Já ouvi muita gente falando sobre "entender" Mulholland Dr. Partindo desse enfoque é curioso notar como a chave e caixa azuis desenvolvem um elo importante entre espectador e personagem. Assim como a chave azul é oferecida aos personagens, a mesma também nos é entregue por Lynch. Naturalmente, a busca da personagem por algo que se abra com a chave resulta no descobrimento de uma caixa azul, que ao ser aberta apresenta uma espécie de "buraco sem fundo". Perceba que o filme, para nós, é a própria chave azul, logo nossa aventura para com ele deve ser o encontro com o "buraco sem fundo". Este que mesmo sendo o nada, é também a possibilidade de tudo, chegando assim num objetivo supremo dos surrealistas, onde oposições (tudo e nada) já não são contradições.
Apesar da associação direta que se dá com a mitologia cristã, é importante que não fiquemos anestesiados pelo puro entendimento dessa alegoria em detrimento de tantos outros "avisos" que a obra proporciona (como os machismos, hipocrisias, alienações). Entender a qualidade do filme somente como uma metáfora, seria como ler a bíblia em deslumbre e isto, já sabemos onde nos levou.
O filme é quase que um "anti-Peter Pan". No meio em sua denúncia à manipulação, o que mais me intriga é imaginar que no lugar da casa, nasce uma Terra do Nunca onde tudo é possível de forma comicamente cruel.
A grande ironia (consequentemente a catarse) se dá no último ato, que cruelmente coloca Jay (ateu e combatente à manifestações religiosas que invadam seu espaço) numa posição de enfrentar
uma seita religiosa, porém dessa vez quem interfere na esfera do outro é Jay que atira nos integrantes da seita após o sacrifício de uma jovem. Os eventos que se desencadeiam a partir daí, concluem o arco do personagem de forma impiedosa, porque ele mata seu amigo por misericórdia e sua mulher e filho (que foram amarrados e cobertos de pano para que parecessem um corcunda, numa bela alegoria de como a mãe carregava o filho nas costas já que o pai estava sendo absolutamente ausente) por engano, forçado a isso pelos membros da seita que o capturaram. Ele se torna o que ele despreza por conta de seu ódio incontrolável, ele se torna perfeito para a seita ao "sacrificar" aqueles que ama - dessa vez, literalmente-. Podemos dizer que o último ato é uma conversão religiosa - brutal - do protagonista.
Confesso que assistir esse filme pareceu uma luta, uma longa e cansativa batalha. Porém por mais sofrível que foi assistí-lo em certos momentos, valeu a pena cada minuto. É um filme de charme próprio e uma magia envolvente. Apesar de odiar o início de cada historinha que parece não levar a lugar algum, no fim das contas vale muito cada pedacinho delas que constroem essa equação de possibilidades infinitas que é "O Manuscrito de Saragoça".
Eu gosto de como o filme justifica o seu ritmo lento através das rimas visuais. Durante o ciclo de sexo, discussões e reconciliações são inseridos vários elementos que se repetem no dia do casal: piscina, cenário desértico, Katia dirigindo, conversas dentro do carro com enquadramento feito no banco de trás. Essa repetição torna a lentidão fílmica interessante a partir do momento em que percebemos que existe uma evolução dos personagens cada vez maior na medida em que os lugares se repetem. Eles falarem línguas diferentes é simplesmente genial para ilustrar como eles não estão na mesma sintonia. Quando eles se deitam no deserto e ela esconde o órgão genital de David é uma imagem que se choca e constrói belamente tudo o que o final do filme representa: a incapacidade que David possui em existir depois de sua experiência traumática, transformando a garota visceral e afetuosa que Katia é em parte de sua vergonha intolerável de existir.
Uma de suas vítimas o questiona sobre a impossibilidade de morrer no próprio sonho, ela diz nunca ter morrido no seu sonho para qual ele responde algo como: "Como você sabe que esse é o seu sonho e não o meu?".
esse é o momento que expõe brutalmente o fato de que suas vítimas todas estão presas na fantasia do serial killer, que na sua fantasia ele é imortal, invencível e imparável, como os psicopatas de Funny Games (1997) de Michael Haneke. Porém acontecimentos puramente humanos mudam o rumo de sua vida, desconstroem sua fantasia.
Primeiro ele encontra Ladybird e ao invés de matá-la, ele a salva e se compromete a ficar apenas com ela, sem mais matanças, e para ela, viver para O Vampiro era um motivo para estar viva, estar sempre lá para que ele tomasse quanto sangue dela desejasse. O segundo ponto da quebra da fantasia é quando ele vai ao hospital visitar uma aluna que tentou cometer suicídio e acaba doando seu sangue para que ela se recupere, neste ponto ele não é mais o ser egoísta, imponente e sedutor, agora ele se torna apenas o Simmon assassino, sem a glória de vampiro, ele é apenas parasita. Por fim, sem sua fantasia e incorporado por uma humanidade intolerável, o protagonista é pego pela polícia em consequência de ter sido descoberto por seus assassinatos.
Simmon cometeu um erro fatal, ele deixou de viver seus sonhos e viveu o sonho dos outros, se tornando mortal demais para o mundo em que vivia.
Procuremos nossos limites. Limites pr'além dos quais nos domesticaram. Eu sei que o mundo (sociedade) é cercado de oceanos (leis), mas ainda podemos correr até a areia... até aprender a nadar.
Quando vejo o fantasma de Santi, muito mais do que uma criança morta, enxergo a materialização de uma fenda aberta no peito de cada um que perdeu alguém para a guerra, ele é conhecido pelas crianças como "aquele que sussurra", assim como as pessoas pobres que vão à luta por não terem uma voz alta o suficiente para se opor ao governo que as obriga marchar em direção ao matadouro. Ele é o mártir, o terrível evento condenado a se repetir, o momento de dor, a morte que por um instante parece tão viva, a emoção congelada no tempo, a fotografia que saiu embaçada como um espectro confuso; Santi é a ausência da linguagem, a nossa incapacidade de descrever algo tão atroz como os atos de guerra, por fim, ele é o fantasma que todos os órfãos enxergam.
Se o noir em sua essência já é um gênero pessimista, em Danação temos a potencialização da mediocridade fatalista da vida numa espécie de pós-humanismo derrotista, onde o humano se torna mais do que seu processo de auto-domesticação para se tornar sujo e condenado como o mundo em que vive.
Se Cannibal Holocaust já beirava a cafonice ao abordar o discurso do "homem branco canibal", aqui temos a extrapolação do ridículo projetada na figura de Alejandro que corrompe tudo à sua volta na tentativa de se beneficiar, contrapondo os ideais de sua profissão de ativista. Dessa forma, o conflito entre índios no seu habitat natural x personagens carismáticos perde sua força (claro que nesse caso nem personagens carismáticos temos).
E assim funcionam as coisas na vida, nossos heróis são corrompidos, nossos vilões são carismáticos, os ciclos se repetem sem conclusões, as consequências às vezes fazem sentido e às vezes não. Eis que descubro o motivo de não entender meus sentimentos ao ver Caché, ele é impiedosamente cru, sem trilha sonora, sem fortes emoções, sem um grande clímax... simplesmente um recorte preciso da crueza da vida imprimido em ficção.
Um roteiro estruturado com primor por William Archibald e Truman Capote do começo ao fim colocando as pistas no timing certo e as recompensas sempre apresentadas de formas conflituosas, justamente por conta da maior virtude do roteiro ser alcançada quando não somos capazes de discernir se realmente as crianças são receptáculos carnais para concretizar a luxúria dos trabalhadores falecidos da mansão ou se Giddens está se tornando paranóica com o convívio em um lugar tão distante de sua realidade.
Interessante é perceber que, no início do filme, Sun-hwa o observa em sua casa com um olhar tenro através de vidros e é exatamente isso que Min-gyu (marido) se torna: vidros por onde a mulher enxerga seu novo amado.
Eu não sei o quanto a mais de tempo de tela Anton Yelchin, que interpreta - com o costumeiro carisma - Chekov, ganhou a partir do processo de montagem devido à seu falecimento trágico em junho deste ano. O fato é: Star Trek Beyond se torna um filme muito mais tocante e simpático devido à forma que incorpora os dramas da vida real, como a morte de Leonard Nimoy (antigo e eterno Spock) que reflete diretamente na subtrama do Spock de Zachary Quinto e a provável valorização de Chekov em tela, pois tenho a legítima impressão de que, dentre os três filmes, foi o que o personagem mais se mostrou presente.
Eu posso dizer que no dia seguinte ao que assisti o filme, experimentei o mundo por outra perspectiva, e por isso, por esses momentos que me foram proporcionados, eu serei grato à Naomi Kawase por toda minha vida... Arigatou.
Earl e Greg fizeram muitos filmes amadores antes de conhecerem Rachel, eram paródias de grandes obras do cinema mundial, como Sockwork Orange (paródia de A Clockwork Orange (1971) de Stanley Kubrick). Esse momento de sua vida reflete sua posição de conforto, de sempre estar se disfarçando por constantemente imitar e achar a fórmula mais simples de não ser notado. Após conhecer Rachel, ele é induzido a fazer um filme pra ela, a decisão de fazer algo completamente original mostra uma grande evolução do personagem, que passa a assumir sua própria identidade.
Após ser elogiado por acender uma bela lareira, Bill pronuncia uma frase que sugere, de certa forma, o motivo de sermos fascinados por filmes, reportagens e literatura sobre tragédias: "Quem disse que não há beleza na destruição?", completado por Dave que diz que se o motivo da destruição for justificável, então sim, existe beleza, porém o problema é que a razão na justificativa é variável de uma consciência para outra e essa é a coisa mais assustadora no ser humano. Madman Marz, o assassino que matou a própria família e agora assassina brutalmente qualquer um que esteja solitário na floresta, enxerga beleza em quem ele mata/destrói e isso é demonstrado por este levar os corpos e deixá-los em exibição no porão de sua casa como troféus que só ele pode apreciar. Matar e morrer na ficção faz parte da arte e se nós que assistimos, toleramos, é porque existe uma espécie de encanto quando encaramos estes conteúdos que de certa forma romantizam a morte; slasher movies potencializam essa "sedução mortal" mais do que qualquer outro conteúdo audiovisual, em minha opinião. A admiração de Marz por seus assassinatos é bem próxima do fascínio de Bill pelas chamas que consomem as madeiras na fogueira que acendeu.
Ao se colocar no lugar de uma mulher, o protagonista sente a grande necessidade de se defender, e além disso, defender as outras mulheres dos assédios masculinos que ele tão bem conhece (só que de maneira inversa, até então). Esse processo faz com que Michael evolua para uma pessoa mais franca quanto ao machismo presente em sua vida. O protagonista se apresenta um homem, que quando posto no lugar de uma mulher, não tolera os preconceitos que estas sofrem.
A natureza da personagem principal nos é exposta paulatinamente, suas motivações e obsessões vão se tornando mais claras conforme ela se envolve com o jovem romântico, seguindo um padrão bem feito de narrativa clássica(com um fino balanceamento entre 'beats' que demonstram sua natureza por trás da professora de piano; exemplos, a cena deitada com a mãe, os cacos de vidro ou o cinema); até então o filme estava muito bom, mas o final...
Demonstra toda a riqueza do filme quando o jovem praticamente invade a casa da professora, revoltado pela situação em que ambos se encontram e cego pelo desejo, o "nosso garoto romântico" que nunca quis entender a condição de sua "amada", age de forma repulsiva (e doentia, logo que ele a via como doente) julgando que era aquilo que a protagonista desejava, culminando num estupro, enquanto ela que realmente estava apaixonada, permanece o tempo todo de olhos fixos para um vazio, um olhar morto como seu amor... Morte que alegoricamente se concretiza quando ela enfia uma faca no hemisfério esquerdo de seu peito com uma expressão de repúdio
Pop Skull
1onde consigo ver esse filme?
A Única Solução
4.0 4Alguém tem link para acesso a este filme?
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraJá ouvi muita gente falando sobre "entender" Mulholland Dr. Partindo desse enfoque é curioso notar como a chave e caixa azuis desenvolvem um elo importante entre espectador e personagem. Assim como a chave azul é oferecida aos personagens, a mesma também nos é entregue por Lynch. Naturalmente, a busca da personagem por algo que se abra com a chave resulta no descobrimento de uma caixa azul, que ao ser aberta apresenta uma espécie de "buraco sem fundo". Perceba que o filme, para nós, é a própria chave azul, logo nossa aventura para com ele deve ser o encontro com o "buraco sem fundo". Este que mesmo sendo o nada, é também a possibilidade de tudo, chegando assim num objetivo supremo dos surrealistas, onde oposições (tudo e nada) já não são contradições.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraApesar da associação direta que se dá com a mitologia cristã, é importante que não fiquemos anestesiados pelo puro entendimento dessa alegoria em detrimento de tantos outros "avisos" que a obra proporciona (como os machismos, hipocrisias, alienações). Entender a qualidade do filme somente como uma metáfora, seria como ler a bíblia em deslumbre e isto, já sabemos onde nos levou.
Dente Canino
3.8 1,2KO filme é quase que um "anti-Peter Pan". No meio em sua denúncia à manipulação, o que mais me intriga é imaginar que no lugar da casa, nasce uma Terra do Nunca onde tudo é possível de forma comicamente cruel.
Kill List
3.3 199A grande ironia (consequentemente a catarse) se dá no último ato, que cruelmente coloca Jay (ateu e combatente à manifestações religiosas que invadam seu espaço) numa posição de enfrentar
uma seita religiosa, porém dessa vez quem interfere na esfera do outro é Jay que atira nos integrantes da seita após o sacrifício de uma jovem. Os eventos que se desencadeiam a partir daí, concluem o arco do personagem de forma impiedosa, porque ele mata seu amigo por misericórdia e sua mulher e filho (que foram amarrados e cobertos de pano para que parecessem um corcunda, numa bela alegoria de como a mãe carregava o filho nas costas já que o pai estava sendo absolutamente ausente) por engano, forçado a isso pelos membros da seita que o capturaram. Ele se torna o que ele despreza por conta de seu ódio incontrolável, ele se torna perfeito para a seita ao "sacrificar" aqueles que ama - dessa vez, literalmente-. Podemos dizer que o último ato é uma conversão religiosa - brutal - do protagonista.
O Manuscrito de Saragoça
3.7 10Confesso que assistir esse filme pareceu uma luta, uma longa e cansativa batalha. Porém por mais sofrível que foi assistí-lo em certos momentos, valeu a pena cada minuto.
É um filme de charme próprio e uma magia envolvente. Apesar de odiar o início de cada historinha que parece não levar a lugar algum, no fim das contas vale muito cada pedacinho delas que constroem essa equação de possibilidades infinitas que é "O Manuscrito de Saragoça".
29 Palms
3.1 34Eu gosto de como o filme justifica o seu ritmo lento através das rimas visuais. Durante o ciclo de sexo, discussões e reconciliações são inseridos vários elementos que se repetem no dia do casal: piscina, cenário desértico, Katia dirigindo, conversas dentro do carro com enquadramento feito no banco de trás. Essa repetição torna a lentidão fílmica interessante a partir do momento em que percebemos que existe uma evolução dos personagens cada vez maior na medida em que os lugares se repetem.
Eles falarem línguas diferentes é simplesmente genial para ilustrar como eles não estão na mesma sintonia.
Quando eles se deitam no deserto e ela esconde o órgão genital de David é uma imagem que se choca e constrói belamente tudo o que o final do filme representa: a incapacidade que David possui em existir depois de sua experiência traumática, transformando a garota visceral e afetuosa que Katia é em parte de sua vergonha intolerável de existir.
Vampire
3.7 52 Assista AgoraUma de suas vítimas o questiona sobre a impossibilidade de morrer no próprio sonho, ela diz nunca ter morrido no seu sonho para qual ele responde algo como: "Como você sabe que esse é o seu sonho e não o meu?".
Esse é o final do filme,
Primeiro ele encontra Ladybird e ao invés de matá-la, ele a salva e se compromete a ficar apenas com ela, sem mais matanças, e para ela, viver para O Vampiro era um motivo para estar viva, estar sempre lá para que ele tomasse quanto sangue dela desejasse. O segundo ponto da quebra da fantasia é quando ele vai ao hospital visitar uma aluna que tentou cometer suicídio e acaba doando seu sangue para que ela se recupere, neste ponto ele não é mais o ser egoísta, imponente e sedutor, agora ele se torna apenas o Simmon assassino, sem a glória de vampiro, ele é apenas parasita. Por fim, sem sua fantasia e incorporado por uma humanidade intolerável, o protagonista é pego pela polícia em consequência de ter sido descoberto por seus assassinatos.
Simmon cometeu um erro fatal, ele deixou de viver seus sonhos e viveu o sonho dos outros, se tornando mortal demais para o mundo em que vivia.
Por Trás da Máscara: O Surgimento de Leslie Vernon
3.0 119Sátira didática para roteiristas de slasher movies. Gostei.
Elena
3.5 46Interessante abordagem sobre hipocrisia.
Os Incompreendidos
4.4 645Procuremos nossos limites. Limites pr'além dos quais nos domesticaram. Eu sei que o mundo (sociedade) é cercado de oceanos (leis), mas ainda podemos correr até a areia... até aprender a nadar.
A Espinha do Diabo
3.8 350 Assista AgoraQuando vejo o fantasma de Santi, muito mais do que uma criança morta, enxergo a materialização de uma fenda aberta no peito de cada um que perdeu alguém para a guerra, ele é conhecido pelas crianças como "aquele que sussurra", assim como as pessoas pobres que vão à luta por não terem uma voz alta o suficiente para se opor ao governo que as obriga marchar em direção ao matadouro. Ele é o mártir, o terrível evento condenado a se repetir, o momento de dor, a morte que por um instante parece tão viva, a emoção congelada no tempo, a fotografia que saiu embaçada como um espectro confuso; Santi é a ausência da linguagem, a nossa incapacidade de descrever algo tão atroz como os atos de guerra, por fim, ele é o fantasma que todos os órfãos enxergam.
Danação
4.1 51Se o noir em sua essência já é um gênero pessimista, em Danação temos a potencialização da mediocridade fatalista da vida numa espécie de pós-humanismo derrotista, onde o humano se torna mais do que seu processo de auto-domesticação para se tornar sujo e condenado como o mundo em que vive.
Canibais
2.6 518 Assista AgoraSe Cannibal Holocaust já beirava a cafonice ao abordar o discurso do "homem branco canibal", aqui temos a extrapolação do ridículo projetada na figura de Alejandro que corrompe tudo à sua volta na tentativa de se beneficiar, contrapondo os ideais de sua profissão de ativista. Dessa forma, o conflito entre índios no seu habitat natural x personagens carismáticos perde sua força (claro que nesse caso nem personagens carismáticos temos).
Caché
3.8 384 Assista AgoraE assim funcionam as coisas na vida, nossos heróis são corrompidos, nossos vilões são carismáticos, os ciclos se repetem sem conclusões, as consequências às vezes fazem sentido e às vezes não. Eis que descubro o motivo de não entender meus sentimentos ao ver Caché, ele é impiedosamente cru, sem trilha sonora, sem fortes emoções, sem um grande clímax... simplesmente um recorte preciso da crueza da vida imprimido em ficção.
Os Inocentes
4.1 396Um roteiro estruturado com primor por William Archibald e Truman Capote do começo ao fim colocando as pistas no timing certo e as recompensas sempre apresentadas de formas conflituosas, justamente por conta da maior virtude do roteiro ser alcançada quando não somos capazes de discernir se realmente as crianças são receptáculos carnais para concretizar a luxúria dos trabalhadores falecidos da mansão ou se Giddens está se tornando paranóica com o convívio em um lugar tão distante de sua realidade.
Casa Vazia
4.2 409Interessante é perceber que, no início do filme, Sun-hwa o observa em sua casa com um olhar tenro através de vidros e é exatamente isso que Min-gyu (marido) se torna: vidros por onde a mulher enxerga seu novo amado.
Star Trek: Sem Fronteiras
3.8 566 Assista AgoraEu não sei o quanto a mais de tempo de tela Anton Yelchin, que interpreta - com o costumeiro carisma - Chekov, ganhou a partir do processo de montagem devido à seu falecimento trágico em junho deste ano. O fato é: Star Trek Beyond se torna um filme muito mais tocante e simpático devido à forma que incorpora os dramas da vida real, como a morte de Leonard Nimoy (antigo e eterno Spock) que reflete diretamente na subtrama do Spock de Zachary Quinto e a provável valorização de Chekov em tela, pois tenho a legítima impressão de que, dentre os três filmes, foi o que o personagem mais se mostrou presente.
Sabor da Vida
4.2 129 Assista AgoraEu posso dizer que no dia seguinte ao que assisti o filme, experimentei o mundo por outra perspectiva, e por isso, por esses momentos que me foram proporcionados, eu serei grato à Naomi Kawase por toda minha vida... Arigatou.
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer
4.0 888 Assista AgoraEarl e Greg fizeram muitos filmes amadores antes de conhecerem Rachel, eram paródias de grandes obras do cinema mundial, como Sockwork Orange (paródia de A Clockwork Orange (1971) de Stanley Kubrick). Esse momento de sua vida reflete sua posição de conforto, de sempre estar se disfarçando por constantemente imitar e achar a fórmula mais simples de não ser notado. Após conhecer Rachel, ele é induzido a fazer um filme pra ela, a decisão de fazer algo completamente original mostra uma grande evolução do personagem, que passa a assumir sua própria identidade.
Madman
2.8 29Após ser elogiado por acender uma bela lareira, Bill pronuncia uma frase que sugere, de certa forma, o motivo de sermos fascinados por filmes, reportagens e literatura sobre tragédias: "Quem disse que não há beleza na destruição?", completado por Dave que diz que se o motivo da destruição for justificável, então sim, existe beleza, porém o problema é que a razão na justificativa é variável de uma consciência para outra e essa é a coisa mais assustadora no ser humano. Madman Marz, o assassino que matou a própria família e agora assassina brutalmente qualquer um que esteja solitário na floresta, enxerga beleza em quem ele mata/destrói e isso é demonstrado por este levar os corpos e deixá-los em exibição no porão de sua casa como troféus que só ele pode apreciar. Matar e morrer na ficção faz parte da arte e se nós que assistimos, toleramos, é porque existe uma espécie de encanto quando encaramos estes conteúdos que de certa forma romantizam a morte; slasher movies potencializam essa "sedução mortal" mais do que qualquer outro conteúdo audiovisual, em minha opinião. A admiração de Marz por seus assassinatos é bem próxima do fascínio de Bill pelas chamas que consomem as madeiras na fogueira que acendeu.
Tootsie
3.8 266 Assista AgoraAo se colocar no lugar de uma mulher, o protagonista sente a grande necessidade de se defender, e além disso, defender as outras mulheres dos assédios masculinos que ele tão bem conhece (só que de maneira inversa, até então). Esse processo faz com que Michael evolua para uma pessoa mais franca quanto ao machismo presente em sua vida. O protagonista se apresenta um homem, que quando posto no lugar de uma mulher, não tolera os preconceitos que estas sofrem.
A Professora de Piano
4.0 685 Assista AgoraA natureza da personagem principal nos é exposta paulatinamente, suas motivações e obsessões vão se tornando mais claras conforme ela se envolve com o jovem romântico, seguindo um padrão bem feito de narrativa clássica(com um fino balanceamento entre 'beats' que demonstram sua natureza por trás da professora de piano; exemplos, a cena deitada com a mãe, os cacos de vidro ou o cinema); até então o filme estava muito bom, mas o final...
Demonstra toda a riqueza do filme quando o jovem praticamente invade a casa da professora, revoltado pela situação em que ambos se encontram e cego pelo desejo, o "nosso garoto romântico" que nunca quis entender a condição de sua "amada", age de forma repulsiva (e doentia, logo que ele a via como doente) julgando que era aquilo que a protagonista desejava, culminando num estupro, enquanto ela que realmente estava apaixonada, permanece o tempo todo de olhos fixos para um vazio, um olhar morto como seu amor...
Morte que alegoricamente se concretiza quando ela enfia uma faca no hemisfério esquerdo de seu peito com uma expressão de repúdio