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Últimas opiniões enviadas

  • Nino

    Tudo em “Drive” é muito interessante, das lacunas inquietantes propostas pelo roteiro, por sua trilha sonora repleta de sintetizadores com mensagens descritivas das personagens, o estilo neo-noir (neon) adotada pela fotografia e pelos enquadramentos impecáveis que remetem ao estilo Tarantino.

    “Drive” é um roteirizado adaptado por Hossein Amini, inspirado nos livros da série “Diver” do escritor americano James Sallis, tendo sido dirigido em 2011 pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn. Uma curiosidade é que Ryan Gosling, protagonista do filme, indicou o diretor para os estúdios da FilmDistrict.

    Em “Driver” Ryan Gosling vive o protagonista sem nome, que não é citado ou nomeado em momento algum do filme, isso já pontua a característica misteriosa da personagem, que possui hábitos noturnos e faz às vezes figura de vigilante das ruas da cidade de Los Angeles, que ele conhece muito bem, tão bem, que o filme inicia com Ryan deixando claro sua habilidade de conhecedor das ruas e de motorista, e que ele se resume naquele momento a isso, o serviço para qual ele está sendo contratado ou que virá depois desse serviço não lhe interessa. Todo esse discurso inicial do protagonista é capturado em cortes assimétricos de uma janela, com um jogo de sombra e luz característicos do filme noir e que colaboram para a construção de um prólogo que apresenta uma situação, não explica nada, o que o público pode contar é com aquele momento e aquela situação que ambienta e apresenta em uma pequena dose, uma das faces do protagonista. E essa será uma constante em todo o filme, não há explicações, há o recorte de um determinado momento na vida do personagem principal e que acompanharemos até o que podemos entender como desfecho, onde nesse ciclo, da mesma forma que esse homem se apresenta e se encerra enigmaticamente.

    Destaca-se no prólogo uma concisa apresentação da proposta fílmica, sendo muito clara que pretende ser e a forma que utilizará para isso. Um trabalho magnífico de roteiro e direção que somado com a fotografia, edição, arte e trilha sonora promovem um trabalho excepcional e merecidamente figurando como no top 10 dos melhores filmes realizados em 2011, rendendo a Winding Refn o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. Ainda sobre o prólogo, destaca-se entre outros, o recurso de unir a fuga dos assaltantes contra a polícia, onde no carro Ryan ouve a narração de um jogo de basquete, que servirá como narração da própria fuga e de auxiliador para os ladrões se dispersarem, no carro onde ocorre a fuga de dois bandidos sendo guiado por Ryan, temos uma câmera que registra todos os momentos de dentro do carro e que revela o motorista através do retrovisor e do reflexo no painel frontal do carro. Após a bem sucedida fuga, temos um letreiro estilizado com uma cor pink neon que intitula o filme e tendo como fundo musical a sugestiva “Night Call” (Kavinsky & Lovefoxxx), reparem que da escolha musical a inserção ao título, aos recortes e a fotografia neon, tudo é muito bem pensado e estruturado, colaborando ainda mais para preparar o terreno de “Drive” que não significa apenas dirigir, quer dizer também impulso, motivação, sendo essa última a característica primária da personagem de Ryan Gosling, ele é um herói que ronda a cidade em busca de motivação, de algo que impulsione sua vida e o faça ser um herói de verdade.

    Ryan se vale da sua habilidade no volante para exercer as mais diferentes funções, ele é mecânico, piloto de Stock Car, dublê de motorista em filmes, vigilante noturno e entre outras, motorista de fuga em assaltos. Tendo Shannon (Bryan Cranston), como empresário, agenciador e a figura mais próximo de um amigo. Uma característica na apresentação das personagens, é que raramente elas se apresentam de uma forma convencional, sempre surgem de encontros casuais ou na medida que são necessárias para um serviço, por exemplo, o próprio Shannon aparece a primeira vez como alguém que aluga um carro para Ryan, já Irene (Carey Mulligan), por quem Ryan depois irá se apaixonar, aparece despretensiosamente em um encontro casual de elevador. Detalhe para o elevador, que dá mesma forma que apresenta e é ponto de encontro das personagens, será futuramente de separação e desfecho, em uma belíssima cena, capaz de inserir no mesmo ambiente romance e violência, utilizando luz, trilha e atuações perfeitas.

    Irene é a responsável para conhecermos outras vertentes e facetas de Ryan, através da relação traçada e que assistimos ser desenvolvida ao longo do filme por Ryan, “Irene” e o seu filho “Benicio” (Kaden Leos), que podemos ter a dimensão humana desse herói, e é através dessa relação com a interseção do namorado de Irene que estava preso, que surge uma motivação para o herói presente em Ryan se apresentar, e isso é explicitado no filme em vários diálogos, principalmente quando Shannon diz a Ryan, que ele é o único homem que tenta salvar o marido da mulher por quem se está apaixonado.

    Os diálogos em “Drive” são construídos por uma originalidade e pontualidade raríssima. Tanto que é um filme de poucas falas e vários momentos de silêncio que dizem muito, principalmente pelo jogo realizado pelos atores, onde a interpretação de um subtexto é muito mais importante e evocativa do que qualquer outra fala. Dentre as atuações Bryan Cranston - como Shannon - se destaca. A versatilidade desse ator, famoso por interpretar Walter White na série Breaking Bad, mostra mais uma vez sua capacidade em criar personagens diferenciados e com uma precisa atenção para os detalhes e sutilezas de um sorriso ou do desconforto de um mancar. O resto do elenco promove um trabalho preciso, mas Ryan Gosling como motorista, deixa em vários momentos uma inexatidão de propostas, são vários planos mostrando o ator com uma fisionomia neutra, que não expressa nada, nem tão pouco evocam qualquer diálogo ou colaboram para uma narrativa, sua inexpressividade transforma-se em momentos vazios e que geram certo incômodo diante de uma quebra na atuação que não diz nada.

    “Drive” é um filme sombrio, com tomadas noturnas e que alterna com tomadas internas claras com um abuso de tons laranjas e amarelo, seus silêncios prolongados tomados por uma transmissão de sugestão dos atores/personagens que alternam o que se diz com o quê se quer dizer, uma história que apresenta um enredo inicialmente com viés romântico e se transforma em uma violência bruta, com cenas fortes e suas tomadas e planos que lembra muito os filmes de Tarantino, principalmente pelo uso plongée e contra plongée, a utilização de uma simbologia sugestiva, como a figura de um escorpião aliado ao personagem de Ryan e a conversa com a criança Benicio, onde um vilão é visto pela ótica de um desenho infantil, em que para ser do mal é uma condição inerente ao ser, em suma, nas dualidades que “Drive” se constrói temos um filme coerente, que se vale muito pela omissão de respostas e que fazem desse filme uma verdadeira obra.

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  • Nino

    O melhor da proposta apresentada por Guy Ritchie, está na total despretensão e despreocupação com os amantes ou idólatras dos contos clássicos ligados ao universo medieval do Rei Arthur, é evidente seu desejo de apresentar uma estória que dialogue com os tempos atuais, principalmente em criar um blockbuster que atenda aos desejos de um público jovem, despertando nesse mesmo público, o interesse em acompanhar uma nova franquia de filmes. Guy entrelaça ambiciosamente aos interesses de uma grande produção de estúdio, uma qualidade visual e de narrativa características ao estilo do diretor. Em resumo, um filme com pretensões artísticas e comerciais, e que consegue falhar em ambos aspectos, o que talvez tenha gerado tantas críticas negativas, mas que fazem de “King Arthur” um curioso caso a ser observado e que já vale dar aquela conferida no filme. Destaque para a "hip-hop montage" que retrata o avanço da infância até a fase adulta do Rei Arthur, um trabalho primoroso e característico da montagem acelerada de Guy Ritchie.

    Guy Ritchie é um cineasta inglês que despertou a atenção de muitos em 1998, com o lançamento do seu segundo filme: “Lock, Stock and Two Smoking Barrels”. Evidencia-se neste trabalho, marcas que se tornaram singulares ao estilo de Guy, e que consequentemente estão presentes em “King Arthur: Legend of the Sword”, tal como uma edição de imagens abruptas, com cortes secos, rápidos o uso frenético das imagens e que se expressam pela utilização de uma câmera muito pontual cujos planos são regidos em grande parte pela edição e contando com uma movimentação de câmera e de planos na medida que as personagens avançam, isso é, uma perspectiva de acompanhamento, o seguir de um ponto ao outro. Uma linguagem arrojada, muito proximal ao dos videoclipes e dos videogames, que por vez gera uma dualidade contraditória em “King Arthur”, pois, ao mesmo tempo, que é interessante e diferenciado ter uma história medieval, que já contada e recontada tantas vezes e de modos tão próximos, aqui, no filme de Guy, ela é mais remodelada.

    Para remodelar essa história, o diretor renuncia a qualquer preciosismo literário ou de caráter intocável diante uma história secular, ao contrário disso, ele a moderniza e expressa isso em vários âmbitos, no figurino, por exemplo, utiliza o recurso da moda atemporal, trazendo traços de modernização às vestimentas, gerando leveza e mobilidade para auxiliar nas cenas de ação, nosso Rei Arthur agora é um homem que exibe os traços de seu corpo, utilizando camisas que exibem o seu peitoral sarado. A trilha sonora é um show à parte, assinada por Daniel Pemberton e contando com músicas que vão de "Babe I'm Gonna Leave You", do Led Zeppelin, misturando estilos clássicos musicais da cultura nórdica, do trovadorismo, da música polifônica com seus órganon’s e com composições próprias e uma trilha incidental repleta de sons graves, de referências ao heavy metal que lembra algo de “Mad Max” e principalmente pela inserção de um som, que no filme se misturam ao bramido de elefantes e seu efeito de trompas e ao “BRAAAM”, criado por Mike Zarin para o filme “Inception” e que se tornou febre e recurso praticamente obrigatório para os filmes de ação, suspense e de traços épicos.

    Claro que essa modernidade expressa em todas os setores que englobam um filme, se tornam ainda mais marcantes na direção e na fotografia, justamente em ambos setores onde o filme mais desliza e comete seus erros. Na busca de modernizar “Arthur”, Guy remodela essa história clássica ao estilo de games, mas esquece o apelo crucial dos jogos, onde o público é ao mesmo tempo, espectador mais jogador ativo do game, já no filme, somos com toda a carga que isso exerce, espectadores, por isso, em cenas como da fuga do Rei Arthur e de seus companheiros, na qual Ritchie insere uma câmera subjetiva e aos moldes daquelas mini-câmeras esportivas e acopladas na lateral (ombro), dos atores, captando uma imagem de fuga comum aos consoles e que também deram fama ao filme “The Hurt Locker”, 2008, porém, ao se apresentar nesse único momento do filme, explicitam o caráter de uso artificial e de excesso em “King Arthur”, ambos gerando momentos constrangedores como na sequência final, onde “Arthur” (Charlie Hunnam) luta contra o exército de seu tio “Vortigern” (Jude Law), ao invés de uma coreografia ou qualquer outra possibilidade de luta real, temos uma inserção barata de gráficos 2D muito mal realizadas e que geram vergonha, já que este é o grande momento de embate e o ápice que o roteiro incansavelmente aponta, principalmente pelas cenas de lutas nunca se realizarem efetivamente.

    O filme já inicia com um prólogo interessante que une uma breve explicação de fatos importantes e necessários para o conhecimento e posterior entendimento do público, e também introduz alguns personagens, os mais conhecidos da mitologia Arturiana (Merlin, a Senhora do Lago e Mordred), que durante o filme são citados e reaparecem em piscadelas, no claro interesse da franquia do filme, já que ele originalmente a ideia é de contarmos com seis produções. Enfim, nesse prólogo onde é traçada a grande batalha de Uther Pendragon (Eric Bana), o pai de Arthur e o rei da Grã-Bretanha contra Mordred (Rob Knighton), o traidor do Rei e do povo, neste embate toda uma Mise-en-scène de grande confronto é estabelecida como ápice inicial, o problema é que ela não acontece, na boa vontade do público pode ser encarada como uma forma de sinalizar a grandiosidade do Rei Uther, que prefere se entregar ao confronto, poupando seu exército e povo, mas, essas interrupções de batalha ocorrem em todos os momentos do filme, elas são estrategicamente apresentadas, mas nunca encenadas por uma questão de direção, que sempre fica em uma negação, seja pela não realização física em detrimento de uma realização gráfica ou por outras questões que inviabilizariam esse momento, embora seja estranhas diante a dimensão orçamentária e das indicações do roteiro.

    A computação gráfica é outro aspecto interessante em “King”, assumindo muitas vezes a direção do filme, pois, nas grandes cenas de luta ou combate, cenas importantes e esperadas com expectativas pelos fãs desse gênero, já que são elas características marcantes de filmes épicos e da ação, pois bem, elas são entregues a computação gráfica, que em grande parte é realizada de forma magistral, mas que questiona os limites e a capacidade de Guy como diretor, até na característica mais marcante de Guy, do virtuosismo técnico, são assumidos agora pelo recurso gráfico e explorados em demasia de tempo e de recurso narrativo que só geram confusão, cansaço e novamente a superficialidade marcantemente empregada ao filme, resultado até nas atuações regidas por construções estereotipadas. Jude Law como Vortigern, beira ao infantil de um vilão que não consegue ser justificado, sua ambição, suas motivações e vilanias são mais fracas, comparadas a um vilão de desenho, pois, tudo que Vortigern faz é sobre uma ação pontuada apenas pelo fazer, algo que tão pouco Charlie Hunnam consegue com o seu Rei Arthur, o carisma do ator é notório e seu esforço é visível, porém, inútil diante a superficialidade de um personagem e de uma estória que acaba por ser mais fantasia.

    “King Arthur: Legend of the Sword” ao tentar ser moderno se perde em sua própria virtude fragmentada, gerando um filme fantasioso e sem traços de querer ser história, mesmo tendo como base uma (por sinal riquíssima), e acaba gerando um produto sem foco, mas que atira para todos os lados e colocando em dúvida o explícito desejo de seu fim, estimular o público a acompanhar as próximas histórias que virão dessa franquia, já que a incapacidade de se ater a ideia original, de contar a lenda da espada do Rei Arthur, que acaba sendo logo retratada, dando espaço para um roteiro que enrola diante uma missão encerrada que não precisa e nem quer contar mais nada.

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  • Nino

    "A verdade completa não está em um sonho, mas em vários”. Com essa citação que Pasolini, um dos mais idiossincráticos de todos os cineastas, inicia “Il Fiore delle mille e una notte”. A estranheza e a dificuldade de seu trabalhos decorrentes de seu compromisso com a contradição: A base desse compromisso foi a recusa de abandonar as influências diversas e parcialmente irreconciliáveis ​​que determinaram a natureza de sua arte: o catolicismo, o marxismo, a homossexualidade, as favelas urbanas (cenários de seus primeiros romances), o campesinato, o neo-realismo, um apego ao fantástico e milagroso.

    Enquanto “Il Fiore delle mille e una notte” parece estar tão distante das propostas do neo-realismo (na tentativa de capturar as realidades externas e internas do momento contemporâneo), o diretor ainda assim, consegue permanecer, incrivelmente, fiel à estética neo realista: O uso de atores não profissionais, cenas filmadas em locais externos e reais (sem a interferência de cenários artificiais ou construídos especificamente para o filme), e a espontaneidade do jogo.

    Escrito (com a colaboração de Dacia Maraini) e dirigido por Pier Paolo Pasolini “Il Fiore delle mille e una notte” (1974), é o terceiro e último capítulo da " Trilogia da Vida " depois de “l Decameron” (1971) e “I racconti di Canterbury” (1972). Chama atenção a grandiosidade do trabalho de externas, tendo cenas rodadas no: Iêmen , Etiópia , Irã , Índia e Nepal, e tendo um pré-projeto muito mais complexa durante a elaboração do roteiro, sofrendo grandes modificações durante a fase de montagem. O filme foi premiado em 1974, no Festival de Cannes, tendo alcançado o Grande Prêmio.

    “Il Fiore...” é baseado principalmente em uma história que atua interligada a outras, isto é, são mini-histórias ou episódios, que no final se interligam em uma grande fábula de um mundo onírico, sendo o protagonista desta história, o jovem casal de amantes, “Nur-ed-Din” (Franco Merli), jovem alegre e com ar de bobo e “Zumurrud” (Ines Pellegrini), uma escrava encantadora e muito esperta. Deste casal que marca a história inicial e principal como um fio unificador, Pasolini conta, seis outras histórias (organizadas em dois grupos de três), dentro de uma estrutura de cinco partes.

    Cada trio de histórias tem seus próprios temas internos. Os três primeiros (anedotas breves), estão preocupados com a sexualidade e a igualdade, sendo o terceiro (mais desenvolvido) que acaba em um empate e na demonstração de que o desejo feminino e o desejo masculino são igualmente potentes. As histórias do segundo trio estão todas preocupadas com as noções do Destino: duas histórias em que o destino se mostra inescapável estando incluídas em uma trajetória em que o destino é superado. Além disso, a história de Aziz, Aziza e Badur está em contradição com a história do quadro de Nureddin e Zumurrud. Eles são ligados pela contradição de que "a fidelidade é linda, mas não mais do que infidelidade". No conto de Aziz, o conflito leva à morte e à castração, mas na história principal, a fidelidade e a infidelidade são reconciliadas: Nureddin, em busca de sua amada, pode ser levado a inúmeras diversões sexuais deliciosas, mas sua fidelidade a Zumurrud é sempre triunfante sobre eles, e finalmente recompensados ​​em um final feliz que joga (a fim de repudiar) as relações de poder sexual.

    O reconhecimento e a celebração da diversidade são um aspecto de um dos movimentos centrais do trabalho de Pasolini: o esforço para redescobrir um senso do maravilhoso, o mágico. De todos os filmes de Pasolini, “Il Fiore delle mille e una notte” se destaca por perceber o senso comum das relações sexuais, do seu prazer e divertimento, e promove isso, através de um erotismo purgado de toda a contaminação da pornografia. As relações que se estabelecem com favores sexuais ou no fim concretizado pelo sexo, muito mais do que gratuitas ou vulgares, se apresentam como algo humano e comum a todos, sem julgamento de valores, mas pelo prazer da auto-satisfação.

    O roteiro ainda que construído sobre uma estrutura muito rígida e dividido em três atos, e cada um dos quais, no que lhe diz respeito, divididos em quatro partes, com a forte presença da estrutura como um elemento de ligação e de homogeneização entre as histórias escolhidas por Pasolini e baseadas nos contos “As mil e uma noites nas arábias”, em suma, o mesmo material narrativa é, em vez disso, apresentado na película numa forma rapsódica e contínua. Porém, podemos observar em vários momentos a marcante presença do autor (roteiro) e diretor, transmutado em discursos e defesas redundantes a Pasolini, no tocante ao posicionamento político, sua homossexualidade e afirmação óbvia da fé e da heresia.

    O trabalho de movimentação de câmera é muito curioso, já que Pasolini optou pelo uso de câmera na mão (mais uma clara referência ao neo-realismo), o que gera uma movimentação intensa, quase documental e que associada a bela fotografia de Giuseppe Ruzzolini, resulta em um trabalho grandioso e que sabe tirar vantagem das inúmeras e belas locações, tendo registrado países que ao longo da história se fecharam por conflitos e guerras. Ruzzolini realiza também uma fotografia viva e que não diferencia o que é realidade de um sonho, algo que podemos compreender como uma posição assumida em não definir, dando liberdade ao espectador de entender tudo como um grande sonho ou conto, e de fazer suas próprias separações. Destaque também para o trabalho da Rank Film Labs, com efeitos especiais simples e praticamente artesanais e que dialogam com a ideia de um conto, de uma narrativa de fábula, ainda quê permeadas de crítica e senso político.

    Pasolini expressa através do cinema: beleza, amor, verdade e justiça. Pasolini é essencial pelo seu caráter provocativo, jocoso e sem pudores em ir ao fundo de temas controversos e que a sociedade busca escamotear, tão pouco ainda, acompanhar em um filme. “Il Fiore delle mille e una notte” é um deslumbre de imagens que aludem ao sonho de um mundo imperfeito, mas essencialmente humano e por isso passível de erros que se assumem na tentativa de acertos.

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