Desafio dos 100 filmes: 48. Algum filme que tenham te contado o final antes de você assistir
Na época em que assisti, deu medo. Época em que nem me importava de que me contassem o final, era mais preocupante você conseguir um momento pra assistir ao filme escondido dos pais. Mas puta filme ruim! E com aquela velha moralzinha: sexo é pecado grave e você será punido. Só mesmo os efeitos feitos pelo Tom Savini, que são sensacionais, e a própria revelação do assassino (que deve ter sido uma bela surpresa na época, alguém de fato improvável) é que valem alguma coisa nesse filme. Fora ver o início da carreira de Kevin Bacon, e também ver como começou a história do assassino mascarado mais icônico do cinema. A cena da morte com machado é um show de interpretação!! Meryl Streep who??
Um dos filmes mais imbecis e ridículos que já tive o desprazer de tentar assistir (já que não consegui ir até o fim). Eddie Murphy contracenando consigo mesmo só foi legal em "O Professor Aloprado". É triste ver um cara ter que se rebaixar a isso pra tentar voltar ao estrelato, principalmente quando pensamos que já protagonizou filmes tão divertidos quanto "Um Tira da Pesada" ou "O Rapto do Menino Dourado", sem falar em sua dublagem sensacional como o Burro de Shrek. Pra não dizer que não tem nada que se salve nesse filme, fiquei de boca aberta ao perceber que o Sr. Wong também era o Eddie Murphy. Puta trabalho sensacional de maquiagem!
Desafio dos 100 filmes: 46. Um filme que você gostaria de atuar
O cartão de visitas de Quentin Tarantino, que chegou dando uma voadora na porta de Hollywood. O primeiro trabalho da filmografia oficial (já que ele desconsidera o divertidíssimo "My Best Friend's Birthday"), aqui o ex-atendente de locadora já mostrava que era um diretor acima da média, com um roteiro inventivo e pleno domínio de planos cinematográficos. Além disso, já nos mostrava suas características peculiares, como a abundância de referências cinematográficas e à cultura pop, a narrativa não-linear, diálogos triviais afiadíssimos, humor negro, violência, uma combinação absurda de maravilhosa entre imagem e música, com trilha sonora de muito bom gosto, entre outras que se transformaram em sua assinatura, dando uma identidade a seus filmes. Um magistral exercício cinematográfico, que nos conduz em praticamente um único cenário testemunhando o clima de acusações mútuas entre os personagens, num crescente clima de tensão, criando cenas fortes, hilárias e memoráveis
(a cena da tortura a que Mr. Blonde submete um policial, ao som de "Stuck in the middle with you", com aquele maravilhoso plano-sequência, já se tornou clássica)
. E o que dizer da impagável discussão sobre a letra de "Like a Virgin", que já nos mostra quem são aqueles personagens de maneira brilhante? Atuações sensacionais completam este filme que abriu as portas do mundo para Tarantino e iniciou sua brilhante carreira como o cineasta mais cinéfilo e um dos mais sensacionais de Hollywood! E, como disse um amigo meu: e a vontade de comprar um terno depois de assistir ao filme?
Desafio dos 100 filmes 45. Um filme que te deprima
Falar de qualquer obra do Studio Ghibli é falar sempre de obras fenomenais! Seu nome mais conhecido, o mestre Hayao Miyazaki, dirigiu obras do calibre de Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro, todas as obras do mestre tem um lado fantasioso e mítico. Curiosamente, "Túmulo dos Vagalumes", que considero o melhor filme do Studio Ghibli é uma obra totalmente calcada na realidade e não foi dirigida por Miyazaki, mas pelo outro fundador do estúdio, Isao Takahata. Aliás, o filme não é só o melhor do estúdio, é uma obra-prima da animação japonesa (e da animação mundial), um trabalho com a sensibilidade típica do povo japonês, um filme extremamente tocante e de grande carga dramática. Tecnicamente impecável (pensar que tudo isso foi produzido na mão, sem qualquer efeito de computador, e apresenta uma qualidade técnica invejável, animação extremamente fluida e gestos sutis que tornam os personagens muito humanos), é uma das animações mais brutais e tristes que já foram feitas, que não poupa o espectador do horror, com imagens fortes e chocantes, resultantes da barbaridade e da falta de sentido da guerra. É tocante ver o esforço de Seita para evitar que sua irmã mais nova Setsuko seja engolida pela loucura de toda aquela situação, e ao final de tudo você vai se sentir mal. Muito mal, impotente com tudo aquilo, refletindo sobre tudo o que acabou de ver. Um amor fraterno sincero destruído pela insensatez da guerra (isso não é spoiler, desde o começo o protagonista nos revela que já morreu), retratado de uma maneira poucas vezes vista no cinema, de tal modo que provavelmente um filme com atores reais não daria conta. Esplêndido, triste e brutal!
Desafio dos 100 filmes 44. Um filme de um diretor não muito conhecido
Satoshi Kon é um diretor que precisa ser conhecido pelo grande público!! Uma pena que o japonês tenha nos deixado tão cedo. Um mestre na animação japonesa que produzia sempre filmes instigantes! Perfect Blue é um exemplo do talento do cineasta japonês. Mostrando de maneira sutil, já na primeira sequência, qual é a tônica da sua história, Satoshi conduz a trama da jovem Mima com uma segurança e uma inteligência sensacionais, jamais se perdendo no emaranhado que se forma (capacidade que ele viria a confirmar depois em Paprika), usando de enquadramentos fabulosos e simbólicos, rimas visuais e criando um clima que Hitchcock provavelmente aplaudiria. Conduzindo um intenso embate psicológico em cima de uma crítica à indústria de entretenimento japonesa, devido à maneira como trata suas estrelas e sendo criadora de neuroses e fanatismo doentio (os famosos otakus, em seu sentido original, ao contrário da suavização que a palavra adquiriu aqui no Brasil), Perfect Blue evolui de um thriller instigante para uma desconstrução psicológica absolutamente fascinante, sem poupar o espectador de um roteiro que pode dar um nó na cabeça se ele não acompanhar atentamente aliado a cenas de violência. Recomendadíssimo, e daquelas obras pra se apresentar tanto pra quem tem preconceito com animes quanto pra quem acha que animação é só pra crianças.
Considerado o maior western de todos os tempos, "Três Homens em Conflito" é uma ópera visual!! Sergio Leone mostra aqui porque é considerado o maior nome do gênero popularmente conhecido por aqui como "Bangue-bangue". Partindo de um começo sensacional (com 10 minutos praticamente sem uma única fala) até um épico desfecho capaz de deixar o espectador sem respirar, Leone constrói com toda a calma do mundo a saga desses três homens que seguem numa jornada de cada um por si, em meio a trapaças, roubos, golpes, tiros, em busca de uma fortuna. Cada enquadramento do diretor é uma pintura sufocante, de planos amplos com paisagens desoladoras esmagando seus andarilhos que se perdem em meio a imensidão, a closes nos rostos duros, secos e maltratados dos personagens; dá pra sentir todo o calor da paisagem, toda a condição a que aqueles personagens estão submetidos. O diretor italiano consegue transformar poucos minutos em uma eternidade tensa e agoniante, em meio a olhares desconfiados, respiração pausada, suor constante e mãos tensas, a espera do primeiro e único saque da arma para o tiro preciso. Cenas que não precisam de palavras para expressar tudo o que aqueles personagens estão sentindo. Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach perfeitos em seus papéis! E tudo embalado pela sensacional trilha do mestre Morricone, desde a icônica música tema (daquelas que, mesmo sem ter visto o filme, todo mundo sabe qual é) até a emocionante "The Ecstasy of Gold" no segmento final do filme (fãs do Metallica, foi deste filme que a banda retirou essa música que abre seus shows de maneira épica). Encerrando a "Trilogia dos Dólares" de Leone, "Três Homens Em Conflito" é uma obra de arte que resiste ao tempo, intocada, sublime, perfeita!
Desafio dos 100 filmes 39. Um filme que possui uma frase de efeito (cite a frase)
A ascensão de um zé-ninguém e sua posterior queda no submundo do tráfico de drogas retratado de maneira explosiva e violenta por Brian De Palma. Al Pacino carrega esse épico de quase três horas nas costas, imortalizando o personagem Tony Montana! Um imigrante cubano que vê no "sonho americano" a possibilidade de deixar de ser um zé-ninguém para se transformar no traficante mais perigoso de Miami. O roteiro de Oliver Stone é sensacional em desenvolver o personagem ao longo do filme (e também em trabalhar com a situação política que levou os exilados cubanos aos EUA), um cara que sobe na vida mas sempre carrega consigo uma imagem inferiorizada, aliada ao seu temperamento explosivo, o que o torna extremamente perigoso. De fala convicta, curiosamente, é um personagem que ainda cultiva certos princípios morais, o que o torna ainda mais complexo e fascinante. "O mundo é seu", diz a simbólica frase, mas ele não sabe o que fazer com o mundo. Para ele, o fato de ser seu é o bastante, e conforme ele "conquista" o mundo, se afunda mais e mais no seu próprio negócio. A degradação é impressionante, e o trabalho conjunto de Pacino, De Palma e Stone torna tudo isso extremamente grandioso e incômodo. Com isso, temos um filme magistral e várias e várias cenas e frases antológicas, como a clássica "SAY HELLO TO MY LITTLE FRIEND!". Al Pacino "apenas" confirmando que é um dos maiores atores de todos os tempos neste violento épico de Brian De Palma, um filme que, ao contrário de seu protagonista, só tende a subir mais e mais com o tempo.
Desafio dos 100 filmes: 40. Um filme que lançou algum ator famoso
O filme que lançou Dustin Hoffman ao estrelato. Vivendo um perdido Benjamin Braddock, Hoffman mostra todo o seu talento numa interpretação sensacional de um personagem que não vive para si, mas vive para as expectativas dos outros. A festa que o recebe depois da sua chegada é mais para os seus pais do que pra ele mesmo, tudo o que ele quer naquele momento é se refugiar em seu mundo (e a sequência da piscina com a roupa de mergulho é perfeita nesse sentido, ou a tomada de seu rosto no aquário), e vê na sensual Mrs. Robinson uma tentativa de preencher sua vidinha medíocre, até que a filha Elaine finalmente dá um norte na vida do rapaz. Mike Nichols conduz de maneira magistral uma das melhores (se não a melhor) comédias românticas de todos os tempos. Curiosamente, uma comédia com um ar bem melancólico. Sua direção é de uma sutileza sensacional, e traz momentos inspiradíssimos e hilários ao longo do filme, como o primeiro "beijo" em Mrs. Robinson ou o "check-in" no hotel. E o que dizer da sensacional sequência de passagem dos dias desde a primeira noite com Mrs. Robinson, um ótimo trabalho conjunto de direção e edição? Homenageada e parodiada diversas e diversas vezes, e que ainda conta com a sensacional trilha sonora de Simon & Garfunkel (num ótimo caso onde fica impossível se dissociar o filme da trilha sonora), "A Primeira Noite de Um Homem" é um clássico para se rever várias e várias vezes! Um trabalho atemporal de Mike Nichols!
O negócio é o seguinte: dê a máfia para Scorsese e o cara arregaça!! O velhinho de UP nos traz mais um exemplar sensacional do universo no qual ele se sente mais à vontade. Trabalhando com uma premissa bastante interessante ("Blá, blá, blá, é uma refilmagem de um filme asiático, o original é melhor..." Dane-se!), Scorsese constrói aqui com toda a calma e cuidado uma trama envolta num emaranhado de mentiras e situações-limite, onde, antes da violência e dos tiros, é mesmo a inteligência e a perspicácia dos infiltrados, a sua capacidade em se antecipar aos passos do rival no ninho de ratos, que vão levar toda aquela situação adiante para sua resolução. Nisso, vemos os personagens como o grande foco do filme, e a trama os desenvolve de maneira magistral, especialmente Billy Costigan, o personagem mais trágico do filme, que tentando fugir do mundo que repudia, acaba tendo que voltar a ele, e DiCaprio, numa interpretação sensacional, mostra a tensão a que Costigan está o tempo todo submetido, a tensão de ter que conviver com aquelas pessoas que encaram a violência de maneira tão natural, a de ser descoberto e a qualquer momento e certamente morto, tentando se apoiar na figura claramente paterna do chefe Queenan. Aproveitando-se do fato de que nem Costigan nem Sullivan (Matt Damon) podem dar um passo em falso, que recorrer à violência seria se denunciar, Scorsese constrói sequências de tensão absolutamente magníficas
(como a cena em que Sullivan liga para Costigan através do celular de Queenan, e ambos ficam ao telefone, mas sem dizer uma palavra)
. Jack Nicholson é um monstro na pele de Costello, um personagem em que você sente o perigo esmagador só pela sua presença. E Mark Wahlberg se diverte como o personagem Dignam. Além disso, o que dizer da maravilhosa trilha sonora do filme? Uma direção econômica (se comparada ao que conhecemos do diretor) em função da história, e "Os Infiltrados" se coloca como mais uma obra-prima de Scorsese no universo da máfia, junto com "Os Bons Companheiros" e "Cassino"
Vi o filme despretensiosamente e me surpreendi! Paul Verhoeven trazendo um romance extremamente sincero e cru, que transita com naturalidade entre momentos repugnantes, singelos, tocantes e engraçados. Um amor do corpo, do sexo, do carnal, do biológico, mas mandando todas as convenções pro inferno, com representações inusitadamente francas e verdadeiras do amor, onde mesmo alguns momentos escatológicos nada mais são que representações do alto nível de intimidade daquele casal. Eles se amam, por inteiro. E quando é inteiro, é INTEIRO MESMO!!! Amam seus corpos, seus odores, seus fluidos e todos os resíduos corporais... romance de carne, que se transforma em algo extremamente belo sem precisar ser transcendental. Romance sem idealizações, singelamente bruto
(representado de maneira excepcional a partir do momento em que Eric machuca um pássaro e o leva pra casa, e Olga, em determinado momento, diz de maneira certeira: "algo mais para pôr numa gaiola", para, logo a seguir, Eric libertar o pássaro)
que Verhoeven conduz de maneira frenética, "escandalizando" desde o início e guiando a montanha russa de emoções por uma virada sensacional no roteiro até o tocante segmento final, um arco dramático simplesmente maravilhoso, e que está longe de fornecer respostas! Contando com as atuações sensacionais de Rutger Hauer e Monique van de Ven, "Louca Paixão" é um romance inesperadamente cru, realista, sincero e belo, muito belo!
Desafio dos 100 filmes 37. Um filme de atores desconhecidos
10 anos depois de "A Bruxa de Blair", Oren Peli pegou a essência do filme de Myrick e Sánchez e produz o seu próprio "mockumentary" de suspense/terror, transformando "Atividade Paranormal" no fenômeno viral de 2009, com circunstâncias e estratégias similares. A imaginação é uma ferramenta poderosíssima quando a intenção é amedrontar as pessoas. Hitchcock dizia isso, e me lembra inclusive uma passagem do filme “Old Boy”, onde um personagem diz que as pessoas ficam com medo porque tem muita imaginação. Peli mostra que captou muito bem as lições de como se fazer um bom suspense e deixar os nervos da platéia em frangalhos. “Atividade Paranormal” apresenta poucos (porém eficientes) sustos, investindo mais num crescente clima de tensão. Durante os momentos da câmera noturna, o filme deixa o espectador preso na poltrona, passeando os olhos pelo quarto do casal, a procura da próxima bizarrice paranormal que acontecerá ali. As coisas começam bem mornas (e isso talvez possa afastar algumas pessoas, já que a primeira metade do filme é bem parada mesmo), mas vão apenas preparando o terreno para intervenções cada vez mais pesadas da “entidade” que supostamente está ali; esta, por sua vez, é apenas sugerida em detalhes que vão ficando cada vez mais assustadores, deixando a imaginação do espectador rolar solta. A opção da “câmera amadora”, muitas vezes em primeira pessoa, assim como o uso de atores desconhecidos (que cederam seus nomes para os personagens) e fora dos padrões hollywoodianos de beleza, aproxima o público dos personagens. A mesma técnica da improvisação dos diálogos a partir de um roteiro pré-estabelecido, usada com eficiência em “A Bruxa de Blair”, é retomada aqui no filme de Oren Peli, contribuindo para a “veracidade“ da história. Apresenta alguns problemas no decorrer da projeção, mas passam quando se constata que o filme funciona muito bem dentro do que se propõe. Houve muito hype em cima do filme, mas o fato é que “Atividade Paranormal” é eficiente. Trabalhando mais com as sutilezas e a imaginação do público, do que com sangue, monstros digitais, assassinos mascarados ou vísceras expostas, é uma preciosidade que vem com louvor, em tempos onde “Jogos Mortais” já deu no saco. Uma sequência de cenas que assusta genuinamente. É uma prova viva de que, muitas vezes, menos é mais.
Desafio dos 100 filmes 35. Um filme que fica na cabeça
Brilhantemente dirigido, o filme adaptado do livro de Chuck Palahniuk é extremamente provocativo e denso em seu retrato cru e mordaz do ser humano alienado – alienado de si mesmo, que não sabe quem é, que tenta se definir pelo que está fora dele, por um carro do ano ou pela louça com imperfeições comprada no último mês. Envolvido em camadas e mais camadas de interpretação e análise, “Clube da Luta” é um filme doente. Realística e espetacularmente doente! Enquanto espelho do homem moderno moribundo em sua apatia e sua falta de identidade, a obra-prima de David Fincher sempre será um filme doente. Brutal em escancarar a verdade que todos sabem que existe, mas recusam-se a ver. O homem que se refugia na superficialidade das coisas, no banal, no comum, na massa amorfa da qual ele faz parte e acredita que ali poderá se definir como ser humano. O homem que está morto. Que eventualmente pode renascer, mas acabará morrendo novamente, como nosso Narrador (Edward Norton) pode nos confirmar. A resposta do homem moderno é primordialmente para a sociedade, não para si mesmo, daí que ele é uma farsa, uma imitação caricatural de ser humano, e sabe disso. A verdade o incomoda, porque ela necessita que o homem tenha a coragem necessária para “bater” e também, principalmente, a disposição para “apanhar”, e é aí que Fincher nos traz a sensacional metáfora do clube que dá nome ao filme. Essa é a verdadeira violência em “Clube da Luta”: a terrível ausência de identidade que todos aqueles carregam, matando-os. Brad Pitt e Edward Norton em atuações explosivas num filme que serve como um manifesto cru, nu e brutal conta a mediocridade, o consumismo, a apatia e a falta de identidade que adquirimos na vã esperança de encontrá-la em ideologias; ou "apenas" um filme de porrada com um roteiro instigante e extremamente bem dirigido por David Fincher! De uma maneira ou de outra, é um filme que fica na cabeça de qualquer um que o assiste.
Um incômodo filme de Fernando Meirelles que, independentemente do fato de se basear no livro de José Saramago (já adianto que nunca li nenhum de seus livros), nos traz um forte estudo do ser humano diante do isolamento e do alheamento a algo de tamanha importância para a espécie como a visão, sendo esta na verdade apenas uma analogia física para o estado da humanidade, que de tanto ver, ironicamente se encontra cega. Não à toa, imagino que esta tenha sido a intenção de Saramago no texto por retratar uma cegueira branca: a luz é o que nos permite ver, mas, como disse antes, vemos tanto que nos tornamos cegos - cegos ao que realmente importa - e, ao invés dos personagens encontrarem-se na escuridão, estão imersos na mais absoluta claridade. Sensação brilhantemente trazida por Meirelles na fotografia em superexposição (acho que esse é o termo, me corrijam se eu estiver errado) que tenta mergulhar o espectador um pouco no mundo dos personagens - o "mar de leite" que é descrito durante o filme - exceto Juliane Moore, a única que não é infectada, que por sinal, encontra uma interpretação fantástica aqui, exemplificando de maneira incrível o ditado "Em terra de cego, quem tem um olho é rei" - a questão é que ser rei nem sempre é algo agradável, e pode ser um fardo muito pesado. Ela é obrigada a testemunhar toda a degradação humana dos que estão próximos a ela (obviamente metaforizada no próprio ambiente de quarentena, que se torna mais imundo, fétido e degradante com o passar do tempo), e sua imunidade à cegueira, ao mesmo tempo em que é uma bênção para os que dela passam a depender, torna-se seu pior infortúnio. De modo que, como ela representa o espectador, tudo o que vem a seguir no filme torna-se extremamente incômodo e angustiante. A visão como máscara social que esconde/reprime os verdadeiros impulsos, vontades e pensamentos de cada um,
como na cena em que um cara diz que o cretino personagem de Gael Garcia Bernal só poderia ser negro, expondo sua mentalidade racista, sendo este justamente o seu companheiro de fila à frente, que o guiava. Ironicamente, é justamente do personagem de Garcia Bernal que vem uma bela porrada, quando, no momento em que o médico interpretado por Mark Ruffalo vai buscar comida e descobre que um dos presentes na ala 3 já era cego antes da epidemia, diz que este, mais do que os outros, deveria saber o que é empatia, ao passo que Bernal responde: "Ei, só porque ele já era cego não quer dizer que ele seja bom ou mau".
. Um impressionante retrato de um apocalipse, o apocalipse trazido pela perda da nossa capacidade de empatia, nossos valores morais e de nossa capacidade de ver e valorizar aquilo que realmente importa.
Desafio dos 100 filmes: 33. Um filme que você não indicaria
Roteiro idiota e que trata o espectador como tal, diálogos desnecessariamente expositivos, tecnicamente mal-feito (que efeitos são aqueles de velocidade? PQP!), um casal que não empolga, um vampiro que não sabe o que quer fazer (ele diz que Bella deve se afastar dele, daí um minuto depois ele volta pra perto dela (????) pra dizer tudo de novo (????)) uma história que não disfarça sua panfletagem em prol de uma besteira como a castidade, além de hipócrita e ironicamente machista. Apenas uma desculpa para Stephenie Meyer fazer sua pregação mórmon. Vejam que eu listei uma série de defeitos sem sequer precisar tocar naquilo que a galera mais tira sarro: o fato dele brilhar no sol e de tecnicamente não ser um vampiro. Ou seja, o filme é ruim mesmo!!
Não apenas um filme infantil, mas também um filme extremamente adulto! Poderia definí-lo como "Chaplin encontra Kubrick", mas ainda seria pouco para esta obra-prima da Pixar. Para além do apuro técnico, inquestionável em se tratando deste estúdio, mas que aqui foi elevado a um novo patamar de qualidade, Wall-E traz uma sensibilidade típica das comédias românticas mudas (Chaplin principalmente) curiosamente embalada em dois robôs de "classes sociais" diferentes. Mostrando a competência do estúdio, Andrew Stanton conduz a primeira parte - que de maneira impressionante praticamente não tem uma única linha de diálogo, uma aposta ousada, considerando que o filme é, numa análise superficial, voltado ao público infantil - nos apresentando o personagem título como um "Carlitos" tecnológico que tenta de todas as maneiras impressionar a sua dama, apostando apenas nos gestos e nas expressões sutis dos dois robôs (um trabalho admirável!). Wall-E toca o público com seu olhar como que sempre triste, mas curioso com o lixo deixado pelos humanos, sua capacidade de ver a beleza em coisas simples e úteis,
como a caixinha com um anel de bilhante, o qual ele deixa de lado, mais curioso em como a caixinha pode eventualmente lhe ser útil.
, e suas tentativas em impressionar EVA são divertidas e comoventes (aliás, EVA... ô mulher delicadamente bruta!). Somado a isso, temos a fotografia suja, pálida, em tons de ocre e ferrugem, caracterizando a Terra como o atual lixão da humanidade. Todos esses aspectos fazem o contraponto perfeito para a segunda parte do filme, com cores vivas, fotografia limpa e permeada de diálogos. É nessa parte também que vemos a ácida crítica de Stanton ao atual modo de vida da humanidade, sua relação com a tecnologia e as consequências que isso pode trazer, com sua alienação dos acontecimentos e das próprias pessoas, do seu consumismo desenfreado, o mesmo que deixou a Terra em seu estado no filme.
(provavelmente a isso se refere o nome da nave-cruzeiro, "Axioma", uma verdade evidente, sem necessidade de comprovação científica, que serve de partida para outras deduções)
E nessa também vemos as ótimas referências ao mestre Kubrick,
como o próprio balé no espaço entre Wall-E e EVA, de uma beleza simplesmente poética, as músicas Danúbio Azul e Assim Falou Zarathustra, esta encaixada de maneira simplesmente genial na referência à "evolução" do homem, o homem contra a máquina, além do próprio computador Auto, o "HAL-9000" da Pixar.
. Um filme espetacular, de grande apuro técnico e uma sensibilidade poucas vezes vistas, ainda mais considerando que os protagonistas são robôs, ensinando aos humanos a redescobrir seus próprios valores que os definem como "humanos", ainda revestindo uma pesada crítica e uma homenagem ao cinema. Genial do começo ao fim (até o fim mesmo, porque os créditos finais são fantásticos)!
Desafio dos 100 filmes: 30. Um filme que você não entendeu ou teve dificuldade de entender
David Lynch te deixando atordoado num turbilhão de informações, mas sem que as coisas se tornem incompreensíveis. Porque não, o filme não é incompreensível (e sinto muito por quem acha que o filme não passa de uma picaretagem, de um engodo. E também não é um filme somente para ser sentido - e não seria nenhum demérito se o fosse somente assim. O filme tem uma lógica, tem uma história, as coisas se encaixam quando você para pra analisá-las): é complexo, mas incompreensível, definitivamente, não! "Cidade dos Sonhos" não tem nada grandioso a dizer: grandiosa é sua narrativa, sua perícia em conseguir explicar sem ser didático tudo o que veio antes, que até então tava muito normal, atraindo pelo clima noir. Em conseguir fazer com que os elementos aparentemente aleatórios se encaixem de maneira magistral quando você passa a reestruturar o filme e encarar os fatos pela ótica da personagem de Naomi Watts. Confesso que ainda não consegui relacionar todos, mas considerando que todos (a maioria) os elementos que consegui encaixar na minha segunda visita ao filme se resolveram em sua lógica de maneira mais do que satisfatória (e batendo com a maioria das teorias sobre o filme que eu vi depois - e não, não vi essas dicas do Lynch que a galera tá falando, que aliás nem sabia que ele tinha feito isso. Ainda nem vi pra falar a verdade, e nem pretendo ver até ter a certeza de que consegui encaixar tudo), me sinto mais do que certo de que o filme não passa nem perto do cheiro da picaretagem! Aliás, é um exercício mais do que divertido tentar entender como Lynch utiliza os detalhes, as cores, as alegorias, diálogos e frases chaves, jogos de câmera, não-linearidade na narrativa (principalmente no segmento final) para compor o quadro surrealista que ele nos traz aqui, conseguindo manter o espectador preso na cadeira, curioso pra saber onde toda aquela viagem do diretor vai descambar. Em vários momentos ele mostra que o espectador deverá sempre reorganizar na cabeça tudo aquilo que está vendo (e o movimento de câmera no começo da cena do "teste" das atrizes no filme de Adam Kesher, onde elas "cantam", assim como a posterior cena do clube noturno - aliás, a cena da canção é melancolicamente linda! - são perfeitos para ilustrar isso). No meio da loucura, Lynch ainda aponta o dedo para a indústria cinematográfica e faz uma crítica a sua mania de podar a inventividade dos cineastas em prol da lucratividade. Além do mais, para além da direção mais do que competente de Lynch, temos uma atuação fantástica de Naomi Watts! Você pode até não entender tudo de primeira, mas se se permitir envolver pelo clima bizarro e perturbador que surge de repente quando tudo parecia normal demais, se deixar Lynch no comando da viagem, vai ter uma experiência nada mais que enriquecedora assistindo "Cidade dos Sonhos".
Desafio dos 100 filmes: 29. Filme baseado em um jogo
Até agora a melhor adaptação de um game para o cinema. Me surpreende que Roger Avary, responsável junto com Tarantino pelo sensacional roteiro de Pulp Fiction, assine o roteiro deste aqui, já que é tão comum (até esquemático, como se fosse mesmo um video-game) e com diálogos idem. No entanto, a direção de Christophe Gans é suficientemente competente para construir um grande clima de tensão em cima do roteiro, aliás, é o maior mérito de Gans: conseguir trazer o clima do jogo para o filme (ponto para a fotografia também,
contrapondo de maneira forte as imagens da Silent Hill onde Rose, Sharon e Cybil se encontram, com a Silent Hill onde Christopher e Gucci procuram por Rose
) reproduzindo inclusive passagens idênticas. Nisso, Gans mostra talento também para composições visuais, e plasticamente o filme é sensacional, com destaque para as aparições do bizarro e sinistro Pyramid Head e para o clímax no final do filme, visualmente arrebatador e agradavelmente irônico no que podemos encarar como uma inversão iconográfica,
já que a maneira como Alessa surge para se vingar de todos, presa numa cama e promovendo uma verdadeira carnificina, remete claramente ao símbolo do Cristo crucificado, e a figura de Deus - a mãe de Alessa, surge submissa, frágil e caída
. É um filme que não aposta em sustos, mas sempre no constante clima de tensão, de que sempre tem algo prestes a acontecer, e a cada vez que a sinistra sirene toca, a única coisa que fazemos é torcer pra que Rose corra dali o mais rápido que puder.
E finalmente tive o prazer de ver essa fantástica obra cinematográfica, e entender toda a fama que merecidamente levou. Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O'Connor nos levam junto pra cantar e dançar nesta obra divertida e encantadora, com números musicais criativos e empolgantes, onde todo o talento de dançarino de Gene Kelly transborda! Mas antes de ser um musical, é um retrato fidedigno de um importante período da história do cinema, que foi a transição do cinema mudo para o falado. A recriação do ambiente da época, a maneira como a mudança era vista, os problemas que os profissionais tinha de encarar com a novidade, tudo retratado em detalhes que só engrandecem o filme. E pensar que a sequência mais clássica e icônica do filme, embora sensacional, nem é a melhor da obra. O que dizer do número de "Good Morning" ou da sequência na aula de dicção? E o sapateado sensacional de Gene Kelly! Você sai cantarolando junto com os personagens e ainda depois do fim do filme! Clássico inesquecível, que não recebeu todo o status de que é dono à toa!
Eu, que quando assisti não botava muita fé no filme (mesmo porque não sou o maior fã de musicais), tive que dar o braço a trocer e me render completamente. Uma história boba e frágil e que se transforma num espetáculo graças à direção mais do que competente e ousada de Baz Luhrmann (incluindo ainda por cima um subtexto cristão na narrativa), auxiliado pela belíssima direção de arte, uma fantástica fotografia e pela competência dos atores, renovando, na época, um gênero que estava na mesmice. Frenético, intencionalmente exagerado, cômico, explosivo! Amor em vermelho, o vermelho constantemente destacado ao longo do filme, principalmente pelo vestido e pelos lábios de Nicole Kidman; vermelho da paixão; vermelho do amor; vermelho da fúria; vermelho da morte. A velha e batida história do amor impossível contada de maneira original, divertida e emocionante, num lugar que transborda romance e sexualidade, contando com as fortes atuações de Ewan McGregor e Nicole Kidman, até seu final apoteótico! Além disso, um cara (Luhrmann) que coloca no mesmo balaio de gato Cristhina Aguilera, Nirvana, David Bowie, Fatboy Slim, Beatles, Madonna, entre outros, num musical ambientado num cabaré parisiense na virada so séc. XIX pro XX, contando uma história de amor impossível, e o melhor, consegue fazer essa porra toda funcionar sem soar estranho ou ridículo, um cara desse merece meu respeito!!
Desafio dos 100 filmes: 26. Um filme que lembra a sua família
Lembra minha família porque é o primeiro filme que eu me lembre de ter assistido com toda a família. Mas é claro que o filme não se resume a isso pra mim. Forrest Gump é daqueles filmes atemporais, que você verá em qualquer época e ele sempre despertará a mesma emoção. Um trabalho fantástico de Robert Zemeckis, que conduz o filme de maneira segura, sem nunca cair na pieguice! A cena com a pluma que abre o filme ilustra perfeitamente o que é o personagem de Tom Hanks (talvez, junto com "Quero ser Grande", na melhor interpretação de sua vida!); torna-se interessante também pelo contraponto que Zemeckis estabelece com a personagem de Jenny: enquanto ela sonhava e tinha planos para o futuro, Forrest se deixava levar
(curiosamente, tudo o que Jenny sonhava não se realiza da maneira como ela esperava, enquanto Forrest se ajusta a tudo e vai mais longe do que o diretor da escola que não o quis aceitar - e qualquer um ali - poderia sequer imaginar, para um garoto com QI abaixo de 75. A cena no exército em que Gump é chamado de gênio e superdotado é ironicamente hilária)
A reconstituição das épocas que o filme percorre é de encher os olhos, e fantástico também foi o trabalho de fazer Forrest interagir com personalidades de cada época
(bem como a maneira pela qual ele foi responsável por alguns marcos históricos, como a dança de Elvis ou o escândalo de Watergate, eu rio demais com essa parte).
Pode ser um filme sobre a ideia de que não devemos desistir dos nossos sonhos; um filme que trata das diferenças e como não devemos nos deixar rebaixar por elas; muitos enxergam mesmo um viés fortemente político e panfletário dos EUA. Mas, pra mim, Forrest Gump é um filme, acima de tudo, sobre a simplicidade e praticidade diante da vida: porque nem tudo precisa ter um significado místico, obscuro ou maior do que realmente é, e alguém pode fazer algo simplesmente porque teve vontade de fazer.
Desafio dos 100 filmes: 24. Um filme que te dá medo
Embora atualmente não me dê medo (nenhum filme de terror que eu já tenha assistido antes e que me deu medo, até hoje, volta a fazê-lo), esse é um dos poucos que ainda consegue me deixar tenso na cadeira. Carpenter cria aquele que talvez seja o melhor filme de terror da década de 80, indo na contramão de um gênero de terror que estava na moda nessa década, o dos slashers (que, curiosamente, o mesmo Carpenter ajudou a criar com seu "Halloween"). Aqui, ele abusa do clima paranóico e claustrofóbico, além do isolamento, que, se antes era apenas físico (como ele faz questão de salientar nos planos iniciais onde vemos a imensidão da neve na Antártida), vai cada vez mais se tornando também psíquico, levando a um final bem pessimista. Aposta também no gore e no horror de imagens grotescas, muitas vezes como se fossem uma versão macabra de um quadro surrealista
(Os corpos deformados que os personagens encontram na base norueguesa, bem como a cena do eletrochoque onde uma boca monstruosa se abre no tronco de um dos personagens, culminando com a inquietante e clássica cena da cabeça-aranha, ilustram bem o que eu quero dizer)
. Além disso, Carpenter construiu aqui algumas das cenas mais tensas da história do cinema
(A sequência do ataque aos cães no canil e a inesquecível e magistral sequência do teste do sangue são exemplos disso)
. Isso sem falar na qualidade técnica dos efeitos que ainda hoje impressionam e mesmo deixam muita trucagem computadorizada no chinelo! Filmaço de John Carpenter e que me fazia morrer de medo quando era pequeno!
Desafio dos 100 filmes: 23. Um filme que você gostou, mas tem vergonha de falar
Pelo menos, quando eu era mais novo, tinha uma pouco de vergonha de falar que gostava desse filme. Mas, mais do que a própria história, o que me fez gostar mesmo do filme foi a direção e a fotografia espetacular da obra - tá certo que na época eu mal sabia o que isso queria dizer, mas o que eu vi ali na tela me chamou muito a atenção. Aquelas tomadas magníficas dos anjos caminhando por cima dos prédios são de encher os olhos! A maneira como Brad Silberling conduz o filme é de uma grande sutileza que consegue fazer transbordar sensações (porque é isso que o filme é: não apenas um romance, mas um filme de sensações, já que é isso que os protagonistas - Seth, especialmente - buscam o tempo todo. Não à toa, vemos descrições de sensações, planos-detalhes, close-ups, tomadas dos anjos, totalmente vestidos de preto, em meio a um visual de cores e texturas bastante variadas,
como a cena de Seth na feira com Meggie, em meio a várias frutas
). As cenas na praia, por sinal são um deleite visual, ver todos aqueles seres de preto, ao longo da praia apenas para escutar a música do amanhecer e do crepúsculo, passa uma paz impressionante! Plasticamente, o filme é irrepreensível! Tudo contribui para dar um ar de superioridade e imponência aos anjos! E acho que poucas vezes uma cara de paisagem caiu tão bem num personagem como a de Nicolas Cage. É como se ele se mantivesse fora (o que realmente é, dada a própria natureza do personagem) de toda a complicação emocional humana. Aliás, a maneira como Silberling apresenta o personagem na abertura do filme é ótima e mostra bem que o diretor quer que as ações dos personagens falem por si só sobre quem são eles e como é o mundo em que vivem. Mais um ponto pra ele! E a surpresa do final também foi muito bem-vinda, como se mostrasse a Seth que livre-arbítrio vem sempre acompanhado de consequências com as quais agora ele teria que conviver. Talvez não tenha a mesma profundidade do original alemão "Asas do desejo" (que ainda não vi), mas por si só o filme tem seus muitos méritos que o tornam mais do que um simples filme romântico!
Desafio dos 100 filmes: 22. Um filme bom com um final péssimo
Spielberg nos traz um filme sensacional, embora às vezes pareça sofrer de "dupla-personalidade" (natural, considerando que o projeto foi desenvolvido por duas pessoas tão opostas como Kubrick e Spielberg), tanto que o filme é claramente dividido em duas partes: a 1ª é mais melancólica, dramática e intimista (como deveria ser o filme por inteiro); a 2ª, aventuresca, embora ainda volte com elementos da primeira parte. O filme levanta questões importantes sobre a natureza do amor e das relações humanas, bem como da própria natureza humana. Só acho uma pena que a maioria destas questões sejam apenas levantadas, e não discutidas com mais profundidade (Uma pena também é saber que a ideia de Kubrick de que Mônica seria alcóolatra foi desperdiçada por Spielberg, isso seria sensacional pra história por trazer a ambiguidade tão característica de seus filmes!) Por outro lado, Spielberg muitas vezes homenageia Kubrick em enquadramentos, designs e movimentos de câmera
(A mesa com as luzes acima que David encontra no escritório do local onde foi projetado me lembra bastante a mesa da sala de Guerra em Dr. Fantástico, assim como o design da Rouge City remete bastante às estátuas no ambiente dos drugues de "Laranja Mecânica"; também o movimento de câmera que se aproxima de David quando este encontra as caixas com outros de sua linha, é bem kubrickiano; são alguns exemplos)
. O filme é tecnicamente impecável, os efeitos são sensacionais e orgânicos, em nenhum momento soam falsos! E é impossível falar deste filme sem mencionar Haley Joel Osment, um ator talentosíssimo, verdadeiro prodígio, que consegue passar sutilmente uma emoção apenas com uma leve mudança no olhar!
O problema é que tava tudo muito bom até o Spielberg esquecer que o projeto também era do Kubrick e resolver que o David deveria ter um final "Spielberguiano". Os 15-20 minutos finais são plenamente descartáveis!
É óbvio que a busca de David seria um fracasso, no momento em que ele encontra a "fada azul", se o filme terminasse ali, seria perfeito: um final ambíguo, que estaria completamente relacionado aos questionamentos centrais do filme, já que, tomando o que o Prof. Hobby fala para David sobre sonhos e humanidade, é de se pensar: embora seja uma máquina, David não teria se tornado, de certa forma, humano, ali, enquanto desejava que a fada azul o transformasse num menino de verdade? Mas Spielberg achou a busca de David pelo amor da mãe mais importante do que isso, e deu um tiro no pé!
E esse final é que acaba comprometendo o brilho do filme, embora não o torne ruim. Mas deixa o filme menor do que ele realmente poderia ser!! Felizmente, o essencial, a ideia principal está lá no filme, relativamente bem desenvolvida.
Desafio dos 100 filmes 21. Algum filme que te faça rir
É impressionante como Chaplin consegue, sem uma única palavra (ou quase, em se tratando deste filme), mesclar de maneira maravilhosa drama, comédia, crítica social, uma ingenuidade gostosa de se ter e um olhar extremamente perspicaz, acusador e crítico. O filme brilha em sua atemporalidade:
se Carlitos é engolido pela máquina, hoje um mundo virtual nos engole: mudam-se os personagens, a essência continua (no entanto, ao conhecer a máquina, ela se torna sua aliada, Carlitos dança com ela, e toda vez que os funcionários vão pegá-lo, ele religa a máquina e eles voltam ao trabalho)
. E, ainda nesse sentido, a cena inicial com as ovelhas é perfeita, já que ilustra magistralmente a situação dos trabalhadores no regime fordista, e também se estende à atualidade, afinal, quantos de nós apenas fazemos parte de uma massa uniforme, caminhando de acordo com o passar da boiada sem ter consciência de pra onde se vai? Ou tentamos tanto ser diferentes (ao invés de sermos apenas nós mesmos, pensar por nós mesmos) que nos tornamos ironicamente iguais? Nós que geralmente tendemos a adicionar pessoas no Facebook/Orkut/Twitter/Filmow com os mesmos gostos, pensamentos, e ideias que nós. É de se pensar, e perceber como um filme de 1936 ainda fala a esse mundo do século XXI. A crítica de Chaplin cabe tanto a sociedade industrial norte-americana da década de 30 quanto a este mundo globalizado onde um espaço virtual engole mais e mais pessoas, num grande risco de se alienarem do mundo real; ambos transformando seres humanos em autômatos destinados a produzir mais e mais. Além disso, Chaplin conhece como ninguém o poder da imagem, e constrói cenas antológicas, hilárias, singelas, ácidas e emocionantes, dando uma aula sobre como fazer cinema. E sempre com uma mensagem positiva, tendo o final como algo emblemático
ao fazer com que a jovem garota (Paulette Goddard, linda!) encare a estrada da vida determinada, mas sempre com um sorriso no rosto.
Um verniz cômico revestindo uma peça crítica certeira, que não envelhece com o passar dos anos. Me faz rir com seu humor singelo. Me faz rir com a atualidade de sua mensagem e de sua crítica. Me faz rir com a cara de pau e a coragem de Chaplin em peitar a sociedade industrial dos EUA em plenos anos 30. E me faz rir com a entrega de um pato assado mais hilária da história! Clássico inesquecível!
Sexta-Feira 13
3.4 779 Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
48. Algum filme que tenham te contado o final antes de você assistir
Na época em que assisti, deu medo. Época em que nem me importava de que me contassem o final, era mais preocupante você conseguir um momento pra assistir ao filme escondido dos pais.
Mas puta filme ruim! E com aquela velha moralzinha: sexo é pecado grave e você será punido. Só mesmo os efeitos feitos pelo Tom Savini, que são sensacionais, e a própria revelação do assassino (que deve ter sido uma bela surpresa na época, alguém de fato improvável) é que valem alguma coisa nesse filme. Fora ver o início da carreira de Kevin Bacon, e também ver como começou a história do assassino mascarado mais icônico do cinema.
A cena da morte com machado é um show de interpretação!! Meryl Streep who??
Norbit
2.4 1,1K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
47. Um filme ridículo
Um dos filmes mais imbecis e ridículos que já tive o desprazer de tentar assistir (já que não consegui ir até o fim). Eddie Murphy contracenando consigo mesmo só foi legal em "O Professor Aloprado". É triste ver um cara ter que se rebaixar a isso pra tentar voltar ao estrelato, principalmente quando pensamos que já protagonizou filmes tão divertidos quanto "Um Tira da Pesada" ou "O Rapto do Menino Dourado", sem falar em sua dublagem sensacional como o Burro de Shrek. Pra não dizer que não tem nada que se salve nesse filme, fiquei de boca aberta ao perceber que o Sr. Wong também era o Eddie Murphy. Puta trabalho sensacional de maquiagem!
Cães de Aluguel
4.2 1,9K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
46. Um filme que você gostaria de atuar
O cartão de visitas de Quentin Tarantino, que chegou dando uma voadora na porta de Hollywood. O primeiro trabalho da filmografia oficial (já que ele desconsidera o divertidíssimo "My Best Friend's Birthday"), aqui o ex-atendente de locadora já mostrava que era um diretor acima da média, com um roteiro inventivo e pleno domínio de planos cinematográficos. Além disso, já nos mostrava suas características peculiares, como a abundância de referências cinematográficas e à cultura pop, a narrativa não-linear, diálogos triviais afiadíssimos, humor negro, violência, uma combinação absurda de maravilhosa entre imagem e música, com trilha sonora de muito bom gosto, entre outras que se transformaram em sua assinatura, dando uma identidade a seus filmes. Um magistral exercício cinematográfico, que nos conduz em praticamente um único cenário testemunhando o clima de acusações mútuas entre os personagens, num crescente clima de tensão, criando cenas fortes, hilárias e memoráveis
(a cena da tortura a que Mr. Blonde submete um policial, ao som de "Stuck in the middle with you", com aquele maravilhoso plano-sequência, já se tornou clássica)
E, como disse um amigo meu: e a vontade de comprar um terno depois de assistir ao filme?
Túmulo dos Vagalumes
4.6 2,2KDesafio dos 100 filmes
45. Um filme que te deprima
Falar de qualquer obra do Studio Ghibli é falar sempre de obras fenomenais! Seu nome mais conhecido, o mestre Hayao Miyazaki, dirigiu obras do calibre de Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro, todas as obras do mestre tem um lado fantasioso e mítico. Curiosamente, "Túmulo dos Vagalumes", que considero o melhor filme do Studio Ghibli é uma obra totalmente calcada na realidade e não foi dirigida por Miyazaki, mas pelo outro fundador do estúdio, Isao Takahata. Aliás, o filme não é só o melhor do estúdio, é uma obra-prima da animação japonesa (e da animação mundial), um trabalho com a sensibilidade típica do povo japonês, um filme extremamente tocante e de grande carga dramática. Tecnicamente impecável (pensar que tudo isso foi produzido na mão, sem qualquer efeito de computador, e apresenta uma qualidade técnica invejável, animação extremamente fluida e gestos sutis que tornam os personagens muito humanos), é uma das animações mais brutais e tristes que já foram feitas, que não poupa o espectador do horror, com imagens fortes e chocantes, resultantes da barbaridade e da falta de sentido da guerra. É tocante ver o esforço de Seita para evitar que sua irmã mais nova Setsuko seja engolida pela loucura de toda aquela situação, e ao final de tudo você vai se sentir mal. Muito mal, impotente com tudo aquilo, refletindo sobre tudo o que acabou de ver. Um amor fraterno sincero destruído pela insensatez da guerra (isso não é spoiler, desde o começo o protagonista nos revela que já morreu), retratado de uma maneira poucas vezes vista no cinema, de tal modo que provavelmente um filme com atores reais não daria conta. Esplêndido, triste e brutal!
Perfect Blue
4.3 815Desafio dos 100 filmes
44. Um filme de um diretor não muito conhecido
Satoshi Kon é um diretor que precisa ser conhecido pelo grande público!! Uma pena que o japonês tenha nos deixado tão cedo. Um mestre na animação japonesa que produzia sempre filmes instigantes! Perfect Blue é um exemplo do talento do cineasta japonês. Mostrando de maneira sutil, já na primeira sequência, qual é a tônica da sua história, Satoshi conduz a trama da jovem Mima com uma segurança e uma inteligência sensacionais, jamais se perdendo no emaranhado que se forma (capacidade que ele viria a confirmar depois em Paprika), usando de enquadramentos fabulosos e simbólicos, rimas visuais e criando um clima que Hitchcock provavelmente aplaudiria. Conduzindo um intenso embate psicológico em cima de uma crítica à indústria de entretenimento japonesa, devido à maneira como trata suas estrelas e sendo criadora de neuroses e fanatismo doentio (os famosos otakus, em seu sentido original, ao contrário da suavização que a palavra adquiriu aqui no Brasil), Perfect Blue evolui de um thriller instigante para uma desconstrução psicológica absolutamente fascinante, sem poupar o espectador de um roteiro que pode dar um nó na cabeça se ele não acompanhar atentamente aliado a cenas de violência. Recomendadíssimo, e daquelas obras pra se apresentar tanto pra quem tem preconceito com animes quanto pra quem acha que animação é só pra crianças.
Três Homens em Conflito
4.6 1,2K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
41. Um faroeste
Considerado o maior western de todos os tempos, "Três Homens em Conflito" é uma ópera visual!! Sergio Leone mostra aqui porque é considerado o maior nome do gênero popularmente conhecido por aqui como "Bangue-bangue". Partindo de um começo sensacional (com 10 minutos praticamente sem uma única fala) até um épico desfecho capaz de deixar o espectador sem respirar, Leone constrói com toda a calma do mundo a saga desses três homens que seguem numa jornada de cada um por si, em meio a trapaças, roubos, golpes, tiros, em busca de uma fortuna. Cada enquadramento do diretor é uma pintura sufocante, de planos amplos com paisagens desoladoras esmagando seus andarilhos que se perdem em meio a imensidão, a closes nos rostos duros, secos e maltratados dos personagens; dá pra sentir todo o calor da paisagem, toda a condição a que aqueles personagens estão submetidos. O diretor italiano consegue transformar poucos minutos em uma eternidade tensa e agoniante, em meio a olhares desconfiados, respiração pausada, suor constante e mãos tensas, a espera do primeiro e único saque da arma para o tiro preciso. Cenas que não precisam de palavras para expressar tudo o que aqueles personagens estão sentindo. Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach perfeitos em seus papéis! E tudo embalado pela sensacional trilha do mestre Morricone, desde a icônica música tema (daquelas que, mesmo sem ter visto o filme, todo mundo sabe qual é) até a emocionante "The Ecstasy of Gold" no segmento final do filme (fãs do Metallica, foi deste filme que a banda retirou essa música que abre seus shows de maneira épica).
Encerrando a "Trilogia dos Dólares" de Leone, "Três Homens Em Conflito" é uma obra de arte que resiste ao tempo, intocada, sublime, perfeita!
Scarface
4.4 1,8K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
39. Um filme que possui uma frase de efeito (cite a frase)
A ascensão de um zé-ninguém e sua posterior queda no submundo do tráfico de drogas retratado de maneira explosiva e violenta por Brian De Palma. Al Pacino carrega esse épico de quase três horas nas costas, imortalizando o personagem Tony Montana! Um imigrante cubano que vê no "sonho americano" a possibilidade de deixar de ser um zé-ninguém para se transformar no traficante mais perigoso de Miami. O roteiro de Oliver Stone é sensacional em desenvolver o personagem ao longo do filme (e também em trabalhar com a situação política que levou os exilados cubanos aos EUA), um cara que sobe na vida mas sempre carrega consigo uma imagem inferiorizada, aliada ao seu temperamento explosivo, o que o torna extremamente perigoso. De fala convicta, curiosamente, é um personagem que ainda cultiva certos princípios morais, o que o torna ainda mais complexo e fascinante. "O mundo é seu", diz a simbólica frase, mas ele não sabe o que fazer com o mundo. Para ele, o fato de ser seu é o bastante, e conforme ele "conquista" o mundo, se afunda mais e mais no seu próprio negócio. A degradação é impressionante, e o trabalho conjunto de Pacino, De Palma e Stone torna tudo isso extremamente grandioso e incômodo. Com isso, temos um filme magistral e várias e várias cenas e frases antológicas, como a clássica "SAY HELLO TO MY LITTLE FRIEND!". Al Pacino "apenas" confirmando que é um dos maiores atores de todos os tempos neste violento épico de Brian De Palma, um filme que, ao contrário de seu protagonista, só tende a subir mais e mais com o tempo.
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 809 Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
40. Um filme que lançou algum ator famoso
O filme que lançou Dustin Hoffman ao estrelato. Vivendo um perdido Benjamin Braddock, Hoffman mostra todo o seu talento numa interpretação sensacional de um personagem que não vive para si, mas vive para as expectativas dos outros. A festa que o recebe depois da sua chegada é mais para os seus pais do que pra ele mesmo, tudo o que ele quer naquele momento é se refugiar em seu mundo (e a sequência da piscina com a roupa de mergulho é perfeita nesse sentido, ou a tomada de seu rosto no aquário), e vê na sensual Mrs. Robinson uma tentativa de preencher sua vidinha medíocre, até que a filha Elaine finalmente dá um norte na vida do rapaz. Mike Nichols conduz de maneira magistral uma das melhores (se não a melhor) comédias românticas de todos os tempos. Curiosamente, uma comédia com um ar bem melancólico. Sua direção é de uma sutileza sensacional, e traz momentos inspiradíssimos e hilários ao longo do filme, como o primeiro "beijo" em Mrs. Robinson ou o "check-in" no hotel. E o que dizer da sensacional sequência de passagem dos dias desde a primeira noite com Mrs. Robinson, um ótimo trabalho conjunto de direção e edição? Homenageada e parodiada diversas e diversas vezes, e que ainda conta com a sensacional trilha sonora de Simon & Garfunkel (num ótimo caso onde fica impossível se dissociar o filme da trilha sonora), "A Primeira Noite de Um Homem" é um clássico para se rever várias e várias vezes! Um trabalho atemporal de Mike Nichols!
Os Infiltrados
4.2 1,7K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
38. Um bom filme de máfia
O negócio é o seguinte: dê a máfia para Scorsese e o cara arregaça!!
O velhinho de UP nos traz mais um exemplar sensacional do universo no qual ele se sente mais à vontade. Trabalhando com uma premissa bastante interessante ("Blá, blá, blá, é uma refilmagem de um filme asiático, o original é melhor..." Dane-se!), Scorsese constrói aqui com toda a calma e cuidado uma trama envolta num emaranhado de mentiras e situações-limite, onde, antes da violência e dos tiros, é mesmo a inteligência e a perspicácia dos infiltrados, a sua capacidade em se antecipar aos passos do rival no ninho de ratos, que vão levar toda aquela situação adiante para sua resolução. Nisso, vemos os personagens como o grande foco do filme, e a trama os desenvolve de maneira magistral, especialmente Billy Costigan, o personagem mais trágico do filme, que tentando fugir do mundo que repudia, acaba tendo que voltar a ele, e DiCaprio, numa interpretação sensacional, mostra a tensão a que Costigan está o tempo todo submetido, a tensão de ter que conviver com aquelas pessoas que encaram a violência de maneira tão natural, a de ser descoberto e a qualquer momento e certamente morto, tentando se apoiar na figura claramente paterna do chefe Queenan. Aproveitando-se do fato de que nem Costigan nem Sullivan (Matt Damon) podem dar um passo em falso, que recorrer à violência seria se denunciar, Scorsese constrói sequências de tensão absolutamente magníficas
(como a cena em que Sullivan liga para Costigan através do celular de Queenan, e ambos ficam ao telefone, mas sem dizer uma palavra)
Uma direção econômica (se comparada ao que conhecemos do diretor) em função da história, e "Os Infiltrados" se coloca como mais uma obra-prima de Scorsese no universo da máfia, junto com "Os Bons Companheiros" e "Cassino"
Louca Paixão
3.9 66Vi o filme despretensiosamente e me surpreendi! Paul Verhoeven trazendo um romance extremamente sincero e cru, que transita com naturalidade entre momentos repugnantes, singelos, tocantes e engraçados. Um amor do corpo, do sexo, do carnal, do biológico, mas mandando todas as convenções pro inferno, com representações inusitadamente francas e verdadeiras do amor, onde mesmo alguns momentos escatológicos nada mais são que representações do alto nível de intimidade daquele casal. Eles se amam, por inteiro. E quando é inteiro, é INTEIRO MESMO!!! Amam seus corpos, seus odores, seus fluidos e todos os resíduos corporais... romance de carne, que se transforma em algo extremamente belo sem precisar ser transcendental. Romance sem idealizações, singelamente bruto
(representado de maneira excepcional a partir do momento em que Eric machuca um pássaro e o leva pra casa, e Olga, em determinado momento, diz de maneira certeira: "algo mais para pôr numa gaiola", para, logo a seguir, Eric libertar o pássaro)
Atividade Paranormal
2.9 2,7K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
37. Um filme de atores desconhecidos
10 anos depois de "A Bruxa de Blair", Oren Peli pegou a essência do filme de Myrick e Sánchez e produz o seu próprio "mockumentary" de suspense/terror, transformando "Atividade Paranormal" no fenômeno viral de 2009, com circunstâncias e estratégias similares. A imaginação é uma ferramenta poderosíssima quando a intenção é amedrontar as pessoas. Hitchcock dizia isso, e me lembra inclusive uma passagem do filme “Old Boy”, onde um personagem diz que as pessoas ficam com medo porque tem muita imaginação. Peli mostra que captou muito bem as lições de como se fazer um bom suspense e deixar os nervos da platéia em frangalhos. “Atividade Paranormal” apresenta poucos (porém eficientes) sustos, investindo mais num crescente clima de tensão. Durante os momentos da câmera noturna, o filme deixa o espectador preso na poltrona, passeando os olhos pelo quarto do casal, a procura da próxima bizarrice paranormal que acontecerá ali. As coisas começam bem mornas (e isso talvez possa afastar algumas pessoas, já que a primeira metade do filme é bem parada mesmo), mas vão apenas preparando o terreno para intervenções cada vez mais pesadas da “entidade” que supostamente está ali; esta, por sua vez, é apenas sugerida em detalhes que vão ficando cada vez mais assustadores, deixando a imaginação do espectador rolar solta. A opção da “câmera amadora”, muitas vezes em primeira pessoa, assim como o uso de atores desconhecidos (que cederam seus nomes para os personagens) e fora dos padrões hollywoodianos de beleza, aproxima o público dos personagens. A mesma técnica da improvisação dos diálogos a partir de um roteiro pré-estabelecido, usada com eficiência em “A Bruxa de Blair”, é retomada aqui no filme de Oren Peli, contribuindo para a “veracidade“ da história. Apresenta alguns problemas no decorrer da projeção, mas passam quando se constata que o filme funciona muito bem dentro do que se propõe. Houve muito hype em cima do filme, mas o fato é que “Atividade Paranormal” é eficiente. Trabalhando mais com as sutilezas e a imaginação do público, do que com sangue, monstros digitais, assassinos mascarados ou vísceras expostas, é uma preciosidade que vem com louvor, em tempos onde “Jogos Mortais” já deu no saco. Uma sequência de cenas que assusta genuinamente. É uma prova viva de que, muitas vezes, menos é mais.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
35. Um filme que fica na cabeça
Brilhantemente dirigido, o filme adaptado do livro de Chuck Palahniuk é extremamente provocativo e denso em seu retrato cru e mordaz do ser humano alienado – alienado de si mesmo, que não sabe quem é, que tenta se definir pelo que está fora dele, por um carro do ano ou pela louça com imperfeições comprada no último mês. Envolvido em camadas e mais camadas de interpretação e análise, “Clube da Luta” é um filme doente. Realística e espetacularmente doente! Enquanto espelho do homem moderno moribundo em sua apatia e sua falta de identidade, a obra-prima de David Fincher sempre será um filme doente. Brutal em escancarar a verdade que todos sabem que existe, mas recusam-se a ver. O homem que se refugia na superficialidade das coisas, no banal, no comum, na massa amorfa da qual ele faz parte e acredita que ali poderá se definir como ser humano. O homem que está morto. Que eventualmente pode renascer, mas acabará morrendo novamente, como nosso Narrador (Edward Norton) pode nos confirmar. A resposta do homem moderno é primordialmente para a sociedade, não para si mesmo, daí que ele é uma farsa, uma imitação caricatural de ser humano, e sabe disso. A verdade o incomoda, porque ela necessita que o homem tenha a coragem necessária para “bater” e também, principalmente, a disposição para “apanhar”, e é aí que Fincher nos traz a sensacional metáfora do clube que dá nome ao filme. Essa é a verdadeira violência em “Clube da Luta”: a terrível ausência de identidade que todos aqueles carregam, matando-os. Brad Pitt e Edward Norton em atuações explosivas num filme que serve como um manifesto cru, nu e brutal conta a mediocridade, o consumismo, a apatia e a falta de identidade que adquirimos na vã esperança de encontrá-la em ideologias; ou "apenas" um filme de porrada com um roteiro instigante e extremamente bem dirigido por David Fincher! De uma maneira ou de outra, é um filme que fica na cabeça de qualquer um que o assiste.
Ensaio Sobre a Cegueira
4.0 2,5KDesafio dos 100 filmes:
34. Um filme de epidemia
Um incômodo filme de Fernando Meirelles que, independentemente do fato de se basear no livro de José Saramago (já adianto que nunca li nenhum de seus livros), nos traz um forte estudo do ser humano diante do isolamento e do alheamento a algo de tamanha importância para a espécie como a visão, sendo esta na verdade apenas uma analogia física para o estado da humanidade, que de tanto ver, ironicamente se encontra cega. Não à toa, imagino que esta tenha sido a intenção de Saramago no texto por retratar uma cegueira branca: a luz é o que nos permite ver, mas, como disse antes, vemos tanto que nos tornamos cegos - cegos ao que realmente importa - e, ao invés dos personagens encontrarem-se na escuridão, estão imersos na mais absoluta claridade. Sensação brilhantemente trazida por Meirelles na fotografia em superexposição (acho que esse é o termo, me corrijam se eu estiver errado) que tenta mergulhar o espectador um pouco no mundo dos personagens - o "mar de leite" que é descrito durante o filme - exceto Juliane Moore, a única que não é infectada, que por sinal, encontra uma interpretação fantástica aqui, exemplificando de maneira incrível o ditado "Em terra de cego, quem tem um olho é rei" - a questão é que ser rei nem sempre é algo agradável, e pode ser um fardo muito pesado. Ela é obrigada a testemunhar toda a degradação humana dos que estão próximos a ela (obviamente metaforizada no próprio ambiente de quarentena, que se torna mais imundo, fétido e degradante com o passar do tempo), e sua imunidade à cegueira, ao mesmo tempo em que é uma bênção para os que dela passam a depender, torna-se seu pior infortúnio. De modo que, como ela representa o espectador, tudo o que vem a seguir no filme torna-se extremamente incômodo e angustiante. A visão como máscara social que esconde/reprime os verdadeiros impulsos, vontades e pensamentos de cada um,
como na cena em que um cara diz que o cretino personagem de Gael Garcia Bernal só poderia ser negro, expondo sua mentalidade racista, sendo este justamente o seu companheiro de fila à frente, que o guiava. Ironicamente, é justamente do personagem de Garcia Bernal que vem uma bela porrada, quando, no momento em que o médico interpretado por Mark Ruffalo vai buscar comida e descobre que um dos presentes na ala 3 já era cego antes da epidemia, diz que este, mais do que os outros, deveria saber o que é empatia, ao passo que Bernal responde: "Ei, só porque ele já era cego não quer dizer que ele seja bom ou mau".
Crepúsculo
2.5 4,1K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
33. Um filme que você não indicaria
Roteiro idiota e que trata o espectador como tal, diálogos desnecessariamente expositivos, tecnicamente mal-feito (que efeitos são aqueles de velocidade? PQP!), um casal que não empolga, um vampiro que não sabe o que quer fazer (ele diz que Bella deve se afastar dele, daí um minuto depois ele volta pra perto dela (????) pra dizer tudo de novo (????)) uma história que não disfarça sua panfletagem em prol de uma besteira como a castidade, além de hipócrita e ironicamente machista. Apenas uma desculpa para Stephenie Meyer fazer sua pregação mórmon.
Vejam que eu listei uma série de defeitos sem sequer precisar tocar naquilo que a galera mais tira sarro: o fato dele brilhar no sol e de tecnicamente não ser um vampiro. Ou seja, o filme é ruim mesmo!!
WALL·E
4.3 2,9K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
31. Um bom filme infantil
Não apenas um filme infantil, mas também um filme extremamente adulto! Poderia definí-lo como "Chaplin encontra Kubrick", mas ainda seria pouco para esta obra-prima da Pixar. Para além do apuro técnico, inquestionável em se tratando deste estúdio, mas que aqui foi elevado a um novo patamar de qualidade, Wall-E traz uma sensibilidade típica das comédias românticas mudas (Chaplin principalmente) curiosamente embalada em dois robôs de "classes sociais" diferentes. Mostrando a competência do estúdio, Andrew Stanton conduz a primeira parte - que de maneira impressionante praticamente não tem uma única linha de diálogo, uma aposta ousada, considerando que o filme é, numa análise superficial, voltado ao público infantil - nos apresentando o personagem título como um "Carlitos" tecnológico que tenta de todas as maneiras impressionar a sua dama, apostando apenas nos gestos e nas expressões sutis dos dois robôs (um trabalho admirável!). Wall-E toca o público com seu olhar como que sempre triste, mas curioso com o lixo deixado pelos humanos, sua capacidade de ver a beleza em coisas simples e úteis,
como a caixinha com um anel de bilhante, o qual ele deixa de lado, mais curioso em como a caixinha pode eventualmente lhe ser útil.
(provavelmente a isso se refere o nome da nave-cruzeiro, "Axioma", uma verdade evidente, sem necessidade de comprovação científica, que serve de partida para outras deduções)
como o próprio balé no espaço entre Wall-E e EVA, de uma beleza simplesmente poética, as músicas Danúbio Azul e Assim Falou Zarathustra, esta encaixada de maneira simplesmente genial na referência à "evolução" do homem, o homem contra a máquina, além do próprio computador Auto, o "HAL-9000" da Pixar.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
30. Um filme que você não entendeu ou teve dificuldade de entender
David Lynch te deixando atordoado num turbilhão de informações, mas sem que as coisas se tornem incompreensíveis. Porque não, o filme não é incompreensível (e sinto muito por quem acha que o filme não passa de uma picaretagem, de um engodo. E também não é um filme somente para ser sentido - e não seria nenhum demérito se o fosse somente assim. O filme tem uma lógica, tem uma história, as coisas se encaixam quando você para pra analisá-las): é complexo, mas incompreensível, definitivamente, não! "Cidade dos Sonhos" não tem nada grandioso a dizer: grandiosa é sua narrativa, sua perícia em conseguir explicar sem ser didático tudo o que veio antes, que até então tava muito normal, atraindo pelo clima noir. Em conseguir fazer com que os elementos aparentemente aleatórios se encaixem de maneira magistral quando você passa a reestruturar o filme e encarar os fatos pela ótica da personagem de Naomi Watts. Confesso que ainda não consegui relacionar todos, mas considerando que todos (a maioria) os elementos que consegui encaixar na minha segunda visita ao filme se resolveram em sua lógica de maneira mais do que satisfatória (e batendo com a maioria das teorias sobre o filme que eu vi depois - e não, não vi essas dicas do Lynch que a galera tá falando, que aliás nem sabia que ele tinha feito isso. Ainda nem vi pra falar a verdade, e nem pretendo ver até ter a certeza de que consegui encaixar tudo), me sinto mais do que certo de que o filme não passa nem perto do cheiro da picaretagem!
Aliás, é um exercício mais do que divertido tentar entender como Lynch utiliza os detalhes, as cores, as alegorias, diálogos e frases chaves, jogos de câmera, não-linearidade na narrativa (principalmente no segmento final) para compor o quadro surrealista que ele nos traz aqui, conseguindo manter o espectador preso na cadeira, curioso pra saber onde toda aquela viagem do diretor vai descambar. Em vários momentos ele mostra que o espectador deverá sempre reorganizar na cabeça tudo aquilo que está vendo (e o movimento de câmera no começo da cena do "teste" das atrizes no filme de Adam Kesher, onde elas "cantam", assim como a posterior cena do clube noturno - aliás, a cena da canção é melancolicamente linda! - são perfeitos para ilustrar isso). No meio da loucura, Lynch ainda aponta o dedo para a indústria cinematográfica e faz uma crítica a sua mania de podar a inventividade dos cineastas em prol da lucratividade. Além do mais, para além da direção mais do que competente de Lynch, temos uma atuação fantástica de Naomi Watts!
Você pode até não entender tudo de primeira, mas se se permitir envolver pelo clima bizarro e perturbador que surge de repente quando tudo parecia normal demais, se deixar Lynch no comando da viagem, vai ter uma experiência nada mais que enriquecedora assistindo "Cidade dos Sonhos".
Terror em Silent Hill
3.5 1,5K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
29. Filme baseado em um jogo
Até agora a melhor adaptação de um game para o cinema. Me surpreende que Roger Avary, responsável junto com Tarantino pelo sensacional roteiro de Pulp Fiction, assine o roteiro deste aqui, já que é tão comum (até esquemático, como se fosse mesmo um video-game) e com diálogos idem. No entanto, a direção de Christophe Gans é suficientemente competente para construir um grande clima de tensão em cima do roteiro, aliás, é o maior mérito de Gans: conseguir trazer o clima do jogo para o filme (ponto para a fotografia também,
contrapondo de maneira forte as imagens da Silent Hill onde Rose, Sharon e Cybil se encontram, com a Silent Hill onde Christopher e Gucci procuram por Rose
já que a maneira como Alessa surge para se vingar de todos, presa numa cama e promovendo uma verdadeira carnificina, remete claramente ao símbolo do Cristo crucificado, e a figura de Deus - a mãe de Alessa, surge submissa, frágil e caída
Cantando na Chuva
4.4 1,1K Assista AgoraE finalmente tive o prazer de ver essa fantástica obra cinematográfica, e entender toda a fama que merecidamente levou. Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O'Connor nos levam junto pra cantar e dançar nesta obra divertida e encantadora, com números musicais criativos e empolgantes, onde todo o talento de dançarino de Gene Kelly transborda! Mas antes de ser um musical, é um retrato fidedigno de um importante período da história do cinema, que foi a transição do cinema mudo para o falado. A recriação do ambiente da época, a maneira como a mudança era vista, os problemas que os profissionais tinha de encarar com a novidade, tudo retratado em detalhes que só engrandecem o filme. E pensar que a sequência mais clássica e icônica do filme, embora sensacional, nem é a melhor da obra. O que dizer do número de "Good Morning" ou da sequência na aula de dicção? E o sapateado sensacional de Gene Kelly! Você sai cantarolando junto com os personagens e ainda depois do fim do filme! Clássico inesquecível, que não recebeu todo o status de que é dono à toa!
Moulin Rouge: Amor em Vermelho
4.1 1,8K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
28. Um excelente musical
Eu, que quando assisti não botava muita fé no filme (mesmo porque não sou o maior fã de musicais), tive que dar o braço a trocer e me render completamente. Uma história boba e frágil e que se transforma num espetáculo graças à direção mais do que competente e ousada de Baz Luhrmann (incluindo ainda por cima um subtexto cristão na narrativa), auxiliado pela belíssima direção de arte, uma fantástica fotografia e pela competência dos atores, renovando, na época, um gênero que estava na mesmice. Frenético, intencionalmente exagerado, cômico, explosivo! Amor em vermelho, o vermelho constantemente destacado ao longo do filme, principalmente pelo vestido e pelos lábios de Nicole Kidman; vermelho da paixão; vermelho do amor; vermelho da fúria; vermelho da morte. A velha e batida história do amor impossível contada de maneira original, divertida e emocionante, num lugar que transborda romance e sexualidade, contando com as fortes atuações de Ewan McGregor e Nicole Kidman, até seu final apoteótico! Além disso, um cara (Luhrmann) que coloca no mesmo balaio de gato Cristhina Aguilera, Nirvana, David Bowie, Fatboy Slim, Beatles, Madonna, entre outros, num musical ambientado num cabaré parisiense na virada so séc. XIX pro XX, contando uma história de amor impossível, e o melhor, consegue fazer essa porra toda funcionar sem soar estranho ou ridículo, um cara desse merece meu respeito!!
Forrest Gump: O Contador de Histórias
4.5 3,8K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
26. Um filme que lembra a sua família
Lembra minha família porque é o primeiro filme que eu me lembre de ter assistido com toda a família.
Mas é claro que o filme não se resume a isso pra mim. Forrest Gump é daqueles filmes atemporais, que você verá em qualquer época e ele sempre despertará a mesma emoção. Um trabalho fantástico de Robert Zemeckis, que conduz o filme de maneira segura, sem nunca cair na pieguice! A cena com a pluma que abre o filme ilustra perfeitamente o que é o personagem de Tom Hanks (talvez, junto com "Quero ser Grande", na melhor interpretação de sua vida!); torna-se interessante também pelo contraponto que Zemeckis estabelece com a personagem de Jenny: enquanto ela sonhava e tinha planos para o futuro, Forrest se deixava levar
(curiosamente, tudo o que Jenny sonhava não se realiza da maneira como ela esperava, enquanto Forrest se ajusta a tudo e vai mais longe do que o diretor da escola que não o quis aceitar - e qualquer um ali - poderia sequer imaginar, para um garoto com QI abaixo de 75. A cena no exército em que Gump é chamado de gênio e superdotado é ironicamente hilária)
(bem como a maneira pela qual ele foi responsável por alguns marcos históricos, como a dança de Elvis ou o escândalo de Watergate, eu rio demais com essa parte).
A sequência da corrida pelo país é perfeita para ilustrar isso!
Ao lado de "De Volta Para o Futuro", "Forrest Gump" é uma obra-prima na cinematografia de Robert Zemeckis.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 983 Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
24. Um filme que te dá medo
Embora atualmente não me dê medo (nenhum filme de terror que eu já tenha assistido antes e que me deu medo, até hoje, volta a fazê-lo), esse é um dos poucos que ainda consegue me deixar tenso na cadeira. Carpenter cria aquele que talvez seja o melhor filme de terror da década de 80, indo na contramão de um gênero de terror que estava na moda nessa década, o dos slashers (que, curiosamente, o mesmo Carpenter ajudou a criar com seu "Halloween"). Aqui, ele abusa do clima paranóico e claustrofóbico, além do isolamento, que, se antes era apenas físico (como ele faz questão de salientar nos planos iniciais onde vemos a imensidão da neve na Antártida), vai cada vez mais se tornando também psíquico, levando a um final bem pessimista. Aposta também no gore e no horror de imagens grotescas, muitas vezes como se fossem uma versão macabra de um quadro surrealista
(Os corpos deformados que os personagens encontram na base norueguesa, bem como a cena do eletrochoque onde uma boca monstruosa se abre no tronco de um dos personagens, culminando com a inquietante e clássica cena da cabeça-aranha, ilustram bem o que eu quero dizer)
(A sequência do ataque aos cães no canil e a inesquecível e magistral sequência do teste do sangue são exemplos disso)
Cidade dos Anjos
3.7 1,5K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
23. Um filme que você gostou, mas tem vergonha de falar
Pelo menos, quando eu era mais novo, tinha uma pouco de vergonha de falar que gostava desse filme. Mas, mais do que a própria história, o que me fez gostar mesmo do filme foi a direção e a fotografia espetacular da obra - tá certo que na época eu mal sabia o que isso queria dizer, mas o que eu vi ali na tela me chamou muito a atenção. Aquelas tomadas magníficas dos anjos caminhando por cima dos prédios são de encher os olhos! A maneira como Brad Silberling conduz o filme é de uma grande sutileza que consegue fazer transbordar sensações (porque é isso que o filme é: não apenas um romance, mas um filme de sensações, já que é isso que os protagonistas - Seth, especialmente - buscam o tempo todo. Não à toa, vemos descrições de sensações, planos-detalhes, close-ups, tomadas dos anjos, totalmente vestidos de preto, em meio a um visual de cores e texturas bastante variadas,
como a cena de Seth na feira com Meggie, em meio a várias frutas
Talvez não tenha a mesma profundidade do original alemão "Asas do desejo" (que ainda não vi), mas por si só o filme tem seus muitos méritos que o tornam mais do que um simples filme romântico!
A.I. Inteligência Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes:
22. Um filme bom com um final péssimo
Spielberg nos traz um filme sensacional, embora às vezes pareça sofrer de "dupla-personalidade" (natural, considerando que o projeto foi desenvolvido por duas pessoas tão opostas como Kubrick e Spielberg), tanto que o filme é claramente dividido em duas partes: a 1ª é mais melancólica, dramática e intimista (como deveria ser o filme por inteiro); a 2ª, aventuresca, embora ainda volte com elementos da primeira parte. O filme levanta questões importantes sobre a natureza do amor e das relações humanas, bem como da própria natureza humana. Só acho uma pena que a maioria destas questões sejam apenas levantadas, e não discutidas com mais profundidade (Uma pena também é saber que a ideia de Kubrick de que Mônica seria alcóolatra foi desperdiçada por Spielberg, isso seria sensacional pra história por trazer a ambiguidade tão característica de seus filmes!) Por outro lado, Spielberg muitas vezes homenageia Kubrick em enquadramentos, designs e movimentos de câmera
(A mesa com as luzes acima que David encontra no escritório do local onde foi projetado me lembra bastante a mesa da sala de Guerra em Dr. Fantástico, assim como o design da Rouge City remete bastante às estátuas no ambiente dos drugues de "Laranja Mecânica"; também o movimento de câmera que se aproxima de David quando este encontra as caixas com outros de sua linha, é bem kubrickiano; são alguns exemplos)
(Sim, falo da cena em que Mônica o programa)
O problema é que tava tudo muito bom até o Spielberg esquecer que o projeto também era do Kubrick e resolver que o David deveria ter um final "Spielberguiano". Os 15-20 minutos finais são plenamente descartáveis!
É óbvio que a busca de David seria um fracasso, no momento em que ele encontra a "fada azul", se o filme terminasse ali, seria perfeito: um final ambíguo, que estaria completamente relacionado aos questionamentos centrais do filme, já que, tomando o que o Prof. Hobby fala para David sobre sonhos e humanidade, é de se pensar: embora seja uma máquina, David não teria se tornado, de certa forma, humano, ali, enquanto desejava que a fada azul o transformasse num menino de verdade? Mas Spielberg achou a busca de David pelo amor da mãe mais importante do que isso, e deu um tiro no pé!
E esse final é que acaba comprometendo o brilho do filme, embora não o torne ruim. Mas deixa o filme menor do que ele realmente poderia ser!! Felizmente, o essencial, a ideia principal está lá no filme, relativamente bem desenvolvida.
Tempos Modernos
4.4 1,1K Assista AgoraDesafio dos 100 filmes
21. Algum filme que te faça rir
É impressionante como Chaplin consegue, sem uma única palavra (ou quase, em se tratando deste filme), mesclar de maneira maravilhosa drama, comédia, crítica social, uma ingenuidade gostosa de se ter e um olhar extremamente perspicaz, acusador e crítico. O filme brilha em sua atemporalidade:
se Carlitos é engolido pela máquina, hoje um mundo virtual nos engole: mudam-se os personagens, a essência continua (no entanto, ao conhecer a máquina, ela se torna sua aliada, Carlitos dança com ela, e toda vez que os funcionários vão pegá-lo, ele religa a máquina e eles voltam ao trabalho)
ao fazer com que a jovem garota (Paulette Goddard, linda!) encare a estrada da vida determinada, mas sempre com um sorriso no rosto.