Durante os últimos anos, fomos bombardeados com diversos documentários sobre Kurt Cobain; a maioria tentando "desvendar" o suicídio do lendário vocalista do Nirvana. Não é o caso aqui. Vemos Brett Morgen deixar Kurt falar, sem rodeios, e nos levar para viajar por dentro de sua cabeça, sua mente e sua alma. Após os 132 minutos, a última frase, aquilo que nenhum fã gostaria de ler: "No dia 5 de julho de 1994, Kurt Cobain pôs fim a sua vida". Notícia velha, muito velha, mas que volta a chocar após a profunda imersão na alma de Kurt.
Todos os filmes, fotos e vídeos inéditos presentes deixam claras as intenções de fazer um relato completo da vida de Cobain. Em ordem cronológica, vemos o vocalista desde os primeiros passos até seus últimos dias. A atmosfera criada por Morgen, com todos os relatos e sequências em animação, deixam o vocalista falar por si, talvez até ajudando a entender porque levava a vida como levava.
Como já era de se esperar, aqui temos trechos de entrevista, capas de revista e notícias em jornais, mas tudo isso faz parte de um "quadro" muito maior, ao lado de todos os poemas incompletos, as listas perturbadoras e todos os traços bizarros, até perturbadores, de seus desenhos. São os momentos em que temos o olhar mais aprofundado e inquietante da vida através dos olhos de Kurt.
Conforme o documentário vai se aproximando do fim, você vai se aprofundando na relação Cobain-Love, e vai sentindo o clima ficar mais denso, melancólico e pesado. Ver Kurt Cobain aos beijos com Courtney Love, com aquela aparência de quem teve toda a vitalidade sugada de si, seja pela fama ou até pela união é algo incrivelmente desconfortante. Aliás, adentrar a relação dos dois, seja nos momentos "íntimos" ou não, é desconfortante. É como se o que é chocante pra maioria das pessoas, como uma cena caseira de Love sob o efeito de drogas enquanto grávida, fosse algo normal para eles.
Mas, em quesito de choque, o principal choque de Montage of Heck é a entrada brusca e singular na vida de Kurt Cobain. Aqui, além do badboy que pouco se importava com criticas, opiniões e até público, se mostra, na verdade, um homem fragilizado, que não suporta ser invadido ou humilhado.
David Dobkin é um diretor conhecido por comédias como Penetras Bons de Bico e Bater ou Correr, então é uma surpresa que ele se arrisque em um drama como O Juiz. Surpresa maior, porém, é ver como ele se saí bem assim, com seu crossover de três dos gêneros mais consagrados do cinema: um filme de tribunal, um filme de volta pra casa e um filme de família. Essa, somada à uma mistura de charme e carisma dos Robert's (Downey Jr. e Duvall), cuja a alteração frequente de humores mantém a experiência positiva, apesar de o roteiro não ser uma caixinha de surpresas, é a fórmula mágica do filme.
A química entre os dois protagonistas resulta em momentos memoráveis, especialmente a cena do banheiro, conduzida com extrema sensibilidade da parte de Dobkin. São essas sequências que simbolizam o ponto mais alto do filme: o seu equilíbrio perfeito entre drama e humor. O humor, obviamente, vindo de Robert Downey Jr., com um personagem tão parecido, ao mesmo tempo que tão diferente, de Tony Stark, enquanto o drama vem da parte sofrida de Robert Duvall, com uma merecida indicação para Melhor Ator Coadjuvante.
É esse equilíbrio que trilha o caminho do filme, que volto à dizer, sem grandes surpresas em seu roteiro, seja em risadas ou lágrimas. É interessante notar como até na trilha sonora, David Dobkin escolhe Thomas Newman, um especialista na arte de provocar emoções, talvez aqui, calculada um pouco demais, deixando claro o intuito de fazer o espectador se sentir bem. Nessa parte, podemos destacar a versão de Willie Nelson de The Scientist, do Coldplay, tocada durante os créditos e provocando uma sensação mais profunda sobre o filme e os personagens em si
Depois de um arrebatamento com O Silêncio dos Inocentes, eis que vamos a Hannibal. Confesso que já sabia que esse não seria tão bom quanto o antecessor, só não esperava ver que desceriam tanto o nível de um para o outro. A sensação de que algo estava errado começou quando Jonathan Deeme e Jodie Foster anunciaram que não participariam da sequência, substituídos por Ridley Scott e Julliane Moore.
Dez anos se passaram desde O Silêncios dos Inocentes. Após o fracasso desastroso em uma batida conjunta entre o FBI, DEA e a Polícia de Washington, a carreira de Clarice entra em decadência. Porém, ela é salva por Mason Verger, interpretado por um irreconhecível Gary Oldman, que a oferece informações preciosas sobre Hannibal, incluindo dica sobre seu paradeiro. Depois disso, somos levados à Florença. Nesse ponto vemos a competência de Ridley Scott como diretor, com uma iluminação excelente e uma fotografia de encher os olhos.
Infelizmente, a beleza do filme é perdida na esquina de alguma das ruas de Florença. À partir daqui, Hannibal mostra como não bate com o terror psicológico e suspense clássico de seu antecessor. Mais incômodo é saber que Scott não podia fazer nada. Estava apenas seguindo o roteiro de David Mammet, que, olhando por esse lado, não fez feio na adaptação daquele que é considerado um dos piores livros da década de 90.
Indo além, o filme descaracteriza totalmente seus personagens. Se em O Silêncio dos Inocentes, dr. Lecter era um homem de bom gosto, discreto e elegante, aqui temos ele somente com seu bom gosto, que nem sequer é tratado como deveria. Também temos Julliane Moore, que aqui se encontra perdida. Não perdida como sua personagem deveria estar, mas perdida como atriz. Como se faltasse uma direção e até uma referência para ela seguir. Sinceramente, se não insistissem em falar "Clarice Starling" e "agente especial Starling" tantas vezes, dificilmente saberia que Moore equivale à Foster.
Por fim, chegamos aos atos que terminam o show de horrores iniciados em Florença, em uma das cenas mais perturbadoras do filme. Perturbadora não pelos acontecimentos em si, mas pelo fato de ir contra a discrição estabelecida no primeiro filme, e até contra o que foi estabelecido entre Hannibal e Clarice anteriormente.
Bennett Miller tem, já faz algum tempo, feito filmes que retratassem bem a perda da inocência de seu país e a gradual mudança que nos leva até como o conhecemos hoje. Foi na década de 90 que a "história que chocou o mundo" aconteceu, envolvendo uma das mais ricas famílias, a "Dinastia Du Pont", consolidada nas época da Guerra Civil como uma fornecedora de munições e, mais tarde, uma indústria química.
Aqui, Steve Carrel vive, brilhantemente, John Du Pont, herdeiro da família e um homem ambicioso em sua busca por um pedestal, onde poderia ser notado e sair da sombra da mãe tirana. E é justamente na tentativa de subir no seu pedestal que Du Pont cria o centro de treinamento de luta greco-romana, dando início à toda uma história com Mark Schultz e Dave Schultz, até o eventual "choque".
Falando em Carrel, é impressionante como ele está irreconhecível aqui. Ele saí totalmente do que é comum em sua filmografia e trás à tona uma versão de si que não me lembro de ter visto antes, digna de todos os elogios que têm recebido. Outro destaque é Channing Tattum, que entende o lutador que recebeu uma segunda chance após sua decadência e floresce brilhantemente de novo, mas se perde na curva do poder e da loucura. Por fim, temos Mark Ruffalo, nos entregando mais uma atuação impecável, se destacando em um filme cheio delas.
De uma maneira simples, porém extremamente poderosa, Bennet Miller consegue retratar a já citada inocência perdida dos EUA. Igualmente simples é o clímax, algo rápido e até bem fácil, mas que trás sentido o subtítulo que o filme carrega (no Brasil), nos mostrando uma história que chocou o mundo. Nas palavras do velho Borgo, aos gritos de "USA! USA!", uma nação perdia sua alma.
Gone Girl, logo de cara, já joga o fundo da trama toda na sua cara, e não há a minima discrição nisso. Parece haver alguma pressa em mostrar todas as ideias e até mesmo falas, de modo que elas ficassem mais rápidas do que as imagens conseguiriam captar, o que resulta em alguns furos no meio do roteiro. Mas, felizmente, os furos não impediram o filme de nos mostrar algumas verdades, o que traz alguns pontos positivos em relação à apresentação rápida da coisa toda.
É raro um filme nos mostrar as terras do Tio Sam de uma forma como mostram aqui, com uma podridão crescente, tomada por gente "ruim" e comandada por uma mídia sensacionalista e presunçosa, e é interessante ver como Ben Affleck entende isso tudo e constrói seu Nick Dunne adaptado à tudo isso, encaixado magistralmente no contexto do filme. Em contrapartida, temos Rosamund Pike, carregando um destaque particular que nos convence à todo momento. Ela é a garota exemplar que vai tendo seu passado revelado à cada flashback e, pouco a pouco, nos revela mais sobre a relação com o marido.
Após tudo isso, chegamos ao segundo ato, agora dando mais movimentos ao filme, e destacando mais e mais a personagem de Pike, tornando ela a maior personagem e com a melhor evolução durante o filme, trazendo uma verdadeira "solidificação" à história, sendo esse, talvez, o maior problema. O filme se solidifica tanto que chega à perder seus movimentos, erro visível na introdução de Neil Patrick Harris, extremamente corrida, cheia de informações, mas nada que foi aproveitado, e rapidamente tirando o personagem de cena, sem dar ao espectador a mínima chance de aceitar aquilo que acontece. Nesse momento, tanto o rigor técnico quanto a cadência do filme, ambos quebrados. Falando em cadência, podemos destacar a cena do interrogatório e a forma vaga com a qual Amy se safa. Sejamos sensatos: em um estado em que a pena de morte é uma realidade, a polícia jamais seria tão facilmente enganada assim.
Por fim, temos os questionamentos que o filme levanta, desde a excelente representação (já citada) da mídia presunçosa até as ideias sobre relacionamentos, abordadas em tantos outros filmes, mas aqui, de uma forma uma pouco mais cheia de suspense e drama. Em resumo, podemos dizer que David Fincher perdeu à mão conforme a história foi se desenrolando, o que poderia ser diferente caso 15 minutos fossem diferentes.
Birdman é aquele tipo de filme que, não importa quantas vezes você assista, sempre tem algo de novo pra ver. Aqui também encontramos, após Babel e Biutiful, a consolidação de Alejandro Gonzalez Iñarritu.
Um dos fatores que contribuiu bastante para essa consolidação foi toda a construção e modelação dos personagens, tendo seus limites estipulados e respeitados. É interessante ver como cada personagem se destaca de maneira única e como a química muda, dependendo de com quem eles dividem a cena. Iñarritu, porém, também construiu toda uma base para os personagens se manterem sozinhos, com seus conflitos, dramas e necessidades.
Como já disse, Birdman sempre tem algo novo pra apresentar, e algumas ficam ainda melhores depois que você assiste outra vez. O melhor exemplo disso é a forma com a qual o filme trata o mundo artístico propriamente dito e o mundo "real", que envolve o mundo artístico, ambos se mostrando cada vez mais densos, porém "divertidos". O filme também traz à tona alguns temas cinematograficamente importantes, como os críticos preguiçosos e atores marcados, perdidos em personagens do passado. Aliás, Michael Keaton tá ali pra simbolizar isso, fazendo de seu Riggan Thomson, eterno Birdman no filme, uma versão caricata de si mesmo, o eterno Batman.
Entre tantos aspectos, porém, podemos dizer que Birdman é um excelente filme simplesmente por não ter os cada vez mais habituais rodeios, as nada queridas enrolações. O filme se consolida, por fim, pelo seu roteiro, pelas suas atuações sensacionais, pelas poucas, porém importantes, reviravoltas e pela construção dos personagens. É interessante ver a loucura dos que estão por baixo e, principalmente, como a arrogância dos que estão por cima ganha maior espaço, à cada ato que passa.
A geração baby boomer, nascidos no pós-Guerra até 1960, costumam encontrar, geralmente em seus avós, membros da Grande Geração. De forma mais explicada, a Grande Geração se pendurou na Grande Depressão Americana e na Segunda Guerra Mundial porque acreditavam que era a coisa certa, enquanto os baby abriram a porta para as terapias e divórcios, sem falar nos prazeres da juventude, fazendo da linha tênue que os separava agora um emaranhado de possibilidades.
Em Álbum de Família, adaptação da peça homônima, vemos Tracy Letts tratando dessas diferenças como um capítulo inédito da formação do continente americano. À partir da analogia, podemos dizer que Violet Weston, interpretada brilhantemente por Meryl Streep, representa os velhos aventureiros e desbravadores do Oeste, que se assentavam sobre os pequenos condados de Oklahoma durante o Inferno que era o verão, e quando as baby boomers Barbara Weston (Julia Roberts, brilhante, como sempre), Ivy Weston (Julliane Nicholson) e Karen Weston (Julliete Lewis) aparecem após uma dessas tragédias familiares, ela derruba sobre elas todo que havia guardado ao longo dos anos, porque "era a coisa certa à ser feita".
Um exemplo dessa coisa toda de busca de identidade e conquista de território se expressa do começo ao fim do filme, principalmente na empregada índia da família. Porém, o velho Letts nunca deixa essa auto proclamação para o progresso. Em outras peças que foram adaptadas para o cinema, como Possuídos, é "elementar" que o escritor prefere retratar a suposta unidade americana como uma farsa ou uma tragicomédia.
Então, se focando em John Wells, diretor do filme, ele tinha uma escolha complicada de abraçar ou se distanciar totalmente de qualquer elemento que aproximasse Álbum de Família de uma dramédia por algo realmente sério. No fim, ele acabou encima do muro, cheio de situações e personagens carregados de situações cômicas, com um elenco extremamente inspirado, fazendo momentos solenes dignos de um drama não só sério, mas de respeito.
O diretor conseguiu ver em cada diálogo uma oportunidade de introduzir uma DR, com explosões de ira e fúria, mas também de fragilidade e melancolia. Como eu fiz questão de ressaltar, existe muito o que notar nas atuações do filme. Meryl Streep e Julia Roberts, por exemplo, receberam indicações de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente.
O filme falha, porém, nos momentos de monólogo, dificilmente deixando de serem performances para se tornarem interpretações. Em determinado momento do filme, Mattie Fae, Margo Martindale (outra interpretação brilhante) diz que "para ser complicado, deve ser, antes, inteligente". É nisso que John Wells falha, ao tentar levar os baby boomer ao extremo drama. Ele esquece que, antes de serem uma família, os Weston são todos atores.
Quentin Tarantino é um dos mais renomados diretores da história do cinema, e eles nos lembra o "por que" disso novamente, agora durante a Segunda Guerra Mundial. Como de costume, aqui temos a fusão entre épocas, linguajares e tantas outras coisas. Seja dos faroestes de Sergio Leone ou das vinganças teatrais de John Ford, ou a criação de Aldo Reyne (Brad Pitt), como um personagem qualquer de John Wayne ou de Aldo Ray (Aldo Ray, Aldo Reyne...pegaram a sacada?). Enfim, temos aqui uma grande lista, que aumenta á cada vez que você assiste ele de novo.
É interessante ver como o diretor apanha uma série de elementos e os funde, o que nos dá ótimos frutos. Okay, ele já fez isso várias vezes antes, em quase todos os seus filmes, na verdade, mas nunca de maneira tão bem moldada e organizada de forma tão sutil, ainda mais considerando toda a forma de capítulos em que o filme é contado.
A trama é inteligentemente simples, investindo muito nos atores. Cristoph Waltz que o diga, roubando a cena toda vez em que aparece, não dando chance alguma à seja lá quem esteja com ele em cena. O ator austríaco faz seu antagonista valer o ingresso. Claro, Brad Pitt também está excelente aqui, mas como eu já disse, Waltz não dá chance à quem quer que contracene com ele, se mantendo em uma esfera própria e fugindo das caricaturas do filme.
Falando nelas, sem dúvida, uma das coisas mais inteligentes que Tarantino fez com o filme foi toda essa coisa das caricaturas, reduzindo uma série de personagens aos seus estereótipos nativos, seja o inglês na sua extrema educação ou o americano caipira. O único personagem que realmente tem uma construção mais complexa aqui é o nazista Hans Landa, o que gerou certa polêmica, mas que não afetou muito o filme, seja em qualidade, crítica ou bilheteria. Arrisco meu pescoço dizendo que acredito ter até contribuído para o filme, nos oferecendo um vilão "justificado" em suas ações.
Uma coisa à ser considerada é o "ame ou odeie" dos filmes do Tanrantino, que é a clássica violência de seus filmes, mas que aqui é bem contida (considerando os outros filmes do diretor), ou talvez seja eu não me importando com escalpos soltos e tacos de basebol voadores. Mas acredito que não, que ela realmente esteja contida aqui, com o diretor transformando mais uma vez o que era pra ser pesado em algo "aceitável", pelo qual eu, particularmente, deixo o meu "obrigado", por mais um ótimo filme.
Depois do sucesso estrondoso de Frozen, a Disney tinha uma pressão encima enorme encima dela. Como adaptar uma velha série de quadrinhos da Marvel e mostrar que Frozen não foi o sucesso que foi apenas por sorte, mas sim o início de uma nova fase na Disney? Bem, pode-se dizer que fusão das duas empresas (Marvel e Disney) não poderia funcionar melhor.
Ao estilo Os Incríveis (outra animação incrível, com o perdão do trocadilho), os personagens apresentados durante o filme deveriam se unir e enfrentar uma ameaça em comum. Nada de inovador, mas foram alguns elementos básicos que fizeram a diferença aqui, seja o perfeito equilíbrio entre as cenas de ação e as sacadas de humor, ou a relação entre Hiro e Baymax, que se desenvolve de maneira tão natural e verdadeira que chega à ofuscar a presença dos outros personagens.
Um acerto em particular do filme se encontra em sua dublagem, incluindo o "ame ou odeie" que é a dublagem brasileira. Fazendo o uso comum de usar algumas celebridades para dublar personagens, a Disney ousou nas escolhas, escolhendo gente do tipo Marcos Mion e Robson Nunes. E, sinceramente? Não muda nada. Só fui perceber as vozes quando os créditos começaram a subir. Aliás, a genialidade do filme não acaba aos créditos. O filme, como eu já disse, tem um dedo da Marvel, e isso fica evidente quando eles terminam de subir e, então, vemos a excelente homenagem prestada à ela.
Muito mais do que um suspense de primeira, O Silêncio dos Inocentes é aquele tipo de filme que fica marcado na mente (como os cordeiros de Clarice) e que se superar em relação à outros filmes, não só da época, como de hoje em dia. É isso que faz desse filme uma obra prima do suspense psicológico, talvez ao maior delas, atrás somente de Psicose.
Adaptação do livro homônimo de Thomas Harris, O Silêncio dos Inocentes é algo simplesmente hipnotizante, onde todos os elementos são feitos para incomodar o espectador, de todas as formas possíveis. Aqui, porém, não temos vísceras abertas sendo mostradas indiscretamente ou sangue jorrando para todos os lados, na tentativa, quase sempre pífia, de deixar quem assiste tenso. Não. Tudo aqui é mostrado de forma discreta, sútil e brilhante.
O filme é conduzido com um clima denso e linear, construído de forma complexa, ao mesmo tempo que simples e direta. Durante seus 118 minutos, não temos sequer um com violência explicita. É tudo altamente sugestivo. E desconfortante. As vítimas de Buffalo Bill (Ted Levine) não são mostradas durante o esfolamento, apenas por fotos ou closes rápidos. Como vemos ocorrer com algumas vítimas durante o filme, a tortura é apenas psicológica.
Jonathan Demme também acerta na escolha dos cenários, apostando em cenários escuros e um pouco claustrofóbicos, dando esse efeito em várias momentos, desde os corredores do manicômio até o "covil secreto" de Bill. A tensão do longa entra para a história do cinema por acontecer entre corredores apertados e escuros, onde nem mesmo o espectador sabe de onde o perigo pode sair.
Ao início dos créditos, torna-se perceptível porque O Silêncio dos Inocentes é um filme para se guardar, com seus vários méritos, que foram reconhecidos pela Academia, fazendo desse o terceiro filme da história à levar os cinco prêmios principais: Melhor Filme, Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Atriz (Jodie Foster), Melhor Roteiro Adaptado (Ted Tally) e Melhor Diretor (Jonathan Demme).
Nebraska, até em sua fotografia, é um filme que busca entrar em contato com o passado. Depois temos as fusões, as transições e até algumas cenas, que parecem remeter à fotos de um álbum de família. O country melancólico de Mark Orton completa o flerte com o passado. Uma coisa que incomoda quem conhece os filmes de Alexander Payne, que usa técnicas tão contemporâneas em seus filmes, que pendem para a auto-ajuda de uma forma cínica, é capaz de fazer um filme com uma verdadeira elegia ao passado ou se o que nos espera é mais do mesmo, com a falsa sensação nostálgica de tudo que se procurava evitar viver.
Como um primeiro passo no resgate da Velha América, Payne seleciona imagens na rodovia, com caminhões, motoqueiros, agricultores e celeiros. Para nos dar um vislumbre da memória de Woody Grant (Bruce Dern) sobre o sonho americano, temos uma cena em que, quando passa um trem cargueiro, o velho baixa o vidro do carro, apenas para enxergar melhor o "desbravar sobre os trilhos".
Como é normal nas comédias dramáticas em que envolve, Payne se saí muito melhor nas partes cômicas, mas aqui, boa parte do mérito vai para Bruce Dern, exercitando um timing de humor preciso, assim como June Squibb, esposa de Woody. Para David Grant (Will Forte) resta o papel de bom moço, lutando para enfrentar seus problemas (como a separação e o até próprio pai).
No fim, Nebraska é um filme ligeiramente melancólico, porém, "bonito". Funciona como um bom retrato das relações familiares e de toda que podridão que mesmo a família pode demonstrar.
Wes Anderson tem uma vasta e excelente filmografia, mas que, à alguns olhos, é algo bobo, genérico e repetitivo. Conversa. É notável que, a cada filme, ele se aprofunda nas pinceladas em busca do especifico. E, dentre seus últimos notáveis filmes, O Grande Hotel Budapeste é onde vemos tudo que ele construiu até aqui, toda sua casa de bonecas, funcionando à pelo vapor.
Logo no início do filme, temos o "Autor" (Tom WIlkinson) dizendo que "um escritor não cria suas histórias, mas reproduzem tudo o que veem e ouvem". Descriptografando isso, temos a chave para a produção do filme mais cinefílico de Wes Anderson, que homenageia magistralmente os filmes de Ernst Lubitsch, que costumava ambientar seus filmes na Europa, mas filmava fora do continente, como Anderson faz aqui. Em tela, Lubitsch também é referenciado nos diálogos. M. Gustave (Ralph Fiennes) é cheio de ares de poeta, mas solta insinuações maliciosas quase que o tempo todo, que foi a técnica encontrar por Lubitsch na época pra driblar toda a fiscalização do Código de Hays, que proibia sexo demais, violência demais e tantas outras coisas "ofensivas".
É notável como Anderson sabe tudo que tem em mãos, tanto que a fotografia do filme reflete nisso. Enquanto os anos 30 são enquadrado em 1.37:1, os anos 60 são vistos em 2.35:1, enquanto nossos tempos atuais são filmados em 1.85:1. Podemos dizer que sua busca pelo específico, em alguns momentos, fosse exigir uma lente de aumento.
Expor um certo artificialismo é uma constante nos filmes de Wes Anderson, principalmente nos momentos em que temos um enquadramento que mostra todos os cômodos de algum lugar, fazendo com que o filme não passe de uma brincadeira dentro da casa de bonecas, mas que, sabemos, que estão cheios de pacotes e embrulhos cheios de segredos (literalmente) sobre temas universais, desde guerras e seus traumas até amores perdidos.
Ao fim de nossa comédia, uma bela paródia das tramas de assassinato, todo o "whodunit", o "quem matou?", acaba sendo o que menos importa. Só importa o que vamos guardar do que vimos, e do quão único foi isso. Como disse Marcelo Hessel, em uma crítica sobre o filme, é como uma luz que se acende uma única vez para iluminar um rosto - efeito que Anderson usa um par de vezes ao longo do filme e que já resume em si só todo o encantamento que o cinema provoca.
A palavra que, pra mim, define esse filme é: surpresa. A ideia de filmes com Cumberbatch me anima desde Sherlock, e ele foi o único motivo pelo qual fui dar uma olhada no filme. Inicialmente, achei que o filme se focaria muito na ideia da homossexualidade de Alan Turing (ideia que se quebrou logo nos primeiros minutos) e se esqueceria da modelagem e da apresentação do personagem. Não preciso falar sobre como eu estava errado. O onipresente Mark Strong também marca presença aqui, com poucos minutos em tela, mas minutos bem aproveitados. Falta, porém, uma química mais interessante entre Cumberbatch e Knightley. No fim, temos aqui a melhor atuação do Benedito, capaz de passar por mais alguns obstáculos (inclusive Redmayne e Keaton) até a estatueta de melhor ator. Mesmo se não for dessa vez, eu fico feliz, porque Benedict Cumberbatch finalmente teve seu merecido reconhecimento
Não é dos melhores, mas nada dentre os piores. Bradley Cooper aparece mais uma vez pra mostrar que tem todo um potencial à ser explorado, sendo o mais alto ponto do filme. Não são necessários comentários sobre o ufanismo exagerado, que aqui aparece de forma mais hiperbólica do que nunca. Todo esse ufanismo, porém, pode ser justificado pela narração de Chris Kyle logo no começo do livro de onde o filme foi retirado, deixando o mérito para Clint Eastwood, que utilizou bem uma essência ligeiramente negativa, agradando aos leitores e entregando um filme que não tem nada pro Oscar, mas que é, no geral, um bom filme
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Cobain: Montage of Heck
4.2 344 Assista AgoraDurante os últimos anos, fomos bombardeados com diversos documentários sobre Kurt Cobain; a maioria tentando "desvendar" o suicídio do lendário vocalista do Nirvana. Não é o caso aqui. Vemos Brett Morgen deixar Kurt falar, sem rodeios, e nos levar para viajar por dentro de sua cabeça, sua mente e sua alma. Após os 132 minutos, a última frase, aquilo que nenhum fã gostaria de ler: "No dia 5 de julho de 1994, Kurt Cobain pôs fim a sua vida". Notícia velha, muito velha, mas que volta a chocar após a profunda imersão na alma de Kurt.
Todos os filmes, fotos e vídeos inéditos presentes deixam claras as intenções de fazer um relato completo da vida de Cobain. Em ordem cronológica, vemos o vocalista desde os primeiros passos até seus últimos dias. A atmosfera criada por Morgen, com todos os relatos e sequências em animação, deixam o vocalista falar por si, talvez até ajudando a entender porque levava a vida como levava.
Como já era de se esperar, aqui temos trechos de entrevista, capas de revista e notícias em jornais, mas tudo isso faz parte de um "quadro" muito maior, ao lado de todos os poemas incompletos, as listas perturbadoras e todos os traços bizarros, até perturbadores, de seus desenhos. São os momentos em que temos o olhar mais aprofundado e inquietante da vida através dos olhos de Kurt.
Conforme o documentário vai se aproximando do fim, você vai se aprofundando na relação Cobain-Love, e vai sentindo o clima ficar mais denso, melancólico e pesado. Ver Kurt Cobain aos beijos com Courtney Love, com aquela aparência de quem teve toda a vitalidade sugada de si, seja pela fama ou até pela união é algo incrivelmente desconfortante. Aliás, adentrar a relação dos dois, seja nos momentos "íntimos" ou não, é desconfortante. É como se o que é chocante pra maioria das pessoas, como uma cena caseira de Love sob o efeito de drogas enquanto grávida, fosse algo normal para eles.
Mas, em quesito de choque, o principal choque de Montage of Heck é a entrada brusca e singular na vida de Kurt Cobain. Aqui, além do badboy que pouco se importava com criticas, opiniões e até público, se mostra, na verdade, um homem fragilizado, que não suporta ser invadido ou humilhado.
O Juiz
3.8 783 Assista AgoraDavid Dobkin é um diretor conhecido por comédias como Penetras Bons de Bico e Bater ou Correr, então é uma surpresa que ele se arrisque em um drama como O Juiz. Surpresa maior, porém, é ver como ele se saí bem assim, com seu crossover de três dos gêneros mais consagrados do cinema: um filme de tribunal, um filme de volta pra casa e um filme de família. Essa, somada à uma mistura de charme e carisma dos Robert's (Downey Jr. e Duvall), cuja a alteração frequente de humores mantém a experiência positiva, apesar de o roteiro não ser uma caixinha de surpresas, é a fórmula mágica do filme.
A química entre os dois protagonistas resulta em momentos memoráveis, especialmente a cena do banheiro, conduzida com extrema sensibilidade da parte de Dobkin. São essas sequências que simbolizam o ponto mais alto do filme: o seu equilíbrio perfeito entre drama e humor. O humor, obviamente, vindo de Robert Downey Jr., com um personagem tão parecido, ao mesmo tempo que tão diferente, de Tony Stark, enquanto o drama vem da parte sofrida de Robert Duvall, com uma merecida indicação para Melhor Ator Coadjuvante.
É esse equilíbrio que trilha o caminho do filme, que volto à dizer, sem grandes surpresas em seu roteiro, seja em risadas ou lágrimas. É interessante notar como até na trilha sonora, David Dobkin escolhe Thomas Newman, um especialista na arte de provocar emoções, talvez aqui, calculada um pouco demais, deixando claro o intuito de fazer o espectador se sentir bem. Nessa parte, podemos destacar a versão de Willie Nelson de The Scientist, do Coldplay, tocada durante os créditos e provocando uma sensação mais profunda sobre o filme e os personagens em si
Hannibal
4.0 1,1K Assista AgoraDepois de um arrebatamento com O Silêncio dos Inocentes, eis que vamos a Hannibal. Confesso que já sabia que esse não seria tão bom quanto o antecessor, só não esperava ver que desceriam tanto o nível de um para o outro.
A sensação de que algo estava errado começou quando Jonathan Deeme e Jodie Foster anunciaram que não participariam da sequência, substituídos por Ridley Scott e Julliane Moore.
Dez anos se passaram desde O Silêncios dos Inocentes. Após o fracasso desastroso em uma batida conjunta entre o FBI, DEA e a Polícia de Washington, a carreira de Clarice entra em decadência. Porém, ela é salva por Mason Verger, interpretado por um irreconhecível Gary Oldman, que a oferece informações preciosas sobre Hannibal, incluindo dica sobre seu paradeiro. Depois disso, somos levados à Florença. Nesse ponto vemos a competência de Ridley Scott como diretor, com uma iluminação excelente e uma fotografia de encher os olhos.
Infelizmente, a beleza do filme é perdida na esquina de alguma das ruas de Florença. À partir daqui, Hannibal mostra como não bate com o terror psicológico e suspense clássico de seu antecessor.
Mais incômodo é saber que Scott não podia fazer nada. Estava apenas seguindo o roteiro de David Mammet, que, olhando por esse lado, não fez feio na adaptação daquele que é considerado um dos piores livros da década de 90.
Indo além, o filme descaracteriza totalmente seus personagens. Se em O Silêncio dos Inocentes, dr. Lecter era um homem de bom gosto, discreto e elegante, aqui temos ele somente com seu bom gosto, que nem sequer é tratado como deveria. Também temos Julliane Moore, que aqui se encontra perdida. Não perdida como sua personagem deveria estar, mas perdida como atriz. Como se faltasse uma direção e até uma referência para ela seguir. Sinceramente, se não insistissem em falar "Clarice Starling" e "agente especial Starling" tantas vezes, dificilmente saberia que Moore equivale à Foster.
Por fim, chegamos aos atos que terminam o show de horrores iniciados em Florença, em uma das cenas mais perturbadoras do filme. Perturbadora não pelos acontecimentos em si, mas pelo fato de ir contra a discrição estabelecida no primeiro filme, e até contra o que foi estabelecido entre Hannibal e Clarice anteriormente.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 808 Assista AgoraBennett Miller tem, já faz algum tempo, feito filmes que retratassem bem a perda da inocência de seu país e a gradual mudança que nos leva até como o conhecemos hoje. Foi na década de 90 que a "história que chocou o mundo" aconteceu, envolvendo uma das mais ricas famílias, a "Dinastia Du Pont", consolidada nas época da Guerra Civil como uma fornecedora de munições e, mais tarde, uma indústria química.
Aqui, Steve Carrel vive, brilhantemente, John Du Pont, herdeiro da família e um homem ambicioso em sua busca por um pedestal, onde poderia ser notado e sair da sombra da mãe tirana. E é justamente na tentativa de subir no seu pedestal que Du Pont cria o centro de treinamento de luta greco-romana, dando início à toda uma história com Mark Schultz e Dave Schultz, até o eventual "choque".
Falando em Carrel, é impressionante como ele está irreconhecível aqui. Ele saí totalmente do que é comum em sua filmografia e trás à tona uma versão de si que não me lembro de ter visto antes, digna de todos os elogios que têm recebido. Outro destaque é Channing Tattum, que entende o lutador que recebeu uma segunda chance após sua decadência e floresce brilhantemente de novo, mas se perde na curva do poder e da loucura. Por fim, temos Mark Ruffalo, nos entregando mais uma atuação impecável, se destacando em um filme cheio delas.
De uma maneira simples, porém extremamente poderosa, Bennet Miller consegue retratar a já citada inocência perdida dos EUA. Igualmente simples é o clímax, algo rápido e até bem fácil, mas que trás sentido o subtítulo que o filme carrega (no Brasil), nos mostrando uma história que chocou o mundo.
Nas palavras do velho Borgo, aos gritos de "USA! USA!", uma nação perdia sua alma.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraGone Girl, logo de cara, já joga o fundo da trama toda na sua cara, e não há a minima discrição nisso. Parece haver alguma pressa em mostrar todas as ideias e até mesmo falas, de modo que elas ficassem mais rápidas do que as imagens conseguiriam captar, o que resulta em alguns furos no meio do roteiro. Mas, felizmente, os furos não impediram o filme de nos mostrar algumas verdades, o que traz alguns pontos positivos em relação à apresentação rápida da coisa toda.
É raro um filme nos mostrar as terras do Tio Sam de uma forma como mostram aqui, com uma podridão crescente, tomada por gente "ruim" e comandada por uma mídia sensacionalista e presunçosa, e é interessante ver como Ben Affleck entende isso tudo e constrói seu Nick Dunne adaptado à tudo isso, encaixado magistralmente no contexto do filme. Em contrapartida, temos Rosamund Pike, carregando um destaque particular que nos convence à todo momento. Ela é a garota exemplar que vai tendo seu passado revelado à cada flashback e, pouco a pouco, nos revela mais sobre a relação com o marido.
Após tudo isso, chegamos ao segundo ato, agora dando mais movimentos ao filme, e destacando mais e mais a personagem de Pike, tornando ela a maior personagem e com a melhor evolução durante o filme, trazendo uma verdadeira "solidificação" à história, sendo esse, talvez, o maior problema. O filme se solidifica tanto que chega à perder seus movimentos, erro visível na introdução de Neil Patrick Harris, extremamente corrida, cheia de informações, mas nada que foi aproveitado, e rapidamente tirando o personagem de cena, sem dar ao espectador a mínima chance de aceitar aquilo que acontece. Nesse momento, tanto o rigor técnico quanto a cadência do filme, ambos quebrados. Falando em cadência, podemos destacar a cena do interrogatório e a forma vaga com a qual Amy se safa. Sejamos sensatos: em um estado em que a pena de morte é uma realidade, a polícia jamais seria tão facilmente enganada assim.
Por fim, temos os questionamentos que o filme levanta, desde a excelente representação (já citada) da mídia presunçosa até as ideias sobre relacionamentos, abordadas em tantos outros filmes, mas aqui, de uma forma uma pouco mais cheia de suspense e drama. Em resumo, podemos dizer que David Fincher perdeu à mão conforme a história foi se desenrolando, o que poderia ser diferente caso 15 minutos fossem diferentes.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraBirdman é aquele tipo de filme que, não importa quantas vezes você assista, sempre tem algo de novo pra ver. Aqui também encontramos, após Babel e Biutiful, a consolidação de Alejandro Gonzalez Iñarritu.
Um dos fatores que contribuiu bastante para essa consolidação foi toda a construção e modelação dos personagens, tendo seus limites estipulados e respeitados. É interessante ver como cada personagem se destaca de maneira única e como a química muda, dependendo de com quem eles dividem a cena. Iñarritu, porém, também construiu toda uma base para os personagens se manterem sozinhos, com seus conflitos, dramas e necessidades.
Como já disse, Birdman sempre tem algo novo pra apresentar, e algumas ficam ainda melhores depois que você assiste outra vez. O melhor exemplo disso é a forma com a qual o filme trata o mundo artístico propriamente dito e o mundo "real", que envolve o mundo artístico, ambos se mostrando cada vez mais densos, porém "divertidos".
O filme também traz à tona alguns temas cinematograficamente importantes, como os críticos preguiçosos e atores marcados, perdidos em personagens do passado. Aliás, Michael Keaton tá ali pra simbolizar isso, fazendo de seu Riggan Thomson, eterno Birdman no filme, uma versão caricata de si mesmo, o eterno Batman.
Entre tantos aspectos, porém, podemos dizer que Birdman é um excelente filme simplesmente por não ter os cada vez mais habituais rodeios, as nada queridas enrolações. O filme se consolida, por fim, pelo seu roteiro, pelas suas atuações sensacionais, pelas poucas, porém importantes, reviravoltas e pela construção dos personagens. É interessante ver a loucura dos que estão por baixo e, principalmente, como a arrogância dos que estão por cima ganha maior espaço, à cada ato que passa.
Álbum de Família
3.9 1,4K Assista AgoraA geração baby boomer, nascidos no pós-Guerra até 1960, costumam encontrar, geralmente em seus avós, membros da Grande Geração. De forma mais explicada, a Grande Geração se pendurou na Grande Depressão Americana e na Segunda Guerra Mundial porque acreditavam que era a coisa certa, enquanto os baby abriram a porta para as terapias e divórcios, sem falar nos prazeres da juventude, fazendo da linha tênue que os separava agora um emaranhado de possibilidades.
Em Álbum de Família, adaptação da peça homônima, vemos Tracy Letts tratando dessas diferenças como um capítulo inédito da formação do continente americano. À partir da analogia, podemos dizer que Violet Weston, interpretada brilhantemente por Meryl Streep, representa os velhos aventureiros e desbravadores do Oeste, que se assentavam sobre os pequenos condados de Oklahoma durante o Inferno que era o verão, e quando as baby boomers Barbara Weston (Julia Roberts, brilhante, como sempre), Ivy Weston (Julliane Nicholson) e Karen Weston (Julliete Lewis) aparecem após uma dessas tragédias familiares, ela derruba sobre elas todo que havia guardado ao longo dos anos, porque "era a coisa certa à ser feita".
Um exemplo dessa coisa toda de busca de identidade e conquista de território se expressa do começo ao fim do filme, principalmente na empregada índia da família. Porém, o velho Letts nunca deixa essa auto proclamação para o progresso. Em outras peças que foram adaptadas para o cinema, como Possuídos, é "elementar" que o escritor prefere retratar a suposta unidade americana como uma farsa ou uma tragicomédia.
Então, se focando em John Wells, diretor do filme, ele tinha uma escolha complicada de abraçar ou se distanciar totalmente de qualquer elemento que aproximasse Álbum de Família de uma dramédia por algo realmente sério. No fim, ele acabou encima do muro, cheio de situações e personagens carregados de situações cômicas, com um elenco extremamente inspirado, fazendo momentos solenes dignos de um drama não só sério, mas de respeito.
O diretor conseguiu ver em cada diálogo uma oportunidade de introduzir uma DR, com explosões de ira e fúria, mas também de fragilidade e melancolia. Como eu fiz questão de ressaltar, existe muito o que notar nas atuações do filme. Meryl Streep e Julia Roberts, por exemplo, receberam indicações de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente.
O filme falha, porém, nos momentos de monólogo, dificilmente deixando de serem performances para se tornarem interpretações. Em determinado momento do filme, Mattie Fae, Margo Martindale (outra interpretação brilhante) diz que "para ser complicado, deve ser, antes, inteligente". É nisso que John Wells falha, ao tentar levar os baby boomer ao extremo drama. Ele esquece que, antes de serem uma família, os Weston são todos atores.
Bastardos Inglórios
4.4 4,9K Assista AgoraQuentin Tarantino é um dos mais renomados diretores da história do cinema, e eles nos lembra o "por que" disso novamente, agora durante a Segunda Guerra Mundial.
Como de costume, aqui temos a fusão entre épocas, linguajares e tantas outras coisas. Seja dos faroestes de Sergio Leone ou das vinganças teatrais de John Ford, ou a criação de Aldo Reyne (Brad Pitt), como um personagem qualquer de John Wayne ou de Aldo Ray (Aldo Ray, Aldo Reyne...pegaram a sacada?). Enfim, temos aqui uma grande lista, que aumenta á cada vez que você assiste ele de novo.
É interessante ver como o diretor apanha uma série de elementos e os funde, o que nos dá ótimos frutos. Okay, ele já fez isso várias vezes antes, em quase todos os seus filmes, na verdade, mas nunca de maneira tão bem moldada e organizada de forma tão sutil, ainda mais considerando toda a forma de capítulos em que o filme é contado.
A trama é inteligentemente simples, investindo muito nos atores. Cristoph Waltz que o diga, roubando a cena toda vez em que aparece, não dando chance alguma à seja lá quem esteja com ele em cena. O ator austríaco faz seu antagonista valer o ingresso. Claro, Brad Pitt também está excelente aqui, mas como eu já disse, Waltz não dá chance à quem quer que contracene com ele, se mantendo em uma esfera própria e fugindo das caricaturas do filme.
Falando nelas, sem dúvida, uma das coisas mais inteligentes que Tarantino fez com o filme foi toda essa coisa das caricaturas, reduzindo uma série de personagens aos seus estereótipos nativos, seja o inglês na sua extrema educação ou o americano caipira. O único personagem que realmente tem uma construção mais complexa aqui é o nazista Hans Landa, o que gerou certa polêmica, mas que não afetou muito o filme, seja em qualidade, crítica ou bilheteria. Arrisco meu pescoço dizendo que acredito ter até contribuído para o filme, nos oferecendo um vilão "justificado" em suas ações.
Uma coisa à ser considerada é o "ame ou odeie" dos filmes do Tanrantino, que é a clássica violência de seus filmes, mas que aqui é bem contida (considerando os outros filmes do diretor), ou talvez seja eu não me importando com escalpos soltos e tacos de basebol voadores. Mas acredito que não, que ela realmente esteja contida aqui, com o diretor transformando mais uma vez o que era pra ser pesado em algo "aceitável", pelo qual eu, particularmente, deixo o meu "obrigado", por mais um ótimo filme.
Operação Big Hero
4.2 1,9K Assista AgoraDepois do sucesso estrondoso de Frozen, a Disney tinha uma pressão encima enorme encima dela. Como adaptar uma velha série de quadrinhos da Marvel e mostrar que Frozen não foi o sucesso que foi apenas por sorte, mas sim o início de uma nova fase na Disney? Bem, pode-se dizer que fusão das duas empresas (Marvel e Disney) não poderia funcionar melhor.
Ao estilo Os Incríveis (outra animação incrível, com o perdão do trocadilho), os personagens apresentados durante o filme deveriam se unir e enfrentar uma ameaça em comum. Nada de inovador, mas foram alguns elementos básicos que fizeram a diferença aqui, seja o perfeito equilíbrio entre as cenas de ação e as sacadas de humor, ou a relação entre Hiro e Baymax, que se desenvolve de maneira tão natural e verdadeira que chega à ofuscar a presença dos outros personagens.
Um acerto em particular do filme se encontra em sua dublagem, incluindo o "ame ou odeie" que é a dublagem brasileira. Fazendo o uso comum de usar algumas celebridades para dublar personagens, a Disney ousou nas escolhas, escolhendo gente do tipo Marcos Mion e Robson Nunes. E, sinceramente? Não muda nada. Só fui perceber as vozes quando os créditos começaram a subir. Aliás, a genialidade do filme não acaba aos créditos. O filme, como eu já disse, tem um dedo da Marvel, e isso fica evidente quando eles terminam de subir e, então, vemos a excelente homenagem prestada à ela.
O Silêncio dos Inocentes
4.4 2,8K Assista AgoraMuito mais do que um suspense de primeira, O Silêncio dos Inocentes é aquele tipo de filme que fica marcado na mente (como os cordeiros de Clarice) e que se superar em relação à outros filmes, não só da época, como de hoje em dia. É isso que faz desse filme uma obra prima do suspense psicológico, talvez ao maior delas, atrás somente de Psicose.
Adaptação do livro homônimo de Thomas Harris, O Silêncio dos Inocentes é algo simplesmente hipnotizante, onde todos os elementos são feitos para incomodar o espectador, de todas as formas possíveis. Aqui, porém, não temos vísceras abertas sendo mostradas indiscretamente ou sangue jorrando para todos os lados, na tentativa, quase sempre pífia, de deixar quem assiste tenso. Não. Tudo aqui é mostrado de forma discreta, sútil e brilhante.
O filme é conduzido com um clima denso e linear, construído de forma complexa, ao mesmo tempo que simples e direta. Durante seus 118 minutos, não temos sequer um com violência explicita. É tudo altamente sugestivo. E desconfortante. As vítimas de Buffalo Bill (Ted Levine) não são mostradas durante o esfolamento, apenas por fotos ou closes rápidos. Como vemos ocorrer com algumas vítimas durante o filme, a tortura é apenas psicológica.
Jonathan Demme também acerta na escolha dos cenários, apostando em cenários escuros e um pouco claustrofóbicos, dando esse efeito em várias momentos, desde os corredores do manicômio até o "covil secreto" de Bill. A tensão do longa entra para a história do cinema por acontecer entre corredores apertados e escuros, onde nem mesmo o espectador sabe de onde o perigo pode sair.
Ao início dos créditos, torna-se perceptível porque O Silêncio dos Inocentes é um filme para se guardar, com seus vários méritos, que foram reconhecidos pela Academia, fazendo desse o terceiro filme da história à levar os cinco prêmios principais: Melhor Filme, Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Atriz (Jodie Foster), Melhor Roteiro Adaptado (Ted Tally) e Melhor Diretor (Jonathan Demme).
Nebraska
4.1 1,0K Assista AgoraNebraska, até em sua fotografia, é um filme que busca entrar em contato com o passado. Depois temos as fusões, as transições e até algumas cenas, que parecem remeter à fotos de um álbum de família. O country melancólico de Mark Orton completa o flerte com o passado.
Uma coisa que incomoda quem conhece os filmes de Alexander Payne, que usa técnicas tão contemporâneas em seus filmes, que pendem para a auto-ajuda de uma forma cínica, é capaz de fazer um filme com uma verdadeira elegia ao passado ou se o que nos espera é mais do mesmo, com a falsa sensação nostálgica de tudo que se procurava evitar viver.
Como um primeiro passo no resgate da Velha América, Payne seleciona imagens na rodovia, com caminhões, motoqueiros, agricultores e celeiros. Para nos dar um vislumbre da memória de Woody Grant (Bruce Dern) sobre o sonho americano, temos uma cena em que, quando passa um trem cargueiro, o velho baixa o vidro do carro, apenas para enxergar melhor o "desbravar sobre os trilhos".
Como é normal nas comédias dramáticas em que envolve, Payne se saí muito melhor nas partes cômicas, mas aqui, boa parte do mérito vai para Bruce Dern, exercitando um timing de humor preciso, assim como June Squibb, esposa de Woody. Para David Grant (Will Forte) resta o papel de bom moço, lutando para enfrentar seus problemas (como a separação e o até próprio pai).
No fim, Nebraska é um filme ligeiramente melancólico, porém, "bonito". Funciona como um bom retrato das relações familiares e de toda que podridão que mesmo a família pode demonstrar.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KWes Anderson tem uma vasta e excelente filmografia, mas que, à alguns olhos, é algo bobo, genérico e repetitivo. Conversa. É notável que, a cada filme, ele se aprofunda nas pinceladas em busca do especifico. E, dentre seus últimos notáveis filmes, O Grande Hotel Budapeste é onde vemos tudo que ele construiu até aqui, toda sua casa de bonecas, funcionando à pelo vapor.
Logo no início do filme, temos o "Autor" (Tom WIlkinson) dizendo que "um escritor não cria suas histórias, mas reproduzem tudo o que veem e ouvem". Descriptografando isso, temos a chave para a produção do filme mais cinefílico de Wes Anderson, que homenageia magistralmente os filmes de Ernst Lubitsch, que costumava ambientar seus filmes na Europa, mas filmava fora do continente, como Anderson faz aqui. Em tela, Lubitsch também é referenciado nos diálogos. M. Gustave (Ralph Fiennes) é cheio de ares de poeta, mas solta insinuações maliciosas quase que o tempo todo, que foi a técnica encontrar por Lubitsch na época pra driblar toda a fiscalização do Código de Hays, que proibia sexo demais, violência demais e tantas outras coisas "ofensivas".
É notável como Anderson sabe tudo que tem em mãos, tanto que a fotografia do filme reflete nisso. Enquanto os anos 30 são enquadrado em 1.37:1, os anos 60 são vistos em 2.35:1, enquanto nossos tempos atuais são filmados em 1.85:1. Podemos dizer que sua busca pelo específico, em alguns momentos, fosse exigir uma lente de aumento.
Expor um certo artificialismo é uma constante nos filmes de Wes Anderson, principalmente nos momentos em que temos um enquadramento que mostra todos os cômodos de algum lugar, fazendo com que o filme não passe de uma brincadeira dentro da casa de bonecas, mas que, sabemos, que estão cheios de pacotes e embrulhos cheios de segredos (literalmente) sobre temas universais, desde guerras e seus traumas até amores perdidos.
Ao fim de nossa comédia, uma bela paródia das tramas de assassinato, todo o "whodunit", o "quem matou?", acaba sendo o que menos importa. Só importa o que vamos guardar do que vimos, e do quão único foi isso. Como disse Marcelo Hessel, em uma crítica sobre o filme, é como uma luz que se acende uma única vez para iluminar um rosto - efeito que Anderson usa um par de vezes ao longo do filme e que já resume em si só todo o encantamento que o cinema provoca.
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraA palavra que, pra mim, define esse filme é: surpresa.
A ideia de filmes com Cumberbatch me anima desde Sherlock, e ele foi o único motivo pelo qual fui dar uma olhada no filme. Inicialmente, achei que o filme se focaria muito na ideia da homossexualidade de Alan Turing (ideia que se quebrou logo nos primeiros minutos) e se esqueceria da modelagem e da apresentação do personagem. Não preciso falar sobre como eu estava errado. O onipresente Mark Strong também marca presença aqui, com poucos minutos em tela, mas minutos bem aproveitados. Falta, porém, uma química mais interessante entre Cumberbatch e Knightley.
No fim, temos aqui a melhor atuação do Benedito, capaz de passar por mais alguns obstáculos (inclusive Redmayne e Keaton) até a estatueta de melhor ator. Mesmo se não for dessa vez, eu fico feliz, porque Benedict Cumberbatch finalmente teve seu merecido reconhecimento
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraNão é dos melhores, mas nada dentre os piores. Bradley Cooper aparece mais uma vez pra mostrar que tem todo um potencial à ser explorado, sendo o mais alto ponto do filme. Não são necessários comentários sobre o ufanismo exagerado, que aqui aparece de forma mais hiperbólica do que nunca. Todo esse ufanismo, porém, pode ser justificado pela narração de Chris Kyle logo no começo do livro de onde o filme foi retirado, deixando o mérito para Clint Eastwood, que utilizou bem uma essência ligeiramente negativa, agradando aos leitores e entregando um filme que não tem nada pro Oscar, mas que é, no geral, um bom filme