Engraçado como um filme cuja trama se passa 97% do tempo numa única sala consegue envolver e empolgar, além das seminais reflexões que provoca. Sem dúvida, um dos meus preferidos.
Esse é um filme que, com efeito, faz com que repensemos as nossas ações, mas achei particularmente interessante devido às semelhanças que encontra com a problemática do testemunho, assunto que venho estudando há um tempinho. É curiosíssimo como as três primeiras versões do assassinato são um verdadeiro tiro no pé do ponto de vista da culpa: os participantes do caso a assumem! O primeiro alega que matou, a segunda alega que matou e o terceiro (e vítima), por meio de um médium, alega ter cometido suicídio! As razões, de natureza egocêntrica, certamente merecem reflexão. E o final é primoroso, desde a mensagem à fotografia e à música. Belíssimo!
É evidente que, num primeiro momento, Cidade dos sonhos parecerá a muitos um filme desprovido de sentido e de unidade, devido ao seu caráter a um tempo simbólico e onírico. É o tipo de filme que arranca o espectador de sua zona de conforto, cobrando-lhe atenção, percepção e interpretação, além da consciência de que se trata de uma produção artística, e não da transposição do real para a tela. Aquela suposta incoerência que lhe é erroneamente atribuída se explica pela complexidade mesma dos temas explorados, pertinentes tanto à delicada questão da identidade quanto à problemática dos sonhos. É de se esperar, portanto, que ele se invista da mesma “ilógica” característica do universo onírico, que subverte as nossas mais secretas vontades em sequências visuais desconexas e, em realidade, impossíveis. O diretor, ao estabelecer conexões entre ilusão e realidade, segue a linha de funcionamento dos sonhos, em que tomam parte pessoas e acontecimentos do cotidiano.
As reflexões, aqui, derivam de estranhamento: em lugar de reafirmar o real, Lynch procura o seu distanciamento, provocando estranhamento no espectador a partir de elementos anti-naturais. O que vemos em tela nada mais é do que a realidade refratada pelo ponto de vista do diretor, e não a própria realidade; e, nessa linha, o que vemos no sonho de Diane é a subversão do real operada pelo seu inconsciente, pelas suas vontades reprimidas. A recorrência ao azul, por exemplo, jamais passaria desapercebida – seja para efeitos de iluminação, seja para assinalar a cor dos cabelos de uma mulher. O azul, símbolo do surreal, denuncia tanto a ilusão de Diane quanto a ilusão das cenas a que assistimos, as quais não passam de gravação. Nesse sentido, Cidade dos sonhos trabalha a questão da identidade: porque projeta uma estória do ponto de vista do diretor e uma outra, do ponto de vista da personagem.
Apesar de eu ser a favor de produções mais sutis, devo admitir a minha admiração por esse filme. Recomendo.
Mais uma demonstração da genialidade de Hitchcock, que consegue deixar o espectador em suspensão a partir de situações tão simples, ampliando-as - além de ser a prova concreta de que uma obra cinematográfica, para alcançar um resultado acima da média, não requer gastos astronômicos. A trama é de cunho teatral e se desenrola em um único cenário: no apartamento do arrivista Brandon e do sensível Phillip – de cuja sutil interação podemos, inclusive, suspeitar um romance. Os dois, a fim de provarem sua superioridade em relação ao amigo David, resolvem assassiná-lo e esconder o corpo num grande baú, em cima do qual servirão, na mesma noite, um jantar. Para perfazer o triunfo, são convidados os parentes e a namorada do morto, além de um amigo e de um antigo professor, que, a partir dos comentários arrogantes e sugestivos de Brandon e do descontrole emocional de Phillip, começa a suspeitar da estranha situação. As tomadas, aqui, são feitas de maneira quase sempre inconfessa, o que estende o nosso estado de tensão e preocupação - o diretor se aproveita de pontos escuros para fazer os cortes sem que percebamos. E a impressão de realidade é algo fascinante: sentimo-nos também participantes do crime e da festa. As cenas são extremamente bem coreografadas e as atuações, impecáveis. Para aliviar o nosso estado de permanente e irredutível tensão, há ainda momentos bastante engraçados, oferecidos pelo personagem de Farley Granger. Recomendo!
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraBizarro, insano, frenético etc etc etc
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraPUTA-QUE-PARIU!
QUE-FILME.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraEngraçado como um filme cuja trama se passa 97% do tempo numa única sala consegue envolver e empolgar, além das seminais reflexões que provoca. Sem dúvida, um dos meus preferidos.
Rashomon
4.4 301 Assista AgoraEsse é um filme que, com efeito, faz com que repensemos as nossas ações, mas achei particularmente interessante devido às semelhanças que encontra com a problemática do testemunho, assunto que venho estudando há um tempinho. É curiosíssimo como as três primeiras versões do assassinato são um verdadeiro tiro no pé do ponto de vista da culpa: os participantes do caso a assumem! O primeiro alega que matou, a segunda alega que matou e o terceiro (e vítima), por meio de um médium, alega ter cometido suicídio! As razões, de natureza egocêntrica, certamente merecem reflexão. E o final é primoroso, desde a mensagem à fotografia e à música. Belíssimo!
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraÉ evidente que, num primeiro momento, Cidade dos sonhos parecerá a muitos um filme desprovido de sentido e de unidade, devido ao seu caráter a um tempo simbólico e onírico. É o tipo de filme que arranca o espectador de sua zona de conforto, cobrando-lhe atenção, percepção e interpretação, além da consciência de que se trata de uma produção artística, e não da transposição do real para a tela. Aquela suposta incoerência que lhe é erroneamente atribuída se explica pela complexidade mesma dos temas explorados, pertinentes tanto à delicada questão da identidade quanto à problemática dos sonhos. É de se esperar, portanto, que ele se invista da mesma “ilógica” característica do universo onírico, que subverte as nossas mais secretas vontades em sequências visuais desconexas e, em realidade, impossíveis. O diretor, ao estabelecer conexões entre ilusão e realidade, segue a linha de funcionamento dos sonhos, em que tomam parte pessoas e acontecimentos do cotidiano.
As reflexões, aqui, derivam de estranhamento: em lugar de reafirmar o real, Lynch procura o seu distanciamento, provocando estranhamento no espectador a partir de elementos anti-naturais. O que vemos em tela nada mais é do que a realidade refratada pelo ponto de vista do diretor, e não a própria realidade; e, nessa linha, o que vemos no sonho de Diane é a subversão do real operada pelo seu inconsciente, pelas suas vontades reprimidas. A recorrência ao azul, por exemplo, jamais passaria desapercebida – seja para efeitos de iluminação, seja para assinalar a cor dos cabelos de uma mulher. O azul, símbolo do surreal, denuncia tanto a ilusão de Diane quanto a ilusão das cenas a que assistimos, as quais não passam de gravação. Nesse sentido, Cidade dos sonhos trabalha a questão da identidade: porque projeta uma estória do ponto de vista do diretor e uma outra, do ponto de vista da personagem.
Apesar de eu ser a favor de produções mais sutis, devo admitir a minha admiração por esse filme. Recomendo.
Festim Diabólico
4.3 885 Assista AgoraMais uma demonstração da genialidade de Hitchcock, que consegue deixar o espectador em suspensão a partir de situações tão simples, ampliando-as - além de ser a prova concreta de que uma obra cinematográfica, para alcançar um resultado acima da média, não requer gastos astronômicos. A trama é de cunho teatral e se desenrola em um único cenário: no apartamento do arrivista Brandon e do sensível Phillip – de cuja sutil interação podemos, inclusive, suspeitar um romance. Os dois, a fim de provarem sua superioridade em relação ao amigo David, resolvem assassiná-lo e esconder o corpo num grande baú, em cima do qual servirão, na mesma noite, um jantar. Para perfazer o triunfo, são convidados os parentes e a namorada do morto, além de um amigo e de um antigo professor, que, a partir dos comentários arrogantes e sugestivos de Brandon e do descontrole emocional de Phillip, começa a suspeitar da estranha situação. As tomadas, aqui, são feitas de maneira quase sempre inconfessa, o que estende o nosso estado de tensão e preocupação - o diretor se aproveita de pontos escuros para fazer os cortes sem que percebamos. E a impressão de realidade é algo fascinante: sentimo-nos também participantes do crime e da festa. As cenas são extremamente bem coreografadas e as atuações, impecáveis. Para aliviar o nosso estado de permanente e irredutível tensão, há ainda momentos bastante engraçados, oferecidos pelo personagem de Farley Granger. Recomendo!
Os Suspeitos
4.1 782 Assista AgoraPoucos filmes me envolveram e surpreenderam quanto esse. Recomendadíssimo!