Não é ruim, mas também não é bom. Depois da porrada que foi ler esse livro, esperava um pouco mais da carga dramática visual que um filme poderia passar.
Que pancada, meu Deus. Zero defeitos. Melhor do que a maior parte dos filmes que passou pelo Oscar nos últimos anos (apesar de ter outro perfil, completamente). Isso colocado: é um dos únicos filmes que eu já vi que não banaliza, não relativiza, não romanceia, não transforma a dor em palco quando se trata do Nazismo. Quase um filme de terror. Sublime!
Fresco e deliciosamente cativante. Não dá para ser diferente com Yorgos na direção – ainda que, aqui, a excentricidade comum do diretor não esteja no lugar do desconforto, exceto, talvez, por uma ou duas cenas logo no início. Tem algumas falhas que me salta demais aos olhos. O raso aceno ao anarquismo e ao socialismo é... raso. Não sei se havia a necessidade de falar sobre distribuição de renda e desigualdade social sem a profundidade necessária. Dito isso, perdoável.
Agora, imperdoável é esse feminismo privilegiado. É óbvio que é uma história de empoderamento feminino por meio da apropriação do próprio desejo, mas quão vazio é construir isso em cima de um feminismo branco privilegiado? Essa falácia do uso da prostituição como forma de libertação feminina vem de um lugar de gente tão protegida que não é só inocente, mas quase ofensivo para as mulheres de realidade que trabalham na indústria do sexo.
“Ai, mas é ficção” que quer, como toda arte, mimicar a realidade como gostaria que ela fosse ou para escancarar as feiuras da sociedade. Portanto, é uma representação bastante perigosa (e ingênua) de uma realidade horrível e que aqui quase parece utópica. (Curioso que os conservadores tentem articular uma crítica à prostituição no filme sem conseguir ter qualquer argumento contra exceto que aí a moral foi perdida. Eles conseguem começar um discurso bem e terminar distorcendo qualquer lógica racional possível. Enfim, não é sobre a índole da personagem que falo aqui, mas de onde parte o discurso privilegiado da elite que acha que a mulher que gosta de sexo pode se prostituir com facilidade porque ela gosta de sexo, como se isso fizesse QUALQUER sentido. “Trabalhe com o que você ama” diz o capitalismo hoje em dia e mata de exaustão e desgosto qualquer um que tente seguir esse caminho.) Emma ganha no carisma, mas não faz nada particularmente excepcional para o meu gosto. Dito isso, é um filme absolutamente excelente, com uma estética tão lindamente marcante que segue frequentando meu imaginário dois dias depois de tê-lo assistido. Discussões boas e difíceis sobre filosofia, sociologia e biologia.
Para mim não há dúvidas. O filme fala sobre quão ridículo pode ser o julgamento de um caso em um tribunal público com os "julgamentos" públicos e as conclusões vergonhosamente errôneas tiradas por profissionais parciais e engajados em um discurso midiático. Você abre as portas para declarações misóginas, sem fundamento, preconceituosas, homofóbicas e todos os tipos de pensamentos mais tacanhos que a sociedade é capaz de ter. Dito isso, conversa muitíssimo bem com "A caça" (que é outro que eu não entendo como alguém consegue ficar em dúvida sobre o resultado final - e talvez a verdade seja que Hollywood destruiu a capacidade de raciocínio próprio dos espectadores, rs). Uma pergunta para quem tem qualquer dúvida (que um advogado excelente) colocou ao final do filme:
qual é o motivo? Ela não era uma pessoa afeita a emoções fortes. Ela não se deixava levar facilmente por sentimentos. Alemães, inclusive, são conhecidos pela frieza, pela falta de calor ao expressar emoções. Ela não era uma mulher passional e ele não era um homem particularmente violento. O casamento deles não era perfeito, mas também não era absolutamente infeliz. Ela não tinha motivos para querer se livrar do marido e isso, no direito, já é o suficiente para não abrir um julgamento.
E essa especulação pública sobre o relacionamento e o que se passa dentro da casa de um casal que está junto há anos é outro ponto fortíssimo: até onde cenas pontuais da realidade de alguém traduzem o todo de uma vida a dois? Como é que podemos decidir que um casal não deveria estar junto ou é absolutamente infeliz ou tem problemas irreconciliáveis nos baseando apenas em quatro ou cinco acontecimentos marcantes ao longo de 12 anos? Eu diria que é impossível e que qualquer julgamento é nada além de uma projeção das frustrações do próprio ouvinte.
Previsível, sim, mas muito fresco. Tem algo de novo que Triângulo da Tristeza quis criar e não conseguiu. Tem uma aura esquisita, excêntrica, numa estética própria e isso é louvável numa era de padronização, especialmente para novos cineastas. Não é a crítica mais contundente ou astuta ao rico (na verdade, é muito mais sobre a ambição da classe média sem necessariamente perder a possibilidade de alfinetar a apatia e absurdos do herdeiro), mas tem ali seu pézinho na crítica social. É mais um thriller do que qualquer outra coisa. E, de novo, previsível, mas aceitável. Acho que teria sido tão melhor um roteiro com mais de um “vilão”, com realmente mais de um foco de manipulação, com mais interesses obscuros, com uma verdadeira teia de intrigas e reviravoltas. Também não precisava explicar tudo tão detalhadamente no final. Foi quase o Nolan, rs.
Que delicadeza, quanta sutileza. Uma ode ao gênero conto (especialmente contos com finais abertos e pouco explicados) e ao cinema. A metalinguagem cria uma homenagem ao audiovisual e ao teatro muito melhor que tantos outros filmes que tentaram fazer isso em Hollywood (coflalalandcof). Que lindíssimo deixar a explicação do filme inteiro literalmente nas mãos de um monólogo na língua dos sinais. É um grande emaranhado de nós que não fala apenas do luto, mas também da arte, do olhar para dentro, do se perdoar e de amar. Lindo, lindo!
Não achei nem de longe tão bom quanto falaram, mas gostei da humanização da figura "Maria Antonieta" (tem que ignorar o fato de que a monarquia era realmente um câncer na sociedade, ainda que a verdade seja que não foram as festas de Maria Antonieta que quebraram os cofres da França, mas a guerra nos EUA). É um grande marco do feminismo branco (claramente), mas dá para passar um paninho bemmm de leve.
Nolan está aprendendo aos poucos a não subestimar tanto o público (ainda precisa ajustar a mão, mas já me sinto menos tratada como uma criança). Surpreendentemente bom. Gostei da veia antimilitarista e anti-armamentista - dois temas muito atuais, além da quebra do estereótipo do “comunista comedor de crianças” da ilusão estadunidense.
História nada convincente, mas visualmente muito lindo. Claramente a história foi feita para criar as desculpas necessárias para incluir as imagens mentais que Cameron tinha.
Poderia ser TÃO melhor. As discussões são ótimas, os atores são bons, mas os diálogos… pq deixar tudo tão raso? A direção errou na mão ao aliviar o drama e não equilibrar a tragicomédia que o filme deveria ser.
a história das duas mães é um prelúdio e uma alegoria para o que se desenrola ao final do filme. É o paralelo traçado entre mães que perderam seus filhos e os filhos dos outros. Sobre todas essas mulheres que criaram gerações sozinhas por conta da guerra civil espanhola. Sobre como, ao viver dentro de uma comunidade unida, a dor de uma mãe é a dor de todas as outras.
Lindo, delicado, emocionante e, mais do que tudo, importantíssimo para o momento atual do mundo. No qual muitos se esqueceram das crueldades cometidas por governos autoritários.
Achei que a morte do Tony Stark seria suficiente para fazer a vez do tio Ben para este Homem-Aranha, mas claramente tinham que matar a May e deixar ele ABSOLUTAMENTE sozinho. Acho que existe uma grande possibilidade da Marvel trazer essa realidade do herói para algo mais próximo do que conhecemos. Ele estava, afinal, muito mais poderoso e estabilizado do que o nosso amigo da vizinhança realmente é. Acho uma ótima oportunidade (especialmente com Venom se tornando um dos próximos vilões), mas a verdade é que foi um final cruel como nenhum outro. Pobre Peter. Pontos enormes pelas zoeiras com os outros dois Homem-Aranhas que tivemos no passado (especialmente pela devoção concebida à Tobey Maguire, que basicamente teve esse um personagem na carreira e o estabeleceu como mais ninguém).
Não é nem de longe um excelente filme da Marvel, mas tem detalhes que a Marvel conseguiu elevar aqui: fotografia, atuações e só não é a melhor trilha sonora pq Guardiões, né. O filme é confuso sim, tem um ritmo estranho, muitas coisas na história não se fecham:
os Deviants estão lá para serem um segundo inimigo pq o real antagonista é um traidor, mas, no fim, ninguém foi uma real ameaça ali no final – a real ameaça MESMO é o líder lá que já não lembro o nome (nem Tiamat era, coitado). O deviant inteligente foi nada além de um bicho para “humanizar” a situação toda (??) e nerfar um pouco o time. E o Ikaris só desistiu e nem foi tão problemático assim. Poderia ter tido uma morte muito mais digna e contribuído para a dificuldade de resolução do plot final (por exemplo ao ser morto pelo Deviant e ter seus poderes absorvidos).
Os efeitos estão lindos, a paisagem é linda, a diversidade é orgânica, o plot geral é interessante e pode ter desdobramentos incríveis, os atores são maravilhosos (Angelina, te amo) e estamos sendo apresentados a uma nova fase da Marvel que pode ser muito próspera se não esperarmos exatamente a mesma fórmula de novo (vamos se abrir para o futuro, galere). Épocas de transição em longas histórias são sempre chatas e confusas, pq você está acostumado com uma coisa e te jogam outra no mesmo universo que você nem entende ainda se quer gostar ou não.
Quatro estrelas pq a DC finalmente teve coragem de deixar um diretor ser livre e fazer um filme do jeito dele - ele GRITA James Gunn em seu auge. Trilha sonora marcante e engraçadinha, piadas de humor sarcástico e cáustico, bizarrices, nojeiras, os personagens mais sem noção da DC e diálogos sensacionais.
Há algum tempo eu tenho tentado encontrar conteúdo que fale, de forma saudável e honesta, sobre relacionamentos abertos como uma opção válida e saudável para quem optou por esse modo de vida... e toda vez ele é retratado como algo ligado à pessoas que não sabem o que querem, fetiches, imaturidade, medo de compromisso e sempre, sempre, é visto pelos olhos do monogâmico. É muito fácil enxergar isso neste filme: a imaturidade e falta de inteligência emocional do casal central é responsável pelo acordo de terem algo aberto, não uma genuína vontade de liberdade para ambas as partes - a discussão não deveria ser o fetiche, mas a compreensão de pessoas que vivem algo aberto que a monogamia não impede ninguém de nada (vide o que aconteceu ali no comecinho) e preferem a honestidade e a liberdade sua e do outro acima do falso sentimento de segurança que você tem ao colocar um rótulo no seu relacionamento. (Isso vale para as pessoas que sabem que sempre vão desejar outra pessoa em algum momento e que sexo não está atrelado necessariamente ao sentimento romântico. Monogâmicos inveterados também existem.) E é uma decepção que esse filme, que poderia ter mostrado que o problema estava em como eles colocaram o sexo com outras pessoas no centro do relacionamento como um fetiche, algo para apimentar, não uma liberdade individual a ser exercida, caiu no clichê. O problema poderia ter sido só esse, eles poderiam ter entendido que gostam da liberdade de dar uns pegas em outras pessoas por aí. E eles poderiam ter voltado a ter um relacionamento sério, morando junto, casados, mas não monogâmico, com regras próprias, respeito, honestidade e maturidade (que eles não tiveram inicialmente). Como alguém que tem tentado encontrar referências positivas e sérias de relacionamentos não monogâmicos nas artes, é frustrante sempre me deparar com uma crítica descabida e a eterna volta à monogamia.
Filme ruinzinho, mas conta uma história importantíssima de conhecermos. Precisamos estudar e exaltar nossas mulheres do passado e parar de acreditar na falácia de que os homens foram nossos maiores artistas de outras épocas.
Achei um excelente terror psicológico, especialmente por tratar de particularidades tão importantes e frágeis como a solidão e a necessidade de pertencimento (que estão interligadas, claro). O filme explora como o pertencimento pode fazer o humano aceitar qualquer coisa e quanto mais isolado ele se sentir, mais provável que se permita ser parte de algo errado ou pouco saudável. Aquelas cenas em que todos “sentem” o que o outro está sentindo são uma ótima forma de demonstrar isso. É uma belíssima forma de manipulação, mas não deixa de ser admirável (hoje em dia parece tão difícil para as pessoas se colocarem no lugar das outras e essa galera aí sobrevive só por isso). Acho que o mais assustador é exatamente isso: como podemos ser suscetíveis a situações horrendas para aplacarmos nossas dores.
Esse filme traz discussões excelentes: Como a sociedade não aceita o julgamento oficial e não acredita nas instituições de poder e acha que deve fazer justiça com as próprias mãos (é daí que vêm os linchamentos, tão comuns aqui no Brasil, por exemplo, e sempre cometidos antes mesmo de qualquer julgamento oficial). E essa, certamente, é a maior crítica: como a vida de uma pessoa pode ser destruída por uma falsa acusação MESMO quando fica provado que ela é inocente. O impacto social não permite que ela volte ao que tinha antes e é importantíssimo decidir, judicialmente, quais casos devem ou não serem levados adiante. Também podemos discutir as percepções bizarras e os achismos que a população comum tem e como isso parece suficiente para embasar um posicionamento radical (como achar que crianças não mentem). Naquele momento da história tinham que ter levado um psicólogo para analisar tanto a menina quanto ele, fazer interrogatórios sérios e também não dar informações aleatórias para os outros pais, mas levar um profissional que pudesse instruí-los corretamente. Mas também não podemos esquecer que crianças de fato podem se sentir próximas dos seus abusadores por um tempo, que crianças não querem ser repreendidas e, por isso, mentem sobre o abuso (principalmente quando ameaçadas), que é, sim, muito provável que o abusador minta sobre o que fez. Acho que é um filme que se contrapõe perfeitamente à série Inacreditável da Netflix. Eles são dois contrapontos perfeitos quando se trata de julgamentos por abuso. E acho que não é spoiler nenhum: ele claramente era inocente. Há os meninos mostrando pornô para Klara, a raiva dela por se sentir rejeitada, como ele briga com ela por fazer algo inapropriado, como ele afasta as pessoas, tudo aponta para a inocência dele. E a imagem dele está associada a do cervo o tempo todo – a caça passiva e dócil.
Eu até poderia ter dado uma notinha melhor não fosse pelo reforço excessivo de estereótipos dos papéis de gênero na sociedade. Tipo, sério? As mulheres SEMPRE estão desesperadas por relacionamentos e se tornam loucas por isso? Os homens sempre são os cuzões insensíveis? Ah, pelo amor de deus, estamos em 2021, não tem mais tempo para esse tipo de afirmação, irmão.
Gente, li esse livro este ano e achei IMPRESSIONANTE. Absolutamente indigesto, difícil, doloroso, mas brilhante. Digo para todos aqui: leiam J.M. Coetzee. É um livro tão atual que DÓI, o paralelo que podemos traçar entre a África do Sul pós-apartheid e o Brasil é um socão na cara. Dito isso, o filme vale ao menos uma chance?
Gente, que filme FODIDO de bom. É impressionante o modo como ele te leva para dentro da narrativa, como você só quer que o filme acabe para não sentir mais o desconforto da situação.
E é tão incrível o que a diretora queria mostrar (e espero que tenha conseguido com todo mundo): como garotos também podem ser abusados por figuras mais velhas e a sensação de impotência da vítima. Tantas e tantas vezes mulheres passam pelo mesmo que aquela menina que Anne ajuda no começo do filme e os homens só sabem dizer que é estupidez não contar para ninguém. Mas veja só se os papéis não foram trocados e, quem sabe, os poucos que assistirem à Rainha de Copas não consigam simpatizar com a dor de revelar um trauma e, ainda assim, ser desacreditada.
Elena Sabe
3.0 13Não é ruim, mas também não é bom. Depois da porrada que foi ler esse livro, esperava um pouco mais da carga dramática visual que um filme poderia passar.
Zona de Interesse
3.6 577 Assista AgoraQue pancada, meu Deus. Zero defeitos. Melhor do que a maior parte dos filmes que passou pelo Oscar nos últimos anos (apesar de ter outro perfil, completamente).
Isso colocado: é um dos únicos filmes que eu já vi que não banaliza, não relativiza, não romanceia, não transforma a dor em palco quando se trata do Nazismo. Quase um filme de terror.
Sublime!
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraFresco e deliciosamente cativante. Não dá para ser diferente com Yorgos na direção – ainda que, aqui, a excentricidade comum do diretor não esteja no lugar do desconforto, exceto, talvez, por uma ou duas cenas logo no início. Tem algumas falhas que me salta demais aos olhos.
O raso aceno ao anarquismo e ao socialismo é... raso. Não sei se havia a necessidade de falar sobre distribuição de renda e desigualdade social sem a profundidade necessária. Dito isso, perdoável.
Agora, imperdoável é esse feminismo privilegiado.
É óbvio que é uma história de empoderamento feminino por meio da apropriação do próprio desejo, mas quão vazio é construir isso em cima de um feminismo branco privilegiado? Essa falácia do uso da prostituição como forma de libertação feminina vem de um lugar de gente tão protegida que não é só inocente, mas quase ofensivo para as mulheres de realidade que trabalham na indústria do sexo.
“Ai, mas é ficção” que quer, como toda arte, mimicar a realidade como gostaria que ela fosse ou para escancarar as feiuras da sociedade. Portanto, é uma representação bastante perigosa (e ingênua) de uma realidade horrível e que aqui quase parece utópica.
(Curioso que os conservadores tentem articular uma crítica à prostituição no filme sem conseguir ter qualquer argumento contra exceto que aí a moral foi perdida. Eles conseguem começar um discurso bem e terminar distorcendo qualquer lógica racional possível. Enfim, não é sobre a índole da personagem que falo aqui, mas de onde parte o discurso privilegiado da elite que acha que a mulher que gosta de sexo pode se prostituir com facilidade porque ela gosta de sexo, como se isso fizesse QUALQUER sentido. “Trabalhe com o que você ama” diz o capitalismo hoje em dia e mata de exaustão e desgosto qualquer um que tente seguir esse caminho.)
Emma ganha no carisma, mas não faz nada particularmente excepcional para o meu gosto.
Dito isso, é um filme absolutamente excelente, com uma estética tão lindamente marcante que segue frequentando meu imaginário dois dias depois de tê-lo assistido. Discussões boas e difíceis sobre filosofia, sociologia e biologia.
Anatomia de uma Queda
4.0 779 Assista AgoraPara mim não há dúvidas. O filme fala sobre quão ridículo pode ser o julgamento de um caso em um tribunal público com os "julgamentos" públicos e as conclusões vergonhosamente errôneas tiradas por profissionais parciais e engajados em um discurso midiático.
Você abre as portas para declarações misóginas, sem fundamento, preconceituosas, homofóbicas e todos os tipos de pensamentos mais tacanhos que a sociedade é capaz de ter.
Dito isso, conversa muitíssimo bem com "A caça" (que é outro que eu não entendo como alguém consegue ficar em dúvida sobre o resultado final - e talvez a verdade seja que Hollywood destruiu a capacidade de raciocínio próprio dos espectadores, rs).
Uma pergunta para quem tem qualquer dúvida (que um advogado excelente) colocou ao final do filme:
qual é o motivo?
Ela não era uma pessoa afeita a emoções fortes. Ela não se deixava levar facilmente por sentimentos. Alemães, inclusive, são conhecidos pela frieza, pela falta de calor ao expressar emoções. Ela não era uma mulher passional e ele não era um homem particularmente violento. O casamento deles não era perfeito, mas também não era absolutamente infeliz. Ela não tinha motivos para querer se livrar do marido e isso, no direito, já é o suficiente para não abrir um julgamento.
E essa especulação pública sobre o relacionamento e o que se passa dentro da casa de um casal que está junto há anos é outro ponto fortíssimo: até onde cenas pontuais da realidade de alguém traduzem o todo de uma vida a dois? Como é que podemos decidir que um casal não deveria estar junto ou é absolutamente infeliz ou tem problemas irreconciliáveis nos baseando apenas em quatro ou cinco acontecimentos marcantes ao longo de 12 anos? Eu diria que é impossível e que qualquer julgamento é nada além de uma projeção das frustrações do próprio ouvinte.
Saltburn
3.5 846Previsível, sim, mas muito fresco. Tem algo de novo que Triângulo da Tristeza quis criar e não conseguiu. Tem uma aura esquisita, excêntrica, numa estética própria e isso é louvável numa era de padronização, especialmente para novos cineastas.
Não é a crítica mais contundente ou astuta ao rico (na verdade, é muito mais sobre a ambição da classe média sem necessariamente perder a possibilidade de alfinetar a apatia e absurdos do herdeiro), mas tem ali seu pézinho na crítica social.
É mais um thriller do que qualquer outra coisa. E, de novo, previsível, mas aceitável. Acho que teria sido tão melhor um roteiro com mais de um “vilão”, com realmente mais de um foco de manipulação, com mais interesses obscuros, com uma verdadeira teia de intrigas e reviravoltas.
Também não precisava explicar tudo tão detalhadamente no final. Foi quase o Nolan, rs.
Drive My Car
3.9 381 Assista AgoraQue delicadeza, quanta sutileza. Uma ode ao gênero conto (especialmente contos com finais abertos e pouco explicados) e ao cinema. A metalinguagem cria uma homenagem ao audiovisual e ao teatro muito melhor que tantos outros filmes que tentaram fazer isso em Hollywood (coflalalandcof).
Que lindíssimo deixar a explicação do filme inteiro literalmente nas mãos de um monólogo na língua dos sinais.
É um grande emaranhado de nós que não fala apenas do luto, mas também da arte, do olhar para dentro, do se perdoar e de amar. Lindo, lindo!
Maria Antonieta
3.7 1,3K Assista AgoraNão achei nem de longe tão bom quanto falaram, mas gostei da humanização da figura "Maria Antonieta" (tem que ignorar o fato de que a monarquia era realmente um câncer na sociedade, ainda que a verdade seja que não foram as festas de Maria Antonieta que quebraram os cofres da França, mas a guerra nos EUA). É um grande marco do feminismo branco (claramente), mas dá para passar um paninho bemmm de leve.
Oppenheimer
4.0 1,1KNolan está aprendendo aos poucos a não subestimar tanto o público (ainda precisa ajustar a mão, mas já me sinto menos tratada como uma criança).
Surpreendentemente bom. Gostei da veia antimilitarista e anti-armamentista - dois temas muito atuais, além da quebra do estereótipo do “comunista comedor de crianças” da ilusão estadunidense.
O Menu
3.6 1,0K Assista AgoraEh, exagera desnecessariamente para ilustrar uma discussão relevante.
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraHistória nada convincente, mas visualmente muito lindo. Claramente a história foi feita para criar as desculpas necessárias para incluir as imagens mentais que Cameron tinha.
Boa Sorte, Leo Grande
3.8 117 Assista AgoraPoderia ser TÃO melhor. As discussões são ótimas, os atores são bons, mas os diálogos… pq deixar tudo tão raso? A direção errou na mão ao aliviar o drama e não equilibrar a tragicomédia que o filme deveria ser.
Mães Paralelas
3.7 411Acho que muitos que assistiram o filme e comentaram aqui talvez não tenham entendido o grande ponto do filme:
a história das duas mães é um prelúdio e uma alegoria para o que se desenrola ao final do filme. É o paralelo traçado entre mães que perderam seus filhos e os filhos dos outros. Sobre todas essas mulheres que criaram gerações sozinhas por conta da guerra civil espanhola. Sobre como, ao viver dentro de uma comunidade unida, a dor de uma mãe é a dor de todas as outras.
Lindo, delicado, emocionante e, mais do que tudo, importantíssimo para o momento atual do mundo. No qual muitos se esqueceram das crueldades cometidas por governos autoritários.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
4.2 1,8K Assista AgoraMeu deus, que filme mais triste.
Achei que a morte do Tony Stark seria suficiente para fazer a vez do tio Ben para este Homem-Aranha, mas claramente tinham que matar a May e deixar ele ABSOLUTAMENTE sozinho.
Acho que existe uma grande possibilidade da Marvel trazer essa realidade do herói para algo mais próximo do que conhecemos. Ele estava, afinal, muito mais poderoso e estabilizado do que o nosso amigo da vizinhança realmente é. Acho uma ótima oportunidade (especialmente com Venom se tornando um dos próximos vilões), mas a verdade é que foi um final cruel como nenhum outro.
Pobre Peter.
Pontos enormes pelas zoeiras com os outros dois Homem-Aranhas que tivemos no passado (especialmente pela devoção concebida à Tobey Maguire, que basicamente teve esse um personagem na carreira e o estabeleceu como mais ninguém).
Eternos
3.4 1,1K Assista AgoraNão é nem de longe um excelente filme da Marvel, mas tem detalhes que a Marvel conseguiu elevar aqui: fotografia, atuações e só não é a melhor trilha sonora pq Guardiões, né.
O filme é confuso sim, tem um ritmo estranho, muitas coisas na história não se fecham:
os Deviants estão lá para serem um segundo inimigo pq o real antagonista é um traidor, mas, no fim, ninguém foi uma real ameaça ali no final – a real ameaça MESMO é o líder lá que já não lembro o nome (nem Tiamat era, coitado). O deviant inteligente foi nada além de um bicho para “humanizar” a situação toda (??) e nerfar um pouco o time. E o Ikaris só desistiu e nem foi tão problemático assim.
Poderia ter tido uma morte muito mais digna e contribuído para a dificuldade de resolução do plot final (por exemplo ao ser morto pelo Deviant e ter seus poderes absorvidos).
Os efeitos estão lindos, a paisagem é linda, a diversidade é orgânica, o plot geral é interessante e pode ter desdobramentos incríveis, os atores são maravilhosos (Angelina, te amo) e estamos sendo apresentados a uma nova fase da Marvel que pode ser muito próspera se não esperarmos exatamente a mesma fórmula de novo (vamos se abrir para o futuro, galere).
Épocas de transição em longas histórias são sempre chatas e confusas, pq você está acostumado com uma coisa e te jogam outra no mesmo universo que você nem entende ainda se quer gostar ou não.
O Esquadrão Suicida
3.6 1,3K Assista AgoraQuatro estrelas pq a DC finalmente teve coragem de deixar um diretor ser livre e fazer um filme do jeito dele - ele GRITA James Gunn em seu auge. Trilha sonora marcante e engraçadinha, piadas de humor sarcástico e cáustico, bizarrices, nojeiras, os personagens mais sem noção da DC e diálogos sensacionais.
Hannah Gadsby: Douglas
4.2 28Obra de arte da comédia. Genial.
Hannah Gadsby: Nanette
4.7 207 Assista AgoraAssisti novamente ontem e só tenho uma coisa a dizer: brutal.
Newness
3.4 232Talvez esse comentário seja mais pessoal do que deveria, mas vamos lá.
Há algum tempo eu tenho tentado encontrar conteúdo que fale, de forma saudável e honesta, sobre relacionamentos abertos como uma opção válida e saudável para quem optou por esse modo de vida... e toda vez ele é retratado como algo ligado à pessoas que não sabem o que querem, fetiches, imaturidade, medo de compromisso e sempre, sempre, é visto pelos olhos do monogâmico.
É muito fácil enxergar isso neste filme: a imaturidade e falta de inteligência emocional do casal central é responsável pelo acordo de terem algo aberto, não uma genuína vontade de liberdade para ambas as partes - a discussão não deveria ser o fetiche, mas a compreensão de pessoas que vivem algo aberto que a monogamia não impede ninguém de nada (vide o que aconteceu ali no comecinho) e preferem a honestidade e a liberdade sua e do outro acima do falso sentimento de segurança que você tem ao colocar um rótulo no seu relacionamento. (Isso vale para as pessoas que sabem que sempre vão desejar outra pessoa em algum momento e que sexo não está atrelado necessariamente ao sentimento romântico. Monogâmicos inveterados também existem.)
E é uma decepção que esse filme, que poderia ter mostrado que o problema estava em como eles colocaram o sexo com outras pessoas no centro do relacionamento como um fetiche, algo para apimentar, não uma liberdade individual a ser exercida, caiu no clichê. O problema poderia ter sido só esse, eles poderiam ter entendido que gostam da liberdade de dar uns pegas em outras pessoas por aí. E eles poderiam ter voltado a ter um relacionamento sério, morando junto, casados, mas não monogâmico, com regras próprias, respeito, honestidade e maturidade (que eles não tiveram inicialmente).
Como alguém que tem tentado encontrar referências positivas e sérias de relacionamentos não monogâmicos nas artes, é frustrante sempre me deparar com uma crítica descabida e a eterna volta à monogamia.
Colette
3.7 171 Assista AgoraFilme ruinzinho, mas conta uma história importantíssima de conhecermos. Precisamos estudar e exaltar nossas mulheres do passado e parar de acreditar na falácia de que os homens foram nossos maiores artistas de outras épocas.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraAchei um excelente terror psicológico, especialmente por tratar de particularidades tão importantes e frágeis como a solidão e a necessidade de pertencimento (que estão interligadas, claro).
O filme explora como o pertencimento pode fazer o humano aceitar qualquer coisa e quanto mais isolado ele se sentir, mais provável que se permita ser parte de algo errado ou pouco saudável.
Aquelas cenas em que todos “sentem” o que o outro está sentindo são uma ótima forma de demonstrar isso. É uma belíssima forma de manipulação, mas não deixa de ser admirável (hoje em dia parece tão difícil para as pessoas se colocarem no lugar das outras e essa galera aí sobrevive só por isso).
Acho que o mais assustador é exatamente isso: como podemos ser suscetíveis a situações horrendas para aplacarmos nossas dores.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraEsse filme traz discussões excelentes:
Como a sociedade não aceita o julgamento oficial e não acredita nas instituições de poder e acha que deve fazer justiça com as próprias mãos (é daí que vêm os linchamentos, tão comuns aqui no Brasil, por exemplo, e sempre cometidos antes mesmo de qualquer julgamento oficial). E essa, certamente, é a maior crítica: como a vida de uma pessoa pode ser destruída por uma falsa acusação MESMO quando fica provado que ela é inocente. O impacto social não permite que ela volte ao que tinha antes e é importantíssimo decidir, judicialmente, quais casos devem ou não serem levados adiante.
Também podemos discutir as percepções bizarras e os achismos que a população comum tem e como isso parece suficiente para embasar um posicionamento radical (como achar que crianças não mentem). Naquele momento da história tinham que ter levado um psicólogo para analisar tanto a menina quanto ele, fazer interrogatórios sérios e também não dar informações aleatórias para os outros pais, mas levar um profissional que pudesse instruí-los corretamente.
Mas também não podemos esquecer que crianças de fato podem se sentir próximas dos seus abusadores por um tempo, que crianças não querem ser repreendidas e, por isso, mentem sobre o abuso (principalmente quando ameaçadas), que é, sim, muito provável que o abusador minta sobre o que fez.
Acho que é um filme que se contrapõe perfeitamente à série Inacreditável da Netflix. Eles são dois contrapontos perfeitos quando se trata de julgamentos por abuso.
E acho que não é spoiler nenhum: ele claramente era inocente. Há os meninos mostrando pornô para Klara, a raiva dela por se sentir rejeitada, como ele briga com ela por fazer algo inapropriado, como ele afasta as pessoas, tudo aponta para a inocência dele. E a imagem dele está associada a do cervo o tempo todo – a caça passiva e dócil.
Amor com Data Marcada
3.2 448 Assista AgoraEu até poderia ter dado uma notinha melhor não fosse pelo reforço excessivo de estereótipos dos papéis de gênero na sociedade. Tipo, sério? As mulheres SEMPRE estão desesperadas por relacionamentos e se tornam loucas por isso? Os homens sempre são os cuzões insensíveis?
Ah, pelo amor de deus, estamos em 2021, não tem mais tempo para esse tipo de afirmação, irmão.
Desonra
3.2 37 Assista AgoraGente, li esse livro este ano e achei IMPRESSIONANTE. Absolutamente indigesto, difícil, doloroso, mas brilhante. Digo para todos aqui: leiam J.M. Coetzee. É um livro tão atual que DÓI, o paralelo que podemos traçar entre a África do Sul pós-apartheid e o Brasil é um socão na cara.
Dito isso, o filme vale ao menos uma chance?
Rainha de Copas
3.8 101 Assista AgoraGente, que filme FODIDO de bom.
É impressionante o modo como ele te leva para dentro da narrativa, como você só quer que o filme acabe para não sentir mais o desconforto da situação.
E é tão incrível o que a diretora queria mostrar (e espero que tenha conseguido com todo mundo): como garotos também podem ser abusados por figuras mais velhas e a sensação de impotência da vítima.
Tantas e tantas vezes mulheres passam pelo mesmo que aquela menina que Anne ajuda no começo do filme e os homens só sabem dizer que é estupidez não contar para ninguém. Mas veja só se os papéis não foram trocados e, quem sabe, os poucos que assistirem à Rainha de Copas não consigam simpatizar com a dor de revelar um trauma e, ainda assim, ser desacreditada.