As tomadas com as formigas e demais animais, além do olhar taxidermista em sequências de decomposições secas, são de uma grandeza visual e narrativa que não é algo que vai ganhar o respeito e a valorização recorrente. Não é errado dizer que é uma obra-prima pela dinâmica e pelas escolhas do diretor e do macro fotógrafo Ken Middleham, claramente uma inspiração para os trabalhos de Aronofsky (Pi), Duna parte 2 de Villeneuve e a franquia Tremors. Excelente filme.
Obra-prima com um exercício metalinguístico gigantesco, colorido impecável, produção de alto padrão e atuação magistral da maravilhosa Anna Magnani. A cena em que a personagem Camilla educa a "suposta elite" é excepcional. Deslumbrante.
A sinopse não está correta, baseado no livro de mesmo título, o filme mostra o ciclo de castas envolvidos com a pesca, mas centra sua perspectiva nos dilemas morais de mulheres e homens que são submetidos a casamentos arranjados e os desafios que as tradições locais provocam na vida dessas personagens. O rio em questão é um personagem de marcação de situações numa fotografia exemplar. Ótimo clássico restaurado pela World Cinema de Scorsese.
O moleque transante Alfredo deixou um rastro de caos, confusão e piolho nas regiões íntimas das suas namoradas. É desse tipo de filme que a humanidade precisa, com direito a tiro no c* e a morte simbólica da família tradicional. O comentário do amigo André comparando o protagonista ao Seu Madruga me deu crises de riso ahahahaahhaha.
John Waters é um grande diretor e Divine tem uma complexidade na atuação desse filme que é impressionante, indo além da mítica "caricatural" que seu trabalho com o diretor costuma ter. É comum que produções mais recentes com esse contexto de fama e paranoia receba comentários positivos sobre os atores e atrizes, principalmente no circuito do streaming e das grandes corporações que dominam essas mesmas plataformas, mas neste trabalho os atores são orgânicos, reais e talentosos em seus absurdos. É uma obra-prima da subversão e da demolição do conceito de família e da normatividade norte-americana. O filme te faz rir inicialmente, mas revela uma seriedade dolorosa ao final.
Exagerado e visualmente impactante, gosto bastante dos filmes de Fellini porque existe um trabalho de cenografia pela qual Hollywood alimenta enorme desprezo. É longo e o próprio diretor tinha antipatia pelo personagem, mas os cenários e os figurinos são impecáveis. Interessante como ele mostra Londres, uma cidade oca, vazia e cinzenta, enquanto Dresden na Alemanha é gelada e iluminada por velas. Não é o meu favorito do diretor, mas não dá para ignorar a sua maneira de abordar os sonhos.
Obra-prima. O povo adora alguém que tome à frente das ações, como todos os outros filmes do mestre, extremamente psicanalítico. Admiradores de Antonioni não vão dizer que se parece com Zabriskie Point porque o medo de "pegar mal" nas vistas das suas rodinhas super conceituadas é maior, mas conversa demais com o radicalismo discursivo dos anos 70. Tapa na cara da sociedade.
Os filmes "Corra", "Bamboozled" de Spike Lee e "Ficção Americana" geram um riso "confortável" no alvo da sua crítica, o que só reforça o distanciamento e a falta de noção do absurdo das situações presentes. Apesar do texto denso, é elegantíssimo. A maioria dos seus críticos não teriam as mesmas ressalvas se fosse um filme do Woody Allen, afinal, a cor desse diretor não é a questão dos seus filmes simples e com o mesmo didatismo do indicado ao Oscar: e, além disso, o didatismo em questão tem que ser esfregado na cara porque a falta de sensibilidade da mentalidade racista e seus códigos é enorme. Filme simples e eficiente.
Poesia visual com foco na sutileza e na imaginação da diretora. Um trabalho muito delicado que remete bastante em alguns pontos ao estilo do Abbas Kiarostami.
Adaptação impressionante, um desafio imenso colocar na tela a densidade desse universo com códigos políticos, sociais, religiosos, ambientais e planos dentro de planos. Duna Parte 2 é uma ópera de guerra que nasce com o ensinamento e os ritos de passagem de Paul rumo ao encontro da sua visão derradeira como Duque e Líder do planeta Duna. Na parte 1 todo processo é litúrgico e nobre, com alguma proteção até ocorrer a traição contra a família Atreides, no segundo episódio esses eventos são ampliados dentro da mítica dos Fremen e das Reverendas. Duna parte dois consegue sintetizar um sentimento enorme que remete ao leste europeu e ao eixo entre polônia e hungria (onde foi rodado e com visível sensibilidade "específica" quando o assunto é sci-fi), culturas africanas e Eurasiáticas (um misto de Sarajevo com espectro Ortodoxo e islâmico) com suas arquiteturas brutalistas, naves que parecem insetos e o estudo de ecossistema que custou 4 anos da vida do autor para transcrever para à ficção uma realidade imaginativa atemporal. A direção de Greig Fraser na fotografia remete bastante a nova onda do cinema polonês dos anos 60, precisamente no filme Pharaoh de Jerzy Kawalerowicz.
O uso do preto e do branco, os tons de dourado, a fotografia alaranjada e uma visível homenagem a David Lynch na abertura e na cena da orelha com insetos que é uma releitura objetiva do início de Blue Velvet do próprio Lynch. Enquanto fã dos livros e da série, me sinto contemplado com mais uma adaptação de um material riquíssimo que evoca ares de grandes produções como Apocalipse Now, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e 2001 do Kubrick. O cinema comercial em sua forma mais arriscada e inovadora, que terá forte impacto na forma como Hollywood produz suas obras e como trata o público.
Um olhar naturalista e baseado em pintura para uma mulher que aparentemente "não sabe" quem é, e segue manipulada até certo momento tanto na ficção, como na própria execução da personagem. O fato é que Emma Stone está fantástica no filme e é injusto não reconhecer que a atriz escolheu desenvolver sua interpretação desse roteiro. Cinema é uma arte coletiva. Na Escócia, o filme causou polêmica por ser considerado "corrupto" com os valores históricos do país: a produção costura diversos movimentos da pintura clássica, quebrando as noções regulares de história e geografia, o que igualmente ocorre, com a "Frankenstein" que a personagem Bella é, multifacetada. A fotografia em 35mm é o maior trufo em minha visão, os aspectos morais apontados como incômodos, dizem bastante sobre os valores atuais e a dificuldade de entender o anacronismo visual e histórico que a obra aborda. Na realidade, eu acho que a gritaria toda é porque parte do público não está acostumado a ver homem com bunda cabeluda no cinema e mulher não depilada.
Quem não dá 5 estrelas a esse filme tem raiva de qualquer retrato da realidade do trabalhador, cansado, sem motivo para sorrir, e manda a pqp o trabalho na primeira oportunidade de transar. Outro trufo do diretor é a quebra da "Mítica" amistosa e gentil dos finlandeses, um povo desconfiado por natureza. Além de tudo, ótimo acompanhar um casal sem vaidade, sem rosto bonito e gente real com atuações impecáveis na tela.
Minha pergunta principal ao longo dessa produção é como esse diretor conseguiu manter a ordem da obra mesmo com tanta desorganização e caos do ponto de vista humano. De certa forma me lembrou um pouco Funeral Parade of Roses e Rally your books, além de Roma de Fellini.
Eu gostaria de ser produtor desse diretor porque é incrível como os seus filmes são no geral ótimos, mas não recebem 20% da divulgação que merecem, fora que pessoalmente é uma simpatia. Se fosse um diretor francês já teria recebido a Palma de Ouro em Cannes.
Os dois únicos acertos de Priscilla são a maquiagem muito bem realizada, que não parece falsa e uma atriz principal segura e talentosa, e de maquiagem bem espalhada esse filme compreende bastante. Parece um videoclipe de longa duração da Lana Del Rey (ela, no entanto, consegue ser mais verdadeira do que esse roteiro, construindo um imaginário que tem continuidade, enredo e que se aprofunda nas situações das canções; Já Priscilla segue o olhar de Sofia, que constrói uma imagem completamente tórrida, violenta e machista de Elvis e no segundo seguinte - ao mesmo estilo de videoclipes, daí a citação para Lana - está contemplando o mesmo cara na Piscina: o fetiche é um recurso comum no cinema, mas que tipo de empatia cabe elaborar para um sujeito problemático sem que tivéssemos noção - aprofundada - da vida do sujeito?
Sofia Coppola já flertou bem com o universo da música quando trabalhou com a dupla Air, além de corromper a história de Maria Antonieta, na sua visão histórica, uma patricinha de shopping que finge ser punk. A cena do All Star é a maior prova da força do filme (MA).
Entendo que a diretora destaca o relacionamento da Priscilla com Elvis, violências e a nulidade da vida de uma jovem, mas caberia em diversos pontos, um discurso moral - feminista - mais incisivo (culpo o núcleo socioeconômico pela ausência, principalmente contra os pais dela), uma abordagem de consciência mais elaborada em torno da diferença de idade, não para direcionar decisões dos espectadores, mas, para respaldar de fato a importância dos momentos e dos questionamentos;
Não acompanhamos a relação de Priscilla com as empregadas, ou a ligação de Elvis com a cultura afro-vodu dentro e fora de casa, seus amigos negros que frequentavam diversos espaços não autorizados, mas que ele fazia questão de contar com a presença das pessoas, o que amplia o peso e a medida da contradição de uma figura que teve inúmeros defeitos, mas não só. Além disso, Priscilla finaliza seu enredo em um ponto que não deixa claro seus relacionamentos amorosos, ou como decidiu seguir adiante com a sua vida, o filme o tempo todo nos entrega pinceladas e impressões que não se aprofundam - e é uma sensação de incômodo como se Priscilla fosse alguém completamente inerte e sem qualquer tipo de brilho na visão da diretora.
A ótica na abertura de Priscilla já deixa claro que se trata de um sonho, de um delírio da personagem diante da realidade - Sniper Americano é um exemplo que segue a mesma dinâmica - quando projetada como cinebiografia pela diretora, os homens são cortados, muitas vezes fora do foco central, apenas como figuras secundárias, restando apenas Priscilla e Elvis. Priscilla não foi apenas uma observadora da sua própria viva e é na base da falácia que Sofia sustenta o roteiro do filme, criando a sensação de vazio, distanciamento e de pouca empatia pela personagem que ela mesma decide - supostamente - construir no cinema; afirmo essas impressões porque a diretora consegue estabelecer sutilezas e constatações sem tantas idealizações - não do casal - mas para a figura de Priscilla, em comparação aos seus trabalhos - coesos, fortes e relevantes - anteriormente dirigidos.
Produção exemplar em sua proposta, orçamento modesto e um elenco melodramático extremamente funcional. Alguém colocou Godzilla Minus One em uma cápsula do tempo e trouxe tudo que funcionou na história do cinema de monstros para os dias atuais. Além do roteiro bem escrito, o elenco é brilhante, com alma, justificando enquadramentos tão próximos. Um verdadeiro clássico. Os efeitos visuais são muito bem realizados, o monstro tem a cara do cinema dos anos 30 e 40, os atores poderiam facilmente ter sido parte de qualquer obra do mestre Ozu com um drama tão realista. A composição da trilha sonora e seu uso como personagem é uma aula. É um filme que merece todo reconhecimento, tudo muito bem dosado, inclusive as convenções de ritmo. É raro o cinema que olha para os trabalhadores e para pessoas comuns e esse Godzilla faz exatamente isso. Senti o mesmo efeito dramático que ocorreu em Train to Busan.
Adaptação extremamente fiel da novela de Gogol, que caminha em um intenso crescendo perto do final e uma forma de uso de "magia" por um seminarista-filósofo que é maravilhoso. Obra-prima da fantasia gótica.
Como o diretor utiliza o rolo de filme em um paralelo com a roleta russa do revólver, aprimorando o ritmo ao final da montagem com um breve desaparecimento do anti-protagonista em cena, é um recurso impressionante. Um roteiro que começa com uma bela homagem ao filme "O Terror" com o próprio Karloff e um jovem Jack Nicholson, culmina em uma trama com muitas questões próprias dos "cidadãos de bem", um filme dos anos 60 que antecipou a pandemia da consciência Incel e dialoga perfeitamente com The Driver do também mestre Walter Hill.
Finalmente, uma história do Batman que mostra a sua tendência à catastrofização de cenários não ocorridos, sua incompetência e que qualquer criança lidaria de forma mais adulta do que ele próprio com a dinâmica do heroísmo.
É a adaptação de um quadrinho, o que explica o método nas cenas, o posicionamento adequado, e David Fincher se aproveitando de um recurso fálico que é o momento em que o cara pula uma cerca ao ver a pegada de outro homem, quem conhece construção motivacional de personagem sabe que aquilo ocorre por conta de alguma mulher - e não falo isso como algo errado - é apenas engraçado o diretor se manter tão jovial e com bom ritmo nessa adaptação.
Fase IV: Destruição
3.3 33As tomadas com as formigas e demais animais, além do olhar taxidermista em sequências de decomposições secas, são de uma grandeza visual e narrativa que não é algo que vai ganhar o respeito e a valorização recorrente. Não é errado dizer que é uma obra-prima pela dinâmica e pelas escolhas do diretor e do macro fotógrafo Ken Middleham, claramente uma inspiração para os trabalhos de Aronofsky (Pi), Duna parte 2 de Villeneuve e a franquia Tremors. Excelente filme.
As Aventuras do Príncipe Achmed
4.1 26obra-prima da animação
A Carruagem de Ouro
3.8 17Obra-prima com um exercício metalinguístico gigantesco, colorido impecável, produção de alto padrão e atuação magistral da maravilhosa Anna Magnani. A cena em que a personagem Camilla educa a "suposta elite" é excepcional. Deslumbrante.
Titash Ekti Nadir Naam
3.8 1A sinopse não está correta, baseado no livro de mesmo título, o filme mostra o ciclo de castas envolvidos com a pesca, mas centra sua perspectiva nos dilemas morais de mulheres e homens que são submetidos a casamentos arranjados e os desafios que as tradições locais provocam na vida dessas personagens. O rio em questão é um personagem de marcação de situações numa fotografia exemplar. Ótimo clássico restaurado pela World Cinema de Scorsese.
Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia
4.0 101O moleque transante Alfredo deixou um rastro de caos, confusão e piolho nas regiões íntimas das suas namoradas. É desse tipo de filme que a humanidade precisa, com direito a tiro no c* e a morte simbólica da família tradicional. O comentário do amigo André comparando o protagonista ao Seu Madruga me deu crises de riso ahahahaahhaha.
A Time of Roses
3.8 3A complexidade dos temas garante uma experiência única, ao melhor estilo do Antonioni, porém, feito por um diretor finlandês.
Problemas Femininos
4.0 99John Waters é um grande diretor e Divine tem uma complexidade na atuação desse filme que é impressionante, indo além da mítica "caricatural" que seu trabalho com o diretor costuma ter. É comum que produções mais recentes com esse contexto de fama e paranoia receba comentários positivos sobre os atores e atrizes, principalmente no circuito do streaming e das grandes corporações que dominam essas mesmas plataformas, mas neste trabalho os atores são orgânicos, reais e talentosos em seus absurdos. É uma obra-prima da subversão e da demolição do conceito de família e da normatividade norte-americana. O filme te faz rir inicialmente, mas revela uma seriedade dolorosa ao final.
Casanova de Fellini
3.6 50 Assista AgoraExagerado e visualmente impactante, gosto bastante dos filmes de Fellini porque existe um trabalho de cenografia pela qual Hollywood alimenta enorme desprezo. É longo e o próprio diretor tinha antipatia pelo personagem, mas os cenários e os figurinos são impecáveis. Interessante como ele mostra Londres, uma cidade oca, vazia e cinzenta, enquanto Dresden na Alemanha é gelada e iluminada por velas. Não é o meu favorito do diretor, mas não dá para ignorar a sua maneira de abordar os sonhos.
O Menino e a Garça
4.0 215Obra-prima.
Finis Hominis: O Fim do Homem
3.5 33 Assista AgoraObra-prima. O povo adora alguém que tome à frente das ações, como todos os outros filmes do mestre, extremamente psicanalítico. Admiradores de Antonioni não vão dizer que se parece com Zabriskie Point porque o medo de "pegar mal" nas vistas das suas rodinhas super conceituadas é maior, mas conversa demais com o radicalismo discursivo dos anos 70. Tapa na cara da sociedade.
Ficção Americana
3.8 369 Assista AgoraOs filmes "Corra", "Bamboozled" de Spike Lee e "Ficção Americana" geram um riso "confortável" no alvo da sua crítica, o que só reforça o distanciamento e a falta de noção do absurdo das situações presentes. Apesar do texto denso, é elegantíssimo. A maioria dos seus críticos não teriam as mesmas ressalvas se fosse um filme do Woody Allen, afinal, a cor desse diretor não é a questão dos seus filmes simples e com o mesmo didatismo do indicado ao Oscar: e, além disso, o didatismo em questão tem que ser esfregado na cara porque a falta de sensibilidade da mentalidade racista e seus códigos é enorme. Filme simples e eficiente.
Faya Dayi
4.0 3 Assista AgoraPoesia visual com foco na sutileza e na imaginação da diretora. Um trabalho muito delicado que remete bastante em alguns pontos ao estilo do Abbas Kiarostami.
Mami Wata
3.6 3A fotografia mais importante do cinema recente em uma obra africana, e digo isso sem exageros.
Duna: Parte 2
4.4 605Adaptação impressionante, um desafio imenso colocar na tela a densidade desse universo com códigos políticos, sociais, religiosos, ambientais e planos dentro de planos. Duna Parte 2 é uma ópera de guerra que nasce com o ensinamento e os ritos de passagem de Paul rumo ao encontro da sua visão derradeira como Duque e Líder do planeta Duna. Na parte 1 todo processo é litúrgico e nobre, com alguma proteção até ocorrer a traição contra a família Atreides, no segundo episódio esses eventos são ampliados dentro da mítica dos Fremen e das Reverendas. Duna parte dois consegue sintetizar um sentimento enorme que remete ao leste europeu e ao eixo entre polônia e hungria (onde foi rodado e com visível sensibilidade "específica" quando o assunto é sci-fi), culturas africanas e Eurasiáticas (um misto de Sarajevo com espectro Ortodoxo e islâmico) com suas arquiteturas brutalistas, naves que parecem insetos e o estudo de ecossistema que custou 4 anos da vida do autor para transcrever para à ficção uma realidade imaginativa atemporal. A direção de Greig Fraser na fotografia remete bastante a nova onda do cinema polonês dos anos 60, precisamente no filme Pharaoh de Jerzy Kawalerowicz.
O uso do preto e do branco, os tons de dourado, a fotografia alaranjada e uma visível homenagem a David Lynch na abertura e na cena da orelha com insetos que é uma releitura objetiva do início de Blue Velvet do próprio Lynch. Enquanto fã dos livros e da série, me sinto contemplado com mais uma adaptação de um material riquíssimo que evoca ares de grandes produções como Apocalipse Now, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e 2001 do Kubrick. O cinema comercial em sua forma mais arriscada e inovadora, que terá forte impacto na forma como Hollywood produz suas obras e como trata o público.
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraUm olhar naturalista e baseado em pintura para uma mulher que aparentemente "não sabe" quem é, e segue manipulada até certo momento tanto na ficção, como na própria execução da personagem. O fato é que Emma Stone está fantástica no filme e é injusto não reconhecer que a atriz escolheu desenvolver sua interpretação desse roteiro. Cinema é uma arte coletiva. Na Escócia, o filme causou polêmica por ser considerado "corrupto" com os valores históricos do país: a produção costura diversos movimentos da pintura clássica, quebrando as noções regulares de história e geografia, o que igualmente ocorre, com a "Frankenstein" que a personagem Bella é, multifacetada. A fotografia em 35mm é o maior trufo em minha visão, os aspectos morais apontados como incômodos, dizem bastante sobre os valores atuais e a dificuldade de entender o anacronismo visual e histórico que a obra aborda. Na realidade, eu acho que a gritaria toda é porque parte do público não está acostumado a ver homem com bunda cabeluda no cinema e mulher não depilada.
Sombras no Paraíso
3.9 26 Assista AgoraQuem não dá 5 estrelas a esse filme tem raiva de qualquer retrato da realidade do trabalhador, cansado, sem motivo para sorrir, e manda a pqp o trabalho na primeira oportunidade de transar. Outro trufo do diretor é a quebra da "Mítica" amistosa e gentil dos finlandeses, um povo desconfiado por natureza. Além de tudo, ótimo acompanhar um casal sem vaidade, sem rosto bonito e gente real com atuações impecáveis na tela.
O Profundo Desejo dos Deuses
4.3 10Minha pergunta principal ao longo dessa produção é como esse diretor conseguiu manter a ordem da obra mesmo com tanta desorganização e caos do ponto de vista humano. De certa forma me lembrou um pouco Funeral Parade of Roses e Rally your books, além de Roma de Fellini.
Domingo
3.3 26Eu gostaria de ser produtor desse diretor porque é incrível como os seus filmes são no geral ótimos, mas não recebem 20% da divulgação que merecem, fora que pessoalmente é uma simpatia. Se fosse um diretor francês já teria recebido a Palma de Ouro em Cannes.
Priscilla
3.4 160 Assista AgoraOs dois únicos acertos de Priscilla são a maquiagem muito bem realizada, que não parece falsa e uma atriz principal segura e talentosa, e de maquiagem bem espalhada esse filme compreende bastante. Parece um videoclipe de longa duração da Lana Del Rey (ela, no entanto, consegue ser mais verdadeira do que esse roteiro, construindo um imaginário que tem continuidade, enredo e que se aprofunda nas situações das canções; Já Priscilla segue o olhar de Sofia, que constrói uma imagem completamente tórrida, violenta e machista de Elvis e no segundo seguinte - ao mesmo estilo de videoclipes, daí a citação para Lana - está contemplando o mesmo cara na Piscina: o fetiche é um recurso comum no cinema, mas que tipo de empatia cabe elaborar para um sujeito problemático sem que tivéssemos noção - aprofundada - da vida do sujeito?
Sofia Coppola já flertou bem com o universo da música quando trabalhou com a dupla Air, além de corromper a história de Maria Antonieta, na sua visão histórica, uma patricinha de shopping que finge ser punk. A cena do All Star é a maior prova da força do filme (MA).
Entendo que a diretora destaca o relacionamento da Priscilla com Elvis, violências e a nulidade da vida de uma jovem, mas caberia em diversos pontos, um discurso moral - feminista - mais incisivo (culpo o núcleo socioeconômico pela ausência, principalmente contra os pais dela), uma abordagem de consciência mais elaborada em torno da diferença de idade, não para direcionar decisões dos espectadores, mas, para respaldar de fato a importância dos momentos e dos questionamentos;
Não acompanhamos a relação de Priscilla com as empregadas, ou a ligação de Elvis com a cultura afro-vodu dentro e fora de casa, seus amigos negros que frequentavam diversos espaços não autorizados, mas que ele fazia questão de contar com a presença das pessoas, o que amplia o peso e a medida da contradição de uma figura que teve inúmeros defeitos, mas não só. Além disso, Priscilla finaliza seu enredo em um ponto que não deixa claro seus relacionamentos amorosos, ou como decidiu seguir adiante com a sua vida, o filme o tempo todo nos entrega pinceladas e impressões que não se aprofundam - e é uma sensação de incômodo como se Priscilla fosse alguém completamente inerte e sem qualquer tipo de brilho na visão da diretora.
A ótica na abertura de Priscilla já deixa claro que se trata de um sonho, de um delírio da personagem diante da realidade - Sniper Americano é um exemplo que segue a mesma dinâmica - quando projetada como cinebiografia pela diretora, os homens são cortados, muitas vezes fora do foco central, apenas como figuras secundárias, restando apenas Priscilla e Elvis. Priscilla não foi apenas uma observadora da sua própria viva e é na base da falácia que Sofia sustenta o roteiro do filme, criando a sensação de vazio, distanciamento e de pouca empatia pela personagem que ela mesma decide - supostamente - construir no cinema; afirmo essas impressões porque a diretora consegue estabelecer sutilezas e constatações sem tantas idealizações - não do casal - mas para a figura de Priscilla, em comparação aos seus trabalhos - coesos, fortes e relevantes - anteriormente dirigidos.
Godzilla: Minus One
4.1 270Produção exemplar em sua proposta, orçamento modesto e um elenco melodramático extremamente funcional. Alguém colocou Godzilla Minus One em uma cápsula do tempo e trouxe tudo que funcionou na história do cinema de monstros para os dias atuais. Além do roteiro bem escrito, o elenco é brilhante, com alma, justificando enquadramentos tão próximos. Um verdadeiro clássico. Os efeitos visuais são muito bem realizados, o monstro tem a cara do cinema dos anos 30 e 40, os atores poderiam facilmente ter sido parte de qualquer obra do mestre Ozu com um drama tão realista. A composição da trilha sonora e seu uso como personagem é uma aula. É um filme que merece todo reconhecimento, tudo muito bem dosado, inclusive as convenções de ritmo. É raro o cinema que olha para os trabalhadores e para pessoas comuns e esse Godzilla faz exatamente isso. Senti o mesmo efeito dramático que ocorreu em Train to Busan.
Viy: A Lenda do Monstro
3.8 81Adaptação extremamente fiel da novela de Gogol, que caminha em um intenso crescendo perto do final e uma forma de uso de "magia" por um seminarista-filósofo que é maravilhoso. Obra-prima da fantasia gótica.
Na Mira da Morte
3.9 34Como o diretor utiliza o rolo de filme em um paralelo com a roleta russa do revólver, aprimorando o ritmo ao final da montagem com um breve desaparecimento do anti-protagonista em cena, é um recurso impressionante. Um roteiro que começa com uma bela homagem ao filme "O Terror" com o próprio Karloff e um jovem Jack Nicholson, culmina em uma trama com muitas questões próprias dos "cidadãos de bem", um filme dos anos 60 que antecipou a pandemia da consciência Incel e dialoga perfeitamente com The Driver do também mestre Walter Hill.
O Natal do Pequeno Batman
3.5 21 Assista AgoraFinalmente, uma história do Batman que mostra a sua tendência à catastrofização de cenários não ocorridos, sua incompetência e que qualquer criança lidaria de forma mais adulta do que ele próprio com a dinâmica do heroísmo.
O Assassino
3.3 514É a adaptação de um quadrinho, o que explica o método nas cenas, o posicionamento adequado, e David Fincher se aproveitando de um recurso fálico que é o momento em que o cara pula uma cerca ao ver a pegada de outro homem, quem conhece construção motivacional de personagem sabe que aquilo ocorre por conta de alguma mulher - e não falo isso como algo errado - é apenas engraçado o diretor se manter tão jovial e com bom ritmo nessa adaptação.