Satrapi captura sob um viés bastante pessoal aquele que é considerado por muitos como um dos eventos mais importantes da segunda metade do século XX, transformando o filme em um testemunho vivo das mudanças de seu país e da influência que estes eventos tiveram em sua própria trajetória. Com belos traços arredondados e uma paleta em tons de preto e branco, encontra a maneira ideal de balancear a tristeza inerente à história com a sua atitude e personalidade vibrantes, dando leveza ao filme e suavemente criando laços de empatia com o espectador. Pra quem quiser ler o resto da crítica, :)
O nome do filme é o mesmo nome do livro do qual foi adaptado, do escritor Marçal Aquino. E o filme é lindo, visceral, exuberante; mesmo com uma história cheia de idas e vindas, nunca nos sentimos perdidos, nunca parece gratuito. Personagens fortes, atuações excepcionais, história que prende a atenção, e a Camila Pitanga tá hipnotizante como Lavínia, nem eu esperava que ela estivesse tão bem. Para quem tem preconceito com o título e com a nacionalidade do filme, só posso dizer que estão perdendo...muito!
"Aquela que é considerada a obra máxima de D. W. Griffith, “O Nascimento de Uma Nação” também gera assombro pelas inovações que trouxe para o cinema de sua época, e especialmente por toda polêmica que gerou por seu discurso abertamente racista. Interessante notar que o lançamento do filme se deu em 1915, ou seja, exatamente 50 anos depois do final da Guerra Civil Americana, onde duas regiões do país se enfrentaram para defender suas civilizações. O Norte e o Sul se contrapunham nos mais diversos planos: se o primeiro era essencialmente burguês, industrializado e liberal (para os padrões da época), o último era aristocrático, grandes plantações e regime escravocrata, se assemelhando muito ao Brasil colonial. A principal divergência entre as regiões certamente foi a escravidão, questão que dividia o país. O conflito se inicia em 1861 e só finda em 1865, deixando como rastros mais de um milhão de mortos e um Sul completamente arrasado.
A eficácia de Griffith em contar e entrelaçar várias histórias e sua eficiência em conseguir isso com tão parcos recursos disponíveis à época demonstra o seu grande domínio da narrativa, já que consegue sustentar o ritmo durante as mais de três horas de filme. As cenas de batalha são primorosas e impressionantes até hoje, e momentos como a em que os filhos mais novos das duas famílias, alvejados durante um conflito, morrem abraçados, demonstra a capacidade do diretor em emocionar sem soar piegas, assim como os casais que se formam entre os filhos das duas famílias, perfeitamente inocentes. O cuidado com a caracterização dos personagens (é só observar a família sulista antes e depois do conflito, quando vai literalmente do “luxo ao lixo”) certamente torna a história muito mais crível, dando uma ideia relativamente acurada do efeito da guerra nas pessoas comuns.
A obra se torna duplamente interessante porque a sua visão do evento já se tornou datada em si mesma e, portanto, permite duas perspectivas: a visão da Guerra Civil à época das filmagens, e o próprio filme que advoga os preconceitos de seu tempo, exemplificado pelo uso de atores brancos pintados de negros em diversas cenas. Seus méritos como filme são inquestionáveis, e a arte cinematográfica certamente ganhou muito com as inovações propostas por Griffith. Talvez seja realmente possível dissociar a qualidade e beleza presentes na obra do seu conteúdo certamente questionável. Mas será possível ignorá-lo completamente em nome dos avanços? E mais: será possível fazer da obra objeto de afeto, quando a narrativa é movida por causas tão inaceitáveis para nossa geração? Dúvidas.
O resto vocês podem ler no blog, porque não caberia aqui :)
Persépolis
4.5 754Satrapi captura sob um viés bastante pessoal aquele que é considerado por muitos como um dos eventos mais importantes da segunda metade do século XX, transformando o filme em um testemunho vivo das mudanças de seu país e da influência que estes eventos tiveram em sua própria trajetória. Com belos traços arredondados e uma paleta em tons de preto e branco, encontra a maneira ideal de balancear a tristeza inerente à história com a sua atitude e personalidade vibrantes, dando leveza ao filme e suavemente criando laços de empatia com o espectador.
Pra quem quiser ler o resto da crítica, :)
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
3.5 554 Assista AgoraO nome do filme é o mesmo nome do livro do qual foi adaptado, do escritor Marçal Aquino. E o filme é lindo, visceral, exuberante; mesmo com uma história cheia de idas e vindas, nunca nos sentimos perdidos, nunca parece gratuito. Personagens fortes, atuações excepcionais, história que prende a atenção, e a Camila Pitanga tá hipnotizante como Lavínia, nem eu esperava que ela estivesse tão bem. Para quem tem preconceito com o título e com a nacionalidade do filme, só posso dizer que estão perdendo...muito!
O Nascimento de uma Nação
3.0 230Crítica minha publicada em
"Aquela que é considerada a obra máxima de D. W. Griffith, “O Nascimento de Uma Nação” também gera assombro pelas inovações que trouxe para o cinema de sua época, e especialmente por toda polêmica que gerou por seu discurso abertamente racista. Interessante notar que o lançamento do filme se deu em 1915, ou seja, exatamente 50 anos depois do final da Guerra Civil Americana, onde duas regiões do país se enfrentaram para defender suas civilizações. O Norte e o Sul se contrapunham nos mais diversos planos: se o primeiro era essencialmente burguês, industrializado e liberal (para os padrões da época), o último era aristocrático, grandes plantações e regime escravocrata, se assemelhando muito ao Brasil colonial. A principal divergência entre as regiões certamente foi a escravidão, questão que dividia o país. O conflito se inicia em 1861 e só finda em 1865, deixando como rastros mais de um milhão de mortos e um Sul completamente arrasado.
A eficácia de Griffith em contar e entrelaçar várias histórias e sua eficiência em conseguir isso com tão parcos recursos disponíveis à época demonstra o seu grande domínio da narrativa, já que consegue sustentar o ritmo durante as mais de três horas de filme. As cenas de batalha são primorosas e impressionantes até hoje, e momentos como a em que os filhos mais novos das duas famílias, alvejados durante um conflito, morrem abraçados, demonstra a capacidade do diretor em emocionar sem soar piegas, assim como os casais que se formam entre os filhos das duas famílias, perfeitamente inocentes. O cuidado com a caracterização dos personagens (é só observar a família sulista antes e depois do conflito, quando vai literalmente do “luxo ao lixo”) certamente torna a história muito mais crível, dando uma ideia relativamente acurada do efeito da guerra nas pessoas comuns.
A obra se torna duplamente interessante porque a sua visão do evento já se tornou datada em si mesma e, portanto, permite duas perspectivas: a visão da Guerra Civil à época das filmagens, e o próprio filme que advoga os preconceitos de seu tempo, exemplificado pelo uso de atores brancos pintados de negros em diversas cenas. Seus méritos como filme são inquestionáveis, e a arte cinematográfica certamente ganhou muito com as inovações propostas por Griffith. Talvez seja realmente possível dissociar a qualidade e beleza presentes na obra do seu conteúdo certamente questionável. Mas será possível ignorá-lo completamente em nome dos avanços? E mais: será possível fazer da obra objeto de afeto, quando a narrativa é movida por causas tão inaceitáveis para nossa geração? Dúvidas.
O resto vocês podem ler no blog, porque não caberia aqui :)