Sabe a estrutura padronizada com uma trilha sonora repetida, com uma direção específica, com uma fotografia determinada e com atuações variáveis de 8 a 80? Isso deixa saudades. Vou me abster a dizer isso porque sou incapaz de analisar essa série. Existe toda uma cultura lynchiana (Tem livros sobre Twin Peaks) que já se dedica a fazer isso com a densidade adequada. Então é isso. O melhor é só contemplar a beleza disso e se enfiar na medida do possível nessa "cultura".
Aquela introdução que começa com um passarinho e os créditos com a foto da Laura no fundo desapareceram na terceira temporada. Triste. É melhor aproveitar cada segundo dessa daqui, por isso.
E se o James e a Donna não existissem talvez a série não teria sido cancelada. heh.
O clima da temporada ficou mais pesado, dinâmico, agitado, rápido. Essa é uma característica particular, diferente das quatro seasons anteriores, e que marcou essa. Frank e Claire ficaram mais badasses do que nunca, devido ao clima de tensão e decadência, tudo ficou mais agressivo, e o desenvolvimento do enredo ficou acelerado demais.
Mas eu senti falta das quebras da quarta parede. Enquanto que na quarta temporada esse recurso foi explorado ao máximo, no máximo de situações possíveis (Desde as mais espontâneas e breves até as mais agitadas), nessa, ficou reservado para momentos particulares ou para cenas em que, em público, a movimentação dos figurantes e coadjuvantes para, e Frank começa a dialogar com o espectador. Essa limitação me fez sentir falta desse recurso que marcou a série desde o começo. Porém, como já foi indicado no final da quarta temporada (E como eu supus no comentário que fiz aqui no Filmow quando a assisti, há um ano), o ponto positivo dessa quinta season é que a Claire passou a participar dessas quebras. Aqui ela participou de duas.
E eu, na verdade, apesar de reconhecer que possa ter quem tenha gostado, me incomodei um pouco com essa agitação toda que marcou a temporada. Isso deixou as situações menos desenvolvidas do que nas outras. Antes vários acontecimentos se acumulavam até que se chegasse a um clímax e alguma coisa importante acontecesse (Por exemplo, nas mortes da Zoe e do Russo, uma sequência de eventos vieram antes e foram feitos aprofundamentos nas personalidades e perspectivas dos dois) e, assim, todos os momentos de clímax eram mais valorizados. Depois de acumular uma carga inteira de tensão, descarregava-se tudo e o espectador se impressionava muito mais. Agora, as coisas acontecem muito rápido, aquele clima peculiar, lento e cheio de suspense, desapareceu. Tudo acontece de um jeito forçado, meio sensacionalista, e todas as conclusões pós-desenvolvimento acontecem de forma omissa, escondendo as cenas que mostram abertamente o que e como aconteceu e acabam banalizando muitos desfechos. Nada parece ser tão importante assim. Faltou desenvolvimento e teve forçação e banalização de sobra.
A queda da Catherine e as mortes do Tom, do Aidan e da Leann aconteceram com muito menos desenvolvimento do que qualquer outra morte importante na série. As razões para cada assassinato ficaram claras, porém, estranhas e pouco explicadas, para manter, talvez, um clima maior de mistério. Eu não senti isso como um incômodo nas temporadas anteriores. Quiseram intensificar uma característica do House of Cards que se dava só depois de muita preparação. Não teve tanta preparação como antes, nos casos que eu citei. Faltou aprofundamento nas personagens. Aquele clima romanesco e realista, que te faz se apegar a mais personagens além dos protagonistas, se foi. E então as mortes das personagens não trazem impacto nenhum. Essa mudança no desenrolar do roteiro ficou bastante perceptível. E, por isso, esse é um ponto negativo para quem gostava do aspecto lento e realista das seasons anteriores, no meu ver. Todos esses acontecimentos que eu citei ficaram vagos e, numa perspectiva realista, deveriam causar impactos muito maiores na mídia e comprometer muito mais rápido o Frank. Se o realismo das temporadas anteriores tivesse sido mantido, ele teria caído muito mais rápido. Faltou realismo, verossimilhança, preparações antes dos desfechos etc. Além disso, sobre as omissões, as mortes do Ahmadi e do rapaz do OCI que degolou um americano no final da quarta temporada, não foram mostradas, para manter um clima de banalização de acontecimentos importantes, de tantas coisas que acontecem aqui. Uma pena.
Mesmo assim, apesar de tudo, a trilha sonora do Jeff Beau, a fotografia escura em harmonia com o tom deprimente do contexto geral da temporada e o mantimento ótimas atuações e das direções variadas ainda salvaram a série (Afinal, o último episódio foi dirigido por ninguém mais que a própria Robin Wright). Essas são características que ainda fazem valer a pena assistir House of Cards e que me fizeram gostar dessa temporada, apesar de tudo.
Essa temporada, talvez pela falta do Beau Willimon, ficou claramente diferente. Mesmo sabendo que ele não tinha uma interação direta com a criação de cada episódio (Todos são escritos e dirigidos por pessoas diferentes), o dedo dele fez falta, sim, de algum modo. As mudanças, em comparação com as quatro primeiras seasons, são claras. Por conta disso tudo, espero que exista um roteiro básico pronto para finalizar a série (Que já tenha um final previsto), embora tudo esteja indicando que vai acabar, por fim, do mesmo modo que o House of Cards UK. E eu espero que acabe o quanto antes, por isso. De preferência, na próxima temporada, para que a Netflix não estrague uma boa estória à toa, só para manter no ar uma série que "dá dinheiro".
Claire vai matar o Frank para manter um legado positivo para ele, depois de perdoá-lo, se tudo ocorrer como é esperado. Já peço desculpas antecipadas se essa previsão estiver correta ou se você ainda não assistiu House of Cards UK.
Ao mesmo tempo que Johnnie Cochran conseguiu trazer uma mensagem realmente válida para a sociedade, visando transformações, saiu como oportunista e trouxe a injustiça à tona, sob o ponto de vista jurídico. Sendo assim, será que ele deixou um legado positivo ou negativo para a humanidade? De qualquer modo, fica aí exposta a fragilidade do poder judiciário nas democracias representativas e é dado um exemplo de como burlar esse sistema chulo: basta ser um ideólogo, um formador de opiniões, um sofista criativo.
Vendo o resultado final do julgamento, primeiro, eu não sabia se ficava feliz ou triste. Por um lado, OJ não foi punido e então não foi reabilitado para a sociedade (Vide a prisão posterior dele); por outro, finalmente, vinha à tona, mesmo que de forma indevida, uma crítica, com repercussão internacional, ao racismo sistemático da polícia norte-americana. Porém, junto com a injustiça e a isenção do assassino descarado, vinha o desprezo da pauta de gênero, apesar da racial ter sido ouvida (Johnnie Cochran e OJ Simpson banalizaram a agressão doméstica às suas esposas e desprezaram a utilização desses fatores como argumentos). Então, considerando um ponto positivo e dois negativos nesse veredicto, concluí que esse julgamento deixou um legado negativo para o mundo, apesar de ter um certo mérito. Foi um espetáculo horroroso porém, de certa forma, útil.
E a série, em si, é ótima. Além de ser uma superprodução óbvia e, por isso, contar com ótimas atuações, elenco caríssimo, fotografia e trilha sonora impecáveis, foi desenvolvida de modo apropriado, quanto ao roteiro e à direção. A forma imparcial de abordar a situação e representar cada personagem, dando um aprofundamento psicológico para cada um, encaixou de modo perfeito. Não tem maniqueísmos e o espectador ganha uma certa liberdade para ficar de algum lado e torcer para o grupo de personagens que simpatizar mais, mas dificilmente não vai, pelo menos, "compreender" o lado oposto (Quando falo "lado", me refiro a um entre os dois que formam a disputa de Marcia e Darden contra Shapiro e Cochran). Essa abordagem dá um caráter sensato e original para a série.
Mito da caverna, Matrix, O Gene Egoísta, teoria da rebelião das máquinas, "O homem é o lobo do homem"... dá para enxergar tantos significados nessa série que não dá para analisar tudo aqui, num comentário do Filmow. Eu me recuso.
Como são brilhantes as metáforas e as críticas nos significados dos episódios dessa temporada. São muito fortes. Cada episódio traz discursos sólidos, firmes e incontestáveis, baseados em fatos sobre a condição da sociedade contemporânea. É difícil negar que cada possibilidade que Black Mirror aponta sobre o futuro é válida.
Vou dar as minhas opiniões sobre cada episódio. E o primeiro que vou citar será o último episódio, Hated in the Nation, que é uma superprodução e então merece atenção especial. Não é uma superprodução apenas no sentido técnico mas no filosófico, também. O significado desse episódio é especial. A abordagem simultânea a temas contemporâneos e de enorme gravidade, como a questão da "morte da privacidade", que é tão alertada pela Wikileaks, pelo Partido Pirata e por outros grupos hoje em atividade, associada à falta de ética manifestada através de linchamentos cibernéticos (Que são materializados devido a um mecanismo automático criado por Garrett Scholes, um "gênio do mal", que, enxergando a absurdez dessa capacidade que a internet nos dá, resolveu agir de forma "justa", punindo qualquer um que desejasse a morte do próximo), é assustadora. Por ser capaz de materializar um desejo específico e fatal de um público mau, Garrett Scholes é literalmente um gênio do mal que age como um julgador indireto da sociedade, assim como o hacker desconhecido do terceiro episódio, Shut up and Dance. E é justamente por isso que no final do episódio, ao deixar subentendido que Garrett foi pego por Blue, o desfecho também é pessimista, e o clichê de final triste, particular ao Black Mirror, se mantém. Porque o único homem que, embora tenha utilizado um método exagerado, resolveu punir a sociedade por sua hipocrisia expressa pelo hábito de linchamento virtual, dando a todos o que eles queriam (Concretizando mortes), acaba sendo derrotado ao ser pego por alguém que representa a tristeza da humanidade - Vide o nome da personagem: Blue. Ela sabia que as vítimas dele eram todas politicamente incorretas mas ainda se abalava com suas mortes, mais do que qualquer colega (Mais do que sua chefe, Karin) e essa característica define a personagem. E, por isso, é ela que se posiciona de modo implacável para pegar Garrett. Portanto, diante de toda essa dinâmica, o final pode ser entendido ou como pessimista devido à queda do gênio do mal que dava à humanidade o que queria e não daria mais ou, ainda, como "triste", assim como o nome da heroína, porque, apesar do desfecho, o massacre de 300.000 pessoas não deixa de ter acontecido. E toda a trama se desdobra com um clima de tensão típico de filmes noir, com uma estética única, inovadora, e, por isso, diferente de qualquer episódio. É um episódio equivalente ao White Christmas, da segunda temporada, e que, assim como ele, tem a função de fechar a season com chave de ouro (Ao som de Portishead).
A série inteira é assustadora, na verdade, por causa do realismo presente nas ideias de cada episódio. E porque não se baseia apenas em previsões do futuro mas também em críticas ao que acontece hoje. Pensar que Black Mirror é uma série só sobre um futuro distópico é interpretar a série de forma incorreta. Isso pode ser percebido no primeiro episódio, Nosedive, que intensifica ao máximo a superficialidade que as redes sociais despertam nas pessoas, propondo em sua diegese uma sociedade baseada nessa característica, de modo coletivamente caricato. E ainda relaciona a superficialidade das redes sociais com preconceitos atemporais, que acompanham a sociedade desde sempre, e com a questão da desigualdade social - "O de cima sobe e o de baixo desce", ou seja, quem tem três estrelas ou mais tende a ganhar mais estrelas em suas relações sociais; enquanto que quem tem menos de três estrelas e, contudo, está abaixo da média de avaliação existencial, apenas tende a receber mais e mais notas negativas. É uma metáfora que traz em si diversos fatos sociais sobre as relações interpessoais. E, além de toda essa carga metafórica que expliquei acima, devo reforçar o realismo de Nosedive ressaltando que na China já existe um aplicativo que serve para "avaliar pessoas". Link: http://www.businessinsider.com/china-social-credit-score-like-black-mirror-2016-10
Playtest (O episódio mais triste, na minha opinião) me fez lembrar de Refrão, um curta-metragem de Krzysztof Kieslowski, que dialoga sobre a insignificância das mortes de seres humanos desconhecidos e sobre a transformação da morte alheia em mera estatística, apesar de o episódio inteiro se aprofundar no psicológico de Cooper (O protagonista de Playtest), explicando cada um de seus traumas, evidenciando suas características positivas e negativas, e, enfim, mostrando que na verdade ele tinha uma vida rica e era uma grande pessoa, mas acaba morto em apenas 0,04 segundos de forma ridícula e simplesmente insignificante, devido a uma interferência entre o sinal de celular e o mecanismo que usava para jogar o "jogo mental", ao receber uma ligação da mãe. E, de forma cômica, Cooper finalmente chama a mãe dele, obedecendo a orientação recorrente de Sonja no decorrer do episódio, pois não atendia as ligações constantes da mãe devido ao luto pela morte do pai e à vontade de se isolar. Assim, finalmente, "Cooper called Mom" - O que pode parecer cômico, em outra perspectiva que desconsidere o quão profundo, na verdade, foi o motivo para ele chamar sua mãe; mas ficou parecendo que obedeceu ao clichê clássico da humanidade em que as crianças, em momentos de desespero, chamam suas mães para pedir socorro. Um episódio triste e, superficialmente, de humor negro sobre indiferença diante da morte e desvalorização de grandes subjetividades. Afinal, esse é o episódio em que há mais aprofundamento psicológico no protagonista, entre todos os outros, de qualquer temporada.
Shut up and Dance, como já citei em um parágrafo acima, é um episódio sobre a morte da privacidade não só em nível macroscópico de relações sociais mas também em nível micro. E ainda expressa o sadismo diante do ato de "fazer justiça" - Assim como em White Bear. E vale a referência indireta à necessidade de cobrirmos as webcams embutidas em nossos notebooks representada mundialmente por Mark Zuckerberg. É um episódio interessante, apesar da valorização descontextualizada e atrasada da Troll Face, que é um símbolo já desprezado e ridicularizado por qualquer hacker que realmente consiga fazer algo ao menos parecido com o que acontece nesse episódio. Mas, ainda assim, o final é brilhante. A quebra de expectativas por te fazer descobrir que o protagonista na verdade era um pedófilo, explicando o que ele realmente estava vendo na internet para se masturbar, e então, também, te fazer desapegar dele e apoiar o final que deveria ser triste, caso não ocorresse a quebra, foi uma sacada espetacular (Ao som de Exit Music (For a Film), de Radiohead - O que torna tudo mais espetacular).
San Junipero é sobre algo que o ser humano nunca vai deixar de ter: medo da morte. Um Céu sintético para que vivamos após a morte pode parecer um sonho sendo realizado, mas ninguém na trama pensa no fato de que a Terra, um dia, inevitavelmente, vai acabar. Toda aquela vida claustrofóbica, limitada e passível de erros, um dia, acabaria de repente, se existisse, mas é tratada como uma solução para a morte e, portanto, se torna comum para a maioria das pessoas. A incapacidade das personagens para perceber isso, a conclusiva falta de noção crítica até da única personagem que a princípio se dispõe a criticar San Junipero, e então a consequente submissão à tecnologia, são deprimentes porém compreensíveis. O mesmo acontece em Fifteen Million Merits, ou seja, o segundo episódio da primeira temporada, em que o protagonista também era o único crítico da sociedade hipotética que o episódio propõe, mas se submete à sua estrutura, no final, expressando um argumento niilista que indica que não há como melhorar o mundo. Vale lembrar que San Junipero é, em si, um espetáculo audiovisual. A estética baseada nos anos 80, com características vaporwave, diversifica o clima na temporada e torna San Junipero mais chamativo do que os outros episódios, em termos visuais. E a trilha sonora é similar a Stranger Things, Drive, Super 8 e outros filmes ou séries do tipo. Com certeza a referência aos 80's foi tão bem feita que ficou parecendo uma homenagem nostálgica para públicos mais velhos. E o final ao som de "Heaven is a Place on Earth" caiu como uma luva.
Men Against Fire, de acordo com o meu entendimento, é uma metáfora a um fenômeno que acontece em muitas instituições militares. O argumento é tão genial quanto White Bear (O segundo episódio da segunda temporada) porque expressa a ideia através de uma situação simbólica e imprevisível. Se trata de uma fábrica de ódio, de vontade de matar, de deturpação do reconhecimento do próximo como ser humano, e, enfim, representa a desumanização institucionalizada de alvos de militares. Exemplos a serem citados sobre isso são a polícia norte-americana, que conduz um genocídio negro nos EUA, e a Polícia Militar, que faz o mesmo no Brasil. Sem contar que o episódio deixa claro que a operação conduzida pelo Exército é genocida e tem fundamentos científicos e de eugenia para justifica-la, dizendo que a raça a ser exterminada, comparada simbolicamente a baratas, tem genes de características negativas, que impedem o desenvolvimento progressista da sociedade. Então há um agravante na operação, que a torna comparável ao nazifascismo ou às ideias que surgiram no meio do século XIX para justificar a partilha afro-asiática (Darwinismo social, frenologia, etc). Tudo isso, somado, acaba indicando mais um risco que o avanço tecnológico pode trazer não só às pessoas, mas ao senso de humanidade e alertando sobre a necessidade urgente de tornar as pessoas mais éticas.
Acredito que o mundo inteiro deveria assistir a essa série. Todos precisam ver essas metáforas, tomar os tapas na cara que cada episódio dá, entender como a sociedade globalizada é hipócrita e perigosa (E como isso pode piorar) e refletir muito sobre isso. Porque em tempos de crise ética no mundo inteiro, como estamos vivendo agora, isso se torna mais necessário ainda. Não dá para ficar "no pão e circo" e se recusar a olhar para o espelho negro enquanto ele se torna cada vez mais evidente.
Fiquei decepcionado com alguns clichês previsíveis. Um exemplo é a cena da morte do coronel Carrillo. O impedimento de Murphy e Peña irem à "operação armadilha" foi tão previsível quanto o fato de todos os homens do coronel terem sido abatidos com exceção dele mesmo para o Pablo "devolver a bala" que ele deu ao David, para fechar a cena. Embora muito bem feita, lembrou diversas cenas de outros filmes e séries - Exemplo: as mortes de Todd e Jack no final de Breaking Bad. E a partir desse clichê (Do típico tiroteio em que todos os capangas morrem mas o chefão fica agonizando e é humilhado antes de ser executado) percebe-se outros, extremamente comuns, como as cenas de tiroteios e assassinatos em que há simultaneidade entre um momento de felicidade e outro de desgraça - Como a parte do massacre das prostitutas enquanto Pablo canta calmamente debaixo do chuveiro e depois fuma um baseado, e outras cenas idênticas, parecidas com as do Poderoso Chefão. E assim por diante.
Além dos clichês, ainda, tem cenas desnecessárias e mal feitas que comprometem a qualidade da série. Um exemplo é a morte da Maritza. É uma cena que não tem absolutamente nenhuma função para engrenar o roteiro. Só serve para te deixar, enquanto espectador, impressionado com a submissão de Limón a Escobar. As atuações não são ruins mas o acontecimento, em si, é estranho, ilógico, desnecessário, superficial, etc. Só serve para fazer um aprofundamento psicológico raso em uma personagem coadjuvante. Outro exemplo é quando o cartel de Medellin tenta, junto com Valeria, iniciar uma guerra publicitária contra o governo através dos relatos do menino David. Que acontecimento desnecessário! Simplesmente não acarreta nenhum desdobramento na trama. Até o assassinato posterior dela se deve a outro motivo, ou seja, por ela ter levado à Tata o equipamento para conversar com Pablo - E então o grupo Los Pepes a assassina. E, por fim, mais um exemplo é a cena do episódio 4 em que Tata adquire uma arma para se defender por estar se sentindo insegura mas depois a devolve, quando Carrillo morre. Mas agora pense que até hoje Valeria e Carrillo não morreram, na vida real. Eles foram baseados respectivamente em Virginia Vallejo e Hugo Martinez. Enfim, esses acontecimentos irreais e desnecessários deixaram esta temporada menos objetiva e mais expositiva.
Tudo isso citado acima me desapontou porque nessa temporada a série desandou. Se a primeira já tivesse mostrado em excesso esses problemas nada disso teria sido decepcionante. A primeira tinha um aspecto muito mais chocante porque tinha menos "tomadas alteradas com fins dramáticos". Tinha mais histórias e menos estórias, apesar de claras mudanças na direção que deixavam tudo mais intenso. Ao contrário desta, a oscilação entre o real e o fictício era muito mais presente, ou seja, se apresentavam constantemente tomadas de notícias jornalísticas reais após cada desdobramento da história. Dava para sentir até um clima de documentário. E aquilo era muito assustador porque tornava tudo muito mais impressionante e literalmente realista. Ver algo absurdo acontecer e pensar "Porra, isso realmente aconteceu" era uma impressão que acompanhava o espectador com uma frequência muito maior. Até senti isso ao assistir essa temporada, mas não foi a mesma coisa que senti no ano passado ao ver a anterior. Por todos esses motivos, temos que reconhecer que a primeira temporada demonstrava muito mais criatividade e originalidade do que esta.
Acabar em aberto, ao meu ver, foi uma forma de tentar justificar um final forçado e feito às pressas. Na primeira temporada Narcos deu a entender que era completamente baseado na história de Escobar contada por Steve Murphy. Agora, já que a série não atende mais à sua proposta inicial, eu não sei no que vai dar. Se Murphy vai narrar sua trajetória imperialista por outros países subdesenvolvidos em prol de uma guerra irracional e sem fim, a série vai piorar. E aí, se for assim, vai virar, de uma vez por todas, uma grande merda moralista e superficial (Sendo que tinha tudo para ser algo crítico e inteligente).
Enfim, apesar de tudo, tem alguns pontos positivos aqui. A atuação do Wagner Moura foi impecável, assim como a de todas as personagens principais. Mas vale a ressalva porque esse deve ter sido, de longe, um dos melhores trabalhos dele. E, também, mesmo fragmentada, essa temporada ainda manteve parcialmente o que a primeira tinha de bom (Ou tentou manter). E as estórias ainda te entretêm do inicio ao fim. Nada foi completamente perdido, apesar da visível decaída.
Pense em Stand By Me com um argumento baseado na teoria dos "muitos mundos", estética de Super 8 e influências de Jumanji, ET, The X-Files e Poltergeist.
O segundo episódio começa bem kafkaesco por causa daquela típica situação de "sentimento de culpa sem identificação de um porquê real", mas depois vira uma espécie de "Show de Truman misturado com programas sensacionalistas e moralistas tipo o do Datena". E isso dialoga diretamente com a política romana de Panis et circences, em que o sadismo só é sanado com mais sadismo ainda, com senso de vingança.
E é aí, a partir dessa situação, que uma pessoa de senso comum começaria a questionar e abrir os olhos diante do que acha tão comumente aceitável e vê rotineiramente não só no programa do Datena ou do Marcelo Rezende mas também em opiniões públicas compatíveis (Diretamente representadas por políticos como o Bolsonaro). É um alerta fundamental para a sociedade. Todas as pessoas despolitizadas deveriam assistir pelo menos esse episódio.
O jeito que essa série retrata e critica o contexto político-global atual é muito interessante. Interessante por ser imparcial e sensato. Por exemplo, as críticas ao putinismo e à hipocrisia do Estado Islâmico, representados respectivamente pelo Petrov e pela OCI, são muito boas não só por serem irrefutáveis, mas por serem autodestrutivas, ou seja, por não serem unilaterais. Ao mesmo tempo que ataca sob uma perspectiva norte-americana, critica o próprio governo dos EUA. E essa linha de argumentação, de análise e de interpretação se aplica a todas as outras críticas que são feitas, além das duas que citei como exemplo. Ou seja, o discurso de House of Cards é duro, niilista, cru e agressivo.
Vale lembrar dos paralelos que foram trançados entre Bush e Underwood nessa season. A decadência do (anti) herói o levou a tomar decisões parecidas com as de um dos piores presidentes da história do país. Foi magistral demais rebaixar o protagonista a um nível tão execrável mas logo quebrar a quarta parede para ele admitir algo parecido com: "Sim, eu estou errado em sentido político e estou fazendo tudo isso por mim. E só por mim. Então, sim, os EUA criaram o 'terrorismo islâmico'". Isso foi uma crítica ácida ao governo. Porque a partir de uma situação "aleatória", que na verdade foi criada pelo imperialismo, usaram um bode expiatório para criar um estopim para justificar algo que de qualquer modo teria que ser feito pela manutenção do poder. E não é exatamente o que os EUA sempre fazem? - E o que foi mais convincente foi a participação da Claire nesse devaneio final. Isso indica que muita coisa pode mudar na próxima season em relação ao desdobramento do roteiro. Tudo isso fez justiça à ideia central da estória e fechou a temporada com chave de ouro.
Twin Peaks (2ª Temporada)
4.2 299Sabe a estrutura padronizada com uma trilha sonora repetida, com uma direção específica, com uma fotografia determinada e com atuações variáveis de 8 a 80? Isso deixa saudades. Vou me abster a dizer isso porque sou incapaz de analisar essa série. Existe toda uma cultura lynchiana (Tem livros sobre Twin Peaks) que já se dedica a fazer isso com a densidade adequada. Então é isso. O melhor é só contemplar a beleza disso e se enfiar na medida do possível nessa "cultura".
Aquela introdução que começa com um passarinho e os créditos com a foto da Laura no fundo desapareceram na terceira temporada. Triste. É melhor aproveitar cada segundo dessa daqui, por isso.
E se o James e a Donna não existissem talvez a série não teria sido cancelada. heh.
House of Cards (5ª Temporada)
4.0 248 Assista AgoraO clima da temporada ficou mais pesado, dinâmico, agitado, rápido. Essa é uma característica particular, diferente das quatro seasons anteriores, e que marcou essa. Frank e Claire ficaram mais badasses do que nunca, devido ao clima de tensão e decadência, tudo ficou mais agressivo, e o desenvolvimento do enredo ficou acelerado demais.
Mas eu senti falta das quebras da quarta parede. Enquanto que na quarta temporada esse recurso foi explorado ao máximo, no máximo de situações possíveis (Desde as mais espontâneas e breves até as mais agitadas), nessa, ficou reservado para momentos particulares ou para cenas em que, em público, a movimentação dos figurantes e coadjuvantes para, e Frank começa a dialogar com o espectador. Essa limitação me fez sentir falta desse recurso que marcou a série desde o começo. Porém, como já foi indicado no final da quarta temporada (E como eu supus no comentário que fiz aqui no Filmow quando a assisti, há um ano), o ponto positivo dessa quinta season é que a Claire passou a participar dessas quebras. Aqui ela participou de duas.
"My turn."
E eu, na verdade, apesar de reconhecer que possa ter quem tenha gostado, me incomodei um pouco com essa agitação toda que marcou a temporada. Isso deixou as situações menos desenvolvidas do que nas outras. Antes vários acontecimentos se acumulavam até que se chegasse a um clímax e alguma coisa importante acontecesse (Por exemplo, nas mortes da Zoe e do Russo, uma sequência de eventos vieram antes e foram feitos aprofundamentos nas personalidades e perspectivas dos dois) e, assim, todos os momentos de clímax eram mais valorizados. Depois de acumular uma carga inteira de tensão, descarregava-se tudo e o espectador se impressionava muito mais. Agora, as coisas acontecem muito rápido, aquele clima peculiar, lento e cheio de suspense, desapareceu. Tudo acontece de um jeito forçado, meio sensacionalista, e todas as conclusões pós-desenvolvimento acontecem de forma omissa, escondendo as cenas que mostram abertamente o que e como aconteceu e acabam banalizando muitos desfechos. Nada parece ser tão importante assim. Faltou desenvolvimento e teve forçação e banalização de sobra.
A queda da Catherine e as mortes do Tom, do Aidan e da Leann aconteceram com muito menos desenvolvimento do que qualquer outra morte importante na série. As razões para cada assassinato ficaram claras, porém, estranhas e pouco explicadas, para manter, talvez, um clima maior de mistério. Eu não senti isso como um incômodo nas temporadas anteriores. Quiseram intensificar uma característica do House of Cards que se dava só depois de muita preparação. Não teve tanta preparação como antes, nos casos que eu citei. Faltou aprofundamento nas personagens. Aquele clima romanesco e realista, que te faz se apegar a mais personagens além dos protagonistas, se foi. E então as mortes das personagens não trazem impacto nenhum. Essa mudança no desenrolar do roteiro ficou bastante perceptível. E, por isso, esse é um ponto negativo para quem gostava do aspecto lento e realista das seasons anteriores, no meu ver. Todos esses acontecimentos que eu citei ficaram vagos e, numa perspectiva realista, deveriam causar impactos muito maiores na mídia e comprometer muito mais rápido o Frank. Se o realismo das temporadas anteriores tivesse sido mantido, ele teria caído muito mais rápido. Faltou realismo, verossimilhança, preparações antes dos desfechos etc. Além disso, sobre as omissões, as mortes do Ahmadi e do rapaz do OCI que degolou um americano no final da quarta temporada, não foram mostradas, para manter um clima de banalização de acontecimentos importantes, de tantas coisas que acontecem aqui. Uma pena.
Mesmo assim, apesar de tudo, a trilha sonora do Jeff Beau, a fotografia escura em harmonia com o tom deprimente do contexto geral da temporada e o mantimento ótimas atuações e das direções variadas ainda salvaram a série (Afinal, o último episódio foi dirigido por ninguém mais que a própria Robin Wright). Essas são características que ainda fazem valer a pena assistir House of Cards e que me fizeram gostar dessa temporada, apesar de tudo.
Essa temporada, talvez pela falta do Beau Willimon, ficou claramente diferente. Mesmo sabendo que ele não tinha uma interação direta com a criação de cada episódio (Todos são escritos e dirigidos por pessoas diferentes), o dedo dele fez falta, sim, de algum modo. As mudanças, em comparação com as quatro primeiras seasons, são claras. Por conta disso tudo, espero que exista um roteiro básico pronto para finalizar a série (Que já tenha um final previsto), embora tudo esteja indicando que vai acabar, por fim, do mesmo modo que o House of Cards UK. E eu espero que acabe o quanto antes, por isso. De preferência, na próxima temporada, para que a Netflix não estrague uma boa estória à toa, só para manter no ar uma série que "dá dinheiro".
Claire vai matar o Frank para manter um legado positivo para ele, depois de perdoá-lo, se tudo ocorrer como é esperado. Já peço desculpas antecipadas se essa previsão estiver correta ou se você ainda não assistiu House of Cards UK.
House of Cards (5ª Temporada)
4.0 248 Assista Agora"Underwood 2016, 2020, 2024, 2028, 2032, 2036... one nation, Underwood".
American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson (1ª Temporada)
4.5 582 Assista AgoraEssa é uma superprodução para te fazer refletir imparcialmente sobre sofismo.
Ao mesmo tempo que Johnnie Cochran conseguiu trazer uma mensagem realmente válida para a sociedade, visando transformações, saiu como oportunista e trouxe a injustiça à tona, sob o ponto de vista jurídico. Sendo assim, será que ele deixou um legado positivo ou negativo para a humanidade? De qualquer modo, fica aí exposta a fragilidade do poder judiciário nas democracias representativas e é dado um exemplo de como burlar esse sistema chulo: basta ser um ideólogo, um formador de opiniões, um sofista criativo.
Vendo o resultado final do julgamento, primeiro, eu não sabia se ficava feliz ou triste. Por um lado, OJ não foi punido e então não foi reabilitado para a sociedade (Vide a prisão posterior dele); por outro, finalmente, vinha à tona, mesmo que de forma indevida, uma crítica, com repercussão internacional, ao racismo sistemático da polícia norte-americana. Porém, junto com a injustiça e a isenção do assassino descarado, vinha o desprezo da pauta de gênero, apesar da racial ter sido ouvida (Johnnie Cochran e OJ Simpson banalizaram a agressão doméstica às suas esposas e desprezaram a utilização desses fatores como argumentos). Então, considerando um ponto positivo e dois negativos nesse veredicto, concluí que esse julgamento deixou um legado negativo para o mundo, apesar de ter um certo mérito. Foi um espetáculo horroroso porém, de certa forma, útil.
E a série, em si, é ótima. Além de ser uma superprodução óbvia e, por isso, contar com ótimas atuações, elenco caríssimo, fotografia e trilha sonora impecáveis, foi desenvolvida de modo apropriado, quanto ao roteiro e à direção. A forma imparcial de abordar a situação e representar cada personagem, dando um aprofundamento psicológico para cada um, encaixou de modo perfeito. Não tem maniqueísmos e o espectador ganha uma certa liberdade para ficar de algum lado e torcer para o grupo de personagens que simpatizar mais, mas dificilmente não vai, pelo menos, "compreender" o lado oposto (Quando falo "lado", me refiro a um entre os dois que formam a disputa de Marcia e Darden contra Shapiro e Cochran). Essa abordagem dá um caráter sensato e original para a série.
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KMito da caverna, Matrix, O Gene Egoísta, teoria da rebelião das máquinas, "O homem é o lobo do homem"... dá para enxergar tantos significados nessa série que não dá para analisar tudo aqui, num comentário do Filmow. Eu me recuso.
Mr. Robot (2ª Temporada)
4.4 518Tyrell = Elliot = Mr. Robot
Black Mirror (3ª Temporada)
4.5 1,3K Assista AgoraComo são brilhantes as metáforas e as críticas nos significados dos episódios dessa temporada. São muito fortes. Cada episódio traz discursos sólidos, firmes e incontestáveis, baseados em fatos sobre a condição da sociedade contemporânea. É difícil negar que cada possibilidade que Black Mirror aponta sobre o futuro é válida.
Vou dar as minhas opiniões sobre cada episódio. E o primeiro que vou citar será o último episódio, Hated in the Nation, que é uma superprodução e então merece atenção especial. Não é uma superprodução apenas no sentido técnico mas no filosófico, também. O significado desse episódio é especial. A abordagem simultânea a temas contemporâneos e de enorme gravidade, como a questão da "morte da privacidade", que é tão alertada pela Wikileaks, pelo Partido Pirata e por outros grupos hoje em atividade, associada à falta de ética manifestada através de linchamentos cibernéticos (Que são materializados devido a um mecanismo automático criado por Garrett Scholes, um "gênio do mal", que, enxergando a absurdez dessa capacidade que a internet nos dá, resolveu agir de forma "justa", punindo qualquer um que desejasse a morte do próximo), é assustadora. Por ser capaz de materializar um desejo específico e fatal de um público mau, Garrett Scholes é literalmente um gênio do mal que age como um julgador indireto da sociedade, assim como o hacker desconhecido do terceiro episódio, Shut up and Dance. E é justamente por isso que no final do episódio, ao deixar subentendido que Garrett foi pego por Blue, o desfecho também é pessimista, e o clichê de final triste, particular ao Black Mirror, se mantém. Porque o único homem que, embora tenha utilizado um método exagerado, resolveu punir a sociedade por sua hipocrisia expressa pelo hábito de linchamento virtual, dando a todos o que eles queriam (Concretizando mortes), acaba sendo derrotado ao ser pego por alguém que representa a tristeza da humanidade - Vide o nome da personagem: Blue. Ela sabia que as vítimas dele eram todas politicamente incorretas mas ainda se abalava com suas mortes, mais do que qualquer colega (Mais do que sua chefe, Karin) e essa característica define a personagem. E, por isso, é ela que se posiciona de modo implacável para pegar Garrett. Portanto, diante de toda essa dinâmica, o final pode ser entendido ou como pessimista devido à queda do gênio do mal que dava à humanidade o que queria e não daria mais ou, ainda, como "triste", assim como o nome da heroína, porque, apesar do desfecho, o massacre de 300.000 pessoas não deixa de ter acontecido. E toda a trama se desdobra com um clima de tensão típico de filmes noir, com uma estética única, inovadora, e, por isso, diferente de qualquer episódio. É um episódio equivalente ao White Christmas, da segunda temporada, e que, assim como ele, tem a função de fechar a season com chave de ouro (Ao som de Portishead).
A série inteira é assustadora, na verdade, por causa do realismo presente nas ideias de cada episódio. E porque não se baseia apenas em previsões do futuro mas também em críticas ao que acontece hoje. Pensar que Black Mirror é uma série só sobre um futuro distópico é interpretar a série de forma incorreta. Isso pode ser percebido no primeiro episódio, Nosedive, que intensifica ao máximo a superficialidade que as redes sociais despertam nas pessoas, propondo em sua diegese uma sociedade baseada nessa característica, de modo coletivamente caricato. E ainda relaciona a superficialidade das redes sociais com preconceitos atemporais, que acompanham a sociedade desde sempre, e com a questão da desigualdade social - "O de cima sobe e o de baixo desce", ou seja, quem tem três estrelas ou mais tende a ganhar mais estrelas em suas relações sociais; enquanto que quem tem menos de três estrelas e, contudo, está abaixo da média de avaliação existencial, apenas tende a receber mais e mais notas negativas. É uma metáfora que traz em si diversos fatos sociais sobre as relações interpessoais.
E, além de toda essa carga metafórica que expliquei acima, devo reforçar o realismo de Nosedive ressaltando que na China já existe um aplicativo que serve para "avaliar pessoas". Link: http://www.businessinsider.com/china-social-credit-score-like-black-mirror-2016-10
Playtest (O episódio mais triste, na minha opinião) me fez lembrar de Refrão, um curta-metragem de Krzysztof Kieslowski, que dialoga sobre a insignificância das mortes de seres humanos desconhecidos e sobre a transformação da morte alheia em mera estatística, apesar de o episódio inteiro se aprofundar no psicológico de Cooper (O protagonista de Playtest), explicando cada um de seus traumas, evidenciando suas características positivas e negativas, e, enfim, mostrando que na verdade ele tinha uma vida rica e era uma grande pessoa, mas acaba morto em apenas 0,04 segundos de forma ridícula e simplesmente insignificante, devido a uma interferência entre o sinal de celular e o mecanismo que usava para jogar o "jogo mental", ao receber uma ligação da mãe. E, de forma cômica, Cooper finalmente chama a mãe dele, obedecendo a orientação recorrente de Sonja no decorrer do episódio, pois não atendia as ligações constantes da mãe devido ao luto pela morte do pai e à vontade de se isolar. Assim, finalmente, "Cooper called Mom" - O que pode parecer cômico, em outra perspectiva que desconsidere o quão profundo, na verdade, foi o motivo para ele chamar sua mãe; mas ficou parecendo que obedeceu ao clichê clássico da humanidade em que as crianças, em momentos de desespero, chamam suas mães para pedir socorro. Um episódio triste e, superficialmente, de humor negro sobre indiferença diante da morte e desvalorização de grandes subjetividades. Afinal, esse é o episódio em que há mais aprofundamento psicológico no protagonista, entre todos os outros, de qualquer temporada.
Shut up and Dance, como já citei em um parágrafo acima, é um episódio sobre a morte da privacidade não só em nível macroscópico de relações sociais mas também em nível micro. E ainda expressa o sadismo diante do ato de "fazer justiça" - Assim como em White Bear. E vale a referência indireta à necessidade de cobrirmos as webcams embutidas em nossos notebooks representada mundialmente por Mark Zuckerberg. É um episódio interessante, apesar da valorização descontextualizada e atrasada da Troll Face, que é um símbolo já desprezado e ridicularizado por qualquer hacker que realmente consiga fazer algo ao menos parecido com o que acontece nesse episódio. Mas, ainda assim, o final é brilhante. A quebra de expectativas por te fazer descobrir que o protagonista na verdade era um pedófilo, explicando o que ele realmente estava vendo na internet para se masturbar, e então, também, te fazer desapegar dele e apoiar o final que deveria ser triste, caso não ocorresse a quebra, foi uma sacada espetacular (Ao som de Exit Music (For a Film), de Radiohead - O que torna tudo mais espetacular).
San Junipero é sobre algo que o ser humano nunca vai deixar de ter: medo da morte. Um Céu sintético para que vivamos após a morte pode parecer um sonho sendo realizado, mas ninguém na trama pensa no fato de que a Terra, um dia, inevitavelmente, vai acabar. Toda aquela vida claustrofóbica, limitada e passível de erros, um dia, acabaria de repente, se existisse, mas é tratada como uma solução para a morte e, portanto, se torna comum para a maioria das pessoas. A incapacidade das personagens para perceber isso, a conclusiva falta de noção crítica até da única personagem que a princípio se dispõe a criticar San Junipero, e então a consequente submissão à tecnologia, são deprimentes porém compreensíveis. O mesmo acontece em Fifteen Million Merits, ou seja, o segundo episódio da primeira temporada, em que o protagonista também era o único crítico da sociedade hipotética que o episódio propõe, mas se submete à sua estrutura, no final, expressando um argumento niilista que indica que não há como melhorar o mundo.
Vale lembrar que San Junipero é, em si, um espetáculo audiovisual. A estética baseada nos anos 80, com características vaporwave, diversifica o clima na temporada e torna San Junipero mais chamativo do que os outros episódios, em termos visuais. E a trilha sonora é similar a Stranger Things, Drive, Super 8 e outros filmes ou séries do tipo. Com certeza a referência aos 80's foi tão bem feita que ficou parecendo uma homenagem nostálgica para públicos mais velhos. E o final ao som de "Heaven is a Place on Earth" caiu como uma luva.
Men Against Fire, de acordo com o meu entendimento, é uma metáfora a um fenômeno que acontece em muitas instituições militares. O argumento é tão genial quanto White Bear (O segundo episódio da segunda temporada) porque expressa a ideia através de uma situação simbólica e imprevisível. Se trata de uma fábrica de ódio, de vontade de matar, de deturpação do reconhecimento do próximo como ser humano, e, enfim, representa a desumanização institucionalizada de alvos de militares. Exemplos a serem citados sobre isso são a polícia norte-americana, que conduz um genocídio negro nos EUA, e a Polícia Militar, que faz o mesmo no Brasil. Sem contar que o episódio deixa claro que a operação conduzida pelo Exército é genocida e tem fundamentos científicos e de eugenia para justifica-la, dizendo que a raça a ser exterminada, comparada simbolicamente a baratas, tem genes de características negativas, que impedem o desenvolvimento progressista da sociedade. Então há um agravante na operação, que a torna comparável ao nazifascismo ou às ideias que surgiram no meio do século XIX para justificar a partilha afro-asiática (Darwinismo social, frenologia, etc). Tudo isso, somado, acaba indicando mais um risco que o avanço tecnológico pode trazer não só às pessoas, mas ao senso de humanidade e alertando sobre a necessidade urgente de tornar as pessoas mais éticas.
Acredito que o mundo inteiro deveria assistir a essa série. Todos precisam ver essas metáforas, tomar os tapas na cara que cada episódio dá, entender como a sociedade globalizada é hipócrita e perigosa (E como isso pode piorar) e refletir muito sobre isso. Porque em tempos de crise ética no mundo inteiro, como estamos vivendo agora, isso se torna mais necessário ainda. Não dá para ficar "no pão e circo" e se recusar a olhar para o espelho negro enquanto ele se torna cada vez mais evidente.
Narcos (2ª Temporada)
4.4 460 Assista AgoraAcho que deixar expectativas para uma terceira temporada sem o Pablo Escobar é duvidoso.
Fiquei decepcionado com alguns clichês previsíveis. Um exemplo é a cena da morte do coronel Carrillo. O impedimento de Murphy e Peña irem à "operação armadilha" foi tão previsível quanto o fato de todos os homens do coronel terem sido abatidos com exceção dele mesmo para o Pablo "devolver a bala" que ele deu ao David, para fechar a cena. Embora muito bem feita, lembrou diversas cenas de outros filmes e séries - Exemplo: as mortes de Todd e Jack no final de Breaking Bad. E a partir desse clichê (Do típico tiroteio em que todos os capangas morrem mas o chefão fica agonizando e é humilhado antes de ser executado) percebe-se outros, extremamente comuns, como as cenas de tiroteios e assassinatos em que há simultaneidade entre um momento de felicidade e outro de desgraça - Como a parte do massacre das prostitutas enquanto Pablo canta calmamente debaixo do chuveiro e depois fuma um baseado, e outras cenas idênticas, parecidas com as do Poderoso Chefão. E assim por diante.
Além dos clichês, ainda, tem cenas desnecessárias e mal feitas que comprometem a qualidade da série. Um exemplo é a morte da Maritza. É uma cena que não tem absolutamente nenhuma função para engrenar o roteiro. Só serve para te deixar, enquanto espectador, impressionado com a submissão de Limón a Escobar. As atuações não são ruins mas o acontecimento, em si, é estranho, ilógico, desnecessário, superficial, etc. Só serve para fazer um aprofundamento psicológico raso em uma personagem coadjuvante. Outro exemplo é quando o cartel de Medellin tenta, junto com Valeria, iniciar uma guerra publicitária contra o governo através dos relatos do menino David. Que acontecimento desnecessário! Simplesmente não acarreta nenhum desdobramento na trama. Até o assassinato posterior dela se deve a outro motivo, ou seja, por ela ter levado à Tata o equipamento para conversar com Pablo - E então o grupo Los Pepes a assassina. E, por fim, mais um exemplo é a cena do episódio 4 em que Tata adquire uma arma para se defender por estar se sentindo insegura mas depois a devolve, quando Carrillo morre. Mas agora pense que até hoje Valeria e Carrillo não morreram, na vida real. Eles foram baseados respectivamente em Virginia Vallejo e Hugo Martinez. Enfim, esses acontecimentos irreais e desnecessários deixaram esta temporada menos objetiva e mais expositiva.
Tudo isso citado acima me desapontou porque nessa temporada a série desandou. Se a primeira já tivesse mostrado em excesso esses problemas nada disso teria sido decepcionante. A primeira tinha um aspecto muito mais chocante porque tinha menos "tomadas alteradas com fins dramáticos". Tinha mais histórias e menos estórias, apesar de claras mudanças na direção que deixavam tudo mais intenso. Ao contrário desta, a oscilação entre o real e o fictício era muito mais presente, ou seja, se apresentavam constantemente tomadas de notícias jornalísticas reais após cada desdobramento da história. Dava para sentir até um clima de documentário. E aquilo era muito assustador porque tornava tudo muito mais impressionante e literalmente realista. Ver algo absurdo acontecer e pensar "Porra, isso realmente aconteceu" era uma impressão que acompanhava o espectador com uma frequência muito maior. Até senti isso ao assistir essa temporada, mas não foi a mesma coisa que senti no ano passado ao ver a anterior. Por todos esses motivos, temos que reconhecer que a primeira temporada demonstrava muito mais criatividade e originalidade do que esta.
Acabar em aberto, ao meu ver, foi uma forma de tentar justificar um final forçado e feito às pressas. Na primeira temporada Narcos deu a entender que era completamente baseado na história de Escobar contada por Steve Murphy. Agora, já que a série não atende mais à sua proposta inicial, eu não sei no que vai dar. Se Murphy vai narrar sua trajetória imperialista por outros países subdesenvolvidos em prol de uma guerra irracional e sem fim, a série vai piorar. E aí, se for assim, vai virar, de uma vez por todas, uma grande merda moralista e superficial (Sendo que tinha tudo para ser algo crítico e inteligente).
Enfim, apesar de tudo, tem alguns pontos positivos aqui. A atuação do Wagner Moura foi impecável, assim como a de todas as personagens principais. Mas vale a ressalva porque esse deve ter sido, de longe, um dos melhores trabalhos dele. E, também, mesmo fragmentada, essa temporada ainda manteve parcialmente o que a primeira tinha de bom (Ou tentou manter). E as estórias ainda te entretêm do inicio ao fim. Nada foi completamente perdido, apesar da visível decaída.
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraPense em Stand By Me com um argumento baseado na teoria dos "muitos mundos", estética de Super 8 e influências de Jumanji, ET, The X-Files e Poltergeist.
Black Mirror (2ª Temporada)
4.4 753 Assista AgoraO segundo episódio começa bem kafkaesco por causa daquela típica situação de "sentimento de culpa sem identificação de um porquê real", mas depois vira uma espécie de "Show de Truman misturado com programas sensacionalistas e moralistas tipo o do Datena". E isso dialoga diretamente com a política romana de Panis et circences, em que o sadismo só é sanado com mais sadismo ainda, com senso de vingança.
E é aí, a partir dessa situação, que uma pessoa de senso comum começaria a questionar e abrir os olhos diante do que acha tão comumente aceitável e vê rotineiramente não só no programa do Datena ou do Marcelo Rezende mas também em opiniões públicas compatíveis (Diretamente representadas por políticos como o Bolsonaro). É um alerta fundamental para a sociedade. Todas as pessoas despolitizadas deveriam assistir pelo menos esse episódio.
Black Mirror (1ª Temporada)
4.4 1,3K Assista Agorasegundo episódio = sociedade do espetáculo
House of Cards (4ª Temporada)
4.5 407 Assista AgoraO jeito que essa série retrata e critica o contexto político-global atual é muito interessante. Interessante por ser imparcial e sensato. Por exemplo, as críticas ao putinismo e à hipocrisia do Estado Islâmico, representados respectivamente pelo Petrov e pela OCI, são muito boas não só por serem irrefutáveis, mas por serem autodestrutivas, ou seja, por não serem unilaterais. Ao mesmo tempo que ataca sob uma perspectiva norte-americana, critica o próprio governo dos EUA. E essa linha de argumentação, de análise e de interpretação se aplica a todas as outras críticas que são feitas, além das duas que citei como exemplo. Ou seja, o discurso de House of Cards é duro, niilista, cru e agressivo.
Vale lembrar dos paralelos que foram trançados entre Bush e Underwood nessa season. A decadência do (anti) herói o levou a tomar decisões parecidas com as de um dos piores presidentes da história do país. Foi magistral demais rebaixar o protagonista a um nível tão execrável mas logo quebrar a quarta parede para ele admitir algo parecido com: "Sim, eu estou errado em sentido político e estou fazendo tudo isso por mim. E só por mim. Então, sim, os EUA criaram o 'terrorismo islâmico'". Isso foi uma crítica ácida ao governo. Porque a partir de uma situação "aleatória", que na verdade foi criada pelo imperialismo, usaram um bode expiatório para criar um estopim para justificar algo que de qualquer modo teria que ser feito pela manutenção do poder. E não é exatamente o que os EUA sempre fazem? - E o que foi mais convincente foi a participação da Claire nesse devaneio final. Isso indica que muita coisa pode mudar na próxima season em relação ao desdobramento do roteiro. Tudo isso fez justiça à ideia central da estória e fechou a temporada com chave de ouro.
House of Cards (3ª Temporada)
4.4 413Viktor Petrov! Fascist Jerk-off!
Workaholics (3ª Temporada)
4.3 11HER NAME WAS ROBERTA PAULSON
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraDepois do último episódio dessa série, o Jesse nunca mais parou de dirigir.
http://www.youtube.com/watch?v=fsrJWUVoXeM