A infância traz símbolos de pureza. Talvez os gestos mais sublimes que um ser humano pode sentir esteja atrelado ao tempo em que somos crianças. Contudo, esse também é um período de total falta de autonomia. A escolha não pertence à criança, também não pertence ao jovem.... Será que quando adulto temos escolhas? Será que sabemos escolher? Makoto Shinkai explora na sua arte o sentimento puro que provamos na infância, através de símbolos sublimes ele tenta fazer o espectador lembrar de sua própria vida e até mesmo refletir onde alguns caminhos se separaram e o porquê. Na cultura japonesa a flor de cerejeira tem significados relacionados à felicidade e esperança (felicidade de estar com Akari; esperança de sempre estar com Takaki) e a frustração da não realização das expectativas transforma esse símbolo em um misto de saudosismo e (auto) ressentimento. Nietzsche dizia que a “moral de escravos” (adquirida, entre outros fatores, pela incapacidade de esquecer) gera ressentimento e esse nos transforma em seres vazios, que não percebe a vida e a realidade fluindo em cada canto. Takaki não era capaz de enxergar a vida brilhando.
O filme deixa a entender que a liberdade de Takaki estava no carinho que Sumida Kanae o oferecia, mas ele, incapaz de esquecer a utopia criada, ignorava. Sumida não o amava menos. Interessante observar isso pelos símbolos de Shinkai, a flor de cerejeira que cai, uma lembrança delicada, o foguete que ascende, símbolo de uma viagem rumo ao desconhecido, ao inexplorado, ao novo, mas ao mesmo tempo grande. O que a flor de cerejeira é para Takaki, a viagem de um foguete é para Sumida. Memórias de amor e dedicação, mutuamente ignoradas. Takaki busca seu amor perdido em cada canto que seus olhos se fixam. Takaki enxerga Akari em cada esquina, mesmo que ela nunca esteja ali. Ali está Sumida, tentando construir um sorriso, um mundo novo. A obra deixa um espaço em branco para ser preenchido por nós. A sensação que em mim fica é de um vazio, um vazio entre Sumida e Takaki que poderia ser preenchido por um estender de mãos e ali, por uma vida inteira, residiria a felicidade, não em memórias, mas em realidade.
"Casa de Areia e Névoa" é um drama sem culpados. Chega a ser estranho definir como drama um título que retrata o cotidiano de maneira tão explícita. Não falo aqui da questão judicial, que o roteiro demonstra ser legítima de ambas as partes, mas sim dos pequenos pesos que recaem sobre o corpo e a mente humana. A família, a solidão, os vícios. Para responder a esses termos há escolhas... e aqui esta a chave da obra "escolhas".
A má relação entre uma família não basta para causar melancolia, nossa saudosa família nuclear já foi pro saco. Uma bela jovem se casar triste, em dúvida, também não é nenhuma novidade, hollywood, literatura, vida, isso acontece o tempo todo. Então, se a primeira parte da obra quer causar sentimento, melancolia claro, como alcançá-la? Quebrando padrões. E o primeiro é quebrado na cena em que Dunst trai o marido na noite de núpcias, acredito que essa cena incomodou 99% dos expectadores. Outra quebra de padrão é o fato da traição vir delA. Ok, sem machismo, mas seria muito mais "natural" pros padrões um homem canalha, não em melancolia ;). Demissão no dia da promoção em uma carreira de sucesso não incomoda tanto, por enquanto, mas em suma o cenário de melancolia está embasado, abrindo espaço pra segunda parte que é mais um desfecho, um enredo a ser seguido (isso ainda é cinema horas).
O que posso dizer é que estamos habituados com dois tipos de tramas, as que reforçam os padrões (estilo auto-ajuda - vai, você pode, você consegue), e as que quebram os padrões (foda-se tudo). Melancolia não segue nenhum dos dois, pois ao mesmo tempo que nega a estrutura social também afirma que não adianta negá-las, apenas espere o que é comum a tudo e todos, o fim.
Acho que é isso, agora vou ver se trombo a Dunst por ai, vai que.... né?
É difícil encontrar comentários relevantes que possa nos levar a uma reflexão sobre uma obra. Ou, parafraseando o longa, é foda. Principalmente se o filme for do cinema nacional, é incrível como brasileiros tem vergonha e uma certa rejeição ao cinema nacional. Mas são filmes como esse que valem a pena no nosso cinema.
O cinema tem seus padrões, não regras, que variam de acordo com o tempo, já passamos pela fase dos finais felizes e agora vive-se o clichê das tragédias. Isso me preocupa porque de um tempo pra cá já se tornou previsível, contudo "Nossa Vida Não Cabe Num Opala" (2009) me fez sorrir para os desfechos trágicos. O que somos? Somos a luta diária com nossos próprios desejos e sonhos (Magali) que inegavelmente sempre nos surtam por falharmos na luta. Somos a vontade de se acomodar (Lupa) e aproveitar o mundo, quem não é? Somos a vontade de seguir os ídolos (Slide) por mais que esses ídolos estejam mais distantes que o conhecimento que temos de nós mesmos. Essas máscaras que insistem em não se encaixar no rosto, fazendo-o distorcer para se enquadrar ao seu ideal. E claro, somos a nostalgia daquilo que não fizemos, deixamos passar, o arrependimento (Munk) e é esse que prevalece sobre cada um e derruba todos os outros na pancadaria diária.
Se olhar com atenção, os diálogos, a trilha, até mesmo a Silvia (porque não?) faz pensar que por mais que planejamos, compactamos, selecionamos para ter a pleno controle, nunca, nossa vida caberá num opala.... Porque ela vagueia na ira de deus, num disco de jazz... chutando e beijando o diabo no meio da sala... Não, nossa vida não cabe num opala.
A Vastidão da Noite
3.5 576 Assista AgoraAssisti com uma amiga que estava em pânico... A experiência acabou sendo 10 x melhor :)))))
Mas falando sério, o filme é ótimo. Com baixo investimento e bons relatos o diretor conseguiu construir uma narrativa bem legal.
5 Centímetros por Segundo
3.9 3835 Centímetros por Segundo
A infância traz símbolos de pureza. Talvez os gestos mais sublimes que um ser humano pode sentir esteja atrelado ao tempo em que somos crianças. Contudo, esse também é um período de total falta de autonomia. A escolha não pertence à criança, também não pertence ao jovem.... Será que quando adulto temos escolhas? Será que sabemos escolher?
Makoto Shinkai explora na sua arte o sentimento puro que provamos na infância, através de símbolos sublimes ele tenta fazer o espectador lembrar de sua própria vida e até mesmo refletir onde alguns caminhos se separaram e o porquê.
Na cultura japonesa a flor de cerejeira tem significados relacionados à felicidade e esperança (felicidade de estar com Akari; esperança de sempre estar com Takaki) e a frustração da não realização das expectativas transforma esse símbolo em um misto de saudosismo e (auto) ressentimento.
Nietzsche dizia que a “moral de escravos” (adquirida, entre outros fatores, pela incapacidade de esquecer) gera ressentimento e esse nos transforma em seres vazios, que não percebe a vida e a realidade fluindo em cada canto. Takaki não era capaz de enxergar a vida brilhando.
O filme deixa a entender que a liberdade de Takaki estava no carinho que Sumida Kanae o oferecia, mas ele, incapaz de esquecer a utopia criada, ignorava.
Sumida não o amava menos. Interessante observar isso pelos símbolos de Shinkai, a flor de cerejeira que cai, uma lembrança delicada, o foguete que ascende, símbolo de uma viagem rumo ao desconhecido, ao inexplorado, ao novo, mas ao mesmo tempo grande. O que a flor de cerejeira é para Takaki, a viagem de um foguete é para Sumida. Memórias de amor e dedicação, mutuamente ignoradas.
Takaki busca seu amor perdido em cada canto que seus olhos se fixam. Takaki enxerga Akari em cada esquina, mesmo que ela nunca esteja ali. Ali está Sumida, tentando construir um sorriso, um mundo novo.
A obra deixa um espaço em branco para ser preenchido por nós. A sensação que em mim fica é de um vazio, um vazio entre Sumida e Takaki que poderia ser preenchido por um estender de mãos e ali, por uma vida inteira, residiria a felicidade, não em memórias, mas em realidade.
Casa de Areia e Névoa
3.9 312"Casa de Areia e Névoa" é um drama sem culpados. Chega a ser estranho definir como drama um título que retrata o cotidiano de maneira tão explícita.
Não falo aqui da questão judicial, que o roteiro demonstra ser legítima de ambas as partes, mas sim dos pequenos pesos que recaem sobre o corpo e a mente humana.
A família, a solidão, os vícios. Para responder a esses termos há escolhas... e aqui esta a chave da obra "escolhas".
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraEnxergo esse filme como uma explicitação de quebra de padrões, e para alcançar esse objetivo Trier teve de usar seus artifícios.
A má relação entre uma família não basta para causar melancolia, nossa saudosa família nuclear já foi pro saco. Uma bela jovem se casar triste, em dúvida, também não é nenhuma novidade, hollywood, literatura, vida, isso acontece o tempo todo. Então, se a primeira parte da obra quer causar sentimento, melancolia claro, como alcançá-la? Quebrando padrões. E o primeiro é quebrado na cena em que Dunst trai o marido na noite de núpcias, acredito que essa cena incomodou 99% dos expectadores. Outra quebra de padrão é o fato da traição vir delA. Ok, sem machismo, mas seria muito mais "natural" pros padrões um homem canalha, não em melancolia ;). Demissão no dia da promoção em uma carreira de sucesso não incomoda tanto, por enquanto, mas em suma o cenário de melancolia está embasado, abrindo espaço pra segunda parte que é mais um desfecho, um enredo a ser seguido (isso ainda é cinema horas).
O que posso dizer é que estamos habituados com dois tipos de tramas, as que reforçam os padrões (estilo auto-ajuda - vai, você pode, você consegue), e as que quebram os padrões (foda-se tudo). Melancolia não segue nenhum dos dois, pois ao mesmo tempo que nega a estrutura social também afirma que não adianta negá-las, apenas espere o que é comum a tudo e todos, o fim.
Acho que é isso, agora vou ver se trombo a Dunst por ai, vai que.... né?
Nossa Vida Não Cabe Num Opala
3.1 51É difícil encontrar comentários relevantes que possa nos levar a uma reflexão sobre uma obra. Ou, parafraseando o longa, é foda. Principalmente se o filme for do cinema nacional, é incrível como brasileiros tem vergonha e uma certa rejeição ao cinema nacional. Mas são filmes como esse que valem a pena no nosso cinema.
O cinema tem seus padrões, não regras, que variam de acordo com o tempo, já passamos pela fase dos finais felizes e agora vive-se o clichê das tragédias. Isso me preocupa porque de um tempo pra cá já se tornou previsível, contudo "Nossa Vida Não Cabe Num Opala" (2009) me fez sorrir para os desfechos trágicos. O que somos? Somos a luta diária com nossos próprios desejos e sonhos (Magali) que inegavelmente sempre nos surtam por falharmos na luta. Somos a vontade de se acomodar (Lupa) e aproveitar o mundo, quem não é? Somos a vontade de seguir os ídolos (Slide) por mais que esses ídolos estejam mais distantes que o conhecimento que temos de nós mesmos. Essas máscaras que insistem em não se encaixar no rosto, fazendo-o distorcer para se enquadrar ao seu ideal. E claro, somos a nostalgia daquilo que não fizemos, deixamos passar, o arrependimento (Munk) e é esse que prevalece sobre cada um e derruba todos os outros na pancadaria diária.
Se olhar com atenção, os diálogos, a trilha, até mesmo a Silvia (porque não?) faz pensar que por mais que planejamos, compactamos, selecionamos para ter a pleno controle, nunca, nossa vida caberá num opala.... Porque ela vagueia na ira de deus, num disco de jazz... chutando e beijando o diabo no meio da sala... Não, nossa vida não cabe num opala.