evidente que precisa passar pelo teste do tempo. não duvido - no entanto - que entre no hall de "clássicos de matinê" em um perfil parecido com "conta comigo". muito bonito dentro da sua simplicidade e as camadas são dispostas com tanta delicadeza que cada uma vai soando como um abraço (ainda quando os temas são mais dos mais difíceis).
se tirar as "cenas polêmicas" não sobra muita coisa. existia um bom potencial narrativo que não chega a ser explorado em momento algum e tem uma sequência de cenas que se tornam o "choque pelo choque". vira um show de perfumaria estética e sobra o barry keoghan que ainda entrega um bom trabalho de estudo de personagem, mas o filme - que é ruim - não ajuda.
sofia coppola mais "para dentro" do que o de costume. reconheço que o material não era fácil e tem um detalhe ou outro bem inspirado. mas, infelizmente, me soa o filme de um(a) diretor(a) com a assinatura tão forte que isso se sobrepõe ao material e cria uma dificuldade enorme de gerar conexão com filme.
ficou difícil – ao longo das quase 1h30 de filme – não sentir que o kleber mendonça filho em “retratos fantasmas” – independente do tema exposto – não permeava sua narrativa diante de uma amargura quase silente da falta de reconhecimento que abate sua filmografia.
não falo da bolha e nem de quem acompanha cinema com mais assiduidade. kleber tem sido figura recorrente em prêmios internacionais (ainda que – salvo engano – não tenha chegado a ganhar algum) e – claramente – tem sido quase um eremita no deserto artístico que o brasil vive – ainda que aplaudido e louvado pelo mesmo público de sempre.
dito isso, curioso que – logo no filme que ele decide, ora falar um pouco de si, ora um pouco de sua trajetória, bastante da sua relação com o cinema (físico e imaterial) – ele trace uma investigação e quase a conclusão do caso do mal que o “assombra”: o brasil vive uma crise imaginativa e isso o afeta diretamente.
crise talvez soe uma palavra muito diplomática diante do buraco criativo que estamos enterrados. existe uma falência. e kleber mendonça filho faz um meta-filme que registra e estuda a tal falência imaginativa – quase como um análise severa e impotente dos porquês da auto-negligência que acabou sendo a única marca registrada que perpetua um país tão rico.
enquanto narra sua conexão com os ambientes – indiretamente (por vezes direta) – expõe a breguice quase como um projeto de quem ainda não entendeu que a cultura deveria ser um organismo vivo.
é um filme propositalmente confuso, perdido, um retrato de quem absorveu a destruição física dos cinemas e não soube aceitar muito bem. eu compreendo. acredito que não lidaria muito bem também.
em muitas vezes – soa um certo medo dele – kléber – fazer parte da negligência que passou o filme registrando algo que foi descobrindo enquanto rememorava o que o fez ser quem se tornou. um pouco desnorteado, quando sai de si, é quando ele se encontra – como no poema.
lamenta que a “relação fica emotiva e confusa” quando se apega a “um produto”. mas não seria a função dele nesta jornada solitária que cinema – aqui – nem mesmo existe enquanto produto?
eu – honestamente – entendo o desnorte e reconheço a bravura de quem tenta com certa elegância investigar e esclarecer que – faz algum tempo que o brasil não parece gostar de si. temos muitos brincantes e poucos operários da cultura. olhar algo que ama se tornando ruína e continuar aprisionado nesse amor deve ser uma clausura difícil.
mas o Cinema tem um poder alquímico e kleber mendonça filho usa a fantasmagoria como último recurso de salvação de sua frustração não declarada. é quando o filme fica bonito.
a citação ao melodrama no fim do filme é uma prova de que – apesar da natural amargura – ainda existe um caminho: abraçar a fantasia e entender os fantasmas como terrenos férteis para que – apesar da triste falta de pujança geracional para criar novos realizadores – que não mais o sejam. “retratos fantasmas” serve como um bom expurgo, mas kléber é talentoso e experiente o suficiente para saber que suas memórias são melhores quando contadas com o brilho no olho que abraça no tocante final do filme (nem tanto quando murmuradas). mas não deixa de ser uma boa crítica. espero que ele concorra ao oscar – seria justo.
existia o risco de termos dois/três filmes em um: 1) o filme da “Barbie” para as colecionadoras/filme-compensação para quem dita a vida pelo meme do dia seguinte ou termos um grande filme de uma grande diretora e roteirista – greta gerwig – e noah baumbach.
por uma intervenção quase divina, quem minimamente gosta de Cinema conseguiu melhor que a segunda/terceira opção: o roteiro e a condução do filme movem o que poderia ser um grande meme despropositado para agradar a geração Z nesse torpor de tédio que imbui a vida de 95% de quem compõe a existência da humanidade para um filme brilhante a respeito da busca por ser algo.
a sátira e a ironia, tanto quanto o brilhantismo do design de produção (e demais quesitos técnicos), já eram esperados desde os primeiros materiais divulgados. o que surpreende – no fim das contas – é a coragem da greta gerwig de fugir dos caminhos fáceis que fariam o filme ser uma obra-prima anunciada.
ao mencionar mais de 30 clássicos que inspiraram “Barbie” – a priori – existia o conforto (e o “medo”) de que fosse um novo “la la land”: o filme escravo de referências cinematográficas que justificassem a bagunça estilística e o despropósito de sua utilização apenas “por ser”. uma grande bagagem cultural ambulante utilizada em um filme da “Barbie” – considerando o risco de fazer um filme “difícil” (por ser facilmente transformado em uma bomba) – seria uma solução fácil para o maior evento cultural dos últimos anos.
greta gerwig consegue mais: “Barbie” é um filme genuinamente engraçado, bem escrito e – acredite se quiser – longe de ser refém das referências tão exaustivamente citadas ao longo da massiva campanha de marketing.
“Barbie” é o filme pós-pandêmico que finalmente viu a luz do dia. reverente à fantasia que o Cinema sempre utilizou como recurso estilístico para salvar o deserto criativo pós-catástrofe e que se comunica com a geração que parece ter se entregado (até com certo orgulho) ao artificial (seja a “inteligência”, seja ao “artificialismo dos sentidos”).
não que “Barbie” promova uma grande revolução de consciência como um dia “crepúsculo dos deuses” fez. afinal, ainda existe a sombra “millennial” do (podemos ser o que quiser, mas, afinal, o que queremos ser?). no entanto, é louvável que -um filme de boneca-, -de franquia-, te leve a entrar em contato com o de mais orgânico, intangível, belo e profundo que a vida pode oferecer.
depois de “levar a gente para passear”, “Barbie” faz um ode genuíno, verdadeiramente emocionante, aos mais profundos sentimentos que movem uma vida e dão sentido, inclusive, aos objetos materiais que tanto nos apegamos e – acima de qualquer expectativa de disrupção ou quebra paradigma – isso que separa bons de grandes filmes e “Barbie”, definitivamente, é um grande filme.
no meu texto perdido sobre “blonde” – do frank ocean -, lembro de tentar falar da habilidade natural de usar o material (tênis, carros, jogos de videogame etc.) não como objeto palpável de admiração – o materialismo pelo materialismo -, mas do material ser minimamente significativo pela conexão afetiva, amorosa, íntima com o universo vital da pessoa que canta/compõe/cria. por alguma razão, isso tudo me lembrou “close”, filme do “lukas dhont”.
a essa altura, muita gente falou mais, antes e melhor do filme em si e das suas nuances – que é um absurdo de genial e dilacerante. destaco, no entanto, a coragem do lukas dhont de fazer um tipo de filme que parece não existir mais – talvez nem tanto por sua vontade, mas pela impossibilidade temática -: o acompanhamento “contemplativo” de uma emoção (aqui, inúmeras e especialmente difíceis).
acredito que exista em “close” algo mais doloroso que o ato que move o filme em si: a falta de resolução de algo que – de fato – não se “resolve”,
afinal, estamos falando do impacto da morte do melhor melhor amigo de uma criança no seu processo de amadurecimento. não existe “resolução” para esse tipo de coisa. a única é a falta dela e o entendimento de que algumas coisas da vida não se “consertam”.
não à toa, o ato final do filme é -atordoado-, é um registro quase catatônico de uma sensação tão silenciosa quanto angustiante. enquanto “digere” tanta coisa orgânica de sua idade transitória, cruel e demolidora que o “social” promove especialmente aos homens sensíveis, leo – o protagonista -, tenta buscar, na letargia de uma dor fantasmagórica demais para ser dissipada e humana demais para ser exorcizada, o simples: o amigo. que não mais existe.
em uma cena emblemática, a mãe de remy pergunta a leo, enquanto ele visita o antigo quarto do melhor amigo, se ele quer levar alguma coisa. algum brinquedo. algum desenho. enquanto tateia, quase sem tocar e olha profundamente para cada registro do amigo em vida, diz de forma serena que não.
o desfecho, que sucede cenas tão simbólicas quanto, remonta a uma das brincadeiras favoritas dos amigos: correr por um campo de flores.
leo, ao perceber que o amigo já não está ali depois de olhar para trás, diminui o passo, mas segue, dessa vez, caminhando. afinal, o que ele ama, não está mais na matéria.
“resta” que o amor viva na memória (e na sensação daquilo que um dia foi o corpo que causou). ou na percepção dos “objetos” daquilo que o amigo dele amou, que nunca foram legais por serem objetos, mas por serem -coisas- que o amigo dele adorava.
e na infância, percebe-se isso brincando e correndo na euforia dos dias. no “amadurecimento” (cruelmente imposto num mundo que assassina sensíveis), se percebe, inevitavelmente, caminhando e contemplando melancolicamente aquilo que, talvez, já não mais seja.
eu detesto cinebiografia musical. do que consumi, até então, todas – em maior ou menor grau – esbarram na caricaturização dos artistas.
como se, na necessidade profunda de reverenciar física e sonoramente o artista/banda, o excesso de entrega técnica (a voz ficar igual ou bem similar, os “tiques” serem idênticos, a maquiagem exagerar em traços “icônicos” da matéria do cinebiografado) tolhem o que deveria ser a raiz de tudo: sua essência.
quando não, tudo (um filme inteiro) existe para “justificar” um “greatest hits” que vai acertar na nostalgia fácil de um público carente pelo que já não existe e por um novo que, de forma quase preocupante, não conhece um, por exemplo, queen e precisa dessa apresentação – que beira o didático – de um repertório que pavimentou o caminho da música.
o resultado é um anti-filme anêmico (“love & mercy”) que não entrega a gravidade de momentos determinantes na vida da banda/artista ou uma espécie de “imitadores” do “domingão do faustão” com mais orçamento (“bohemian rhapsody”; um dos piores filmes a ser indicado ao oscar).
“elvis” triunfa por, antes de tudo, ser um filme.
dito isso, fui assistir “elvis” com uma má vontade anunciada e terminei devastado e impressionado na mesma medida. pela primeira vez, uma cinebiografia musical tinha me feito perceber que vi um FILME. eu senti coisas. existia uma história a ser contada e não uma desculpa para tocar, sei lá, “suspicious mind” (que toca, inclusive, mas com razão de ser).
a começar pela decisão de o filme ser narrado pelo “vilão” e controverso empresário de elvis, o coronel tom parker, nos dá a dimensão de que algo especial está sendo construído. melhor: baz luhrmann (diretor) faz um exercício de devoção e “humildade” (?) a não querer entrar na mente da, talvez, maior figura americana da música, mas de estudá-lo em suas nuances.
os trejeitos estão ali, a voz, o glamour, a maquiagem, mas não têm a pretensão de criar um vínculo idêntico, afinal, se quero ver os movimentos do elvis presley em sua integridade, o acesso está à distância de um documentário na HBO Max ou de clique no YouTube, não é a ideia aqui.
austin butler (brilhante aqui) está mais preocupado em entender os “locais” (e aqui coloco aspas por não me referir a local geográfico, mas localizações que determinam suas decisões macro (segmentos de carreira) e “micro” (sensualidade quase homo-erótica e necessidade de exaustivamente se submeter ao palco, por exemplo). locais da sua essência enquanto artista e pessoa. dali, ele entrega uma interpretação e não uma imitação. a grande diferença dele para o rami malek, por exemplo.
simbolicamente, no terço final do filme, na angustiante última apresentação do elvis, butler se dá o direito de acrescentar olhares e determinações físicas que não compunham “realisticamente” a apresentação, mas que potencializavam o que o momento precisava transmitir: a despedida deprimente e triunfante de alguém devoto ao “amor” de um público pela ausência de um “amor real”, do amor da sua vida, de sua mãe, dos sonhos não realizados, da aflição e resignação de quem sabia que “não mais”. de um embate emocional entre o glamour dos seus tempos áureos e da decadência de um corpo pedindo para parar (e que veio a parar uma semana depois), mas sustentado por uma voz humanamente incompreensível de tão comovente.
fim triste e brilhantemente conduzido pelo baz luhrmann que, em nome da dignidade e amor pelo biografado, “altera” seu fim. elvis não morre, ele vai para a “pedra da eternidade”, obsessão do rei do rock, ainda menino.
em algum momento, elvis diz a lisa: “vou fazer quase 40 sem ter deixado nada de marcante no mundo”. a cena, devastadora, precede o fim epopeico. antes de tudo, um generoso, que entregou, integralmente, sua alma e seu corpo para o mundo, “elvis” se tornou definitivo, não apenas pelas (grandes) músicas e interpretações que fez na breve vida, mas por ter semeado, quase que magicamente, sua obra e imagem na vida de milhões de pessoas. não foi suficiente para mantê-lo vivo, mas foi o preço que pagou para, enfim, realizar seu sonho: ser eterno.
tento, aqui, a impossibilidade de escrever o inesgotável. “aftersun” se comunica e acolhe a incompreensão das dores e da libertação de uma memória. a esta altura, todos devem saber do que o filme se trata ou mesmo do que ele comunica, mas o filme se debruça e materializa o que sempre se fez inalcançável na trajetória humana: a lembrança da dor mais brusca de uma existência.
“aftersun” é um filme sobre vida humana, sobre resgate: de si, do que se foi e do que poderia ter sido. calum representa o mais fidedigno retrato de uma alma torturada pela depressão e sophie, enquanto criança, a inconsciência do profundo amor benevolente, movida pelo amor divino que move à busca incessante pelo pai (físico e pelo que um pai pode e deveria representar).
propositalmente confuso, “aftersun” é um recorte vívido de memórias, é um tributo aos mais intangíveis sentimentos. sophie cresce e o filme é “narrado” por uma mente traumatizada, embora, compreensiva em aceitar o que jamais poderá ser compreendido.
restam, então, os fragmentos. filmados (e rememorados pelo subconsciente) por uma garota em plena transição de maturidade, mas que, “refém” do amor mais puro que a conduz, busca o pai que está inviabilizado de emergir de suas dores e assistido por uma mulher que se encontra na mesma idade dele quando construiu essas memórias.
das inúmeras e absurdas habilidades de “aftersun”, existe a mais notável: dividir o filme em três. assistir distanciado pelos sentimentos e – da mesma forma – se emocionar, de ser ver como o calum e se ver como a sophie, pois estamos lidando com a mais universal das dores: a partida. das três formas, se trata de uma obra-prima, poucos filmes entenderam tão bem, com tanta sutileza, o que calca a vida.
é estruturalmente diferente de qualquer coisa filmada, é terno como poucos filmes feitos na história, é sutil em suas dores, é fidedigno em suas vulnerabilidades: tal qual a vida. é a gravidade dos acontecimentos, é o retrato do desespero subconsciente pela fragmentação da memória, da vida em si, representada de forma – poucas vezes – tão brilhante.
como a vida, é dilacerante, mas celebratório ao que se entende como memória e o que se ressignifica como dor. “aftersun” é um dos melhores filmes da história do cinema.
um perfil "tela quente" que ajuda a simpatizar com o filme: não ofende, entretém, mas não tem 'gravidade' alguma. isso se avalio o filme, mas enquanto destaque das premiações, indicado ao oscar etc, ocupa aquela cadeira cativa da academia que nem o aumento da diversidade conseguiu eliminar: o tele-filme historiográfico, tecnicamente 'no lugar' que faz o mea culpa americano-conservador.
acredito que nos próximos anos - quando for lembrar quem concorreu a melhor filme em 21 - vai ser o primeiro a ser esquecido.
revisto depois de alguns anos e a confirmação de uma obra-prima do(a) maior diretor(a) da atualidade: sofia coppola.
a habilidade em conduzir pela falta de intervenção onde - de fato - não deve ser conduzido, apenas exposto em sua total falta de substância. filme "vazio", por livremente ser a perfeita exposição do que os personagens são: vazios, tediosos, arrogantes, manipuladores, confusos... chega ser profético considerando a naturalização e endeusamento da estupidez egoica dos tik-tokers hoje.
natural, inclusive, que não seja bem aceito pela adolescência brasileira, ninguém gosta de se ver tão abertamente assim.
enquanto filme-denúncia como estudo de um cenário social-político-religioso caótico e irresoluto é importante - necessário, na verdade -, depois vira uma das piores coisas que vi na minha vida.
acho que existe uma diferença entre a sensibilidade de quem escolhe empaticamente contar a história de uma vida sofrida, condenada à desgraça, horando, de certa forma, sua existência, e isso que o dennis villeneuve nos dois terços finais do filme.
a combinação de eventos trágicos, a escolha a dedo das piores dores que uma pessoa pode como peças perfeitas de um quebra-cabeça que forma quase um megazord da maldade me soam (quase) psicopáticos.
eu entendo e concordo (com ressalvas) que arte não precisa seguir uma cartilha de resolução e pode "servir" ao objetivo de causar algum sentimento, ainda que de repulsa, por exemplo. mas qual a função (não exigindo um sentido utilitarista para o filme) de um quest-movie em que as cartas determinantes para seu avanço sejam ações perturbadoras-graves-reais EM SEQUÊNCIA? EXPLÍCITAS?!
me fez mal! em todos os sentidos. terminei fisicamente enjoado. dizer que esse filme presta um serviço de exposição da maldade do mundo enquanto defesa de tudo de indefensável que houve de escolha narrativa, é dizer que o jornalismo sensacionalista, aquele que mostra pedaços de corpos no meio de estrada quando existe um acidente ou uma cabeça degolada depois de um crime hediondo, presta um serviço respeitoso à vítima e suas famílias por supostamente alertar a sociedade dos limites inexistentes da sordidez humana.
não precisa ter uma sensibilidade muito aguçada para entender que é uma grande mentira, a única função real daquilo é alimentar a curiosidade mórbida de de gente morta por dentro, tal qual esse filme.
o matthew rhys tinha um personagem bem difícil em mãos e não trabalha tão bem, isso atrapalha um pouco o filme (acho que - indiretamente - acaba reforçando o brilhantismo do casey affleck em "manchester by the sea", por exemplo).
no mais, acredito que teremos uma crescente de filmes assim pós-pandemia, um retorno da inocência, de filmes solares e uma lupa em almas "elevadas", como a do mister rogers, um ode aos sentimentos resolutivos, um retorno aos sentimentos básicos do perdão, amor, da fé, um retorno ao passo a passo da humanidade.
de significativo, além de todo zelo visual, a exposição de que a bondade não é e não precisa ser sacra ou uniforme. ela é humana (portanto, instável), alcançável e necessária - só tem estado fora do nosso radar a um bom tempo.
(adoraria, num universo paralelo, resgatar a vida do frank capra para saber o que ele acharia deste filme).
legal esse tarantino mais velho e menos dependente da sanguinaria desmedida (apesar do final). bom filme de amizade e brad pitt nasceu para esse tipo de personagem.
muito menos por mérito e mais por acidente, "a ascensão skywalker", se de bom fez algo a saga (ou a essa trilogia) foi ser espelho de uma geração sem identidade.
a essa altura do campeonato, todos sabem das influências externas que indicaram as mudanças de rumo do último capítulo da saga. absolutamente desprezível. mas, sendo isso o que temos, e o filme sendo quando um pedido de desculpas a qualquer pessoa que estivesse assistindo, sobra uma cena emblemática e símbolo dessa mea culpa (e uma das poucas não-desconexas) em que o poe dameron assume ao corpo da leia que, um pouco antes da batalha final, que não sabe o que fazer.
é bonito e louvável. quase na mesma medida do kylo ren (o grande personagem da nova trilogia) não saber durante os 3 filmes se quer ser o vilão (apesar de toda mística que o circunda), rodeado pela dor que - pelas tantas - descobrimos que tem muito a ver com abandono paterno-materno, movido pela mágoa do tio que, em vez de modelo, teve dúvida da personalidade errática do sobrinho. o suficiente para criar o vilão millenial perfeito que se rende ao descontrole, frustrado por não ter 1/3 da "elegância" do vilão clássico do cinema que em 70 foi representado perfeitamente pelo darth vader, escravo do passado, em constante crise de identidade, o personagem do adam driver (que começa na personalidade e termina na roupa), afogado numa arrogância tão profunda não por querer dominar a galáxia, mas por ter raiva do pai e sentir saudade da mãe. pode parecer besta, considerando que o pano de fundo do filme envolve a sobrevivência da galáxia-poder-política (temas macro, "importantes"). mas, o grande vilão, escolhe não sê-lo, no seu grande desfecho, se desfaz de sua arma (mal feita, sem propósito), tenta dizer que ama o pai, chora e absorve o amor da mãe que entregou a vida por ele. prefere se redimir e ir atrás da garota que ama.
é frustrante, tanto quanto fascinante. como foi luke skywalker, maior símbolo de esperança da galáxia, revelar ao mundo que falhou, que um erro seu custou a paz que devia ser o seu mote e causou o contrário do que deveria promover = a ordem, a maior lição do luke skywalker foi o fracasso. é chocante, mas é real, as coisas, às vezes, não saem como esperamos.
é estranho, como ver a rey, uma filha de ninguém (ou neta do imperador - isso não importa) ignorar a linhagem sanguínea e escolher ser quem é. catadora de lixo ou neta do maior vilão da galáxia, ela se tornou a heroína, sem abraçar as ortodoxias, confrontando aquilo que devia ser confrontado e abraçando - em especial - o conselho do primeiro filme: o que procura não está atrás de você. está bem na sua frente. e star wars, muito ligado a vida humana, sempre foi, por consequência, o ode à esperança, à redenção, ao fracasso, ao lado sombrio que todos guardamos e, dessa vez, menos demonizado e mais aceito para que dali se extraia algo valioso. não existem mais "jedis". eles não precisam existir.
o oitavo filme não foi apenas brilhante pela quebra de expectativa (em especial do fã ortodoxo estúpido escravo do passado que esperava a repetição da jornada do herói), mas por alterar tanto o rumo - e ser tão espelho do que se vive hoje - que nem o movimento covarde do nono filme conseguiu apagar o brilhantismo de alguns personagens (e aqui falo da rey e da tentativa de dar uma maior "gravidade" a ela uma questão estúpida de monarquia). foi o movimento de abandonar as correntes e largar a luta dos pais. de emancipar as próprias dores ou descobri-las.
infelizmente, isolado, como filme, "a ascensão skywalker" rende boas cenas, mas é um anti-clímax, é covarde. é um filme estranho, que mais soa como uma colagem de cenas que, de tropeço em tropeço, quando acerta, é por medo de desagradar e mexer com alguma memória afetiva bem instalada. ironicamente, funciona, pelo menos, como espelho duma geração em crise, auto-analítica, auto-piedosa, bloqueada e com medo de julgamento. ou seja, tem algo a ensinar.
quanto a cena símbolo, depois do desabafo do poe, lando calrissian, personagem clássico da "trilogia que funcionou" surpreende o novato e diz: "nós também não sabíamos o que fazer". chega a ser didático.
star wars é isso: desbravar e olhar para frente. imaginar! explorar novos planetas. viver o desconhecido. aqui dentro e lá fora. no passado, o centro era esperança, a trilogia prelúdio era a "política" das coisas, essa foi um bom diagnóstico que talvez a nova trilogia precise ser sobre coragem.
bom filme de matinê que vai carregar o fardo de ser um vencedor do oscar de melhor filme (inclusive, parecendo muito "em espírito" com "conduzindo miss daisy").
um anti-"a procura da felicidade", um registro sobre quem nasceu para "perder" (dependendo do ponto de vista) e vê nas pequenas coisas a grande vitória, que não tem outra opção que não seja continuar uma rotina sem grandes pretensões.
bom filme, apesar de achar que funciona melhor com o tempo e sinto que, algumas vezes, o preciosismo estético trabalha contra.
tenho a impressão que, sem querer, o bradley cooper fez um filme melhor do que pretendia fazer.
a impossibilidade de uma verdadeira ascensão da figura feminina, a constante romantização do pop genérico, o reconhecimento invejoso para corroborar a violência da própria indústria, a inércia da ally diante do conflito entre o inevitável esvaziamento de seu talento em razão do encaixe "mercadológico".
de forma sutil, existe uma coisa clara: não há como nascer uma estrela. nascer uma estrela significa morrer na medida que as verdadeiras virtudes como artista são amofinadas como compensação a um público "zumbificado".
sobra o jackson maine, o qual me parece guardar um espírito que não se encaixa nas demandas do mundo moderno, uma alma sensível e torturada, como o verdadeiro protagonista. como a real estrela que ascende, apesar da decadência terrena.
tecnicamente falando: lady gaga atua entre o decente e o constrangedor, me parece sempre estar se esforçando muito para "transmitir emoções", bradley cooper brilhante, sam elliot tanto quanto e, quase tudo, bem dirigido. bom filme, apesar de, em algum momento, a lady gaga protagonizar uns momentos meio "na trilha da fama" (o da hillary duff), mas não chega a comprometer.
achei muito bom como desenvolvimento e expansão do universo star wars, no sentido de ver, em live-action, novos planetas, novas criaturas, diferentes perspectivas das consequências do império, questões menos "espirituais" e mais sociais e políticas que, em rogue one, também foi um dos trunfos
muito bom a escolha dos símbolos da introdução da causa rebelde e a luta dos droids pela igualdade, conversa naturalmente com algumas coisas que acontecem na realidade e isso sempre foi um elo de conexão de star wars com a vida em si
no entanto, o han solo parece coadjuvante do próprio filme, todos os atores soam demasiadamente frios e sem muita energia que uma aventura exige (o donald glover, por exemplo). acaba que, no fim das contas, a desconfiança da desnecessidade do filme se prova, mais pelo passado do han solo não ser a coisa mais interessante do mundo e nem ter sido mostrada como tal e menos pelas questões ao redor que, na verdade, fazem o filme ter um novo fôlego e gerar alguma atenção.
esses filmes-evento são sempre bem empolgantes, ainda mais se visto numa estreia, meio clima de estádio de futebol (como foi o caso aqui) e pode ser que tenha alguma influência na avaliação, no fim das contas. mas, anulado o entusiasmo de tanta coisa acontecendo, alguns momentos aqui são, realmente, muito bons.
o quest do rocket, groot e thor me parece a melhor deles. enquanto via, pensava o quanto não seria bom uma série dos três personagens juntos ou mesmo um filme sem tanta necessidade de uma construção grandiosa futura, nos moldes de um "homem-formiga". o fauce de ébano, com aquele tom de voz e postura física pastoral, meio líder de seita, me pareceu um grande vilão bem desperdiçado para a necessidade viciosa de filmes do gênero de descartar personagens que não foram TÃO bem pensados assim como futuro.
por fim, indo prum lugar comum, o final comove bastante,
achei bem corajoso nem tanto a decisão de matar aquela quantidade significativa de heróis, mas a forma como aconteceu: seca, fria, sem muito espaço para o famoso "final redentor". claramente que as coisas serão alteradas, de uma forma ou de outra, mas assistir o homem-aranha, símbolo do heroísmo juvenil, da esperança substancial, murmurando que não quer morrer foi, definitivamente, uma cena e tanto.
eu tenho certa dificuldade para me conectar com os filmes da Lynne Ramsay. algo me soa meio distante, "aéreo", sem muita gravidade (apesar do tema em si ser suficientemente grave).
no entanto, tem o joaquin phoenix numa das melhores cenas do cinema dos últimos dez anos ("i've never been to me") e alguns momentos especialmente inspirados.
devo escrever mais sobre futuramente, mas adianto que, em alguns momentos bem específicos, o filme me emocionou bastante! principalmente pela sabedoria despretensiosa de alguns personagens e pela atmosfera acolhedora de uma matinê que anda fazendo falta no cinema moderno.
técnica impecável e narrativa sem muita substância ou gravidade. em alguns momentos tudo beira o exibicionismo e o excesso de polimento estético gera um ar publicitário ao filme. não me disse muita coisa.
grande em importância social, mas, como filme, um dos mais fracos da última safra da marvel
ação preguiçosa, o pantera negra em combate ficou bem artificial, assim como a inserção de alguns elementos em determinado momento do filme.
tento não ser tecnicista, mas, num filme como esse, fica difícil não se incomodar com os efeitos visuais meio abaixo do que se estabeleceu na indústria. ao ponto de esvaziar alguns momentos potencialmente impactantes.
outra coisa era que esperava bem mais da trilha. claro que não achava que ia tocar o álbum do kendrick no filme inteiro, mas em alguns momentos senti um desperdício não colocar algo que se comunicasse com a geração para qual esse filme foi feito (trap, por exemplo).
de qualquer forma, todos os personagens são muito bons, tal qual o elenco e, com um pouco mais capricho (e mais domínio pro ryan coogler), deve sair um filme melhor futuramente.
Os Rejeitados
4.0 316evidente que precisa passar pelo teste do tempo. não duvido - no entanto - que entre no hall de "clássicos de matinê" em um perfil parecido com "conta comigo". muito bonito dentro da sua simplicidade e as camadas são dispostas com tanta delicadeza que cada uma vai soando como um abraço (ainda quando os temas são mais dos mais difíceis).
Saltburn
3.5 846se tirar as "cenas polêmicas" não sobra muita coisa. existia um bom potencial narrativo que não chega a ser explorado em momento algum e tem uma sequência de cenas que se tornam o "choque pelo choque". vira um show de perfumaria estética e sobra o barry keoghan que ainda entrega um bom trabalho de estudo de personagem, mas o filme - que é ruim - não ajuda.
Priscilla
3.4 159 Assista Agorasofia coppola mais "para dentro" do que o de costume. reconheço que o material não era fácil e tem um detalhe ou outro bem inspirado. mas, infelizmente, me soa o filme de um(a) diretor(a) com a assinatura tão forte que isso se sobrepõe ao material e cria uma dificuldade enorme de gerar conexão com filme.
mais sorte para a sofia na próxima.
Retratos Fantasmas
4.2 226 Assista Agoraficou difícil – ao longo das quase 1h30 de filme – não sentir que o kleber mendonça filho em “retratos fantasmas” – independente do tema exposto – não permeava sua narrativa diante de uma amargura quase silente da falta de reconhecimento que abate sua filmografia.
não falo da bolha e nem de quem acompanha cinema com mais assiduidade. kleber tem sido figura recorrente em prêmios internacionais (ainda que – salvo engano – não tenha chegado a ganhar algum) e – claramente – tem sido quase um eremita no deserto artístico que o brasil vive – ainda que aplaudido e louvado pelo mesmo público de sempre.
dito isso, curioso que – logo no filme que ele decide, ora falar um pouco de si, ora um pouco de sua trajetória, bastante da sua relação com o cinema (físico e imaterial) – ele trace uma investigação e quase a conclusão do caso do mal que o “assombra”: o brasil vive uma crise imaginativa e isso o afeta diretamente.
crise talvez soe uma palavra muito diplomática diante do buraco criativo que estamos enterrados. existe uma falência. e kleber mendonça filho faz um meta-filme que registra e estuda a tal falência imaginativa – quase como um análise severa e impotente dos porquês da auto-negligência que acabou sendo a única marca registrada que perpetua um país tão rico.
enquanto narra sua conexão com os ambientes – indiretamente (por vezes direta) – expõe a breguice quase como um projeto de quem ainda não entendeu que a cultura deveria ser um organismo vivo.
é um filme propositalmente confuso, perdido, um retrato de quem absorveu a destruição física dos cinemas e não soube aceitar muito bem. eu compreendo. acredito que não lidaria muito bem também.
em muitas vezes – soa um certo medo dele – kléber – fazer parte da negligência que passou o filme registrando algo que foi descobrindo enquanto rememorava o que o fez ser quem se tornou. um pouco desnorteado, quando sai de si, é quando ele se encontra – como no poema.
lamenta que a “relação fica emotiva e confusa” quando se apega a “um produto”. mas não seria a função dele nesta jornada solitária que cinema – aqui – nem mesmo existe enquanto produto?
eu – honestamente – entendo o desnorte e reconheço a bravura de quem tenta com certa elegância investigar e esclarecer que – faz algum tempo que o brasil não parece gostar de si. temos muitos brincantes e poucos operários da cultura. olhar algo que ama se tornando ruína e continuar aprisionado nesse amor deve ser uma clausura difícil.
mas o Cinema tem um poder alquímico e kleber mendonça filho usa a fantasmagoria como último recurso de salvação de sua frustração não declarada. é quando o filme fica bonito.
a citação ao melodrama no fim do filme é uma prova de que – apesar da natural amargura – ainda existe um caminho: abraçar a fantasia e entender os fantasmas como terrenos férteis para que – apesar da triste falta de pujança geracional para criar novos realizadores – que não mais o sejam. “retratos fantasmas” serve como um bom expurgo, mas kléber é talentoso e experiente o suficiente para saber que suas memórias são melhores quando contadas com o brilho no olho que abraça no tocante final do filme (nem tanto quando murmuradas). mas não deixa de ser uma boa crítica. espero que ele concorra ao oscar – seria justo.
(acabou nem sendo).
Barbie
3.9 1,6K Assista Agoraexistia o risco de termos dois/três filmes em um: 1) o filme da “Barbie” para as colecionadoras/filme-compensação para quem dita a vida pelo meme do dia seguinte ou termos um grande filme de uma grande diretora e roteirista – greta gerwig – e noah baumbach.
por uma intervenção quase divina, quem minimamente gosta de Cinema conseguiu melhor que a segunda/terceira opção: o roteiro e a condução do filme movem o que poderia ser um grande meme despropositado para agradar a geração Z nesse torpor de tédio que imbui a vida de 95% de quem compõe a existência da humanidade para um filme brilhante a respeito da busca por ser algo.
a sátira e a ironia, tanto quanto o brilhantismo do design de produção (e demais quesitos técnicos), já eram esperados desde os primeiros materiais divulgados. o que surpreende – no fim das contas – é a coragem da greta gerwig de fugir dos caminhos fáceis que fariam o filme ser uma obra-prima anunciada.
ao mencionar mais de 30 clássicos que inspiraram “Barbie” – a priori – existia o conforto (e o “medo”) de que fosse um novo “la la land”: o filme escravo de referências cinematográficas que justificassem a bagunça estilística e o despropósito de sua utilização apenas “por ser”. uma grande bagagem cultural ambulante utilizada em um filme da “Barbie” – considerando o risco de fazer um filme “difícil” (por ser facilmente transformado em uma bomba) – seria uma solução fácil para o maior evento cultural dos últimos anos.
greta gerwig consegue mais: “Barbie” é um filme genuinamente engraçado, bem escrito e – acredite se quiser – longe de ser refém das referências tão exaustivamente citadas ao longo da massiva campanha de marketing.
“Barbie” é o filme pós-pandêmico que finalmente viu a luz do dia. reverente à fantasia que o Cinema sempre utilizou como recurso estilístico para salvar o deserto criativo pós-catástrofe e que se comunica com a geração que parece ter se entregado (até com certo orgulho) ao artificial (seja a “inteligência”, seja ao “artificialismo dos sentidos”).
não que “Barbie” promova uma grande revolução de consciência como um dia “crepúsculo dos deuses” fez. afinal, ainda existe a sombra “millennial” do (podemos ser o que quiser, mas, afinal, o que queremos ser?). no entanto, é louvável que -um filme de boneca-, -de franquia-, te leve a entrar em contato com o de mais orgânico, intangível, belo e profundo que a vida pode oferecer.
depois de “levar a gente para passear”, “Barbie” faz um ode genuíno, verdadeiramente emocionante, aos mais profundos sentimentos que movem uma vida e dão sentido, inclusive, aos objetos materiais que tanto nos apegamos e – acima de qualquer expectativa de disrupção ou quebra paradigma – isso que separa bons de grandes filmes e “Barbie”, definitivamente, é um grande filme.
Close
4.2 470 Assista Agorano meu texto perdido sobre “blonde” – do frank ocean -, lembro de tentar falar da habilidade natural de usar o material (tênis, carros, jogos de videogame etc.) não como objeto palpável de admiração – o materialismo pelo materialismo -, mas do material ser minimamente significativo pela conexão afetiva, amorosa, íntima com o universo vital da pessoa que canta/compõe/cria. por alguma razão, isso tudo me lembrou “close”, filme do “lukas dhont”.
a essa altura, muita gente falou mais, antes e melhor do filme em si e das suas nuances – que é um absurdo de genial e dilacerante. destaco, no entanto, a coragem do lukas dhont de fazer um tipo de filme que parece não existir mais – talvez nem tanto por sua vontade, mas pela impossibilidade temática -: o acompanhamento “contemplativo” de uma emoção (aqui, inúmeras e especialmente difíceis).
acredito que exista em “close” algo mais doloroso que o ato que move o filme em si: a falta de resolução de algo que – de fato – não se “resolve”,
afinal, estamos falando do impacto da morte do melhor melhor amigo de uma criança no seu processo de amadurecimento. não existe “resolução” para esse tipo de coisa. a única é a falta dela e o entendimento de que algumas coisas da vida não se “consertam”.
não à toa, o ato final do filme é -atordoado-, é um registro quase catatônico de uma sensação tão silenciosa quanto angustiante. enquanto “digere” tanta coisa orgânica de sua idade transitória, cruel e demolidora que o “social” promove especialmente aos homens sensíveis, leo – o protagonista -, tenta buscar, na letargia de uma dor fantasmagórica demais para ser dissipada e humana demais para ser exorcizada, o simples: o amigo. que não mais existe.
em uma cena emblemática, a mãe de remy pergunta a leo, enquanto ele visita o antigo quarto do melhor amigo, se ele quer levar alguma coisa. algum brinquedo. algum desenho. enquanto tateia, quase sem tocar e olha profundamente para cada registro do amigo em vida, diz de forma serena que não.
o desfecho, que sucede cenas tão simbólicas quanto, remonta a uma das brincadeiras favoritas dos amigos: correr por um campo de flores.
leo, ao perceber que o amigo já não está ali depois de olhar para trás, diminui o passo, mas segue, dessa vez, caminhando. afinal, o que ele ama, não está mais na matéria.
“resta” que o amor viva na memória (e na sensação daquilo que um dia foi o corpo que causou). ou na percepção dos “objetos” daquilo que o amigo dele amou, que nunca foram legais por serem objetos, mas por serem -coisas- que o amigo dele adorava.
e na infância, percebe-se isso brincando e correndo na euforia dos dias. no “amadurecimento” (cruelmente imposto num mundo que assassina sensíveis), se percebe, inevitavelmente, caminhando e contemplando melancolicamente aquilo que, talvez, já não mais seja.
Elvis
3.8 757eu detesto cinebiografia musical. do que consumi, até então, todas – em maior ou menor grau – esbarram na caricaturização dos artistas.
como se, na necessidade profunda de reverenciar física e sonoramente o artista/banda, o excesso de entrega técnica (a voz ficar igual ou bem similar, os “tiques” serem idênticos, a maquiagem exagerar em traços “icônicos” da matéria do cinebiografado) tolhem o que deveria ser a raiz de tudo: sua essência.
quando não, tudo (um filme inteiro) existe para “justificar” um “greatest hits” que vai acertar na nostalgia fácil de um público carente pelo que já não existe e por um novo que, de forma quase preocupante, não conhece um, por exemplo, queen e precisa dessa apresentação – que beira o didático – de um repertório que pavimentou o caminho da música.
o resultado é um anti-filme anêmico (“love & mercy”) que não entrega a gravidade de momentos determinantes na vida da banda/artista ou uma espécie de “imitadores” do “domingão do faustão” com mais orçamento (“bohemian rhapsody”; um dos piores filmes a ser indicado ao oscar).
“elvis” triunfa por, antes de tudo, ser um filme.
dito isso, fui assistir “elvis” com uma má vontade anunciada e terminei devastado e impressionado na mesma medida. pela primeira vez, uma cinebiografia musical tinha me feito perceber que vi um FILME. eu senti coisas. existia uma história a ser contada e não uma desculpa para tocar, sei lá, “suspicious mind” (que toca, inclusive, mas com razão de ser).
a começar pela decisão de o filme ser narrado pelo “vilão” e controverso empresário de elvis, o coronel tom parker, nos dá a dimensão de que algo especial está sendo construído. melhor: baz luhrmann (diretor) faz um exercício de devoção e “humildade” (?) a não querer entrar na mente da, talvez, maior figura americana da música, mas de estudá-lo em suas nuances.
os trejeitos estão ali, a voz, o glamour, a maquiagem, mas não têm a pretensão de criar um vínculo idêntico, afinal, se quero ver os movimentos do elvis presley em sua integridade, o acesso está à distância de um documentário na HBO Max ou de clique no YouTube, não é a ideia aqui.
austin butler (brilhante aqui) está mais preocupado em entender os “locais” (e aqui coloco aspas por não me referir a local geográfico, mas localizações que determinam suas decisões macro (segmentos de carreira) e “micro” (sensualidade quase homo-erótica e necessidade de exaustivamente se submeter ao palco, por exemplo). locais da sua essência enquanto artista e pessoa. dali, ele entrega uma interpretação e não uma imitação. a grande diferença dele para o rami malek, por exemplo.
simbolicamente, no terço final do filme, na angustiante última apresentação do elvis, butler se dá o direito de acrescentar olhares e determinações físicas que não compunham “realisticamente” a apresentação, mas que potencializavam o que o momento precisava transmitir: a despedida deprimente e triunfante de alguém devoto ao “amor” de um público pela ausência de um “amor real”, do amor da sua vida, de sua mãe, dos sonhos não realizados, da aflição e resignação de quem sabia que “não mais”. de um embate emocional entre o glamour dos seus tempos áureos e da decadência de um corpo pedindo para parar (e que veio a parar uma semana depois), mas sustentado por uma voz humanamente incompreensível de tão comovente.
fim triste e brilhantemente conduzido pelo baz luhrmann que, em nome da dignidade e amor pelo biografado, “altera” seu fim. elvis não morre, ele vai para a “pedra da eternidade”, obsessão do rei do rock, ainda menino.
em algum momento, elvis diz a lisa: “vou fazer quase 40 sem ter deixado nada de marcante no mundo”. a cena, devastadora, precede o fim epopeico. antes de tudo, um generoso, que entregou, integralmente, sua alma e seu corpo para o mundo, “elvis” se tornou definitivo, não apenas pelas (grandes) músicas e interpretações que fez na breve vida, mas por ter semeado, quase que magicamente, sua obra e imagem na vida de milhões de pessoas. não foi suficiente para mantê-lo vivo, mas foi o preço que pagou para, enfim, realizar seu sonho: ser eterno.
Aftersun
4.1 700tento, aqui, a impossibilidade de escrever o inesgotável. “aftersun” se comunica e acolhe a incompreensão das dores e da libertação de uma memória. a esta altura, todos devem saber do que o filme se trata ou mesmo do que ele comunica, mas o filme se debruça e materializa o que sempre se fez inalcançável na trajetória humana: a lembrança da dor mais brusca de uma existência.
“aftersun” é um filme sobre vida humana, sobre resgate: de si, do que se foi e do que poderia ter sido. calum representa o mais fidedigno retrato de uma alma torturada pela depressão e sophie, enquanto criança, a inconsciência do profundo amor benevolente, movida pelo amor divino que move à busca incessante pelo pai (físico e pelo que um pai pode e deveria representar).
propositalmente confuso, “aftersun” é um recorte vívido de memórias, é um tributo aos mais intangíveis sentimentos. sophie cresce e o filme é “narrado” por uma mente traumatizada, embora, compreensiva em aceitar o que jamais poderá ser compreendido.
restam, então, os fragmentos. filmados (e rememorados pelo subconsciente) por uma garota em plena transição de maturidade, mas que, “refém” do amor mais puro que a conduz, busca o pai que está inviabilizado de emergir de suas dores e assistido por uma mulher que se encontra na mesma idade dele quando construiu essas memórias.
das inúmeras e absurdas habilidades de “aftersun”, existe a mais notável: dividir o filme em três. assistir distanciado pelos sentimentos e – da mesma forma – se emocionar, de ser ver como o calum e se ver como a sophie, pois estamos lidando com a mais universal das dores: a partida. das três formas, se trata de uma obra-prima, poucos filmes entenderam tão bem, com tanta sutileza, o que calca a vida.
é estruturalmente diferente de qualquer coisa filmada, é terno como poucos filmes feitos na história, é sutil em suas dores, é fidedigno em suas vulnerabilidades: tal qual a vida. é a gravidade dos acontecimentos, é o retrato do desespero subconsciente pela fragmentação da memória, da vida em si, representada de forma – poucas vezes – tão brilhante.
como a vida, é dilacerante, mas celebratório ao que se entende como memória e o que se ressignifica como dor. “aftersun” é um dos melhores filmes da história do cinema.
Os 7 de Chicago
4.0 580 Assista Agoraum perfil "tela quente" que ajuda a simpatizar com o filme: não ofende, entretém, mas não tem 'gravidade' alguma. isso se avalio o filme, mas enquanto destaque das premiações, indicado ao oscar etc, ocupa aquela cadeira cativa da academia que nem o aumento da diversidade conseguiu eliminar: o tele-filme historiográfico, tecnicamente 'no lugar' que faz o mea culpa americano-conservador.
acredito que nos próximos anos - quando for lembrar quem concorreu a melhor filme em 21 - vai ser o primeiro a ser esquecido.
Fora de Série
3.9 491 Assista Agoraconseguiram fazer o novo "superbad".
importante e genuinamente engraçado.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista Agorarevisto depois de alguns anos e a confirmação de uma obra-prima do(a) maior diretor(a) da atualidade: sofia coppola.
a habilidade em conduzir pela falta de intervenção onde - de fato - não deve ser conduzido, apenas exposto em sua total falta de substância. filme "vazio", por livremente ser a perfeita exposição do que os personagens são: vazios, tediosos, arrogantes, manipuladores, confusos... chega ser profético considerando a naturalização e endeusamento da estupidez egoica dos tik-tokers hoje.
natural, inclusive, que não seja bem aceito pela adolescência brasileira, ninguém gosta de se ver tão abertamente assim.
Incêndios
4.5 1,9K Assista Agoraenquanto filme-denúncia como estudo de um cenário social-político-religioso caótico e irresoluto é importante - necessário, na verdade -, depois vira uma das piores coisas que vi na minha vida.
acho que existe uma diferença entre a sensibilidade de quem escolhe empaticamente contar a história de uma vida sofrida, condenada à desgraça, horando, de certa forma, sua existência, e isso que o dennis villeneuve nos dois terços finais do filme.
a combinação de eventos trágicos, a escolha a dedo das piores dores que uma pessoa pode como peças perfeitas de um quebra-cabeça que forma quase um megazord da maldade me soam (quase) psicopáticos.
eu entendo e concordo (com ressalvas) que arte não precisa seguir uma cartilha de resolução e pode "servir" ao objetivo de causar algum sentimento, ainda que de repulsa, por exemplo. mas qual a função (não exigindo um sentido utilitarista para o filme) de um quest-movie em que as cartas determinantes para seu avanço sejam ações perturbadoras-graves-reais EM SEQUÊNCIA? EXPLÍCITAS?!
me fez mal! em todos os sentidos. terminei fisicamente enjoado. dizer que esse filme presta um serviço de exposição da maldade do mundo enquanto defesa de tudo de indefensável que houve de escolha narrativa, é dizer que o jornalismo sensacionalista, aquele que mostra pedaços de corpos no meio de estrada quando existe um acidente ou uma cabeça degolada depois de um crime hediondo, presta um serviço respeitoso à vítima e suas famílias por supostamente alertar a sociedade dos limites inexistentes da sordidez humana.
não precisa ter uma sensibilidade muito aguçada para entender que é uma grande mentira, a única função real daquilo é alimentar a curiosidade mórbida de de gente morta por dentro, tal qual esse filme.
uma porcaria.
Um Lindo Dia Na Vizinhança
3.5 273 Assista Agorao matthew rhys tinha um personagem bem difícil em mãos e não trabalha tão bem, isso atrapalha um pouco o filme (acho que - indiretamente - acaba reforçando o brilhantismo do casey affleck em "manchester by the sea", por exemplo).
no mais, acredito que teremos uma crescente de filmes assim pós-pandemia, um retorno da inocência, de filmes solares e uma lupa em almas "elevadas", como a do mister rogers, um ode aos sentimentos resolutivos, um retorno aos sentimentos básicos do perdão, amor, da fé, um retorno ao passo a passo da humanidade.
de significativo, além de todo zelo visual, a exposição de que a bondade não é e não precisa ser sacra ou uniforme. ela é humana (portanto, instável), alcançável e necessária - só tem estado fora do nosso radar a um bom tempo.
(adoraria, num universo paralelo, resgatar a vida do frank capra para saber o que ele acharia deste filme).
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista Agoralegal esse tarantino mais velho e menos dependente da sanguinaria desmedida (apesar do final). bom filme de amizade e brad pitt nasceu para esse tipo de personagem.
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista Agoramuito menos por mérito e mais por acidente, "a ascensão skywalker", se de bom fez algo a saga (ou a essa trilogia) foi ser espelho de uma geração sem identidade.
a essa altura do campeonato, todos sabem das influências externas que indicaram as mudanças de rumo do último capítulo da saga. absolutamente desprezível. mas, sendo isso o que temos, e o filme sendo quando um pedido de desculpas a qualquer pessoa que estivesse assistindo, sobra uma cena emblemática e símbolo dessa mea culpa (e uma das poucas não-desconexas) em que o poe dameron assume ao corpo da leia que, um pouco antes da batalha final, que não sabe o que fazer.
é bonito e louvável. quase na mesma medida do kylo ren (o grande personagem da nova trilogia) não saber durante os 3 filmes se quer ser o vilão (apesar de toda mística que o circunda), rodeado pela dor que - pelas tantas - descobrimos que tem muito a ver com abandono paterno-materno, movido pela mágoa do tio que, em vez de modelo, teve dúvida da personalidade errática do sobrinho. o suficiente para criar o vilão millenial perfeito que se rende ao descontrole, frustrado por não ter 1/3 da "elegância" do vilão clássico do cinema que em 70 foi representado perfeitamente pelo darth vader, escravo do passado, em constante crise de identidade, o personagem do adam driver (que começa na personalidade e termina na roupa), afogado numa arrogância tão profunda não por querer dominar a galáxia, mas por ter raiva do pai e sentir saudade da mãe. pode parecer besta, considerando que o pano de fundo do filme envolve a sobrevivência da galáxia-poder-política (temas macro, "importantes"). mas, o grande vilão, escolhe não sê-lo, no seu grande desfecho, se desfaz de sua arma (mal feita, sem propósito), tenta dizer que ama o pai, chora e absorve o amor da mãe que entregou a vida por ele. prefere se redimir e ir atrás da garota que ama.
é frustrante, tanto quanto fascinante. como foi luke skywalker, maior símbolo de esperança da galáxia, revelar ao mundo que falhou, que um erro seu custou a paz que devia ser o seu mote e causou o contrário do que deveria promover = a ordem, a maior lição do luke skywalker foi o fracasso. é chocante, mas é real, as coisas, às vezes, não saem como esperamos.
é estranho, como ver a rey, uma filha de ninguém (ou neta do imperador - isso não importa) ignorar a linhagem sanguínea e escolher ser quem é. catadora de lixo ou neta do maior vilão da galáxia, ela se tornou a heroína, sem abraçar as ortodoxias, confrontando aquilo que devia ser confrontado e abraçando - em especial - o conselho do primeiro filme: o que procura não está atrás de você. está bem na sua frente. e star wars, muito ligado a vida humana, sempre foi, por consequência, o ode à esperança, à redenção, ao fracasso, ao lado sombrio que todos guardamos e, dessa vez, menos demonizado e mais aceito para que dali se extraia algo valioso. não existem mais "jedis". eles não precisam existir.
o oitavo filme não foi apenas brilhante pela quebra de expectativa (em especial do fã ortodoxo estúpido escravo do passado que esperava a repetição da jornada do herói), mas por alterar tanto o rumo - e ser tão espelho do que se vive hoje - que nem o movimento covarde do nono filme conseguiu apagar o brilhantismo de alguns personagens (e aqui falo da rey e da tentativa de dar uma maior "gravidade" a ela uma questão estúpida de monarquia). foi o movimento de abandonar as correntes e largar a luta dos pais. de emancipar as próprias dores ou descobri-las.
infelizmente, isolado, como filme, "a ascensão skywalker" rende boas cenas, mas é um anti-clímax, é covarde. é um filme estranho, que mais soa como uma colagem de cenas que, de tropeço em tropeço, quando acerta, é por medo de desagradar e mexer com alguma memória afetiva bem instalada. ironicamente, funciona, pelo menos, como espelho duma geração em crise, auto-analítica, auto-piedosa, bloqueada e com medo de julgamento. ou seja, tem algo a ensinar.
quanto a cena símbolo, depois do desabafo do poe, lando calrissian, personagem clássico da "trilogia que funcionou" surpreende o novato e diz: "nós também não sabíamos o que fazer". chega a ser didático.
star wars é isso: desbravar e olhar para frente. imaginar! explorar novos planetas. viver o desconhecido. aqui dentro e lá fora. no passado, o centro era esperança, a trilogia prelúdio era a "política" das coisas, essa foi um bom diagnóstico que talvez a nova trilogia precise ser sobre coragem.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista Agorabom filme de matinê que vai carregar o fardo de ser um vencedor do oscar de melhor filme (inclusive, parecendo muito "em espírito" com "conduzindo miss daisy").
Roma
4.1 1,4K Assista Agoraum anti-"a procura da felicidade", um registro sobre quem nasceu para "perder" (dependendo do ponto de vista) e vê nas pequenas coisas a grande vitória, que não tem outra opção que não seja continuar uma rotina sem grandes pretensões.
bom filme, apesar de achar que funciona melhor com o tempo e sinto que, algumas vezes, o preciosismo estético trabalha contra.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista Agoratenho a impressão que, sem querer, o bradley cooper fez um filme melhor do que pretendia fazer.
a impossibilidade de uma verdadeira ascensão da figura feminina, a constante romantização do pop genérico, o reconhecimento invejoso para corroborar a violência da própria indústria, a inércia da ally diante do conflito entre o inevitável esvaziamento de seu talento em razão do encaixe "mercadológico".
de forma sutil, existe uma coisa clara: não há como nascer uma estrela. nascer uma estrela significa morrer na medida que as verdadeiras virtudes como artista são amofinadas como compensação a um público "zumbificado".
sobra o jackson maine, o qual me parece guardar um espírito que não se encaixa nas demandas do mundo moderno, uma alma sensível e torturada, como o verdadeiro protagonista. como a real estrela que ascende, apesar da decadência terrena.
tecnicamente falando: lady gaga atua entre o decente e o constrangedor, me parece sempre estar se esforçando muito para "transmitir emoções", bradley cooper brilhante, sam elliot tanto quanto e, quase tudo, bem dirigido. bom filme, apesar de, em algum momento, a lady gaga protagonizar uns momentos meio "na trilha da fama" (o da hillary duff), mas não chega a comprometer.
Han Solo: Uma História Star Wars
3.3 638 Assista Agoraachei muito bom como desenvolvimento e expansão do universo star wars, no sentido de ver, em live-action, novos planetas, novas criaturas, diferentes perspectivas das consequências do império, questões menos "espirituais" e mais sociais e políticas que, em rogue one, também foi um dos trunfos
muito bom a escolha dos símbolos da introdução da causa rebelde e a luta dos droids pela igualdade, conversa naturalmente com algumas coisas que acontecem na realidade e isso sempre foi um elo de conexão de star wars com a vida em si
no entanto, o han solo parece coadjuvante do próprio filme, todos os atores soam demasiadamente frios e sem muita energia que uma aventura exige (o donald glover, por exemplo). acaba que, no fim das contas, a desconfiança da desnecessidade do filme se prova, mais pelo passado do han solo não ser a coisa mais interessante do mundo e nem ter sido mostrada como tal e menos pelas questões ao redor que, na verdade, fazem o filme ter um novo fôlego e gerar alguma atenção.
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista Agoraesses filmes-evento são sempre bem empolgantes, ainda mais se visto numa estreia, meio clima de estádio de futebol (como foi o caso aqui) e pode ser que tenha alguma influência na avaliação, no fim das contas. mas, anulado o entusiasmo de tanta coisa acontecendo, alguns momentos aqui são, realmente, muito bons.
o quest do rocket, groot e thor me parece a melhor deles. enquanto via, pensava o quanto não seria bom uma série dos três personagens juntos ou mesmo um filme sem tanta necessidade de uma construção grandiosa futura, nos moldes de um "homem-formiga". o fauce de ébano, com aquele tom de voz e postura física pastoral, meio líder de seita, me pareceu um grande vilão bem desperdiçado para a necessidade viciosa de filmes do gênero de descartar personagens que não foram TÃO bem pensados assim como futuro.
por fim, indo prum lugar comum, o final comove bastante,
achei bem corajoso nem tanto a decisão de matar aquela quantidade significativa de heróis, mas a forma como aconteceu: seca, fria, sem muito espaço para o famoso "final redentor". claramente que as coisas serão alteradas, de uma forma ou de outra, mas assistir o homem-aranha, símbolo do heroísmo juvenil, da esperança substancial, murmurando que não quer morrer foi, definitivamente, uma cena e tanto.
belo filme.
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista Agoraeu tenho certa dificuldade para me conectar com os filmes da Lynne Ramsay. algo me soa meio distante, "aéreo", sem muita gravidade (apesar do tema em si ser suficientemente grave).
no entanto, tem o joaquin phoenix numa das melhores cenas do cinema dos últimos dez anos ("i've never been to me") e alguns momentos especialmente inspirados.
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível
3.9 457 Assista Agoradevo escrever mais sobre futuramente, mas adianto que, em alguns momentos bem específicos, o filme me emocionou bastante! principalmente pela sabedoria despretensiosa de alguns personagens e pela atmosfera acolhedora de uma matinê que anda fazendo falta no cinema moderno.
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista Agoratécnica impecável e narrativa sem muita substância ou gravidade. em alguns momentos tudo beira o exibicionismo e o excesso de polimento estético gera um ar publicitário ao filme. não me disse muita coisa.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista Agoragrande em importância social, mas, como filme, um dos mais fracos da última safra da marvel
ação preguiçosa, o pantera negra em combate ficou bem artificial, assim como a inserção de alguns elementos em determinado momento do filme.
tento não ser tecnicista, mas, num filme como esse, fica difícil não se incomodar com os efeitos visuais meio abaixo do que se estabeleceu na indústria. ao ponto de esvaziar alguns momentos potencialmente impactantes.
outra coisa era que esperava bem mais da trilha. claro que não achava que ia tocar o álbum do kendrick no filme inteiro, mas em alguns momentos senti um desperdício não colocar algo que se comunicasse com a geração para qual esse filme foi feito (trap, por exemplo).
de qualquer forma, todos os personagens são muito bons, tal qual o elenco e, com um pouco mais capricho (e mais domínio pro ryan coogler), deve sair um filme melhor futuramente.