Eu tinha uma relação especial com este filme quando criança. Eu o assisti dezenas de vezes no SBT e, ainda que o título deixe bem explícito que é uma sequência, por muito tempo o tratei como se fosse o filme original (uma vez que nunca tinha assistido ao Os Pássaros do Alfred Hitchcock). Este talvez tenha sido o primeiro filme de Terror que assisti na vida e algumas cenas dele ainda me assombram até hoje. Tendo dito isto, revisitá-lo tantos anos depois foi uma experiência no mínimo curiosa. Mesmo reconhecendo vários momentos que me marcaram na minha infância, fiquei surpreso ao perceber como eu simplesmente não me lembrava de NADA do enredo. E provavelmente foi pro meu próprio bem, pois não imagino que teria algum carinho por este filme caso na época eu tivesse idade suficiente pra absorver toda a BOMBA que é Os Pássaros 2: O Ataque Final. Esta é uma obra cujo crédito de direção é atribuído a Alan Smithee, que é um pseudônimo usado quando o diretor renega o próprio filme e prefere não ter seu nome vinculado a ele. É óbvio que eu não sabia disso quando assisti há mais de 20 anos, mas já não é um bom sinal. O ressentimento do diretor é bastante compreensível. Este não é um trabalho que pega muito bem ter no currículo. Tudo nele é cafona e nada parece ter tido sentimento (ou orçamento) suficiente pra funcionar de forma satisfatória. “Numa pequena cidade litorânea, pássaros inexplicavelmente começam a atacar as pessoas”. É uma premissa simples (a mesma base de Os Pássaros) e que depende diretamente da trama desenvolvida a partir disso, principalmente dos personagens que vivem neste universo. E esta é justamente a maior falha deste filme: a história dele é exaustivamente desinteressante e seus personagens não ficam muito atrás. O flerte sagaz entre Tippi Hedren e Rod Taylor que movia o filme do Hitchcock é substituído nesta continuação por uma interminável crise conjugal do casal protagonista, cuja família tenta se recuperar de uma terrível tragédia. Se já não bastasse o luto, o fantasma da infidelidade e duas filhas insuportáveis, pássaros começam a se comportar de forma misteriosamente agressiva, justo no momento em que a família resolve passar uns tempos numa casa de praia. Junte a esta receita um chefe galanteador (ou assediador, se preferir) e um prefeito que se recusa a reconhecer o perigo iminente para não afetar a economia local, e o desastre está instalado. Em todos os sentidos! As atuações do elenco não conseguem entregar muita química ou naturalidade e os efeitos visuais se levam muito mais a sério do que deveriam. Com exceção de algumas cenas efetivamente assustadoras, com efeitos práticos criativos e um bom trabalho de maquiagem, não existem muitos méritos pra serem destacados. Nem mesmo a presença da própria Tippi Hedren, num novo papel, traz algum sopro de vida a esta continuação. Nada além de uma fórmula barata e referências vazias ao filme original. Hedren, aliás, se arrependeu de ter participado dessa palhaçada. Infelizmente não há como usar um pseudônimo pra se esconder quando você trabalha em frente às câmeras. É inacreditável que a Universal Pictures tivesse a intenção inicial de lançar Os Pássaros 2: O Ataque Final nos cinemas! Ainda bem que o resultado final fez os produtores colocarem a mão na consciência e desistirem. O filme acabou sendo vendido pra Showtime e se tornou o que deveria ter sido desde o início: um filme B para TV a ser reprisado até cair no esquecimento.
Depois de dois filmes sólidos, o casal Warren embarca num caminho esburacado bem aquém de suas aventuras anteriores neste terceiro capítulo da franquia Invocação do Mal. Tudo parece meio morno, pouco inspirado e, me dói dizer, genérico. Apesar de trazer de volta o carisma dos protagonistas e elementos da fórmula que consagraram a franquia, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é inferior a seus antecessores tanto em estilo quanto em ritmo. Com exceção de algumas boas ideias (que infelizmente não vão a lugar nenhum), este filme não traz nada de novo à mitologia do casal de paranormais e acaba soando frustrantemente anticlimático. Não é ruim, apenas é... menor. Muito, muito menor do que deveria ser. Acho que James Wan me deixou mal acostumado.
Eis um filme assumidamente estúpido, no melhor e no pior sentido da palavra. Toda a falação científica proposta não tem cabimento nenhum e existe exclusimente a serviço do entretenimento. E tudo bem. Depois do divertido Godzilla: Rei dos Monstros, o MonsterVerso mergulha fundo na Ficção Científica (com ênfase no "ficção") e deixa de lado qualquer compromisso com o realismo. A intenção de Godzilla vs. Kong é simplesmente criar desculpas esfarrapadas pra justificar cenas grandiosas com visuais bacanudos. E consegue com louvor. Os personagens humanos não têm a menor profundidade e estão lá simplesmente para que a história avance, como é de costume nos filmes desta franquia (afinal de contas, a história não é sobre eles). É louvável o fato de transformarem o Kong no condutor emocional da trama. Mesmo com as limitações do roteiro, o filme é bem sucedido em fazer o público se simpatizar com o titã peludinho. Ele é o real protagonista dessa farofa. Mas ainda continuo torcendo pro Godzilla. Foi mal, Kong.
P.S.: o último ato deste filme é COVARDE e basicamente soa como um déjà vu de Jogador Número Um.
É bastante poético (e até irônico) que um dos filmes mais honestos e proeminentes sobre a construção da sociedade estadunidense moderna seja obra de um cineasta de outro país. Nada como o olhar de um estrangeiro para desconstruir a falácia do chamado “sonho americano”.
Eu admiro muito como esse filme tenta. Tenta estabelecer um universo com regras e mitologia próprias, tenta contrabandear elementos bizarros pra dentro de um blockbuster de verão, tenta construir personagens divertidos e com alguma profundidade. Ele falha em tudo isso, ok, mas realmente tenta. A principal falha deste filme talvez seja sua indecisão de se levar a sério ou não, o que se traduz numa sucessão de situações incoerentes que oscilam entre o grotesco e o cartunesco. Ambos casos são agravados pelos efeitos visuais inexplicavelmente ruins que parecem ignorar todas as regras da Física (assim como as do bom senso) e tentam criar uma ambiciosa estética apocalíptica com efeitos semelhantes aos de um videogame do início dos anos 2000. Pelo lado positivo: Ryan Reynolds e Blake Lively continuam casados uma década depois de terem se conhecido nas filmagens desse filme, o que prova que o Amor pode surgir até mesmo das piores tragédias.
Remakes costumam ser bastante complicados. Eles precisam remeter ao material no qual foram inspirados e, ao mesmo tempo, ser criativos o suficiente para justificar sua produção e se esquivar de inevitáveis comparações. Ainda que visando atingir a maior parte do público, não se pode ignorar os fãs da obra original, que ora animam-se com o projeto, ora torcem o nariz como xiitas radicais diante de uma nova interpretação de sua bíblia. E em se tratando de 'Godzilla', a situação é ainda mais delicada. Quer dizer, ninguém estava necessariamente animado por um novo filme americano do kaiju gorila/baleia porque a única experiência dele em Hollywood, comandada pelo cineasta-catástrofe alemão Roland Emmerich, teve um desempenho tão fraco que a intenção de uma possível sequência do filme permaneceu na geladeira da Sony por anos. Até que o contrato com a Toho, empresa criadora do monstro, expirou e a Legendary Pictures, da Warner Bros., adquiriu os direitos para realizar um novo remake americano. Desde então, muito se especulou. Afinal, além de fazer um filme protagonizado pelo lagartão sem que parecesse algo gratuito, a grande missão seria desvincular o nome do bicho da imagem da iguana agigantada por radiação que Emmerich levou às telas em '98. E o diretor Gareth Edwards, ainda que com algumas ressalvas, conseguiu. O que se vê no novo 'Godzilla' é algo muito mais etéreo e, ao mesmo tempo, impactante, chegando a honrar o quase-lirismo brucutunesco do gênero tokusatsu, já conhecido através de tantos filmes e seriados orientais e reciclado para os cinemas americanos pelo diretor Guillermo Del Toro no excelente 'Pacific Rim', de 2013. Porém, ao contrário do consagrado blockbuster de Del Toro, 'Godzilla' prioriza um clima de aparente seriedade e soturnice, herdada do filme clássico de Ishirō Honda, optando por deixar de lado a diversão-pipoca e o clima de passatempo de verão. A proposta promissora apresenta um Godzilla digital bastante fiel ao da Toho, respeitando suas origens e a forma anatômica de suas encarnações anteriores no Cinema (até mesmo o rugido do monstro foi recriado através de métodos analógicos, como foi em '54. E é de gelar o sangue!). A presença apoteótica dada ao bicho é espetacular, sendo mostrado como um deus, uma verdadeira força da Natureza, física e verossivelmente perfeito. Infelizmente a nova empreitada acaba repetindo também várias falhas do original, sendo a mais gritante delas a parca utilização de seu elenco. Tudo que o roteiro exige de Aaron Taylor-Johnson, por exemplo, é que ele seja um mero soldado do esquadrão anti-bombas lindo-tesão-bonito-e-gostosão, o que seria ótimo numa continuação de 'Magic Mike' mas não funciona neste caso. E a Feiticeira Escarlate do próximo filme dos Vingadores, Elizabeth Olsen, também não desperta muita simpatia, tendo que se contentar em fazer cara de susto em todas as cenas nas quais aparece. Ken Watanabe, único oriental no elenco principal, está muito bem como o cientista-explicador da estória, clichê do gênero que ele abraça com orgulho. Mas nada justifica a péssima utilização dos talentos de Juliette Binoche, Sally Hawkins e, principalmente, Bryan Cranston. Aliás, muita gente (inclusive eu) foi ao cinema esperando assistir um filme protagonizado pelo Cranston, como os trailers e spots de TV vinham sugerindo há tempos. E leva um ato inteiro depois que o personagem dele sai de cena para entendermos algo que deveria ter sido explicitado logo de início: este não é um filme de elenco, e muito menos um filme de roteiro, e sim um puro filme de monstro. E dos bons! Mas, convenhamos, se você planeja produzir um filme de monstros convencional, não deve escalar um elenco classe A com nomes (caros) capazes de criar grandes expectativas no público para depois, simplesmente, desperdiçar suas participações. É bem o contrário do que se vê na primeira experiência do britânico Gareth Edwards com longas-metragens, a Ficção Científica independente 'Monsters', que priorizava justamente a abordagem das relações humanas afetadas por, vejam só, monstros. Os destaques ficam para os ótimos efeitos visuais, responsáveis por algumas das cenas mais antológicas já vistas neste tipo de filme (a porradaria come de uma maneira maravilhosamente homérica entre Godzilla e criaturas à la 'Cloverfield'), e a espetacular e monstruosa trilha sonora de Alexandre Desplat, que dá um delicioso tom de homenagem musical ao gênero, equiparável com a trilha de John Williams para o 'Guerra dos Mundos' de Spielberg e a faixa que Michael Giacchino compôs para 'Cloverfield'. Visualmente competente e realizado com o mesmo esmero técnico que os antigos filmes de monstro (à sua época, claro), o 'Godzilla' de 2014 é entretenimento para a mente e impressiona por sua escala grandiosa. Mas, em tempos de roteiros mirabolantes repletos de sub-plots, a abordagem simplista do filme pode soar um tanto decepcionante, devido aos gritantes furos na trama e às soluções de roteiro apressadas e forçadas. Principalmente se comparado ao original, que se passava num cenário pós-guerra de simbolismo patriótico, o enredo deste parece, digamos, vazio. Trocando em miúdos, do ponto de vista narrativo, pode ser considerado até mesmo um retrocesso cinematográfico. E talvez seja, mesmo. Mas que é espetacularmente foda, ah, isso é, sim!
Apenas recentemente me dei conta de que nunca havia conferido o 'Godzilla' original (não na íntegra, pelo menos). Então, antes de descobrir o que Hollywood reservava no novo filme americano do lagartão, resolvi conhecer a obra original. E fiquei simplesmente surpreso. 'Gojira' não apenas apresenta o kaiju gorila/baleia do título de maneira respeitosamente economica e pontual, assim como todo rei deve ser introduzido, como também vai muito além do típico filme de monstro. Na época em que o filme foi concebido, o Japão se recuperava do choque dos ataques a Hiroshima e Nagasaki, e Gojira aparece como uma válvula de escape de toda a nação, uma metáfora fantasiosa a quem pudessem temer mais do que as bombas que mataram milhares de pessoas em 1945. Na estória, Tóquio é surpreendida por um monstro pré-histórico gigante, despertado pela radiação consequente do lançamento da bomba atômica. E aparentemente nada, a não ser uma outra inventiva arma química, poderia deter tal ameaça. Com atuações caricatas de seu elenco, o segredo do sucesso e da longevidade deste filme-catástrofe está em seu roteiro, repleto de referências à crise japonesa posterior aos atentados que abalaram o espírito do país, seus efeitos visuais efetivos, apesar de datados, e, claro, seu protagonista "da altura de um prédio de 30 andares" (por mais que alguns erros de escala o façam parecer bem menor). Gojira é retratado como uma força devastadora capaz de dizimar tudo em seu caminho, uma clara analogia ao medo e à paranoia que a guerra insuflou no coração dos orientais. Essa é a principal qualidade do 'Godzilla' original, que o diferencia dos demais filmes-catástrofe que lotaram os cinemas nas últimas décadas: autenticidade e sensibilidade. Enquanto tais produções simplesmente contam estórias, muitas vezes desinteressantes e vazias, 'Gojira' é uma alegoria baseada num acontecimento real e deu voz a um país inteiro, ajudando a reconstruir a identidade nacional do Japão, então, desesperançoso. Os apelos por socorro de quem foge do monstro marinho da tela é, na verdade, um requiem para as vítimas da bomba que pôs fim a uma guerra e redefiniu as regras do jogo. Tanto simbolismo, tanto poder ilustrados por um monstro de borracha pisoteando uma maquete. É muito, muito mais do que qualquer efeito de computador poderia fazer.
Este, sim, é espetacular. Muito superior à maioria dos blockbusters de verão que Hollywood nos empurra goela abaixo, este 'A Ameaça de Electro' supreende por sua qualidade técnica e pela sua narrativa simplista e divertida que conserta várias falhas da aventura anterior do Cabeça-de-Teia nos cinemas (o morno 'O Espetacular Homem-Aranha', de 2012, que reiniciou prematuramente a franquia e não foi o suficiente para tirar o gosto amargo deixado por 'Homem-Aranha 3', lançado apenas 5 anos antes). Além da trilha instrumental que mistura orquestra, guitarras e sintetizadores, mais uma do Hans Zimmer (esse homem não dorme nunca?), e a montagem ágil que pouco deixa tempo para o público respirar, o excelente timing do elenco principal conquista quem deixa o haterismo de lado e se permite ser conquistado. Vai muito além do típico filme de super-herói e acerta ao não se levar a sério na maior parte do tempo, não tendo medo de soar cartunesco ou exagerado, como um gibi. E não deveria ser exatamente assim? As várias cenas hilárias e momentos feel-good de comédia romântica (reflexo do trabalho mais conhecido do diretor Marc Webb, '500 Dias com Ela') deixam o público despreparado para o acontecimento chocante que quase põe fim à carreira de Peter Parker como justiceiro. Mas nada comparável aos joguinhos sádicos e psicológicos de 'O Cavaleiro das Trevas' ou a filosofia superheróica de 'Watchmen': trata-se de mais um episódio na saga cinematográfica do Amigão da Vizinhança. E é muito, muito bom tê-lo de volta. E, desta vez, pelos motivos certos.
Não há nenhuma pesquisa ou estudo oficial que explique porquê é tão gostoso ver pinguins digitais cantando e sapateando. Mas caso houvesse, eu seria um dos primeiros a me oferecer pra participar. Com um roteiro bem-amarrado, personagens carismáticos e sequências musicais de derreter o coração 'Happy Feet' tem uma mensagem tão bonita e universal que o torna um filme familiar obrigatório. Além disso, é um deleite para os olhos. Belissimamente fotografado, apresenta cenas de absurda verossimilhança e efeitos visuais condizentes. Para completar, um elenco estelar empresta suas vozes aos tais pinguins performáticos, com destaque para Elijah Wood, Robin Williams e Brittany Murphy, em seu último grande trabalho. Pra quem não conhece, deixo aqui um desafio: assista e tente não querer dançar.
Há quem ache interessante acompanhar o Robert Redford à deriva no oceano durante quase duas horas. Particularmente, não é o meu caso. Ainda assim, 'All is Lost' vale a pena ser assistido por causa de suas ótimas cenas de ação, as sutilezas de seu roteiro e, principalmente, pela memorável atuação de Redford, que protagoniza este arrastado drama de aventura com muito poder e poucas palavras
Além de uma inventividade aparentemente inesgotável, os anos 80 proporcionavam boas doses de violência em seus filmes. Era pequena a preocupação sobre se as obras ficariam restritas a apenas pequena parcela do público por causa de sua classificação indicativa ou como isso afetava a bilheteria. Bons tempos, deviam ser. Dentre vários títulos memoráveis desta época, 'RoboCop' foi um dos que mais me impressionou. Com um roteiro simples e bem-trabalhado, o filme usa de um elemento fantástico para mostrar a hipocrisia da sociedade, a corrupção da polícia, a manipulação das massas através da mídia e da propaganda. O protagonista é usado como gritante analogia do homem que se rebela contra o sistema que pretende mecanizá-lo (neste caso, literalmente). Me arrisco a dizer que 'RoboCop' é um dos filmes oitentistas imortalizados por reprises na TV e relançamentos em homevideo que melhor resistiu ao tempo. Seus temas e personagens continuam atuais e seus efeitos visuais, o mais moderno stop-motion da época (apenas substituído pelo CGI de 'Jurassic Park' alguns anos depois), convencem até hoje. Quanto ao seu contexto histórico, chega a lembrar o momento atual do Brasil. Talvez por isso José Padilha, mundialmente conhecido pela violenta franquia 'Tropa de Elite', tenha sido escolhido para modernizar esta estória num remake hollywoodiano. Aliás, ainda não assisti o remake, mas se for tão bom quanto o original, merece nossa atenção.
Ninguém pode negar que, para o bem ou para o mal, '300' foi um divisor de águas no Cinema contemporâneo. Com ele, o então novato Zack Snyder provou que era possível produzir um blockbuster feito quase totalmente com efeitos digitais por um orçamento enxuto e, mesmo fora da temporada de férias, faturar uma ótima bilheteria (no caso de '300', mais de 7 vezes o valor de seu custo). Com desempenho tão impressionante, era questão de tempo até a obra ser transformada em franquia. Baseado na ainda inédita e não-finalizada graphic novel 'Xerxes', de Frank Miller (que escreveu '300' quando ainda tinha mão e bom-senso pra isso), 'A Ascensão do Império' é ao mesmo tempo prequela e sequência, mostrando as origens do vilão do filme original, Rei Xerxes, e as consequências do embate de seu exército com os 300 de Esparta, tidos desta vez quase como mártires. Mas, diferentemente da cria de Zack Snyder, que se tratava de uma crônica que glorificava a guerra e o estilo de vida espartano, este filme dirigido por Noam Murro (quem?) se mostra muito mais político e racional. Ou ao menos tenta. Visualmente inspirado na fotografia do anterior, soa mais fluído e menos artificial, mas peca pelos excessivas cenas em slow motion, artifício usado muito mais comedidamente por Zack Snyder. A extravaganza de sanguinolência também está presente neste aqui, ainda mais graficamente forte, porém muitas vezes gratuita. Na verdade, algumas cenas mostram-se tão desnecessárias que a única explicação para terem sido incluídas no corte final do filme é a pura vontade de chocar o público. Dentre tais segmentos, vale mencionar uma das cenas de sexo mais bizarras e vergonhosas que o cinema vê em muito tempo. A ausência de bons protagonistas, uma vez que o Themistocles de Sullivan Stapleton é bem o oposto do Rei Leonidas de Gerard Butler, nos faz criar simpatia pela única personagem realmente interessante da película: a vilã Artemisia. E apenas ela, uma vez que até o próprio Xerxes, que deveria ter grande destaque, fica em segundo plano. Resultando em uma coletânea de tomadas debilmente belas e muito falatório desnecessário,
'A Ascensão do Império' apenas confirma a impressão deixada por 'Sucker Punch' em 2011: Zack Snyder é um roteirista muito ruim! Mas, mesmo assim, o cara ainda consegue entreter, se não a mente, os olhos (lembrando que, apesar de não ser o diretor, a equipe é toda dele). Destaque para os efeitos visuais dignos de replay e para os atores do elenco do filme original que voltam para mais um round de cenas em fundo verde e incongruência histórica.
Uma Ficção Científica psicológica e densa que emociona e faz pensar. Danny Boyle me conquistou por esta pérola aqui. Destaque para os excelentes efeitos visuais, o competente elenco internacional e a inacreditável trilha sonora composta por John Murphy e a banda eletrônica Underworld.
Muito se engana quem pensa que esta se trata de apenas mais uma aventura-solo de um herói Marvel. Ao contrário dos filmes protagonizados pelo brutamontes Rei do Trovão, que entretém mas pouco adicionam ao universo Marvel no Cinema, esta continuação de 'O Primeiro Vingador' tem ligação direta com 'The Avengers: A Era de Ultron', próximo episódio da multibilionária franquia iniciada com 'Homem de Ferro', em 2008, e apresenta um tom muito mais maduro e sombrio do que qualquer outra produção da Casa das Ideias. O Sentinela da Liberdade desta vez enfrenta fantasmas de seu passado e o ressurgimento de um antigo inimigo que ameaça não apenas a S.H.I.E.L.D. como também toda a Humanidade. Em pouco mais de duas horas, elos são quebrados, regras são reestabelecidas e algumas das cenas de ação mais embasbacantes e bem-coreografadas dos últimos anos são desdobradas quase que ininterruptamente, com violência a sangue frio (e praticamente inexistente! Cuén!), mas sem perder o timing do bom-humor tonystarkiano das produções anteriores. Destaque para o sagaz roteiro (com reviravoltas que deixam 'The Avengers' parecendo algo bastante idiota), os impressionantes efeitos visuais e o elenco classe A cheio de rostos conhecidos.
Se eu tinha alguma dúvida quanto ao talento de Elijah Wood como ator, ela acaba de se esvair numa gritante poça de sangue. O desempenho dele em 'Maniac' é merecedor de prêmios, estudos e, acima de tudo, atenção. No filme, Frank Zito, um jovem mentalmente perturbado, herdeiro da loja de restauração de manequins de sua recém-finada mãe, planta o medo no coração das nova-iorquinas, escolhendo randomicamente algumas delas pelas noites e as assassinando a sangue frio, usando seus escalpos como troféus para decorar suas "modelos". Incapaz de criar vínculos amorosos significativos, assombrado por sua mãe, uma ex-prostituta, o Maníaco se torna escravo de seus impulsos homicidas, aumentando sua lista de vítimas noite após noite. O que torna 'Maniac' ainda mais intenso e perturbador é o fato de que o filme praticamente inteiro é apresentado em perspectiva de primeira pessoa. Ou seja: quando Frank se depara com uma de suas garotas, acompanhamos a caça até o inevitável fim na ponta de sua faca, tudo devidamente mostrado em detalhes indigestamente hiperrealistas. O desconforto causado pela forte violência gráfica é apenas equiparável às perturbações psicológicas do protagonista, que sofre de alucinações tão monstruosas quanto suas próprias atitudes. No fim, Franck Khalfoun (que logo, logo será conhecido como roteirista e diretor do novo 'Amityville') entrega uma obra complexa e inegavelmente impactante. Na minha opinião, um dos melhores slasher movies dos últimos anos.
Com um enredo empolgante que vai se desenrolando de maneira notável e personagens hilariantemente sagazes, 'The LEGO Movie' impressiona por fazer graça da futilidade da sociedade moderna, explicitando de maneira crua, porém comedida, como as pessoas aceitam se tornarem "ninguéns" padronizados de um sistema que tenta ser perfeito. O fato de tal paralelo ter sido usado numa animação stop-motion tridimensional cujos cenários e personagens são feitos de peças que, teoricamente, podem formar qualquer coisa é apenas parte da genialidade do todo. Lotado de referências à cultura Pop e pencas do mais delicioso humor nonsense, o longa não tem medo de soar ácido ou absurdo demais para a plateia. É aí que muita gente, tardiamente, percebe que não se trata de um filme para crianças. Claro, não há nada de muito ofensivo que as impeça de assistir ou curtir o espetáculo. Mas o público com o qual 'The LEGO Movie' parece querer falar é o dos adultos que foram crianças inventivas e criativas mas tiveram sua essência roubada pelo mundo real, que busca uma suposta perfeição e considera perfeccionismo elogio. Sim, este é um filme-nostalgia. Ou um filme-homenagem, se preferirem. Ele convida todos a reviverem a própria infância (ou a apresenta, no caso da criançada atual que não tem tempo para ser criança). A nós marmanjos que brincávamos ou ainda brincamos de LEGO, há piadas quase que exclusivas para nós, incluindo cenas primorosas que tiram sarro das limitações de movimentos, encaixes e até mesmo da qualidade dos bloquinhos de montar. Diversão na maior das escalas. Crítica e público estão cantando em uníssono a música-tema do filme para dizer suas opiniões sobre ele: TUDO É INCRÍVEL!
Idealizado por Eduardo Coutinho, 'Jogo de Cena' começou com um anúncio de jornal que convidava mulheres para contarem em frente às câmeras suas histórias de vida. Das oitenta e três que responderam ao anúncio, vinte e três foram selecionadas para terem seus relatos registrados no Teatro Glauce Rocha. Meses depois, atrizes reinterpretaram as histórias contadas pelas personagens escolhidas. E é com este jogo que mistura realidade e ficção que Coutinho desafia o expectador, que, salvo pela participação de atrizes conhecidas, não tem pistas de quem está interpretando ou, de fato, depondo. Alguns dos melhores momentos, inclusive, são relatos das atrizes contando suas dificuldades em tentar reviver personagens genuinamente reais. Trata-se de um documentário simples, pretensioso e, sem exageros, excepcional. Faz sentir mais ainda a morte de Eduardo Coutinho, assassinado no início de fevereiro de 2014, muito possivelmente por seu próprio filho.
Aposto que muita gente especulou o que poderia ter acontecido com a criação do doutor Victor Frankenstein após o desfecho do romance escrito no início do século 18 pela britânica Mary Shelley. Bom, um tal de Kevin Grevioux resolveu imaginar uma possível continuação para a estória, mas da maneira errada, incluindo no enredo uma desinteressante guerra entre anjos e demônios que não passa de um "requentamento" do embate entre vampiros e lobisomens que o próprio Kevin escreveu para a fraca franquia 'Anjos da Noite'. No plot, o monstro humanóide criado com partes de corpos de pessoas e eletricidade é atacado por demônios enquanto vela o corpo de seu criador e acaba sendo resgatado por anjos (que por algum motivo são gárgulas), que o convidam para se juntar à sua Irmandade que visa combater demônios na Terra e proteger a Humanidade. Em outras palavras, do material original 'I, Frankenstein' pega emprestado apenas o nome. No mais, não passa de uma desculpa esfarrapada para fazer um blockbuster baseado numa obra com apelo popular. Sua proposta é fraca, seu desenvolvimento é falho e sua conclusão não é muito melhor. Os mirabolantes efeitos visuais parecem não servir para nada além de tentar disfarçar os buracos do roteiro, que é digno do esquecimento (ou do Framboesa de Ouro). No elenco, os excelentes Aaron Eckhart, Miranda Otto, Jai Courtney e Bill Nighy vivem os piores papeis de suas carreiras. Ninguém se salva. Não sei o que é pior: transformar um personagem interessantíssimo numa espécie de John Constantine piorado ou agradecer, cinicamente, à coitada da Mary Shelley nos créditos finais. No fim das contas, o monstro de Frankenstein pelo menos encontra um propósito para sua existência. Caso alguém descubra o deste filme, me avise.
Com traços de personalidade e personagens apaixonantes, 'Ernest et Célestine' é entretenimento da maior qualidade e sua sutil, porém poderosa, crítica social faz pensar mais do que a mensagem de qualquer blockbuster hollywoodiano. Difícil é não amar.
Com 'Enter the Void', Gaspar Noé cria uma atmosfera noir de experimentação e psicodelia como poucos cineastas contemporâneos ousam se permitir. Oscar, um traficante/usuário de drogas, tem sua "viagem" definitiva quando é morto durante uma batida policial numa boate. Através de sua perspectiva, o acompanhamos em uma jornada extracorpórea que retrospecta sua vida e mostra os acontecimentos consequentes de sua morte. E é tal visão em primeira pessoa que permite Gaspar Noé abusar da criatividade cinematográfica. Truques de câmera e lente incrivelmente inventivos combinados com um ótimo CGI nos levam a uma vertiginosa viagem que, acredito eu, nem o mais potente coquetel de drogas seria capaz de proporcionar. Mesmo que por vezes soe arrastado e até mesmo repetitivo, 'Enter the Void' instiga com sua proposta e impressiona com a complexidade simplista e ousada de sua execução. Mas, definitivamente, não é para todos os públicos.
Baseado numa controversa peça de teatro, 'Álbum de Família' já nasceu como um clássico. Acompanhando a gradual desconstrução de uma excêntrica família americana, o filme é permeado por performances brilhantes e teatrais que definitivamente valem a assistida. Sei que, como diz o Cam de 'Modern Family', Meryl Streep poderia interpretar até o Batman e ainda seria a escolha certa, mas ela realmente me impressionou desta vez. Já é minha aposta ao Oscar de Melhor Atriz. Aliás, o restante do elenco também está muito bem, principalmente Julia Roberts, perturbada como nunca, e Julliette Lewis, como a caçula irritante que todos amam odiar.
A prova de que é possível, sim, fazer um filme de terror autenticamente brasileiro. E dos bons! 'Quando Eu era Vivo' apresenta o perturbador retrato de uma família assombrada por antigas lembranças, muito mais vivas do que qualquer um gostaria de admitir. Evitando sustos fáceis, o longa investe num clima tão claustrofóbico quanto um apartamento de classe média para proporcionar um mosaico de sensações emocionais. E acerta ao construir e desconstruir seus personagens usando ambientes domésticos e símbolos corriqueiros que causam a identificação do público (revistas de caça-palavras, citações ao Orkut, o Motorola V3 e até mesmo um boneco do Fofão!). Num visceral crescendo, o trio do elenco principal é levado a um assustador final que não decepciona.
Após desertar os piratas do Caribe, Gore Verbinski embarcou em outra aventura grandiosa de orçamento igualmente gordo, também bancado pela Disney e pelo Jerry Bruckheimer. Baseado na homônima franquia multimídia que nasceu no rádio na década de 30, 'O Cavaleiro Solitário' é um faroeste de aventura com todos os elementos do primo "caribenho": segmentos repletos de ação e efeitos visuais exageradamente bem-elaborados, gags hilárias, uma ótima fotografia e uma trilha sonora fodona composta pelo Hans Zimmer. Contudo, os pecados dos 'Piratas' também são repetidos, sendo os mais graves deles sua metragem longuíssima e a mania desnecessária de protagonismo por parte do Johnny Depp (lembrando de que, teoricamente, ele DEVERIA ser um coadjuvante, desta vez).
Tinha certeza de que odiaria este filme. Os críticos não foram nada favoráveis e sua bilheteria (mundial!) não resultou em nada além de prejuízo, e mesmo o lançamento em homevideo não parece que vai pagar muito dos 200 milhões de dólares investidos em sua produção. Mas assistí-lo apenas agora me faz perceber quão injustiçado 'O Cavaleiro Solitário' foi. Na verdade, é um blockbuster classe A sagaz, raso o suficiente para ser digerido pela platéia (ainda sem subestimá-la) e, principalmente, divertido. E não é sobre isso que se trata o Cinema comercial?
Os Pássaros 2: O Ataque Final
2.3 53Eu tinha uma relação especial com este filme quando criança. Eu o assisti dezenas de vezes no SBT e, ainda que o título deixe bem explícito que é uma sequência, por muito tempo o tratei como se fosse o filme original (uma vez que nunca tinha assistido ao Os Pássaros do Alfred Hitchcock). Este talvez tenha sido o primeiro filme de Terror que assisti na vida e algumas cenas dele ainda me assombram até hoje. Tendo dito isto, revisitá-lo tantos anos depois foi uma experiência no mínimo curiosa. Mesmo reconhecendo vários momentos que me marcaram na minha infância, fiquei surpreso ao perceber como eu simplesmente não me lembrava de NADA do enredo. E provavelmente foi pro meu próprio bem, pois não imagino que teria algum carinho por este filme caso na época eu tivesse idade suficiente pra absorver toda a BOMBA que é Os Pássaros 2: O Ataque Final.
Esta é uma obra cujo crédito de direção é atribuído a Alan Smithee, que é um pseudônimo usado quando o diretor renega o próprio filme e prefere não ter seu nome vinculado a ele. É óbvio que eu não sabia disso quando assisti há mais de 20 anos, mas já não é um bom sinal. O ressentimento do diretor é bastante compreensível. Este não é um trabalho que pega muito bem ter no currículo. Tudo nele é cafona e nada parece ter tido sentimento (ou orçamento) suficiente pra funcionar de forma satisfatória.
“Numa pequena cidade litorânea, pássaros inexplicavelmente começam a atacar as pessoas”. É uma premissa simples (a mesma base de Os Pássaros) e que depende diretamente da trama desenvolvida a partir disso, principalmente dos personagens que vivem neste universo. E esta é justamente a maior falha deste filme: a história dele é exaustivamente desinteressante e seus personagens não ficam muito atrás. O flerte sagaz entre Tippi Hedren e Rod Taylor que movia o filme do Hitchcock é substituído nesta continuação por uma interminável crise conjugal do casal protagonista, cuja família tenta se recuperar de uma terrível tragédia. Se já não bastasse o luto, o fantasma da infidelidade e duas filhas insuportáveis, pássaros começam a se comportar de forma misteriosamente agressiva, justo no momento em que a família resolve passar uns tempos numa casa de praia. Junte a esta receita um chefe galanteador (ou assediador, se preferir) e um prefeito que se recusa a reconhecer o perigo iminente para não afetar a economia local, e o desastre está instalado. Em todos os sentidos! As atuações do elenco não conseguem entregar muita química ou naturalidade e os efeitos visuais se levam muito mais a sério do que deveriam. Com exceção de algumas cenas efetivamente assustadoras, com efeitos práticos criativos e um bom trabalho de maquiagem, não existem muitos méritos pra serem destacados. Nem mesmo a presença da própria Tippi Hedren, num novo papel, traz algum sopro de vida a esta continuação. Nada além de uma fórmula barata e referências vazias ao filme original. Hedren, aliás, se arrependeu de ter participado dessa palhaçada. Infelizmente não há como usar um pseudônimo pra se esconder quando você trabalha em frente às câmeras.
É inacreditável que a Universal Pictures tivesse a intenção inicial de lançar Os Pássaros 2: O Ataque Final nos cinemas! Ainda bem que o resultado final fez os produtores colocarem a mão na consciência e desistirem. O filme acabou sendo vendido pra Showtime e se tornou o que deveria ter sido desde o início: um filme B para TV a ser reprisado até cair no esquecimento.
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
3.2 960 Assista AgoraDepois de dois filmes sólidos, o casal Warren embarca num caminho esburacado bem aquém de suas aventuras anteriores neste terceiro capítulo da franquia Invocação do Mal. Tudo parece meio morno, pouco inspirado e, me dói dizer, genérico. Apesar de trazer de volta o carisma dos protagonistas e elementos da fórmula que consagraram a franquia, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é inferior a seus antecessores tanto em estilo quanto em ritmo. Com exceção de algumas boas ideias (que infelizmente não vão a lugar nenhum), este filme não traz nada de novo à mitologia do casal de paranormais e acaba soando frustrantemente anticlimático. Não é ruim, apenas é... menor. Muito, muito menor do que deveria ser. Acho que James Wan me deixou mal acostumado.
Godzilla vs. Kong
3.1 799 Assista AgoraEis um filme assumidamente estúpido, no melhor e no pior sentido da palavra. Toda a falação científica proposta não tem cabimento nenhum e existe exclusimente a serviço do entretenimento. E tudo bem. Depois do divertido Godzilla: Rei dos Monstros, o MonsterVerso mergulha fundo na Ficção Científica (com ênfase no "ficção") e deixa de lado qualquer compromisso com o realismo. A intenção de Godzilla vs. Kong é simplesmente criar desculpas esfarrapadas pra justificar cenas grandiosas com visuais bacanudos. E consegue com louvor. Os personagens humanos não têm a menor profundidade e estão lá simplesmente para que a história avance, como é de costume nos filmes desta franquia (afinal de contas, a história não é sobre eles). É louvável o fato de transformarem o Kong no condutor emocional da trama. Mesmo com as limitações do roteiro, o filme é bem sucedido em fazer o público se simpatizar com o titã peludinho. Ele é o real protagonista dessa farofa. Mas ainda continuo torcendo pro Godzilla. Foi mal, Kong.
P.S.: o último ato deste filme é COVARDE e basicamente soa como um déjà vu de Jogador Número Um.
Era uma Vez na América
4.3 531 Assista AgoraÉ bastante poético (e até irônico) que um dos filmes mais honestos e proeminentes sobre a construção da sociedade estadunidense moderna seja obra de um cineasta de outro país. Nada como o olhar de um estrangeiro para desconstruir a falácia do chamado “sonho americano”.
Lanterna Verde
2.4 2,4K Assista AgoraEu admiro muito como esse filme tenta. Tenta estabelecer um universo com regras e mitologia próprias, tenta contrabandear elementos bizarros pra dentro de um blockbuster de verão, tenta construir personagens divertidos e com alguma profundidade. Ele falha em tudo isso, ok, mas realmente tenta. A principal falha deste filme talvez seja sua indecisão de se levar a sério ou não, o que se traduz numa sucessão de situações incoerentes que oscilam entre o grotesco e o cartunesco. Ambos casos são agravados pelos efeitos visuais inexplicavelmente ruins que parecem ignorar todas as regras da Física (assim como as do bom senso) e tentam criar uma ambiciosa estética apocalíptica com efeitos semelhantes aos de um videogame do início dos anos 2000. Pelo lado positivo: Ryan Reynolds e Blake Lively continuam casados uma década depois de terem se conhecido nas filmagens desse filme, o que prova que o Amor pode surgir até mesmo das piores tragédias.
Godzilla
3.1 2,1K Assista AgoraRemakes costumam ser bastante complicados. Eles precisam remeter ao material no qual foram inspirados e, ao mesmo tempo, ser criativos o suficiente para justificar sua produção e se esquivar de inevitáveis comparações. Ainda que visando atingir a maior parte do público, não se pode ignorar os fãs da obra original, que ora animam-se com o projeto, ora torcem o nariz como xiitas radicais diante de uma nova interpretação de sua bíblia.
E em se tratando de 'Godzilla', a situação é ainda mais delicada. Quer dizer, ninguém estava necessariamente animado por um novo filme americano do kaiju gorila/baleia porque a única experiência dele em Hollywood, comandada pelo cineasta-catástrofe alemão Roland Emmerich, teve um desempenho tão fraco que a intenção de uma possível sequência do filme permaneceu na geladeira da Sony por anos. Até que o contrato com a Toho, empresa criadora do monstro, expirou e a Legendary Pictures, da Warner Bros., adquiriu os direitos para realizar um novo remake americano. Desde então, muito se especulou. Afinal, além de fazer um filme protagonizado pelo lagartão sem que parecesse algo gratuito, a grande missão seria desvincular o nome do bicho da imagem da iguana agigantada por radiação que Emmerich levou às telas em '98. E o diretor Gareth Edwards, ainda que com algumas ressalvas, conseguiu.
O que se vê no novo 'Godzilla' é algo muito mais etéreo e, ao mesmo tempo, impactante, chegando a honrar o quase-lirismo brucutunesco do gênero tokusatsu, já conhecido através de tantos filmes e seriados orientais e reciclado para os cinemas americanos pelo diretor Guillermo Del Toro no excelente 'Pacific Rim', de 2013. Porém, ao contrário do consagrado blockbuster de Del Toro, 'Godzilla' prioriza um clima de aparente seriedade e soturnice, herdada do filme clássico de Ishirō Honda, optando por deixar de lado a diversão-pipoca e o clima de passatempo de verão. A proposta promissora apresenta um Godzilla digital bastante fiel ao da Toho, respeitando suas origens e a forma anatômica de suas encarnações anteriores no Cinema (até mesmo o rugido do monstro foi recriado através de métodos analógicos, como foi em '54. E é de gelar o sangue!). A presença apoteótica dada ao bicho é espetacular, sendo mostrado como um deus, uma verdadeira força da Natureza, física e verossivelmente perfeito.
Infelizmente a nova empreitada acaba repetindo também várias falhas do original, sendo a mais gritante delas a parca utilização de seu elenco. Tudo que o roteiro exige de Aaron Taylor-Johnson, por exemplo, é que ele seja um mero soldado do esquadrão anti-bombas lindo-tesão-bonito-e-gostosão, o que seria ótimo numa continuação de 'Magic Mike' mas não funciona neste caso. E a Feiticeira Escarlate do próximo filme dos Vingadores, Elizabeth Olsen, também não desperta muita simpatia, tendo que se contentar em fazer cara de susto em todas as cenas nas quais aparece.
Ken Watanabe, único oriental no elenco principal, está muito bem como o cientista-explicador da estória, clichê do gênero que ele abraça com orgulho. Mas nada justifica a péssima utilização dos talentos de Juliette Binoche, Sally Hawkins e, principalmente, Bryan Cranston. Aliás, muita gente (inclusive eu) foi ao cinema esperando assistir um filme protagonizado pelo Cranston, como os trailers e spots de TV vinham sugerindo há tempos. E leva um ato inteiro depois que o personagem dele sai de cena para entendermos algo que deveria ter sido explicitado logo de início: este não é um filme de elenco, e muito menos um filme de roteiro, e sim um puro filme de monstro. E dos bons! Mas, convenhamos, se você planeja produzir um filme de monstros convencional, não deve escalar um elenco classe A com nomes (caros) capazes de criar grandes expectativas no público para depois, simplesmente, desperdiçar suas participações.
É bem o contrário do que se vê na primeira experiência do britânico Gareth Edwards com longas-metragens, a Ficção Científica independente 'Monsters', que priorizava justamente a abordagem das relações humanas afetadas por, vejam só, monstros.
Os destaques ficam para os ótimos efeitos visuais, responsáveis por algumas das cenas mais antológicas já vistas neste tipo de filme (a porradaria come de uma maneira maravilhosamente homérica entre Godzilla e criaturas à la 'Cloverfield'), e a espetacular e monstruosa trilha sonora de Alexandre Desplat, que dá um delicioso tom de homenagem musical ao gênero, equiparável com a trilha de John Williams para o 'Guerra dos Mundos' de Spielberg e a faixa que Michael Giacchino compôs para 'Cloverfield'.
Visualmente competente e realizado com o mesmo esmero técnico que os antigos filmes de monstro (à sua época, claro), o 'Godzilla' de 2014 é entretenimento para a mente e impressiona por sua escala grandiosa. Mas, em tempos de roteiros mirabolantes repletos de sub-plots, a abordagem simplista do filme pode soar um tanto decepcionante, devido aos gritantes furos na trama e às soluções de roteiro apressadas e forçadas. Principalmente se comparado ao original, que se passava num cenário pós-guerra de simbolismo patriótico, o enredo deste parece, digamos, vazio.
Trocando em miúdos, do ponto de vista narrativo, pode ser considerado até mesmo um retrocesso cinematográfico. E talvez seja, mesmo. Mas que é espetacularmente foda, ah, isso é, sim!
Godzilla
3.8 125 Assista AgoraApenas recentemente me dei conta de que nunca havia conferido o 'Godzilla' original (não na íntegra, pelo menos). Então, antes de descobrir o que Hollywood reservava no novo filme americano do lagartão, resolvi conhecer a obra original. E fiquei simplesmente surpreso. 'Gojira' não apenas apresenta o kaiju gorila/baleia do título de maneira respeitosamente economica e pontual, assim como todo rei deve ser introduzido, como também vai muito além do típico filme de monstro. Na época em que o filme foi concebido, o Japão se recuperava do choque dos ataques a Hiroshima e Nagasaki, e Gojira aparece como uma válvula de escape de toda a nação, uma metáfora fantasiosa a quem pudessem temer mais do que as bombas que mataram milhares de pessoas em 1945. Na estória, Tóquio é surpreendida por um monstro pré-histórico gigante, despertado pela radiação consequente do lançamento da bomba atômica. E aparentemente nada, a não ser uma outra inventiva arma química, poderia deter tal ameaça. Com atuações caricatas de seu elenco, o segredo do sucesso e da longevidade deste filme-catástrofe está em seu roteiro, repleto de referências à crise japonesa posterior aos atentados que abalaram o espírito do país, seus efeitos visuais efetivos, apesar de datados, e, claro, seu protagonista "da altura de um prédio de 30 andares" (por mais que alguns erros de escala o façam parecer bem menor). Gojira é retratado como uma força devastadora capaz de dizimar tudo em seu caminho, uma clara analogia ao medo e à paranoia que a guerra insuflou no coração dos orientais. Essa é a principal qualidade do 'Godzilla' original, que o diferencia dos demais filmes-catástrofe que lotaram os cinemas nas últimas décadas: autenticidade e sensibilidade. Enquanto tais produções simplesmente contam estórias, muitas vezes desinteressantes e vazias, 'Gojira' é uma alegoria baseada num acontecimento real e deu voz a um país inteiro, ajudando a reconstruir a identidade nacional do Japão, então, desesperançoso. Os apelos por socorro de quem foge do monstro marinho da tela é, na verdade, um requiem para as vítimas da bomba que pôs fim a uma guerra e redefiniu as regras do jogo. Tanto simbolismo, tanto poder ilustrados por um monstro de borracha pisoteando uma maquete. É muito, muito mais do que qualquer efeito de computador poderia fazer.
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
3.5 2,6K Assista AgoraEste, sim, é espetacular. Muito superior à maioria dos blockbusters de verão que Hollywood nos empurra goela abaixo, este 'A Ameaça de Electro' supreende por sua qualidade técnica e pela sua narrativa simplista e divertida que conserta várias falhas da aventura anterior do Cabeça-de-Teia nos cinemas (o morno 'O Espetacular Homem-Aranha', de 2012, que reiniciou prematuramente a franquia e não foi o suficiente para tirar o gosto amargo deixado por 'Homem-Aranha 3', lançado apenas 5 anos antes).
Além da trilha instrumental que mistura orquestra, guitarras e sintetizadores, mais uma do Hans Zimmer (esse homem não dorme nunca?), e a montagem ágil que pouco deixa tempo para o público respirar, o excelente timing do elenco principal conquista quem deixa o haterismo de lado e se permite ser conquistado. Vai muito além do típico filme de super-herói e acerta ao não se levar a sério na maior parte do tempo, não tendo medo de soar cartunesco ou exagerado, como um gibi. E não deveria ser exatamente assim? As várias cenas hilárias e momentos feel-good de comédia romântica (reflexo do trabalho mais conhecido do diretor Marc Webb, '500 Dias com Ela') deixam o público despreparado para o acontecimento chocante que quase põe fim à carreira de Peter Parker como justiceiro. Mas nada comparável aos joguinhos sádicos e psicológicos de 'O Cavaleiro das Trevas' ou a filosofia superheróica de 'Watchmen': trata-se de mais um episódio na saga cinematográfica do Amigão da Vizinhança. E é muito, muito bom tê-lo de volta. E, desta vez, pelos motivos certos.
Happy Feet: O Pingüim
3.2 550 Assista AgoraNão há nenhuma pesquisa ou estudo oficial que explique porquê é tão gostoso ver pinguins digitais cantando e sapateando. Mas caso houvesse, eu seria um dos primeiros a me oferecer pra participar.
Com um roteiro bem-amarrado, personagens carismáticos e sequências musicais de derreter o coração 'Happy Feet' tem uma mensagem tão bonita e universal que o torna um filme familiar obrigatório.
Além disso, é um deleite para os olhos. Belissimamente fotografado, apresenta cenas de absurda verossimilhança e efeitos visuais condizentes.
Para completar, um elenco estelar empresta suas vozes aos tais pinguins performáticos, com destaque para Elijah Wood, Robin Williams e Brittany Murphy, em seu último grande trabalho.
Pra quem não conhece, deixo aqui um desafio: assista e tente não querer dançar.
Até o Fim
3.4 418 Assista AgoraHá quem ache interessante acompanhar o Robert Redford à deriva no oceano durante quase duas horas. Particularmente, não é o meu caso.
Ainda assim, 'All is Lost' vale a pena ser assistido por causa de suas ótimas cenas de ação, as sutilezas de seu roteiro e, principalmente, pela memorável atuação de Redford, que protagoniza este arrastado drama de aventura com muito poder e poucas palavras
(apenas uma, na verdade)
RoboCop: O Policial do Futuro
3.6 684 Assista AgoraAlém de uma inventividade aparentemente inesgotável, os anos 80 proporcionavam boas doses de violência em seus filmes. Era pequena a preocupação sobre se as obras ficariam restritas a apenas pequena parcela do público por causa de sua classificação indicativa ou como isso afetava a bilheteria. Bons tempos, deviam ser.
Dentre vários títulos memoráveis desta época, 'RoboCop' foi um dos que mais me impressionou. Com um roteiro simples e bem-trabalhado, o filme usa de um elemento fantástico para mostrar a hipocrisia da sociedade, a corrupção da polícia, a manipulação das massas através da mídia e da propaganda. O protagonista é usado como gritante analogia do homem que se rebela contra o sistema que pretende mecanizá-lo (neste caso, literalmente). Me arrisco a dizer que 'RoboCop' é um dos filmes oitentistas imortalizados por reprises na TV e relançamentos em homevideo que melhor resistiu ao tempo. Seus temas e personagens continuam atuais e seus efeitos visuais, o mais moderno stop-motion da época (apenas substituído pelo CGI de 'Jurassic Park' alguns anos depois), convencem até hoje.
Quanto ao seu contexto histórico, chega a lembrar o momento atual do Brasil. Talvez por isso José Padilha, mundialmente conhecido pela violenta franquia 'Tropa de Elite', tenha sido escolhido para modernizar esta estória num remake hollywoodiano. Aliás, ainda não assisti o remake, mas se for tão bom quanto o original, merece nossa atenção.
O Planeta Vermelho
2.5 139"Zumbis estão na moda. Vamos levá-los para Marte, então! Não tem como dar errado!". E deu.
300: A Ascensão do Império
3.2 1,6K Assista AgoraNinguém pode negar que, para o bem ou para o mal, '300' foi um divisor de águas no Cinema contemporâneo. Com ele, o então novato Zack Snyder provou que era possível produzir um blockbuster feito quase totalmente com efeitos digitais por um orçamento enxuto e, mesmo fora da temporada de férias, faturar uma ótima bilheteria (no caso de '300', mais de 7 vezes o valor de seu custo). Com desempenho tão impressionante, era questão de tempo até a obra ser transformada em franquia.
Baseado na ainda inédita e não-finalizada graphic novel 'Xerxes', de Frank Miller (que escreveu '300' quando ainda tinha mão e bom-senso pra isso), 'A Ascensão do Império' é ao mesmo tempo prequela e sequência, mostrando as origens do vilão do filme original, Rei Xerxes, e as consequências do embate de seu exército com os 300 de Esparta, tidos desta vez quase como mártires. Mas, diferentemente da cria de Zack Snyder, que se tratava de uma crônica que glorificava a guerra e o estilo de vida espartano, este filme dirigido por Noam Murro (quem?) se mostra muito mais político e racional. Ou ao menos tenta.
Visualmente inspirado na fotografia do anterior, soa mais fluído e menos artificial, mas peca pelos excessivas cenas em slow motion, artifício usado muito mais comedidamente por Zack Snyder. A extravaganza de sanguinolência também está presente neste aqui, ainda mais graficamente forte, porém muitas vezes gratuita.
Na verdade, algumas cenas mostram-se tão desnecessárias que a única explicação para terem sido incluídas no corte final do filme é a pura vontade de chocar o público. Dentre tais segmentos, vale mencionar uma das cenas de sexo mais bizarras e vergonhosas que o cinema vê em muito tempo.
A ausência de bons protagonistas, uma vez que o Themistocles de Sullivan Stapleton é bem o oposto do Rei Leonidas de Gerard Butler, nos faz criar simpatia pela única personagem realmente interessante da película: a vilã Artemisia. E apenas ela, uma vez que até o próprio Xerxes, que deveria ter grande destaque, fica em segundo plano.
Resultando em uma coletânea de tomadas debilmente belas e muito falatório desnecessário,
que se conclui com uma revoltante cena em aberto,
Destaque para os efeitos visuais dignos de replay e para os atores do elenco do filme original que voltam para mais um round de cenas em fundo verde e incongruência histórica.
Sunshine: Alerta Solar
3.4 364 Assista AgoraUma Ficção Científica psicológica e densa que emociona e faz pensar. Danny Boyle me conquistou por esta pérola aqui. Destaque para os excelentes efeitos visuais, o competente elenco internacional e a inacreditável trilha sonora composta por John Murphy e a banda eletrônica Underworld.
Capitão América 2: O Soldado Invernal
4.0 2,6K Assista AgoraMuito se engana quem pensa que esta se trata de apenas mais uma aventura-solo de um herói Marvel. Ao contrário dos filmes protagonizados pelo brutamontes Rei do Trovão, que entretém mas pouco adicionam ao universo Marvel no Cinema, esta continuação de 'O Primeiro Vingador' tem ligação direta com 'The Avengers: A Era de Ultron', próximo episódio da multibilionária franquia iniciada com 'Homem de Ferro', em 2008, e apresenta um tom muito mais maduro e sombrio do que qualquer outra produção da Casa das Ideias.
O Sentinela da Liberdade desta vez enfrenta fantasmas de seu passado e o ressurgimento de um antigo inimigo que ameaça não apenas a S.H.I.E.L.D. como também toda a Humanidade.
Em pouco mais de duas horas, elos são quebrados, regras são reestabelecidas e algumas das cenas de ação mais embasbacantes e bem-coreografadas dos últimos anos são desdobradas quase que ininterruptamente, com violência a sangue frio (e praticamente inexistente! Cuén!), mas sem perder o timing do bom-humor tonystarkiano das produções anteriores.
Destaque para o sagaz roteiro (com reviravoltas que deixam 'The Avengers' parecendo algo bastante idiota), os impressionantes efeitos visuais e o elenco classe A cheio de rostos conhecidos.
Maníaco
3.0 579 Assista AgoraSe eu tinha alguma dúvida quanto ao talento de Elijah Wood como ator, ela acaba de se esvair numa gritante poça de sangue. O desempenho dele em 'Maniac' é merecedor de prêmios, estudos e, acima de tudo, atenção. No filme, Frank Zito, um jovem mentalmente perturbado, herdeiro da loja de restauração de manequins de sua recém-finada mãe, planta o medo no coração das nova-iorquinas, escolhendo randomicamente algumas delas pelas noites e as assassinando a sangue frio, usando seus escalpos como troféus para decorar suas "modelos". Incapaz de criar vínculos amorosos significativos, assombrado por sua mãe, uma ex-prostituta, o Maníaco se torna escravo de seus impulsos homicidas, aumentando sua lista de vítimas noite após noite.
O que torna 'Maniac' ainda mais intenso e perturbador é o fato de que o filme praticamente inteiro é apresentado em perspectiva de primeira pessoa. Ou seja: quando Frank se depara com uma de suas garotas, acompanhamos a caça até o inevitável fim na ponta de sua faca, tudo devidamente mostrado em detalhes indigestamente hiperrealistas.
O desconforto causado pela forte violência gráfica é apenas equiparável às perturbações psicológicas do protagonista, que sofre de alucinações tão monstruosas quanto suas próprias atitudes. No fim, Franck Khalfoun (que logo, logo será conhecido como roteirista e diretor do novo 'Amityville') entrega uma obra complexa e inegavelmente impactante. Na minha opinião, um dos melhores slasher movies dos últimos anos.
Uma Aventura LEGO
3.8 907 Assista AgoraCom um enredo empolgante que vai se desenrolando de maneira notável e personagens hilariantemente sagazes, 'The LEGO Movie' impressiona por fazer graça da futilidade da sociedade moderna, explicitando de maneira crua, porém comedida, como as pessoas aceitam se tornarem "ninguéns" padronizados de um sistema que tenta ser perfeito. O fato de tal paralelo ter sido usado numa animação stop-motion tridimensional cujos cenários e personagens são feitos de peças que, teoricamente, podem formar qualquer coisa é apenas parte da genialidade do todo. Lotado de referências à cultura Pop e pencas do mais delicioso humor nonsense, o longa não tem medo de soar ácido ou absurdo demais para a plateia. É aí que muita gente, tardiamente, percebe que não se trata de um filme para crianças. Claro, não há nada de muito ofensivo que as impeça de assistir ou curtir o espetáculo. Mas o público com o qual 'The LEGO Movie' parece querer falar é o dos adultos que foram crianças inventivas e criativas mas tiveram sua essência roubada pelo mundo real, que busca uma suposta perfeição e considera perfeccionismo elogio. Sim, este é um filme-nostalgia. Ou um filme-homenagem, se preferirem. Ele convida todos a reviverem a própria infância (ou a apresenta, no caso da criançada atual que não tem tempo para ser criança). A nós marmanjos que brincávamos ou ainda brincamos de LEGO, há piadas quase que exclusivas para nós, incluindo cenas primorosas que tiram sarro das limitações de movimentos, encaixes e até mesmo da qualidade dos bloquinhos de montar. Diversão na maior das escalas.
Crítica e público estão cantando em uníssono a música-tema do filme para dizer suas opiniões sobre ele: TUDO É INCRÍVEL!
Jogo de Cena
4.4 336Idealizado por Eduardo Coutinho, 'Jogo de Cena' começou com um anúncio de jornal que convidava mulheres para contarem em frente às câmeras suas histórias de vida. Das oitenta e três que responderam ao anúncio, vinte e três foram selecionadas para terem seus relatos registrados no Teatro Glauce Rocha. Meses depois, atrizes reinterpretaram as histórias contadas pelas personagens escolhidas.
E é com este jogo que mistura realidade e ficção que Coutinho desafia o expectador, que, salvo pela participação de atrizes conhecidas, não tem pistas de quem está interpretando ou, de fato, depondo. Alguns dos melhores momentos, inclusive, são relatos das atrizes contando suas dificuldades em tentar reviver personagens genuinamente reais.
Trata-se de um documentário simples, pretensioso e, sem exageros, excepcional. Faz sentir mais ainda a morte de Eduardo Coutinho, assassinado no início de fevereiro de 2014, muito possivelmente por seu próprio filho.
Frankenstein: Entre Anjos e Demônios
2.4 715 Assista AgoraAposto que muita gente especulou o que poderia ter acontecido com a criação do doutor Victor Frankenstein após o desfecho do romance escrito no início do século 18 pela britânica Mary Shelley.
Bom, um tal de Kevin Grevioux resolveu imaginar uma possível continuação para a estória, mas da maneira errada, incluindo no enredo uma desinteressante guerra entre anjos e demônios que não passa de um "requentamento" do embate entre vampiros e lobisomens que o próprio Kevin escreveu para a fraca franquia 'Anjos da Noite'.
No plot, o monstro humanóide criado com partes de corpos de pessoas e eletricidade é atacado por demônios enquanto vela o corpo de seu criador e acaba sendo resgatado por anjos (que por algum motivo são gárgulas), que o convidam para se juntar à sua Irmandade que visa combater demônios na Terra e proteger a Humanidade.
Em outras palavras, do material original 'I, Frankenstein' pega emprestado apenas o nome. No mais, não passa de uma desculpa esfarrapada para fazer um blockbuster baseado numa obra com apelo popular. Sua proposta é fraca, seu desenvolvimento é falho e sua conclusão não é muito melhor. Os mirabolantes efeitos visuais parecem não servir para nada além de tentar disfarçar os buracos do roteiro, que é digno do esquecimento (ou do Framboesa de Ouro).
No elenco, os excelentes Aaron Eckhart, Miranda Otto, Jai Courtney e Bill Nighy vivem os piores papeis de suas carreiras. Ninguém se salva.
Não sei o que é pior: transformar um personagem interessantíssimo numa espécie de John Constantine piorado ou agradecer, cinicamente, à coitada da Mary Shelley nos créditos finais.
No fim das contas, o monstro de Frankenstein pelo menos encontra um propósito para sua existência. Caso alguém descubra o deste filme, me avise.
Ernest e Célestine
4.4 319Com traços de personalidade e personagens apaixonantes, 'Ernest et Célestine' é entretenimento da maior qualidade e sua sutil, porém poderosa, crítica social faz pensar mais do que a mensagem de qualquer blockbuster hollywoodiano. Difícil é não amar.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 870Com 'Enter the Void', Gaspar Noé cria uma atmosfera noir de experimentação e psicodelia como poucos cineastas contemporâneos ousam se permitir.
Oscar, um traficante/usuário de drogas, tem sua "viagem" definitiva quando é morto durante uma batida policial numa boate. Através de sua perspectiva, o acompanhamos em uma jornada extracorpórea que retrospecta sua vida e mostra os acontecimentos consequentes de sua morte. E é tal visão em primeira pessoa que permite Gaspar Noé abusar da criatividade cinematográfica. Truques de câmera e lente incrivelmente inventivos combinados com um ótimo CGI nos levam a uma vertiginosa viagem que, acredito eu, nem o mais potente coquetel de drogas seria capaz de proporcionar.
Mesmo que por vezes soe arrastado e até mesmo repetitivo, 'Enter the Void' instiga com sua proposta e impressiona com a complexidade simplista e ousada de sua execução. Mas, definitivamente, não é para todos os públicos.
Álbum de Família
3.9 1,4K Assista AgoraBaseado numa controversa peça de teatro, 'Álbum de Família' já nasceu como um clássico. Acompanhando a gradual desconstrução de uma excêntrica família americana, o filme é permeado por performances brilhantes e teatrais que definitivamente valem a assistida.
Sei que, como diz o Cam de 'Modern Family', Meryl Streep poderia interpretar até o Batman e ainda seria a escolha certa, mas ela realmente me impressionou desta vez. Já é minha aposta ao Oscar de Melhor Atriz. Aliás, o restante do elenco também está muito bem, principalmente Julia Roberts, perturbada como nunca, e Julliette Lewis, como a caçula irritante que todos amam odiar.
Quando Eu Era Vivo
2.9 323A prova de que é possível, sim, fazer um filme de terror autenticamente brasileiro. E dos bons!
'Quando Eu era Vivo' apresenta o perturbador retrato de uma família assombrada por antigas lembranças, muito mais vivas do que qualquer um gostaria de admitir.
Evitando sustos fáceis, o longa investe num clima tão claustrofóbico quanto um apartamento de classe média para proporcionar um mosaico de sensações emocionais. E acerta ao construir e desconstruir seus personagens usando ambientes domésticos e símbolos corriqueiros que causam a identificação do público (revistas de caça-palavras, citações ao Orkut, o Motorola V3 e até mesmo um boneco do Fofão!). Num visceral crescendo, o trio do elenco principal é levado a um assustador final que não decepciona.
Marat Descartes, Sandy Leah e Antônio Fagundes estão, literalmente, assombrosos neste aqui.
O Cavaleiro Solitário
3.2 1,4K Assista AgoraApós desertar os piratas do Caribe, Gore Verbinski embarcou em outra aventura grandiosa de orçamento igualmente gordo, também bancado pela Disney e pelo Jerry Bruckheimer.
Baseado na homônima franquia multimídia que nasceu no rádio na década de 30, 'O Cavaleiro Solitário' é um faroeste de aventura com todos os elementos do primo "caribenho": segmentos repletos de ação e efeitos visuais exageradamente bem-elaborados, gags hilárias, uma ótima fotografia e uma trilha sonora fodona composta pelo Hans Zimmer. Contudo, os pecados dos 'Piratas' também são repetidos, sendo os mais graves deles sua metragem longuíssima e a mania desnecessária de protagonismo por parte do Johnny Depp (lembrando de que, teoricamente, ele DEVERIA ser um coadjuvante, desta vez).
Tinha certeza de que odiaria este filme. Os críticos não foram nada favoráveis e sua bilheteria (mundial!) não resultou em nada além de prejuízo, e mesmo o lançamento em homevideo não parece que vai pagar muito dos 200 milhões de dólares investidos em sua produção. Mas assistí-lo apenas agora me faz perceber quão injustiçado 'O Cavaleiro Solitário' foi. Na verdade, é um blockbuster classe A sagaz, raso o suficiente para ser digerido pela platéia (ainda sem subestimá-la) e, principalmente, divertido. E não é sobre isso que se trata o Cinema comercial?