Lançado em 2012, ‘Vou Rifar Meu Coração’, promete fazer uma viagem ao imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro a partir da obra dos principais nomes da música popular romântica, também conhecida como brega. Mas o que ela entrega vai muito além, há vários depoimentos de pessoas reais, que mais parecem personagens de tão caricatos, o que não é ruim, muito pelo contrário, é isso que faz o charme na narrativa.
O documentário foi gravado em boa parte do Nordeste, principalmente no estado de Alagoas e Sergipe, além de contar com depoimentos de importantes artistas do gênero como Agnaldo Timóteo, Amado Batista, Lindomar Castilho, Nelson Ned, Odair José, Rodrigo Mell, Walter de Afogados e Wando, que em seus discursos tentam explicar o porquê a música brega é tão popular e sua importância na vida das pessoas. Há inclusive um ótimo momento em que um dos entrevistados diz que essas músicas não deveriam ser denominadas como brega, e sim MPB, isso mesmo, pois de acordo com ele essas músicas representa o que o povo ouve, são histórias que realmente que população vive, diferente de músicas de intelectuais como Caetano Veloso. A grande sacada da diretora Ana Rieper, de não tratar a música brega com desrespeito e sim arranjar uma forma de explicar a causa de tanto sucesso nesse gênero que fala do amor de uma maneira extremamente ampla, e porque não cafona? O ser humano é cafona por natureza, como já dizia o heterônimo Álvaro de Campos de Fernando Pessoa,
“...Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.”
O som desse documentário é extremamente bem utilizado, da música do cantor na gravação em estúdio para uma transição em que a mesma musica está sendo cantada em um karaokê, todas as músicas escolhidas dialogam perfeitamente com os depoimentos dos entrevistados, sem dúvida esse é um dos documentários mais memoráveis dos últimos anos. É genial ver como a diretora mistura o tom de deboche com cenas comoventes de alguns entrevistados e ao mesmo tempo fica um clima de drama, afirmando a forte mão que a diretora tem para mixar dois gêneros distintos.
A indistinção entre documentário e ficção ronda a produção de Olmo e a Gaivota, filme da brasileira Petra Costa e da dinamarquesa Lea Glob. O objetivo era acompanhar o cotidiano de uma atriz de teatro, mais precisamente do Thêatre du Soleil, (grupo surgido como um coletivo de artistas em 1964). Entretanto, a atriz que seria acompanhada, Olivia Corsini disse às diretoras que estava grávida, a partir dessa noticia, de forma poética, humana e lírica, as diretoras decidiram as invés de trocarem a artista ou cancelarem o projeto, acompanhar a gravidez de Olivia. Vemos a proposta da companhia teatral de realizar a releitura de A Gaivota, de Anton Tchekhov, logo em seguida Olivia descobre que terá um filho, e um problema de saúde coloca em risco a gravidez, a atriz descobre que terá que ficar em casa durante os nove meses da gestação, enquanto seu companheiro pessoal e profissional, Serge Nicolai, continua ensaiando com a companhia, às vésperas de uma montagem que apresentarão nos Estados Unidos. A necessidade intimista de repouso traz à tona os sonhos, os medos, as mudanças no corpo, as perspectivas de futuro e o impacto para o casal envolvido, a claustrofobia por ter que estar de certa forma presa no 5ª andar, cheia de desejos, como uma Rapunzel urbana, é isso que vemos, através de depoimentos e dramatizações e também com o auxilio de fitas de áudio que Olivia gravava todos os dias. Não por acaso que a peça escolhida foi A Gaivota que trata justamente sobre ser artista, não apenas isso, mas o ser mulher, o medo de envelhecer em seu ofício, cair na loucura e todos os sacrifícios enfrentados. O Olmo, é uma árvore italiana que tem sua origem ao norte da Itália, é símbolo de revolução, e a gaivota é esse ser livre, então é um pouco sobre esse confronto, entre criar raízes, criar família e a liberdade. Infelizmente, em alguns momentos Petra parece se perder em sua própria narrativa, nos obrigando a notar seu olhar o tempo todo com sua insistência em tirar e colocar as coisas em foco, ou quando interfere nas discussões do casal, há um momento também que ela pede para o casal inverter os papéis numa determinada discussão, e logo em seguida anuncia o corte, nos privando de ver o resultado de tal ação, o que parece mais ser uma mera demonstração de poder.
Logo após o documentário "Preservativo" e a ficção "Um Diálogo de Ballet", ambos no formato curta, os diretores já se lançaram no longa, foram selecionados para o Festival de Berlim e receberam o prêmio de estreantes no Festival do Rio. Beira-Mar segue a primeira vista nos contando sobre dois jovens, Martin e Tomaz seguindo para uma viajem a uma cidade onde não tem muito o que fazer em pleno inverno gaúcho, eles passam seu tempo dormindo, andando sem rumo, fumando ou bebendo. Fragmentos de relações conflituosas são postas em migalhas, há um momento em que Tomaz vai visitar sua família sentimos que ali a historia vai se mostrar, mas não, o roteiro é extremamente prejudicado pelo excesso de silencio. A premissa do longa não fica explicita além de pecar pela ausência de diálogos, o silencio em um filme deve ser funcional e dar sentido ao filme, mas aqui isso é completamente ignorado, vemos 20 minutos de filme com a sensação de não saber o mote da história, e é assim que o filme se arrasta por 83 minutos. O filme tenta se sustentar em um oco, fica um sentimento de vácuo na narrativa, onde cenas são adicionadas apenas para “preencher” o tempo, cenas que não fazem nenhuma falta à narrativa, o roteiro só nos revela seu objetivo aos cinco minutos finais do filme, onde temos noção do problema de relações conflituosas que foi solto em fragmentos no inicio, e a sexualidade dos dois personagens. Beira-Mar, se salva pela fotografia, que não é tão grandiosa, mas se destaca em relação a produção no geral, não há roteiro à ser contato, não há intenção de contar nada, o sentimento que fica após ver esse filme é que se dormíssemos durante 78 minutos não perderíamos absolutamente nada do filme, além de parecer uma tentativa miserável de recriar personagens de Antonioni.
Malcolm (Shameik Moore) é um nerd mora em Inglewood, um bairro violento em Los Angeles, venera a cultura pop dos anos 90, especialmente o hip¬ hop. Além de formar uma banda punk Oreo com seus inseparáveis amigos Jib e Diggy. Enquanto se esforça para ser admitido em uma boa faculdade, Malcolm recebe um convite para ir a uma festa que o leva em uma aventura, permitindo que ele se transforme de nerd à traficante, para finalmente, ser ele mesmo. A primorosa direção de arte é o primeiro quesito neste filme que nos salta aos olhos, a forma que Malcom se veste, sempre fazendo referência aos anos 90, os objetos de cena, tudo foi pensando de forma muito inteligente aqui, nada está por mero acaso. A louvação pela cultura dos anos 90 considerada a era de ouro do rap americano, se estende aos 103 minutos do filme, há vários estereótipos utilizados em memória aos filmes desta década com negros em papel principal, mas não se engane tudo faz parte da narrativa e serve para construir a crítica ao racismo. Em alguns momentos, as atuações se tornam caricatas demais, mas vai se justificando conforme a narrativa se desenvolve. Dope é um filme que faz um excelente uso dos clichês, nos fazendo relembrar que o cinema reflete o que a nossa sociedade vive, uma história que nos surpreende por tamanha empatia, um discurso atual e relevante que nos faz perceber que desde a década de 90 andamos em círculos quando o assunto é o racismo.
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Vou Rifar Meu Coração
4.1 214Lançado em 2012, ‘Vou Rifar Meu Coração’, promete fazer uma viagem ao imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro a partir da obra dos principais nomes da música popular romântica, também conhecida como brega.
Mas o que ela entrega vai muito além, há vários depoimentos de pessoas reais, que mais parecem personagens de tão caricatos, o que não é ruim, muito pelo contrário, é isso que faz o charme na narrativa.
O documentário foi gravado em boa parte do Nordeste, principalmente no estado de Alagoas e Sergipe, além de contar com depoimentos de importantes artistas do gênero como Agnaldo Timóteo, Amado Batista, Lindomar Castilho, Nelson Ned, Odair José, Rodrigo Mell, Walter de Afogados e Wando, que em seus discursos tentam explicar o porquê a música brega é tão popular e sua importância na vida das pessoas.
Há inclusive um ótimo momento em que um dos entrevistados diz que essas músicas não deveriam ser denominadas como brega, e sim MPB, isso mesmo, pois de acordo com ele essas músicas representa o que o povo ouve, são histórias que realmente que população vive, diferente de músicas de intelectuais como Caetano Veloso.
A grande sacada da diretora Ana Rieper, de não tratar a música brega com desrespeito e sim arranjar uma forma de explicar a causa de tanto sucesso nesse gênero que fala do amor de uma maneira extremamente ampla, e porque não cafona? O ser humano é cafona por natureza, como já dizia o heterônimo Álvaro de Campos de Fernando Pessoa,
“...Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente Ridículas.”
O som desse documentário é extremamente bem utilizado, da música do cantor na gravação em estúdio para uma transição em que a mesma musica está sendo cantada em um karaokê, todas as músicas escolhidas dialogam perfeitamente com os depoimentos dos entrevistados, sem dúvida esse é um dos documentários mais memoráveis dos últimos anos.
É genial ver como a diretora mistura o tom de deboche com cenas comoventes de alguns entrevistados e ao mesmo tempo fica um clima de drama, afirmando a forte mão que a diretora tem para mixar dois gêneros distintos.
Olmo e a Gaivota
3.9 149A indistinção entre documentário e ficção ronda a produção de Olmo e a Gaivota, filme da brasileira Petra Costa e da dinamarquesa Lea Glob. O objetivo era acompanhar o cotidiano de uma atriz de teatro, mais precisamente do Thêatre du Soleil, (grupo surgido como um coletivo de artistas em 1964).
Entretanto, a atriz que seria acompanhada, Olivia Corsini disse às diretoras que estava grávida, a partir dessa noticia, de forma poética, humana e lírica, as diretoras decidiram as invés de trocarem a artista ou cancelarem o projeto, acompanhar a gravidez de Olivia.
Vemos a proposta da companhia teatral de realizar a releitura de A Gaivota, de Anton Tchekhov, logo em seguida Olivia descobre que terá um filho, e um problema de saúde coloca em risco a gravidez, a atriz descobre que terá que ficar em casa durante os nove meses da gestação, enquanto seu companheiro pessoal e profissional, Serge Nicolai, continua ensaiando com a companhia, às vésperas de uma montagem que apresentarão nos Estados Unidos.
A necessidade intimista de repouso traz à tona os sonhos, os medos, as mudanças no corpo, as perspectivas de futuro e o impacto para o casal envolvido, a claustrofobia por ter que estar de certa forma presa no 5ª andar, cheia de desejos, como uma Rapunzel urbana, é isso que vemos, através de depoimentos e dramatizações e também com o auxilio de fitas de áudio que Olivia gravava todos os dias.
Não por acaso que a peça escolhida foi A Gaivota que trata justamente sobre ser artista, não apenas isso, mas o ser mulher, o medo de envelhecer em seu ofício, cair na loucura e todos os sacrifícios enfrentados.
O Olmo, é uma árvore italiana que tem sua origem ao norte da Itália, é símbolo de revolução, e a gaivota é esse ser livre, então é um pouco sobre esse confronto, entre criar raízes, criar família e a liberdade.
Infelizmente, em alguns momentos Petra parece se perder em sua própria narrativa, nos obrigando a notar seu olhar o tempo todo com sua insistência em tirar e colocar as coisas em foco, ou quando interfere nas discussões do casal, há um momento também que ela pede para o casal inverter os papéis numa determinada discussão, e logo em seguida anuncia o corte, nos privando de ver o resultado de tal ação, o que parece mais ser uma mera demonstração de poder.
Beira-Mar
2.7 454Logo após o documentário "Preservativo" e a ficção "Um Diálogo de Ballet", ambos no formato curta, os diretores já se lançaram no longa, foram selecionados para o Festival de Berlim e receberam o prêmio de estreantes no Festival do Rio.
Beira-Mar segue a primeira vista nos contando sobre dois jovens, Martin e Tomaz seguindo para uma viajem a uma cidade onde não tem muito o que fazer em pleno inverno gaúcho, eles passam seu tempo dormindo, andando sem rumo, fumando ou bebendo.
Fragmentos de relações conflituosas são postas em migalhas, há um momento em que Tomaz vai visitar sua família sentimos que ali a historia vai se mostrar, mas não, o roteiro é extremamente prejudicado pelo excesso de silencio.
A premissa do longa não fica explicita além de pecar pela ausência de diálogos, o silencio em um filme deve ser funcional e dar sentido ao filme, mas aqui isso é completamente ignorado, vemos 20 minutos de filme com a sensação de não saber o mote da história, e é assim que o filme se arrasta por 83 minutos.
O filme tenta se sustentar em um oco, fica um sentimento de vácuo na narrativa, onde cenas são adicionadas apenas para “preencher” o tempo, cenas que não fazem nenhuma falta à narrativa, o roteiro só nos revela seu objetivo aos cinco minutos finais do filme, onde temos noção do problema de relações conflituosas que foi solto em fragmentos no inicio, e a sexualidade dos dois personagens.
Beira-Mar, se salva pela fotografia, que não é tão grandiosa, mas se destaca em relação a produção no geral, não há roteiro à ser contato, não há intenção de contar nada, o sentimento que fica após ver esse filme é que se dormíssemos durante 78 minutos não perderíamos absolutamente nada do filme, além de parecer uma tentativa miserável de recriar personagens de Antonioni.
Dope: Um Deslize Perigoso
4.0 351 Assista AgoraMalcolm (Shameik Moore) é um nerd mora em Inglewood, um bairro violento em Los Angeles, venera a cultura pop dos anos 90, especialmente o hip¬ hop. Além de formar uma banda punk Oreo com seus inseparáveis amigos Jib e Diggy. Enquanto se esforça para ser admitido em uma boa faculdade, Malcolm recebe um convite para ir a uma festa que o leva em uma aventura, permitindo que ele se transforme de nerd à traficante, para finalmente, ser ele mesmo.
A primorosa direção de arte é o primeiro quesito neste filme que nos salta aos olhos, a forma que Malcom se veste, sempre fazendo referência aos anos 90, os objetos de cena, tudo foi pensando de forma muito inteligente aqui, nada está por mero acaso.
A louvação pela cultura dos anos 90 considerada a era de ouro do rap americano, se estende aos 103 minutos do filme, há vários estereótipos utilizados em memória aos filmes desta década com negros em papel principal, mas não se engane tudo faz parte da narrativa e serve para construir a crítica ao racismo. Em alguns momentos, as atuações se tornam caricatas demais, mas vai se justificando conforme a narrativa se desenvolve.
Dope é um filme que faz um excelente uso dos clichês, nos fazendo relembrar que o cinema reflete o que a nossa sociedade vive, uma história que nos surpreende por tamanha empatia, um discurso atual e relevante que nos faz perceber que desde a década de 90 andamos em círculos quando o assunto é o racismo.