Diante do iminente fim da existência, o que resta pro ser humano acreditar?
Se estamos condenados a conviver com dúvidas que nos fazem questionar o propósito de tudo e até de nós mesmos, precisamos criar fugas para termos a segurança de dar continuidade à nossa existência. E o instinto primário de sobrevivência nunca fora tão complexo: no aprisionamento da alma (ou do ser) que a vida parecer nos incumbir por natureza, não resta só lutar fisicamente para continuar vivo, mas também, a ultrapassar qualquer tipo de racionalidade e irracionalidade que possa haver.
Assim, por medo do desconhecido e da morte, criamos nossos deuses e nossas religiões. Criamos uma fuga de nosso apagamento do mundo. Por puro instinto de sobrevivência. Para ter esperança de continuar vivendo e retardar o quanto for possível o que um dia virá inevitavelmente - ou continuar com a ilusão de que esse dia nunca chegará.
Assim, podemos ver o plano de fuga de Fontaine como a própria criação das religiões e da fé - todos pensados pelo ser humano como instrumentos de escape, que os ajudam a escapar da danação ou do simples fim da existência. Mas mesmo tendo companheiros de cárcere que preferem se agarrar ao divino como salvação espiritual, Fontaine não se apega a essas palavras, pelo contrário, usa esforços reais a meio de encontrar uma saída física para seu tormento psicológico. Ele não precisa acreditar numa força superior para ter esperança de sobreviver. Apenas sobrevive com as ferramentas ao seu alcance.
Desde o começo, ele está preso. Não vemos liberdade antes disso. E a cada etapa que ele passa para atingir seu objetivo, o narrador narra os fatos não só como um conforto em meio ao vazio e a solidão que vemos em tela, mas também, como um modo de nos lembrar constantemente de que há esperança e que tudo vai ocorrer bem - além da sugestão do próprio título.
No final, com um jovem se agarrando à mesma esperança que Fontaine, os dois se ajudam mutuamente e conseguem sair da prisão. Saem juntos rumo às sombras e muita névoa. Sobe Kyrie Eleison, uma seção do Réquiem de Mozart. A liberdade parece crua, e no horizonte não parece haver muita luz. Escaparam, mas não se salvaram. Apenas retardaram algo que um dia virá de chegar.
Desde o seu nome, aparece desde cedo a relação direta do filme com ''O Discreto Charme da Burguesia''. Não só por retratar uma classe burguesa vivendo de aparências, mas por finalmente concretizar a refeição que os personagens do filme do Buñuel tanto desejam. Passado inteiramente dentro de um ambiente que os enclausura, aos poucos, as máscaras vão caindo e revelando os segredos e a verdadeira face de quem parece ter medo da própria impotência e insignificância perante os outros. É um jogo de ego e mesquinharia. E nisso, a personagem da Fabiana Gugli parece ser a mais complexa. É convidada para comemorar o aniversário de casamento do seu amante. E, mesmo guardando um visível rancor (com uma pintada de autodepreciação), não consegue esconder a admiração que tem pelo trabalho da esposa do aniversariante. Até as atuações ora caricatas e o estilo teatral e ilustrativo de direção da Daniela corroboram pra esse jogo do filme, onde as cortinas se abrem e continuam sempre abertas. Os atores (que participam do banquete) não merecem aplausos dessa vez.
É do mar, onde em outros tempos se deu a origem da vida e continua ainda sendo um meio de sobrevivência, que agora se encontra a morte. Um lugar onde a plasticidade da imagem contrasta com os bastidores da beleza comercial e financeira que rege o lugar, o trabalho e a vida daquelas pessoas. Presos na rotina, no trabalho, e vivendo todos em suas solidões. Onde os cocos bons vão e os podres ficam. Um lugar de contradições e que parece não ter escapatória, onde até quem já morreu não sai de lá. E o vento que vem, quando volta, volta sozinho.
Muito mais cru e realista do que o parente temático ‘’Que Horas Ela Volta?’’, em Roma, Cleo não parece ter direito a quase nada - a ver tv, comer em paz ou simplesmente ter um filho e amá-lo. Assim, a única forma de tentar experimentar esse prazeres é através de seus patrões, incluindo ser mãe de seus filhos.
Numa frieza rara na filmografia do Cuarón, o filme às vezes não parece problematizar toda a situação de Cleo na casa, mas é justamente o distanciamento na forma do filme que problematiza toda a situação - por ser um reflexo da monotonia e letargia na vida de Cleo, onde claramente, se dá a posição de poder entre o colonizador branco e o não branco.
Tendo a posição dos indígenas em sua pré-colonização totalmente invertida, onde antes viviam livremente, agora vivem presos num ciclo de opressão. E se antes, os navios que chegavam e ali ficavam, há um palmo de distância (quando tiveram a sua liberdade roubada), agora parece impossível a proximidade com os aviões do céu (presentes em todo o filme, incluindo no primeiro e último plano). Contradição poética que fica ainda mais interessante quando observamos que é na praia que a índia colonizada pelo homem branco salva seus filhos da morte.
Curioso também é observar que quando Cleo limpa a merda do cachorro, o som do avião dessa cena tem continuidade com o som do avião que aparece no cinema na cena seguinte. É bem bonita a transição, mas amarga a visão de como o Cuarón fala que aquele avião no céu está tão distante de Cleo quanto a visibilidade de seu povo no cinema. Agora, a atriz que a interpreta está indicada ao Oscar.
Vendo Arábia e depois esse primeiro filme de Affonso Uchoa, é interessante perceber como o diretor gosta de falar sobre personagens inertes, que desejam uma vida melhor mas não conseguem sair do lugar onde estão. Se em Arábia, Cristiano passa por vários lugares à procura de um emprego e uma condição de vida digna pra sobreviver, aqui, os personagens nem ao menos saem de seu bairro. Eles brincam, trabalham e seguem com uma rotina que cada vez mais se perpetua em suas vidas. A Vizinhança do Tigre é um filme de desconstrução. Desconstrução tanto da narrativa clássica, transitando entre a ficção e a realidade documental, como da desconstrução simbólica dos personagens em suas (não) jornadas. Até mesmo um casamento e a construção de um lar para um nova vida parecem sem brilho, incompletas. E ao final, a conclusão que se chega, é de que nem essa mudança ou a de Juninho conseguirá levá-los a algum lugar novo.
Arrival é um filme que levanta questões bastante existenciais (como qualquer obra-prima do gênero) sobre a finitude da existência, a memória, e o tempo.
E o que de fato chama a atenção, é como se vê o enorme poder da montagem (que claro, é uma consequência da brilhante estrutura do roteiro) que ressignifica a mesma morte. Nos emocionamos primeiramente com a morte de uma garota com câncer e o sofrimento de sua mãe e, ao final, nos emocionamos igualmente (ou até mais) por sermos lembrados daquela mesma morte, mas de um jeito diferente. Ressignificada.
Mais do que qualquer herói ou heroína, Louise é a suprema de todos. Ela convive com o fardo de que verá sua filha morrer antes dela e aceita isso. Aceita porque mais do que qualquer herói ou heroína, ela é um ser humano que sabe enfrentar a finitude com toda a humanidade possível. Louise vive e sente algo que ela sabe que um dia vai acabar, mas por que não viveria e sentiria mesmo assim? Somos mais que seres errantes e sem propósito no Universo, somos seres que sentimos e vivemos, como uma forma de esperarmos pela morte, mas, mais ainda, como uma forma de nos sentirmos vivos. Trabalhando com uma estrutura circular, onde a temática do ciclo da vida está enraizada no filme, vemos nascimento e morte caminhando juntos. Desde o começo, até o final. Seja na maravilhosa música tema de Max Richter que toca no começo e no fim, na forma oval da concha (representando o útero e o nascimento - e consequentemente, a morte) e, até mesmo no nome da filha de Louise, Hannah, um palíndromo, podendo ler lido da esquerda para direita e vice-versa. Assim, abrindo espaços para mais simbolismos no filme, onde Louise aparece como uma verdadeira figura messiânica. Se na bíblia, Jesus teve seus 12 discípulos e o seu sacrifício final em prol dos outros, aqui, Louise ajuda os habitantes da 12 naves e a humanidade, e tem seu sacrifício ao receber o ‘’presente’’ dados pelos seres extraterrestres. E não falta nem a auréola em sua cabeça formada pelo símbolo linguístico dos heptapods, quando os mesmos acabam por expressar o ‘’oferecer arma’’ para ela.
Já faz alguns anos que Denis Villeneuve nos entrega um filme incrível após o outro, mas é com Arrival que ele definitivamente faz uma obra-prima absoluta. Desde já, é um dos melhores filmes de sci-fi já feitos.
Jeffries (James Stewart) é um fotógrafo aventureiro, suas fotos mostram que ele não se importa com o perigo pra conseguir tirar a melhor foto possível, fala muito em viagens e que não consegue ficar em um só lugar - o que sua atual condição física de recuperação o aprisiona em vivenciar.
Portanto, não demora muito para a mente inquieta de Jeffries tentar descobrir o que acontecera com o desaparecimento misterioso de uma vizinha - e também esposa de um vizinho. Sim, um detalhe importante, já que o filme espelha diferentes fases do relacionamento amoroso e do casamento na rotina dos vizinhos de Jeffries. Assim, por seu espírito de aventureiro nato, não é de se estranhar que o protagonista é um homem que tem medo de se entregar ao amor (algo que representaria alguma estabilidade).
Em sua nova ocupação de observar os vizinhos em suas relações conjugais (ou a falta dela), ele vê: uma jovem mulher e um jovem pianista solitários; recém-casados chegando no novo apartamento, em pleno regozijo inicial da convivência no mesmo teto; uma mulher mais velha, solitária e depressiva, também à procura de alguém; um casal de meia-idade que pretende sair da rotina e dorme na sacada do apartamento; e, por último, um casal que sempre briga, até que a mulher desaparece misteriosamente.
Nesse meio tempo, conhecemos Lisa (Grace Kelly), namorada de Jeffries. Ela é o contrário dele: rica e faz parte da elite, usa vestidos caros (sem repetir nenhum, aliás) e vai em festas e restaurantes chiques. Ela quer se casar, mas é difícil pra ele pensar em um futuro com ela, pois segundo ele, ela é ''muito comum''.
Durante o desenvolver do mistério, Jeffries percebe que Lisa se aventura e se mostra muito mais do que ele imaginava que ela fosse e, por isso, fica fascinado com o risco em que ela se coloca (é lindo ver sua expressão de admiração quando ela volta do apt. do Lars após deixar lá o bilhete) e, claro, acaba percebendo que ela é a pessoa ideal pra ele. No final, após o mistério ser solucionado e Jeffries e Lisa ficarem juntos e felizes, não deixa de ser irônico os recém-casados que, outrora aproveitando a felicidade do início do matrimônio, agora terminarem brigando entre si.
Um Condenado à Morte Escapou
4.4 69Diante do iminente fim da existência, o que resta pro ser humano acreditar?
Se estamos condenados a conviver com dúvidas que nos fazem questionar o propósito de tudo e até de nós mesmos, precisamos criar fugas para termos a segurança de dar continuidade à nossa existência. E o instinto primário de sobrevivência nunca fora tão complexo: no aprisionamento da alma (ou do ser) que a vida parecer nos incumbir por natureza, não resta só lutar fisicamente para continuar vivo, mas também, a ultrapassar qualquer tipo de racionalidade e irracionalidade que possa haver.
Assim, por medo do desconhecido e da morte, criamos nossos deuses e nossas religiões. Criamos uma fuga de nosso apagamento do mundo. Por puro instinto de sobrevivência. Para ter esperança de continuar vivendo e retardar o quanto for possível o que um dia virá inevitavelmente - ou continuar com a ilusão de que esse dia nunca chegará.
Assim, podemos ver o plano de fuga de Fontaine como a própria criação das religiões e da fé - todos pensados pelo ser humano como instrumentos de escape, que os ajudam a escapar da danação ou do simples fim da existência.
Mas mesmo tendo companheiros de cárcere que preferem se agarrar ao divino como salvação espiritual, Fontaine não se apega a essas palavras, pelo contrário, usa esforços reais a meio de encontrar uma saída física para seu tormento psicológico. Ele não precisa acreditar numa força superior para ter esperança de sobreviver. Apenas sobrevive com as ferramentas ao seu alcance.
Desde o começo, ele está preso. Não vemos liberdade antes disso. E a cada etapa que ele passa para atingir seu objetivo, o narrador narra os fatos não só como um conforto em meio ao vazio e a solidão que vemos em tela, mas também, como um modo de nos lembrar constantemente de que há esperança e que tudo vai ocorrer bem - além da sugestão do próprio título.
No final, com um jovem se agarrando à mesma esperança que Fontaine, os dois se ajudam mutuamente e conseguem sair da prisão. Saem juntos rumo às sombras e muita névoa. Sobe Kyrie Eleison, uma seção do Réquiem de Mozart. A liberdade parece crua, e no horizonte não parece haver muita luz. Escaparam, mas não se salvaram. Apenas retardaram algo que um dia virá de chegar.
FIM
O Banquete
3.2 79Desde o seu nome, aparece desde cedo a relação direta do filme com ''O Discreto Charme da Burguesia''. Não só por retratar uma classe burguesa vivendo de aparências, mas por finalmente concretizar a refeição que os personagens do filme do Buñuel tanto desejam.
Passado inteiramente dentro de um ambiente que os enclausura, aos poucos, as máscaras vão caindo e revelando os segredos e a verdadeira face de quem parece ter medo da própria impotência e insignificância perante os outros. É um jogo de ego e mesquinharia. E nisso, a personagem da Fabiana Gugli parece ser a mais complexa. É convidada para comemorar o aniversário de casamento do seu amante. E, mesmo guardando um visível rancor (com uma pintada de autodepreciação), não consegue esconder a admiração que tem pelo trabalho da esposa do aniversariante.
Até as atuações ora caricatas e o estilo teatral e ilustrativo de direção da Daniela corroboram pra esse jogo do filme, onde as cortinas se abrem e continuam sempre abertas.
Os atores (que participam do banquete) não merecem aplausos dessa vez.
Ventos de Agosto
3.3 73 Assista AgoraÉ do mar, onde em outros tempos se deu a origem da vida e continua ainda sendo um meio de sobrevivência, que agora se encontra a morte.
Um lugar onde a plasticidade da imagem contrasta com os bastidores da beleza comercial e financeira que rege o lugar, o trabalho e a vida daquelas pessoas.
Presos na rotina, no trabalho, e vivendo todos em suas solidões. Onde os cocos bons vão e os podres ficam.
Um lugar de contradições e que parece não ter escapatória, onde até quem já morreu não sai de lá. E o vento que vem, quando volta, volta sozinho.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraMuito mais cru e realista do que o parente temático ‘’Que Horas Ela Volta?’’, em Roma, Cleo não parece ter direito a quase nada - a ver tv, comer em paz ou simplesmente ter um filho e amá-lo. Assim, a única forma de tentar experimentar esse prazeres é através de seus patrões, incluindo ser mãe de seus filhos.
Numa frieza rara na filmografia do Cuarón, o filme às vezes não parece problematizar toda a situação de Cleo na casa, mas é justamente o distanciamento na forma do filme que problematiza toda a situação - por ser um reflexo da monotonia e letargia na vida de Cleo, onde claramente, se dá a posição de poder entre o colonizador branco e o não branco.
Tendo a posição dos indígenas em sua pré-colonização totalmente invertida, onde antes viviam livremente, agora vivem presos num ciclo de opressão. E se antes, os navios que chegavam e ali ficavam, há um palmo de distância (quando tiveram a sua liberdade roubada), agora parece impossível a proximidade com os aviões do céu (presentes em todo o filme, incluindo no primeiro e último plano).
Contradição poética que fica ainda mais interessante quando observamos que é na praia que a índia colonizada pelo homem branco salva seus filhos da morte.
Curioso também é observar que quando Cleo limpa a merda do cachorro, o som do avião dessa cena tem continuidade com o som do avião que aparece no cinema na cena seguinte. É bem bonita a transição, mas amarga a visão de como o Cuarón fala que aquele avião no céu está tão distante de Cleo quanto a visibilidade de seu povo no cinema. Agora, a atriz que a interpreta está indicada ao Oscar.
Mas ainda assim o avião continua distante.
A Vizinhança do Tigre
3.9 44Vendo Arábia e depois esse primeiro filme de Affonso Uchoa, é interessante perceber como o diretor gosta de falar sobre personagens inertes, que desejam uma vida melhor mas não conseguem sair do lugar onde estão. Se em Arábia, Cristiano passa por vários lugares à procura de um emprego e uma condição de vida digna pra sobreviver, aqui, os personagens nem ao menos saem de seu bairro. Eles brincam, trabalham e seguem com uma rotina que cada vez mais se perpetua em suas vidas.
A Vizinhança do Tigre é um filme de desconstrução. Desconstrução tanto da narrativa clássica, transitando entre a ficção e a realidade documental, como da desconstrução simbólica dos personagens em suas (não) jornadas. Até mesmo um casamento e a construção de um lar para um nova vida parecem sem brilho, incompletas. E ao final, a conclusão que se chega, é de que nem essa mudança ou a de Juninho conseguirá levá-los a algum lugar novo.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraArrival é um filme que levanta questões bastante existenciais (como qualquer obra-prima do gênero) sobre a finitude da existência, a memória, e o tempo.
E o que de fato chama a atenção, é como se vê o enorme poder da montagem (que claro, é uma consequência da brilhante estrutura do roteiro) que ressignifica a mesma morte. Nos emocionamos primeiramente com a morte de uma garota com câncer e o sofrimento de sua mãe e, ao final, nos emocionamos igualmente (ou até mais) por sermos lembrados daquela mesma morte, mas de um jeito diferente. Ressignificada.
Mais do que qualquer herói ou heroína, Louise é a suprema de todos. Ela convive com o fardo de que verá sua filha morrer antes dela e aceita isso. Aceita porque mais do que qualquer herói ou heroína, ela é um ser humano que sabe enfrentar a finitude com toda a humanidade possível.
Louise vive e sente algo que ela sabe que um dia vai acabar, mas por que não viveria e sentiria mesmo assim? Somos mais que seres errantes e sem propósito no Universo, somos seres que sentimos e vivemos, como uma forma de esperarmos pela morte, mas, mais ainda, como uma forma de nos sentirmos vivos.
Trabalhando com uma estrutura circular, onde a temática do ciclo da vida está enraizada no filme, vemos nascimento e morte caminhando juntos. Desde o começo, até o final. Seja na maravilhosa música tema de Max Richter que toca no começo e no fim, na forma oval da concha (representando o útero e o nascimento - e consequentemente, a morte) e, até mesmo no nome da filha de Louise, Hannah, um palíndromo, podendo ler lido da esquerda para direita e vice-versa.
Assim, abrindo espaços para mais simbolismos no filme, onde Louise aparece como uma verdadeira figura messiânica. Se na bíblia, Jesus teve seus 12 discípulos e o seu sacrifício final em prol dos outros, aqui, Louise ajuda os habitantes da 12 naves e a humanidade, e tem seu sacrifício ao receber o ‘’presente’’ dados pelos seres extraterrestres. E não falta nem a auréola em sua cabeça formada pelo símbolo linguístico dos heptapods, quando os mesmos acabam por expressar o ‘’oferecer arma’’ para ela.
Já faz alguns anos que Denis Villeneuve nos entrega um filme incrível após o outro, mas é com Arrival que ele definitivamente faz uma obra-prima absoluta. Desde já, é um dos melhores filmes de sci-fi já feitos.
14 Estações de Maria
4.0 78Da série: alguns dos motivos que fazem a religião ser o câncer da humanidade.
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraJeffries (James Stewart) é um fotógrafo aventureiro, suas fotos mostram que ele não se importa com o perigo pra conseguir tirar a melhor foto possível, fala muito em viagens e que não consegue ficar em um só lugar - o que sua atual condição física de recuperação o aprisiona em vivenciar.
Portanto, não demora muito para a mente inquieta de Jeffries tentar descobrir o que acontecera com o desaparecimento misterioso de uma vizinha - e também esposa de um vizinho. Sim, um detalhe importante, já que o filme espelha diferentes fases do relacionamento amoroso e do casamento na rotina dos vizinhos de Jeffries. Assim, por seu espírito de aventureiro nato, não é de se estranhar que o protagonista é um homem que tem medo de se entregar ao amor (algo que representaria alguma estabilidade).
Em sua nova ocupação de observar os vizinhos em suas relações conjugais (ou a falta dela), ele vê: uma jovem mulher e um jovem pianista solitários; recém-casados chegando no novo apartamento, em pleno regozijo inicial da convivência no mesmo teto; uma mulher mais velha, solitária e depressiva, também à procura de alguém; um casal de meia-idade que pretende sair da rotina e dorme na sacada do apartamento; e, por último, um casal que sempre briga, até que a mulher desaparece misteriosamente.
Nesse meio tempo, conhecemos Lisa (Grace Kelly), namorada de Jeffries. Ela é o contrário dele: rica e faz parte da elite, usa vestidos caros (sem repetir nenhum, aliás) e vai em festas e restaurantes chiques. Ela quer se casar, mas é difícil pra ele pensar em um futuro com ela, pois segundo ele, ela é ''muito comum''.
Durante o desenvolver do mistério, Jeffries percebe que Lisa se aventura e se mostra muito mais do que ele imaginava que ela fosse e, por isso, fica fascinado com o risco em que ela se coloca (é lindo ver sua expressão de admiração quando ela volta do apt. do Lars após deixar lá o bilhete) e, claro, acaba percebendo que ela é a pessoa ideal pra ele. No final, após o mistério ser solucionado e Jeffries e Lisa ficarem juntos e felizes, não deixa de ser irônico os recém-casados que, outrora aproveitando a felicidade do início do matrimônio, agora terminarem brigando entre si.