O roteiro de uma cidade pequena em que um crime ou uma série de crimes faz vir à tona toda uma série de contradições, hipocrisias, crises, traições de uma comunidade é algo que provavelmente você já viu N -1 vezes. O que há de diferente aqui é a intensidade das mulheres da série sobretudo da Kate Winslet que faz o papel de uma mulher forte, sensível, ética, contraditória e plural. Não achem que encontrarão um grande roteiro, uma grande fotografia ou uma grande direção. Há sobretudo uma rica e complexa construção de personagem e uma ótima interpretação da protagonista.
Vou destacar apenas o que achei positivo na série: 1. mulheres fortes e inteligentes e homens fracos e bobos. Kleo, Ramona, Min, Brigitte e até mesmo a Margot Honecker são mulheres fortes. Os homens são patéticos nessa série. 2. A ambientação da Berlim do fim dos anos 1980 e início dos 1990 com os famosos prédios brutalistas de concreto da Alemanha Oriental, os papéis de parede, a ostalgie - estética de filmes sobre a DDR (longe da ostalgie alegre de Adeus Lênin ou do lado sombrio de A vida dos outros); 3. A trilha techno alienígena e até mesmo Scorpions em russo. O lado negativo: o roteiro é filme de ação americano demais no pior sentido do que isso signifique. Embora às vezes isso apareça de forma irônica e em tom de humor negro. Da perseguição de carro aos superpoderes intuitivos da Kleo.
O Brasil devia conhecer mais a obra de Virginie Despentes. A série me fez lembrar a obra de um outro escritor francês: Georges Perec. A série de fragmentos do passado que retornam das formas mais diversas não deixa ter uma referência à "Vida-Modo de Usar" do Perec. Achei Romain Duris maravilhoso interpretando Vernon. É uma série sobre um mundo que não existe mais. O mundo das lojas de LP e tudo que habitava no entorno. Me fez lembrar de shows nos sábados à tarde em frente da loja de livros e discos usados Baratos da Ribeiro em Copacabana, no Rio. Mas há algo além. Por aquilo que a sociedade rejeita, é possível ler a própria sociedade. E Vernon, um rejeitado, consegue ver o mundo de fora dele, em pequenos fragmentos. E há sempre algo do passado que quer ser escondido, algo que mesmo com todas as mudanças, resiste, e algo que carregaremos como uma enorme nostalgia, mas que nos constitui.
O episódio com Jude vale a temporada inteira. Interpretação foda, personagem complexo, um roteiro bem construído. Mas de uma forma geral é uma série bastante irregular. Tem um lado "mistura de culturas, pessoas, origens" sobre o jazz que é lindíssimo. Em geral filmes sobre jazz se concentram em subúrbios nova-iorquinos ou americanos e em bares esfumaçados. Esse tem leste europeu, países árabes, franceses, latinos. Mas a trama policial cansa. Estica. Não se resolve. Poderia ter mais Paris. Poderia ter menos esse lado de série policial.
Um menino chato. Violento. Machista. Agride a mãe várias vezes. Mimado. Um roteiro descuidado. Parece que a única angústia de crescer/morar numa base militar é resolvida nas festas na praia e na piscina. Há ainda um olhar caricato de como as italianas desejam os americanos. Aliás, a Itália fica parecendo a praia de Jericoacoara nessa série.
Ninguém anda de metrô. Todo mundo usa roupa diferente todos os dias. As mulheres usam salto de manhã, de tarde e de noite. Paris ficou parecendo um Shoping Center de rico. White people problems.
A série já poderia ser considerada excelente por conseguir no drama humano mostrar as contradições das personagens sem qualquer heroísmo nem vitimismo e no drama histórico por manter as contradições dos fatos narrados sem nenhuma preocupação de um encadeamento lógico e coerente. Mas o peso da narrativa está em trazer Dörte Helm como protagonista dando um reconhecimento histórico a quem na historiografia oficial da Bauhaus acabava sendo sempre colocada em segundo plano em relação a Walter Gropius, Kandinsky, Klee etc. Há outros nomes importantes que a série deu o devido reconhecimento como Johannes Itten e Gunta Stölzl. O único ponto fraco é que o roteiro não trouxe muita ousadia colocando as memórias a partir de uma entrevista com Gropius, embora isso não comprometa a tentativa de apresentar diferentes pontos de vista.
Wachowskis bebem numa fonte teórica de autores do pós-humano a partir das tecnologias como Skirky, Castells, Levy, Baudrillard e enchem a série de referências acadêmicas. A ideia de que é possível conectar pontos positivos de pessoas de outros espaços para sanar nossas fraquezas é bem desenvolvida na série. Mas pq só se acessa o lado positivo e não o lado negativo? Pq o outro a quem estão conectados só vem para os salvar? O ser humano perfeito seria aquele que reunisse o somatório de 8 identidades diferentes? Não seria então mais frágil já que seria 1/8 de alguém bem diferente do super-homem que reuniria todas as qualidades sobrenaturais num único ser? É uma ótima série já que as personagens são instigadas em todo episódio a tomar decisões morais e pessoais entre o certo, o talvez certo e o correto, longe da dicotomia banal do bem contra o mal. Há ainda uma permanente referência a Blade Runner quando as personagens são instigadas a descobrir de onde vem. Gostei do protagonismo de uma transexual. Os maiores momentos frágeis da série, a meu ver, são os exageros do modelo "no último segundo que a bomba for explodir vem alguém/acontece algo e faz o impossível". É o momento Rambo. O momento Rocky Balboa. Não sei porque insistem em momentos assim meio True Lies.
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The Idol (1ª Temporada)
1.7 146 Assista AgoraDe longe, a pior série que eu já vi.
Mare of Easttown
4.4 654 Assista AgoraO roteiro de uma cidade pequena em que um crime ou uma série de crimes faz vir à tona toda uma série de contradições, hipocrisias, crises, traições de uma comunidade é algo que provavelmente você já viu N -1 vezes. O que há de diferente aqui é a intensidade das mulheres da série sobretudo da Kate Winslet que faz o papel de uma mulher forte, sensível, ética, contraditória e plural. Não achem que encontrarão um grande roteiro, uma grande fotografia ou uma grande direção. Há sobretudo uma rica e complexa construção de personagem e uma ótima interpretação da protagonista.
Kleo (1ª Temporada)
3.8 32 Assista AgoraVou destacar apenas o que achei positivo na série: 1. mulheres fortes e inteligentes e homens fracos e bobos. Kleo, Ramona, Min, Brigitte e até mesmo a Margot Honecker são mulheres fortes. Os homens são patéticos nessa série. 2. A ambientação da Berlim do fim dos anos 1980 e início dos 1990 com os famosos prédios brutalistas de concreto da Alemanha Oriental, os papéis de parede, a ostalgie - estética de filmes sobre a DDR (longe da ostalgie alegre de Adeus Lênin ou do lado sombrio de A vida dos outros); 3. A trilha techno alienígena e até mesmo Scorpions em russo. O lado negativo: o roteiro é filme de ação americano demais no pior sentido do que isso signifique. Embora às vezes isso apareça de forma irônica e em tom de humor negro. Da perseguição de carro aos superpoderes intuitivos da Kleo.
Vernon Subutex
4.0 1O Brasil devia conhecer mais a obra de Virginie Despentes. A série me fez lembrar a obra de um outro escritor francês: Georges Perec. A série de fragmentos do passado que retornam das formas mais diversas não deixa ter uma referência à "Vida-Modo de Usar" do Perec. Achei Romain Duris maravilhoso interpretando Vernon. É uma série sobre um mundo que não existe mais. O mundo das lojas de LP e tudo que habitava no entorno. Me fez lembrar de shows nos sábados à tarde em frente da loja de livros e discos usados Baratos da Ribeiro em Copacabana, no Rio. Mas há algo além. Por aquilo que a sociedade rejeita, é possível ler a própria sociedade. E Vernon, um rejeitado, consegue ver o mundo de fora dele, em pequenos fragmentos. E há sempre algo do passado que quer ser escondido, algo que mesmo com todas as mudanças, resiste, e algo que carregaremos como uma enorme nostalgia, mas que nos constitui.
The Eddy
3.9 24 Assista AgoraO episódio com Jude vale a temporada inteira. Interpretação foda, personagem complexo, um roteiro bem construído. Mas de uma forma geral é uma série bastante irregular. Tem um lado "mistura de culturas, pessoas, origens" sobre o jazz que é lindíssimo. Em geral filmes sobre jazz se concentram em subúrbios nova-iorquinos ou americanos e em bares esfumaçados. Esse tem leste europeu, países árabes, franceses, latinos. Mas a trama policial cansa. Estica. Não se resolve. Poderia ter mais Paris. Poderia ter menos esse lado de série policial.
We Are Who We Are (1ª Temporada)
3.8 132Um menino chato. Violento. Machista. Agride a mãe várias vezes. Mimado. Um roteiro descuidado. Parece que a única angústia de crescer/morar numa base militar é resolvida nas festas na praia e na piscina. Há ainda um olhar caricato de como as italianas desejam os americanos. Aliás, a Itália fica parecendo a praia de Jericoacoara nessa série.
Emily em Paris (1ª Temporada)
3.6 392 Assista AgoraNinguém anda de metrô. Todo mundo usa roupa diferente todos os dias. As mulheres usam salto de manhã, de tarde e de noite. Paris ficou parecendo um Shoping Center de rico. White people problems.
Bauhaus: A New Era (1ª Temporada)
4.4 6A série já poderia ser considerada excelente por conseguir no drama humano mostrar as contradições das personagens sem qualquer heroísmo nem vitimismo e no drama histórico por manter as contradições dos fatos narrados sem nenhuma preocupação de um encadeamento lógico e coerente. Mas o peso da narrativa está em trazer Dörte Helm como protagonista dando um reconhecimento histórico a quem na historiografia oficial da Bauhaus acabava sendo sempre colocada em segundo plano em relação a Walter Gropius, Kandinsky, Klee etc. Há outros nomes importantes que a série deu o devido reconhecimento como Johannes Itten e Gunta Stölzl. O único ponto fraco é que o roteiro não trouxe muita ousadia colocando as memórias a partir de uma entrevista com Gropius, embora isso não comprometa a tentativa de apresentar diferentes pontos de vista.
Troia: A Queda de uma Cidade
3.1 55Uma das maiores narrativas da história da humanidade transformada numa novela da TV Record...
Sense8 (1ª Temporada)
4.4 2,1K Assista AgoraWachowskis bebem numa fonte teórica de autores do pós-humano a partir das tecnologias como Skirky, Castells, Levy, Baudrillard e enchem a série de referências acadêmicas. A ideia de que é possível conectar pontos positivos de pessoas de outros espaços para sanar nossas fraquezas é bem desenvolvida na série. Mas pq só se acessa o lado positivo e não o lado negativo? Pq o outro a quem estão conectados só vem para os salvar? O ser humano perfeito seria aquele que reunisse o somatório de 8 identidades diferentes? Não seria então mais frágil já que seria 1/8 de alguém bem diferente do super-homem que reuniria todas as qualidades sobrenaturais num único ser? É uma ótima série já que as personagens são instigadas em todo episódio a tomar decisões morais e pessoais entre o certo, o talvez certo e o correto, longe da dicotomia banal do bem contra o mal. Há ainda uma permanente referência a Blade Runner quando as personagens são instigadas a descobrir de onde vem. Gostei do protagonismo de uma transexual. Os maiores momentos frágeis da série, a meu ver, são os exageros do modelo "no último segundo que a bomba for explodir vem alguém/acontece algo e faz o impossível". É o momento Rambo. O momento Rocky Balboa. Não sei porque insistem em momentos assim meio True Lies.