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Últimas opiniões enviadas

  • Almir Basilio

    Rivette fez uma crítica de Kapò, um filme sobre o holocausto, na qual ele escreve apenas sobre uma cena e ignora todas as outras. Na cena em questão, o diretor Gillo Pontecorvo retrata uma judia morrendo no arame farpado de um campo de concentração e faz um movimento com a câmera (um travelling) pra enquadrar melhor a personagem, pra alcançar um ângulo "perfeito" da mão do cadáver em relação ao quadro. O diretor se aproveita de um dos eventos mais lamentáveis e indescritíveis da história pra atingir um plano de proporção agradável e esteticamente satisfatório: para Rivette, isso é abjeto. Vendo comentários acusando Nolan de ser covarde (ou mal intencionado ou o que quer que seja) por não ter representado em Oppenheimer a explosão das bombas atômicas no Japão ou suas consequências, a conclusão lógica é que essas pessoas desejavam um filme abjeto. E, provavelmente, assim desejavam pra sentir a satisfação de prestigiar um filme sério, tão politicamente consciente quando este espectador, e didático pra todos aqueles que não tem a mesma consciência. Não interessa se o filme transformaria o assassinato de milhares de pessoas em planos encantadores, o importante é que o filme teria como tema algo socialmente relevante, independente da ética de sua representação. Pra essas pessoas que acham que é assim que o cinema político opera sobre a sociedade, seria melhor se Oppenheimer tivesse tal direcionamento - pra nossa sorte, não foi o caso. Ao contrário de Kapò, que Rivette destaca uma cena em específico por perceber nela a abjeção, não há alguma cena de Oppenheimer que deva ser destacada por tal motivo, e é talvez esse o maior mérito de Nolan.
    Esse é um filme que por seu caráter potencialmente problemático (no sentido de que seriam grandes as chances de algum diretor se aproveitar do assunto para retratar questões sérias sem a devida responsabilidade), mais vale elogiá-lo pelo que não está na tela do que pelo que está: ao centrar a maior parte do filme na perspectiva subjetiva do personagem título, Nolan evita toda uma série de potenciais "travellings de Kapò" que poderiam ter ocorrido. Os ataques a Hiroshima e Nagasaki são mostrados apenas como notícias no rádio, e nossa percepção visual dos eventos se restringe à ver tão somente a reação dos personagens principais ao ouvirem a informação horas depois do ocorrido. Escolha muito mais humana, muito mais consciente. Não é um filme que denuncia os crimes da guerra, é um filme que explora as contradições de Oppenheimer e nada mais que isso. Com tal objetivo, Nolan abre mão parcialmente do seu suposto realismo presente em filmes anteriores pra focar em outras possibilidades que uma abordagem mais estilizada permite: os delírios do personagem, sua sexualidade, seus traumas, aparecem de forma mais viva, sem a frieza característica do diretor. Pena que nem todas as cenas são assim: os longos trechos focados no personagem de Robert Downey Jr. têm uma pretensa objetividade que os tornam quase protocolares e por isso destoam - algo que o próprio Nolan deve ter reconhecido, afinal escolheu deixar essas partes em preto e branco e diferenciá-las de forma explícita do resto do filme. À parte disso, antes de qualquer comentário em relação à qualidade do trabalho do diretor, prefiro destacar seu bom senso de se perceber incapaz de mostrar certas coisas. Não se trata de ser impossível ou necessariamente imoral representar no cinema certos temas pesados, mas ao mesmo tempo é comum que esse tipo de filme seja menos sobre a tragédia X ou Y e mais sobre o regozijo do diretor em poder "denunciar" essa tragédia.

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  • Almir Basilio

    Uma trinca de Poor Things, Saltburn e The Menu que sintetiza tudo de pior que é feito em termos de tentativa de um cinema político. Perfeitamente calculados pra incomodar sem incomodar; pra ganhar alguma repercussão pelo "choque" ao mesmo tempo em que não chocam o suficiente pra atrapalhar o reconhecimento da indústria que perseguem desesperadamente; um pouco progressistas no conteúdo mas formalmente inofensivos.
    O trabalho do Yorgos ainda vai por um lado da experimentação formal (tanto que ele não só mantém a caricatura propositalmente exagerada que é a marca do seu estilo como a amplifica pra afetar toda a composição visual do filme), mas essa experimentação é contida o suficiente pra não abrir qualquer dúvida em relação à "mensagem" que o diretor quer passar. É uma experimentação estéril que não adiciona sentido e não dialoga com o que é colocado em palavras pelo filme, só reforça de forma redundante. Mesmo com a artificialidade das paisagens, com as atuações super afetadas, esse exagero se mantém como um risco calculado demais pra ser capaz de ultrapassar os limites do discurso raso. O diretor age como quem diz "eu sei que essa fala do personagem foi bem direta, foi de propósito, mas note como o ator gritou e falou de forma engraçada, percebe a ironia?" - sendo que essas impressões de desconforto provocadas pela caricatura raramente contrastam com o que o espectador já sabia desde o início, só reforçam o que já era demasiado explícito.
    Ainda tem momentos em que o filme constrói algo pelos seus próprios meios. Tem momentos cômicos ou de desenvolvimento de personagem que parecem um fim em si mesmos, que partem das possibilidades abertas pelos conceitos do universo do filme pra primeiro provocar humor e, só depois, estabelecer alguma ideia sobre o que está sendo mostrado - pena que no geral a ordem desses eventos é a inversa. Os méritos da Emma Stone e do Willem Dafoe por exemplo acabam sendo só lampejos em meio a um trabalho irregular como esse.

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  • Almir Basilio

    Ao fim do julgamento dá pra concluir qualquer coisa e ter razão, afinal é só um filme. Acho que é esse o grande valor do que a Justine Triet faz: deixar mais espaço pra pensar sobre os mecanismos da verdade do cinema do que sobre os mecanismos da verdade do mundo real. Dá pra encontrar o indício que quiser nas expressões dos personagens, são só atores. E, mesmo sendo um filme de roteiro muitas vezes, só com uma direção muito precisa pra convencer que por trás das performances qualquer coisa pode ser válida, sem impor nenhuma verdade sobre nada, sem ultrapassar o que as imagens dizem.

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