'Invencível' tenta parecer uma subversão dos padrões de tramas de super-herói, quando na realidade é apenas mais uma história média que poderia muito bem se situar tanto no universo Marvel quanto no da DC. E não me leve a mal, essa característica por si só não dita o nível da série - o que dirá isso é a criatividade empregada no projeto.
É aí que encontramos o primeiro problema. Logo no fim do primeiro episódio, somos apresentados a uma cena que, além de buscar o choque, ainda apresenta um mistério. É basicamente esse mistério que sustenta a obra por grande parte de sua duração, visto que tudo que existe entre ele e a revelação é extremamente secundário.
Sempre que o roteiro tenta trabalhar o romance entre o protagonista e seu interesse amoroso ou qualquer outro tipo de dilema adolescente, ele é dolorosamente clichê, irritante e sem o mínimo de química. Na real, quase tudo na trama que envolve um lado mais emocional ou sensível não consegue de fato despertar empatia.
Três personagens em especial são extremamente irritantes: Rex Splode, que desde a voz até o comportamento soa como a pessoa de 16 anos mais insuportável que você poderia conhecer; Amber, a namorada que a série sequer convence que deveríamos nos importar; e Debbie, a mãe do protagonista que insiste em defender coisas indefensáveis.
O nível de violência é algo questionável. Em alguns momentos ela dá peso e a sensação de que qualquer herói pode morrer a qualquer momento, enquanto em outros parece apenas mais uma tentativa de fazer a história parecer adulta. Se apenas fosse sugerida a ideia da violência, sem de fato mostrá-la, seria tudo bem mais marcante.
A animação, por sua vez, possui um traço semelhante ao de alguns filmes da DC lançados direto pra vídeo: bem quadrada, pouco dinâmica e de cores sem muita vida. Há cenas em que o traço e a movimentação melhoram levemente, mas não é nada destacável e não é como se fosse o suficiente para salvar o visual da série.
O que definirá se você irá gostar ou não da temporada como um todo é o quanto está disposto a aturar ou se distrair com as subtramas propostas até a conclusão e revelação do "mistério". Algumas, como a do Robô ou o episódio do Machine Head, são até que interessantes. Uma pena ser tudo tão momentâneo e com pouca consequência.
A revelação final é um fator que, dependendo da sua expectativa, pode decepcionar. Até existe uma tentativa do roteiro de desviar a atenção do público ou fazer parecer que se trata de algo justificável, mas nunca funciona. A explicação é provavelmente a primeira hipótese na qual você pensou, e não surpreende em nada.
Em resumo, Invencível é uma história perfeitamente comum de super-heróis, mas que não sabe dividir sua atenção e distribuir importância entre os múltiplos arcos e núcleos que propõe. Com personagens irritantes e uma trama que se sustenta na curiosidade que desperta, temos uma série aceitável, mas bastante dispensável.
A maioria das tramas dessa nova temporada trata de assuntos que já vimos nos anteriores, mas de forma pouco memorável. Uma coisa é fato: os episódios, devido a pouca ousadia, mantem notas mais estáveis em comparação uns aos outros. De qualquer forma, ainda acho preferível uma lista de curtas em que a maioria é mediano, alguns são geniais e outros são fracos, do que uma onde quase tudo é medíocre.
Além disso, um detalhe incomoda bastante: a repetição de temas. Em dois episódios a série fala sobre seres humanos cuja longevidade ultrapassou o natural, e em outros dois, pessoas lutam contra robôs assassinos em um espaço limitado. Isso não os invalida como um todo, pois as técnicas e narrativas ainda se diferenciam, mas com uma quantidade bem menor de curtas, é bem decepcionante que alguns deles tratem do mesmo assunto.
Em suma, a segunda coletânea de curtas de 'Amor, Morte e Robôs' se mostra inferior a primeira. A quantidade de episódios, apesar de menor, poderia ser justificada caso um nível mais alto de qualidade fosse empregado em cada um, mas isso não ocorre. Infelizmente, é necessário afirmar que, apesar desta não ser ruim, os melhores curtas ainda encontram-se no primeiro volume, que cativa, choca e empolga muito mais.
• EPISÓDIOS COMENTADOS (DO PIOR AO MELHOR):
8. ‘ATENDIMENTO AUTOMÁTICO AO CLIENTE’: Tem uma animação bastante caricata, mas até que bonitinha. O destaque fica para o humor com o fato da humanidade estar cada vez mais submissa as máquinas, além das cenas com o cachorrinho.
EM UMA PALAVRA: Legal (?). NOTA: ⭐⭐⭐
7. ‘PELA CASA’: Uma reimaginação do "conceito" de Papai Noel feita em com um stop motion bem realizado. Uma ideia levemente perturbadora, mas nada demais.
EM UMA PALAVRA: Nojentinho. NOTA: ⭐⭐⭐
6. ‘SNOW NO DESERTO’: Mistura inúmeros conceitos futuristas, como híbridos de humanos com animais, ciborgues e mutantes, tudo embalado em um visual hiper-realista que realmente impressiona, mas carece de desenvolvimento, ficando tudo muito comprimido em poucos minutos de duração. Renderia um longa-metragem aos moldes de 'Blade Runner'.
EM UMA PALAVRA: Constrito. NOTA: ⭐⭐⭐
5. ‘A GRAMA ALTA’: É quase como uma creepy-pasta. O roteiro em si não causa muito medo, mas o curta ganha por seu visual enegrecido, com lampejos de ameaças e um ritmo bem adequado.
EM UMA PALAVRA: Intrigante. NOTA: ⭐⭐⭐
4. ‘GELO’: Um dos estilos gráficos que mais chamam atenção na série como um todo, criado de forma a dar ângulos extremamente variados e uma espacialidade admirável. A história, apesar de bem comum, possui um clima diferenciado e sustenta o interesse por toda sua duração.
EM UMA PALAVRA: Atmosférico. NOTA: ⭐⭐⭐½
3. ‘GAIOLA DE SOBREVIVÊNCIA’: Enclausuramento e incapacitação física são os dois pontos que permitem a este episódio criar sua história, que é bastante agoniante ao passo que acompanhamos os esforços do protagonista contra uma máquina violenta, instintiva, quase animal. Perde pontos ao tentar explicar como o personagem chegou até aquela situação, introduzindo cenas avulsas que mais parecem querer elaborar um universo do que acrescentar a narrativa. Ainda assim, uma peça valiosa da coleção.
EM UMA PALAVRA: Ameaçador. NOTA: ⭐⭐⭐⭐
2. ‘O GIGANTE AFOGADO’: Consegue trazer uma premissa extremamente interessante, elaborando-a com um texto sobre a efemeridade humana e a reação das pessoas quanto ao que é absurdo, rapidamente dissipada conforme aquilo torna-se comum. Inicialmente causa um estranhamento pela forma como o protagonista não parece querer estudar o estranho ocorrido, mas logo demonstra não querer de fato tratar sobre o literal, e sim sobre o metafórico.
EM UMA PALAVRA: Filosófico. NOTA: ⭐⭐⭐⭐
1. ‘ESQUADRÃO DE EXTERMÍNIO’: É o que mais se aproximou do que a primeira temporada havia me causado emocionalmente, com uma premissa extremamente profunda sobre a impossível vontade do ser humano de viver eternamente. Fala sobre a perda do valor de cada momento quando se sabe que haverão sempre mais, e demonstra como a morte é o que de fato dá sentido a vida. Em adição, mostra como novas gerações são necessárias como uma renovação, para se cumprir o propósito da vida e, estendendo a reflexão ainda mais, sobre o filtro seletivo natural e o encaminhamento universal à entropia.
A segunda temporada de The Boys tinha a difícil tarefa de manter o mesmo nível de qualidade de sua predecessora, cujas críticas socioculturais excediam a paródia ao tocar de forma ácida (porem consciente) em pontos importantes acerca de tendências populares. Partindo da decisão de lançar os episódios semanalmente, já é possível compreender o modus operandi dos roteiristas e diretores ao escrever e conduzir essa nova leva de episódios.
Nota-se que, diferente da primeira, que era mais ágil e com poucas digressões, temos aqui um ritmo de momentos importantes mais paulatinos intercalados por cenas que, se tinham algum objetivo no enredo, era fraco e poderia ser facilmente melhor escrito. Por outro lado, boas adições ao elenco e sátiras ainda mais profundas compensam esta temporada, a salvando de uma possível queda na mediocridade que são a maioria dos seriados.
Há um bom desenvolvimento para seletos personagens, enquanto outros mantem-se na média, são mal utilizados ou até mesmo descartados de forma pífia. No lado positivo, temos:
- A paródia viva à movimentos sociopolíticos que é Stormfront, divertida e odiosamente interpretada por Aya Cash; - O carismático Antony Starr dando seu sempre carismático toque de psicopatia e imprevisibilidade à Homelander, que agora além de tudo ainda desenvolve uma bem-vinda relação com o filho, Rian; - A Queen Maeve de Dominique McElligott, com um arco de queda e redenção que prometem bastante para o futuro da personagem (e rende a melhor cena da temporada).
Em meio a série estão presentes personagens que apenas movem a trama mas não agregam de forma tão destacável, como é o caso de praticamente todos os membros dos The Boys. Butcher e Hughie chegam a ter sua relação mais aprofundada, Mother's Milk ganha um background bem estabelecido e Frenchie possui uma ligação interessantíssima com Lamplighter (saudosamente vivido pelo antigo IceMan, Shawn Ashmore, cuja participação comentarei a seguir), mas nenhum deles é exatamente um exemplo de ótimo arco.
Figuras como Kimiko e StarLight possuem um ou outro momento marcante (como a já citada melhor cena da temporada, "as garotas dão conta"), mas nenhuma agrada muito. A Kimiko em especial é como uma montanha russa, em alguns episódios vai ao alto (como naquele onde seu irmão aparece e ela cria ódio por Stormfront) e em outros vai ao chão (como nos momentos com Frenchie, que agregam pouquíssimo à ambos). É possível dizer que a personagem possuía potencial, mas este infelizmente foi mal aproveitado.
O supracitado Lamplighter foi possivelmente a maior perda da série. Havia nele uma possibilidade de abordar arrependimento, culpa e um arco de redenção incrível, mas os roteiristas (que já disseram estar arrependidos) decidiram simplesmente descartá-lo numa cena patética que simplesmente invalida a boa adição que ele poderia ter sido para a série. Minha maior decepção é ele.
E vale citar ainda personagens como The Deep, A-Train e Black Noir, que tem pouco conteúdo aproveitável e ainda rendem - ou são vítimas - de algumas das divagações e facilitações narrativas mais incômodas da série. Há um episódio inteiro dedicado a incitar o quão bad ass é Black Noir, resolvido no fim de forma extremamente conveniente por uma ligação. Isso sem contar o péssimo Deus Ex-Machina utilizado na batalha contra a StarLight. Aliás, há muitos momentos onde os "bonzinhos" da série correm chance de morte ou de serem pegos mas se safam de forma demasiadamente fácil por um fator ou outro.
Surgem novos elementos, como a Igreja da Coletividade, que apesar de inicialmente engraçada, acaba ficando de lado rapidamente. Victoria Neuman, por outro lado, é uma novidade agradável que reserva uma boa reviravolta a praticamente qualquer um que assista a série sem saber de nada acerca da trama. As cutucadas à filmes de heróis também ficaram ainda maiores e melhor colocadas, com indiretas à produções como Batman v Superman: Dawn of Justice, Justice League e até mesmo Avengers: Endgame.
Ainda assim, seria impossível negar que estes pontos não são os elementos mais importantes da série, e sim um "extra" que, se aliado a um roteiro melhor escrito, poderia ter rendido uma temporada tão boa a primeira, senão melhor. A segunda temporada de The Boys mantém boa parte do charme de sua antecessora e é uma continuação decente para uma ótima série, mas perde muito em ritmo e desenvolvimento de personagens. Felizmente, o contexto final na qual encontram-se os personagens ainda consegue ser satisfatório, o que gera uma espera positiva pelo lançamento dos próximos capítulos.
Amor, morte e robôs. O que poderia ser gerado de interessante acerca dessas três temáticas? Muita coisa. Na antologia da Netflix que as carrega no nome, o público é frequentemente introduzido à novos conceitos, surpreendido pelas mudanças na linguagem narrativa e, é claro, deslumbrado pelas técnicas visuais, todos batidos num misto que prende a atenção durante toda a obra.
Surpresa, fascínio e confusão são alguns dos sentimentos mais presentes no decorrer da experiência, o que demonstra o nível de criatividade da série. É claro que, pela variedade tão grande de histórias, existirão algumas não tão interessantes ou bem executadas. Esse, no entanto, acaba por ser um preço pequeno a ser pago quando se aposta em tantos conceitos numa só produção.
Ainda que hajam episódios mais mornos, sem sentido ou simplesmente bobos, aqueles que se destacam pesam - e muito - na qualidade como um todo. É válido notar também que a maioria das tramas inferiores possuem uma curta duração, o que não as torna incômodas. No fim, a simples curiosidade de saber o que lhe aguarda no próximo capítulo já compensa qualquer solavanco na qualidade.
• EPISÓDIOS COMENTADOS (DO PIOR AO MELHOR):
18. ‘QUANDO O IOGURTE ASSUMIU O CONTROLE’ parte de um conceito fraco e não compensa tal problema no desenvolvimento de sua trama, que é desinteressante.
EM UMA PALAVRA: Bobo. NOTA: ⭐⭐½
17. ‘HISTÓRIAS ALTERNATIVAS’ é, assim como o anterior, mais uma "brincadeira" do que uma história de fato, se rebaixando à um humor absurdo demais para sustentar um episódio.
EM UMA PALAVRA: Idiota. NOTA: ⭐⭐½
16. ‘ERA DO GELO’ é o único episódio em live action, e também o único que não parece ter muito a ver com o estilo do resto da série. Nada de interessante é apresentado.
EM UMA PALAVRA: Destoante. NOTA: ⭐⭐½
15. ‘AJUDINHA’ é praticamente uma versão mais exagerada do filme 'Gravidade', mas não possui um visual muito inspirado e muito menos uma reviravolta interessante.
EM UMA PALAVRA: Esquecível. NOTA: ⭐⭐⭐
14: ‘O LIXÃO’ é provavelmente a história mais irrelevante de todas da lista. Além de não ter muito de nenhuma das três temáticas-título, não gera grandes emoções.
EM UMA PALAVRA: Genérico. NOTA: ⭐⭐⭐
13. ‘PONTO CEGO’ apresenta uma proposta interessante - um assalto com ciborgues. O problema aqui são os personagens, que não têm seu valor construído.
EM UMA PALAVRA: Medíocre. NOTA: ⭐⭐⭐
12. ‘NOITE DE PESCARIA’ beneficia-se de um visual bem inspirado, principalmente no final. O ponto baixo do episódio é a falta de significado, já que os acontecimentos apelam demais à abstração.
EM UMA PALAVRA: Vago. NOTA: ⭐⭐⭐
11. ‘PARA ALÉM DA FENDA DE ÁQUILA’ tem uma trama confusa e um final pouco claro. Não fosse o design gráfico, que poderia tranquilamente ser confundido com a cutscene de algum jogo triple-a, o episódio seria irrelevante.
EM UMA PALAVRA: Intrigante. NOTA: ⭐⭐⭐
10. ‘13, NÚMERO DA SORTE’: a partir daqui, os episódios vão de bons à ótimos. Este conta uma história básica, mas bem realizada. A modelagem gráfica não fica muito para trás.
EM UMA PALAVRA: Eficiente. NOTA: ⭐⭐⭐½
9. ‘SUGADOR DE ALMAS’ é imerso no clima de um filme de monstro, apresentando uma versão reimaginada de um dos mais clássicos personagens do subgênero. Belo tanto em design quanto na fluidez de movimentos, iluminação e cores. O final pode ser decepcionante, mas o decorrer vale a pena.
EM UMA PALAVRA: Divertido. NOTA: ⭐⭐⭐½
8. ‘PROTEÇÃO CONTRA ALIENÍGENAS’ mescla o estilo cartoon com uma animação tridimensional, gerando um interessante resultado visual. A história tem personagens carismáticos e o desenrolar da ação é cativante - não seria incômodo ver uma série animada baseada nessa ideia.
EM UMA PALAVRA: Empolgante. NOTA: ⭐⭐⭐½
7. ‘A GUERRA SECRETA’ é absurdamente eficiente no que tange o trabalho de textura, fluidez de partículas e iluminação - o melhor da antologia, nesses quesitos. A história também é bem escrita, convencendo acerca dos momentos de heroísmo e sacrifício.
EM UMA PALAVRA: Belo. NOTA: ⭐⭐⭐½
6. ‘A TESTEMUNHA’ possui um ritmo ágil e um tom forte, cheio de erotismo e violência. A utilização da ambientação cyberpunk, além disso, permite a criação de uma interessante jornada estética. A direção alia bem a qualidade gráfica com a premissa, que cativa do início à conclusão.
EM UMA PALAVRA: Intrigante. NOTA: ⭐⭐⭐⭐
5. ‘METAMORFOS’: Tem um background conceitual legal e é outro em que o design de modelagem digital é impecável. Renderia um filme facilmente.
EM UMA PALAVRA: Criativo. NOTA: ⭐⭐⭐⭐
4. ‘TRÊS ROBÔS’: Visual criativo e tecnicamente perfeito, além de um humor que se aproveita bem da temática estabelecida.
EM UMA PALAVRA: Inteligente. NOTA: ⭐⭐⭐⭐½
3. ‘BOA CAÇADA’: De todos os designs bidimensionais, o melhor. A história mistura misticismo asiático com um cenário retrofuturista, rendendo um resultado surpreendente. As temáticas trabalhadas nele são profundas e renderiam um filme de altíssima qualidade.
EM UMA PALAVRA: Fascinante. NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
2. ‘ZIMA BLUE’: A história fala, em resumo, da arte e o que faz uma obra ser especial. Há uma aura extremamente forte durante todo o episódio e o decorrer da trama pode gerar inúmeras interpretações.
EM UMA PALAVRA: Conceitual. NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
1. ‘A VANTAGEM DE SONNIE’: Ainda que Zima Blue seja mais profundo, é A Vantagem de Sonnie que leva o primeiro lugar. Sua ideia encanta de uma maneira forte, com uma premissa que mistura Círculo de Fogo com Gigantes de Ferro e gera como resultado cenas simplesmente fenomenais.
A ideia de 'Além da Imaginação', desde suas primeiras versões, é apresentar uma antologia de histórias de mistério, a maioria delas envolvendo algum conceito ficcional deveras intrigante. A versão de 2019 não foge disso, mas apresenta um problema: falta de criatividade. Grande parte dos episódios aqui apresentados não funciona.
A maioria dos capítulos tem propostas simplesmente bobas e/ou desinteressantes, e dos que fogem disso, uma parcela ainda menor consegue desenvolver suas premissas de forma eficiente. Dentre esses poucos, ainda menos possui, além de eficiência, uma mensagem a se passar. Em resumo, apenas dois episódios se salvam.
Em aspectos técnicos a obra não decepciona, pois geralmente possui uma direção decente e fotografia digna de nota. As atuações são, em sua maioria, condizentes com o que é proposto. Nesse quesito, não há muito o que se reclamar - tampouco o que se destacar. Uma pena que, em uma análise final, nada compense os roteiros fracos.
'Chernobyl' aborda de formam muito respeitosa as inúmeras perspectiva das vítimas do maior acidente nuclear já ocorrido, servindo ainda como uma homenagem para aqueles que se sacrificaram pela simples chance de diminuir o impacto da radiação. O que eleva a obra, entretanto, é o quão precisa ela consegue ser em todos os seus aspectos.
O roteiro causa inquietude ao criar uma sensação de urgência quase onipresente; a fotografia utiliza tons esverdeados para emular "toxicidade"; as atuações são dramáticas o suficientes para ditar o tom de cada cena, a maquiagem choca e os efeitos especiais se misturam tão bem com os práticos que criam imagens indistinguíveis do real.
Além disso, a produção não poupa suas críticas, que de forma mais direta se relacionam ao partido comunista, mas estendem-se à órgãos estatais num geral. A série retrata de forma realista como o próprio Estado é responsável por tal problema, assim como não esconde a incapacidade de governos de lidarem com incidentes dessa magnitude eficientemente.
Com uma duração precisamente calculada com o objetivo de narrar apenas o necessário e nada além disso, 'Chernobyl' é um retrato realista e artisticamente impecável do ocorrido que a nomeia, sabendo trabalhar sua trama de forma séria e respeitosa, chocando para reforçar sua temática e apresentando uma discussão que merece ser percebida por todos.
É notável a tentativa que os criadores de 'Monstro do Pântano' tiveram em produzir uma série de personalidade, mas apesar do clima de terror bem encaixado e uma boa caracterização do personagem título, a obra peca em roteiro, que não possui uma linha condutiva clara, é cheio de subtramas confusas e tem em seus demais personagens uma construção rasa.
Após a abordagem superficial da Patrulha do Destino em 'Titans', a série própria da equipe aborda seus membros e a própria trama de uma maneira completamente diferente - cheia de metalinguagem, um ótimo equilíbrio entre drama e humor, autossátiras e uma acidez que se encaixa perfeitamente na proposta.
Além de serem interpretados por um elenco muito bem escalado, cada personagem possui defeitos palpáveis, nos despertam empatia e possuem um charme único - são eles o maior trunfo da série. Seus arcos são basicamente uma forma de terapia de superação, o que além de tornar a trama diferenciada, ainda gera proximidade com o público.
O número de episódios da temporada excede um pouco o necessário, fazendo com que, algumas vezes, a trama divague. Capítulos que movem a trama, desenvolvem personagens ou adicionam novos elementos são cativantes, mas há momentos em que a série parece seguir caminhos desconexos à trama principal ou até mesmo confusos (como a conclusão).
Apesar disso, há mais elementos agradáveis do que críticas a serem feitas. Os efeitos especiais são geralmente bons e a produção, de forma geral, se esforça pra criar uma obra de qualidade. Assim sendo, 'Patrulha do Destino' é uma das melhores séries de super-herói da DC (provavelmente a melhor).
Uma ótima sátira as tramas de super-heróis, 'The Boys' mostra uma perspectiva mais negativa de como seria a existência de pessoas com poderes na vida real. O principal ponto da trama é o questionamento moral dessas figuras, buscando também nunca transformar os protagonistas em novos ícones de perfeição em caráter.
O grupo de "mocinhos" que acompanhamos não são heróis no mais puro significado do conceito: eles querem simplesmente se vingar sem preocupar-se em cometer atos condenáveis em nome de seu objetivo - trazendo, em adicional ao dos super-heróis, um questionamento acerca da existência de pessoas genuinamente boas.
O roteiro é extremamente eficiente nessa proposta, mantendo um ritmo narrativo constante, sem decair ou tornar-se desinteressante em momento algum. Uma decisão inteligente que permitiu isso são os núcleos, que dividem-se entre "Os Rapazes" (os protagonistas supracitados) e "Os Sete", formados pelos principais heróis do país.
Um aspecto positivo que gera ótimas dinâmicas em ambos os grupos é o fato de cada um deles ter um personagem que representa a visão do público naquela situação: Hughie, d'Os Rapazes, e Luz Estrela, d'Os Sete. Apesar disso, a maioria dos personagens tem um desenvolvimento mínimo em algum momento da temporada.
Personagens inicialmente unidimensionais, como Profundo, Rainha Maeve e Capitão Pátria, logo ganham camadas que permitem criar empatia ou, ao menos, despertam interesse por sua psique. Capitão Pátria, em especial, é ao mesmo tempo uma ótima subversão do Superman e um representante do espírito de bizarrice da série.
É essa bizarrice que rende alguns dos momentos mais engraçados da obra, assim como a permite abusar da violência de forma que nunca soe descabida, se encaixando bem na proposta e ajudando a dar o toque necessário de originalidade à esse universo. 'The Boys' não só parodia, como cria sua própria mitologia.
Além de moralidade, a série aborda temas como complexo de deus, vingança, uso de drogas, corporativismo e manipulação midiática, sempre traçando ótimos paralelos ao mundo atual e à outros universos ficcionais. A primeira temporada de 'The Boys' é ácida, cativante e provocativa, causando, em adicional, uma enorme ansiedade pela segunda.
Após uma segunda temporada lamentável, o terceiro ano de 'Jessica Jones' tinha a responsabilidade de criar uma trama bem mais engajante e melhor construída. Introduzindo brevemente novos conceitos e personagens, a história toma um rumo diferente ao parar de explorar o passado da personagem e seguir em frente.
O ponto principal da trama - a relação entre a protagonista e sua irmã, Trish - é bem mais consistente, recebendo também o apoio de personagens coadjuvantes com arcos próprios. Estes por sua vez variam na forma como se relacionam à trama principal: alguns são orgânicos, enquanto outros são bastante desconexos.
A ação também é mais presente, mesmo que, no balanço final, ainda esteja em pouca quantidade. Quando ela ocorre, entretanto, é bem feita. É sentida a falta de mais lutas entre Jessica e Trish, que agora é alguém bem mais interessante e com uma importância melhor justificada, tornando seu acompanhar mais agradável.
O vilão apresenta a ameaça necessária para a protagonista, proporcionando também alguns questionamentos morais sobre a natureza do heroísmo que encaixam-se bem na história. É levada em conta sempre a construção dos personagens para que estes encontrem-se em perspectivas coerentes.
Este último, por outro lado, não é tão bem aprofundado, necessitando ser balanceado com um novo aliado de Jessica: Erik. Com uma introdução dinâmica e uma boa motivação, Erik se prova um "sidekick" bem sucedido e permite que a protagonista tenha alguém com que dialogar durante sua jornada.
No fim, a junção de todos os elementos resulta numa história satisfatória, ainda que não tão memorável. A cena final é de certa forma ambígua, dando a sensação de uma história que poderia possuir mais capítulos, mas que, sendo encerrada exatamente nesse momento, não é insatisfatória - o que é ótimo.
O primeiro ponto a ser salientado na terceira temporada de 'Demolidor' é a fluidez da trama, que pula de um capítulo para outro de forma muito dinâmica. O roteiro, extremamente bem escrito, é complexo o suficiente pra se encaixar perfeitamente na duração proposta, o que demonstra quanto conteúdo foi trabalhado na trama.
Cada acontecimento tem um papel claro e é sentida a evolução dos personagens, que por sua vez não só são bem utilizados pelo roteiro, como também merecem destaque com relação à suas interpretações, que nesse terceiro ano, tiveram sua parte psicológica muito bem elaborada.
Charlie Cox demonstra uma naturalidade maior ao interpretar Matt Murdock e, em especial, o Demolidor, já que há agora uma linha muito mais tênue entre as duas personas. Existe muita profundidade nos desejos e reflexões do personagem, que possui uma agência bem maior nos acontecimentos que movem o roteiro.
Wilson Fisk, agora finalmente chamado de "Rei do Crime", continua sendo formidavelmente vivido por Vincent D'onofrio. O vilão possui uma motivação muito mais clara e seu plano envolve boas reviravoltas, sendo não só uma das bases pro andamento da história, como um objeto de admiração por si só.
É investido um bom tempo da narrativa no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, o que na maior parte do tempo gera ótimos resultados. Foggy e Karen ocupam bem seu seu devido lugar, com essa última possuindo, inclusive, um episódio inteiro para se desenvolver (apesar de ser um leve solavanco).
Ray Nadeem e Ben Poindexter, novos personagens, são ótimas adições à série. Enquanto um deles possui um arco fechado bastante eficiente, o outro deixa muito em aberto para próximas temporadas (que infelizmente não irão ocorrer), além de propiciar algumas das cenas mais impressionantes dos episódios.
Me refiro aqui aos trechos de ação, que chegam ao nível de ultrapassar a da primeira temporada (que já eram incríveis). O estilo de luta do Demolidor aparenta ter mudado bastante, remetendo mais ao boxe do que às artes marciais. As lutas entre ele e Dex são espetacularmente bem coreografadas.
Em síntese, a terceira temporada de Demolidor evolui seus personagens, sua direção, suas cenas de ação e, consequentemente, o nível da série como um todo. Apesar do cancelamento súbito, a obra terminou em uma nota altíssima, sendo provavelmente o melhor dos frutos da união entre a Marvel e a Netflix.
Me surpreendi com o quão melhor que a primeira temporada e até mesmo Defensores esses episódios conseguem ser. Deslumbrante em questão de fotografia, que pega as cores do personagem e encaixa de forma natural, fazendo ainda um uso de luzes que além de permitir enxergar bem as cenas, ainda adiciona beleza ao momento.
A trilha sonora é quase impecável, já que o uso do reggae além de dar um clima de tranquilidade, ainda se encaixa num contexto condizente, dada a origem do vilão. Todo a construção de personagens é mais reconhecível e bem executada aqui, com os diálogos servindo melhor para a jornada tanto dos vilões quanto do herói e seus coadjuvantes.
O protagonista ganha uma personalidade mais determinada e com motivações palpáveis, tal como um interessante embate contra a raiva e o descontrole. A temporada não é perfeita, com alguns episódios (os dois primeiros e os dois finais, pra ser mais exato) quase desnecessários, não fosse uma ou outra cena essencial pra história.
Apesar de uma trama mais esticada do que deveria e um final um tanto quanto decepcionante (além da participação de certo herói que é completamente desnecessária para o andamento da série), a terceira temporada de Luke Cage é bem superior a primeira e conclui com considerável eficácia a jornada de boa parte de seus personagens.
Invencível (1ª Temporada)
4.3 397'Invencível' tenta parecer uma subversão dos padrões de tramas de super-herói, quando na realidade é apenas mais uma história média que poderia muito bem se situar tanto no universo Marvel quanto no da DC. E não me leve a mal, essa característica por si só não dita o nível da série - o que dirá isso é a criatividade empregada no projeto.
É aí que encontramos o primeiro problema. Logo no fim do primeiro episódio, somos apresentados a uma cena que, além de buscar o choque, ainda apresenta um mistério. É basicamente esse mistério que sustenta a obra por grande parte de sua duração, visto que tudo que existe entre ele e a revelação é extremamente secundário.
Sempre que o roteiro tenta trabalhar o romance entre o protagonista e seu interesse amoroso ou qualquer outro tipo de dilema adolescente, ele é dolorosamente clichê, irritante e sem o mínimo de química. Na real, quase tudo na trama que envolve um lado mais emocional ou sensível não consegue de fato despertar empatia.
Três personagens em especial são extremamente irritantes: Rex Splode, que desde a voz até o comportamento soa como a pessoa de 16 anos mais insuportável que você poderia conhecer; Amber, a namorada que a série sequer convence que deveríamos nos importar; e Debbie, a mãe do protagonista que insiste em defender coisas indefensáveis.
O nível de violência é algo questionável. Em alguns momentos ela dá peso e a sensação de que qualquer herói pode morrer a qualquer momento, enquanto em outros parece apenas mais uma tentativa de fazer a história parecer adulta. Se apenas fosse sugerida a ideia da violência, sem de fato mostrá-la, seria tudo bem mais marcante.
A animação, por sua vez, possui um traço semelhante ao de alguns filmes da DC lançados direto pra vídeo: bem quadrada, pouco dinâmica e de cores sem muita vida. Há cenas em que o traço e a movimentação melhoram levemente, mas não é nada destacável e não é como se fosse o suficiente para salvar o visual da série.
O que definirá se você irá gostar ou não da temporada como um todo é o quanto está disposto a aturar ou se distrair com as subtramas propostas até a conclusão e revelação do "mistério". Algumas, como a do Robô ou o episódio do Machine Head, são até que interessantes. Uma pena ser tudo tão momentâneo e com pouca consequência.
A revelação final é um fator que, dependendo da sua expectativa, pode decepcionar. Até existe uma tentativa do roteiro de desviar a atenção do público ou fazer parecer que se trata de algo justificável, mas nunca funciona. A explicação é provavelmente a primeira hipótese na qual você pensou, e não surpreende em nada.
Em resumo, Invencível é uma história perfeitamente comum de super-heróis, mas que não sabe dividir sua atenção e distribuir importância entre os múltiplos arcos e núcleos que propõe. Com personagens irritantes e uma trama que se sustenta na curiosidade que desperta, temos uma série aceitável, mas bastante dispensável.
Amor, Morte e Robôs (Volume 2)
3.8 371• SOBRE O VOLUME COMO UM TODO:
A maioria das tramas dessa nova temporada trata de assuntos que já vimos nos anteriores, mas de forma pouco memorável. Uma coisa é fato: os episódios, devido a pouca ousadia, mantem notas mais estáveis em comparação uns aos outros. De qualquer forma, ainda acho preferível uma lista de curtas em que a maioria é mediano, alguns são geniais e outros são fracos, do que uma onde quase tudo é medíocre.
Além disso, um detalhe incomoda bastante: a repetição de temas. Em dois episódios a série fala sobre seres humanos cuja longevidade ultrapassou o natural, e em outros dois, pessoas lutam contra robôs assassinos em um espaço limitado. Isso não os invalida como um todo, pois as técnicas e narrativas ainda se diferenciam, mas com uma quantidade bem menor de curtas, é bem decepcionante que alguns deles tratem do mesmo assunto.
Em suma, a segunda coletânea de curtas de 'Amor, Morte e Robôs' se mostra inferior a primeira. A quantidade de episódios, apesar de menor, poderia ser justificada caso um nível mais alto de qualidade fosse empregado em cada um, mas isso não ocorre. Infelizmente, é necessário afirmar que, apesar desta não ser ruim, os melhores curtas ainda encontram-se no primeiro volume, que cativa, choca e empolga muito mais.
• EPISÓDIOS COMENTADOS (DO PIOR AO MELHOR):
8. ‘ATENDIMENTO AUTOMÁTICO AO CLIENTE’: Tem uma animação bastante caricata, mas até que bonitinha. O destaque fica para o humor com o fato da humanidade estar cada vez mais submissa as máquinas, além das cenas com o cachorrinho.
EM UMA PALAVRA: Legal (?).
NOTA: ⭐⭐⭐
7. ‘PELA CASA’: Uma reimaginação do "conceito" de Papai Noel feita em com um stop motion bem realizado. Uma ideia levemente perturbadora, mas nada demais.
EM UMA PALAVRA: Nojentinho.
NOTA: ⭐⭐⭐
6. ‘SNOW NO DESERTO’: Mistura inúmeros conceitos futuristas, como híbridos de humanos com animais, ciborgues e mutantes, tudo embalado em um visual hiper-realista que realmente impressiona, mas carece de desenvolvimento, ficando tudo muito comprimido em poucos minutos de duração. Renderia um longa-metragem aos moldes de 'Blade Runner'.
EM UMA PALAVRA: Constrito.
NOTA: ⭐⭐⭐
5. ‘A GRAMA ALTA’: É quase como uma creepy-pasta. O roteiro em si não causa muito medo, mas o curta ganha por seu visual enegrecido, com lampejos de ameaças e um ritmo bem adequado.
EM UMA PALAVRA: Intrigante.
NOTA: ⭐⭐⭐
4. ‘GELO’: Um dos estilos gráficos que mais chamam atenção na série como um todo, criado de forma a dar ângulos extremamente variados e uma espacialidade admirável. A história, apesar de bem comum, possui um clima diferenciado e sustenta o interesse por toda sua duração.
EM UMA PALAVRA: Atmosférico.
NOTA: ⭐⭐⭐½
3. ‘GAIOLA DE SOBREVIVÊNCIA’: Enclausuramento e incapacitação física são os dois pontos que permitem a este episódio criar sua história, que é bastante agoniante ao passo que acompanhamos os esforços do protagonista contra uma máquina violenta, instintiva, quase animal. Perde pontos ao tentar explicar como o personagem chegou até aquela situação, introduzindo cenas avulsas que mais parecem querer elaborar um universo do que acrescentar a narrativa. Ainda assim, uma peça valiosa da coleção.
EM UMA PALAVRA: Ameaçador.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐
2. ‘O GIGANTE AFOGADO’: Consegue trazer uma premissa extremamente interessante, elaborando-a com um texto sobre a efemeridade humana e a reação das pessoas quanto ao que é absurdo, rapidamente dissipada conforme aquilo torna-se comum. Inicialmente causa um estranhamento pela forma como o protagonista não parece querer estudar o estranho ocorrido, mas logo demonstra não querer de fato tratar sobre o literal, e sim sobre o metafórico.
EM UMA PALAVRA: Filosófico.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐
1. ‘ESQUADRÃO DE EXTERMÍNIO’: É o que mais se aproximou do que a primeira temporada havia me causado emocionalmente, com uma premissa extremamente profunda sobre a impossível vontade do ser humano de viver eternamente. Fala sobre a perda do valor de cada momento quando se sabe que haverão sempre mais, e demonstra como a morte é o que de fato dá sentido a vida. Em adição, mostra como novas gerações são necessárias como uma renovação, para se cumprir o propósito da vida e, estendendo a reflexão ainda mais, sobre o filtro seletivo natural e o encaminhamento universal à entropia.
EM UMA PALAVRA: Tocante.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
The Boys (2ª Temporada)
4.3 647A segunda temporada de The Boys tinha a difícil tarefa de manter o mesmo nível de qualidade de sua predecessora, cujas críticas socioculturais excediam a paródia ao tocar de forma ácida (porem consciente) em pontos importantes acerca de tendências populares. Partindo da decisão de lançar os episódios semanalmente, já é possível compreender o modus operandi dos roteiristas e diretores ao escrever e conduzir essa nova leva de episódios.
Nota-se que, diferente da primeira, que era mais ágil e com poucas digressões, temos aqui um ritmo de momentos importantes mais paulatinos intercalados por cenas que, se tinham algum objetivo no enredo, era fraco e poderia ser facilmente melhor escrito. Por outro lado, boas adições ao elenco e sátiras ainda mais profundas compensam esta temporada, a salvando de uma possível queda na mediocridade que são a maioria dos seriados.
Há um bom desenvolvimento para seletos personagens, enquanto outros mantem-se na média, são mal utilizados ou até mesmo descartados de forma pífia. No lado positivo, temos:
- A paródia viva à movimentos sociopolíticos que é Stormfront, divertida e odiosamente interpretada por Aya Cash;
- O carismático Antony Starr dando seu sempre carismático toque de psicopatia e imprevisibilidade à Homelander, que agora além de tudo ainda desenvolve uma bem-vinda relação com o filho, Rian;
- A Queen Maeve de Dominique McElligott, com um arco de queda e redenção que prometem bastante para o futuro da personagem (e rende a melhor cena da temporada).
Em meio a série estão presentes personagens que apenas movem a trama mas não agregam de forma tão destacável, como é o caso de praticamente todos os membros dos The Boys. Butcher e Hughie chegam a ter sua relação mais aprofundada, Mother's Milk ganha um background bem estabelecido e Frenchie possui uma ligação interessantíssima com Lamplighter (saudosamente vivido pelo antigo IceMan, Shawn Ashmore, cuja participação comentarei a seguir), mas nenhum deles é exatamente um exemplo de ótimo arco.
Figuras como Kimiko e StarLight possuem um ou outro momento marcante (como a já citada melhor cena da temporada, "as garotas dão conta"), mas nenhuma agrada muito. A Kimiko em especial é como uma montanha russa, em alguns episódios vai ao alto (como naquele onde seu irmão aparece e ela cria ódio por Stormfront) e em outros vai ao chão (como nos momentos com Frenchie, que agregam pouquíssimo à ambos). É possível dizer que a personagem possuía potencial, mas este infelizmente foi mal aproveitado.
O supracitado Lamplighter foi possivelmente a maior perda da série. Havia nele uma possibilidade de abordar arrependimento, culpa e um arco de redenção incrível, mas os roteiristas (que já disseram estar arrependidos) decidiram simplesmente descartá-lo numa cena patética que simplesmente invalida a boa adição que ele poderia ter sido para a série. Minha maior decepção é ele.
E vale citar ainda personagens como The Deep, A-Train e Black Noir, que tem pouco conteúdo aproveitável e ainda rendem - ou são vítimas - de algumas das divagações e facilitações narrativas mais incômodas da série. Há um episódio inteiro dedicado a incitar o quão bad ass é Black Noir, resolvido no fim de forma extremamente conveniente por uma ligação. Isso sem contar o péssimo Deus Ex-Machina utilizado na batalha contra a StarLight. Aliás, há muitos momentos onde os "bonzinhos" da série correm chance de morte ou de serem pegos mas se safam de forma demasiadamente fácil por um fator ou outro.
Surgem novos elementos, como a Igreja da Coletividade, que apesar de inicialmente engraçada, acaba ficando de lado rapidamente. Victoria Neuman, por outro lado, é uma novidade agradável que reserva uma boa reviravolta a praticamente qualquer um que assista a série sem saber de nada acerca da trama. As cutucadas à filmes de heróis também ficaram ainda maiores e melhor colocadas, com indiretas à produções como Batman v Superman: Dawn of Justice, Justice League e até mesmo Avengers: Endgame.
Ainda assim, seria impossível negar que estes pontos não são os elementos mais importantes da série, e sim um "extra" que, se aliado a um roteiro melhor escrito, poderia ter rendido uma temporada tão boa a primeira, senão melhor. A segunda temporada de The Boys mantém boa parte do charme de sua antecessora e é uma continuação decente para uma ótima série, mas perde muito em ritmo e desenvolvimento de personagens. Felizmente, o contexto final na qual encontram-se os personagens ainda consegue ser satisfatório, o que gera uma espera positiva pelo lançamento dos próximos capítulos.
Amor, Morte e Robôs (Volume 1)
4.3 673• SOBRE O VOLUME:
Amor, morte e robôs. O que poderia ser gerado de interessante acerca dessas três temáticas? Muita coisa. Na antologia da Netflix que as carrega no nome, o público é frequentemente introduzido à novos conceitos, surpreendido pelas mudanças na linguagem narrativa e, é claro, deslumbrado pelas técnicas visuais, todos batidos num misto que prende a atenção durante toda a obra.
Surpresa, fascínio e confusão são alguns dos sentimentos mais presentes no decorrer da experiência, o que demonstra o nível de criatividade da série. É claro que, pela variedade tão grande de histórias, existirão algumas não tão interessantes ou bem executadas. Esse, no entanto, acaba por ser um preço pequeno a ser pago quando se aposta em tantos conceitos numa só produção.
Ainda que hajam episódios mais mornos, sem sentido ou simplesmente bobos, aqueles que se destacam pesam - e muito - na qualidade como um todo. É válido notar também que a maioria das tramas inferiores possuem uma curta duração, o que não as torna incômodas. No fim, a simples curiosidade de saber o que lhe aguarda no próximo capítulo já compensa qualquer solavanco na qualidade.
• EPISÓDIOS COMENTADOS (DO PIOR AO MELHOR):
18. ‘QUANDO O IOGURTE ASSUMIU O CONTROLE’ parte de um conceito fraco e não compensa tal problema no desenvolvimento de sua trama, que é desinteressante.
EM UMA PALAVRA: Bobo.
NOTA: ⭐⭐½
17. ‘HISTÓRIAS ALTERNATIVAS’ é, assim como o anterior, mais uma "brincadeira" do que uma história de fato, se rebaixando à um humor absurdo demais para sustentar um episódio.
EM UMA PALAVRA: Idiota.
NOTA: ⭐⭐½
16. ‘ERA DO GELO’ é o único episódio em live action, e também o único que não parece ter muito a ver com o estilo do resto da série. Nada de interessante é apresentado.
EM UMA PALAVRA: Destoante.
NOTA: ⭐⭐½
15. ‘AJUDINHA’ é praticamente uma versão mais exagerada do filme 'Gravidade', mas não possui um visual muito inspirado e muito menos uma reviravolta interessante.
EM UMA PALAVRA: Esquecível.
NOTA: ⭐⭐⭐
14: ‘O LIXÃO’ é provavelmente a história mais irrelevante de todas da lista. Além de não ter muito de nenhuma das três temáticas-título, não gera grandes emoções.
EM UMA PALAVRA: Genérico.
NOTA: ⭐⭐⭐
13. ‘PONTO CEGO’ apresenta uma proposta interessante - um assalto com ciborgues. O problema aqui são os personagens, que não têm seu valor construído.
EM UMA PALAVRA: Medíocre.
NOTA: ⭐⭐⭐
12. ‘NOITE DE PESCARIA’ beneficia-se de um visual bem inspirado, principalmente no final. O ponto baixo do episódio é a falta de significado, já que os acontecimentos apelam demais à abstração.
EM UMA PALAVRA: Vago.
NOTA: ⭐⭐⭐
11. ‘PARA ALÉM DA FENDA DE ÁQUILA’ tem uma trama confusa e um final pouco claro. Não fosse o design gráfico, que poderia tranquilamente ser confundido com a cutscene de algum jogo triple-a, o episódio seria irrelevante.
EM UMA PALAVRA: Intrigante.
NOTA: ⭐⭐⭐
10. ‘13, NÚMERO DA SORTE’: a partir daqui, os episódios vão de bons à ótimos. Este conta uma história básica, mas bem realizada. A modelagem gráfica não fica muito para trás.
EM UMA PALAVRA: Eficiente.
NOTA: ⭐⭐⭐½
9. ‘SUGADOR DE ALMAS’ é imerso no clima de um filme de monstro, apresentando uma versão reimaginada de um dos mais clássicos personagens do subgênero. Belo tanto em design quanto na fluidez de movimentos, iluminação e cores. O final pode ser decepcionante, mas o decorrer vale a pena.
EM UMA PALAVRA: Divertido.
NOTA: ⭐⭐⭐½
8. ‘PROTEÇÃO CONTRA ALIENÍGENAS’ mescla o estilo cartoon com uma animação tridimensional, gerando um interessante resultado visual. A história tem personagens carismáticos e o desenrolar da ação é cativante - não seria incômodo ver uma série animada baseada nessa ideia.
EM UMA PALAVRA: Empolgante.
NOTA: ⭐⭐⭐½
7. ‘A GUERRA SECRETA’ é absurdamente eficiente no que tange o trabalho de textura, fluidez de partículas e iluminação - o melhor da antologia, nesses quesitos. A história também é bem escrita, convencendo acerca dos momentos de heroísmo e sacrifício.
EM UMA PALAVRA: Belo.
NOTA: ⭐⭐⭐½
6. ‘A TESTEMUNHA’ possui um ritmo ágil e um tom forte, cheio de erotismo e violência. A utilização da ambientação cyberpunk, além disso, permite a criação de uma interessante jornada estética. A direção alia bem a qualidade gráfica com
a premissa, que cativa do início à conclusão.
EM UMA PALAVRA: Intrigante.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐
5. ‘METAMORFOS’: Tem um background conceitual legal e é outro em que o design de modelagem digital é impecável. Renderia um filme facilmente.
EM UMA PALAVRA: Criativo.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐
4. ‘TRÊS ROBÔS’: Visual criativo e tecnicamente perfeito, além de um humor que se aproveita bem da temática estabelecida.
EM UMA PALAVRA: Inteligente.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐½
3. ‘BOA CAÇADA’: De todos os designs bidimensionais, o melhor. A história mistura misticismo asiático com um cenário retrofuturista, rendendo um resultado surpreendente. As temáticas trabalhadas nele são profundas e renderiam um filme de altíssima qualidade.
EM UMA PALAVRA: Fascinante.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
2. ‘ZIMA BLUE’: A história fala, em resumo, da arte e o que faz uma obra ser especial. Há uma aura extremamente forte durante todo o episódio e o decorrer da trama pode gerar inúmeras interpretações.
EM UMA PALAVRA: Conceitual.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
1. ‘A VANTAGEM DE SONNIE’: Ainda que Zima Blue seja mais profundo, é A Vantagem de Sonnie que leva o primeiro lugar. Sua ideia encanta de uma maneira forte, com uma premissa que mistura Círculo de Fogo com Gigantes de Ferro e gera como resultado cenas simplesmente fenomenais.
EM UMA PALAVRA: Visceral.
NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐
The Twilight Zone (1ª Temporada)
3.5 174A ideia de 'Além da Imaginação', desde suas primeiras versões, é apresentar uma antologia de histórias de mistério, a maioria delas envolvendo algum conceito ficcional deveras intrigante. A versão de 2019 não foge disso, mas apresenta um problema: falta de criatividade. Grande parte dos episódios aqui apresentados não funciona.
A maioria dos capítulos tem propostas simplesmente bobas e/ou desinteressantes, e dos que fogem disso, uma parcela ainda menor consegue desenvolver suas premissas de forma eficiente. Dentre esses poucos, ainda menos possui, além de eficiência, uma mensagem a se passar. Em resumo, apenas dois episódios se salvam.
Em aspectos técnicos a obra não decepciona, pois geralmente possui uma direção decente e fotografia digna de nota. As atuações são, em sua maioria, condizentes com o que é proposto. Nesse quesito, não há muito o que se reclamar - tampouco o que se destacar. Uma pena que, em uma análise final, nada compense os roteiros fracos.
Chernobyl
4.7 1,4K'Chernobyl' aborda de formam muito respeitosa as inúmeras perspectiva das vítimas do maior acidente nuclear já ocorrido, servindo ainda como uma homenagem para aqueles que se sacrificaram pela simples chance de diminuir o impacto da radiação. O que eleva a obra, entretanto, é o quão precisa ela consegue ser em todos os seus aspectos.
O roteiro causa inquietude ao criar uma sensação de urgência quase onipresente; a fotografia utiliza tons esverdeados para emular "toxicidade"; as atuações são dramáticas o suficientes para ditar o tom de cada cena, a maquiagem choca e os efeitos especiais se misturam tão bem com os práticos que criam imagens indistinguíveis do real.
Além disso, a produção não poupa suas críticas, que de forma mais direta se relacionam ao partido comunista, mas estendem-se à órgãos estatais num geral. A série retrata de forma realista como o próprio Estado é responsável por tal problema, assim como não esconde a incapacidade de governos de lidarem com incidentes dessa magnitude eficientemente.
Com uma duração precisamente calculada com o objetivo de narrar apenas o necessário e nada além disso, 'Chernobyl' é um retrato realista e artisticamente impecável do ocorrido que a nomeia, sabendo trabalhar sua trama de forma séria e respeitosa, chocando para reforçar sua temática e apresentando uma discussão que merece ser percebida por todos.
Monstro do Pântano (1ª Temporada)
3.6 125É notável a tentativa que os criadores de 'Monstro do Pântano' tiveram em produzir uma série de personalidade, mas apesar do clima de terror bem encaixado e uma boa caracterização do personagem título, a obra peca em roteiro, que não possui uma linha condutiva clara, é cheio de subtramas confusas e tem em seus demais personagens uma construção rasa.
Patrulha do Destino (1ª Temporada)
4.2 156Após a abordagem superficial da Patrulha do Destino em 'Titans', a série própria da equipe aborda seus membros e a própria trama de uma maneira completamente diferente - cheia de metalinguagem, um ótimo equilíbrio entre drama e humor, autossátiras e uma acidez que se encaixa perfeitamente na proposta.
Além de serem interpretados por um elenco muito bem escalado, cada personagem possui defeitos palpáveis, nos despertam empatia e possuem um charme único - são eles o maior trunfo da série. Seus arcos são basicamente uma forma de terapia de superação, o que além de tornar a trama diferenciada, ainda gera proximidade com o público.
O número de episódios da temporada excede um pouco o necessário, fazendo com que, algumas vezes, a trama divague. Capítulos que movem a trama, desenvolvem personagens ou adicionam novos elementos são cativantes, mas há momentos em que a série parece seguir caminhos desconexos à trama principal ou até mesmo confusos (como a conclusão).
Apesar disso, há mais elementos agradáveis do que críticas a serem feitas. Os efeitos especiais são geralmente bons e a produção, de forma geral, se esforça pra criar uma obra de qualidade. Assim sendo, 'Patrulha do Destino' é uma das melhores séries de super-herói da DC (provavelmente a melhor).
The Boys (1ª Temporada)
4.3 820Uma ótima sátira as tramas de super-heróis, 'The Boys' mostra uma perspectiva mais negativa de como seria a existência de pessoas com poderes na vida real. O principal ponto da trama é o questionamento moral dessas figuras, buscando também nunca transformar os protagonistas em novos ícones de perfeição em caráter.
O grupo de "mocinhos" que acompanhamos não são heróis no mais puro significado do conceito: eles querem simplesmente se vingar sem preocupar-se em cometer atos condenáveis em nome de seu objetivo - trazendo, em adicional ao dos super-heróis, um questionamento acerca da existência de pessoas genuinamente boas.
O roteiro é extremamente eficiente nessa proposta, mantendo um ritmo narrativo constante, sem decair ou tornar-se desinteressante em momento algum. Uma decisão inteligente que permitiu isso são os núcleos, que dividem-se entre "Os Rapazes" (os protagonistas supracitados) e "Os Sete", formados pelos principais heróis do país.
Um aspecto positivo que gera ótimas dinâmicas em ambos os grupos é o fato de cada um deles ter um personagem que representa a visão do público naquela situação: Hughie, d'Os Rapazes, e Luz Estrela, d'Os Sete. Apesar disso, a maioria dos personagens tem um desenvolvimento mínimo em algum momento da temporada.
Personagens inicialmente unidimensionais, como Profundo, Rainha Maeve e Capitão Pátria, logo ganham camadas que permitem criar empatia ou, ao menos, despertam interesse por sua psique. Capitão Pátria, em especial, é ao mesmo tempo uma ótima subversão do Superman e um representante do espírito de bizarrice da série.
É essa bizarrice que rende alguns dos momentos mais engraçados da obra, assim como a permite abusar da violência de forma que nunca soe descabida, se encaixando bem na proposta e ajudando a dar o toque necessário de originalidade à esse universo. 'The Boys' não só parodia, como cria sua própria mitologia.
Além de moralidade, a série aborda temas como complexo de deus, vingança, uso de drogas, corporativismo e manipulação midiática, sempre traçando ótimos paralelos ao mundo atual e à outros universos ficcionais. A primeira temporada de 'The Boys' é ácida, cativante e provocativa, causando, em adicional, uma enorme ansiedade pela segunda.
Jessica Jones (3ª Temporada)
3.7 118Após uma segunda temporada lamentável, o terceiro ano de 'Jessica Jones' tinha a responsabilidade de criar uma trama bem mais engajante e melhor construída. Introduzindo brevemente novos conceitos e personagens, a história toma um rumo diferente ao parar de explorar o passado da personagem e seguir em frente.
O ponto principal da trama - a relação entre a protagonista e sua irmã, Trish - é bem mais consistente, recebendo também o apoio de personagens coadjuvantes com arcos próprios. Estes por sua vez variam na forma como se relacionam à trama principal: alguns são orgânicos, enquanto outros são bastante desconexos.
A ação também é mais presente, mesmo que, no balanço final, ainda esteja em pouca quantidade. Quando ela ocorre, entretanto, é bem feita. É sentida a falta de mais lutas entre Jessica e Trish, que agora é alguém bem mais interessante e com uma importância melhor justificada, tornando seu acompanhar mais agradável.
O vilão apresenta a ameaça necessária para a protagonista, proporcionando também alguns questionamentos morais sobre a natureza do heroísmo que encaixam-se bem na história. É levada em conta sempre a construção dos personagens para que estes encontrem-se em perspectivas coerentes.
Este último, por outro lado, não é tão bem aprofundado, necessitando ser balanceado com um novo aliado de Jessica: Erik. Com uma introdução dinâmica e uma boa motivação, Erik se prova um "sidekick" bem sucedido e permite que a protagonista tenha alguém com que dialogar durante sua jornada.
No fim, a junção de todos os elementos resulta numa história satisfatória, ainda que não tão memorável. A cena final é de certa forma ambígua, dando a sensação de uma história que poderia possuir mais capítulos, mas que, sendo encerrada exatamente nesse momento, não é insatisfatória - o que é ótimo.
Demolidor (3ª Temporada)
4.3 452O primeiro ponto a ser salientado na terceira temporada de 'Demolidor' é a fluidez da trama, que pula de um capítulo para outro de forma muito dinâmica. O roteiro, extremamente bem escrito, é complexo o suficiente pra se encaixar perfeitamente na duração proposta, o que demonstra quanto conteúdo foi trabalhado na trama.
Cada acontecimento tem um papel claro e é sentida a evolução dos personagens, que por sua vez não só são bem utilizados pelo roteiro, como também merecem destaque com relação à suas interpretações, que nesse terceiro ano, tiveram sua parte psicológica muito bem elaborada.
Charlie Cox demonstra uma naturalidade maior ao interpretar Matt Murdock e, em especial, o Demolidor, já que há agora uma linha muito mais tênue entre as duas personas. Existe muita profundidade nos desejos e reflexões do personagem, que possui uma agência bem maior nos acontecimentos que movem o roteiro.
Wilson Fisk, agora finalmente chamado de "Rei do Crime", continua sendo formidavelmente vivido por Vincent D'onofrio. O vilão possui uma motivação muito mais clara e seu plano envolve boas reviravoltas, sendo não só uma das bases pro andamento da história, como um objeto de admiração por si só.
É investido um bom tempo da narrativa no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, o que na maior parte do tempo gera ótimos resultados. Foggy e Karen ocupam bem seu seu devido lugar, com essa última possuindo, inclusive, um episódio inteiro para se desenvolver (apesar de ser um leve solavanco).
Ray Nadeem e Ben Poindexter, novos personagens, são ótimas adições à série. Enquanto um deles possui um arco fechado bastante eficiente, o outro deixa muito em aberto para próximas temporadas (que infelizmente não irão ocorrer), além de propiciar algumas das cenas mais impressionantes dos episódios.
Me refiro aqui aos trechos de ação, que chegam ao nível de ultrapassar a da primeira temporada (que já eram incríveis). O estilo de luta do Demolidor aparenta ter mudado bastante, remetendo mais ao boxe do que às artes marciais. As lutas entre ele e Dex são espetacularmente bem coreografadas.
Em síntese, a terceira temporada de Demolidor evolui seus personagens, sua direção, suas cenas de ação e, consequentemente, o nível da série como um todo. Apesar do cancelamento súbito, a obra terminou em uma nota altíssima, sendo provavelmente o melhor dos frutos da união entre a Marvel e a Netflix.
Luke Cage (2ª Temporada)
3.5 147Me surpreendi com o quão melhor que a primeira temporada e até mesmo Defensores esses episódios conseguem ser. Deslumbrante em questão de fotografia, que pega as cores do personagem e encaixa de forma natural, fazendo ainda um uso de luzes que além de permitir enxergar bem as cenas, ainda adiciona beleza ao momento.
A trilha sonora é quase impecável, já que o uso do reggae além de dar um clima de tranquilidade, ainda se encaixa num contexto condizente, dada a origem do vilão. Todo a construção de personagens é mais reconhecível e bem executada aqui, com os diálogos servindo melhor para a jornada tanto dos vilões quanto do herói e seus coadjuvantes.
O protagonista ganha uma personalidade mais determinada e com motivações palpáveis, tal como um interessante embate contra a raiva e o descontrole. A temporada não é perfeita, com alguns episódios (os dois primeiros e os dois finais, pra ser mais exato) quase desnecessários, não fosse uma ou outra cena essencial pra história.
Apesar de uma trama mais esticada do que deveria e um final um tanto quanto decepcionante (além da participação de certo herói que é completamente desnecessária para o andamento da série), a terceira temporada de Luke Cage é bem superior a primeira e conclui com considerável eficácia a jornada de boa parte de seus personagens.