Geralmente, não gosto muito de comparar adaptação e material original... A não ser que afete a qualidade objetiva do filme, e é esse o caso no filme do "Death Note". Não sou um fã do anime, mas reconheço que a dinâmica entre L e Kira foi bem construída e interessante, e nessa adaptação de 2017, foi completamente negligenciada. É natural esperar algumas diferenças, mas os personagens de L e Kira são tão diferentes, que não existem motivos para que eles sejam, supostamente, os mesmos personagens. Mas o maior problema do filme não é a falta de fidelidade ao anime/manga, mas sim o diretor Adam Wingard. Ele dirigiu dois filmes elogiados por fãs e pela crítica em geral, "You're Next" e "The Guest", e eu não entendo o por que, pois o primeiro é ruim, e o segundo é péssimo. A impressão que eu tenho do diretor é que ele é tão pretensioso e tão apaixonado pelo próprio estilo, que ignora a linguagem básica do cinema na tentativa de fazer algo "único", que ironicamente acaba sendo genérico e previsível. Agora que Adam Wingard demonstrou grande descaso com algo que possui um número considerável de fãs, talvez reconheçam quão ruim ele realmente é como diretor, e parem de dar projetos interessantes a ele. Supostamente ele irá dirigir a refilmagem de um filme coreano, "I Saw the Devil", e espero que depois da recepção de "Death Note", o projeto seja cancelado, ele não precisa mostrar a "interpretação" dele de outra boa obra oriental. Como filme, "Death Note" sofre com atuações ruins de todo o elenco principal, em especial Margaret Qualley como Mia: toda vez que ela aparece em cena, o nível do filme desce a níveis que não achava que fossem possíveis. A única atuação decente do filme é a de Willem Dafoe como o Shinigami, mas infelizmente tem um papel bem pequeno no filme. O roteiro passa a impressão de ter sido escrito em um fim de semana: apressado, mal-desenvolvido, e cheio de conveniências. A fotografia é decente, mas é minada pela edição apressada e escolhas de ângulos de câmera. Os efeitos de "gore", além de não terem sido bem executados, não combinam com o tom estabelecido pelo filme, e são apenas mais uma decisão forçada e desnecessária de Adaw Wingard. A escolha da trilha sonora também destoa totalmente da atmosfera do filme: se você viu "The Guest", sabe que Wingard adora a década de 80, e sabe também que ele não entende como fazer uma boa homenagem. E provavelmente não preciso dizer o quanto músicas como "The Power of Love(You Are My Lady)", "Take my Breath Away" e "I Don't Wanna Live Without Your Love" não combinam com a proposta a atmosfera estabelecidas pelo filme.
Em suma: tentem não criar expectativas em relação à futuras adaptações americanas de obras estrangeiras, e parem de elogiar os filmes do Adam Wingard, e torçam para que os estúdios esperem que ele realmente se prove como diretor antes de entregar-lhe ele um projeto realmente importante.
Poderia ter sido bem interessante, afinal de contas, ao contrário da maioria das produções ocidentais do mesmo estilo, "Corpse Party", seja nos jogos ou no anime, é notório por não poupar nem os personagens mais doces e inocente de uma morte extremamente gráfica e perturbadora. O problema é que o filme é de um amadorismo extremo em todos os aspectos essenciais. Todas as atuações são péssimas, sem exceção, assim como os efeitos (miolos de um personagem parecem carne moída, entranhas de outro parecem linguiças). A direção é péssima, cinematografia é inexistente (todas as cenas são filmadas basicamente no mesmo ângulo, as cores e saturação utilizadas são praticamente idênticas em todas as cenas.). Não existe criação de atmosfera por construção de cenários, pois aparentemente jogaram umas mesas e cadeiras de forma aleatória em todos os cenários e mandaram filmar. Além disso, o fato do filme ter apenas 90 minutos significa que muito do desenvolvimento de personagens presente nos jogos, e até mesmo no anime, em menor escala, é deixado de fora, e embora eu seja totalmente a favor de julgar uma adaptação em seus próprios méritos, nesse caso ela se beneficiaria de uma maior fidelidade. O jogo está longe de ser uma obra prima, mas ao menos existia certo esforço em fazer com que o público se importasse com os personagens. O único aspecto positivo que consigo pensar a respeito do filme é a ausência do fan-service bizarro e desconfortável envolvendo garotinhas adolescentes presente no anime. A não ser que você seja fão do jogo e realmente queira ver o tamanho do desastre pessoalmente, não recomendo.
Ao mesmo tempo, uma homenagem sincera aos filmes de terror adolescente da década de 80, uma desconstrução dos mesmos, com todos os elementos centralizados por um tema de amadurecimento. Um clima de melancolia e surrealismo permeia todo o filme, graças a uma belíssima cinematografia e uma trilha sonora atmosférica. Graças às atuações contidas, os personagens refletem bem a atmosfera central, com destaque para Maika Monroe, retratando de forma realista toda a confusão e conflito interno do personagem, sem cair em exageros típicos do gênero. Muito do que é apresentado no filme pode não fazer sentido para o espectador mais casual, tendo em conta que para uma apreciação plena do filme é preciso uma certa afinidade com já citados filmes da década de 80 e filmes de terror em geral, conhecimento das convenções do gênero, e como "It Follows" reincorpora de forma consciente tais convenções. Digo isso porque a maioria das críticas que vi sobre o filme são direcionadas a escolhas propositais, que carregam um significado maior por trás. O Mais impressionante é que "It Follows" tem um orçamento estimado de US$ 2 milhões, mas por conta do cuidado na produção, da direção excelente e da competência em todos os aspectos essenciais, o resultado final é superior à maioria dos filmes de alto orçamento da história recente.
Boa ideia, execução medíocre. Para estabelecer que as crianças são inteligentes, o filme toma o caminho mais previsível é simplista, que é fazer com que reproduzam diálogos que soem complexos, mas a baixa capacidade de atuação dos atores mais novos fazem com que essas cenas estejam entre as mais fracas do filme. A repetitividade é também um grande problema, visto que existem mais cenas que o necessário para estabelecer que as crianças são inteligentes, e em quase todas prevalece a atuação abaixo da média, com destaque para uma cena em especial onde a atriz Shree Crooks, que aparentemente não sabe muito bem o que está fazendo, tenta explicar a constituição com as "próprias palavras", enquanto nota-se o esforço óbvio da atriz mirim em lembrar-se das falas. Em uma das cenas, para mostrar contraste, coloca a "família ideal" do filme em cena com um esteriótipo tão caricato, elitista e mal-pensado do que é considerado uma família média americana que eu me perguntei se ainda estava vendo um drama sério. Vale ressaltar que todas as instâncias de humor do filme são forçadas e previsíveis. O roteiro é parecido com o de todo "road-movie" envolvendo um motivo chave melancólico para a viagem. Nesse caso, a mãe da família comete suicídio (não é um spoiler, é o que coloca o filme em movimento), e ela não é muito mais que um artificio de roteiro, pois só sabemos através de partes da personalidade dela através de algumas falas espalhadas pelo filme, e o único momento em que ela realmente "aparece" em cena, não é o suficiente para ser considerado desenvolvimento de personagem. Talvez a intenção fosse mostrar apenas a memória dela através de terceiros, mas isso poderia ter sido feito com uma atriz, interpretando uma personagem, com certo esforço, algo melhor pensado que algumas linhas de diálogo colocadas de forma sistemática ao longo do filme. Previsibilidade nem sempre é algo ruim, mas da forma como foi executado, pareceu-me que estavam cumprindo uma lista, sem muita preocupação com diferencial.
Nesse filme, existe até uma versão da cena existente em basicamente todos os "road-movies" independentes, a cena em que o garoto estranho do grupo tem um breve romance com uma garota de personalidade totalmente oposta à dele, em uma parada na estrada, geralmente um hotel, mas nesse caso, um estacionamento de trailers. É, segura essa inovação!
Além do que já foi citado, o roteiro possui algumas contradições internas e conveniências que realmente ilustram quanto uma execução fraca pode afetar uma boa ideia.
Eles precisavam achar um motivo para ilustrar o amadurecimento do personagem de Viggo Mortensen, e para isso, o vemos orientando uma de suas filhas a subir em um telhado para executar determinada tarefa, e essa garota, que teve treinamento rigoroso na selva, em terrenos irregulares e escorregadios, escorrega e cai de um telhado. Não era uma cena de chuva, não era um telhado em estado de decadência, mas um telhado limpo, com a manutenção em dia. Tudo isso para que tenhamos uma cena onde Viggo Mortensen olha para um raio x, fingindo choque e preocupação, ouvindo quão sortuda a garota foi por não ter sido fatal. Na última cena do filme, após cometerem o crime de exposição de cadáveres em nome do desejo de uma personagem mal desenvolvida, eles cremam o corpo da mãe, e tocam uma versão hippie do que afirmam ser a música favorita dela. O nome da música? Sweet Child O' Mine, uma grande sucesso comercial dos Gun's 'n Roses, e uma música bem convencional, contradizendo totalmente o que foi estabelecido a respeito da mãe na pouca caracterização que ela teve.
O mais triste é que o filme é competente o suficiente em alguns aspectos básicos, como cinematografia (previsível, mas cumpre seu papel) e ritmo, de tal forma que percebe-se que o grande problema não foi a falta de competência de uma equipe que estava genuinamente tentando fazer algo bom e único. O que percebe-se, na verdade, é que Capitão Fantástico é um produto, o resultado de um comitê de executivos de estúdio reunidos em uma sala, olhando para resultados de pesquisas de grupos de foco, e produzindo algo com as características adequadas. Infelizmente, a direção digna de uma linha de produção e as atuações (que variavam de medianas a ruins, Frank Langella sendo a única boa exceção à regra) asseguraram que o resultado final fosse medíocre. O resultado final é um produto cuja natureza ironicamente contradiz com a mensagem que supostamente está tentando, e visto que a resposta do público foi bem positiva, podemos esperar mais do mais do mesmo no futuro.
PS: "Propaganda comunista" não é um dos "problemas" do filme. "Anti-capitalista" nem sempre se traduz em "comunista". Talvez em uma análise bem superficial e simplista o filme tenha um forte viés comunista, mas nada na mensagem final implica tal viés.
Não esperava muito, mas fiquei surpreso com o cuidado e atenção que esse filme recebeu. A premissa pode ser considerada absurda, de maneira objetiva, mas a impressão que tive é que tanto o roteirista quanto o diretor têm consciência do absurdo, portanto não passam muito tempo tempo estabelecer o motivo, mas desenvolver a parte central da trama como um pesadelo, de uma forma quase surreal, sabendo quando estabelecer um tom mais sério, mais melodramático, quando utilizar a violência exagerada da maneira certa, e quando é adequado o uso de humor negro. A atuação pode não ser considerada "boa" nos critérios mais tradicionais, mas é perfeitamente adequada para o tom (ou melhor, a mescla de tons) que o filme estabelece, que não vejo como um problema. É surpreendente ver um filme com adolescentes idiotas em uma situação de pânico agindo com adolescentes idiotas em uma situação de pânico, e ficar claro que são decisões propositais e pensadas de roteiro, e não artifícios forçados e convenientes. É uma alívio com as tramas de romance, que poderiam ter baixado o nível do filme, complementam a natureza adolescente dos personagens, contrastam de forma linda com a carnificina, e por essa complementaridade, não parecem desnecessárias. O elenco é grande, mas os personagens importantes para a trama recebem desenvolvimento o suficiente para que a presença deles na trama seja relevante. A cinematografia é muito bonita e bem executada, não sei dizer ao certo, mas acredito que BR não tenha sido filmado em sets, na maior parte do tempo, mas em localidades reais, com muitas tomadas amplas que aproveitam a paisagem natural da ilha. As cenas de ação são coerentes e bem editadas, conseguindo passar uma sensação de pânico mas manter a coerência, com poucos cortes, algo raro até mesmo em produções de alto orçamento. Algo que me incomodou nesse aspecto foi que em algumas cenas é bem evidente que apenas jogaram o sangue falso por cima das roupas do autor, sem se preocupar em maquiar alguma ferida, ou dar a impressão de profundidade ao ferimento, mas não é algo que interfere muito na qualidade do filme, pois até a forma cômica e exagerada como alguns personagens reagem aos tiros complementa o tom do filme. É bom ver a preocupação com consistência (as zonas de risco e o anúncio dos alunos mortos em cada dia, por exemplo). Não sei dizer como é comparado ao livro, pois nunca o li, mas posso dizer duas coisas: uma adaptação deve ser avaliada em seus próprios méritos, e fidelidade ao material original nem sempre se traduz em qualidade objetiva.
Apesar de um certo descaso com continuidade (Wolverine tem garras de Adamantium no tempo presente do filme, mesmo se passando depois de Wolverine: Imortal) e de terem tirado qualquer participação da Vampira nesse filme, que ajudava a contextualizar melhor a história (mas as cenas dela ainda estão presentes na versão estendida), os elementos nesse filme funcionam tão bem em conjunto que esses problemas não importam muito. A dinâmica entre Xavier, Raven, Magneto e Wolverine é bem trabalhada, os efeitos são bons, a trama é bem construída e se desenvolve a um ritmo consistente. Apesar de ser ao mesmo tempo prequel, continuação e reboot, e contar com vários personagens, o resultado final é satisfatório e coeso.
O roteiro é fraco, assim como as atuações, mas esse filme é um projeto de paixão, com a intenção de ser uma homenagem aos filmes de terror clássicos da década de 70 (em especial "The Texas Chainsaw Massacre"). Isso fica bem evidente na cinematografia, e por mais que o filme tenha pontos negativos, a cinematografia é linda, e estabelece a atmosfera do filme de forma efetiva, é como a perfeita tarde de verão traduzida em uma película. Embora os atores sejam bem medíocres, no geral, Amber Heard foi uma boa escolha (admito que ela foi uma das maiores razões para eu ter visto o filme por inteiro pela primeira vez, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos ). O filme é bem medíocre no geral, mas ainda assim, é um dos meus favoritos, mesmo que só pela fotografia e pelo fato de ser uma homenagem sincera, mesmo que um tanto inepta, à década de 70.
A melhor das prequels? Sim, mas falar que o "Episódio III" é bom tendo I e II como parâmetro é o mesmo que receber um prato escarrado em um restaurante, e considerar uma boa refeição simplesmente pelo fato de que das duas vezes anteriores o chef simplesmente achou uma carcaça de algum animal atropelado na rua, e jogou no prato. Ainda é um péssimo filme, com atuações medianas, no melhor dos casos, péssimo uso de CGI, um roteiro que provavelmente foi escrito em um fim de semana depois de algumas cervejas, e repleto de drama forçado e sem substância. Não entendo como, 12 anos depois do lançamento, o fim do hype e todas as falhas óbvias expostas, esse filme ainda tem uma opinião popular favorável. Deve ser falta de Mr. Plinkett no coração...
Não sei quem são os principais culpados pela qualidade do filme: a massa de críticas infundadas direcionadas à "Prometheus" (um bom filme, não isento de falhas, mas a maioria das críticas são objetivamente fracas e infundadas) ou o estúdio, que resolveu escutar tais críticas, e interpretá-las de uma maneira ainda mais distorcida. O roteiro é tão fraco e as situações tão forçadas e absurdas que seu nível de apreciação pelo filme será muito maior se for visto como uma comédia. Personagens supostamente bem preparados agindo como idiotas em nome de conveniência de roteiro? Acho que isso são uns 3/4 do filme, no mínimo. O filme possui alguns pontos positivos, como a cinematografia ( não chega aos pés de "Prometheus" nem ao menos nesse aspecto, mas ainda assim é muito bem feita) e a dupla atuação de Fassbender como David e Walter é excelente, mas esses pontos não são o suficiente para salvar o filme. "Alien: Covenant" falha como continuação de "Prometheus", como prequel de "Alien", e como filme, no geral.
"Estrelas Além do Tempo" é mais um filme "baseado em uma história real" no melhor estilo oscar-bait, o tipo de filme que é indicado ao Oscar todos os anos, de uma forma ou de outra, o que significa que apesar de ser inspirado em eventos reais, os personagens agem como esteriótipos seguros e previsíveis de filmes de drama, não como pessoas reais, mas a visão hollywoodiana preguiçosa e superficial de um ser humano. As situações, da mesma forma, não se desenrolam de forma natural, mas com todas as pausas dramáticas, diálogos padronizados e ritmo de um produto criado por um comitê de executivos, e depois de ver tantos filmes supostamente baseados em histórias reais, me pergunto como em todos eles, apesar de se passarem em períodos diferentes, com diferentes pessoas, de diferentes realidades, posições geográficas e realidades sociais e financeiras, todas essas "pessoas reais" agem de maneira estranhamente semelhante às mesmas situações. A cinematografia é previsível, e o diretor parece não se importar com o fato de que cinema é uma mídia visual. Das Três atrizes principais, nenhuma é ruim, objetivamente, mas apenas Taraji P. Henson parece se importar em atuar acima da média, Octavia Spencer e Janelle Monáe apenas seguem o caminho previsível do filme. Kevin Costner intrepreta Kevin Costner, que, mesmo não sendo uma atuação ruim, é o mesmo personagem que ele interpreta em muitos outros filmes. Jim Parsons interpreta uma versão misericordiosamente silenciosa Sheldon Cooper, com os mesmos trejeitos forçados, o tipo de atuação que se espera de uma série de baixa qualidade como "The Big Bang Theory", mas não de um filme de 25 milhões de dólares. Por último, existe o argumento de que a mensagem que o filme passa é importante, mas uma boa mensagem não significa, automaticamente, um bom filme. Se a intenção dos envolvidos fosse realmente honrar e celebrar as realizações das três mulheres reais que protagonizaram os eventos retratados, haveria um maior comprometimento com verossimilhança. e um maior esforço e cuidado em todos aspectos, como direção, atuação e cinematografia, ou fariam um documentário a respeito. Não é um filme ruim, mas é apenas mediano, e ao meu ver, boas ideias não o salvam de uma execução medíocre.
Nenhum filme desta franquia pode ser considerado bom, ou ao menos medíocre, mas este último consegue ser ainda pior que seus antecessores. Ainda temos o de sempre: atuações ruins, um roteiro que se preocupa com continuidade tanto quanto Milla Jovovich se preocupa com a própria carreira atualmente, CGI em um patamar tão alto quanto a preocupação que a franquia demonstrou em ser fiel aos jogos, personagens pouco desenvolvidos e e tampouco interessantes que morrem para que o filme tenha um típico momento de drama forçado, e a glorificação de uma péssima atriz e protagonista. Neste filme, porém, a edição é ainda pior, tornando as cenas de ação ainda mais incoerentes que nos filmes anteriores, e isso é realmente um feito. Não ajuda o fato de que o filme aparentemente é mais escuro que os anteriores, agravando o pesadelo esquizofrênico que são as cenas de ação. Os filmes anteriores ao menos podiam ser aproveitados pela sua ridiculosidade inerente, e tornavam-se divertidos pelo fato de que tentavam se levar a sério. Este último, porém, nem ao menos permite que o espectador ria de seus defeitos, pois a edição provavelmente lhe dará uma enxaqueca ou causará um aneurisma. O aspecto mais admirável deste filme, e de toda a franquia cinematográfica, é o fato de que tais trabalhos, com quase nenhum mérito como filmes e um extremo descaso e desrespeito com os fãs do material original, tenham durado quinze anos e seis filmes.
Comparado ao resto da saga, Rogue One é o filme que fica exatamente no meio: sem dúvidas é superior aos episódios I, II e III, porém, não chega aos mesmos níveis da trilogia clássica, ou do Episódio VII. O filme começa bem, com uma abertura tensa e atmosférica, que fez com que eu me lembrasse um pouco de bastardos inglórios. Infelizmente, logo depois, o roteiro parece perder foco, apresentando vários planetas nunca antes vistos no universo cinematográfico da franquia. Porém, logo então notam-se alguns dos principais problemas que estarão presentes no filme: Gareth Edwards parece ter uma certa dificuldade em deixar a câmera parada em cenas de diálogo que deveriam ser momentos calmos para estabelecer o universo e desenvolver personagens. O enquadramento também mostrou-se um grande incômodo para mim, pois onde TFA contava com amplas tomadas que forneciam às cenas de diálogo uma certa profundidade, em Rogue One, na maior parte do tempo, a câmera está sempre desconfortavelmente próxima ao rosto dos atores. Eu sei que a intenção de Gareth Edwards provavelmente foi a de passar uma sensação semelhante a um drama com uma temática de guerra, mas esta escolha não beneficia a cinematografia de um filme Star Wars.
Ainda no assunto dos novos planetas apresentados, onde TFA também contava com amplas tomadas com excelente uso de iluminação e cores, que faziam um bom trabalho em estabelecer a atmosfera distinta de cada local, Rogue One conta com tomadas genéricas e extremamente curtas, onde nota-se que o CGI deste filme é consideravelmente inferior ao de TFA.
Ao fim do primeiro ato, o roteiro decide cortar um pouco o açúcar e estabelecer-se em um planeta por mais de dois minutos. Neste ponto, parece que o filme irá assentar-se em um ritmo confortável, com uma cena climática e bem dirigida em um planeta chuvoso. Porém, os personagens são fracos, não são bem desenvolvidos, e a falta de empenho na atuação, que pode ser culpa tanto dos atores como do diretor (Gareth Edwards demonstrou em Monstros e Godzilla que conseguir uma reação genuína de seus atores não é seu forte). Comparando mais uma vez a TFA, onde o elenco principal deste contava com bons atores, com boas interpretações, e uma boa direção, Rogue One não se esforça muito em fazer com que o público crie laços com este grupo em uma tão falada "missão suicida". Cassian Andor é o personagem menos interessante do elenco, que embora inicialmente mostre promessas de tornar-se um personagem interessante, como um rebelde agindo de forma, bem, rebelde, a falta de empenho na interpretação sabota este que seria um personagem promissor. Jyn Erso, personagem de Felicity Jones, sofre do mesmo problema, embora seja a personagem com a história melhor desenvolvida do grupo, a interpretação é parte importante da construção de um personagem. Chirrut e Baze poderiam ter sido personagem muito interessantes, se nos fosse explicado mais a respeito de como eles se conheceram, e como tornaram-se amigos. O vilão da vez, Krennic, é, como todos os novos personagens neste filme, pouco memorável, tendo como característica mais notável uma língua presa.
Isto torna-se um problema neste filme em especial, pois uma boa decisão dos roteiristas e diretores foi a de manter o caráter de "missão suicida" da história, o que significa que todos os personagens principais morrem. Infelizmente, com a falta de desenvolvimento e empenho na atuação dos mesmos, cenas que deveriam ser grandes momentos emocionais tornam-se tentativas cínicas e calculadas de tornar as situações mais dramáticas aos olhos do expectador.
O terceiro ato é quando o filme realmente brilha, mas não é sem seus problemas. É neste momento que vemos algumas cenas de ação bem executadas, um cenário atmosférico e bem estabelecido, e um uso do estilo "documental" de ângulos de câmera e cinematografia que quase pode ser considerado realista. Porém, a insistência no uso de cortes rápidos e a "shaky cam" mais uma vez prejudicam o filme.
O problema citado acima é agravado no momento em que a frota rebelde surge no planeta onde o terceiro ato do filme ocorre, para fornecer suporte ao grupo que encontra-se na superfície. O primeiro problema é que o fato de o grupo contar com o apoio de um gigantesco "Deus-Ex Machina" para roubar os planos da Estrela da Morte praticamente destrói a proposta de um pequeno grupo renegado desacatando as ordens da própria rebelião, diminuindo o impacto de seus atos. Outro problema é que com os cortes rápidos pulando da superfície para o espaço, e vice-versa, Gareth Edwards nos fornece com a que é, provavelmente, a batalha espacial mais incoerente dentre todos os filmes da franquia. Em compensação, a aparição de Darth Vader nos últimos minutos do filme é genuinamente bem executada e assustadora, embora também seja maculada pelo fraco uso do CGI presente em outros momentos de Rogue One.
Em duas cenas o filme conta com computação gráfica para a reconstrução facial de antigos atores, possibilitando assim a aparição de antigos personagens da franquia. Embora na primeira seja bem óbvio que se trata de CGI, a segunda, aparecendo nos últimos segundos do filme, é mal-executada e completamente desnecessária, um exemplo claro de "fanservice" cínico e preguiçoso.
Ironicamente, muitas das reclamações que não constituíam problemas objetivos em TFA mostram-se como problemas bem reais em Rogue One. O primeiro, apesar de também contar com várias ocasiões de "fanservice" e utilizava-se de muitos elementos de ANH, contava com personagens novos interessantes, boas atuações, boa direção, cinematografia, e um óbvio cuidado e dedicação por parte da equipe no aspecto técnico o suficiente para ser considerado um bom filme, em seus próprios méritos.
Rogue One, embora não seja o que eu considere "ruim", é apenas marginalmente acima da média. Conta com algumas boas cenas de ação, e consigo respeitar a tentativa de contar a história em um filme da franquia que não seja focado na jornada de um prodígio da Força, algo que antes só havia ocorrido em jogos ou outras mídias do universo expandido. Além do mais, finalmente ver os cristais de utilizados na construção de sabres de luz (chamados "kyber" nessa continuidade) foi algo que me deixou animado em relação aos futuros filmes da franquia principal. Porém, falta a paixão, o entusiasmo, e o cuidado presente nos melhores filmes da franquia, com muitas instâncias de "fanservice" sem a substância necessária. Minhas expectativas eram baixas em relação a este filme, e era bem claro, de um ponto de vista objetivo e especulativo, que não seria tão bom quanto TFA. Mesmo assim, ficou abaixo das minhas expectativas. Eu respeito a opinião daqueles que preferirem Rogue One ao Episódio VII. Porém, dizer que o primeiro é superior ao segundo por conta de "ser uma história original" e "não ser um remake de Uma Nova Esperança" é uma análise superficial, tendenciosa e pouco objetiva, tanto em relação à franquia Star Wars como em relação a filmes em geral.
Spotlight é um filme competente, mas não muito mais que isso. É uma premissa interessante, com bons atores, mas é tudo empacotadinho no formato "Oscar-bait". A cinematografia é convencional a ponto de ser preguiçosa, o ritmo é previsível, e o diretor não faz total proveito do bom elenco, pois apesar de interpretarem pessoas reais, ainda agem como estereótipos vistos na maioria de filmes de drama. Da forma como foi executado, provavelmente teria sido melhor como um documentário, mas sem os nomes do elenco, não teria atraído tantas pessoas ao cinema, nem teria concorrido ao Oscar. Mesmo assim, vale a pena ver uma vez, e não mais que isso.
Death Note
1.8 1,5K Assista AgoraGeralmente, não gosto muito de comparar adaptação e material original... A não ser que afete a qualidade objetiva do filme, e é esse o caso no filme do "Death Note". Não sou um fã do anime, mas reconheço que a dinâmica entre L e Kira foi bem construída e interessante, e nessa adaptação de 2017, foi completamente negligenciada. É natural esperar algumas diferenças, mas os personagens de L e Kira são tão diferentes, que não existem motivos para que eles sejam, supostamente, os mesmos personagens. Mas o maior problema do filme não é a falta de fidelidade ao anime/manga, mas sim o diretor Adam Wingard. Ele dirigiu dois filmes elogiados por fãs e pela crítica em geral, "You're Next" e "The Guest", e eu não entendo o por que, pois o primeiro é ruim, e o segundo é péssimo. A impressão que eu tenho do diretor é que ele é tão pretensioso e tão apaixonado pelo próprio estilo, que ignora a linguagem básica do cinema na tentativa de fazer algo "único", que ironicamente acaba sendo genérico e previsível. Agora que Adam Wingard demonstrou grande descaso com algo que possui um número considerável de fãs, talvez reconheçam quão ruim ele realmente é como diretor, e parem de dar projetos interessantes a ele. Supostamente ele irá dirigir a refilmagem de um filme coreano, "I Saw the Devil", e espero que depois da recepção de "Death Note", o projeto seja cancelado, ele não precisa mostrar a "interpretação" dele de outra boa obra oriental. Como filme, "Death Note" sofre com atuações ruins de todo o elenco principal, em especial Margaret Qualley como Mia: toda vez que ela aparece em cena, o nível do filme desce a níveis que não achava que fossem possíveis. A única atuação decente do filme é a de Willem Dafoe como o Shinigami, mas infelizmente tem um papel bem pequeno no filme. O roteiro passa a impressão de ter sido escrito em um fim de semana: apressado, mal-desenvolvido, e cheio de conveniências. A fotografia é decente, mas é minada pela edição apressada e escolhas de ângulos de câmera. Os efeitos de "gore", além de não terem sido bem executados, não combinam com o tom estabelecido pelo filme, e são apenas mais uma decisão forçada e desnecessária de Adaw Wingard. A escolha da trilha sonora também destoa totalmente da atmosfera do filme: se você viu "The Guest", sabe que Wingard adora a década de 80, e sabe também que ele não entende como fazer uma boa homenagem. E provavelmente não preciso dizer o quanto músicas como "The Power of Love(You Are My Lady)", "Take my Breath Away" e "I Don't Wanna Live Without Your Love" não combinam com a proposta a atmosfera estabelecidas pelo filme.
Em suma: tentem não criar expectativas em relação à futuras adaptações americanas de obras estrangeiras, e parem de elogiar os filmes do Adam Wingard, e torçam para que os estúdios esperem que ele realmente se prove como diretor antes de entregar-lhe ele um projeto realmente importante.
Corpse Party
2.1 24Poderia ter sido bem interessante, afinal de contas, ao contrário da maioria das produções ocidentais do mesmo estilo, "Corpse Party", seja nos jogos ou no anime, é notório por não poupar nem os personagens mais doces e inocente de uma morte extremamente gráfica e perturbadora. O problema é que o filme é de um amadorismo extremo em todos os aspectos essenciais. Todas as atuações são péssimas, sem exceção, assim como os efeitos (miolos de um personagem parecem carne moída, entranhas de outro parecem linguiças). A direção é péssima, cinematografia é inexistente (todas as cenas são filmadas basicamente no mesmo ângulo, as cores e saturação utilizadas são praticamente idênticas em todas as cenas.). Não existe criação de atmosfera por construção de cenários, pois aparentemente jogaram umas mesas e cadeiras de forma aleatória em todos os cenários e mandaram filmar. Além disso, o fato do filme ter apenas 90 minutos significa que muito do desenvolvimento de personagens presente nos jogos, e até mesmo no anime, em menor escala, é deixado de fora, e embora eu seja totalmente a favor de julgar uma adaptação em seus próprios méritos, nesse caso ela se beneficiaria de uma maior fidelidade. O jogo está longe de ser uma obra prima, mas ao menos existia certo esforço em fazer com que o público se importasse com os personagens. O único aspecto positivo que consigo pensar a respeito do filme é a ausência do fan-service bizarro e desconfortável envolvendo garotinhas adolescentes presente no anime. A não ser que você seja fão do jogo e realmente queira ver o tamanho do desastre pessoalmente, não recomendo.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraAo mesmo tempo, uma homenagem sincera aos filmes de terror adolescente da década de 80, uma desconstrução dos mesmos, com todos os elementos centralizados por um tema de amadurecimento. Um clima de melancolia e surrealismo permeia todo o filme, graças a uma belíssima cinematografia e uma trilha sonora atmosférica. Graças às atuações contidas, os personagens refletem bem a atmosfera central, com destaque para Maika Monroe, retratando de forma realista toda a confusão e conflito interno do personagem, sem cair em exageros típicos do gênero. Muito do que é apresentado no filme pode não fazer sentido para o espectador mais casual, tendo em conta que para uma apreciação plena do filme é preciso uma certa afinidade com já citados filmes da década de 80 e filmes de terror em geral, conhecimento das convenções do gênero, e como "It Follows" reincorpora de forma consciente tais convenções. Digo isso porque a maioria das críticas que vi sobre o filme são direcionadas a escolhas propositais, que carregam um significado maior por trás. O Mais impressionante é que "It Follows" tem um orçamento estimado de US$ 2 milhões, mas por conta do cuidado na produção, da direção excelente e da competência em todos os aspectos essenciais, o resultado final é superior à maioria dos filmes de alto orçamento da história recente.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraBoa ideia, execução medíocre. Para estabelecer que as crianças são inteligentes, o filme toma o caminho mais previsível é simplista, que é fazer com que reproduzam diálogos que soem complexos, mas a baixa capacidade de atuação dos atores mais novos fazem com que essas cenas estejam entre as mais fracas do filme. A repetitividade é também um grande problema, visto que existem mais cenas que o necessário para estabelecer que as crianças são inteligentes, e em quase todas prevalece a atuação abaixo da média, com destaque para uma cena em especial onde a atriz Shree Crooks, que aparentemente não sabe muito bem o que está fazendo, tenta explicar a constituição com as "próprias palavras", enquanto nota-se o esforço óbvio da atriz mirim em lembrar-se das falas. Em uma das cenas, para mostrar contraste, coloca a "família ideal" do filme em cena com um esteriótipo tão caricato, elitista e mal-pensado do que é considerado uma família média americana que eu me perguntei se ainda estava vendo um drama sério. Vale ressaltar que todas as instâncias de humor do filme são forçadas e previsíveis. O roteiro é parecido com o de todo "road-movie" envolvendo um motivo chave melancólico para a viagem. Nesse caso, a mãe da família comete suicídio (não é um spoiler, é o que coloca o filme em movimento), e ela não é muito mais que um artificio de roteiro, pois só sabemos através de partes da personalidade dela através de algumas falas espalhadas pelo filme, e o único momento em que ela realmente "aparece" em cena, não é o suficiente para ser considerado desenvolvimento de personagem. Talvez a intenção fosse mostrar apenas a memória dela através de terceiros, mas isso poderia ter sido feito com uma atriz, interpretando uma personagem, com certo esforço, algo melhor pensado que algumas linhas de diálogo colocadas de forma sistemática ao longo do filme. Previsibilidade nem sempre é algo ruim, mas da forma como foi executado, pareceu-me que estavam cumprindo uma lista, sem muita preocupação com diferencial.
Nesse filme, existe até uma versão da cena existente em basicamente todos os "road-movies" independentes, a cena em que o garoto estranho do grupo tem um breve romance com uma garota de personalidade totalmente oposta à dele, em uma parada na estrada, geralmente um hotel, mas nesse caso, um estacionamento de trailers. É, segura essa inovação!
Além do que já foi citado, o roteiro possui algumas contradições internas e conveniências que realmente ilustram quanto uma execução fraca pode afetar uma boa ideia.
Eles precisavam achar um motivo para ilustrar o amadurecimento do personagem de Viggo Mortensen, e para isso, o vemos orientando uma de suas filhas a subir em um telhado para executar determinada tarefa, e essa garota, que teve treinamento rigoroso na selva, em terrenos irregulares e escorregadios, escorrega e cai de um telhado. Não era uma cena de chuva, não era um telhado em estado de decadência, mas um telhado limpo, com a manutenção em dia. Tudo isso para que tenhamos uma cena onde Viggo Mortensen olha para um raio x, fingindo choque e preocupação, ouvindo quão sortuda a garota foi por não ter sido fatal. Na última cena do filme, após cometerem o crime de exposição de cadáveres em nome do desejo de uma personagem mal desenvolvida, eles cremam o corpo da mãe, e tocam uma versão hippie do que afirmam ser a música favorita dela. O nome da música? Sweet Child O' Mine, uma grande sucesso comercial dos Gun's 'n Roses, e uma música bem convencional, contradizendo totalmente o que foi estabelecido a respeito da mãe na pouca caracterização que ela teve.
O mais triste é que o filme é competente o suficiente em alguns aspectos básicos, como cinematografia (previsível, mas cumpre seu papel) e ritmo, de tal forma que percebe-se que o grande problema não foi a falta de competência de uma equipe que estava genuinamente tentando fazer algo bom e único. O que percebe-se, na verdade, é que Capitão Fantástico é um produto, o resultado de um comitê de executivos de estúdio reunidos em uma sala, olhando para resultados de pesquisas de grupos de foco, e produzindo algo com as características adequadas. Infelizmente, a direção digna de uma linha de produção e as atuações (que variavam de medianas a ruins, Frank Langella sendo a única boa exceção à regra) asseguraram que o resultado final fosse medíocre. O resultado final é um produto cuja natureza ironicamente contradiz com a mensagem que supostamente está tentando, e visto que a resposta do público foi bem positiva, podemos esperar mais do mais do mesmo no futuro.
PS: "Propaganda comunista" não é um dos "problemas" do filme. "Anti-capitalista" nem sempre se traduz em "comunista". Talvez em uma análise bem superficial e simplista o filme tenha um forte viés comunista, mas nada na mensagem final implica tal viés.
Batalha Real
3.6 588 Assista AgoraNão esperava muito, mas fiquei surpreso com o cuidado e atenção que esse filme recebeu. A premissa pode ser considerada absurda, de maneira objetiva, mas a impressão que tive é que tanto o roteirista quanto o diretor têm consciência do absurdo, portanto não passam muito tempo tempo estabelecer o motivo, mas desenvolver a parte central da trama como um pesadelo, de uma forma quase surreal, sabendo quando estabelecer um tom mais sério, mais melodramático, quando utilizar a violência exagerada da maneira certa, e quando é adequado o uso de humor negro. A atuação pode não ser considerada "boa" nos critérios mais tradicionais, mas é perfeitamente adequada para o tom (ou melhor, a mescla de tons) que o filme estabelece, que não vejo como um problema. É surpreendente ver um filme com adolescentes idiotas em uma situação de pânico agindo com adolescentes idiotas em uma situação de pânico, e ficar claro que são decisões propositais e pensadas de roteiro, e não artifícios forçados e convenientes. É uma alívio com as tramas de romance, que poderiam ter baixado o nível do filme, complementam a natureza adolescente dos personagens, contrastam de forma linda com a carnificina, e por essa complementaridade, não parecem desnecessárias. O elenco é grande, mas os personagens importantes para a trama recebem desenvolvimento o suficiente para que a presença deles na trama seja relevante. A cinematografia é muito bonita e bem executada, não sei dizer ao certo, mas acredito que BR não tenha sido filmado em sets, na maior parte do tempo, mas em localidades reais, com muitas tomadas amplas que aproveitam a paisagem natural da ilha. As cenas de ação são coerentes e bem editadas, conseguindo passar uma sensação de pânico mas manter a coerência, com poucos cortes, algo raro até mesmo em produções de alto orçamento. Algo que me incomodou nesse aspecto foi que em algumas cenas é bem evidente que apenas jogaram o sangue falso por cima das roupas do autor, sem se preocupar em maquiar alguma ferida, ou dar a impressão de profundidade ao ferimento, mas não é algo que interfere muito na qualidade do filme, pois até a forma cômica e exagerada como alguns personagens reagem aos tiros complementa o tom do filme. É bom ver a preocupação com consistência (as zonas de risco e o anúncio dos alunos mortos em cada dia, por exemplo). Não sei dizer como é comparado ao livro, pois nunca o li, mas posso dizer duas coisas: uma adaptação deve ser avaliada em seus próprios méritos, e fidelidade ao material original nem sempre se traduz em qualidade objetiva.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraApesar de um certo descaso com continuidade (Wolverine tem garras de Adamantium no tempo presente do filme, mesmo se passando depois de Wolverine: Imortal) e de terem tirado qualquer participação da Vampira nesse filme, que ajudava a contextualizar melhor a história (mas as cenas dela ainda estão presentes na versão estendida), os elementos nesse filme funcionam tão bem em conjunto que esses problemas não importam muito. A dinâmica entre Xavier, Raven, Magneto e Wolverine é bem trabalhada, os efeitos são bons, a trama é bem construída e se desenvolve a um ritmo consistente. Apesar de ser ao mesmo tempo prequel, continuação e reboot, e contar com vários personagens, o resultado final é satisfatório e coeso.
Tudo Por Ela
2.6 176O roteiro é fraco, assim como as atuações, mas esse filme é um projeto de paixão, com a intenção de ser uma homenagem aos filmes de terror clássicos da década de 70 (em especial "The Texas Chainsaw Massacre"). Isso fica bem evidente na cinematografia, e por mais que o filme tenha pontos negativos, a cinematografia é linda, e estabelece a atmosfera do filme de forma efetiva, é como a perfeita tarde de verão traduzida em uma película. Embora os atores sejam bem medíocres, no geral, Amber Heard foi uma boa escolha (admito que ela foi uma das maiores razões para eu ter visto o filme por inteiro pela primeira vez, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos ). O filme é bem medíocre no geral, mas ainda assim, é um dos meus favoritos, mesmo que só pela fotografia e pelo fato de ser uma homenagem sincera, mesmo que um tanto inepta, à década de 70.
Star Wars, Episódio III: A Vingança dos Sith
4.1 1,1K Assista AgoraA melhor das prequels? Sim, mas falar que o "Episódio III" é bom tendo I e II como parâmetro é o mesmo que receber um prato escarrado em um restaurante, e considerar uma boa refeição simplesmente pelo fato de que das duas vezes anteriores o chef simplesmente achou uma carcaça de algum animal atropelado na rua, e jogou no prato. Ainda é um péssimo filme, com atuações medianas, no melhor dos casos, péssimo uso de CGI, um roteiro que provavelmente foi escrito em um fim de semana depois de algumas cervejas, e repleto de drama forçado e sem substância. Não entendo como, 12 anos depois do lançamento, o fim do hype e todas as falhas óbvias expostas, esse filme ainda tem uma opinião popular favorável. Deve ser falta de Mr. Plinkett no coração...
Star Wars, Episódio II: Ataque dos Clones
3.7 775 Assista AgoraO pior filme da franquia, disparado, mas uma excelente comédia.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista AgoraNão sei quem são os principais culpados pela qualidade do filme: a massa de críticas infundadas direcionadas à "Prometheus" (um bom filme, não isento de falhas, mas a maioria das críticas são objetivamente fracas e infundadas) ou o estúdio, que resolveu escutar tais críticas, e interpretá-las de uma maneira ainda mais distorcida. O roteiro é tão fraco e as situações tão forçadas e absurdas que seu nível de apreciação pelo filme será muito maior se for visto como uma comédia. Personagens supostamente bem preparados agindo como idiotas em nome de conveniência de roteiro? Acho que isso são uns 3/4 do filme, no mínimo. O filme possui alguns pontos positivos, como a cinematografia ( não chega aos pés de "Prometheus" nem ao menos nesse aspecto, mas ainda assim é muito bem feita) e a dupla atuação de Fassbender como David e Walter é excelente, mas esses pontos não são o suficiente para salvar o filme. "Alien: Covenant" falha como continuação de "Prometheus", como prequel de "Alien", e como filme, no geral.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista Agora"Estrelas Além do Tempo" é mais um filme "baseado em uma história real" no melhor estilo oscar-bait, o tipo de filme que é indicado ao Oscar todos os anos, de uma forma ou de outra, o que significa que apesar de ser inspirado em eventos reais, os personagens agem como esteriótipos seguros e previsíveis de filmes de drama, não como pessoas reais, mas a visão hollywoodiana preguiçosa e superficial de um ser humano. As situações, da mesma forma, não se desenrolam de forma natural, mas com todas as pausas dramáticas, diálogos padronizados e ritmo de um produto criado por um comitê de executivos, e depois de ver tantos filmes supostamente baseados em histórias reais, me pergunto como em todos eles, apesar de se passarem em períodos diferentes, com diferentes pessoas, de diferentes realidades, posições geográficas e realidades sociais e financeiras, todas essas "pessoas reais" agem de maneira estranhamente semelhante às mesmas situações. A cinematografia é previsível, e o diretor parece não se importar com o fato de que cinema é uma mídia visual. Das Três atrizes principais, nenhuma é ruim, objetivamente, mas apenas Taraji P. Henson parece se importar em atuar acima da média, Octavia Spencer e Janelle Monáe apenas seguem o caminho previsível do filme. Kevin Costner intrepreta Kevin Costner, que, mesmo não sendo uma atuação ruim, é o mesmo personagem que ele interpreta em muitos outros filmes. Jim Parsons interpreta uma versão misericordiosamente silenciosa Sheldon Cooper, com os mesmos trejeitos forçados, o tipo de atuação que se espera de uma série de baixa qualidade como "The Big Bang Theory", mas não de um filme de 25 milhões de dólares. Por último, existe o argumento de que a mensagem que o filme passa é importante, mas uma boa mensagem não significa, automaticamente, um bom filme. Se a intenção dos envolvidos fosse realmente honrar e celebrar as realizações das três mulheres reais que protagonizaram os eventos retratados, haveria um maior comprometimento com verossimilhança. e um maior esforço e cuidado em todos aspectos, como direção, atuação e cinematografia, ou fariam um documentário a respeito. Não é um filme ruim, mas é apenas mediano, e ao meu ver, boas ideias não o salvam de uma execução medíocre.
Resident Evil 6: O Capítulo Final
3.0 952 Assista AgoraNenhum filme desta franquia pode ser considerado bom, ou ao menos medíocre, mas este último consegue ser ainda pior que seus antecessores. Ainda temos o de sempre: atuações ruins, um roteiro que se preocupa com continuidade tanto quanto Milla Jovovich se preocupa com a própria carreira atualmente, CGI em um patamar tão alto quanto a preocupação que a franquia demonstrou em ser fiel aos jogos, personagens pouco desenvolvidos e e tampouco interessantes que morrem para que o filme tenha um típico momento de drama forçado, e a glorificação de uma péssima atriz e protagonista. Neste filme, porém, a edição é ainda pior, tornando as cenas de ação ainda mais incoerentes que nos filmes anteriores, e isso é realmente um feito. Não ajuda o fato de que o filme aparentemente é mais escuro que os anteriores, agravando o pesadelo esquizofrênico que são as cenas de ação. Os filmes anteriores ao menos podiam ser aproveitados pela sua ridiculosidade inerente, e tornavam-se divertidos pelo fato de que tentavam se levar a sério. Este último, porém, nem ao menos permite que o espectador ria de seus defeitos, pois a edição provavelmente lhe dará uma enxaqueca ou causará um aneurisma. O aspecto mais admirável deste filme, e de toda a franquia cinematográfica, é o fato de que tais trabalhos, com quase nenhum mérito como filmes e um extremo descaso e desrespeito com os fãs do material original, tenham durado quinze anos e seis filmes.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraComparado ao resto da saga, Rogue One é o filme que fica exatamente no meio: sem dúvidas é superior aos episódios I, II e III, porém, não chega aos mesmos níveis da trilogia clássica, ou do Episódio VII. O filme começa bem, com uma abertura tensa e atmosférica, que fez com que eu me lembrasse um pouco de bastardos inglórios. Infelizmente, logo depois, o roteiro parece perder foco, apresentando vários planetas nunca antes vistos no universo cinematográfico da franquia. Porém, logo então notam-se alguns dos principais problemas que estarão presentes no filme: Gareth Edwards parece ter uma certa dificuldade em deixar a câmera parada em cenas de diálogo que deveriam ser momentos calmos para estabelecer o universo e desenvolver personagens. O enquadramento também mostrou-se um grande incômodo para mim, pois onde TFA contava com amplas tomadas que forneciam às cenas de diálogo uma certa profundidade, em Rogue One, na maior parte do tempo, a câmera está sempre desconfortavelmente próxima ao rosto dos atores. Eu sei que a intenção de Gareth Edwards provavelmente foi a de passar uma sensação semelhante a um drama com uma temática de guerra, mas esta escolha não beneficia a cinematografia de um filme Star Wars.
Ainda no assunto dos novos planetas apresentados, onde TFA também contava com amplas tomadas com excelente uso de iluminação e cores, que faziam um bom trabalho em estabelecer a atmosfera distinta de cada local, Rogue One conta com tomadas genéricas e extremamente curtas, onde nota-se que o CGI deste filme é consideravelmente inferior ao de TFA.
Ao fim do primeiro ato, o roteiro decide cortar um pouco o açúcar e estabelecer-se em um planeta por mais de dois minutos. Neste ponto, parece que o filme irá assentar-se em um ritmo confortável, com uma cena climática e bem dirigida em um planeta chuvoso. Porém, os personagens são fracos, não são bem desenvolvidos, e a falta de empenho na atuação, que pode ser culpa tanto dos atores como do diretor (Gareth Edwards demonstrou em Monstros e Godzilla que conseguir uma reação genuína de seus atores não é seu forte). Comparando mais uma vez a TFA, onde o elenco principal deste contava com bons atores, com boas interpretações, e uma boa direção, Rogue One não se esforça muito em fazer com que o público crie laços com este grupo em uma tão falada "missão suicida". Cassian Andor é o personagem menos interessante do elenco, que embora inicialmente mostre promessas de tornar-se um personagem interessante, como um rebelde agindo de forma, bem, rebelde, a falta de empenho na interpretação sabota este que seria um personagem promissor. Jyn Erso, personagem de Felicity Jones, sofre do mesmo problema, embora seja a personagem com a história melhor desenvolvida do grupo, a interpretação é parte importante da construção de um personagem. Chirrut e Baze poderiam ter sido personagem muito interessantes, se nos fosse explicado mais a respeito de como eles se conheceram, e como tornaram-se amigos. O vilão da vez, Krennic, é, como todos os novos personagens neste filme, pouco memorável, tendo como característica mais notável uma língua presa.
Isto torna-se um problema neste filme em especial, pois uma boa decisão dos roteiristas e diretores foi a de manter o caráter de "missão suicida" da história, o que significa que todos os personagens principais morrem. Infelizmente, com a falta de desenvolvimento e empenho na atuação dos mesmos, cenas que deveriam ser grandes momentos emocionais tornam-se tentativas cínicas e calculadas de tornar as situações mais dramáticas aos olhos do expectador.
O terceiro ato é quando o filme realmente brilha, mas não é sem seus problemas. É neste momento que vemos algumas cenas de ação bem executadas, um cenário atmosférico e bem estabelecido, e um uso do estilo "documental" de ângulos de câmera e cinematografia que quase pode ser considerado realista. Porém, a insistência no uso de cortes rápidos e a "shaky cam" mais uma vez prejudicam o filme.
O problema citado acima é agravado no momento em que a frota rebelde surge no planeta onde o terceiro ato do filme ocorre, para fornecer suporte ao grupo que encontra-se na superfície. O primeiro problema é que o fato de o grupo contar com o apoio de um gigantesco "Deus-Ex Machina" para roubar os planos da Estrela da Morte praticamente destrói a proposta de um pequeno grupo renegado desacatando as ordens da própria rebelião, diminuindo o impacto de seus atos. Outro problema é que com os cortes rápidos pulando da superfície para o espaço, e vice-versa, Gareth Edwards nos fornece com a que é, provavelmente, a batalha espacial mais incoerente dentre todos os filmes da franquia. Em compensação, a aparição de Darth Vader nos últimos minutos do filme é genuinamente bem executada e assustadora, embora também seja maculada pelo fraco uso do CGI presente em outros momentos de Rogue One.
Em duas cenas o filme conta com computação gráfica para a reconstrução facial de antigos atores, possibilitando assim a aparição de antigos personagens da franquia. Embora na primeira seja bem óbvio que se trata de CGI, a segunda, aparecendo nos últimos segundos do filme, é mal-executada e completamente desnecessária, um exemplo claro de "fanservice" cínico e preguiçoso.
Ironicamente, muitas das reclamações que não constituíam problemas objetivos em TFA mostram-se como problemas bem reais em Rogue One. O primeiro, apesar de também contar com várias ocasiões de "fanservice" e utilizava-se de muitos elementos de ANH, contava com personagens novos interessantes, boas atuações, boa direção, cinematografia, e um óbvio cuidado e dedicação por parte da equipe no aspecto técnico o suficiente para ser considerado um bom filme, em seus próprios méritos.
Rogue One, embora não seja o que eu considere "ruim", é apenas marginalmente acima da média. Conta com algumas boas cenas de ação, e consigo respeitar a tentativa de contar a história em um filme da franquia que não seja focado na jornada de um prodígio da Força, algo que antes só havia ocorrido em jogos ou outras mídias do universo expandido. Além do mais, finalmente ver os cristais de utilizados na construção de sabres de luz (chamados "kyber" nessa continuidade) foi algo que me deixou animado em relação aos futuros filmes da franquia principal. Porém, falta a paixão, o entusiasmo, e o cuidado presente nos melhores filmes da franquia, com muitas instâncias de "fanservice" sem a substância necessária. Minhas expectativas eram baixas em relação a este filme, e era bem claro, de um ponto de vista objetivo e especulativo, que não seria tão bom quanto TFA. Mesmo assim, ficou abaixo das minhas expectativas. Eu respeito a opinião daqueles que preferirem Rogue One ao Episódio VII. Porém, dizer que o primeiro é superior ao segundo por conta de "ser uma história original" e "não ser um remake de Uma Nova Esperança" é uma análise superficial, tendenciosa e pouco objetiva, tanto em relação à franquia Star Wars como em relação a filmes em geral.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraSpotlight é um filme competente, mas não muito mais que isso. É uma premissa interessante, com bons atores, mas é tudo empacotadinho no formato "Oscar-bait". A cinematografia é convencional a ponto de ser preguiçosa, o ritmo é previsível, e o diretor não faz total proveito do bom elenco, pois apesar de interpretarem pessoas reais, ainda agem como estereótipos vistos na maioria de filmes de drama. Da forma como foi executado, provavelmente teria sido melhor como um documentário, mas sem os nomes do elenco, não teria atraído tantas pessoas ao cinema, nem teria concorrido ao Oscar. Mesmo assim, vale a pena ver uma vez, e não mais que isso.