Divergent foi um filme interessante, é um tema curioso quando se propõe a dividir o "restante da humanidade" em facções baseadas em ideais canônicos. Tris mostrou-se como uma pessoa transcendente em relação às limitações da Ousadia e disso decorreu a crise dos divergentes. Em Insurgente, o filme continua os acontecimentos críticos percorridos no primeiro filme, onde a pretensão de Jeanine, uma erudita, é o de assumir o poder para manter a estabilidade do regime de facções. Neste caso podemos interpretar que Jeanine seria o arquétipo do conservadorismo, que emprega inclusive de meios maquiavélicos para conseguir o que acredita.
Logo no final do filme, com a infiltração inteligente por parte de Peter que se passa como mais um entusiasta do conservadorismo erudito, este revela a tipologia de personalidade de Tris para que Jeanine a possa capturar, cuja acaba se entregando por voluntariedade. Assim, após várias reviravoltas
Tris se mostra como o arquétipo da mudança, a divergente de grau 100%, por onde esta acaba finalmente revelando as informações da caixa que sua mãe havia escondido.
Parece mesmo então, que a trama se desenrola nas tentativas falhas de se arquitetar/designar um sistema de governo que pudesse garantir a paz como a mensagem da caixa revela, ou seja, que as mudanças, as anomalias serão sempre parte da natureza humana, que por conta disso não há modelos ideais de governo, pois este acaba sendo sempre temporário e limitado. A série Divergent parece comunicar essa ideia central utilizando-se de elementos Sci-Fi e outros de ação/aventura como um leve romance, porém creio que no máximo Insurgent acabou sendo um filme para se distrair, não há nada muito complexo de se abstrair da trama, e a narrativa, fotografia e trilha sonora são razoáveis.
Achei a atuação de Shailne Woodley boa, tal como de Theo James. Mas fiquei de olho na interpretação de Miles Teller que mostra talento em ser um personagem de duas caras. Enfim, Insurgent é um filme que distrai, mas nada muito além.
The Reader é um filme que representa a marca da geniosidade. Stephen Daldry fez uma ótima produção, o filme é intenso, ousado, impactante e profundo, ele envolve o espectador de tal maneira que é difícil não se sentir tremendamente nostálgico e afetado pela história das personagens de Hanna e Michael.
A narrativa enlaça o tema do amor entre um jovem e uma mulher mais velha, a trama se passa dentro do evento em que Michael passa mal na volta do colégio e é ajudado por uma mulher chamada Hanna Schmitz, em que Michael logo acaba se apaixonando e eles desenvolvem um caso amoroso.
A história prossegue até que após o desaparecimento de Hanna, esta é julgada no tribunal a uma prisão perpétua pelos crimes cometidos em Auschwitz.
A trilha sonora é envolvente ela traduz os sentimentos de tristeza e melancolia que se passam na vida das principais personagens. A fotografia é elegante, representando bem o ambiente da década de 90. Mas principalmente, é sobre esse plano de fundo em que a dramatização da relação de Hanna e Michael se desenvolve.
Michael casou-se, teve uma filha, mas parece que ainda assim esses sempre foram um papel secundário; enquanto Hanna repetia seus casos com outras meninas em Auschwitz, só tornando-se a lembrar do passado quando sua liberdade é tirada e ela é então presa.
É visível como Michael é profundamente afetado psicologicamente pelo romance com uma mulher mais velha, mas parece que um elemento notável é que de no fundo ambas as personagens não sabiam o que faziam.
Hanna não fazia planos, tanto que chegou mesmo a seduzir o jovem Michael, e este não superou Hanna mesmo depois de adulto. Há uma fixação objetal persistente por parte das personagens, tal como se almas gêmeas tivesse se encontrado, mas num momento "errado". Mas que no fundo talvez tenha sido somente uma fascinação com um desfecho melancólico e triste.
O filme é provocante, ele desafia os limites do amor num mundo onde há ditames de como inclusive se deve amar e se relacionar, mostrando assim, num mesmo trajeto o desfecho do que a ousadia do convencional pode levar. E claro, para trazer luz a um importante elemento;
Hanna sofria de uma grande vergonha em ser analfabeta, e por isso ela preferiu mentir e ser condenada, coisa que só Michael realmente percebeu e a ajudou posteriormente com fitas gravas (creio mesmo que esse é um dos pontos mais críticos do filme, fazendo colocar quase que em segundo plano a importância de Aschwitz).
Destaco uma notável atuação por parte de Kate Winslet, simplesmente brilhou! Em segundo lugar há uma boa atuação por parte de David Kross; este tem algo de promissor, e finalmente Ralph Fiennes em outra ótima performance como o Michael amadurecido. Em suma, é um ótimo filme.
Closer é a epítome da distopia dos relacionamentos humanos; Dan é o típico garotão que não sabe o que quer, que gosta do que não pode ter (arquétipo de quantas pessoas que largam outras que amam pelo incerto?); Larry é o médico homem-das-cavernas, é o que procura selvageria na internet; Alice é a garota-aquariana-perdida que saí por aí sem rumo, que gosta do inesperado, do imprevisível, mas que ainda detém um lado sensível e emocional, capaz de se deixar cativar pelo escritor de obituários (Dan), isso enquanto este ainda era cool, ainda detinha toda aquele encanto de escritor-fracassado-porém-charmoso. Já Anna é a neurótica que ama o que é imoral, num gosto sadomasoquista pelo homem errado, tal como Dan
demonstra já-quase-traindo Alice no início e Larry incitando seu sentimento de culpa num sexo-de-despedida.
Basicamente, o filme mostra o ápice da devassidão, da distopia do amor, do que realmente acontece na sociedade moderna, por onde os limites do que é amor e não é mais amor, do saudável, do nobre já se corromperam num desespero bukowskiano. No fim das contas não há o herói na trama, só há personagens caóticos que representam vários tipos psicológicos de pessoas neuróticas beirando a destruição.
O fim é cômico, pois o homem-das-cavernas, o médico bem sucedido é quem leva a melhor, embora o espectador pudesse ter uma impressão contrária quando Anna trai Larry com Dan.
Assim papeis de herói e vilão se confundem numa interessante trama que foi solidamente dirigida por Mike Nichols.
Closer é um filme interessante, ele é forte, embora poupe o espectador de maior ousadia, como mostraria as cenas sofríveis de sexo de Ninfomaníaca. A trilha sonora é quase ausente, porém a divisão de atenção em cada personagem é bem guiada, dando assim um foco fortíssimo no drama pessoal e interpessoal das personagens.
Sociedade dos Poetas Mortos é uma crítica contumaz da alienação decorrente em grande parte do ensino desde (pelo menos aqui no Brasil) a época das escolas dos jesuítas. O professor John Keating, interpretado pelo ilustre e consagrado Robin Williams representa a ruptura, mostrando aos jovens, em uma matéria de inglês, o que é a essência do pensamento próprio, da individualidade, do não-conformismo, do embate contra o ridículo que por vezes persiste na tradição, como àquela crítica de uma poesia cuja versão que prezava muito mais a métrica do que o espírito.
O filme flui, o espectador é conduzido a um olhar duplo de como eram os professores conservadores e portanto, limitados, até alienadores, tal como o professor de matemática que exigia a perfeição técnica em detrimento do entendimento mais criativo das exatas; e de como era os BONS PROFESSORES, tal como John Keating que longe de ensinar métrica em sua matéria de inglês, mesclava o ensino com a criatividade, o que bem mostra o filme quando esse dá aula até fora da sala de aula.
Quanto às personagens, eu destaco com ênfase a atuação do grande Robin Williams, ator imortal, sem palavras, de grande espírito jovial e artístico. Destaco também a atuação de Robert Sean Leonard como Neil Perry (que atua de modo excelente posteriormente em Dr. House), Ethan Hawke como Todd Anderson, e Gale Hansen como Charlie Dalton.
O filme tem um desfecho triste, mostra bem a importância da compreensão multifacetada dos pais para com os filhos; por vezes os pais projetam seus próprios sonhos na carreira dos filhos, achando que isso é pelo bem deles, mas que na verdade aqueles acabam usando esses como uma extensão egoísta e cega de si mesmos.
Quanto a trilha sonora e a fotografia eu diria que é regular, o brilho de "Dead Poets Society" está muito mais na atuação das personagens do que na técnica cinematográfica; em suma considero esse um ótimo filme.
O filme "A Invenção de Hugo Cabret", ou melhor dizendo, simplesmente "Hugo" é uma interessante história retro acerca da temática da história dos filmes, mas fico receoso em aceitar esse título adaptado para o português, pois não vejo que invenção Hugo tenha feito (a não ser que você interprete metaforicamente, que Hugo tenha mesmo inventado a "possibilidade de devolver propósitos às pessoas", como ele mesmo comenta numa cena na torre quando Hugo fala para Isabelle que acreditava que se o mundo fosse um grande sistema mecânico, então cada peça teria um propósito e que isso poderia assim ser com as pessoas).
As fotografias, as técnicas de luz tal como a trilha sonora viva são cativantes, é como se um toque de impressionismo se juntasse ao ambiente retro do século XIX dando assim um choque - de viagem ao tempo - dentro da modernidade da tecnologia de filmes atual; pois os cenários no mínimo são pictorescos, creio mesmo que a arte visual do filme pode ter superado a narrativa. Mas quanto a esta, tal é sólida, não vejo que Hugo trás uma grande história, não há elementos fortes na trama, na verdade o filme acaba sendo apolíneo, tendo um final feliz.
Quanto a atuação das personagens, vejo destaque na atuação de Asa Butterfield, como também na de Ben Kingsley; este me passou fortemente o tipo psicológico do gênio artístico frustrado. Sem mais, o filme é estável, não causa grandes emoções, mas também não perde a elegância devido à estética visual e sonora bem trabalhada.
Tenho sentimentos divididos por "Sobrenatural: A Origem", não digo que é tão bom quanto Annabelle, na verdade parece que Leigh Whannell resolveu (talvez?) não pegar tão pesado na atmosfera sinistra como acontece em Annabelle, mas mesmo assim a narrativa é sólida, os pontos onde surgem os sustos são um tanto previsíveis, mas ainda assim são bem colocados.
Eu esperava que fossem chamar um padre para exorcizar a menina mas Sean Brenner acaba ouvindo seu filho e concordando em chamar "caçadores de fantasmas",
sinceramente achei que houve um deslize aqui, pois seria interessante se ao menos tivessem chamados os investigadores paranormais "prós".
Quanto a atuação, achei que Stefanie Scott brilhou, ela tem talento. A performance de Dermot Mulroney é boa também, achei satisfatório, interpretou bem o pai cuidadoso, porém incrédulo (embora talvez algum diretor pudesse ter a criatividade de colocar um pai cuidadoso que acredite no oculto não?).
Quanto aos efeitos e elementos sobrenaturais, acredito que faltou uma maior pluralidade, quero dizer, houve as tais pegadas de tinta, rachaduras no teto, jogadas no chão, mas já houve melhores, como bem mostra o primeiro Atividade Paranormal.
E aquele demônio vermelho do final, simplesmente estragou, beirou uma mistura porca com os clássicos
, pois demônio que assusta mesmo é sempre aquele que você nunca vê direito e é realmente sinistro (acredito que todos os lovecraftianos concordariam). Enfim, é um filme legalzinho, distrai, mas nada muito de causar grande surpresa.
O primeiro elemento que gostaria de ressaltar sobre essa grande obra cinematográfica de Joel Schumacker é a poesia musical presente tanto na obra literária quanto no filme; o trio amoroso de Christine Daaé, O Fantasma e o Visconde de Chagny em contraste com o jogo de disfarce sobrenatural de um dito fantasma que comanda a ópera, isso cria uma hibridização entre a temática da ópera e da paixão jovial fazendo o espectador ora estar presente num concerto musical e ora no rumo que o coração de Daaé irá tomar.
Desnecessário dizer que o filme se destaca pela genial trilha musical, muito mais até que os outros elementos narrativos que acabam por fim servindo mais como um plano de fundo; a trilha principal do "Phantom of the Opera" se repete em milhares de nuances e complexidades diferentes, o que no mínimo só é possível nas mãos dos melhores. Além disso, os coros são excelentíssimos, o vocal das personagens Daaé, Raoul e o Fantasma são ótimos, com especial destaque é claro para os líricos de Daaé e os graves de o Fantasma; e claro, sem esquecer da atuação e da capacidade de incorporação desses três atores, o que é profundamente marcante.
Os vestuários, montagens de cenários, a recriação do ambiente francês de 1911 são notáveis, sem mais. A narrativa talvez tenha exagerado na quantidade de musicais, o que poderia ter mesclado com um maior caráter falado. Enfim, em conclusão posso dizer que O Fantasma da Ópera é um belo musical, digno de contemplação.
Na minha opinião o filme deixou muito a desejar. A ênfase que Renny Harlin teve foi mais em torno dos clichês - focou-se muito mais o romance de Alcides do que em sua própria grandeza, e para piorar, o filme tenta retomar o aspecto mitológico bem no final do filme o que deixou a narrativa porca fazendo o espectador sentir a impressão de que se tentou empurrar rapidamente os aspectos importantes da lenda de Hércules tudo no final.
Destaco a participação de Liam Mcintyre, ótimo ator que mostra esta em forma ainda mesmo após Spartacus.
O filme 50 tons de cinza, originalmente um fan fic da série crepúsculo, segue as mesmas linhas deste, em que há um galã, Christian Grey, que é precocemente bem sucedido na vida e uma menina-mulher recatada, inexperiente e inocente, com a adição do elemento do bondage, ou seja, de um tipo de fetiche associado ao sadomasoquismo.
Eu diria que 50 tons de cinza é um prato cheio para uma apreciação dentro de um viés psicossexual, pois o que em primeira instância iria revoltar os espectadores - que é a dicotomia dominante vs. submisso - na verdade tem aspectos interessantes pertinentes a historia e a relação moral desta entre cada uma das personagens. Assim, Christianteve uma "infância difícil", era filho de uma prostituta, além de ter tido uma relação abusiva com uma amiga de sua mãe aos 15 anos, em que ele tornava a participar do papel de submisso, tendo isto se estendendo por vários anos; e Anastasia era uma típica menina-mulher romântica, sentimental e sensível, que carregava sonhos de encontrar o seu príncipe encantado (como bem mostra numa cena em que ela diz que estava esperando o cara certo).
O filme demonstra uma narrativa bem trabalhada que dá uma especial ênfase na construção do relacionamento das duas personagens principais. Christian acaba fazendo com que Anastasia se apaixonasse por ele, e esse impõe que para se relacionar com ele, ela deva ser totalmente submissa, mas o filme bem mostra posteriormente, que Anastasia mexe profundamente com Christian e este acaba afrouxando um pouco o seu papel. E neste ponto é fácil imaginar o desgosto e repúdio por parte de muitos espectadores, já que Christian não se compadece mesmo quando Anastasia sofre após ser açoitada por uma cinta;
Mas, o que realmente é lúdico em se analisar é o de entender a vida psíquica de Christian, pois é este personagem quem polemiza, oras, quando se observa o desfecho da relação de ambos, percebe-se duas possibilidades de crítica: 1) Christian realmente atingiu um clímax de prazer através do bondage e acredita ser possível mostrar isso para Anastasia, ou 2) Christian de fato ainda acredita no anterior, mas em outros fatores ele é neurótico, pois é incapaz de afrouxar o papel de dominador em prol de uma maior empatia, cuidado e delicadeza com Anatasia; e para piorar, esta é incapaz de cortar relações e se vê numa ambivalência de paixão e indignação, afinal é só uma menina romântica que projeta a esperança de que Christian possui um lado romântico também, como bem mostra no início do filme quando Anastasia indaga se não há um grande coração em salvar as pessoas da miséria na Africa durante a entrevista, e que sente que há mais do que ele mesmo poderia saber.
Ademais, o filme certamente não foi concebido em circunstâncias sócio-morais adequadas nesse tempo atual, afinal, 50 tons de cinza é um retrato típico do que ocorre em relacionamentos abusivos, mas ao contrário do que o espectador está acostumado, tal relacionamento é abusivo em termos muito mais sofisticados e complexos por onde só um olhar atento pode começar a perceber.
A trilha sonora é agradável, contrasta bastante as cenas dramática do filme e a atuação de Jamie Dornan e Dakota Johnson é notável. O filme é bom no geral, mas me parece ter faltado um maior envolvimento de eventos e personagens externos e de um maior realismo, já que tal aparenta demonstrar mais um conto de fadas pós-moderno de um ricaço neurótico com uma mulher inocente do que realmente uma provocação realista de uma moralidade sexual irreconhecida e mal interpretada.
O filme "O Predestinado" é uma adaptação de um conto de ficção científica, cujo é "All You Zombies" de Robert A. Reinlein. A temática desse filme/conto se baseou no conceito da viagem no tempo, em que Ethan Hawke conduz uma perigosa missão de interceptar um terrorista de bombas que pode viajar no tempo. Assim o filme tem grande parte de sua narrativa no cenário do bar em que Ethan Hawke conversa com uma misterioso homem, que na verdade é uma versão dele mesmo no passado. E este é o ponto central da trama, pois o espectador se vê numa narrativa que mescla elementos inter-temporais, ou seja, passado, presente e futuro se mesclam em vários fluxos temporais distintos, em que torna-se possível Ethan Hawke encontrar a sua versão do passado para guiá-la a um futuro promissor, que seria o de capturar o terrorista viajante do futuro.
A narrativa não é cansativa, é relativamente padrão pelo tempo em que é conduzida; os irmãos Spierig fazem um bom trabalho quando revelam a cada parte chave do filme as respostas e fios condutores do que realmente está acontecendo dentro daqueles diferentes fluxos temporais. Assim, o espectador repara que Ethan se depara com um paradoxo acerca da predestinação, tanto que numa conversa com Robertson ele fala sobre o "Uoroboros", a serpente que consome a própria cauda. Há alguns elementos realmente peculiares inseridos no filme, como o ato do próprio personagem se apaixonar por si mesmo numa versão passada (encontro de Jane e John) e de si mesmo parirem uma filha que passaria a ter uma vida em orfanato ausente dos grilhões condicionantes que a pudessem torná-la uma mulher simplória. E além disso, há a provocação de diferentes "fatias temporais" de cada "eu" de Ethan serem quase que totalmente distintas um de outro, pois no fim de todas as contas é o Ethan do futuro quem é o "Detonador Silencioso", cuja uma versão que (aparentemente) não se corrompeu intercepta.
E assim termina encerra a trama com uma questão interessantíssima aberta no ar, será mesmo que essa "versão não corrupta" de Ethan realmente salvou-se a si mesmo e a vida de vários inocentes em interceptar essa "versão corrupta", ou como esta comentou sarcasticamente no final do filme, que se a versão não corrupta matasse a versão corrupta então a primeira se tornaria a segunda? Fica em aberto a resposta para a reflexão do espectador.
Ademais, a atuação de Sarah Snook está fascinante! Ela interpretou maravilhosamente tanto as facetas de Jane e de John, mostrando os limites e não limites em que há um homem num corpo de uma mulher e talvez o contrário. A trilha sonora é ok, acredito que há alguns erros de lógica devido à adaptação fidedigna do conto científico, mas ainda assim O Predestinado é um ótimo filme.
Filme bem feito, boa produção de Cameron Crowe. De início destaco a trilha sonora contando com sons a la Led Zeppelin, Yes e várias outras bandas consagradas do rock; o sequenciamento das cenas da trama é sólida, o espectador consegue sentir o desenvolvimento da familiaridade entre William Miller e os integrantes da banda.
Falando do que mais me chamou atenção foi o contraste entre dois estilos de vida diferentes - as pessoas legais (cool) e as não-legais (uncool), como os dois jornalistas discutem no começo e fim do filme, pois a vida entre os rockstars é "unreal", não é a vida real, pelo menos para o William Miller e até mesmo para Penny Lane, como ele tenta demonstrar várias vezes querendo saber o nome dela, perguntando sobre seus reais amigos.
O mais interessante foi notar também o choque dinâmico entre as personalidades fortes de Jeff Bebe e Russell Hammond, e a falta de singularidade dos restantes membros da Stillwater - o que faz boa caricatura de como funcionam boa parte das bandas, e é importante saber que Russell é realmente o guitarrista virtuoso que está profundamente conectado com suas emoções, pois o filme mostra em vários momentos a curiosidade de William em saber mais disso como um fã que realmente enxerga esse talento musical por parte de Russel.
Sem mais, é um filme divertido, propicia uma boa dose dos ares do rock n' roll, fazendo o espectador se sentir inspirado pela música.
Gary Ross parece ter feito um filme que (para quem está mais preocupado em assistir algo para se distrair e passar o tempo sem ser tão surpreendido pela arte) cumpre o seu papel, embora na minha opinião, o filme não atende muito bem as expectativas de um bom thriller e sci-fi; o nível de dramaticidade não surpreende muito e o desfecho da trama é previsível. Os personagens são fracos, tirando a atuação de Jennifer Lawrence que foi admirável, praticamente carregou o filme sozinha. A trilha sonora é ok, porém nada que desperte muita adrenalina ou choque emocional no espectador. Em última instância, é um filme razoável.
Trabalho simplesmente genial de David Fincher. O filme é na verdade dois em um. O começo é confuso, desorientante, parece quase um filme de suspense que insinua mistérios aterrorizantes do que pode ter acontecido com Amy Dunne; ainda mais com a ambiguidade que Nick Dunne mostra ao sorrir nas câmeras e depois sair numa foto com uma mulher. É justamente esse o "primeiro filme", pois o espectador é capturado rapidamente nessa trama misteriosa e ambígua. A trilha sonora de sons dissonantes e curtos cria uma sensação de desconforto constante junto com a contagem de dias em que se passa do sumiço de Amy.
Em suma, o "segundo filme" começa quando Nick descobre quem realmente Amy é, e isso cria outro mal estar ambíguo em relação a quem realmente merece apreço, pois Nick realmente se acomodou depois do casamento, usava Amy para sexo apenas e logo criava desculpas para não ficar perto dela, e ela se torna o que sempre achara não ser capaz de se tornar, uma psicótica assassina. Mas logo se vê que Nick fora infiel e acomodado, fingindo ser um "homem superior" só até conquistar Amy; e esta certamente já carregava uma saúde mental desequilibrada, pois vira quem Nick era e tentara manipulá-lo a ser quem ele não era de verdade. Resultado? Ódio e ressentimento, segredos, mentiras, traições - as marcas de um casamento destrutivo, fadado a decair desde o início.
Ben Affleck demonstrou uma ótima atuação, conseguindo representar bem um personagem escritor inteligente, mas apenas o suficiente, pois suas qualidades residiriam mais em seu charme de average-man. Já Rosamund Pike foi simplesmente impecável, ela demonstrou ser o espírito de uma grande atriz, capaz de encarnar com maestria a complexidade da personalidade de Amy em todas suas nuances e variações.
Roteiro bem escrito, narrativa dinâmica, com uma boa divisão de filmagem de cada personagem principal. O filme mostra claramente como o sucesso profissional, ainda mais em uma área criativa pode significar pouca coisa quando todas as outras facetas da vida pessoal são destruídas por conta, ambiguamente, do mesmo forte gênio e caráter que levaram Philip ao sucesso em primeiro lugar.
Uma ênfase que o narrativa teve foi a de mostrar de uma maneira dinâmica e contínua a relação de Ike com Melanie, que demonstrava semelhanças com a relação de Philip com Asheley, sendo ambos, Philip e Ike, escritores extremamente talentosos, mas de caráter arrogante, egoísta e temperamental. Assim, Ike logo vê a si mesmo em Philip e o convida para passar um tempo em sua casa campestre a fim de poderem fluírem maior criatividade.
Assim, no decorrer do filme, há uma dramatização muito interessante nas personagens de Philip e Ike, pois ambos mantém o seu orgulho e continuam perpetuando o mesmo ciclo destrutivo que sempre acabava com a possibilidade de se conectarem verdadeiramente com as pessoas. Melanie, por um lado se afasta do pai e Ashley sofre inicialmente, porém logo supera junto com a companhia de seu gato e amigos. Esse final soa um pouco clichê, é verdade que o filme não parece almejar um final feliz, realçando a todo momento as personalidades complexas de dois grandes escritores, mas acredito que o diretor tenha feito um ótimo trabalho em mostrar a repercussão de artistas que mantém a mesma genialidade que no fim acabam os destruindo.
O filme tem uma trilha sonora adequada, trazendo um sentimento peculiar nos entremeios das dramatizações das personagens principais. A mudança dinâmica e constante do progresso de cada personagem principal, e o modo como a narrativa conecta tudo em um único tema é muito bem feita. O filme, é divertido, provocante, embora pareca ter decaído um tanto no final, mas ainda assim vale a pena assistir.
A outra terra ou terra 2 é tão somente um pretexto, pois o filme não chega a ser realmente forte em elementos sci-fi, este vira um pretexto, um plano de fundo para se discutir a questão da identidade, do eu. Rhoda Williams é a adolescente que acaba se envolvendo numa situação trágica matando parte da família recém construída de John Burroughts. E assim a primeira aparência que se tem é que Rhoda está buscando redenção quando aceita ser uma faxineira de um colégio, mas no fim se descobre que é o contrário, é John que busca redenção, num sentido de se livrar um eu ideal fracassado para buscar um eu de possibilidades na terra 2; já Rhoda, que estava buscando sua identidade dentro de novas possibilidades (como faxineira), renuncia o seu passado de estudante, decidindo assim limpar a casa de John numa primeira sessão gratuita.
A questão é que Rhoda também buscava um eu ideal na terra 2 até quase o fim do filme, mas no fundo ela acaba aceitando a sua nova realidade através da compaixão, embora esta surja numa ocasião de fraqueza e desonestidade quando ela se envolve com John. Assim, num ato de transformação, Rhoda, ganhando o concurso de viajar para a terra 2, acaba desistindo e dando a viagem para John que aceita. Diante disso, podemos nos questionar, o que é realmente a nossa identidade? O nosso eu ideal que projetamos como um sonho constante ou o nosso eu moldado tanto dos fracassos e tragédias quanto ainda da busca de um eu-melhor, de um eu que transcenda o sofrimento? O filme mostra a irrelevância metafísica de haver outros mundos, como até mesmo um idêntico ao do nosso, pois pensar no eu que possa existir lá, no fundo pode não significar muito mais que o eu ideal que já buscamos neste mundo mesmo.
Concluindo, as provocações filosóficas que o filme incitam são interessantes, mas o roteiro, a passagem de momentos do filme acabam tornando-o um tanto enjoativo e circular, talvez o filme pudesse ter trabalhado melhor na inter-relação do seu plano de fundo sci-fi com as provações filosóficas. Quanto à trilha sonora, ela é satisfatória, representa bem a melancolia temática do filme, sem falar da atuação de Brit Marling e William Mapother que encenaram seus papeis muito bem.
Bom filme. O roteiro é demasiadamente comum ao meu ver, lembra um pouco Waterworld (1995). Mas os aspectos técnicos da filmagem, as explosões, os arpões bombas, a guitarra lançadora de chamas, mais a ação frenética que não para nem por um instante são muito bem boladas. Os personagens são em geral icônicos - os War Boys mostram bem a lavagem cerebral que passavam pensando que após uma boa guerra iriam para ( o mito nórdico adulterado) o reino de Valhala. Max é quase o rambo, uma maquina de ação destrutiva e Furiosa a redentora de seu passado injusto, a dominadora da War Machine capaz de quase derrubar um exército inteiro assim. Em suma, o filme pretende o espectador na adrenalina e cumpre o seu papel de filme de ação.
A crítica do filme é claramente esse abismo que existe entre os burgueses e proletários, mas sendo mais preciso, dentro de um contexto atual, entre os jovens da classe alta - os dominantes e os submissos desta, ou seja, os populares e os "esquisitos". O filme mostra uma ambientação obscura, trilha sonora densa, tal como se induzisse os estados mentais de Darren em sua já distinta visão de realidade em relação à tirania de status e poder sobre todos os outros de Zack. No meio do filme Xandrie é estuprada pelos amigos de Zack e este pouco parece notar as implicações que tal repercutiu, o que alimentou mais e mais o ódio de Darren para Zack, além de ter causado sérios transtornos em Xandrie, pois ela decide depois se suicidar na frente de todos, pensando assim que esse seria o único modo de chamar a atenção de todos. Mas parece que mesmo assim, todos os outros alunos não são muito melhores que Zack, Brook e seus amigos, pois fingem que nada acontece e continuam com suas vidas.
Creio que a crítica é atual, ela é interessante, pois pode inclusive abarcar um estudo sociológico da realidade escolar brasileira. Mas o filme em si mesmo é fraco, não há muita vivacidade e originalidade por parte da maioria das personagens, tirando talvez a atuação de Adelaide Clemens. O desfecho é previsível, e mesmo o personagem Darren não parece fazer muita diferença, pois pouco faz de melhor em relação ao suicídio de Xandrie, ambos acabam sucumbindo para uma solução de valor destrutivo em relação à injustiça que ocorre em seus mundos. No melhor das hipóteses o filme distrai e nesse sentido até que cumpre o seu papel.
O filme passa em um clima claustrofóbico, o jogo de luzes e sombra faz parece que a história se passa sempre dentro de ambientes fechados de trabalho e que está sempre de noite, além da trilha sonora auxiliar em criar um clima de estranheza e obscuridade. É neste cenário que se desenrola a vida neurótica de Simon James. Este é um jovem passivo, introvertido e excessivamente apologético, ele não tem uma posição no mundo, é um ninguém, e isso notamos bem com a indiferença e até desprezo com que os outros, e até a sua própria mãe o trata. E isso prolonga-se até que Simon encontra seu Doppelgänger James, que parece representar o conteúdo negativo reprimido de sua psique, a sombra. James é o oposto de Simon, pois enquanto aquele é inteligente, tímido e sensível, este possui uma inteligência superficial, é extrovertido e sem escrúpulos. A história vai se passando nessas circunstâncias até que James destrói quase que completamente a vida de Simon, inclusive seduzindo e conquistando sua paixão, Hannah.
O fim mostra o que pode ser interpretado como talvez, uma transcendência de si mesmo. Simon começa a mudar radicalmente seu comportamento e passa a devolver na mesma moeda a indiferença e o repúdio pelo qual os outros o tratavam e isso se desenrola dessa maneira até que Simon finalmente decide se suicidar para acabar de vez com seu Doppelgänger, e assim ele é finalmente reconhecido pelos outros, quando se depara numa cena em que Hannah e o Coronel aparecem em seu leito de morte.
O filme é uma adaptação interessante do romance de Dostoiéviski. Mostra como um indivíduo pode existir quase como se não fosse uma pessoa, como se fosse mesmo apenas um fantasma perambulando pela vida, e de como nesses extremos, parte de si mesmo, irreconhecível, pode emergir e tomar conta de uma forma negativa de sua própria vida. Afinal, quem realmente somos? O invisível porém inteligente e compassivo Simon ou o superficial e pilantra do James? Ao que parece não somos nem um ou outro, somos sempre essa tensão do que conhecemos e do que não conhecemos de nós mesmos.
O filme é centrado na experiência subjetiva de dois amantes (que no fundo) são de fato românticos, embora não pareça ser assim de início, já que ambos estão revestidos de suas personas "adultas e racionais." O filme é fluídico, ele não enrola, também não exagera no prolongamento das cenas, cada uma se encaixa de maneira suave e concatenada; dá para sentir o processo de se apaixonar surgindo a cada instante chave do filme nas personagens.
É com a personalidade extrovertida, jovial e original de Jesse que Céline se encanta a princípio; há ainda várias cenas em que Jesse mostra uma descrença agindo de modo um tanto rude quanto às questões metafísicas, como a reencarnação, a precognição do futuro que a cigana faz numa cena o que frustra um pouco Céline., e esta se mostra uma partidária do feminismo, confirmando assim a análise de personalidade da cigana, demonstrando ser uma grande mulher; de caráter, personalidade e mente expandidas e desenvolvidas. Assim, ambos se veem como aventureiros, descompromissados e realistas, mas é Céline que logo mostra sua vulnerabilidade e Jesse não resistindo acaba deixando cair sua máscara descompromissada revelando estar apaixonado por ela também.
O filme não mostra um caso de romance extremamente romântico, não é um sofrimento do jovem werther, mas também não é nada muito distópico; há uma pitada de realismo com romantismo; faz com que o telespectador seja capturado rapidamente e se envolva no drama subjetivo e ambíguo dos sentimentos das personagens, sentindo a depressão de se apaixonar tanto por alguém, tão rapidamente, mas logo tendo que se separarem; mas logo se percebe que isso acontece ainda dentro de uma consciência das personagems que sabem no fundo ser maduros e tiraraem o máximo do momento presente, sem criar expectativas irreais e prejudiciais. Portanto, só posso dizer que realmente Before Sunrise é um filme excelente.
A Série Divergente: Insurgente
3.3 1,1K Assista AgoraDivergent foi um filme interessante, é um tema curioso quando se propõe a dividir o "restante da humanidade" em facções baseadas em ideais canônicos. Tris mostrou-se como uma pessoa transcendente em relação às limitações da Ousadia e disso decorreu a crise dos divergentes. Em Insurgente, o filme continua os acontecimentos críticos percorridos no primeiro filme, onde a pretensão de Jeanine, uma erudita, é o de assumir o poder para manter a estabilidade do regime de facções. Neste caso podemos interpretar que Jeanine seria o arquétipo do conservadorismo, que emprega inclusive de meios maquiavélicos para conseguir o que acredita.
Logo no final do filme, com a infiltração inteligente por parte de Peter que se passa como mais um entusiasta do conservadorismo erudito, este revela a tipologia de personalidade de Tris para que Jeanine a possa capturar, cuja acaba se entregando por voluntariedade. Assim, após várias reviravoltas
Tris se mostra como o arquétipo da mudança, a divergente de grau 100%, por onde esta acaba finalmente revelando as informações da caixa que sua mãe havia escondido.
Parece mesmo então, que a trama se desenrola nas tentativas falhas de se arquitetar/designar um sistema de governo que pudesse garantir a paz como a mensagem da caixa revela, ou seja, que as mudanças, as anomalias serão sempre parte da natureza humana, que por conta disso não há modelos ideais de governo, pois este acaba sendo sempre temporário e limitado. A série Divergent parece comunicar essa ideia central utilizando-se de elementos Sci-Fi e outros de ação/aventura como um leve romance, porém creio que no máximo Insurgent acabou sendo um filme para se distrair, não há nada muito complexo de se abstrair da trama, e a narrativa, fotografia e trilha sonora são razoáveis.
Achei a atuação de Shailne Woodley boa, tal como de Theo James. Mas fiquei de olho na interpretação de Miles Teller que mostra talento em ser um personagem de duas caras. Enfim, Insurgent é um filme que distrai, mas nada muito além.
O Leitor
4.1 1,8K Assista AgoraThe Reader é um filme que representa a marca da geniosidade. Stephen Daldry fez uma ótima produção, o filme é intenso, ousado, impactante e profundo, ele envolve o espectador de tal maneira que é difícil não se sentir tremendamente nostálgico e afetado pela história das personagens de Hanna e Michael.
A narrativa enlaça o tema do amor entre um jovem e uma mulher mais velha, a trama se passa dentro do evento em que Michael passa mal na volta do colégio e é ajudado por uma mulher chamada Hanna Schmitz, em que Michael logo acaba se apaixonando e eles desenvolvem um caso amoroso.
A história prossegue até que após o desaparecimento de Hanna, esta é julgada no tribunal a uma prisão perpétua pelos crimes cometidos em Auschwitz.
A trilha sonora é envolvente ela traduz os sentimentos de tristeza e melancolia que se passam na vida das principais personagens. A fotografia é elegante, representando bem o ambiente da década de 90. Mas principalmente, é sobre esse plano de fundo em que a dramatização da relação de Hanna e Michael se desenvolve.
Michael casou-se, teve uma filha, mas parece que ainda assim esses sempre foram um papel secundário; enquanto Hanna repetia seus casos com outras meninas em Auschwitz, só tornando-se a lembrar do passado quando sua liberdade é tirada e ela é então presa.
É visível como Michael é profundamente afetado psicologicamente pelo romance com uma mulher mais velha, mas parece que um elemento notável é que de no fundo ambas as personagens não sabiam o que faziam.
Hanna não fazia planos, tanto que chegou mesmo a seduzir o jovem Michael, e este não superou Hanna mesmo depois de adulto. Há uma fixação objetal persistente por parte das personagens, tal como se almas gêmeas tivesse se encontrado, mas num momento "errado". Mas que no fundo talvez tenha sido somente uma fascinação com um desfecho melancólico e triste.
O filme é provocante, ele desafia os limites do amor num mundo onde há ditames de como inclusive se deve amar e se relacionar, mostrando assim, num mesmo trajeto o desfecho do que a ousadia do convencional pode levar. E claro, para trazer luz a um importante elemento;
Hanna sofria de uma grande vergonha em ser analfabeta, e por isso ela preferiu mentir e ser condenada, coisa que só Michael realmente percebeu e a ajudou posteriormente com fitas gravas (creio mesmo que esse é um dos pontos mais críticos do filme, fazendo colocar quase que em segundo plano a importância de Aschwitz).
Destaco uma notável atuação por parte de Kate Winslet, simplesmente brilhou! Em segundo lugar há uma boa atuação por parte de David Kross; este tem algo de promissor, e finalmente Ralph Fiennes em outra ótima performance como o Michael amadurecido. Em suma, é um ótimo filme.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraCloser é a epítome da distopia dos relacionamentos humanos; Dan é o típico garotão que não sabe o que quer, que gosta do que não pode ter (arquétipo de quantas pessoas que largam outras que amam pelo incerto?); Larry é o médico homem-das-cavernas, é o que procura selvageria na internet; Alice é a garota-aquariana-perdida que saí por aí sem rumo, que gosta do inesperado, do imprevisível, mas que ainda detém um lado sensível e emocional, capaz de se deixar cativar pelo escritor de obituários (Dan), isso enquanto este ainda era cool, ainda detinha toda aquele encanto de escritor-fracassado-porém-charmoso. Já Anna é a neurótica que ama o que é imoral, num gosto sadomasoquista pelo homem errado, tal como Dan
demonstra já-quase-traindo Alice no início e Larry incitando seu sentimento de culpa num sexo-de-despedida.
Basicamente, o filme mostra o ápice da devassidão, da distopia do amor, do que realmente acontece na sociedade moderna, por onde os limites do que é amor e não é mais amor, do saudável, do nobre já se corromperam num desespero bukowskiano. No fim das contas não há o herói na trama, só há personagens caóticos que representam vários tipos psicológicos de pessoas neuróticas beirando a destruição.
O fim é cômico, pois o homem-das-cavernas, o médico bem sucedido é quem leva a melhor, embora o espectador pudesse ter uma impressão contrária quando Anna trai Larry com Dan.
Closer é um filme interessante, ele é forte, embora poupe o espectador de maior ousadia, como mostraria as cenas sofríveis de sexo de Ninfomaníaca. A trilha sonora é quase ausente, porém a divisão de atenção em cada personagem é bem guiada, dando assim um foco fortíssimo no drama pessoal e interpessoal das personagens.
Sociedade dos Poetas Mortos
4.3 2,3K Assista AgoraSociedade dos Poetas Mortos é uma crítica contumaz da alienação decorrente em grande parte do ensino desde (pelo menos aqui no Brasil) a época das escolas dos jesuítas. O professor John Keating, interpretado pelo ilustre e consagrado Robin Williams representa a ruptura, mostrando aos jovens, em uma matéria de inglês, o que é a essência do pensamento próprio, da individualidade, do não-conformismo, do embate contra o ridículo que por vezes persiste na tradição, como àquela crítica de uma poesia cuja versão que prezava muito mais a métrica do que o espírito.
O filme flui, o espectador é conduzido a um olhar duplo de como eram os professores conservadores e portanto, limitados, até alienadores, tal como o professor de matemática que exigia a perfeição técnica em detrimento do entendimento mais criativo das exatas; e de como era os BONS PROFESSORES, tal como John Keating que longe de ensinar métrica em sua matéria de inglês, mesclava o ensino com a criatividade, o que bem mostra o filme quando esse dá aula até fora da sala de aula.
Quanto às personagens, eu destaco com ênfase a atuação do grande Robin Williams, ator imortal, sem palavras, de grande espírito jovial e artístico. Destaco também a atuação de Robert Sean Leonard como Neil Perry (que atua de modo excelente posteriormente em Dr. House), Ethan Hawke como Todd Anderson, e Gale Hansen como Charlie Dalton.
O filme tem um desfecho triste, mostra bem a importância da compreensão multifacetada dos pais para com os filhos; por vezes os pais projetam seus próprios sonhos na carreira dos filhos, achando que isso é pelo bem deles, mas que na verdade aqueles acabam usando esses como uma extensão egoísta e cega de si mesmos.
Quanto a trilha sonora e a fotografia eu diria que é regular, o brilho de "Dead Poets Society" está muito mais na atuação das personagens do que na técnica cinematográfica; em suma considero esse um ótimo filme.
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraO filme "A Invenção de Hugo Cabret", ou melhor dizendo, simplesmente "Hugo" é uma interessante história retro acerca da temática da história dos filmes, mas fico receoso em aceitar esse título adaptado para o português, pois não vejo que invenção Hugo tenha feito (a não ser que você interprete metaforicamente, que Hugo tenha mesmo inventado a "possibilidade de devolver propósitos às pessoas", como ele mesmo comenta numa cena na torre quando Hugo fala para Isabelle que acreditava que se o mundo fosse um grande sistema mecânico, então cada peça teria um propósito e que isso poderia assim ser com as pessoas).
As fotografias, as técnicas de luz tal como a trilha sonora viva são cativantes, é como se um toque de impressionismo se juntasse ao ambiente retro do século XIX dando assim um choque - de viagem ao tempo - dentro da modernidade da tecnologia de filmes atual; pois os cenários no mínimo são pictorescos, creio mesmo que a arte visual do filme pode ter superado a narrativa. Mas quanto a esta, tal é sólida, não vejo que Hugo trás uma grande história, não há elementos fortes na trama, na verdade o filme acaba sendo apolíneo, tendo um final feliz.
Quanto a atuação das personagens, vejo destaque na atuação de Asa Butterfield, como também na de Ben Kingsley; este me passou fortemente o tipo psicológico do gênio artístico frustrado. Sem mais, o filme é estável, não causa grandes emoções, mas também não perde a elegância devido à estética visual e sonora bem trabalhada.
Sobrenatural: A Origem
3.1 728 Assista AgoraTenho sentimentos divididos por "Sobrenatural: A Origem", não digo que é tão bom quanto Annabelle, na verdade parece que Leigh Whannell resolveu (talvez?) não pegar tão pesado na atmosfera sinistra como acontece em Annabelle, mas mesmo assim a narrativa é sólida, os pontos onde surgem os sustos são um tanto previsíveis, mas ainda assim são bem colocados.
Eu esperava que fossem chamar um padre para exorcizar a menina mas Sean Brenner acaba ouvindo seu filho e concordando em chamar "caçadores de fantasmas",
Quanto a atuação, achei que Stefanie Scott brilhou, ela tem talento. A performance de Dermot Mulroney é boa também, achei satisfatório, interpretou bem o pai cuidadoso, porém incrédulo (embora talvez algum diretor pudesse ter a criatividade de colocar um pai cuidadoso que acredite no oculto não?).
Quanto aos efeitos e elementos sobrenaturais, acredito que faltou uma maior pluralidade, quero dizer, houve as tais pegadas de tinta, rachaduras no teto, jogadas no chão, mas já houve melhores, como bem mostra o primeiro Atividade Paranormal.
E aquele demônio vermelho do final, simplesmente estragou, beirou uma mistura porca com os clássicos
O Fantasma da Ópera
4.0 853 Assista AgoraO primeiro elemento que gostaria de ressaltar sobre essa grande obra cinematográfica de Joel Schumacker é a poesia musical presente tanto na obra literária quanto no filme; o trio amoroso de Christine Daaé, O Fantasma e o Visconde de Chagny em contraste com o jogo de disfarce sobrenatural de um dito fantasma que comanda a ópera, isso cria uma hibridização entre a temática da ópera e da paixão jovial fazendo o espectador ora estar presente num concerto musical e ora no rumo que o coração de Daaé irá tomar.
Desnecessário dizer que o filme se destaca pela genial trilha musical, muito mais até que os outros elementos narrativos que acabam por fim servindo mais como um plano de fundo; a trilha principal do "Phantom of the Opera" se repete em milhares de nuances e complexidades diferentes, o que no mínimo só é possível nas mãos dos melhores. Além disso, os coros são excelentíssimos, o vocal das personagens Daaé, Raoul e o Fantasma são ótimos, com especial destaque é claro para os líricos de Daaé e os graves de o Fantasma; e claro, sem esquecer da atuação e da capacidade de incorporação desses três atores, o que é profundamente marcante.
Os vestuários, montagens de cenários, a recriação do ambiente francês de 1911 são notáveis, sem mais. A narrativa talvez tenha exagerado na quantidade de musicais, o que poderia ter mesclado com um maior caráter falado. Enfim, em conclusão posso dizer que O Fantasma da Ópera é um belo musical, digno de contemplação.
Hércules
2.1 507 Assista AgoraNa minha opinião o filme deixou muito a desejar. A ênfase que Renny Harlin teve foi mais em torno dos clichês - focou-se muito mais o romance de Alcides do que em sua própria grandeza, e para piorar, o filme tenta retomar o aspecto mitológico bem no final do filme o que deixou a narrativa porca fazendo o espectador sentir a impressão de que se tentou empurrar rapidamente os aspectos importantes da lenda de Hércules tudo no final.
Destaco a participação de Liam Mcintyre, ótimo ator que mostra esta em forma ainda mesmo após Spartacus.
Cinquenta Tons de Cinza
2.2 3,3K Assista AgoraO filme 50 tons de cinza, originalmente um fan fic da série crepúsculo, segue as mesmas linhas deste, em que há um galã, Christian Grey, que é precocemente bem sucedido na vida e uma menina-mulher recatada, inexperiente e inocente, com a adição do elemento do bondage, ou seja, de um tipo de fetiche associado ao sadomasoquismo.
Eu diria que 50 tons de cinza é um prato cheio para uma apreciação dentro de um viés psicossexual, pois o que em primeira instância iria revoltar os espectadores - que é a dicotomia dominante vs. submisso - na verdade tem aspectos interessantes pertinentes a historia e a relação moral desta entre cada uma das personagens. Assim, Christianteve uma "infância difícil", era filho de uma prostituta, além de ter tido uma relação abusiva com uma amiga de sua mãe aos 15 anos, em que ele tornava a participar do papel de submisso, tendo isto se estendendo por vários anos; e Anastasia era uma típica menina-mulher romântica, sentimental e sensível, que carregava sonhos de encontrar o seu príncipe encantado (como bem mostra numa cena em que ela diz que estava esperando o cara certo).
O filme demonstra uma narrativa bem trabalhada que dá uma especial ênfase na construção do relacionamento das duas personagens principais. Christian acaba fazendo com que Anastasia se apaixonasse por ele, e esse impõe que para se relacionar com ele, ela deva ser totalmente submissa, mas o filme bem mostra posteriormente, que Anastasia mexe profundamente com Christian e este acaba afrouxando um pouco o seu papel. E neste ponto é fácil imaginar o desgosto e repúdio por parte de muitos espectadores, já que Christian não se compadece mesmo quando Anastasia sofre após ser açoitada por uma cinta;
Mas, o que realmente é lúdico em se analisar é o de entender a vida psíquica de Christian, pois é este personagem quem polemiza, oras, quando se observa o desfecho da relação de ambos, percebe-se duas possibilidades de crítica: 1) Christian realmente atingiu um clímax de prazer através do bondage e acredita ser possível mostrar isso para Anastasia, ou 2) Christian de fato ainda acredita no anterior, mas em outros fatores ele é neurótico, pois é incapaz de afrouxar o papel de dominador em prol de uma maior empatia, cuidado e delicadeza com Anatasia; e para piorar, esta é incapaz de cortar relações e se vê numa ambivalência de paixão e indignação, afinal é só uma menina romântica que projeta a esperança de que Christian possui um lado romântico também, como bem mostra no início do filme quando Anastasia indaga se não há um grande coração em salvar as pessoas da miséria na Africa durante a entrevista, e que sente que há mais do que ele mesmo poderia saber.
Ademais, o filme certamente não foi concebido em circunstâncias sócio-morais adequadas nesse tempo atual, afinal, 50 tons de cinza é um retrato típico do que ocorre em relacionamentos abusivos, mas ao contrário do que o espectador está acostumado, tal relacionamento é abusivo em termos muito mais sofisticados e complexos por onde só um olhar atento pode começar a perceber.
A trilha sonora é agradável, contrasta bastante as cenas dramática do filme e a atuação de Jamie Dornan e Dakota Johnson é notável. O filme é bom no geral, mas me parece ter faltado um maior envolvimento de eventos e personagens externos e de um maior realismo, já que tal aparenta demonstrar mais um conto de fadas pós-moderno de um ricaço neurótico com uma mulher inocente do que realmente uma provocação realista de uma moralidade sexual irreconhecida e mal interpretada.
[spoiler][/spoiler]
O Predestinado
4.0 1,6K Assista AgoraO filme "O Predestinado" é uma adaptação de um conto de ficção científica, cujo é "All You Zombies" de Robert A. Reinlein. A temática desse filme/conto se baseou no conceito da viagem no tempo, em que Ethan Hawke conduz uma perigosa missão de interceptar um terrorista de bombas que pode viajar no tempo. Assim o filme tem grande parte de sua narrativa no cenário do bar em que Ethan Hawke conversa com uma misterioso homem, que na verdade é uma versão dele mesmo no passado. E este é o ponto central da trama, pois o espectador se vê numa narrativa que mescla elementos inter-temporais, ou seja, passado, presente e futuro se mesclam em vários fluxos temporais distintos, em que torna-se possível Ethan Hawke encontrar a sua versão do passado para guiá-la a um futuro promissor, que seria o de capturar o terrorista viajante do futuro.
A narrativa não é cansativa, é relativamente padrão pelo tempo em que é conduzida; os irmãos Spierig fazem um bom trabalho quando revelam a cada parte chave do filme as respostas e fios condutores do que realmente está acontecendo dentro daqueles diferentes fluxos temporais. Assim, o espectador repara que Ethan se depara com um paradoxo acerca da predestinação, tanto que numa conversa com Robertson ele fala sobre o "Uoroboros", a serpente que consome a própria cauda. Há alguns elementos realmente peculiares inseridos no filme, como o ato do próprio personagem se apaixonar por si mesmo numa versão passada (encontro de Jane e John) e de si mesmo parirem uma filha que passaria a ter uma vida em orfanato ausente dos grilhões condicionantes que a pudessem torná-la uma mulher simplória. E além disso, há a provocação de diferentes "fatias temporais" de cada "eu" de Ethan serem quase que totalmente distintas um de outro, pois no fim de todas as contas é o Ethan do futuro quem é o "Detonador Silencioso", cuja uma versão que (aparentemente) não se corrompeu intercepta.
E assim termina encerra a trama com uma questão interessantíssima aberta no ar, será mesmo que essa "versão não corrupta" de Ethan realmente salvou-se a si mesmo e a vida de vários inocentes em interceptar essa "versão corrupta", ou como esta comentou sarcasticamente no final do filme, que se a versão não corrupta matasse a versão corrupta então a primeira se tornaria a segunda? Fica em aberto a resposta para a reflexão do espectador.
Ademais, a atuação de Sarah Snook está fascinante! Ela interpretou maravilhosamente tanto as facetas de Jane e de John, mostrando os limites e não limites em que há um homem num corpo de uma mulher e talvez o contrário. A trilha sonora é ok, acredito que há alguns erros de lógica devido à adaptação fidedigna do conto científico, mas ainda assim O Predestinado é um ótimo filme.
Quase Famosos
4.1 1,4K Assista AgoraFilme bem feito, boa produção de Cameron Crowe. De início destaco a trilha sonora contando com sons a la Led Zeppelin, Yes e várias outras bandas consagradas do rock; o sequenciamento das cenas da trama é sólida, o espectador consegue sentir o desenvolvimento da familiaridade entre William Miller e os integrantes da banda.
Falando do que mais me chamou atenção foi o contraste entre dois estilos de vida diferentes - as pessoas legais (cool) e as não-legais (uncool), como os dois jornalistas discutem no começo e fim do filme, pois a vida entre os rockstars é "unreal", não é a vida real, pelo menos para o William Miller e até mesmo para Penny Lane, como ele tenta demonstrar várias vezes querendo saber o nome dela, perguntando sobre seus reais amigos.
O mais interessante foi notar também o choque dinâmico entre as personalidades fortes de Jeff Bebe e Russell Hammond, e a falta de singularidade dos restantes membros da Stillwater - o que faz boa caricatura de como funcionam boa parte das bandas, e é importante saber que Russell é realmente o guitarrista virtuoso que está profundamente conectado com suas emoções, pois o filme mostra em vários momentos a curiosidade de William em saber mais disso como um fã que realmente enxerga esse talento musical por parte de Russel.
Sem mais, é um filme divertido, propicia uma boa dose dos ares do rock n' roll, fazendo o espectador se sentir inspirado pela música.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraGary Ross parece ter feito um filme que (para quem está mais preocupado em assistir algo para se distrair e passar o tempo sem ser tão surpreendido pela arte) cumpre o seu papel, embora na minha opinião, o filme não atende muito bem as expectativas de um bom thriller e sci-fi; o nível de dramaticidade não surpreende muito e o desfecho da trama é previsível. Os personagens são fracos, tirando a atuação de Jennifer Lawrence que foi admirável, praticamente carregou o filme sozinha. A trilha sonora é ok, porém nada que desperte muita adrenalina ou choque emocional no espectador. Em última instância, é um filme razoável.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraTrabalho simplesmente genial de David Fincher. O filme é na verdade dois em um. O começo é confuso, desorientante, parece quase um filme de suspense que insinua mistérios aterrorizantes do que pode ter acontecido com Amy Dunne; ainda mais com a ambiguidade que Nick Dunne mostra ao sorrir nas câmeras e depois sair numa foto com uma mulher. É justamente esse o "primeiro filme", pois o espectador é capturado rapidamente nessa trama misteriosa e ambígua. A trilha sonora de sons dissonantes e curtos cria uma sensação de desconforto constante junto com a contagem de dias em que se passa do sumiço de Amy.
Em suma, o "segundo filme" começa quando Nick descobre quem realmente Amy é, e isso cria outro mal estar ambíguo em relação a quem realmente merece apreço, pois Nick realmente se acomodou depois do casamento, usava Amy para sexo apenas e logo criava desculpas para não ficar perto dela, e ela se torna o que sempre achara não ser capaz de se tornar, uma psicótica assassina. Mas logo se vê que Nick fora infiel e acomodado, fingindo ser um "homem superior" só até conquistar Amy; e esta certamente já carregava uma saúde mental desequilibrada, pois vira quem Nick era e tentara manipulá-lo a ser quem ele não era de verdade. Resultado? Ódio e ressentimento, segredos, mentiras, traições - as marcas de um casamento destrutivo, fadado a decair desde o início.
Ben Affleck demonstrou uma ótima atuação, conseguindo representar bem um personagem escritor inteligente, mas apenas o suficiente, pois suas qualidades residiriam mais em seu charme de average-man. Já Rosamund Pike foi simplesmente impecável, ela demonstrou ser o espírito de uma grande atriz, capaz de encarnar com maestria a complexidade da personalidade de Amy em todas suas nuances e variações.
Ótimo filme, recomendo!
Cala a Boca Philip
3.3 49 Assista AgoraRoteiro bem escrito, narrativa dinâmica, com uma boa divisão de filmagem de cada personagem principal. O filme mostra claramente como o sucesso profissional, ainda mais em uma área criativa pode significar pouca coisa quando todas as outras facetas da vida pessoal são destruídas por conta, ambiguamente, do mesmo forte gênio e caráter que levaram Philip ao sucesso em primeiro lugar.
Uma ênfase que o narrativa teve foi a de mostrar de uma maneira dinâmica e contínua a relação de Ike com Melanie, que demonstrava semelhanças com a relação de Philip com Asheley, sendo ambos, Philip e Ike, escritores extremamente talentosos, mas de caráter arrogante, egoísta e temperamental. Assim, Ike logo vê a si mesmo em Philip e o convida para passar um tempo em sua casa campestre a fim de poderem fluírem maior criatividade.
Assim, no decorrer do filme, há uma dramatização muito interessante nas personagens de Philip e Ike, pois ambos mantém o seu orgulho e continuam perpetuando o mesmo ciclo destrutivo que sempre acabava com a possibilidade de se conectarem verdadeiramente com as pessoas. Melanie, por um lado se afasta do pai e Ashley sofre inicialmente, porém logo supera junto com a companhia de seu gato e amigos. Esse final soa um pouco clichê, é verdade que o filme não parece almejar um final feliz, realçando a todo momento as personalidades complexas de dois grandes escritores, mas acredito que o diretor tenha feito um ótimo trabalho em mostrar a repercussão de artistas que mantém a mesma genialidade que no fim acabam os destruindo.
O filme tem uma trilha sonora adequada, trazendo um sentimento peculiar nos entremeios das dramatizações das personagens principais. A mudança dinâmica e constante do progresso de cada personagem principal, e o modo como a narrativa conecta tudo em um único tema é muito bem feita. O filme, é divertido, provocante, embora pareca ter decaído um tanto no final, mas ainda assim vale a pena assistir.
A Outra Terra
3.7 874 Assista AgoraA outra terra ou terra 2 é tão somente um pretexto, pois o filme não chega a ser realmente forte em elementos sci-fi, este vira um pretexto, um plano de fundo para se discutir a questão da identidade, do eu. Rhoda Williams é a adolescente que acaba se envolvendo numa situação trágica matando parte da família recém construída de John Burroughts. E assim a primeira aparência que se tem é que Rhoda está buscando redenção quando aceita ser uma faxineira de um colégio, mas no fim se descobre que é o contrário, é John que busca redenção, num sentido de se livrar um eu ideal fracassado para buscar um eu de possibilidades na terra 2; já Rhoda, que estava buscando sua identidade dentro de novas possibilidades (como faxineira), renuncia o seu passado de estudante, decidindo assim limpar a casa de John numa primeira sessão gratuita.
A questão é que Rhoda também buscava um eu ideal na terra 2 até quase o fim do filme, mas no fundo ela acaba aceitando a sua nova realidade através da compaixão, embora esta surja numa ocasião de fraqueza e desonestidade quando ela se envolve com John. Assim, num ato de transformação, Rhoda, ganhando o concurso de viajar para a terra 2, acaba desistindo e dando a viagem para John que aceita. Diante disso, podemos nos questionar, o que é realmente a nossa identidade? O nosso eu ideal que projetamos como um sonho constante ou o nosso eu moldado tanto dos fracassos e tragédias quanto ainda da busca de um eu-melhor, de um eu que transcenda o sofrimento? O filme mostra a irrelevância metafísica de haver outros mundos, como até mesmo um idêntico ao do nosso, pois pensar no eu que possa existir lá, no fundo pode não significar muito mais que o eu ideal que já buscamos neste mundo mesmo.
Concluindo, as provocações filosóficas que o filme incitam são interessantes, mas o roteiro, a passagem de momentos do filme acabam tornando-o um tanto enjoativo e circular, talvez o filme pudesse ter trabalhado melhor na inter-relação do seu plano de fundo sci-fi com as provações filosóficas. Quanto à trilha sonora, ela é satisfatória, representa bem a melancolia temática do filme, sem falar da atuação de Brit Marling e William Mapother que encenaram seus papeis muito bem.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraBom filme. O roteiro é demasiadamente comum ao meu ver, lembra um pouco Waterworld (1995). Mas os aspectos técnicos da filmagem, as explosões, os arpões bombas, a guitarra lançadora de chamas, mais a ação frenética que não para nem por um instante são muito bem boladas. Os personagens são em geral icônicos - os War Boys mostram bem a lavagem cerebral que passavam pensando que após uma boa guerra iriam para ( o mito nórdico adulterado) o reino de Valhala. Max é quase o rambo, uma maquina de ação destrutiva e Furiosa a redentora de seu passado injusto, a dominadora da War Machine capaz de quase derrubar um exército inteiro assim. Em suma, o filme pretende o espectador na adrenalina e cumpre o seu papel de filme de ação.
Desperdício de Juventude
2.8 27 Assista AgoraA crítica do filme é claramente esse abismo que existe entre os burgueses e proletários, mas sendo mais preciso, dentro de um contexto atual, entre os jovens da classe alta - os dominantes e os submissos desta, ou seja, os populares e os "esquisitos". O filme mostra uma ambientação obscura, trilha sonora densa, tal como se induzisse os estados mentais de Darren em sua já distinta visão de realidade em relação à tirania de status e poder sobre todos os outros de Zack. No meio do filme Xandrie é estuprada pelos amigos de Zack e este pouco parece notar as implicações que tal repercutiu, o que alimentou mais e mais o ódio de Darren para Zack, além de ter causado sérios transtornos em Xandrie, pois ela decide depois se suicidar na frente de todos, pensando assim que esse seria o único modo de chamar a atenção de todos. Mas parece que mesmo assim, todos os outros alunos não são muito melhores que Zack, Brook e seus amigos, pois fingem que nada acontece e continuam com suas vidas.
Creio que a crítica é atual, ela é interessante, pois pode inclusive abarcar um estudo sociológico da realidade escolar brasileira. Mas o filme em si mesmo é fraco, não há muita vivacidade e originalidade por parte da maioria das personagens, tirando talvez a atuação de Adelaide Clemens. O desfecho é previsível, e mesmo o personagem Darren não parece fazer muita diferença, pois pouco faz de melhor em relação ao suicídio de Xandrie, ambos acabam sucumbindo para uma solução de valor destrutivo em relação à injustiça que ocorre em seus mundos. No melhor das hipóteses o filme distrai e nesse sentido até que cumpre o seu papel.
O Duplo
3.5 518 Assista AgoraO filme passa em um clima claustrofóbico, o jogo de luzes e sombra faz parece que a história se passa sempre dentro de ambientes fechados de trabalho e que está sempre de noite, além da trilha sonora auxiliar em criar um clima de estranheza e obscuridade. É neste cenário que se desenrola a vida neurótica de Simon James. Este é um jovem passivo, introvertido e excessivamente apologético, ele não tem uma posição no mundo, é um ninguém, e isso notamos bem com a indiferença e até desprezo com que os outros, e até a sua própria mãe o trata. E isso prolonga-se até que Simon encontra seu Doppelgänger James, que parece representar o conteúdo negativo reprimido de sua psique, a sombra. James é o oposto de Simon, pois enquanto aquele é inteligente, tímido e sensível, este possui uma inteligência superficial, é extrovertido e sem escrúpulos. A história vai se passando nessas circunstâncias até que James destrói quase que completamente a vida de Simon, inclusive seduzindo e conquistando sua paixão, Hannah.
O fim mostra o que pode ser interpretado como talvez, uma transcendência de si mesmo. Simon começa a mudar radicalmente seu comportamento e passa a devolver na mesma moeda a indiferença e o repúdio pelo qual os outros o tratavam e isso se desenrola dessa maneira até que Simon finalmente decide se suicidar para acabar de vez com seu Doppelgänger, e assim ele é finalmente reconhecido pelos outros, quando se depara numa cena em que Hannah e o Coronel aparecem em seu leito de morte.
O filme é uma adaptação interessante do romance de Dostoiéviski. Mostra como um indivíduo pode existir quase como se não fosse uma pessoa, como se fosse mesmo apenas um fantasma perambulando pela vida, e de como nesses extremos, parte de si mesmo, irreconhecível, pode emergir e tomar conta de uma forma negativa de sua própria vida. Afinal, quem realmente somos? O invisível porém inteligente e compassivo Simon ou o superficial e pilantra do James? Ao que parece não somos nem um ou outro, somos sempre essa tensão do que conhecemos e do que não conhecemos de nós mesmos.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraO filme é centrado na experiência subjetiva de dois amantes (que no fundo) são de fato românticos, embora não pareça ser assim de início, já que ambos estão revestidos de suas personas "adultas e racionais." O filme é fluídico, ele não enrola, também não exagera no prolongamento das cenas, cada uma se encaixa de maneira suave e concatenada; dá para sentir o processo de se apaixonar surgindo a cada instante chave do filme nas personagens.
É com a personalidade extrovertida, jovial e original de Jesse que Céline se encanta a princípio; há ainda várias cenas em que Jesse mostra uma descrença agindo de modo um tanto rude quanto às questões metafísicas, como a reencarnação, a precognição do futuro que a cigana faz numa cena o que frustra um pouco Céline., e esta se mostra uma partidária do feminismo, confirmando assim a análise de personalidade da cigana, demonstrando ser uma grande mulher; de caráter, personalidade e mente expandidas e desenvolvidas. Assim, ambos se veem como aventureiros, descompromissados e realistas, mas é Céline que logo mostra sua vulnerabilidade e Jesse não resistindo acaba deixando cair sua máscara descompromissada revelando estar apaixonado por ela também.
O filme não mostra um caso de romance extremamente romântico, não é um sofrimento do jovem werther, mas também não é nada muito distópico; há uma pitada de realismo com romantismo; faz com que o telespectador seja capturado rapidamente e se envolva no drama subjetivo e ambíguo dos sentimentos das personagens, sentindo a depressão de se apaixonar tanto por alguém, tão rapidamente, mas logo tendo que se separarem; mas logo se percebe que isso acontece ainda dentro de uma consciência das personagems que sabem no fundo ser maduros e tiraraem o máximo do momento presente, sem criar expectativas irreais e prejudiciais. Portanto, só posso dizer que realmente Before Sunrise é um filme excelente.