"45 Anos" faz a desconstrução de um relacionamento de forma bem sutil. É quase que como uma história de fantasmas, como se toda a vida do casal protagonista tivesse sido influenciada pelo fantasma da relação do Geoff com a namorada morta, e, só a partir do momento em que encontram o cadáver dela, tal influência passa a ser revelada. O marido ainda possui amor pela mulher que perdeu como se o sentimento ficasse congelado no tempo (num dos primeiros diálogos do filme, quando ele descobre que o cadáver foi encontrado, diz que seria engraçado se o corpo de seu antigo amor tivesse sido preservado pelo gelo e ainda estivesse como no ano em que a perdeu. Seu sentimento, como sua amante, parou no tempo, continua igual, tanto que, ao receber a notícia, ele se refere à esta como "minha Katya", como se tivesse sido ontem que ainda a tivera consigo). A revelação da permanência do sentimento, bem como da influência dele nas decisões do casal, faz com que a esposa, Kate, passe a questionar não só a relação, como sua própria vida. O que fez, o que deixou de fazer, o tempo que passou. Charlotte Rampling está memorável, talvez no melhor desempenho de sua carreira. Seus olhares mostram a gradual perda da resiliência da personagem perante a situação que se mostra a sua frente. A maior parte do tempo, Kate tenta parecer não se importar com o que ocorre e nota, mas a revelação de mais e mais verdades faz com que ela perca tal posição de distanciamento, gerando algumas das melhores cenas do filme Em relação a estas, creio que quatro mereçam grande destaque: a cena da dança dos protagonistas (no que parece o único momento de menor tensão do filme, filmado com um enquadramento deslocado, de forma a não permitir total catarse), a cena em que Kate olha fotos antigas da namorada morta do marido (descobrindo como a relação deles poderia ter afetado um fator essencial de sua relação), o diálogo em que ela espõe suas frustrações perante as coisas que a semana lhe revelou (tal momento apresenta uma mudança que ditará todo o ato final, que se apresenta tanto como antítese quanto como síntese do filme), e a última cena (que sutilmente representa a mudança que o ocorrido causou na relação). Tal cena, aliás, apresenta um dos usos mais inteligentes de trilha dos últimos anos. A música "Smoke Gets in Your Eyes" (que o casal dançara em seu casamento, e dança em suas bodas de platina) serve tanto para apontar as mudanças emocionais ocorridas entre os dois eventos (o efeito do tempo sobre o casal) quanto para sintetizar o que ocorre no último ato.
Após diálogo citado anteriormente, onde a protagonista diz que eles deveriam seguir com suas vidas, ignorando, o marido leva a serio tal desejo: na manhã da comemoração, finge que tudo continua igual, que o passado ficou no passado. Kate, porém, parece perder a habilidade de distanciamente, de fingir que tudo está bem. Ou simplesmente se sente tão ferida que para de se importar com as aparências, mantendo um olhar melancólico durante todo o ato final. A festa, o discurso do marido, tudo soa impregnado de hipocrisia para ela, culminando na cena derradeira, onde o casal dança a música de seu casamento. Aos poucos, a câmera se aproxima deles, revelando a tristeza no olhar da protagonista, perante a acepção da ideia de que viveu uma mentira. Quando, ao fim da música, o marido dá suas mãos com as dela e as levanta, Kate puxa o braço, parecendo aterrorizada e irritada, como se a fumaça que cobrira seus olhos por 45 anos finalmente entrasse nos mesmos, expondo mentiras e a deixando à beira das lágrimas.
Assisti hoje e achei excelente. Binoche está ótima, como sempre, e prova novamente que é das melhores atrizes de sua geração, Kristen Stewars sua melhor interpretação até o momento, muito superior à que estamos acostumados (ainda que afetada por alguns maneirismos, como suas caras e bocas). O filme trabalha de forma muito interessante e sutil a passagem do tempo, suas mazelas e a dificuldade que as pessoas tem em aceitá-las, focando nas pessoas que trabalham com a sua imagem - as atrizes (nesse ponto, inclusive, é possível traçar um paralelo entre a personagem de Maria Enders e a personagem Myrtle Gordon, do filme Noite de Estréia de John Cassavetes, ambas atrizes lidando, cada qual de sua forma, com ação do tempo ao se verem refletidas nos personagens os quais interpretam). Outro ponto interessante a ser destacado é como a peça "Maloja Snake" reflete a situação da protagonista. Em Maria coexistem as duas personagens da obra: Sigrid e Helena. Sigrid, personagem jovem, poderosa e manipuladora, interpretada por Maria aos dezoitos anos, um papel decisivo para sua carreira e, de certa forma, também decisivo para sua formação como pessoa. Helena, a personagem de meia-idade, destrutiva, fraca e vulnerável, que reflete o estado atual da atriz, ao mesmo tempo que representa algo que ela tem pavor de se tornar (o que é a principal razão para sua recusa inicial ao papel). Maria insiste em se apegar a Sigrid no presente como uma forma de negar o quanto sua vida se aproxima da Helena (porém, será revelado posteriormente que ambas as personagens são a mesma pessoa. O tempo tornaria Sigrid em outra Helena). Pode-se notar também que há muito do relacionamento de Sigrid e Helena na relação de Maria e Valentine, sua assistente. Por vezes, quando atriz e assistente ensaiam as falas da peça o espectador pode se enganar e pensar que está presenciando um diálogo real entre as intérpretes. Enfim, é um filme com diversas camadas (metalinguísticas, filosóficas) é difíceis de dissertar sobre, acho que ainda preciso absorver mais da obra. Por hora, me contento por ter sido esse trabalho tão interessante de Assayas o primeiro filme que vi no cinema em 2015.
Cada vez mais me encontro apaixonado pelo cinema de Abbas Kiarostami. Da primeira vez que assisti à este filme minha apreciação em relação à ele não fez jus a belíssima obra que é. Juliette Binoche, mais bela e vulnerável do que nunca, entrega um de seus melhores desempenhos (o que não é pouco, considerando que esta talvez seja a melhor atriz em atividade), atuando de forma incrível em três idiomas diferentes (Inglês, francês e italiano). Em sua primeira obra fora do Irã, Kiarostami constrói um fantástico filme-mistério partindo do que, supostamente, seria o mais comum dos temas: A relação entre um homem e uma mulher. Com base nisso, o diretor tece um roteiro brilhante e dúbio, permeado de diálogos filosóficos sobre o valor da obra de arte, que disseca as diversas camadas sentimentais dos personagens, expondo contradições, frustrações e ilusões (as doces, as perdidas) destes. Uma verdadeira obra de arte, uma obra-prima. Com cópia fiel e certificada.
"Devore-me. Deforme-me à sua imagem para que ninguém, depois, possa entender o porquê de tamanho desejo. Nós ficaremos sozinhos, meu amor. A noite não acabará. O dia não nascerá mais para ninguém. Nunca. Nunca mais. Enfim."
Reassisti hoje e se tornou top 4 meu do Woody. Simplesmente uma das obras mais geniais dele. É incrível como o Allen balanceia o teor trágico do drama pesado de uma parte com a comédia de costumes da outra sem nunca perder a mão, conseguindo ainda inserir perfeitamente tema filosóficos, com forte influência dostoievskiana (retomada posteriormente em Match Point), como o relativismo ético e a moral judaico-cristã. Obra-primíssima.
"- Beleza. Quer dizer, o 'seu' conceito espiritual de beleza. -Mas você nega a habilidade do artista em criar a partir do espírito? - Sim, Gustav, é exatamente o que eu nego. -Então, a seu ver, nosso trabalho, como artistas, é... -Trabalho, exatamente! Você realmente acredita que a beleza possa ser fruto do trabalho? -Sim... Sim, acredito. - É assim que nasce a beleza. Assim. Espontaneamente, indiferente ao seu trabalho e ao meu. Ela preexiste à nossa presunção de artistas. Seu grande equívoco, meu caro amigo, é considerar a vida, a realidade, como uma limitação. -E ela não consiste nisso? A realidade apenas nos distrai e degrada. Sabe, às vezes penso que os artistas mais se parecem com caçadores que miram no escuro. Nem sabem qual é seu alvo, tampouco se o atingiram. Mas não se pode esperar que a vida ilumine o alvo e estabilize sua mira. A criação da beleza e da pureza é um ato espiritual. - Não, Gustav. Não! A beleza pertence aos sentidos. Somente aos sentidos! - Não é possível alcançar o espírito através dos sentidos. Não é possível. É somente através do absoluto controle dos sentidos que se pode algum dia, alcançar sabedoria, verdade e dignidade humana. -Sabedoria? Dignidade humana? Para que servem?O gênio é uma dádiva divina. Não!Uma aflição divina. Uma chama breve e pecaminosa de dons naturais. -Rejeito as virtudes demoníacas da arte. - E isso é um erro! O mal é necessário. É o alimento da genialidade. (...) - Sabe, Alfred, a arte é a fonte mais elevada de educação, e o artista tem que ser exemplar. Deve ser um modelo de equilíbrio e força. Ele não pode ser ambíguo. - Mas a arte é ambígua. E a música é a mais ambígua de todas as artes. É a ambigüidade transformada em ciência."
Tenho esse filme baixado há uns 3 anos e vivo adiando para ver. Hoje o assisti finalmente e me arrependi de não tê-lo visto o quanto antes. Acho que é impossível eu não gostar de alguma coisa do Coutinho, todos os documentários que vi dele entraram para minha lista de favoritos. Mesmo amando todos os que vi dele, esse foi o que mais gostei até o momento. A facilidade com que as pessoas contam suas histórias para o diretor e,consequentemente, para a platéia, torna quem assiste quase que um confidente dos moradores. São pessoas comuns, "pessoas como você e eu" como diz o próprio cartaz, sentimos através de suas histórias a solidão, o medo, o saudosismo por memórias que nem nossas são, o medo, a melancolia, o arrependimento, e até o amor. Edifício Master é sensacional por isso, por tratar com tanto carinho e importância as dores e alegrias de pessoas que encontramos todos os dias, no nosso cotidiano (e até dentro de nós mesmos).
"-Assim que você sai de Nova York, nada muda. Tudo é igual. Não se pode pensar em nada... nem que as coisas poderiam mudar. Perdi completamente as referências.Pensei que poderia continuar assim pra sempre. Algumas noites estava certo de que voltaria na manhã seguinte. Mas então seguia em frente... ouvindo esta rádio horrorosa. À noite, no hotel, que não era diferente dos outros...via esta TV desumana. Não tinha contato com o mundo. -Você fez isso há muito tempo. Não é preciso viajar pela América para isso.Você perdeu o rumo quando perdeu seu sentido de identidade.E isso aconteceu há muito tempo.Por isso precisa sempre de provas, provas de que ainda existe.Suas histórias e suas experiências...você as trata como ovos crus.Como se apenas você experimentasse as coisas.Por isso fica tirando essas fotos.Para provar depois que foivocê quem realmente viu algo.Por isso veio.Assim alguém te escutaria e às suas histórias...que você realmente conta a si mesmo.Como se só a fuga não fosse suficiente. -É verdade. As Polaroids são uma espécie de prova.Esperando que uma foto apareça, já me senti várias vezes inquieto.Não podia esperar para comparar a foto com a realidade. Mas compará-las não me acalmava.As fotos nunca pegam a realidade."
Quando vi Persona pela primeira vez tinha 13 anos e detestei. Me chamou a atenção uma foto das duas protagonistas que vi numa edição do 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, então baixei e assisti. Até então, minha visão de cinema era completamente diferente, me lembro de ter me sentido entediado e enfurecido ao fim por não ter compreendido o filme direito. Nutri um pouco de ódio por Ingmar Bergman e pelo cinema europeu na época. Eu era realmente imaturo. Com o tempo, o modo como eu via a sétima arte se modificou drasticamente, me apaixonei pelo cinema europeu e me peguei dando uma nova chance à Bergman, quando assisti a'O Sétimo Selo. Depois deste, apaixonei-me também pelo diretor e a maior parte de seus filmes. Menos Persona, do qual eu ainda guardava um pouco de ódio. Vi-o pela segunda vez no ano passado e foi como assistir à um filme totalmente diferente. O que absorvi da obra dessa vez foi algo muito maior, muito mais forte. Porém, apesar de apreciá-la mais, não conseguir gostar dela completamente, apreciar como realmente deveria ser apreciada. Desde então o filme cresceu em minha cabeça, até que decidi por fim assisti-lo pela terceira vez hoje. É incrível o poder que Persona tem de se metamorfosar em minha percepção ao longo do tempo, pois desta vez me apaixonei pelo filme, pelas atuações, pela fantástica fotografia, pelos significados ocultos que captei, e ainda por aquilo que não compreendi, mas gostei do mesmo modo. Com 14 palavras, Liv Ullmann (que nesses anos, tornou-se minha atriz favorita) entrega uma atuação antológica, dando à Elisabet uma densidade única construída como um quebra-cabeça utilizando-se praticamente de olhares. Bibi Andersson constrói Alma de forma igualmente impecável.
Pra mim, as duas mulheres as quais somos apresentando no início do filme são realmente duas mulheres. À partir daquela cena em que Elisabet está no quarto, sozinha na cama, e o ambiente começa gradualmente à escurecer a personagem adormece e entramos no território do sonho da personagem, daqui pra frente, a atriz usa das imagens das pessoas que a cercam, tanto Alma quanto a doutora, para externar seu subconsciente no ambiente onírico, note como o monólogo da médica reflete exatamente os sentimentos da protagonista. Alma talvez represente os desejos não satisfeitos da protagonista, uma Elisabet sem máscaras, livre de suas "personas". Na psicanálise analítica, persona é "função psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social", Alma é quem Elisabet seria se não tivesse que renegar seus desejos em prol de se adaptar ao mundo. O monólogo de Alma em que ela descreve a experiência sexual com os adolescentes e o subsequente aborto representa a realização de dois desejos da atriz: a satisfação sexual e se livrar do filho que ela não queria. Essa cena permite fazer uma análise diferenciada do título brazuca do filme, o pecado das duas mulheres é o mesmo: ser mulher. O desejo sexual é uma coisa que a sociedade tende à condenar em mulheres e relevar, até incentivar, nos homens. Enquanto a rejeição à maternidade é tido como um crime monstruoso, a rejeição à paternidade não é nem de perto tão mal vista pela sociedade quanto a outra. Quando Elisabet acorda na cama do hospital no final do filme ela desperta do sonho e por fim fala, em seguida deita na cama novamente e voltamos para a ilha, voltamos para o ambiente onírico. Neste, os desejos da personagem tem sua revolta final contra ela, agredindo-a e por fim, separando-se dela. Se isso representa que os desejos a abandonaram ou que eles se libertaram para dentro dela, buscando a externação no mundo real, não tenho certeza, mas acredito mais no segundo.
Aos que assistiram à essa obra-prima e gostaram, assistam novamente, pois é uma daquelas obras que a cada vez que é revisitada você absorve mais. Aos que não gostaram, façam como eu, deixem o tempo agir sobre vocês, reassistam Persona quando sentirem-se prontos, a segunda vez muito provavelmente será infinitamente mais gratificante
Coisas que eu aprendi com esse filme: -Getúlio não se matou de verdade, ele se mudou para a Inglaterra e se tornou o cineasta responsável por obras como Janela Indiscreta, Disque M Para Matar e Psicose (que foi sutilmente referenciada em uma das cenas do filme) -Até Vargas sabia valorizar uma boa carne Friboi -O real motivo do suicídio de Vargas foi o simples fato de que não deixavam ele dormir. -Achei a Mata Atlântica, tá nas costas do presidente! -O sotaque gaúcho do presidente era esporádico. Ainda assim, essa música tem tudo a ver com ele: https://www.youtube.com/watch?v=owL-c0CQubo Enfim, teria sido melhor ir ver o filme do Pelé (se bem que ele estava no filme, provando que nasceu velho e que trabalhava na guarda do presidente)
Um dos meus filmes favoritos do Bergman. O roteiro é genial, incrível como ele consegue trabalhar ao mesmo tempo a construção dos personagens, a decomposição das relações e uma critica sutil à burguesia. Enfim, uma obra-prima
"Somos analfabetos emocionais. Aprendemos anatomia e métodos de cultivo na África, sabemos fórmulas matemáticas de cor e salteado. Mas não nos ensinaram nada sobre nossas almas. Somos tremendamente ignorantes sobre o que move as pessoas."
Ouvi esse prelúdio do Chopin ontem tive vontade de reassistir. A revisão já estava na minha cabeça desde a primeira vez que vi. Cresceu MUITO no meu conceito, tinha apenas gostado quando o assisti pela primeira vez, dessa vez amei o filme. Ingrid e Liv estão destruidoras, acho, inclusive, essa a grande atuação da carreira da Ingrid, o modo como ela constrói a Charlotte através de olhares é incrível. Porém, prefiro a atuação da Liv, a cena em que elas estão à mesa e a Eva despeja suas mágoas reprimidas é a segunda melhor amostra do talento da Liv que eu já vi, só perdendo para Face a Face. A fotografia é outra coisa maravilhosa (as cenas finais com Eva caminhando em pleno outono são lindas demais), o uso dos closes é genial, e o roteiro é um dos melhores do Bergman. Recheado de diálogos brilhantes ("Será que uns têm mais talento para viver do que outros?" "Será a infelicidade da filha a satisfação da mãe?"), Höstsonaten se tornou não só um dos meus Bergmans favoritos, mas também um dos meus filmes favoritos.
Trilha sonora fantástica (poucas músicas me trazem tão facilmente o sentimento de melancolia quanto a Gnossienne nº1) e diálogos geniais. Se tornou instantaneamente um dos meus filmes favoritos.
"Eu me mato porque não me amaram, porque não os amei. Eu me mato porque nossos vínculos eram fracos, para fazê-los fortes. Deixo a vocês uma marca indelével."
Duas horas de dor, tristeza e angústia com um pouco (ou muito) de amor diluído em meio a essas sensações. Um dos retratos mais verdadeiros do sentimento já feitos pelo cinema.
Lindo demais. Lembro de assistir da primeira vez com mais ou menos 8 anos numa daquelas sessões da Globo e ficar encantado. Amei ainda mais quando o reassisti anos depois, se tornou um dos meus favoritos, um daqueles filmes que eu queria viver dentro. A história é emocionante, o final é maravilhoso e me toca como poucos outros. A trilha sonora é fantástica. Essa música ♥ http://www.youtube.com/watch?v=iDcOnR03Tw4
O filme é belo esteticamente (a fotografia é uma coisa linda) e interessante na premissa, mas não gostei do modo como se desenrola. Dolan deve ter tido muita dificuldade para conseguir os direitos de "Bang Bang" e quis comemorar, porque só isso (além de mão pesada na direção) explica o uso repetitivo e exaustivo da música. O uso dos depoimentos foi uma ótima sacada ("Glenn Close, em 'Atração Fatal'. Esta sou eu."), acabei me interessando mais por eles do que pela história do filme.
Valheria a pena nem que fosse só por ter este poema: "nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio: no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram, ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e minha vida nos fecharemos belamente,de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura compele-me com a cor de seus continentes, restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre;só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas) ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas"
Um estudo em vermelho sobre a alma humana. Fantástico filme, de uma beleza incomparável, lindíssima fotografia, atuações perfeitas (com destaque para Harriet Andersson, que me fez sentir a dor da personagem à cada contorção e grito de Agnes). Difícil de ver, mas valhe cada segundo do esforço.
"Quarta, 3 de setembro. O cheiro do outono enche o ar claro e parado... mas é suave e delicado. Minhas irmãs Karin e Maria vieram me ver. É maravilhoso estarmos juntas de novo como antigamente, e eu me sinto muito melhor. Até conseguimos fazer uma caminhada juntas. Foi um acontecimento para mim... sobretudo porque não saio há tanto tempo. De repente, começamos a rir e a correr em direção do balanço que não víamos desde a nossa infância. Nós nos sentamos nele como três boas irmãs e Anna nos balançou, devagar e delicadamente. Todas as minhas dores se foram. As pessoas que eu mais amo em todo o mundo estavam comigo. Podia ouvi-las conversando ao meu redor. Podia sentir a presença dos seus corpos... o calor das suas mãos. Queria prender aquele momento fugaz e pensei: ‘Haja o que houver isto é felicidade. Não posso desejar nada melhor. Agora, por alguns minutos posso viver a perfeição. E eu me sinto profundamente grata à minha vida que me dá tanto'".
"No, it's not going to stop, Till you wise up. No, it's not going to stop, So just give up."
O melhor filme do sempre fantástico Paul Thomas Anderson. Três horas que passam voando. Cada diálogo, a trilha sonora, a simbologia, tudo isso se junta para compor uma magnífica obra-prima.
45 Anos
3.7 254 Assista Agora"45 Anos" faz a desconstrução de um relacionamento de forma bem sutil. É quase que como uma história de fantasmas, como se toda a vida do casal protagonista tivesse sido influenciada pelo fantasma da relação do Geoff com a namorada morta, e, só a partir do momento em que encontram o cadáver dela, tal influência passa a ser revelada. O marido ainda possui amor pela mulher que perdeu como se o sentimento ficasse congelado no tempo (num dos primeiros diálogos do filme, quando ele descobre que o cadáver foi encontrado, diz que seria engraçado se o corpo de seu antigo amor tivesse sido preservado pelo gelo e ainda estivesse como no ano em que a perdeu. Seu sentimento, como sua amante, parou no tempo, continua igual, tanto que, ao receber a notícia, ele se refere à esta como "minha Katya", como se tivesse sido ontem que ainda a tivera consigo). A revelação da permanência do sentimento, bem como da influência dele nas decisões do casal, faz com que a esposa, Kate, passe a questionar não só a relação, como sua própria vida. O que fez, o que deixou de fazer, o tempo que passou.
Charlotte Rampling está memorável, talvez no melhor desempenho de sua carreira. Seus olhares mostram a gradual perda da resiliência da personagem perante a situação que se mostra a sua frente. A maior parte do tempo, Kate tenta parecer não se importar com o que ocorre e nota, mas a revelação de mais e mais verdades faz com que ela perca tal posição de distanciamento, gerando algumas das melhores cenas do filme
Em relação a estas, creio que quatro mereçam grande destaque: a cena da dança dos protagonistas (no que parece o único momento de menor tensão do filme, filmado com um enquadramento deslocado, de forma a não permitir total catarse), a cena em que Kate olha fotos antigas da namorada morta do marido (descobrindo como a relação deles poderia ter afetado um fator essencial de sua relação), o diálogo em que ela espõe suas frustrações perante as coisas que a semana lhe revelou (tal momento apresenta uma mudança que ditará todo o ato final, que se apresenta tanto como antítese quanto como síntese do filme), e a última cena (que sutilmente representa a mudança que o ocorrido causou na relação).
Tal cena, aliás, apresenta um dos usos mais inteligentes de trilha dos últimos anos. A música "Smoke Gets in Your Eyes" (que o casal dançara em seu casamento, e dança em suas bodas de platina) serve tanto para apontar as mudanças emocionais ocorridas entre os dois eventos (o efeito do tempo sobre o casal) quanto para sintetizar o que ocorre no último ato.
Após diálogo citado anteriormente, onde a protagonista diz que eles deveriam seguir com suas vidas, ignorando, o marido leva a serio tal desejo: na manhã da comemoração, finge que tudo continua igual, que o passado ficou no passado. Kate, porém, parece perder a habilidade de distanciamente, de fingir que tudo está bem. Ou simplesmente se sente tão ferida que para de se importar com as aparências, mantendo um olhar melancólico durante todo o ato final. A festa, o discurso do marido, tudo soa impregnado de hipocrisia para ela, culminando na cena derradeira, onde o casal dança a música de seu casamento. Aos poucos, a câmera se aproxima deles, revelando a tristeza no olhar da protagonista, perante a acepção da ideia de que viveu uma mentira. Quando, ao fim da música, o marido dá suas mãos com as dela e as levanta, Kate puxa o braço, parecendo aterrorizada e irritada, como se a fumaça que cobrira seus olhos por 45 anos finalmente entrasse nos mesmos, expondo mentiras e a deixando à beira das lágrimas.
Acima das Nuvens
3.6 400Assisti hoje e achei excelente. Binoche está ótima, como sempre, e prova novamente que é das melhores atrizes de sua geração, Kristen Stewars sua melhor interpretação até o momento, muito superior à que estamos acostumados (ainda que afetada por alguns maneirismos, como suas caras e bocas). O filme trabalha de forma muito interessante e sutil a passagem do tempo, suas mazelas e a dificuldade que as pessoas tem em aceitá-las, focando nas pessoas que trabalham com a sua imagem - as atrizes (nesse ponto, inclusive, é possível traçar um paralelo entre a personagem de Maria Enders e a personagem Myrtle Gordon, do filme Noite de Estréia de John Cassavetes, ambas atrizes lidando, cada qual de sua forma, com ação do tempo ao se verem refletidas nos personagens os quais interpretam).
Outro ponto interessante a ser destacado é como a peça "Maloja Snake" reflete a situação da protagonista. Em Maria coexistem as duas personagens da obra: Sigrid e Helena. Sigrid, personagem jovem, poderosa e manipuladora, interpretada por Maria aos dezoitos anos, um papel decisivo para sua carreira e, de certa forma, também decisivo para sua formação como pessoa. Helena, a personagem de meia-idade, destrutiva, fraca e vulnerável, que reflete o estado atual da atriz, ao mesmo tempo que representa algo que ela tem pavor de se tornar (o que é a principal razão para sua recusa inicial ao papel). Maria insiste em se apegar a Sigrid no presente como uma forma de negar o quanto sua vida se aproxima da Helena (porém, será revelado posteriormente que ambas as personagens são a mesma pessoa. O tempo tornaria Sigrid em outra Helena).
Pode-se notar também que há muito do relacionamento de Sigrid e Helena na relação de Maria e Valentine, sua assistente. Por vezes, quando atriz e assistente ensaiam as falas da peça o espectador pode se enganar e pensar que está presenciando um diálogo real entre as intérpretes.
Enfim, é um filme com diversas camadas (metalinguísticas, filosóficas) é difíceis de dissertar sobre, acho que ainda preciso absorver mais da obra. Por hora, me contento por ter sido esse trabalho tão interessante de Assayas o primeiro filme que vi no cinema em 2015.
Cópia Fiel
3.9 452 Assista AgoraCada vez mais me encontro apaixonado pelo cinema de Abbas Kiarostami. Da primeira vez que assisti à este filme minha apreciação em relação à ele não fez jus a belíssima obra que é. Juliette Binoche, mais bela e vulnerável do que nunca, entrega um de seus melhores desempenhos (o que não é pouco, considerando que esta talvez seja a melhor atriz em atividade), atuando de forma incrível em três idiomas diferentes (Inglês, francês e italiano). Em sua primeira obra fora do Irã, Kiarostami constrói um fantástico filme-mistério partindo do que, supostamente, seria o mais comum dos temas: A relação entre um homem e uma mulher. Com base nisso, o diretor tece um roteiro brilhante e dúbio, permeado de diálogos filosóficos sobre o valor da obra de arte, que disseca as diversas camadas sentimentais dos personagens, expondo contradições, frustrações e ilusões (as doces, as perdidas) destes. Uma verdadeira obra de arte, uma obra-prima. Com cópia fiel e certificada.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista Agora"Devore-me. Deforme-me à sua imagem para que ninguém, depois, possa entender o porquê de tamanho desejo. Nós ficaremos sozinhos, meu amor. A noite não acabará. O dia não nascerá mais para ninguém. Nunca. Nunca mais. Enfim."
Crimes e Pecados
4.0 184Reassisti hoje e se tornou top 4 meu do Woody. Simplesmente uma das obras mais geniais dele. É incrível como o Allen balanceia o teor trágico do drama pesado de uma parte com a comédia de costumes da outra sem nunca perder a mão, conseguindo ainda inserir perfeitamente tema filosóficos, com forte influência dostoievskiana (retomada posteriormente em Match Point), como o relativismo ético e a moral judaico-cristã. Obra-primíssima.
Morte em Veneza
4.0 210 Assista Agora"- Beleza. Quer dizer, o 'seu' conceito espiritual de beleza.
-Mas você nega a habilidade do artista em criar a partir do espírito?
- Sim, Gustav, é exatamente o que eu nego.
-Então, a seu ver, nosso trabalho, como artistas, é...
-Trabalho, exatamente! Você realmente acredita que a beleza possa ser fruto do trabalho?
-Sim... Sim, acredito.
- É assim que nasce a beleza. Assim. Espontaneamente, indiferente ao seu trabalho e ao meu. Ela preexiste à nossa presunção de artistas. Seu grande equívoco, meu caro amigo, é considerar a vida, a realidade, como uma limitação.
-E ela não consiste nisso? A realidade apenas nos distrai e degrada. Sabe, às vezes penso que os artistas mais se parecem com caçadores que miram no escuro. Nem sabem qual é seu alvo, tampouco se o atingiram. Mas não se pode esperar que a vida ilumine o alvo e estabilize sua mira. A criação da beleza e da pureza é um ato espiritual.
- Não, Gustav. Não! A beleza pertence aos sentidos. Somente aos sentidos!
- Não é possível alcançar o espírito através dos sentidos. Não é possível. É somente através do absoluto controle dos sentidos que se pode algum dia, alcançar sabedoria, verdade e dignidade humana.
-Sabedoria? Dignidade humana? Para que servem?O gênio é uma dádiva divina. Não!Uma aflição divina. Uma chama breve e pecaminosa de dons naturais.
-Rejeito as virtudes demoníacas da arte.
- E isso é um erro! O mal é necessário. É o alimento da genialidade.
(...)
- Sabe, Alfred, a arte é a fonte mais elevada de educação, e o artista tem que ser exemplar. Deve ser um modelo de equilíbrio e força. Ele não pode ser ambíguo.
- Mas a arte é ambígua. E a música é a mais ambígua de todas as artes. É a ambigüidade transformada em ciência."
Edifício Master
4.3 372 Assista AgoraTenho esse filme baixado há uns 3 anos e vivo adiando para ver. Hoje o assisti finalmente e me arrependi de não tê-lo visto o quanto antes. Acho que é impossível eu não gostar de alguma coisa do Coutinho, todos os documentários que vi dele entraram para minha lista de favoritos. Mesmo amando todos os que vi dele, esse foi o que mais gostei até o momento. A facilidade com que as pessoas contam suas histórias para o diretor e,consequentemente, para a platéia, torna quem assiste quase que um confidente dos moradores. São pessoas comuns, "pessoas como você e eu" como diz o próprio cartaz, sentimos através de suas histórias a solidão, o medo, o saudosismo por memórias que nem nossas são, o medo, a melancolia, o arrependimento, e até o amor. Edifício Master é sensacional por isso, por tratar com tanto carinho e importância as dores e alegrias de pessoas que encontramos todos os dias, no nosso cotidiano (e até dentro de nós mesmos).
Alice nas Cidades
4.3 96 Assista Agora"-Assim que você sai de Nova York, nada muda. Tudo é igual. Não se pode pensar em nada... nem que as coisas poderiam mudar. Perdi completamente as referências.Pensei que poderia continuar assim pra sempre. Algumas noites estava certo de que voltaria na manhã seguinte. Mas então seguia em frente... ouvindo esta rádio horrorosa. À noite, no hotel, que não era diferente dos outros...via esta TV desumana. Não tinha contato com o mundo.
-Você fez isso há muito tempo. Não é preciso viajar pela América para isso.Você perdeu o rumo quando perdeu seu sentido de identidade.E isso aconteceu há muito tempo.Por isso precisa sempre de provas, provas de que ainda existe.Suas histórias e suas experiências...você as trata como ovos crus.Como se apenas você experimentasse as coisas.Por isso fica tirando essas fotos.Para provar depois que foivocê quem realmente viu algo.Por isso veio.Assim alguém te escutaria e às suas histórias...que você realmente conta a si mesmo.Como se só a fuga não fosse suficiente.
-É verdade. As Polaroids são uma espécie de prova.Esperando que uma foto apareça, já me senti várias vezes inquieto.Não podia esperar para comparar a foto com a realidade. Mas compará-las não me acalmava.As fotos nunca pegam a realidade."
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraQuando vi Persona pela primeira vez tinha 13 anos e detestei. Me chamou a atenção uma foto das duas protagonistas que vi numa edição do 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, então baixei e assisti. Até então, minha visão de cinema era completamente diferente, me lembro de ter me sentido entediado e enfurecido ao fim por não ter compreendido o filme direito. Nutri um pouco de ódio por Ingmar Bergman e pelo cinema europeu na época. Eu era realmente imaturo.
Com o tempo, o modo como eu via a sétima arte se modificou drasticamente, me apaixonei pelo cinema europeu e me peguei dando uma nova chance à Bergman, quando assisti a'O Sétimo Selo. Depois deste, apaixonei-me também pelo diretor e a maior parte de seus filmes. Menos Persona, do qual eu ainda guardava um pouco de ódio. Vi-o pela segunda vez no ano passado e foi como assistir à um filme totalmente diferente. O que absorvi da obra dessa vez foi algo muito maior, muito mais forte. Porém, apesar de apreciá-la mais, não conseguir gostar dela completamente, apreciar como realmente deveria ser apreciada.
Desde então o filme cresceu em minha cabeça, até que decidi por fim assisti-lo pela terceira vez hoje. É incrível o poder que Persona tem de se metamorfosar em minha percepção ao longo do tempo, pois desta vez me apaixonei pelo filme, pelas atuações, pela fantástica fotografia, pelos significados ocultos que captei, e ainda por aquilo que não compreendi, mas gostei do mesmo modo.
Com 14 palavras, Liv Ullmann (que nesses anos, tornou-se minha atriz favorita) entrega uma atuação antológica, dando à Elisabet uma densidade única construída como um quebra-cabeça utilizando-se praticamente de olhares. Bibi Andersson constrói Alma de forma igualmente impecável.
Pra mim, as duas mulheres as quais somos apresentando no início do filme são realmente duas mulheres. À partir daquela cena em que Elisabet está no quarto, sozinha na cama, e o ambiente começa gradualmente à escurecer a personagem adormece e entramos no território do sonho da personagem, daqui pra frente, a atriz usa das imagens das pessoas que a cercam, tanto Alma quanto a doutora, para externar seu subconsciente no ambiente onírico, note como o monólogo da médica reflete exatamente os sentimentos da protagonista.
Alma talvez represente os desejos não satisfeitos da protagonista, uma Elisabet sem máscaras, livre de suas "personas". Na psicanálise analítica, persona é "função psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social", Alma é quem Elisabet seria se não tivesse que renegar seus desejos em prol de se adaptar ao mundo.
O monólogo de Alma em que ela descreve a experiência sexual com os adolescentes e o subsequente aborto representa a realização de dois desejos da atriz: a satisfação sexual e se livrar do filho que ela não queria.
Essa cena permite fazer uma análise diferenciada do título brazuca do filme, o pecado das duas mulheres é o mesmo: ser mulher. O desejo sexual é uma coisa que a sociedade tende à condenar em mulheres e relevar, até incentivar, nos homens. Enquanto a rejeição à maternidade é tido como um crime monstruoso, a rejeição à paternidade não é nem de perto tão mal vista pela sociedade quanto a outra.
Quando Elisabet acorda na cama do hospital no final do filme ela desperta do sonho e por fim fala, em seguida deita na cama novamente e voltamos para a ilha, voltamos para o ambiente onírico. Neste, os desejos da personagem tem sua revolta final contra ela, agredindo-a e por fim, separando-se dela. Se isso representa que os desejos a abandonaram ou que eles se libertaram para dentro dela, buscando a externação no mundo real, não tenho certeza, mas acredito mais no segundo.
Aos que assistiram à essa obra-prima e gostaram, assistam novamente, pois é uma daquelas obras que a cada vez que é revisitada você absorve mais. Aos que não gostaram, façam como eu, deixem o tempo agir sobre vocês, reassistam Persona quando sentirem-se prontos, a segunda vez muito provavelmente será infinitamente mais gratificante
O Espelho
4.3 264 Assista Agora"Não se pode escrever por dinheiro. Escrever é um ato de coragem. A obrigação do poeta é causar emoções espirituais, não educar idólatras."
Getúlio
3.1 383 Assista AgoraCoisas que eu aprendi com esse filme:
-Getúlio não se matou de verdade, ele se mudou para a Inglaterra e se tornou o cineasta responsável por obras como Janela Indiscreta, Disque M Para Matar e Psicose (que foi sutilmente referenciada em uma das cenas do filme)
-Até Vargas sabia valorizar uma boa carne Friboi
-O real motivo do suicídio de Vargas foi o simples fato de que não deixavam ele dormir.
-Achei a Mata Atlântica, tá nas costas do presidente!
-O sotaque gaúcho do presidente era esporádico. Ainda assim, essa música tem tudo a ver com ele: https://www.youtube.com/watch?v=owL-c0CQubo
Enfim, teria sido melhor ir ver o filme do Pelé (se bem que ele estava no filme, provando que nasceu velho e que trabalhava na guarda do presidente)
Cenas de um Casamento
4.4 232Um dos meus filmes favoritos do Bergman. O roteiro é genial, incrível como ele consegue trabalhar ao mesmo tempo a construção dos personagens, a decomposição das relações e uma critica sutil à burguesia. Enfim, uma obra-prima
"Somos analfabetos emocionais. Aprendemos anatomia e métodos de cultivo na África, sabemos fórmulas matemáticas de cor e salteado. Mas não nos ensinaram nada sobre nossas almas. Somos tremendamente ignorantes sobre o que move as pessoas."
Sonata de Outono
4.5 492https://www.youtube.com/watch?v=vFLIbSbXCzs
Ouvi esse prelúdio do Chopin ontem tive vontade de reassistir. A revisão já estava na minha cabeça desde a primeira vez que vi. Cresceu MUITO no meu conceito, tinha apenas gostado quando o assisti pela primeira vez, dessa vez amei o filme. Ingrid e Liv estão destruidoras, acho, inclusive, essa a grande atuação da carreira da Ingrid, o modo como ela constrói a Charlotte através de olhares é incrível. Porém, prefiro a atuação da Liv, a cena em que elas estão à mesa e a Eva despeja suas mágoas reprimidas é a segunda melhor amostra do talento da Liv que eu já vi, só perdendo para Face a Face. A fotografia é outra coisa maravilhosa (as cenas finais com Eva caminhando em pleno outono são lindas demais), o uso dos closes é genial, e o roteiro é um dos melhores do Bergman. Recheado de diálogos brilhantes ("Será que uns têm mais talento para viver do que outros?" "Será a infelicidade da filha a satisfação da mãe?"), Höstsonaten se tornou não só um dos meus Bergmans favoritos, mas também um dos meus filmes favoritos.
A sequência em que elas tocam pianos juntas é de uma tensão construída com tal simplicidade que apenas um gênio como Bergman poderia fazer
Trinta Anos Esta Noite
4.3 142Trilha sonora fantástica (poucas músicas me trazem tão facilmente o sentimento de melancolia quanto a Gnossienne nº1) e diálogos geniais. Se tornou instantaneamente um dos meus filmes favoritos.
"A vida passa muito devagar para mim. Então eu a acelero. A corrijo.”
"Eu me mato porque não me amaram, porque não os amei. Eu me mato porque nossos vínculos eram fracos, para fazê-los fortes. Deixo a vocês uma marca indelével."
Amor
4.2 2,2K Assista AgoraDuas horas de dor, tristeza e angústia com um pouco (ou muito) de amor diluído em meio a essas sensações. Um dos retratos mais verdadeiros do sentimento já feitos pelo cinema.
Adeus, Meninos
4.2 257 Assista AgoraAquele final. Um das mais tristes trocas de olhares da história do cinema, senão a mais triste.
Billy Elliot
4.2 967 Assista AgoraLindo demais. Lembro de assistir da primeira vez com mais ou menos 8 anos numa daquelas sessões da Globo e ficar encantado. Amei ainda mais quando o reassisti anos depois, se tornou um dos meus favoritos, um daqueles filmes que eu queria viver dentro.
A história é emocionante, o final é maravilhoso e me toca como poucos outros.
A trilha sonora é fantástica. Essa música ♥
http://www.youtube.com/watch?v=iDcOnR03Tw4
Amores Imaginários
3.8 1,5KO filme é belo esteticamente (a fotografia é uma coisa linda) e interessante na premissa, mas não gostei do modo como se desenrola.
Dolan deve ter tido muita dificuldade para conseguir os direitos de "Bang Bang" e quis comemorar, porque só isso (além de mão pesada na direção) explica o uso repetitivo e exaustivo da música.
O uso dos depoimentos foi uma ótima sacada ("Glenn Close, em 'Atração Fatal'. Esta sou eu."), acabei me interessando mais por eles do que pela história do filme.
A Noite
4.2 103"-A vida seria suportável se não existissem os prazeres.
-Ideia sua?
-Não, não tenho mais idéias. Tenho apenas memória."
Blue Jasmine
3.7 1,7K Assista Agora"Anxiety, nightmares and a nervous breakdown, there’s only so many traumas a person can withstand until they take to the streets and start screaming."
Hannah e Suas Irmãs
4.0 293Valheria a pena nem que fosse só por ter este poema:
"nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas"
Frances Ha
4.1 1,5K Assista Agorahttp://www.youtube.com/watch?v=DKRE4J8Iq60 <3
Gritos e Sussurros
4.3 472Um estudo em vermelho sobre a alma humana. Fantástico filme, de uma beleza incomparável, lindíssima fotografia, atuações perfeitas (com destaque para Harriet Andersson, que me fez sentir a dor da personagem à cada contorção e grito de Agnes). Difícil de ver, mas valhe cada segundo do esforço.
O monólogo final é lindo
"Quarta, 3 de setembro.
O cheiro do outono enche o ar claro e parado... mas é suave e delicado. Minhas irmãs Karin e Maria vieram me ver. É maravilhoso estarmos juntas de novo como antigamente, e eu me sinto muito melhor. Até conseguimos fazer uma caminhada juntas. Foi um acontecimento para mim... sobretudo porque não saio há tanto tempo. De repente, começamos a rir e a correr em direção do balanço que não víamos desde a nossa infância. Nós nos sentamos nele como três boas irmãs e Anna nos balançou, devagar e delicadamente. Todas as minhas dores se foram. As pessoas que eu mais amo em todo o mundo estavam comigo. Podia ouvi-las conversando ao meu redor. Podia sentir a presença dos seus corpos... o calor das suas mãos. Queria prender aquele momento fugaz e pensei: ‘Haja o que houver isto é felicidade. Não posso desejar nada melhor. Agora, por alguns minutos posso viver a perfeição. E eu me sinto profundamente grata à minha vida que me dá tanto'".
Magnólia
4.1 1,3K Assista Agora"No, it's not going to stop,
Till you wise up.
No, it's not going to stop,
So just give up."
O melhor filme do sempre fantástico Paul Thomas Anderson. Três horas que passam voando. Cada diálogo, a trilha sonora, a simbologia, tudo isso se junta para compor uma magnífica obra-prima.
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A cena em que o diretor coloca os personagens para cantar Wise Up junto da trilha sonora é antológica.
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