Devo confessar que não via um filme dessa qualidade desde a árvore da vida, mas sem rastros e o último vão além de uma obra de arte primorosa para mim, pois ambos tocam na alma e sem precisar de qualquer traço excessivo, característico do aparato técnico e do modo de se fazer filmes habituais. Desse modo, quando raridades como esta aparecem, alegro-me muito, sobretudo porque flui naturalmente, ao contrário de muitos filmes bons, mas que utilizam demasiadamente de diálogos carregados, trilha sonora disruptiva - na medida em que absorve todos os elementos da cena para dentro de si - e cenas desnecessárias.
A originalidade do longa é espantosa, e suas críticas são tão sutis que podem passar despercebidas para um espectador disperso. No entanto, em sua curta duração, o filme é capaz de tocar em temas como a relação entre pais e filhos, relação com a natureza e a sociedade de maneira suficientemente profunda. Will vê beleza no mundo, ainda tem vontade de viver, mas tudo indica que essa beleza é provinda da vida não-humana; todavia, ele não parece ter ódio ou aversão à humanidade, mas um sentimento de vergonha e pessimismo, como se estivéssemos inerentemente condenados e, por extensão, ele se vê dessa maneira.
Tom, por seu turno, consegue ver vantagens tanto na natureza como nas relações sociais, de modo que o trabalho de Will como pai nos seja apresentado como bem-sucedido; Tom é intelectualmente desenvolvida, é compassiva e educada em relação às pessoas, é responsável e está conectada com a natureza, na medida em que aprendeu a respeitá-la. Em suma, a personagem representa um equilíbrio incomum para sua idade, e isso enaltece a criação dada por seu pai, que mesmo com todos os seus problemas após voltar do Exército, fez o seu melhor e através do método que achou mais adequado. Ademais, o conflito mais intenso é a escolha não-ortodoxa de Will quanto ao modo de viver de sua família, e é o que nos causa mais espanto, pois a princípio parece uma escolha inconsequente para um pai. Contudo, o longa nos mostra uma outra maneira de viver, não errada ou inferior, apenas diferente.
Ótimas atuações, principalmente da Lady Gaga; a cinematografia é o ponto mais forte do filme na minha visão, assim como a direção de Bradley Cooper. Contudo, o filme é um tanto quanto artificial e superficial, não apresenta nenhuma possibilidade de construção ao telespectador.
Além disso, o personagem Jack nos é apresentado como alguém extremamente depressivo e complexo e, entretanto, não há uma explicação satisfatória sobre o motivo disso e isso afeta toda a dinâmica do longa, principalmente a relação dos dois protagonistas.
Essa foi a terceira vez que assisti ao filme, é incrível como Linklater conseguiu apresentar a trama principal do Mason e, ao mesmo tempo, expor na figura dos pais as mudanças da segunda etapa da vida. É realmente profundo ver nossa relação com o tempo e nós mesmos sob esses dois aspectos, isto é, da infância à idade adulta e depois até a velhice.
Excelente comentário social e um filme bom no geral, mas perdeu uma parte considerável da seriedade exposta por sua crítica - pois embora apresentada com um teor satírico, trata-se de uma crítica social/política extremamente atual e séria -
quando apresentaram os homens-cavalo como figuras de vanguarda revolucionária, de modo que o horror pela criação de tal monstruosidade é mitigado por um sentimento de heroísmo em relação a essas figuras mutantes.
Acredito que o filme poderia ter terminado sem a defesa da ideia de que os seus personagens estão mudando o mundo, pois é uma mensagem claramente positiva e ilusória, visto que durante toda a duração do longa nos apresentaram um mundo com problemas estritamente institucionais e, portanto, de resolução extremamente complexa.
Surpreendente e chocante, são os adjetivos adequados a este filme. O conflito corpo e Espírito foi retratado com uma profundidade assombrosa nesse poderoso roteiro de Paul Schrader.
A apresentação de um Jesus cheio de dúvidas o aproxima de nós, na medida em que focaliza em seu lado humano; assim, não há apenas uma figura detentora de todas as respostas, uma figura consciente da veracidade de cada uma de suas ações, mas sim, um Jesus que descobre seu caminho a partir de suas dúvidas e erros, até alcançar a perfeita redenção.
Esse filme é muito importante! Na indústria cinematográfica há um vasto acervo de filmes sobre relacionamentos, no entanto, poucos com uma mensagem ou mesmo "lição" que podemos trazer às nossas vidas.
A importância do longa, deve-se primariamente ao fato de tratar de um casal mais velho e, portanto, com mais experiência em relacionamentos. Assim, vemos duas pessoas um tanto quanto cautelosas em relação aos seus sentimentos, a personagem de Deyfrus claramente muito mais cética e tal ceticismo é a premissa para a mensagem do filme: ao passo que Eva se concentrava nos aspectos negativos de Albert, ela suprimia tudo o que o fazia merecedor de uma chance
Ao longo do filme tal comportamento causa o fim do relacionamento e é neste ponto que Eva - e nós - aprendemos uma importante lição, isto é, que para qualquer relacionamento funcionar é necessário que ambas as partes consigam abstrair de certos comportamentos ou defeitos físicos em sua contraparte; pois, caso contrário, se não formos capazes de fazer essa abstração, segue-se que não importa com quem ou quantas pessoas nos relacionemos, a qualidade delas sempre será suprimida por seus defeitos.
Apesar de ser um romance, o filme transcende essa simples premissa - sem ignorá-la - e fala diretamente do espírito humano. É uma magnífica descrição do caráter fragmentário da memória e do tempo, mas que, todavia, é unificado por uma misteriosa intuição produzida no interior de todos nós. Assim, o longa procura dar um sentindo transcendente ao tempo e a memória, distinguindo-se da nossa percepção científica atual.
Filme difícil de assistir por ser muito denso. Contudo, tinha mesmo de ser assim, a representação dos campos de concentração é crua e pontual; além disso, a escolha de filmar em 35 mm causa uma constante sensação de claustrofobia e limitação.
Fotografia impecável, ainda mais se consideramos a época de lançamento do filme. A atuação de Scott é calorosa, precisa e hipnotizante. No entanto, o filme parece um pouco superficial em relação ao evento em voga, isto é, a segunda guerra; assim, o filme fica muito centrado na personalidade de Patton e acaba ignorando a qualidade mais importante de Patton: o próprio exímio general. Consequentemente, começamos o filme sabendo que se trata de uma figura crucial para a vitória aliada e, no entanto, não sabemos qual a razão disso; mas o filme termina e essa dúvida é sanada de um modo parcial e superficial, isto é, o aspecto técnico do trabalho do general é escassamente abordado.
Excelente direção de fotografia, roteiro instigante e ótimas atuações; tudo o que se espera de um ótimo filme! O tema da memória é meticulosamente retratado e de uma maneira bem profunda, consequentemente, assistir ao longa uma só vez seria subestimar seu alcance conceitual.
Um dos aspectos mais relevantes é o fato do diretor ter entendido a relação entre memória e experiência, assim, a memória não é vista como algo simplesmente passado e destituído de vida, pelo contrário, trata-se da revivificação de uma experiência pela mente; isso pode parecer redundante, mas faz toda a diferença, pois é como se a memória trouxesse aquela experiência para o presente. Desse modo, o longa é perspicaz por não tratar a vida como uma simples soma de experiências, mas sim de fornecer um valor intrínseco a cada uma delas.
Ótimo filme, tem um começo um pouco confuso, mas no desenvolver da trama tudo é explicado nos pormenores. Além disso, as cenas de suspense são muito bem filmadas, ao ponto de deixar o telespectador quase sem respirar. As atuações são bastante convincentes, em especial a dinâmica entre os atores dos dois irmãos.
Talvez, a exposição mais interessante do longa seja a expansão de nossa perspectiva em relação a Segunda Guerra, de modo a nos mostrar que a luta contra a opressão fascista ocorreu nos lugares menos esperados e nas pessoas menos propícias a esse tipo de engajamento.
O filme é bem executado e tem um roteiro bom, mas me parece um pouco parcial quanto a apresentação de Turing. Mais uma vez a obscuridade ao redor do nosso conceito de gênio é simplificada pela decisão de apresentar este gênio simplesmente como alguém estranho, algo que ocorre com uma frequência indesejada em filmes desse gênero.
Assim, tornou-se parte da cultura popular a visão de gênio associada a comportamentos peculiares; no entanto, o aspecto externo, isto é, no âmbito da vida privada e da personalidade, acabam por distanciar o telespectador daquele mistério acerca do gênio, que obviamente não é algo tão objetivo quanto esse e outros longas nos mostram.
Ademais, esse padrão de representação de gênios faz o esforço de tentar nos mostrar o que distingue esses seres humanos extraordinários do restante de nós; todavia, a distinção é realizada no escopo das ações e preferências pessoais, enquanto deveria ser realizada no campo da razão, isto é, da distinção intelectual. Em suma, tenho a impressão de os diretores subestimam a sua audiência, por medo de fazer um filme hermético, assim, ao contrário, fazem um filme não desafiador, mas na maior parte dos casos, meramente agradável.
É difícil acreditar que esse filme é produto do mesmo diretor de A Árvore da Vida. O filme é confuso e desconexo, não há continuidade suficiente para sentir empatia pelos personagens e, em última instância, parece mais o trabalho de um jovem cineasta do que de um dos mais renomados e experientes cineastas em atividade. Minha posição é essa, pois o filme muda de temas com bastante frequência, de modo a chegar em um ponto em que é difícil abstrair a mensagem do filme e qual é de fato a temática principal - antes que me ataquem, dizendo que se trata da condição humana, digo que isso é muito vago e pode ser inserido como justificativa em qualquer filme dramático -; assim, o resultado é uma coletânea de pensamentos avulsos, em forma de aforismos e que ao serem ditos na narração, parecem significar muito mais do que realmente são.
Ademais, não é suficiente que se tenha boas ideias e um profundo conhecimento da condição humana e de seu tempo (algo que Malick claramente possui), é preciso saber como abordar tais reflexões de uma maneira objetiva, isto é, apresentar um filme de estrutura contínua - por contínua não se deve entender cronológica, mas o desenvolvimento da trama no todo do filme - e isso não ocorreu neste longa do diretor; em contrapartida, Malick nos apresentou um amontoado de ideias, que poderiam facilmente serem distribuídos em pelo menos mais um filme, e agrupou-as em um único confuso filme.
Boas atuações, mas sem roteiro; ou melhor, o roteiro é uma série de remendos retirados das discussões raciais dos últimos anos e outros filmes que tratam deste tema. Mas, tratando-se do Obama, como um indivíduo, o filme falha em apresentá-lo ao público com autenticidade e profundidade.
Os dois primeiros atos poderiam ter tido uma duração menor para que o filme alcançasse o ritmo e a fluidez corretos; mas, apesar disso, o longa apresenta seus dilemas morais, mesclando a moralidade cristã com a necessidade pragmática das circunstâncias enfrentadas pelos padres de uma maneira bastante sincera e pontual.
As atuações de Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon carregam um roteiro razoável e bem resumido. Parece que o foco no relacionamento entre os dois, acabou por impedir que o longa tivesse uma complexidade maior.
Me lembrou Winter Lights do Bergman, pois há alguns temas relacionados, assim como a própria trama, uma vez que ambos os filmes têm um padre em conflito com sua própria fé e ambos têm de aconselhar outro homem deprimido que acaba cometendo suicídio. Além disso, nos dois filmes há uma trabalhadora da igreja tentando ajudar e se conectar com -sem sucesso - com os padres.
No entanto, apesar das óbvias influências, First Reformed tem seus próprios méritos em relação à originalidade, uma vez que o filme aborda o problema da mudança ambiental ao mesmo tempo em que se estabelece como um filme pós 11/09, tal fato é dado devido a uma representação bem executada da psique de um mundo globalizado e fundamentalmente tecnológico, no qual qualquer um pode fabricar uma bomba caseira e ferir pessoas inocentes apenas para fazer com que sua causa seja ouvida. Assim, a brilhante introdução do colete suicida representa os horrores da sociedade contemporânea.
David Fincher mais uma vez abordando o tema da alienação. Em Clube da Luta, Tyler nos faz enxergar o modo como somos condicionados pela sociedade, só para depois ele mesmo alienar um grupo de pessoas em um ideologia estilo "Robin Hood", mas que na verdade apresenta comportamentos fascistas; aqui, em Garota Exemplar, ele explora o tema através da alienação midiática feita por tabloides extremamente apelativos. É difícil sair de um filme do diretor sem se tornar um pouco mais cético em relação à sociedade em que vivemos.
Fui totalmente dominado pelo filme e que atuação de Sam Rockwell! A atmosfera do filme é bem peculiar e envolvente; muito interessante, também, é que o robô não é demonizado como geralmente acontece no gênero.
Apesar de não ser o foco do filme, o final acabou passando a ideia da dimensão do amor de uma mãe. Pois, Rosemary não só foi estuprada, mas foi estuprada pelo próprio Mal e, visto que seu filho é fruto deste ato hediondo, ele é a encarnação deste Mal no mundo. Mas, mesmo assim, Rosemary ainda o ama.
É bem estranho pensar nisso, porque fortalece a concepção de que o amor materno não limites, na medida em que excede a razão e entra na esfera dos instintos. O fato de Rosemary ter um rosto e uma voz angelical, além de ter sido educada no catolicismo e aparecer com uma figura inocente, reforça esta ideia de um amor materno desmedido. Ademais, a personagem ainda tem Maria no nome, esta que é o símbolo cristão do amor materno, da santidade, pureza e da inocência. Com efeito, penso que ao justapor o amor materno com amor ao Mal, isto é, a prole do Diabo, o filme nos mostra o aspecto corrosivo da demasia deste tipo de amor.
É um filme muito erudito, feito para um público restrito. O diretor é formado em Filosofia e esta é uma obra que trabalha com conceitos metafísicos complexos dentro da Filosofia; por isso, a obra é de difícil apreciação completa por um leigo. Contudo, é acessível a pessoas que sabem assistir a um filme; pois quem tem sensibilidade apurada consegue compreender o que está em jogo mesmo sem ter conhecimento destes conceitos. Isso ocorre devido a fotografia esplêndida do filme e sua justaposição com o roteiro.
Malick se debruçou não apenas na tradição cristã dogmática para construir o longa, mas também em filósofos modernos que, apesar de cristãos, tinham um visão diferente do mundo. Acredito que as influências sejam de Leibniz, Schelling e Spinoza, principalmente. De Leibniz temos o elemento de que há vida até nas menores porções da matéria, assim, é possível encontrar vida em tudo; podemos ver isso nos planos em que são mostrados diversas partículas em suas inúmeras disposições.
Na filosofia de Schelling, por sua vez, há a presença de sua forte ideia de uma natureza que se auto-produz e, por conseguinte, produz tudo o que existe. Em Schelling, portanto, a natureza se apresenta como produtividade e como produto, isto é, como produtividade por ela está sempre produzindo e o que nos permite conhecer a natureza é o seu produto, por exemplo, uma árvore. Schelling com sua concepção de natureza coloca o ser humano dentro deste escopo de produto natural, afastando-se de uma concepção antropocentrista que parece existir até hoje, isto é, de que a natureza existe para nós. O longa se debruça sobre a filosofia de Schelling, na qual o ser humano não é especial em relação a natureza, pois ele subsiste nela, ele é o que é nela. É possível visualizar isso nos planos em que aparecem os planetas, as estrelas, cachoeiras em consonância com a voz de Jessica Chastain questionando o porquê de Deus ter tirado o filho dela. A razão destes planos aparecerem junto com os questionamentos da personagem de Chastain é justamente para representar a vastidão dos tipos de vida no universo, e como o ser humano é apenas uma delas.
Por último, aparece como a influência mais importante, o pensamento de Spinoza; este filósofo rompeu com tradição judaico-cristã através de sua visão próxima ao panteísmo, em relação a Deus. Assim, para Spinoza, Deus era uma substância e desta substância o mundo se seguia como atributos e modos dela. Então, uma árvore e um ser humano aparecem como modos diferentes de uma única substância, isto é, Deus. Assim, Spinoza estabelece Deus como um ser dotado de extensão corpórea; penso que esta seja a essência do conflito apresentado no filme: um Deus cristão que é dotado de vontade, em contraposição ao Deus de Spinoza que produz o mundo necessariamente. O diretor parece ir na direção de Spinoza, pois no final do filme vemos uma espécie de encontro entre a família toda em uma praia que parece simbolizar uma espécie de paraíso na Terra,visto que a família toda está ali, inclusive o filho morto; além disso, há a presença de outras famílias e tudo na cena é bastante leve, suave e harmonioso. Ademais, se olhamos para a natureza como algo maior do que nós, na medida em que existimos nela e não o contrário, perceberemos que a desgraça pode ocorrer a qualquer um, pois fazemos parte de algo muito maior, ou seja, não somos especiais. Tal visão pode parecer pessimista, mas é o oposto, se nos enxergamos como produtos da natureza, estabelecemos uma relação de responsabilidade com ela, uma relação bem parecida com a relação familiar; assim, teríamos uma relação mais profunda e amorosa com ela.
Portanto, penso que a mensagem do filme é que o amor a natureza é o amor à própria humanidade e, por conseguinte, amor à família. Assim, quando o personagem de Brad Pitt se afasta de sua visão cética na qual "não se pode ser muito bonzinho no mundo", ele percebe que a felicidade não está no sucesso dentro da sociedade, mas em algo mais originário, na sua família.
Um pouco lento e cansativo, mas recompensador. Com certeza um filme pioneiro, é difícil pensar que um filme sci-fi mais recente como Arrival, não tenha apreendido o melhor do gênero com este filme.
Sem Rastros
3.5 192 Assista AgoraDevo confessar que não via um filme dessa qualidade desde a árvore da vida, mas sem rastros e o último vão além de uma obra de arte primorosa para mim, pois ambos tocam na alma e sem precisar de qualquer traço excessivo, característico do aparato técnico e do modo de se fazer filmes habituais. Desse modo, quando raridades como esta aparecem, alegro-me muito, sobretudo porque flui naturalmente, ao contrário de muitos filmes bons, mas que utilizam demasiadamente de diálogos carregados, trilha sonora disruptiva - na medida em que absorve todos os elementos da cena para dentro de si - e cenas desnecessárias.
A originalidade do longa é espantosa, e suas críticas são tão sutis que podem passar despercebidas para um espectador disperso. No entanto, em sua curta duração, o filme é capaz de tocar em temas como a relação entre pais e filhos, relação com a natureza e a sociedade de maneira suficientemente profunda. Will vê beleza no mundo, ainda tem vontade de viver, mas tudo indica que essa beleza é provinda da vida não-humana; todavia, ele não parece ter ódio ou aversão à humanidade, mas um sentimento de vergonha e pessimismo, como se estivéssemos inerentemente condenados e, por extensão, ele se vê dessa maneira.
Tom, por seu turno, consegue ver vantagens tanto na natureza como nas relações sociais, de modo que o trabalho de Will como pai nos seja apresentado como bem-sucedido; Tom é intelectualmente desenvolvida, é compassiva e educada em relação às pessoas, é responsável e está conectada com a natureza, na medida em que aprendeu a respeitá-la. Em suma, a personagem representa um equilíbrio incomum para sua idade, e isso enaltece a criação dada por seu pai, que mesmo com todos os seus problemas após voltar do Exército, fez o seu melhor e através do método que achou mais adequado. Ademais, o conflito mais intenso é a escolha não-ortodoxa de Will quanto ao modo de viver de sua família, e é o que nos causa mais espanto, pois a princípio parece uma escolha inconsequente para um pai. Contudo, o longa nos mostra uma outra maneira de viver, não errada ou inferior, apenas diferente.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraÓtimas atuações, principalmente da Lady Gaga; a cinematografia é o ponto mais forte do filme na minha visão, assim como a direção de Bradley Cooper. Contudo, o filme é um tanto quanto artificial e superficial, não apresenta nenhuma possibilidade de construção ao telespectador.
Além disso, o personagem Jack nos é apresentado como alguém extremamente depressivo e complexo e, entretanto, não há uma explicação satisfatória sobre o motivo disso e isso afeta toda a dinâmica do longa, principalmente a relação dos dois protagonistas.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraFantástica crítica sobre a cultura de massa propagadora da barbárie estética que vivemos hoje em dia.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraEssa foi a terceira vez que assisti ao filme, é incrível como Linklater conseguiu apresentar a trama principal do Mason e, ao mesmo tempo, expor na figura dos pais as mudanças da segunda etapa da vida. É realmente profundo ver nossa relação com o tempo e nós mesmos sob esses dois aspectos, isto é, da infância à idade adulta e depois até a velhice.
Desculpe Te Incomodar
3.8 275Excelente comentário social e um filme bom no geral, mas perdeu uma parte considerável da seriedade exposta por sua crítica - pois embora apresentada com um teor satírico, trata-se de uma crítica social/política extremamente atual e séria -
quando apresentaram os homens-cavalo como figuras de vanguarda revolucionária, de modo que o horror pela criação de tal monstruosidade é mitigado por um sentimento de heroísmo em relação a essas figuras mutantes.
Acredito que o filme poderia ter terminado sem a defesa da ideia de que os seus personagens estão mudando o mundo, pois é uma mensagem claramente positiva e ilusória, visto que durante toda a duração do longa nos apresentaram um mundo com problemas estritamente institucionais e, portanto, de resolução extremamente complexa.
A Última Tentação de Cristo
4.0 297 Assista AgoraSurpreendente e chocante, são os adjetivos adequados a este filme. O conflito corpo e Espírito foi retratado com uma profundidade assombrosa nesse poderoso roteiro de Paul Schrader.
A apresentação de um Jesus cheio de dúvidas o aproxima de nós, na medida em que focaliza em seu lado humano; assim, não há apenas uma figura detentora de todas as respostas, uma figura consciente da veracidade de cada uma de suas ações, mas sim, um Jesus que descobre seu caminho a partir de suas dúvidas e erros, até alcançar a perfeita redenção.
À Procura do Amor
3.5 275 Assista AgoraEsse filme é muito importante! Na indústria cinematográfica há um vasto acervo de filmes sobre relacionamentos, no entanto, poucos com uma mensagem ou mesmo "lição" que podemos trazer às nossas vidas.
A importância do longa, deve-se primariamente ao fato de tratar de um casal mais velho e, portanto, com mais experiência em relacionamentos. Assim, vemos duas pessoas um tanto quanto cautelosas em relação aos seus sentimentos, a personagem de Deyfrus claramente muito mais cética e tal ceticismo é a premissa para a mensagem do filme: ao passo que Eva se concentrava nos aspectos negativos de Albert, ela suprimia tudo o que o fazia merecedor de uma chance
Ao longo do filme tal comportamento causa o fim do relacionamento e é neste ponto que Eva - e nós - aprendemos uma importante lição, isto é, que para qualquer relacionamento funcionar é necessário que ambas as partes consigam abstrair de certos comportamentos ou defeitos físicos em sua contraparte; pois, caso contrário, se não formos capazes de fazer essa abstração, segue-se que não importa com quem ou quantas pessoas nos relacionemos, a qualidade delas sempre será suprimida por seus defeitos.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraApesar de ser um romance, o filme transcende essa simples premissa - sem ignorá-la - e fala diretamente do espírito humano. É uma magnífica descrição do caráter fragmentário da memória e do tempo, mas que, todavia, é unificado por uma misteriosa intuição produzida no interior de todos nós. Assim, o longa procura dar um sentindo transcendente ao tempo e a memória, distinguindo-se da nossa percepção científica atual.
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraFilme difícil de assistir por ser muito denso. Contudo, tinha mesmo de ser assim, a representação dos campos de concentração é crua e pontual; além disso, a escolha de filmar em 35 mm causa uma constante sensação de claustrofobia e limitação.
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista AgoraFotografia impecável, ainda mais se consideramos a época de lançamento do filme. A atuação de Scott é calorosa, precisa e hipnotizante. No entanto, o filme parece um pouco superficial em relação ao evento em voga, isto é, a segunda guerra; assim, o filme fica muito centrado na personalidade de Patton e acaba ignorando a qualidade mais importante de Patton: o próprio exímio general. Consequentemente, começamos o filme sabendo que se trata de uma figura crucial para a vitória aliada e, no entanto, não sabemos qual a razão disso; mas o filme termina e essa dúvida é sanada de um modo parcial e superficial, isto é, o aspecto técnico do trabalho do general é escassamente abordado.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
4.3 4,7K Assista AgoraExcelente direção de fotografia, roteiro instigante e ótimas atuações; tudo o que se espera de um ótimo filme! O tema da memória é meticulosamente retratado e de uma maneira bem profunda, consequentemente, assistir ao longa uma só vez seria subestimar seu alcance conceitual.
Um dos aspectos mais relevantes é o fato do diretor ter entendido a relação entre memória e experiência, assim, a memória não é vista como algo simplesmente passado e destituído de vida, pelo contrário, trata-se da revivificação de uma experiência pela mente; isso pode parecer redundante, mas faz toda a diferença, pois é como se a memória trouxesse aquela experiência para o presente. Desse modo, o longa é perspicaz por não tratar a vida como uma simples soma de experiências, mas sim de fornecer um valor intrínseco a cada uma delas.
O Banqueiro da Resistência
3.7 51 Assista AgoraÓtimo filme, tem um começo um pouco confuso, mas no desenvolver da trama tudo é explicado nos pormenores. Além disso, as cenas de suspense são muito bem filmadas, ao ponto de deixar o telespectador quase sem respirar. As atuações são bastante convincentes, em especial a dinâmica entre os atores dos dois irmãos.
Talvez, a exposição mais interessante do longa seja a expansão de nossa perspectiva em relação a Segunda Guerra, de modo a nos mostrar que a luta contra a opressão fascista ocorreu nos lugares menos esperados e nas pessoas menos propícias a esse tipo de engajamento.
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraO filme é bem executado e tem um roteiro bom, mas me parece um pouco parcial quanto a apresentação de Turing. Mais uma vez a obscuridade ao redor do nosso conceito de gênio é simplificada pela decisão de apresentar este gênio simplesmente como alguém estranho, algo que ocorre com uma frequência indesejada em filmes desse gênero.
Assim, tornou-se parte da cultura popular a visão de gênio associada a comportamentos peculiares; no entanto, o aspecto externo, isto é, no âmbito da vida privada e da personalidade, acabam por distanciar o telespectador daquele mistério acerca do gênio, que obviamente não é algo tão objetivo quanto esse e outros longas nos mostram.
Ademais, esse padrão de representação de gênios faz o esforço de tentar nos mostrar o que distingue esses seres humanos extraordinários do restante de nós; todavia, a distinção é realizada no escopo das ações e preferências pessoais, enquanto deveria ser realizada no campo da razão, isto é, da distinção intelectual. Em suma, tenho a impressão de os diretores subestimam a sua audiência, por medo de fazer um filme hermético, assim, ao contrário, fazem um filme não desafiador, mas na maior parte dos casos, meramente agradável.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraÉ difícil acreditar que esse filme é produto do mesmo diretor de A Árvore da Vida. O filme é confuso e desconexo, não há continuidade suficiente para sentir empatia pelos personagens e, em última instância, parece mais o trabalho de um jovem cineasta do que de um dos mais renomados e experientes cineastas em atividade. Minha posição é essa, pois o filme muda de temas com bastante frequência, de modo a chegar em um ponto em que é difícil abstrair a mensagem do filme e qual é de fato a temática principal - antes que me ataquem, dizendo que se trata da condição humana, digo que isso é muito vago e pode ser inserido como justificativa em qualquer filme dramático -; assim, o resultado é uma coletânea de pensamentos avulsos, em forma de aforismos e que ao serem ditos na narração, parecem significar muito mais do que realmente são.
Ademais, não é suficiente que se tenha boas ideias e um profundo conhecimento da condição humana e de seu tempo (algo que Malick claramente possui), é preciso saber como abordar tais reflexões de uma maneira objetiva, isto é, apresentar um filme de estrutura contínua - por contínua não se deve entender cronológica, mas o desenvolvimento da trama no todo do filme - e isso não ocorreu neste longa do diretor; em contrapartida, Malick nos apresentou um amontoado de ideias, que poderiam facilmente serem distribuídos em pelo menos mais um filme, e agrupou-as em um único confuso filme.
Barry
3.1 85 Assista AgoraBoas atuações, mas sem roteiro; ou melhor, o roteiro é uma série de remendos retirados das discussões raciais dos últimos anos e outros filmes que tratam deste tema. Mas, tratando-se do Obama, como um indivíduo, o filme falha em apresentá-lo ao público com autenticidade e profundidade.
Silêncio
3.8 576Os dois primeiros atos poderiam ter tido uma duração menor para que o filme alcançasse o ritmo e a fluidez corretos; mas, apesar disso, o longa apresenta seus dilemas morais, mesclando a moralidade cristã com a necessidade pragmática das circunstâncias enfrentadas pelos padres de uma maneira bastante sincera e pontual.
Johnny & June
4.0 1,0K Assista AgoraAs atuações de Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon carregam um roteiro razoável e bem resumido. Parece que o foco no relacionamento entre os dois, acabou por impedir que o longa tivesse uma complexidade maior.
Fé Corrompida
3.7 376 Assista AgoraMe lembrou Winter Lights do Bergman, pois há alguns temas relacionados, assim como a própria trama, uma vez que ambos os filmes têm um padre em conflito com sua própria fé e ambos têm de aconselhar outro homem deprimido que acaba cometendo suicídio. Além disso, nos dois filmes há uma trabalhadora da igreja tentando ajudar e se conectar com -sem sucesso - com os padres.
No entanto, apesar das óbvias influências, First Reformed tem seus próprios méritos em relação à originalidade, uma vez que o filme aborda o problema da mudança ambiental ao mesmo tempo em que se estabelece como um filme pós 11/09, tal fato é dado devido a uma representação bem executada da psique de um mundo globalizado e fundamentalmente tecnológico, no qual qualquer um pode fabricar uma bomba caseira e ferir pessoas inocentes apenas para fazer com que sua causa seja ouvida. Assim, a brilhante introdução do colete suicida representa os horrores da sociedade contemporânea.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraDavid Fincher mais uma vez abordando o tema da alienação. Em Clube da Luta, Tyler nos faz enxergar o modo como somos condicionados pela sociedade, só para depois ele mesmo alienar um grupo de pessoas em um ideologia estilo "Robin Hood", mas que na verdade apresenta comportamentos fascistas; aqui, em Garota Exemplar, ele explora o tema através da alienação midiática feita por tabloides extremamente apelativos. É difícil sair de um filme do diretor sem se tornar um pouco mais cético em relação à sociedade em que vivemos.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraFica melhor a cada revisita
Lunar
3.8 686 Assista AgoraFui totalmente dominado pelo filme e que atuação de Sam Rockwell! A atmosfera do filme é bem peculiar e envolvente; muito interessante, também, é que o robô não é demonizado como geralmente acontece no gênero.
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraApesar de não ser o foco do filme, o final acabou passando a ideia da dimensão do amor de uma mãe. Pois, Rosemary não só foi estuprada, mas foi estuprada pelo próprio Mal e, visto que seu filho é fruto deste ato hediondo, ele é a encarnação deste Mal no mundo. Mas, mesmo assim, Rosemary ainda o ama.
É bem estranho pensar nisso, porque fortalece a concepção de que o amor materno não limites, na medida em que excede a razão e entra na esfera dos instintos. O fato de Rosemary ter um rosto e uma voz angelical, além de ter sido educada no catolicismo e aparecer com uma figura inocente, reforça esta ideia de um amor materno desmedido. Ademais, a personagem ainda tem Maria no nome, esta que é o símbolo cristão do amor materno, da santidade, pureza e da inocência. Com efeito, penso que ao justapor o amor materno com amor ao Mal, isto é, a prole do Diabo, o filme nos mostra o aspecto corrosivo da demasia deste tipo de amor.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraÉ um filme muito erudito, feito para um público restrito. O diretor é formado em Filosofia e esta é uma obra que trabalha com conceitos metafísicos complexos dentro da Filosofia; por isso, a obra é de difícil apreciação completa por um leigo. Contudo, é acessível a pessoas que sabem assistir a um filme; pois quem tem sensibilidade apurada consegue compreender o que está em jogo mesmo sem ter conhecimento destes conceitos. Isso ocorre devido a fotografia esplêndida do filme e sua justaposição com o roteiro.
Malick se debruçou não apenas na tradição cristã dogmática para construir o longa, mas também em filósofos modernos que, apesar de cristãos, tinham um visão diferente do mundo. Acredito que as influências sejam de Leibniz, Schelling e Spinoza, principalmente. De Leibniz temos o elemento de que há vida até nas menores porções da matéria, assim, é possível encontrar vida em tudo; podemos ver isso nos planos em que são mostrados diversas partículas em suas inúmeras disposições.
Na filosofia de Schelling, por sua vez, há a presença de sua forte ideia de uma natureza que se auto-produz e, por conseguinte, produz tudo o que existe. Em Schelling, portanto, a natureza se apresenta como produtividade e como produto, isto é, como produtividade por ela está sempre produzindo e o que nos permite conhecer a natureza é o seu produto, por exemplo, uma árvore. Schelling com sua concepção de natureza coloca o ser humano dentro deste escopo de produto natural, afastando-se de uma concepção antropocentrista que parece existir até hoje, isto é, de que a natureza existe para nós. O longa se debruça sobre a filosofia de Schelling, na qual o ser humano não é especial em relação a natureza, pois ele subsiste nela, ele é o que é nela. É possível visualizar isso nos planos em que aparecem os planetas, as estrelas, cachoeiras em consonância com a voz de Jessica Chastain questionando o porquê de Deus ter tirado o filho dela. A razão destes planos aparecerem junto com os questionamentos da personagem de Chastain é justamente para representar a vastidão dos tipos de vida no universo, e como o ser humano é apenas uma delas.
Por último, aparece como a influência mais importante, o pensamento de Spinoza; este filósofo rompeu com tradição judaico-cristã através de sua visão próxima ao panteísmo, em relação a Deus. Assim, para Spinoza, Deus era uma substância e desta substância o mundo se seguia como atributos e modos dela. Então, uma árvore e um ser humano aparecem como modos diferentes de uma única substância, isto é, Deus. Assim, Spinoza estabelece Deus como um ser dotado de extensão corpórea; penso que esta seja a essência do conflito apresentado no filme: um Deus cristão que é dotado de vontade, em contraposição ao Deus de Spinoza que produz o mundo necessariamente. O diretor parece ir na direção de Spinoza, pois no final do filme vemos uma espécie de encontro entre a família toda em uma praia que parece simbolizar uma espécie de paraíso na Terra,visto que a família toda está ali, inclusive o filho morto; além disso, há a presença de outras famílias e tudo na cena é bastante leve, suave e harmonioso. Ademais, se olhamos para a natureza como algo maior do que nós, na medida em que existimos nela e não o contrário, perceberemos que a desgraça pode ocorrer a qualquer um, pois fazemos parte de algo muito maior, ou seja, não somos especiais. Tal visão pode parecer pessimista, mas é o oposto, se nos enxergamos como produtos da natureza, estabelecemos uma relação de responsabilidade com ela, uma relação bem parecida com a relação familiar; assim, teríamos uma relação mais profunda e amorosa com ela.
Portanto, penso que a mensagem do filme é que o amor a natureza é o amor à própria humanidade e, por conseguinte, amor à família. Assim, quando o personagem de Brad Pitt se afasta de sua visão cética na qual "não se pode ser muito bonzinho no mundo", ele percebe que a felicidade não está no sucesso dentro da sociedade, mas em algo mais originário, na sua família.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau
3.7 578 Assista AgoraUm pouco lento e cansativo, mas recompensador. Com certeza um filme pioneiro, é difícil pensar que um filme sci-fi mais recente como Arrival, não tenha apreendido o melhor do gênero com este filme.