneamente sentida e eles exalam carisma durante todos os segundos do filme. Ryan Gosling mostra talento e sutileza ao cantar - novamente, o filme é um musical contemporâneo e o que eu senti vendo os números do ator é uma pessoa normal tentando transmitir sentimentos ao cantar, mas não necessariamente precisando ser um cantor profissional - ele se mantém afinado e mesmo não tendo a mesma habilidade de canto e dança dos astros do gênero como Gene Kelly e Fred Astaire - esse nunca é o propósito ou o tom do filme. O mesmo é sentido na performance de Emma Stone, porém, a sua performance é mais chamativa e dramática do que a do seu companheiro e uma cena no terceiro ato do filme traz uma apoteose emocional ao ver a personagem cantando com paixão o hino do filme - em cada frase ela mostra o propósito do diretor.
O filme é dinâmico, belíssimo visualmente, cheio de momentos hilários e dramáticos, grande edição, grande trilha-sonora, produção de design perfeita, atuações marcantes, músicas memoráveis, coreografias ao mesmo tempo grandes e retraídas - o filme é perfeito no que ele se propõe.
La La Land é uma história sobre sonhadores e sobre amor e mostra como o peso das escolhas pode muitas vezes afastar um do outro - O final do filme é um dos mais memoráveis da história do cinema e mostra como um projeto feito com propósito e paixão por um diretor comprometido com a sua mensagem pode fazer com que muitos ao sair do filme corram atrás dos seus sonhos - um filme perfeito depois de um ano como 2016.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraManchester By The Sea é um longa metragem escrito e dirigido por Kenneth Lonergan, diretor do aclamado “ You Can Count on Me” (2000) e de Margaret (2011), ambos filmes que trazem uma ressonância dramática ao espectador.
Em Manchester By the Sea o diretor faz o seu melhor trabalho, o filme foi produzido por Matt Damon em parceria com a Amazon e juntos eles conseguem construir um filme ancorado na realidade por personagens inesquecíveis.
Casey Affleck vive Lee Chandler, um faxineiro que precisa voltar a sua cidade natal após a morte do seu irmão (Kyle Chandler) e viver com as consequências do seu passado e lidar com a responsabilidade de cuidar do seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), vivido uma das revelações do ano de 2016.
O roteiro do filme que utiliza flashbacks para contar ao público a história de Lee poderia dar errado nas mãos de um diretor menos competente, junto com a edição do filme, temos os flashbacks como memórias de uma realidade sempre mais forte que o passado, fazendo com que observemos os fatos passados sobre o olhar do personagem no presente - fazendo com que tudo seja mais devastador.
A fotografia do filme ressalta o frio da cidade com uma atmosfera sempre nublada e sombria e a maior parte das cenas internas apresentam uma iluminação amarelada e escura, ao mesmo tempo consegue capturar a beleza da cidade de Manchester através do seu sempre presente mar azul - que em combinação com a montagem do filme gera um impacto emocional ao simbolizar um passado que existiu, mas sempre voltamos para o nublado.
A atuação de todo o elenco é magnífica, Casey Affleck que a essa altura já é o favorito ao Oscar no dia 24 de fevereiro constrói um personagem sombrio, dormente e impulsivo e como dito anteriormente - vemos o filme pelos olhos dele e se eles não fossem tão expressivos na sua inexpressão, o roteiro não funcionaria, performance marcante e ele merece todos os prêmios que possa vir a ganhar. Lucas Hedges consegue manter o nível de atuação durante as interações com o seu tio - mostra um adolescente bastante real, cheio de desejos, amigos e namoradas - essa palavra no plural é motivo de vários risos durante o filme - e demostra ao mesmo tempo empatia, medo e um sempre presente companheirismo com as pessoas ao seu redor, ele é cheio de carisma. Michelle Williams aparece pouco no filme, mas quando aparece rouba todas as cenas e em um momento no final do filme ela simplesmente transmite a mensagem do filme emocionalmente para todos os espectadores em uma das cenas mais fortes do ano.
Manchester By The Sea é um filme depressivo mas que se mantém verdadeiro as suas premissas desde o início. A vida é dura e o filme sabe disso e não, nem tudo pode ser superado e não, nem tudo vai ficar bem.
Weiner
3.8 10Esse filme tem a dose perfeita de vergonha alheia, momentos hilários e empatia pela figura de Anthony Weiner. É um carro em câmera lenta desviando da estrada e batendo em tudo que vê pela frente - definitivamente um dos melhores documentários do ano de 2016.
Festa da Salsicha
2.9 816 Assista AgoraEscrito e criado pelos parceiros de longa data Seth Rogen e Evan Goldberg - a festa da salsicha consegue ter êxito em um longa bem animado e propaga mensagens políticas e sobre fé no meio de palavrões e piadas de adolescente.
Eu diria que esse filme seria uma propaganda ateísta bem feita, deixando claro que não acredita em nenhuma fé, mas respeitando as crenças individuais - como a personagem da Kristen Wiig aponta em um dos momentos do filme. A narrativa do filme é toda envolta na construção da temática do abstrato, do que estaria do outro lado da porta (ou da morte) a salvação ou a morte?
O filme é sem limites no que diz respeito a sexo, palavrões, violência, drogas, tudo está aqui e o humor padrão da dupla de roteiristas responsável pelo clássico Superbad é sem noção para não dizer o mínimo - a sequencia final do filme é de deixar o queixo caído de qualquer espectador.
Destaco também as performances de voz de todo o elenco - Kristen Wiig,Seth Rogen, Jonah Hill, James Franco, Bill Hader (que faz dois personagens), Edward Norton, entre outros da turma do Judd Appatow.
O filme faz comentários sobre a fronteira com o méxico, o confronto de Israel com a Palestina, comenta sobre fé e ainda consegue quebrar a quarta parede. Só não é tão bom porque é uma comédia e o humor do filme se torna repetitivo ao longo da projeção, mas, isso não tira os méritos do filme - se não se fosse as piadas e o excesso de palavrões que muitas vezes tentam se passar como “ humor “ são os pecados do filme, em meio a tantos outros.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraEm uma jornada que envolve a busca de três itens de uma armadura, uma macaca e um besouro, um garoto chamado Kubo passa por uma jornada de descoberta pessoal e reflexões filosóficas - o filme fala muito sobre morte e sobre como lidar com esse fato.
O filme é mais uma empreitada do estúdio Laika, responsável também pelos ótimos Coraline (2009) e Paranorman (2012) e é dirigido pelo estreante Travis Knight.
Antes de qualquer coisa, esse filme é estonteante - todas as cenas envolvendo o personagem do Kubo tocando sua “guitarra” e fazendo com que os papeis ganhem vida em forma de origami são momentos marcantes e imagens imediatamente gravadas. Vale ressaltar que todo o filme é feito em stop-motion, o que torna todo o trabalho de produção de design e fotografia que ressaltam a cultura asiática e vários dos símbolos de forma belíssima e faz também com que cada período do dia seja sentido com cores vibrantes - uma manhã vibrante, o por do sol colorido e uma noite escura lindamente iluminada por uma lua sempre presente, é um dos filmes mais lindos visualmente que eu já vi.
As interpretações da Charlize Theron como a Macaca e do Matthew Mcconaughey como o besouro são ambas excelentes - ela consegue passar um senso de seriedade e impaciência que funcionam como elementos cômicos em contraste com a performance do besouro que tem um tom brincalhão e jocoso.
O filme é sobre histórias e tem vários elementos mágicos na sua narrativa, personagens possuem poderes e o mundo nunca é explicado didaticamente ao espectador. Dentro da jornada em busca dos itens, o filme consegue ser divertido, belo e ao mesmo tempo carregar uma seriedade sempre presente desde o início da história. O meu único problema com o filme é o terceiro ato-as motivações do vilão, o The Moon King, não são bem explicadas e o filme acaba de maneira apressada e não consegue entregar o peso dramático que a sua jornada sugeria. Eu poderia terminar a crítica aqui, mas, dentro da história fica claro que o personagem do Kubo não sabe terminar as suas histórias, se isso é um subtexto do roteiro e do diretor, faria sentido esse final apressado e “mal-acabado”
PS: Temos no filme um personagem que é literalmente um Beetle e a versão da Regina Spektor ao final do filme da música dos The Beatles - While My Guitar Gently Weeps é brilhante por sugerir dos elementos presentes na narrativa inteira do filme.
Junto com Zootopia é a melhor animação do ano de 2016.
Certas Mulheres
3.1 76 Assista AgoraO fade out no fim do filme é um soco na cara.
Lily Gladstone merecia uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pela terceira história - todos os sentimentos estampados no rosto dela, atuação contida e extrema ao mesmo tempo.