As frases: "There's a lot of beauty in ordinary things." e "I wish there was a way to know that you're in "The Good Old days" before you've actually left them.", para mim, são perfeitas para resumir a série. ❤
Essa 4ª temporada enfrenta o passado e acaba por trazer mais alma e mais honestidade à série. A meu ver, a cada episódio fica nítido que ninguém está realmente bem em "BoJack Horseman". As pessoas que dizem que estão, estão mascarando a realidade, e as pessoas que sabem que não estão bem, estão constantemente lutando com esse conhecimento para melhorar. Penso também que essa temporada apresenta menos mentirosos e mais personagens tentando avançar para um melhor estado de existência e, assim, descobrir que talvez às vezes, quando você menos espera, há uma esperança real de encontrar esse lugar mais feliz - talvez até encontrar isso em outras pessoas.
Agora, sobre os pontos altos da temporada, para mim:
1. o episódio que falou sobre a crise das armas nos Estados Unidos somado a questão de gênero, onde há o diálogo em que a Diane diz: "Eu não posso acreditar que este país odeia as mulheres mais do que adora as armas!", e a Princess Carolyn responde: "Não??", diz muito, tanto sobre a questão do armamento como o quanto as mulheres ainda são vistas de forma pejorativa e tratadas de forma imbecilizada (basta ver as reações dos homens no episódio).
Para reforçar a crítica contra a temática sexista, ao decorrer dos episódios, ainda há a série “American Dead Girl”; o programa de "empoderamento" feminino “Felicity Huffman’s Booty Academy”; o triste aborto espontâneo da Princess Carolyn junto a forma monstruosa como o doutor a trata e dá a notícia a ela; todas as opressões que a Beatrice sofreu durante a vida inteira; a lobotomia sofrida pela mãe da Beatrice; a questão do suplemento para a perca de peso da Hollyhock e a Diane com dificuldades de se posicionar por ser mulher. E ao mesmo tempo que choca, exatamente por sabermos que tudo isso é bem real, é ótimo ver que a série continua implacável ao usar o humor em seu ataque aos regimes patriarcais de longa duração dos Estados Unidos (e que reverberam pro resto do mundo).
2. o episódio que destrincha a vida da Beatrice, que é fantástico! Beatrice ao ter um filho não planejado viu sua vida virar um fardo e isso custou mais a ela do que custou ao seu filho. Ela se tornou amarga e furiosa, sua vida ficou sem amor algum. Ela poderia ter melhorado isso? Talvez, mas a 4ª temporada enfatiza o papel prejudicial que o sexismo institucionalizado desempenhou no enquadramento da perspectiva sem esperança de Beatrice. Por isso mesmo ela se enxerga na pele da Henrietta e procura a forçá-la a seguir seus sonhos, dizendo: "Acredite em mim, você não quer isso. (...) Não deixe aquele homem envenenar a sua vida como envenenou a minha". Aqui percebemos que tudo, por mais difícil que seja, e que toda àquela figura fria de Beatrice são totalmente justificáveis. As cenas em que seu pai brigava com a sua mãe e com ela; a forma como ele as depreciava; a lobotomia que sua mãe sofreu por conta do pai 'não saber lidar com emoções femininas'; as criticas constantes que seu pai direcionava a ela por ela querer ler e ter um pensamento livre, ou até mesmo por querer simplesmente comer, são muito perturbadoras. Vemos os inúmeros abusos que a personagem passou desde sempre e como ela foi internalizando todos esses abusos dentro dela. Ela só teria valor a um homem (e só isso que importava) se possuísse beleza e isso, somente isso, ao olhar de seus pais e da sociedade, já era o suficiente para ela ser feliz e viver conformada. Ela, que se mostrava muito inteligente, crítica e curiosa foi "apagada" em vida, e passou a viver vegetando. Não tem como não criar empatia com a personagem. E a cena final e que o BoJack consegue fazer com que ela pense no sabor do sorvete, quebrando o trauma que ela tinha de sequer experimentar, é lindo, mesmo sendo em um contexto bem conturbado. O BoJack quer ser a vítima, e ele realmente é, mas não comparado a sua mãe. Beatrice foi constantemente espancada pelas declarações de seu pai, os sonhos de seu marido e as exigências de seu filho. A responsabilidade que o homem que queria escapar para a Califórnia (e os muitos homens que julgam as mulheres pelo que fazem com seus próprios corpos) resultou em uma criança que não queria, que não conseguiu curar o seu casamento e isso, consequentemente, acabou por gerar um homem/cavalo também quebrado.
Vejo que a 4ª temporada é focada, mais do que nunca, naquela jornada muito complicada, para todos os seus personagens. A aparição da Hollyhock se mostrou um ponto forte para essa busca desenfreada. E no final das contas, o questionamento real acaba nem sendo "Onde está o BoJack?" mas sim em "Quem é o BoJack?". E ele está tentando resolver este, que é o maior mistério de todos, o de encontrar, conhecer e suportar a si mesmo. O mesmo desafio que todos nos esforçamos para responder: qual é o significado da vida?
The Office (9ª Temporada)
4.3 653As frases: "There's a lot of beauty in ordinary things." e "I wish there was a way to know that you're in "The Good Old days" before you've actually left them.", para mim, são perfeitas para resumir a série. ❤
BoJack Horseman (4ª Temporada)
4.5 240 Assista AgoraEssa 4ª temporada enfrenta o passado e acaba por trazer mais alma e mais honestidade à série. A meu ver, a cada episódio fica nítido que ninguém está realmente bem em "BoJack Horseman". As pessoas que dizem que estão, estão mascarando a realidade, e as pessoas que sabem que não estão bem, estão constantemente lutando com esse conhecimento para melhorar. Penso também que essa temporada apresenta menos mentirosos e mais personagens tentando avançar para um melhor estado de existência e, assim, descobrir que talvez às vezes, quando você menos espera, há uma esperança real de encontrar esse lugar mais feliz - talvez até encontrar isso em outras pessoas.
Agora, sobre os pontos altos da temporada, para mim:
1. o episódio que falou sobre a crise das armas nos Estados Unidos somado a questão de gênero, onde há o diálogo em que a Diane diz: "Eu não posso acreditar que este país odeia as mulheres mais do que adora as armas!", e a Princess Carolyn responde: "Não??", diz muito, tanto sobre a questão do armamento como o quanto as mulheres ainda são vistas de forma pejorativa e tratadas de forma imbecilizada (basta ver as reações dos homens no episódio).
Para reforçar a crítica contra a temática sexista, ao decorrer dos episódios, ainda há a série “American Dead Girl”; o programa de "empoderamento" feminino “Felicity Huffman’s Booty Academy”; o triste aborto espontâneo da Princess Carolyn junto a forma monstruosa como o doutor a trata e dá a notícia a ela; todas as opressões que a Beatrice sofreu durante a vida inteira; a lobotomia sofrida pela mãe da Beatrice; a questão do suplemento para a perca de peso da Hollyhock e a Diane com dificuldades de se posicionar por ser mulher. E ao mesmo tempo que choca, exatamente por sabermos que tudo isso é bem real, é ótimo ver que a série continua implacável ao usar o humor em seu ataque aos regimes patriarcais de longa duração dos Estados Unidos (e que reverberam pro resto do mundo).
2. o episódio que destrincha a vida da Beatrice, que é fantástico! Beatrice ao ter um filho não planejado viu sua vida virar um fardo e isso custou mais a ela do que custou ao seu filho. Ela se tornou amarga e furiosa, sua vida ficou sem amor algum. Ela poderia ter melhorado isso? Talvez, mas a 4ª temporada enfatiza o papel prejudicial que o sexismo institucionalizado desempenhou no enquadramento da perspectiva sem esperança de Beatrice. Por isso mesmo ela se enxerga na pele da Henrietta e procura a forçá-la a seguir seus sonhos, dizendo: "Acredite em mim, você não quer isso. (...) Não deixe aquele homem envenenar a sua vida como envenenou a minha". Aqui percebemos que tudo, por mais difícil que seja, e que toda àquela figura fria de Beatrice são totalmente justificáveis. As cenas em que seu pai brigava com a sua mãe e com ela; a forma como ele as depreciava; a lobotomia que sua mãe sofreu por conta do pai 'não saber lidar com emoções femininas'; as criticas constantes que seu pai direcionava a ela por ela querer ler e ter um pensamento livre, ou até mesmo por querer simplesmente comer, são muito perturbadoras. Vemos os inúmeros abusos que a personagem passou desde sempre e como ela foi internalizando todos esses abusos dentro dela. Ela só teria valor a um homem (e só isso que importava) se possuísse beleza e isso, somente isso, ao olhar de seus pais e da sociedade, já era o suficiente para ela ser feliz e viver conformada. Ela, que se mostrava muito inteligente, crítica e curiosa foi "apagada" em vida, e passou a viver vegetando. Não tem como não criar empatia com a personagem. E a cena final e que o BoJack consegue fazer com que ela pense no sabor do sorvete, quebrando o trauma que ela tinha de sequer experimentar, é lindo, mesmo sendo em um contexto bem conturbado.
O BoJack quer ser a vítima, e ele realmente é, mas não comparado a sua mãe. Beatrice foi constantemente espancada pelas declarações de seu pai, os sonhos de seu marido e as exigências de seu filho. A responsabilidade que o homem que queria escapar para a Califórnia (e os muitos homens que julgam as mulheres pelo que fazem com seus próprios corpos) resultou em uma criança que não queria, que não conseguiu curar o seu casamento e isso, consequentemente, acabou por gerar um homem/cavalo também quebrado.
Vejo que a 4ª temporada é focada, mais do que nunca, naquela jornada muito complicada, para todos os seus personagens. A aparição da Hollyhock se mostrou um ponto forte para essa busca desenfreada. E no final das contas, o questionamento real acaba nem sendo "Onde está o BoJack?" mas sim em "Quem é o BoJack?". E ele está tentando resolver este, que é o maior mistério de todos, o de encontrar, conhecer e suportar a si mesmo. O mesmo desafio que todos nos esforçamos para responder: qual é o significado da vida?