Esse não vai ser o comentário mais "fresco" que eu já fiz na vida, principalmente considerando que vi este aqui em junho do ano passado, mas eu não poderia deixar de falar sobre Da 5 Bloods. Esse filme é absolutamente visceral. Filmes de guerra, em geral, mexem muito comigo; a experiência é sempre muito intensa por conta do medo constante de acontecer uma desgraça no próximo segundo e por conta do intenso terror que faz parte da própria natureza da situação. Eu me sinto na pele dos personagens e me sinto horrível. Mas esse é um filme de guerra diferente, meus caros. Não estamos num campo de batalha. A guerra já acabou - historicamente, porque nunca acabou para aqueles que lutaram nela -, o aterrorizante aqui consiste em nunca conseguir deixar para trás o terror do passado, os traumas, o luto. Foi justamente por isso que ele acabou mais comigo do que todos os outros filmes de guerra que já assisti na vida juntos. Me senti desconfortável o tempo inteiro, e a partir de determinado ponto eu comecei a chorar sem parar diante do filme e também das imagens reais da guerra cujos frames passavam diante dos meus olhos. Quanto mais o enredo se desenrolava, mais desolada eu me sentia. A cada situação que ia construindo as complicações da narrativa, mais eu me sentia impotente. Spike Lee é um dos meus diretores favoritos porque o seu estilo genial de cinema faz muito mais do que colocar o dedo em uma ferida aberta - ele vira essa ferida ao contrário. Até hoje não consegui esquecer Da 5 Bloods. Pesadíssimo, mas tão necessário quanto é pesado.
Spike Lee, você destruiu minha vida. Parabéns, eu amei, nota 10.
O primeiro da trilogia que acabou sendo o último que eu vi e, dos três, foi sem dúvidas o que me deixou mais desolada. Gregg foi mestre ao retratar a angústia da juventude de uma década que hoje em dia é vista de uma forma quase estereotipada, como se tudo se resumisse a grunge e aesthetic, sendo que o buraco era muito mais embaixo. A narrativa de pseudodocumentário que se quebra bem no meio é uma sacada genial e as 15 partes montam um retrato verossímil do que é ser jovem; do que é estar no fim da adolescência entre um ciclo e outro, e, como uma garota de dezessete anos, eu posso dizer que mesmo hoje em dia é a coisa mais fácil do mundo se identificar com cada um desses personagens - o Andy especialmente. Cru, direto e brutal.
Senhoras e senhores, estamos lidando com um pneu humanizado numa concepção metalinguística, quase uma autoparódia da experiência cinematográfica. A julgar pela raiva desmensurada desse pneu do mundo, eu diria que ele está na pré-adolescência. Fantasticamente tosco, um humor ácido que prende de início ao fim, a crítica inteligente num roteiro proporcionalmente bem pensado (porque quem acha que vir com uma ideia desse nível é moleza, tá muito enganado). É ridículo, é lindo, é trash.
Existem muitas coisas separando A Ameaça Fantasma de qualquer filme da Trilogia Original, mas não entendo por que tanto ódio. O filme tem seus defeitos: é bastante arrastado; a magia dos efeitos especiais - ao menos para mim - acabou ironicamente se perdendo com o avanço do CG; a presença do Jar Jar Binks (que é insuportável e descartável) e a personagem do Anakin, que julgo bem exagerada, já que
o garoto constrói o C-3PO que é fluente em seis milhões de línguas, ganha uma corrida daquelas, pilota uma nave e destrói uma estação.
Mas ainda assim, não entendi o porquê de tanto ódio e essa avaliação baixa. Ouço falar tão mal desse filme que temi que fosse uma completa perda de tempo, e não foi! Apesar de ser inferior aos outros e mesmo com as suas falhas, A Ameaça Fantasma é um bom filme que também tem seus pontos positivos, como Ewan McGregor impecável (como sempre) na pele de Obi Wan, o Qui Gon e a rainha Padmé Amidala.
Esperava bem mais. O relacionamento entre Rimbaud e Verlaine pareceu raso e mal explorado, e o roteiro, que tinha tudo para ser profundo e emocional, é seco a maior parte do tempo. A atuação do Leo faz valer à pena, no entanto.
Comecei a assistir esperando um trashzão nonsense pra divertir meu fim de semana e vi que Nowhere é muito mais do que isso. Nunca vi um filme que canalizasse a selvageria, a desesperança, o tédio e as crises existenciais da juventude dos anos noventa tão bem. O sentimento daqueles que viviam numa era onde tudo se assemelhava a "flutuar pelo rio" onde não há foco algum e a maior sensação é aquela de que tudo de grandioso já havia sido feito
(como o próprio Dark diz no final, "it's like we all know way down in our souls that out generation is going to witness the end of everything")
pesa e conduz o filme inteiro, e no meio de toda aquela piração, tudo de alguma forma parecia se encaixar e fazer sentido. Esse estilo do Araki me conquistou de jeito - ele de alguma forma foi capaz de fazer o nonsense carregar sentido e o inacreditável ser verossímil. No fim das contas, vi Nowhere, com seus cortes e representações gráficas espalhafatosas, não como um trash curtinho para divertimento rápido, mas como o retrato visual de todos os sentimentos e sensações explosivas que os jovens daquela geração carregavam, a perturbação voluntária dos sentidos como forma de eliminar o tédio, o vazio existencial e (de certa forma) o desespero, pelo menos por um momento.
Chicago relata de modo irônico e cotidiano temas como adultério, homicídio e toda a sujeira por trás do show business e seu melhor amigo, o sensacionalismo - e é certamente por esse motivo que é um filme espetacular. E essa é a palavra que o descreve. Chicago é, do início ao fim, uma mostra do belo e do sujo acerca daquilo que nos cerca e que bem ou mal nos toma por completo: o espetáculo. Os quinze minutos de fama de Roxie, sempre rondados por pequenas ameaças de decadência, foram só um dos pontos que montaram um verdadeiro espetáculo com louvor. O filme inteiro é um festival de cores e Cell Block Tango foi a melhor performance que eu já vi em um musical. Os figurinos são bonitos e a fotografia idem. A única coisa que o fez cansativo, pelo menos enquanto eu o estava assistindo, foi Roxie Hart, sua ambição egoísta e inconsequente e sua cega fé na imprensa - apesar de essas serem características essenciais da personagem, a atuação de Reneé Zellweger é totalmente ofuscada pela de Catherine Zeta-Jones, que aparece bem menos em tela mas que ainda assim é fantástica. O filme só não entrou nos favoritos e eu só não dei cinco estrelas por causa disso.
Fraco em todos os sentidos. "Lucy" é mais um desses filmes de ficção científica com uma ideia muito boa que acabou sendo mal explorada e se perdendo num roteiro ruim. A primeira coisa que me incomodou é o fato de que o filme sustenta a farsa dos 10% - já foi cientificamente comprovado que usamos todas as áreas do nosso cérebro, apenas não ao mesmo tempo. De qualquer forma, você tem essa droga que expande a sua capacidade mental e todas as inúmeras possibilidades que ela pode nos proporcionar. Seria lindo se não fosse trágico, porque o filme se perde logo no começo. Tudo vira uma viagem sem pé nem cabeça e algumas cenas fazem com que você encare a tela pensando algo na linha de "mas que porra?", e isso não só de um ponto de vista científico. É apenas insuportável, maçante, tedioso. Não dá para assistir até o final. Nem a atuação da Scarlett salvou, porque pelo menos no meu ponto de vista a súbita mudança de menininha chorona para mulher sem emoção alguma não convenceu de jeito nenhum - qual é, com 10% ela chora, com 15% ela é uma máquina? Poderia ter sido mind blowing, filosófico, desses que faz a gente sentar para refletir, mas é um roteiro fraco e inteiramente baseado num mito que não faz o menor sentido. A personagem também não é interessante, nem quando era humanizada.
Olha, não vou mentir, foi difícil. Comecei entendendo, mas depois eu fui entrando nessa de "mas que caralhos está acontecendo aqui?" e tive que enfrentar aquele clássico efeito mindfuck quando cheguei no final. Como muitos aqui, tive que recorrer a análises no Google para me esclarecer o que aconteceu. O filme é recheado de simbolismos e acredito que realmente não foi feito para ser completamente absorvido de primeira - eu provavelmente terei que assisti-lo uma segunda, ou quem sabe uma terceira vez, para absorver todos os elementos. Deu para notar que esse filme é um daqueles onde as coisas só se encaixam quando você assiste uma segunda vez, sabendo de tudo o que está rolando, principalmente se considerarmos todos os simbolismos. Vou me abdicar de dar uma opinião concreta enquanto não o assisto de novo, mas acho que consigo fazer uma pequena análise, meio pessoal, meio absorvida nos vídeos de explicações que eu li, sobre o que eu consegui extrair nessa primeira vez.
A cena no clube foi o primeiro de incontáveis pontos de interrogação que surgiram em minha mente. Eu tentei estabelecer todo tipo de metáfora ligando a aranha, o sapato da stripper e a expressão do Gyllenhaal, mas acabou se tornando um enigma que eu pensei que poderia solucionar no fim e que, no fim das contas, infelizmente não pude. Mas, antes mesmo de me dar conta do ponto mais importante do filme, eu percebi que Adam, ou Anthony, ou os dois, ou seja lá qual deles apareceu mais no início, parecia estar rodeado de um constante tédio. A parte sobre repetição fez sentido imediatamente para mim. Ao ligar a fala dele na sala de história, que se repetiu duas vezes, à rotina de ócio que consistia em chegar do trabalho, fazer sexo e olhar para o nada com a imagem de uma Toronto parada e poluída, eu imediatamente percebi que, de alguma forma, "O Homem Duplicado" se trata de um ciclo. Desenvolvi várias possibilidades para explicar Adam e Anthony, mas é bem fácil perceber que eles são, na verdade, duas versões de uma mesma pessoa, e lá pelo meio do filme já era fácil distinguir quem estava agindo só pela atuação. Não foi difícil perceber a dupla personalidade porque a impressão que eu tive foi que eles funcionavam como yin e yang - um exemplo é que Adam parece muito passional, sempre falando baixo e se enrolando nas palavras, em relação a Anthony, que mais de uma vez gritou e que aparentava muito mais confiança. Além disso, o filme é recheado de dicas que estão pairando por todos os cantos, umas discretas e outras gritantes. A própria mãe do homem diz que está na hora de ele parar de tentar ser um ator de terceira, e Helen pergunta a ele como foi a aula. Além disso, tenho certeza de que há várias outras que não fui capaz de detectar. O momento em que Anthony pede para Adam para sair com Mary foi o momento no qual eu comecei a me tocar da parte sobre a traição. Helen já tinha ido direto ao ponto quando Adam ligou, então talvez Anthony já tivesse traído-a diversas vezes. As aranhas permaneceram com um ponto de interrogação no final. As análises apontam a hipótese de que elas seriam as mulheres na vida de Adam, e isso explicaria a gigantesca aranha andando por Toronto logo após a conversa com a mãe, e as incontáveis teias de aranha que aparecem no filme. Eis que chegamos ao que o filme é em síntese: um homem incapaz de se manter com uma única mulher que, para fugir do peso da consciência da traição, acabou criando uma outra versão de si mesmo, sem sequer perceber. Depois das análises eu acabei percebendo que existe uma relação entre as aranhas e Helen. No início, Anthony está traindo e a stripper mostra uma aranha pequena em relação às outras do filme a esmaga. Eis que o filme vai seguindo e Adam faz sua escolha: permanece com Helen. "Mata" Anthony e Mary num acidente de carro, assim encerrando o seu eu traidor. Mas, assim que Adam pega aquela chave (que demorei para perceber que era a do clube do início do filme), sua personalidade desvanece e Anthony entra dentro dele, dizendo que vai "sair" - trair Helen de novo e recomeçar o ciclo. Então Helen se torna essa aranha enorme, o que me fez pensar que, quando ele estava traindo, Helen ficava distante e a aranha era mínima, mas quando ele não estava, Helen ficava por perto e a aranha tomava aquelas proporções.
Seja lá como for, é um filme muito profundo. Devem haver milhares de outras interpretações que eu adoraria conhecer e absorver, mas acredito que só poderei ter uma interpretação própria concreta depois de assistir de novo e ler a obra do Saramago. A visão e os simbolismos de Villeneuve, porém, são fantásticos. Destaque para a paleta de cores, a trilha sonora que combinou bem com a atmosfera e a FANTÁSTICA atuação de Jake Gyllenhaal, que nos proporcionou diferenciar os dois personagens. ---------- Visto 30/07/2016.
Depois que minha nova obsessão de pesquisadora se tornou a geração beat, meu caminho se cruzou com "Kill Your Darlings" (que no Brasil recebeu o título de Versos de um Crime - um senhor spoiler justo no título). A primeira coisa que me chamou a atenção foi a atuação de Dane DeHaan, ponto essencial para me fazer cair em amores pelo Lucien Carr do filme logo em sua primeira cena. Daniel Radcliffe também não deixa a desejar, mas perde muito para o trabalho de DeHaan. Lucien Carr rouba a cena a todo momento. Apesar de o personagem ser frio e quase manipulador, é impossível não se deixar cativar por seu temperamento e a fragilidade que ele parece tentar esconder a todo custo. O relacionamento de Allen e Lucien é desenvolvido de maneira sutil e, de repente, acelerada, quase selvagem, o que fez com que eu me lembrasse de alguns célebres relacionamentos autodestrutivos (meu tipo favorito). O longa possui citações geniais e os pequenos detalhes foram pensados de uma forma bem convincente. A fotografia é muito bonita e os 104 minutos possuem a capacidade de te prender do início ao fim, fazer você desejar que o filme não acabe tão cedo. Porém, esse não é um filme para verdadeiros entendedores da geração beat, visto a maneira como o "crime" que o título faz questão de te deixar ciente foi retratado. Basicamente, Kill Your Darlings decepciona em dois pontos: 1- Jack Kerouac e William Burroughs, que junto de Allen Ginsberg e Neal Cassady foram as figuras mais influentes da geração beat, ficam praticamente ofuscados, o que é um crime devido ao fato de que os escritores foram "personagens" de muitos livros uns dos outros. 2- David Kammerer. Esse é o principal fator que faz com que o filme não seja tão indicado assim para quem conhece a história, principalmente a vida de Lucien Carr. Nem tudo era tão bonito como foi retratado diante das câmeras. De acordo com alguns relatos do Lucien, David corria atrás dele de uma forma que hoje em dia seria facilmente denominada como perseguição, enquanto no filme,
os dois vivem uma espécie de romance autodestrutivo que, apesar de servir para que Allen dê vida a palavras belíssimas e geniais, soa irreal e chegou a me irritar, mesmo sendo meu tipo de romance favorito, visto que a história real foi desconstruída.
Apesar disso tudo, eu estaria sendo desonesta se dissesse que detestei o filme, porque eu adorei. O assistiria milhões de vezes só pela atuação magnífica do Dane DeHaan. A cena de sexo foi bastante cortada, mas não tem problema, porque isso também acaba sendo contornado. Com uma fotografia belíssima dessas e uma trilha sonora tão excepcional, mais ainda. Confesso: apesar de tudo, fiquei encantada. Aliás, foi o filme que me incentivou a pesquisar e a ler "Howl", visto que meu coração poético ficou encantado por Allen Ginsberg. Diversos outros filmes sobre a geração beat entraram na minha lista de filmes pendentes graças a Kill Your Darlings, por ter dado o empurrãozinho inicial. Pelo que se pode ver aqui nos comentários do Filmow, o longa divide opiniões, mas enfim, fiz o que pude nesse comentário para expressar a minha. "Be careful, you are not in Wonderland. I've heard the strange madness long growing in your soul, in your isolation but you fortunate in your ignorance. You who have suffered find where love hides, give, share, lose, lest we die unbloomed."
Mais do que um filme sobre amizade, "Depois de Tudo" é um filme sobre o tempo. Me interessei por ele desde que vi o trailer na época do lançamento. O filme tem uma bela fotografia, atuações boas (da parte das versões jovens dos personagens) e um roteiro até que bom, mas poderia ter sido mais aprofundado. Amizades verdadeiras são coisas extremamente frágeis, meio que como peças de cristal. De vez em quando, acho alguns filmes que conseguem dissecar amizades com a mesma proposta desse filme de maneira magnífica, mas, infelizmente, não foi o caso desse filme. É um bom longa-metragem? Sem dúvida alguma, mas acabou ficando raso no que diz respeito a história dos personagens e a reconciliação. Algumas coisas terminam mal explicadas e o final deixa um vazio no peito, uma sensação de que algo está faltando. Me fez rir e me emocionou também (o que não é surpresa, já que sou mais mole que manteiga). Eu o assistiria novamente, apesar de ele não estar na minha lista de favoritos. Em suma, é um bom filme com um bom enredo, só faltou desenvolver um pouco mais a fundo.
"The world have changed because you were made of ivory and gold. The curves of your lips rewrite history." Velvet Goldmine é um filme que dificilmente pode ser descrito com uma palavra. Há camadas aqui. É aquele tipo de filme que não agrada qualquer um e que você só vem perceber as referências nas entrelinhas na segunda vez que assiste. Mas, ao invés de encher esse comentário com das inúmeras maneiras de descrever esse filme fantástico, eu posso usar uma expressão até que bem simples: uma verdadeira obra prima. Anos 70, auge do glam rock. Existem inúmeros filmes sobre rock 'n' roll por aí, mas de todos que eu já assisti nessa vida, nenhum conseguiu parecer tão verdadeiro, direto e tocante como esse. Todd Haynes agraciou o mundo com uma maravilha. Para quem entende da música, da década, do movimento, é indispensável. O filme possui duas sequências fantásticas, trilha sonora de tirar o fôlego, atuações incríveis, um elenco forte (incluindo uma participação especial do Placebo) e fotografia belíssima. O que mais cativa um fã no filme inteiro é a maneira como o movimento é tomado em síntese: cru e seco, sem esconder as partes "feias" do rock 'n' roll, como o adultério e o abuso de drogas (dois clássicos). Alguns detalhes estão tão bem escondidos nas entrelinhas que é necessário assistir duas, três vezes para enxergar o filme por completo. Acredite, é normal deixar muitos elementos passarem na primeira vez. O que quero dizer é: o trabalho de Todd Haynes é cuidadoso. Além das inúmeras referências à carreira de David Bowie, percebe-se uma atenção (merecida) aos detalhes. Além de tudo, Velvet Goldmine é como uma viagem no tempo. Vale destacar a parte mais fantástica do filme inteiro: a performance. O velho rock 'n' roll era naturalmente performático - a performance era ponto essencial na presença de palco. Em Velvet Goldmine, esse recuso foi usado de uma maneira de tirar o fôlego. A de Gimme Danger faz arrepiar cada um dos pelos do corpo. A de Baby's On Fire é orgástica. O filme tem uma linha do tempo interessante, mas a sua maioria (de acordo com meros cálculos que fiz depois de assisti-lo pela décima vez ou mais) se passa em um período entre 1972 e 1974, cortando de tempos em tempos para o "presente", 1984. Lembrando que não é um filme para qualquer um, já que, além de ser necessário assistir mais de uma vez para entendê-lo, possui conteúdo LGBT (algo mais que esperado sobre um filme sobre o rock dos anos 70), nudez e não é muito recomendado para pessoas que tenham algo contra performances.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraEsse não vai ser o comentário mais "fresco" que eu já fiz na vida, principalmente considerando que vi este aqui em junho do ano passado, mas eu não poderia deixar de falar sobre Da 5 Bloods. Esse filme é absolutamente visceral. Filmes de guerra, em geral, mexem muito comigo; a experiência é sempre muito intensa por conta do medo constante de acontecer uma desgraça no próximo segundo e por conta do intenso terror que faz parte da própria natureza da situação. Eu me sinto na pele dos personagens e me sinto horrível. Mas esse é um filme de guerra diferente, meus caros. Não estamos num campo de batalha. A guerra já acabou - historicamente, porque nunca acabou para aqueles que lutaram nela -, o aterrorizante aqui consiste em nunca conseguir deixar para trás o terror do passado, os traumas, o luto. Foi justamente por isso que ele acabou mais comigo do que todos os outros filmes de guerra que já assisti na vida juntos. Me senti desconfortável o tempo inteiro, e a partir de determinado ponto eu comecei a chorar sem parar diante do filme e também das imagens reais da guerra cujos frames passavam diante dos meus olhos. Quanto mais o enredo se desenrolava, mais desolada eu me sentia. A cada situação que ia construindo as complicações da narrativa, mais eu me sentia impotente. Spike Lee é um dos meus diretores favoritos porque o seu estilo genial de cinema faz muito mais do que colocar o dedo em uma ferida aberta - ele vira essa ferida ao contrário. Até hoje não consegui esquecer Da 5 Bloods. Pesadíssimo, mas tão necessário quanto é pesado.
Spike Lee, você destruiu minha vida. Parabéns, eu amei, nota 10.
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraBrilhante!
Totally Fucked Up
3.9 42O primeiro da trilogia que acabou sendo o último que eu vi e, dos três, foi sem dúvidas o que me deixou mais desolada. Gregg foi mestre ao retratar a angústia da juventude de uma década que hoje em dia é vista de uma forma quase estereotipada, como se tudo se resumisse a grunge e aesthetic, sendo que o buraco era muito mais embaixo. A narrativa de pseudodocumentário que se quebra bem no meio é uma sacada genial e as 15 partes montam um retrato verossímil do que é ser jovem; do que é estar no fim da adolescência entre um ciclo e outro, e, como uma garota de dezessete anos, eu posso dizer que mesmo hoje em dia é a coisa mais fácil do mundo se identificar com cada um desses personagens - o Andy especialmente. Cru, direto e brutal.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraNakia, Shuri e Okoye mereciam um filme próprio. RAINHAS.
Rubber
3.2 307 Assista AgoraSenhoras e senhores, estamos lidando com um pneu humanizado numa concepção metalinguística, quase uma autoparódia da experiência cinematográfica. A julgar pela raiva desmensurada desse pneu do mundo, eu diria que ele está na pré-adolescência.
Fantasticamente tosco, um humor ácido que prende de início ao fim, a crítica inteligente num roteiro proporcionalmente bem pensado (porque quem acha que vir com uma ideia desse nível é moleza, tá muito enganado). É ridículo, é lindo, é trash.
Destaque para o fato de que o pneu assiste TV, porque eu nunca vou parar de rir disso.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraIn peace, sons bury their fathers. In war, fathers bury their sons.
O Elo Perdido
2.6 271 Assista AgoraAquele filme que a gente sabe que é ruim, mas ama do mesmo jeito.
Star Wars, Episódio I: A Ameaça Fantasma
3.6 1,2K Assista AgoraExistem muitas coisas separando A Ameaça Fantasma de qualquer filme da Trilogia Original, mas não entendo por que tanto ódio. O filme tem seus defeitos: é bastante arrastado; a magia dos efeitos especiais - ao menos para mim - acabou ironicamente se perdendo com o avanço do CG; a presença do Jar Jar Binks (que é insuportável e descartável) e a personagem do Anakin, que julgo bem exagerada, já que
o garoto constrói o C-3PO que é fluente em seis milhões de línguas, ganha uma corrida daquelas, pilota uma nave e destrói uma estação.
Apesar de ser inferior aos outros e mesmo com as suas falhas, A Ameaça Fantasma é um bom filme que também tem seus pontos positivos, como Ewan McGregor impecável (como sempre) na pele de Obi Wan, o Qui Gon e a rainha Padmé Amidala.
Eclipse de uma Paixão
3.6 221 Assista AgoraEsperava bem mais. O relacionamento entre Rimbaud e Verlaine pareceu raso e mal explorado, e o roteiro, que tinha tudo para ser profundo e emocional, é seco a maior parte do tempo. A atuação do Leo faz valer à pena, no entanto.
Estrada para Lugar Nenhum
3.8 96Comecei a assistir esperando um trashzão nonsense pra divertir meu fim de semana e vi que Nowhere é muito mais do que isso. Nunca vi um filme que canalizasse a selvageria, a desesperança, o tédio e as crises existenciais da juventude dos anos noventa tão bem. O sentimento daqueles que viviam numa era onde tudo se assemelhava a "flutuar pelo rio" onde não há foco algum e a maior sensação é aquela de que tudo de grandioso já havia sido feito
(como o próprio Dark diz no final, "it's like we all know way down in our souls that out generation is going to witness the end of everything")
pesa e conduz o filme inteiro, e no meio de toda aquela piração, tudo de alguma forma parecia se encaixar e fazer sentido. Esse estilo do Araki me conquistou de jeito - ele de alguma forma foi capaz de fazer o nonsense carregar sentido e o inacreditável ser verossímil.
No fim das contas, vi Nowhere, com seus cortes e representações gráficas espalhafatosas, não como um trash curtinho para divertimento rápido, mas como o retrato visual de todos os sentimentos e sensações explosivas que os jovens daquela geração carregavam, a perturbação voluntária dos sentidos como forma de eliminar o tédio, o vazio existencial e (de certa forma) o desespero, pelo menos por um momento.
A coisa mais genial de tudo isso, para mim, é o simbolismo das mortes insanas e dos aliens, representando a maior vilã - a AIDS.
"I'm outta here."
Chicago
4.0 997Chicago relata de modo irônico e cotidiano temas como adultério, homicídio e toda a sujeira por trás do show business e seu melhor amigo, o sensacionalismo - e é certamente por esse motivo que é um filme espetacular. E essa é a palavra que o descreve. Chicago é, do início ao fim, uma mostra do belo e do sujo acerca daquilo que nos cerca e que bem ou mal nos toma por completo: o espetáculo. Os quinze minutos de fama de Roxie, sempre rondados por pequenas ameaças de decadência, foram só um dos pontos que montaram um verdadeiro espetáculo com louvor.
O filme inteiro é um festival de cores e Cell Block Tango foi a melhor performance que eu já vi em um musical. Os figurinos são bonitos e a fotografia idem. A única coisa que o fez cansativo, pelo menos enquanto eu o estava assistindo, foi Roxie Hart, sua ambição egoísta e inconsequente e sua cega fé na imprensa - apesar de essas serem características essenciais da personagem, a atuação de Reneé Zellweger é totalmente ofuscada pela de Catherine Zeta-Jones, que aparece bem menos em tela mas que ainda assim é fantástica. O filme só não entrou nos favoritos e eu só não dei cinco estrelas por causa disso.
Tem cena mais dolorosa do que a do Amos chamando e sendo ignorado pela Roxie no meio da neve e de uma multidão de jornalistas?
Recomendo que quem não assistiu, veja logo. Vale muito à pena, principalmente pelas performances.
[Visto 22/12/2016]
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraFraco em todos os sentidos. "Lucy" é mais um desses filmes de ficção científica com uma ideia muito boa que acabou sendo mal explorada e se perdendo num roteiro ruim.
A primeira coisa que me incomodou é o fato de que o filme sustenta a farsa dos 10% - já foi cientificamente comprovado que usamos todas as áreas do nosso cérebro, apenas não ao mesmo tempo.
De qualquer forma, você tem essa droga que expande a sua capacidade mental e todas as inúmeras possibilidades que ela pode nos proporcionar. Seria lindo se não fosse trágico, porque o filme se perde logo no começo. Tudo vira uma viagem sem pé nem cabeça e algumas cenas fazem com que você encare a tela pensando algo na linha de "mas que porra?", e isso não só de um ponto de vista científico. É apenas insuportável, maçante, tedioso. Não dá para assistir até o final.
Nem a atuação da Scarlett salvou, porque pelo menos no meu ponto de vista a súbita mudança de menininha chorona para mulher sem emoção alguma não convenceu de jeito nenhum - qual é, com 10% ela chora, com 15% ela é uma máquina?
Poderia ter sido mind blowing, filosófico, desses que faz a gente sentar para refletir, mas é um roteiro fraco e inteiramente baseado num mito que não faz o menor sentido. A personagem também não é interessante, nem quando era humanizada.
E o que diabo foi aquela cena com todas aquelas coisas pretas saindo de dentro dela e criando computadores? pfffff
Não percam o tempo de vocês.
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraOlha, não vou mentir, foi difícil. Comecei entendendo, mas depois eu fui entrando nessa de "mas que caralhos está acontecendo aqui?" e tive que enfrentar aquele clássico efeito mindfuck quando cheguei no final.
Como muitos aqui, tive que recorrer a análises no Google para me esclarecer o que aconteceu. O filme é recheado de simbolismos e acredito que realmente não foi feito para ser completamente absorvido de primeira - eu provavelmente terei que assisti-lo uma segunda, ou quem sabe uma terceira vez, para absorver todos os elementos. Deu para notar que esse filme é um daqueles onde as coisas só se encaixam quando você assiste uma segunda vez, sabendo de tudo o que está rolando, principalmente se considerarmos todos os simbolismos.
Vou me abdicar de dar uma opinião concreta enquanto não o assisto de novo, mas acho que consigo fazer uma pequena análise, meio pessoal, meio absorvida nos vídeos de explicações que eu li, sobre o que eu consegui extrair nessa primeira vez.
A cena no clube foi o primeiro de incontáveis pontos de interrogação que surgiram em minha mente. Eu tentei estabelecer todo tipo de metáfora ligando a aranha, o sapato da stripper e a expressão do Gyllenhaal, mas acabou se tornando um enigma que eu pensei que poderia solucionar no fim e que, no fim das contas, infelizmente não pude.
Mas, antes mesmo de me dar conta do ponto mais importante do filme, eu percebi que Adam, ou Anthony, ou os dois, ou seja lá qual deles apareceu mais no início, parecia estar rodeado de um constante tédio. A parte sobre repetição fez sentido imediatamente para mim. Ao ligar a fala dele na sala de história, que se repetiu duas vezes, à rotina de ócio que consistia em chegar do trabalho, fazer sexo e olhar para o nada com a imagem de uma Toronto parada e poluída, eu imediatamente percebi que, de alguma forma, "O Homem Duplicado" se trata de um ciclo.
Desenvolvi várias possibilidades para explicar Adam e Anthony, mas é bem fácil perceber que eles são, na verdade, duas versões de uma mesma pessoa, e lá pelo meio do filme já era fácil distinguir quem estava agindo só pela atuação. Não foi difícil perceber a dupla personalidade porque a impressão que eu tive foi que eles funcionavam como yin e yang - um exemplo é que Adam parece muito passional, sempre falando baixo e se enrolando nas palavras, em relação a Anthony, que mais de uma vez gritou e que aparentava muito mais confiança. Além disso, o filme é recheado de dicas que estão pairando por todos os cantos, umas discretas e outras gritantes. A própria mãe do homem diz que está na hora de ele parar de tentar ser um ator de terceira, e Helen pergunta a ele como foi a aula. Além disso, tenho certeza de que há várias outras que não fui capaz de detectar.
O momento em que Anthony pede para Adam para sair com Mary foi o momento no qual eu comecei a me tocar da parte sobre a traição. Helen já tinha ido direto ao ponto quando Adam ligou, então talvez Anthony já tivesse traído-a diversas vezes.
As aranhas permaneceram com um ponto de interrogação no final. As análises apontam a hipótese de que elas seriam as mulheres na vida de Adam, e isso explicaria a gigantesca aranha andando por Toronto logo após a conversa com a mãe, e as incontáveis teias de aranha que aparecem no filme.
Eis que chegamos ao que o filme é em síntese: um homem incapaz de se manter com uma única mulher que, para fugir do peso da consciência da traição, acabou criando uma outra versão de si mesmo, sem sequer perceber.
Depois das análises eu acabei percebendo que existe uma relação entre as aranhas e Helen. No início, Anthony está traindo e a stripper mostra uma aranha pequena em relação às outras do filme a esmaga. Eis que o filme vai seguindo e Adam faz sua escolha: permanece com Helen. "Mata" Anthony e Mary num acidente de carro, assim encerrando o seu eu traidor. Mas, assim que Adam pega aquela chave (que demorei para perceber que era a do clube do início do filme), sua personalidade desvanece e Anthony entra dentro dele, dizendo que vai "sair" - trair Helen de novo e recomeçar o ciclo. Então Helen se torna essa aranha enorme, o que me fez pensar que, quando ele estava traindo, Helen ficava distante e a aranha era mínima, mas quando ele não estava, Helen ficava por perto e a aranha tomava aquelas proporções.
Seja lá como for, é um filme muito profundo. Devem haver milhares de outras interpretações que eu adoraria conhecer e absorver, mas acredito que só poderei ter uma interpretação própria concreta depois de assistir de novo e ler a obra do Saramago. A visão e os simbolismos de Villeneuve, porém, são fantásticos. Destaque para a paleta de cores, a trilha sonora que combinou bem com a atmosfera e a FANTÁSTICA atuação de Jake Gyllenhaal, que nos proporcionou diferenciar os dois personagens.
----------
Visto 30/07/2016.
Versos de um Crime
3.6 666 Assista AgoraDepois que minha nova obsessão de pesquisadora se tornou a geração beat, meu caminho se cruzou com "Kill Your Darlings" (que no Brasil recebeu o título de Versos de um Crime - um senhor spoiler justo no título).
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a atuação de Dane DeHaan, ponto essencial para me fazer cair em amores pelo Lucien Carr do filme logo em sua primeira cena. Daniel Radcliffe também não deixa a desejar, mas perde muito para o trabalho de DeHaan. Lucien Carr rouba a cena a todo momento. Apesar de o personagem ser frio e quase manipulador, é impossível não se deixar cativar por seu temperamento e a fragilidade que ele parece tentar esconder a todo custo.
O relacionamento de Allen e Lucien é desenvolvido de maneira sutil e, de repente, acelerada, quase selvagem, o que fez com que eu me lembrasse de alguns célebres relacionamentos autodestrutivos (meu tipo favorito).
O longa possui citações geniais e os pequenos detalhes foram pensados de uma forma bem convincente. A fotografia é muito bonita e os 104 minutos possuem a capacidade de te prender do início ao fim, fazer você desejar que o filme não acabe tão cedo.
Porém, esse não é um filme para verdadeiros entendedores da geração beat, visto a maneira como o "crime" que o título faz questão de te deixar ciente foi retratado. Basicamente, Kill Your Darlings decepciona em dois pontos:
1- Jack Kerouac e William Burroughs, que junto de Allen Ginsberg e Neal Cassady foram as figuras mais influentes da geração beat, ficam praticamente ofuscados, o que é um crime devido ao fato de que os escritores foram "personagens" de muitos livros uns dos outros.
2- David Kammerer. Esse é o principal fator que faz com que o filme não seja tão indicado assim para quem conhece a história, principalmente a vida de Lucien Carr. Nem tudo era tão bonito como foi retratado diante das câmeras. De acordo com alguns relatos do Lucien, David corria atrás dele de uma forma que hoje em dia seria facilmente denominada como perseguição, enquanto no filme,
os dois vivem uma espécie de romance autodestrutivo que, apesar de servir para que Allen dê vida a palavras belíssimas e geniais, soa irreal e chegou a me irritar, mesmo sendo meu tipo de romance favorito, visto que a história real foi desconstruída.
Apesar disso tudo, eu estaria sendo desonesta se dissesse que detestei o filme, porque eu adorei. O assistiria milhões de vezes só pela atuação magnífica do Dane DeHaan. A cena de sexo foi bastante cortada, mas não tem problema, porque isso também acaba sendo contornado. Com uma fotografia belíssima dessas e uma trilha sonora tão excepcional, mais ainda. Confesso: apesar de tudo, fiquei encantada.
Aliás, foi o filme que me incentivou a pesquisar e a ler "Howl", visto que meu coração poético ficou encantado por Allen Ginsberg. Diversos outros filmes sobre a geração beat entraram na minha lista de filmes pendentes graças a Kill Your Darlings, por ter dado o empurrãozinho inicial. Pelo que se pode ver aqui nos comentários do Filmow, o longa divide opiniões, mas enfim, fiz o que pude nesse comentário para expressar a minha.
"Be careful, you are not in Wonderland. I've heard the strange madness long growing in your soul, in your isolation but you fortunate in your ignorance. You who have suffered find where love hides, give, share, lose, lest we die unbloomed."
Depois de Tudo
2.7 38Mais do que um filme sobre amizade, "Depois de Tudo" é um filme sobre o tempo. Me interessei por ele desde que vi o trailer na época do lançamento. O filme tem uma bela fotografia, atuações boas (da parte das versões jovens dos personagens) e um roteiro até que bom, mas poderia ter sido mais aprofundado. Amizades verdadeiras são coisas extremamente frágeis, meio que como peças de cristal. De vez em quando, acho alguns filmes que conseguem dissecar amizades com a mesma proposta desse filme de maneira magnífica, mas, infelizmente, não foi o caso desse filme. É um bom longa-metragem? Sem dúvida alguma, mas acabou ficando raso no que diz respeito a história dos personagens e a reconciliação. Algumas coisas terminam mal explicadas e o final deixa um vazio no peito, uma sensação de que algo está faltando. Me fez rir e me emocionou também (o que não é surpresa, já que sou mais mole que manteiga). Eu o assistiria novamente, apesar de ele não estar na minha lista de favoritos. Em suma, é um bom filme com um bom enredo, só faltou desenvolver um pouco mais a fundo.
Velvet Goldmine
3.9 333 Assista Agora"The world have changed because you were made of ivory and gold. The curves of your lips rewrite history."
Velvet Goldmine é um filme que dificilmente pode ser descrito com uma palavra. Há camadas aqui. É aquele tipo de filme que não agrada qualquer um e que você só vem perceber as referências nas entrelinhas na segunda vez que assiste. Mas, ao invés de encher esse comentário com das inúmeras maneiras de descrever esse filme fantástico, eu posso usar uma expressão até que bem simples: uma verdadeira obra prima.
Anos 70, auge do glam rock. Existem inúmeros filmes sobre rock 'n' roll por aí, mas de todos que eu já assisti nessa vida, nenhum conseguiu parecer tão verdadeiro, direto e tocante como esse.
Todd Haynes agraciou o mundo com uma maravilha. Para quem entende da música, da década, do movimento, é indispensável. O filme possui duas sequências fantásticas, trilha sonora de tirar o fôlego, atuações incríveis, um elenco forte (incluindo uma participação especial do Placebo) e fotografia belíssima. O que mais cativa um fã no filme inteiro é a maneira como o movimento é tomado em síntese: cru e seco, sem esconder as partes "feias" do rock 'n' roll, como o adultério e o abuso de drogas (dois clássicos).
Alguns detalhes estão tão bem escondidos nas entrelinhas que é necessário assistir duas, três vezes para enxergar o filme por completo. Acredite, é normal deixar muitos elementos passarem na primeira vez. O que quero dizer é: o trabalho de Todd Haynes é cuidadoso. Além das inúmeras referências à carreira de David Bowie, percebe-se uma atenção (merecida) aos detalhes.
Além de tudo, Velvet Goldmine é como uma viagem no tempo. Vale destacar a parte mais fantástica do filme inteiro: a performance. O velho rock 'n' roll era naturalmente performático - a performance era ponto essencial na presença de palco. Em Velvet Goldmine, esse recuso foi usado de uma maneira de tirar o fôlego. A de Gimme Danger faz arrepiar cada um dos pelos do corpo. A de Baby's On Fire é orgástica.
O filme tem uma linha do tempo interessante, mas a sua maioria (de acordo com meros cálculos que fiz depois de assisti-lo pela décima vez ou mais) se passa em um período entre 1972 e 1974, cortando de tempos em tempos para o "presente", 1984.
Lembrando que não é um filme para qualquer um, já que, além de ser necessário assistir mais de uma vez para entendê-lo, possui conteúdo LGBT (algo mais que esperado sobre um filme sobre o rock dos anos 70), nudez e não é muito recomendado para pessoas que tenham algo contra performances.
Jonathan Rhys Meyers e Ewan McGregor dormindo nus e juntinhos em uma cama. Impossível superar.
Em suma: mais que recomendado.