Engraçado como uma série britânica de televisão ganha tanta notoriedade, é comprada pelo maior serviço de streaming do mundo e se torna uma das franquias mais esperadas do ano. Porém... tudo tem um 'mas', não é mesmo? A quarta temporada de Black Mirror traz seis novos episódios para instigar o público e fazer-nos refletir (usando tecnologias que já podem ser vistas no horizonte) sobre o comportamento da nossa sociedade. O que sempre me chamou a atenção foi a sagacidade da série - em Fifteen Million Merits vemos um romance e uma iluminação do sonho se tornar um pesadelo constante e, sua reviravolta, se tornar uma felicidade mascarada por culpa; em The Entire Story of You vemos uma tecnologia que nos fascina e assusta sendo digerida durante o episódio, para ao final ficarmos confusos com o que exatamente gostaríamos que acontecesse com as personagens. A série sempre manteve um ar de simplicidade, de sagacidade, de nuance entre bem e mal que cria discussões (você concorda? Não? Mas e...) e deixa o espectador confuso e satisfeito. A quarta temporada (de maneira similar a terceira) já traz uma visão muito mais direta nesse sentido, e aí que (para mim) a série perde seu impacto - todos os episódios terminam com um pay-off, com uma solução, com uma alegria e uma esperança. A excessão de USS Callister, que peca no tom e na utopia (personagens computadorizados 'hackeando' um jogo por dentro, sério?), nenhum episódio desafia o espectador a pensar, tudo se tornou tão facilmente absorvido - é o robô do mal, a mãe do mal, o sistema do mal... Essa facilidade pode apelar para novos públicos, mas com certeza tira um pouco daquele suspense interno, daquela dúvida de 'o que eu faria' ou 'está certo isso' que White Christmas, San Junipero e Be Right Back traziam. A série, obviamente, continua trazendo bons episódios - pra mim Hang the DJ acerta na história envolvente, Metalhead por sua simplicidade e uma direção de terror/suspense impecável e Black Museum por suas histórias assustadoramente bem construídas (Penn Jillette, seu filho da mãe). Sempre vou recomendar Black Mirror, mas já aviso aos amigos que aguentem firme a primeira metade, pois a jóia está mesmo na finaleira... ou comecem pela finaleira, é antologia mesmo. :D
Muita gente reclama que a série perdeu seu foco durante os anos, discordo completamente - The Walking Dead tem um objetivo específico, fazer o máximo de dinheiro com o mínimo de esforço. Em sua sétima temporada, a série conseguiu iludir, enganar, brincar com, ridicularizar e arrastar mais e mais seu público (incluindo este que, por puro orgulho, ainda acompanha seus episódios) para assistir inesgotáveis roteiros de um filme de duas horas esticados para 16 longos episódios. O início da temporada prometeu grandes acontecimentos (como sempre) e mostrou muitas coisas que todos gostariam de ver (como sempre), mas ainda faltavam alguns momentos pontuais a serem resolvidos (como sempre) e que, bem, perdão pelo spoiler, não se concretizam.... como sempre. Andrew Lincoln continua com sua performance excelente, assim como alguns personagens como Jeffrey Dean Morgan, que já se esperava trabalho semelhante. Aos demais nem podemos culpar, Lauren Cohan fica abandonada em diálogos filosóficos que não se sustentam e os demais arcos (Rosita, Sasha, Michonne) são cruelmente dignos de pena. Norman Reedus vai se sagrando como ator de um personagem, mas dá pra dizer que a química com Austin Amello (Dwight) funciona muito bem, oh, um elogio. No demais a série peca em motivações, continuidade e fica entre o drama (sério, pé no chão, crível) e o filme de ação clássico (onde todos os personagens são ameaçados por armas e em poucos segundos estão salvos sem nenhuma baixa relevante), dois gêneros que (ao menos para mim) dificilmente são combináveis. A produção é aceitável para ótima, afinal, com a audiência que esse engodo consegue, ao menos o investimento com maquiagem, cenário e figurino continua garantido. Falta para The Walking Dead um roteirista que diga 'isso já foi longe demais' e dê um final épico e digno de uma série que tinha tudo para ser ótima e caiu na armadilha do cliffhanger fácil. Uma pena, o HQ continua espetacular.
Westworld é uma série que tem algo que há muito tempo eu não via em uma série - enredo. Primeiramente, ela tem uma história, ela toma seu tempo, introduz seus personagens e, principalmente, sabe respeitar seu próprio enredo; algo que me desagradou muito em Lost e no mais recente The OA. É uma série complexa que esconde suas muitas reflexões em acontecimentos banais e diálogos simples, mas que as vezes faz uso de uma certa exposição pra apresentar elementos mais 'abstratos'. As performances são excelentes, Anthony Hopkins faz um trabalho fenomenal, especialmente na segunda metade da temporada. As personagens femininas são fortes e bem construídas e até os coadjuvantes recebem sua atenção devida e protagonizam trechos da narrativa. Uma série complexa com infinitas camadas que merece atenção, recomendo pra quem gosta de quebrar cabeça com série e assistiu (ou adorou) Ex-Machina, tem muitas questões apresentadas nesse filme aqui. :)
Terminei de assistir a pouco e fiquei em dúvida se considero a série fraquinha ou muito promissora. Fraca ao meu ver, claro. A qualidade é excepcional e as atuações são fora de série (rá), o estilo anti-climático é interessante, porém o ritmo é lento. Uma obra-prima conceitual, porém não agradável. O episódio dá sono durante 30 minutos e te joga um twist no final pra te forçar a assistir o próximo. Sobre o final, de um ponto de vista abstrato e subjetivo, ótimo. Na minha opinião, um fechamento barato com música comovente e movimentos de câmera perfeitos. A série não é ruim, longe disso... mas poderia ser um filme de duas horas em vez de oito episódios, afinal 80% da série pode ser descartado, não é mesmo? Aliás, eu falei que a minha dúvida é entre ser fraca ou muito promissora é que, com tantas coisas em aberto e tantas possibilidades, pode ser que uma possível segunda temporada vire a mesa e eu me arrependa desse comentário, mas esse pensamento me fez assitir Lost inteiro e deu no que deu...
Comparando com as temporadas anteriores, senti uma queda de conteúdo reflexivo nessa temporada. Episódios como 'Fifteen Million Merits' e 'The Entire Story of You' são marcantes por não existir uma 'mensagem' a ser aprendida, mas sim diversas reflexões que podem ser absorvidas durante os episódios e, justamente, após estes. Na terceira temporada senti falta disso, os episódios são mais 'mascadinhos' e normalmente tem um objetivo bem definido ou uma lição específica a ser aprendida, quando você chega na conclusão do episódio simplesmente para de pensar nele, algo que não acontecia em temporadas anteriores. (quanta coisa não dá pra tirar de The Entire History of You ou Fifteen Million Merits?) San Junipero se destaca por ter um enredo mais aberto e não ser tão 'óbvio' em suas colocações. Contendo muita qualidade e boas atuações, vale muito a pena assistir Black Mirror. :)
Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraEngraçado como uma série britânica de televisão ganha tanta notoriedade, é comprada pelo maior serviço de streaming do mundo e se torna uma das franquias mais esperadas do ano. Porém... tudo tem um 'mas', não é mesmo? A quarta temporada de Black Mirror traz seis novos episódios para instigar o público e fazer-nos refletir (usando tecnologias que já podem ser vistas no horizonte) sobre o comportamento da nossa sociedade. O que sempre me chamou a atenção foi a sagacidade da série - em Fifteen Million Merits vemos um romance e uma iluminação do sonho se tornar um pesadelo constante e, sua reviravolta, se tornar uma felicidade mascarada por culpa; em The Entire Story of You vemos uma tecnologia que nos fascina e assusta sendo digerida durante o episódio, para ao final ficarmos confusos com o que exatamente gostaríamos que acontecesse com as personagens. A série sempre manteve um ar de simplicidade, de sagacidade, de nuance entre bem e mal que cria discussões (você concorda? Não? Mas e...) e deixa o espectador confuso e satisfeito. A quarta temporada (de maneira similar a terceira) já traz uma visão muito mais direta nesse sentido, e aí que (para mim) a série perde seu impacto - todos os episódios terminam com um pay-off, com uma solução, com uma alegria e uma esperança. A excessão de USS Callister, que peca no tom e na utopia (personagens computadorizados 'hackeando' um jogo por dentro, sério?), nenhum episódio desafia o espectador a pensar, tudo se tornou tão facilmente absorvido - é o robô do mal, a mãe do mal, o sistema do mal... Essa facilidade pode apelar para novos públicos, mas com certeza tira um pouco daquele suspense interno, daquela dúvida de 'o que eu faria' ou 'está certo isso' que White Christmas, San Junipero e Be Right Back traziam. A série, obviamente, continua trazendo bons episódios - pra mim Hang the DJ acerta na história envolvente, Metalhead por sua simplicidade e uma direção de terror/suspense impecável e Black Museum por suas histórias assustadoramente bem construídas (Penn Jillette, seu filho da mãe). Sempre vou recomendar Black Mirror, mas já aviso aos amigos que aguentem firme a primeira metade, pois a jóia está mesmo na finaleira... ou comecem pela finaleira, é antologia mesmo. :D
The Walking Dead (7ª Temporada)
3.6 917 Assista AgoraMuita gente reclama que a série perdeu seu foco durante os anos, discordo completamente - The Walking Dead tem um objetivo específico, fazer o máximo de dinheiro com o mínimo de esforço. Em sua sétima temporada, a série conseguiu iludir, enganar, brincar com, ridicularizar e arrastar mais e mais seu público (incluindo este que, por puro orgulho, ainda acompanha seus episódios) para assistir inesgotáveis roteiros de um filme de duas horas esticados para 16 longos episódios. O início da temporada prometeu grandes acontecimentos (como sempre) e mostrou muitas coisas que todos gostariam de ver (como sempre), mas ainda faltavam alguns momentos pontuais a serem resolvidos (como sempre) e que, bem, perdão pelo spoiler, não se concretizam.... como sempre. Andrew Lincoln continua com sua performance excelente, assim como alguns personagens como Jeffrey Dean Morgan, que já se esperava trabalho semelhante. Aos demais nem podemos culpar, Lauren Cohan fica abandonada em diálogos filosóficos que não se sustentam e os demais arcos (Rosita, Sasha, Michonne) são cruelmente dignos de pena. Norman Reedus vai se sagrando como ator de um personagem, mas dá pra dizer que a química com Austin Amello (Dwight) funciona muito bem, oh, um elogio. No demais a série peca em motivações, continuidade e fica entre o drama (sério, pé no chão, crível) e o filme de ação clássico (onde todos os personagens são ameaçados por armas e em poucos segundos estão salvos sem nenhuma baixa relevante), dois gêneros que (ao menos para mim) dificilmente são combináveis. A produção é aceitável para ótima, afinal, com a audiência que esse engodo consegue, ao menos o investimento com maquiagem, cenário e figurino continua garantido. Falta para The Walking Dead um roteirista que diga 'isso já foi longe demais' e dê um final épico e digno de uma série que tinha tudo para ser ótima e caiu na armadilha do cliffhanger fácil. Uma pena, o HQ continua espetacular.
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KWestworld é uma série que tem algo que há muito tempo eu não via em uma série - enredo. Primeiramente, ela tem uma história, ela toma seu tempo, introduz seus personagens e, principalmente, sabe respeitar seu próprio enredo; algo que me desagradou muito em Lost e no mais recente The OA. É uma série complexa que esconde suas muitas reflexões em acontecimentos banais e diálogos simples, mas que as vezes faz uso de uma certa exposição pra apresentar elementos mais 'abstratos'. As performances são excelentes, Anthony Hopkins faz um trabalho fenomenal, especialmente na segunda metade da temporada. As personagens femininas são fortes e bem construídas e até os coadjuvantes recebem sua atenção devida e protagonizam trechos da narrativa. Uma série complexa com infinitas camadas que merece atenção, recomendo pra quem gosta de quebrar cabeça com série e assistiu (ou adorou) Ex-Machina, tem muitas questões apresentadas nesse filme aqui. :)
The OA (Parte 1)
4.1 981 Assista AgoraTerminei de assistir a pouco e fiquei em dúvida se considero a série fraquinha ou muito promissora. Fraca ao meu ver, claro. A qualidade é excepcional e as atuações são fora de série (rá), o estilo anti-climático é interessante, porém o ritmo é lento. Uma obra-prima conceitual, porém não agradável. O episódio dá sono durante 30 minutos e te joga um twist no final pra te forçar a assistir o próximo. Sobre o final, de um ponto de vista abstrato e subjetivo, ótimo. Na minha opinião, um fechamento barato com música comovente e movimentos de câmera perfeitos. A série não é ruim, longe disso... mas poderia ser um filme de duas horas em vez de oito episódios, afinal 80% da série pode ser descartado, não é mesmo?
Aliás, eu falei que a minha dúvida é entre ser fraca ou muito promissora é que, com tantas coisas em aberto e tantas possibilidades, pode ser que uma possível segunda temporada vire a mesa e eu me arrependa desse comentário, mas esse pensamento me fez assitir Lost inteiro e deu no que deu...
Black Mirror (3ª Temporada)
4.5 1,3K Assista AgoraComparando com as temporadas anteriores, senti uma queda de conteúdo reflexivo nessa temporada. Episódios como 'Fifteen Million Merits' e 'The Entire Story of You' são marcantes por não existir uma 'mensagem' a ser aprendida, mas sim diversas reflexões que podem ser absorvidas durante os episódios e, justamente, após estes.
Na terceira temporada senti falta disso, os episódios são mais 'mascadinhos' e normalmente tem um objetivo bem definido ou uma lição específica a ser aprendida, quando você chega na conclusão do episódio simplesmente para de pensar nele, algo que não acontecia em temporadas anteriores. (quanta coisa não dá pra tirar de The Entire History of You ou Fifteen Million Merits?)
San Junipero se destaca por ter um enredo mais aberto e não ser tão 'óbvio' em suas colocações.
Contendo muita qualidade e boas atuações, vale muito a pena assistir Black Mirror. :)