Duna é provavelmente a maior odisseia cinematográfica que já existiu. Tudo começou em meados dos anos 70, quando o maluco do Alejandro Jodorowsky se propôs a adaptar para as telonas um épico futurista escrito por Frank Herbert, um tijolo de mais de 600 páginas, que só se torna decifrável graças a um glossário anexado ao livro, e que conta a jornada messiânica do jovem Paul Atreides no desértico planeta de Arrakis, também conhecido como Duna. A odisseia de Jodorowisky, que é contada em detalhes no documentário Duna de Jodorowsky, é inimaginável até para os dias de hoje, um épico de 12 horas de duração (!), com nomes como Salvador Dali, Orson Welles e Mick Jagger no elenco (!!) e trilha sonora de Pink Floyd (!!!). É previsível que nenhum grande estúdio resolveu se arriscar no delírio do cineasta chileno e o projeto acabou sendo engavetado e se tornou lenda. Anos depois, o produtor Dino De Laurentiis obteve os direitos da adaptação e o projeto acabou caindo no colo de nada mais nada menos que David Lynch, outro maluco capaz de fazer jus ao Jodorowsky. Durante anos tive uma resistência a assistir esse trabalho do Lynch, muito em virtude da fama negativa que o filme possui, porém, após ler o livro de Frank Herbert, minha curiosidade foi aguçada e resolvi encarar esse famigerado épico espacial. Minha ideia sobre o filme era totalmente diferente do que acabei assistindo. Pelas características de Lynch, imaginava ser um filme lento, mais contemplativo, cheio de imagens simbólicas; mas me deparei com o oposto. Duna é um filme frenético, com informações sendo jogadas na cara do espectador a todo momento, muitas de formas ridiculamente mastigadas (chegando ao cúmulo de termos cenas com os pensamentos e motivações dos personagens sendo verbalizados), e um aprofundamento de personagens quase inexistente.
Os defeitos
É evidente o respeito com que Lynch tratou a obra de Herbert, a fidelidade é incontestável, e esse excesso de respeito talvez seja o calcanhar de Aquiles do filme. Lynch tentou condensar em pouco mais de duas horas o máximo de informações contidas nas mais de 600 páginas do livro e fez isso da forma mais preguiçosa que poderia, verbalizando tudo, tornando o filme um escravo do texto. Em alguns momentos, assistir Duna é tão prazeroso quanto ler uma bula de remédio (essa necessidade de explicar tudo de forma verborrágica, mecânica, fez parecer que eu estava assistindo a um filme de Christopher Nolan e não de David Lynch). Talvez esse seja um dos maiores desperdícios de talento que já vi em um filme, um diretor absolutamente visual como Lynch, se rendendo e tornando-se escravo do texto, deixando de lado o seu potencial para contar a história de Duna principalmente com uso do som e imagem. Se o primeiro ato do filme é uma enxurrada de informações sendo jogadas de forma pesada na cara do espectador, o segundo, que mostra o encontro de Paul com os freemens (nativos de Arrakis), é totalmente resumido e a oportunidade de fazer um filme mais metafísico ou espiritual é jogada na vala. Na obra de Herbert, há toda uma desconfiança e questionamentos entre os freemens e Paul sobre ele ser de fato o messias; já no filme, eles se tornam amiguinhos já no primeiro encontro e Paul já é alçado ao status de salvador.
As qualidades
A maior qualidade do filme fica por conta dos aspectos técnicos, em nenhum momento Duna parece um filme de baixo orçamento, é visível que os efeitos especiais, design de produção, figurinos são bastante caprichados e impressionam ainda mais levando em consideração a época pré-digital em que o filme foi feito. As batalhas entre os freemens e sardaukar pelo deserto e a cena da montaria (momento que tinha mais curiosidade em saber como tinha sido filmada naquela época, com poucos recursos, é bastante satisfatória e um dos melhores momentos do filme) são instantes de puro deleite visual.
Conclusão
Por fim, Duna é um daqueles filmes cuja difícil jornada para ser produzido e lançado acaba sendo tão interessante que a qualidade do filme em si acaba ficando em segundo plano. Só pelo fato de uma obra tão hermética ter conseguido se materializar de alguma forma, apesar de todos os contratempos e conflitos entre diretor e estúdio, já é uma vitória. Já basta o filme do Jodorowsky que não aconteceu, ter um Duna de David Lynch para ficar só na imaginação seria demais para mim.
Holocausto Canibal é um produto de uma época e o tipo de filme que seria inimaginável ser produzido nos dias de hoje. Alguns diretores tentaram, alguns de forma competente (S. Craig Zahler com o ótimo Bone Tomahawk) e outros de forma medíocre (Eli Roth e seu The Green Inferno), mas nenhum alcançou o impacto da obra do diretor italiano. Se lançado atualmente, geraria opiniões fervorosas e histéricas por diversos segmentos da sociedade, e provavelmente receberia adjetivos extremos e acusações levianas como o de fazer apologia à violência, à barbárie e entre outras. O caso do Queer museu, ocorrido recentemente, reforça isso, onde uma exposição artística com imagens polêmicas foi recebida com bastante furor, desencadeando uma discussão sobre o que é ou não é arte e sendo tirada de circulação por conta das reações negativas do público. Acontece que, mesmo na época de lançamento, Holocausto Canibal chocou a todos, e o diretor Ruggero Deodato teve que prestar contas aos tribunais. Visto hoje em dia, o impacto é ainda maior do que na época, coisa rara para filmes de terror antigos, cuja tendência é ficar mais datado e ultrapassado ao longo do tempo, ainda mais em produções baratas, que acabam recebendo a alcunha de trash. Isso não ocorre com Holocausto Canibal, que tende a se tornar cada vez mais chocante e aterrador com os passar dos anos, em virtude de sua estética amadora e registro brutal de violência mostradas de forma assustadoramente realista, que impressionam ainda mais por ser de um filme com poucos recursos e de baixíssimo orçamento. Essas características fizeram muitos espectadores acreditarem que tais cenas eram reais (e algumas cenas envolvendo morte de animais são reais mesmo!), o que potencializou o impacto do filme e o alçou ao status de "filme mais polêmico de todos os tempos". Isso é um dos fatores que fazem o filme funcionar como obra de terror, desnorteando o espectador e o fazendo perder o senso do que é real ou não, intercalando cenas de atrocidades verdadeiras com encenadas; e esse é o principal motivo de Holocausto Canibal ser o tipo de filme irrealizável nos dias de hoje. Estruturalmente, o filme é dividido em dois atos, o primeiro é bastante convencional, e mostra as buscas realizadas por um professor por quatro jovens cineastas, que desapareceram ao realizar um documentário no coração da floresta amazônica. Essa primeira parte, evidencia o que Holocausto Canibal verdadeiramente é, ou aquilo que foi originalmente projetado para ser, um filme de terror B, pouco preocupado em fazer um retrato sociológico aprofundado das civilizações indígenas da região, sendo tudo bastante estereotipado, caricato e gratuito, mostrando os jovens, belos e cheios de vida como vítimas dos terríveis e abomináveis nativos antropofágicos. Porém, em seu segundo ato, o filme evolui e quebra as expectativas do público, mostrando a história sob outra perspectiva, a partir das filmagens feitas pelos jovens e recuperadas pelo professor em sua empreitada. A partir daí, o filme ganha um upgrade em questões de discussão, onde os jovens que eram retratados exclusivamente como vítimas, no primeiro ato, passam a ser mostrados como psicopatas tão ou mais brutais que os nativos mostrados até então. E o que era um filme de terror B sendo contado de forma convencional na primeira parte, passa a ser narrado como um pseudo-documentário a partir das imagens quase que amadoras feitas pelo jovens. Nesse momento, Holocausto Canibal deixa de ser um mero filme de terror gore barato com propósito único de chocar e passa oferecer ao espectador uma experiencia sensorial que envolve quebra de expectativas que sempre causam inquietação,provocação e incomodo, objetivo de qualquer arte que pretenda ser transformadora, além de alguma reflexão. Portanto, o filme de Ruggero Deodato é um daqueles casos que vai além do que originalmente se propunha, oferecendo uma experiência mais completa do que simplesmente chocar e provocar náuseas no espectador (sendo que ele provoca essas reações de forma absolutamente plena). Um último adendo, fica por conta da trilha sonora espetacular do Riz Ortolani, canalizando ainda mais os impactos provocados pelas imagens extremas de Deodato. Não é um filme para todos, mas, ainda assim, essencial para os amantes do gênero.
O Silêncio do lago (1988) figura entre os filmes mais perturbadores já feitos. Méritos não apenas do enredo instigante, baseado no livro holandês intitulado O ovo dourado, mas pela estrutura de roteiro e a direção ousada e inteligente de Sluizer. Pode-se dividir o filme em três atos, sendo o primeiro focado no casal de jovens, Rex e Saskia, e o desaparecimento sem nenhuma explicação lógica da garota. O segundo ato, é o responsável pelo diferencial dessa obra. A narrativa é cortada, de maneira abrupta, deixando de ir pelo caminho mais previsível, que seria o de focar na investigação obsessiva de Rex, e passa a se concentrar em Lemome, o algoz de Saskia. O que seria uma história do tipo "quem é o assassino?", passa a ser um estudo meticuloso de personagens, cheio de simbolismos. Passamos a acompanhar o cotidiano de Lemome, que se revela um homem metódico, inteligente e detentor de uma psicopatia capaz de fazer o espectador ficar de cabelo em pé, pela sua aparente normalidade e pacificidade. Neste ato, passamos a saber mais do que Rex, trazendo a narrativa doses de angústia absurdas, agravadas pelo ritmo cadenciado imposto por Sluitzer. No ato final, onde há o encontro entre os dois "nêmesis", as peças já estão postas na mesa, e a percepção de um final amargo e assustador já é praticamente inevitável. O Silêncio do lago não é apenas um suspense psicológico de primeira, mas um impressionante estudo de personagem, mergulhando a fundo e de forma perturbadora na mente de uma assassino, isso bem antes de obras como Silêncio dos inocentes, Seven, Oldboy e True detective. O filme ganhou um refilmagem americana em 1993, que, apesar de acima de média, atenuou o impacto do filme original, indo por um caminho mais convencional e previsível. Em suma, O silêncio do lago é um filme que merece ser resgatado e reconhecido como um dos filmes de mistério mais brilhantes já concebidos.
Quando eu ver alguém na faixa dos 50 dizer que "no meu tempo não tinha essas safadezas", eu vou mostrar esse filme kkkk Agora é interessante notar que muitos criticam o filme pelo que ele tem de melhor, que não são as cenas de dança na boate e sim a abordagem quase sociológica dos adolescentes suburbanos sem perspectivas de futuro; e que viam, nas festas de sábado a noite, uma válvula de escape para as suas frustrações. Por isso, o filme se torna atemporal. Nesse contexto, Tony Manero se apresenta com um anti-herói machista, preconceituoso e cheio de vícios, mas que acaba ganhando a simpatia do espectador graças ao carisma e dignidade que John Travolta empresta ao personagem. Enfim, foi um filme que fugiu e muito das minhas expectativas, já que esperava algo puramente escapista e "alegrinho", aos moldes de Grease, e acabei encontrando um drama pesado, cruel em alguns momentos, e que tem algo a dizer. Me surpreendeu positivamente.
Mario Bava pertence aquele grupo de cineastas que estão mais preocupados em criar uma atmosfera, clima e visual arrojados em seus filmes do que desenvolver uma narrativa coerente e aprofundamento de personagens. Então, quem espera ver nos filmes do cultuado diretor italiano diálogos profundos, personagens complexos e bem desenvolvidos, pode se decepcionar. Bava estava mais interessado em desenvolver ferramentas visuais e sonoras, criando um clima onírico e aterrador para seus filmes, mesmo que, assim como em um sonho, careçam de lógica. Planeta do Vampiros (título um tanto aleatório, utilizado por razões claramente mercadológicas) foi a incursão do cineasta no gênero da ficção científica. Assim como os demais filmes de Bava, e esse mais do que nunca, seu principal diferencial está muito mais no aspecto estético do que no narrativo. O filme apresenta um tom soturno, agourento e com um cenário recheado de alternativas criativas e inteligentes feitas para burlar o parco orçamento que o diretor tinha em mãos. Desde os figurinos dos astronautas até a geologia e atmosfera do planeta desconhecido, feitos com muita névoa, miniaturas e jogos de luzes e espelhos, tudo em Planeta dos Vampiros é estilizado. O final pessimista e nada feliz empresta ao filme um tom adulto que encaixa muito bem com toda a construção sombria idealizada por Bava. Assistir a esta película é como vislumbrar um rascunho barroco dos demais filmes desse subgênero de terror espacial que se tornariam tão populares a partir de Alien (críticos e estudiosos de cinema garantem que sem esta película, o filme de Ridley Scott não existiria, pelo menos não do jeito que conhecemos). Talvez seja esse o maior legado deixado por essa pequena obra sci-fi.
Filme utiliza o mesmo template de Supremacia Bourne. Se você já assistiu o segundo filme da franquia mais de duas vezes, é possível prever praticamente todos os acontecimentos desse Jason Bourne e o filme não parece se esforçar pra mudar isso. Dito isso, há duas grandes sequencias de ação no filme (uma em Atenas e outra em Las Vegas) que são suficientes pra agradar os fãs da franquia.
Sabe aquele pressentimento? aquela sensação de que algo ruim está prestes a acontecer? Inverno de Sangue em Veneza é sobre isso. O mérito do filme não está apenas em conseguir transmitir essa sensação ao telespectador durante o filme, mas sim em fazer com que ela perdure. É um filme cujas cenas ficam remoendo a mente do telespectador por muito tempo após o desfecho.
Curioso perceber que as criticas negativas que o filme tem recebido são muito semelhantes as recebidas por Drive através de uma parcela do grande público. Falta de profundidade, falta de diálogos por parte do protagonista, final anti-climático; todos esses ''defeitos'' foram atribuídos ao tão aclamado Drive por quem esperava mais do ''filme de ação que foi aplaudido em Cannes''. O problema é que agora, não só o público tradicional, a crítica dita especializada esperava do novo filme de Refn algo com o mesmo glamour que o filme que o tinha consagrado tinha. No fim das contas, Only God Forgives não possui o mesmo glamour que Drive e isso não é exatamente um defeito.
Dizer que Only God Forgives é um filme desprovido de profundidade é no mínimo um equívoco. De uma natureza onírica ( a dedicação ao Jodorowsky no final não é à toa), Refn semeia o filme com espaços recheados de simbolismos que permitem ao telespectador preenchê-los da sua maneira.Apesar da rigidez estética, trata-se de um enredo aberto a interpretações. O final acentuadamente anti-climático é mais em elemento que pode provocar um gosto amargo em quem esperava aquele encanto/romantismo gerado por Drive. Simplificando em adjetivos, Only God Forgives é um filme cruel, sórdido e brilhante.
A carreira cinematográfica do Kiefer é marcada por altos e baixos. Esse filme pode ser considerado um dos pontos altos. Trata-se de uma produção pequena, mas com um roteiro muito bem escrito e com Reese Witherspoon e Kiefer Sutherland muito bem em seus respectivos papeis. Desde o começo sabemos que se trata de uma 'adaptação' junkie do conto Chapeuzinho Vermelho, com um estilo que lembra Assassinos Por Natureza de Oliver Stone, com as liberdades criativas mais bizarras que se pode imaginar. Vale a pena conferir.
Um exemplo de filme com uma estrutura simples, porém com um roteiro tão cheio de detalhes que transformam essa obra em algo mais complexo que a sinopse dá a entender. Flores Partidas trata de temas universais, como o embate com um passado que muitas vezes desejamos esquecer e a obsessão (repare como a cor rosa está sempre presente, tendo uma função fundamental no filme), levada de forma bastante suave pelo diretor Jim Jarmusch, em um de seus trabalhos mais acessíveis. Isso não quer dizer que Flores Partidas seja um filme comum, apesar de adotar um tom mais maduro e sereno que em seus trabalhos anteriores, o filme sempre está imerso naquela atmosfera lisérgica que logo indica que estamos assistindo a um filme de Jarmusch. Vale citar o trabalhos dos atores, todos excelentes, destacando a atuação contida de Murray; interpretando de certa forma a si mesmo.
A estética documental somada com os diálogos dão ao espectador a sensação de estar assistindo a um fragmento da vida, onde acompanhamos um protagonista de carne e osso que é impossível de não se identificar.
O Novo Pesadelo foi um filme que nasceu numa época errada. Ainda mais agora que está na moda repaginar personagens clássicos em versões mais sombrias e realistas. Na década de 90, a maioria dos filmes de terror era voltada para o público adolescente e careciam do elemento fundamental do gênero: o medo. As produções estavam cada vez mais preocupadas em fazer o público rir e se divertir do que assustar. Foram poucos os filmes que utilizaram essa artimanha de forma positiva, ‘Pânico’, do próprio Wes Craven, é um desses casos. Nesse contexto, Freddy Krueger era um personagem desgastado e que não assustava mais ninguém. As seqüências de ‘A Hora do Pesadelo’ se tornavam cada vez mais infantis, bobas e a franquia já estava dada como morta. O que Wes Craven fez para contornar essa situação foi usar o mesmo método adotado por Christopher Nolan anos depois com outro personagem que estava desgastado no cinema, O Cavaleiro das Trevas. Craven trouxe Freddy para o mundo real, literalmente, e o que temos é o filme mais verossímil e sombrio de toda a franquia. Freddy Krueger se torna o pano de fundo no drama de uma mulher que precisa, mas não sabe exatamente como, ajudar seu filho. Nada de mortes exageradas e números incontáveis de corpos, aqui o que vale é o suspense e a construção de uma atmosfera de tensão. O velho diretor faz uso da metalinguagem com maestria ironizando a franquia ‘A Hora do Pesadelo’ e o personagem Freddy Krueger. Há também uma porção de referencias ao filme original, nem todas explícitas, um prato cheio pra quem é fã. Para completar temos Heather Langenkamp, Robert Englund e Wes Craven interpretando a si próprios. O filme não é apenas o melhor da série, como também uma das mais criativas e interessantes obras de Terror da década de 90. Um filme subestimado e que merece ser redescoberto.
O filme tem uma proposta bem clara que é: avacalhar como os rumos que o cinema de terror atual está tomando. E o roteiro de Kevin Williamson não perdoa nem mesmo a propria franquia 'Pânico'. Wes Craven aproveita essa artimanha para criar um exercício de metalinguagem, que ele já tinha feito no ótimo 'Novo Pesadelo', brincando com todos os cliches do gênero como uma criança que monta e remonta as peças de um brinquedo. A maior falha está no desfecho previsível e um tanto preguiçoso que vai de encontro com a proposta até então subversiva do filme.
As imagens pertubadoras de Possessão retratam o estado de degradação de um casamento fracassado. A personagem de Adjani grita, se contorce e mutila seu próprio corpo para buscar renovação em um relacionamento tedioso. Ela almeja um renascimento a partir de suas próprias cinzas. É uma transformação que causa dor, pois exige uma suspensão de antigos hábitos que envolvem adultério. A câmera inquieta de Zulawski filma esse processo como verdadeiras crises de abstinência por parte da personagem. Enquanto a personagem de Adjani se entrega totalmente ao seu propósito, em busca de sua libertação, o personagem de Sam Neil assiste o comportamento de sua mulher tão atônito quanto nós espectadores. Ele ainda está preso, pois não está disposto a se 'recriar' e abandonar o seu antigo ‘eu’ para enfim salvar seu casamento. A aparência horrenda e repugnante da criatura com a qual a personagem de Adjani mantém uma relação, nada mais é que um reflexo de como ela vê seu marido. No ato final, quando ambos se entregam de corpo e alma com objetivo de ‘renascerem’, vemos na tela uma explosão de violência com cenas cheias de sangue e atrocidades. Essa obra singular com características de Bergman e Cronenberg, é acima de tudo sobre um casal que precisa se reinventar e se transformar em novas pessoas para salvarem um casamento em ruínas. No entanto, essa mudança será dolorosa e exigirá sacrifícios de ambos os lados.
É fácil entender o porquê de o filme ter desagradado a muitos aqui. Essa pequena produção alemã não se trata de um filme de terror, como a sinopse dá a entender. Na verdade está bem longe disso. O filme retrata o período de transição de uma garota que acabou de sair da adolescência e que precisa se encontrar num mundo que não compreende muito bem, devido a uma criação excessivamente ortodoxa por parte dos pais. Trata-se do processo muitas vezes dolorido que é a passagem da adolescência para a fase adulta, os conflitos de identidade e do questionamento da fé quando nos sentimos desamparados para encarar os problemas mundanos.
São raríssimos os casos onde a tecnologia 3D se encaixa tão perfeitamente na proposta do filme. A Invenção de Hugo Cabret não é apenas um filme sobre cinema; mas principalmente sobre o fascínio que este é capaz de provocar em seu público, fascínio este que era tão puro na época dos pioneiros Lumière e Méliès e que foi se atenuando com o passar dos anos. O que Scorsese faz é resgatar esse sentimento ingênuo, com uma obra capaz de proporcionar esse fascínio e encanto que estão cada vez mais raros no cinema contemporâneo.
Duna
2.9 412 Assista AgoraA odisseia
Duna é provavelmente a maior odisseia cinematográfica que já existiu. Tudo começou em meados dos anos 70, quando o maluco do Alejandro Jodorowsky se propôs a adaptar para as telonas um épico futurista escrito por Frank Herbert, um tijolo de mais de 600 páginas, que só se torna decifrável graças a um glossário anexado ao livro, e que conta a jornada messiânica do jovem Paul Atreides no desértico planeta de Arrakis, também conhecido como Duna. A odisseia de Jodorowisky, que é contada em detalhes no documentário Duna de Jodorowsky, é inimaginável até para os dias de hoje, um épico de 12 horas de duração (!), com nomes como Salvador Dali, Orson Welles e Mick Jagger no elenco (!!) e trilha sonora de Pink Floyd (!!!). É previsível que nenhum grande estúdio resolveu se arriscar no delírio do cineasta chileno e o projeto acabou sendo engavetado e se tornou lenda.
Anos depois, o produtor Dino De Laurentiis obteve os direitos da adaptação e o projeto acabou caindo no colo de nada mais nada menos que David Lynch, outro maluco capaz de fazer jus ao Jodorowsky. Durante anos tive uma resistência a assistir esse trabalho do Lynch, muito em virtude da fama negativa que o filme possui, porém, após ler o livro de Frank Herbert, minha curiosidade foi aguçada e resolvi encarar esse famigerado épico espacial. Minha ideia sobre o filme era totalmente diferente do que acabei assistindo. Pelas características de Lynch, imaginava ser um filme lento, mais contemplativo, cheio de imagens simbólicas; mas me deparei com o oposto. Duna é um filme frenético, com informações sendo jogadas na cara do espectador a todo momento, muitas de formas ridiculamente mastigadas (chegando ao cúmulo de termos cenas com os pensamentos e motivações dos personagens sendo verbalizados), e um aprofundamento de personagens quase inexistente.
Os defeitos
É evidente o respeito com que Lynch tratou a obra de Herbert, a fidelidade é incontestável, e esse excesso de respeito talvez seja o calcanhar de Aquiles do filme. Lynch tentou condensar em pouco mais de duas horas o máximo de informações contidas nas mais de 600 páginas do livro e fez isso da forma mais preguiçosa que poderia, verbalizando tudo, tornando o filme um escravo do texto. Em alguns momentos, assistir Duna é tão prazeroso quanto ler uma bula de remédio (essa necessidade de explicar tudo de forma verborrágica, mecânica, fez parecer que eu estava assistindo a um filme de Christopher Nolan e não de David Lynch). Talvez esse seja um dos maiores desperdícios de talento que já vi em um filme, um diretor absolutamente visual como Lynch, se rendendo e tornando-se escravo do texto, deixando de lado o seu potencial para contar a história de Duna principalmente com uso do som e imagem.
Se o primeiro ato do filme é uma enxurrada de informações sendo jogadas de forma pesada na cara do espectador, o segundo, que mostra o encontro de Paul com os freemens (nativos de Arrakis), é totalmente resumido e a oportunidade de fazer um filme mais metafísico ou espiritual é jogada na vala. Na obra de Herbert, há toda uma desconfiança e questionamentos entre os freemens e Paul sobre ele ser de fato o messias; já no filme, eles se tornam amiguinhos já no primeiro encontro e Paul já é alçado ao status de salvador.
As qualidades
A maior qualidade do filme fica por conta dos aspectos técnicos, em nenhum momento Duna parece um filme de baixo orçamento, é visível que os efeitos especiais, design de produção, figurinos são bastante caprichados e impressionam ainda mais levando em consideração a época pré-digital em que o filme foi feito. As batalhas entre os freemens e sardaukar pelo deserto e a cena da montaria (momento que tinha mais curiosidade em saber como tinha sido filmada naquela época, com poucos recursos, é bastante satisfatória e um dos melhores momentos do filme) são instantes de puro deleite visual.
Conclusão
Por fim, Duna é um daqueles filmes cuja difícil jornada para ser produzido e lançado acaba sendo tão interessante que a qualidade do filme em si acaba ficando em segundo plano. Só pelo fato de uma obra tão hermética ter conseguido se materializar de alguma forma, apesar de todos os contratempos e conflitos entre diretor e estúdio, já é uma vitória. Já basta o filme do Jodorowsky que não aconteceu, ter um Duna de David Lynch para ficar só na imaginação seria demais para mim.
Holocausto Canibal
3.1 833Holocausto Canibal é um produto de uma época e o tipo de filme que seria inimaginável ser produzido nos dias de hoje. Alguns diretores tentaram, alguns de forma competente (S. Craig Zahler com o ótimo Bone Tomahawk) e outros de forma medíocre (Eli Roth e seu The Green Inferno), mas nenhum alcançou o impacto da obra do diretor italiano. Se lançado atualmente, geraria opiniões fervorosas e histéricas por diversos segmentos da sociedade, e provavelmente receberia adjetivos extremos e acusações levianas como o de fazer apologia à violência, à barbárie e entre outras. O caso do Queer museu, ocorrido recentemente, reforça isso, onde uma exposição artística com imagens polêmicas foi recebida com bastante furor, desencadeando uma discussão sobre o que é ou não é arte e sendo tirada de circulação por conta das reações negativas do público. Acontece que, mesmo na época de lançamento, Holocausto Canibal chocou a todos, e o diretor Ruggero Deodato teve que prestar contas aos tribunais. Visto hoje em dia, o impacto é ainda maior do que na época, coisa rara para filmes de terror antigos, cuja tendência é ficar mais datado e ultrapassado ao longo do tempo, ainda mais em produções baratas, que acabam recebendo a alcunha de trash. Isso não ocorre com Holocausto Canibal, que tende a se tornar cada vez mais chocante e aterrador com os passar dos anos, em virtude de sua estética amadora e registro brutal de violência mostradas de forma assustadoramente realista, que impressionam ainda mais por ser de um filme com poucos recursos e de baixíssimo orçamento. Essas características fizeram muitos espectadores acreditarem que tais cenas eram reais (e algumas cenas envolvendo morte de animais são reais mesmo!), o que potencializou o impacto do filme e o alçou ao status de "filme mais polêmico de todos os tempos". Isso é um dos fatores que fazem o filme funcionar como obra de terror, desnorteando o espectador e o fazendo perder o senso do que é real ou não, intercalando cenas de atrocidades verdadeiras com encenadas; e esse é o principal motivo de Holocausto Canibal ser o tipo de filme irrealizável nos dias de hoje. Estruturalmente, o filme é dividido em dois atos, o primeiro é bastante convencional, e mostra as buscas realizadas por um professor por quatro jovens cineastas, que desapareceram ao realizar um documentário no coração da floresta amazônica. Essa primeira parte, evidencia o que Holocausto Canibal verdadeiramente é, ou aquilo que foi originalmente projetado para ser, um filme de terror B, pouco preocupado em fazer um retrato sociológico aprofundado das civilizações indígenas da região, sendo tudo bastante estereotipado, caricato e gratuito, mostrando os jovens, belos e cheios de vida como vítimas dos terríveis e abomináveis nativos antropofágicos. Porém, em seu segundo ato, o filme evolui e quebra as expectativas do público, mostrando a história sob outra perspectiva, a partir das filmagens feitas pelos jovens e recuperadas pelo professor em sua empreitada. A partir daí, o filme ganha um upgrade em questões de discussão, onde os jovens que eram retratados exclusivamente como vítimas, no primeiro ato, passam a ser mostrados como psicopatas tão ou mais brutais que os nativos mostrados até então. E o que era um filme de terror B sendo contado de forma convencional na primeira parte, passa a ser narrado como um pseudo-documentário a partir das imagens quase que amadoras feitas pelo jovens. Nesse momento, Holocausto Canibal deixa de ser um mero filme de terror gore barato com propósito único de chocar e passa oferecer ao espectador uma experiencia sensorial que envolve quebra de expectativas que sempre causam inquietação,provocação e incomodo, objetivo de qualquer arte que pretenda ser transformadora, além de alguma reflexão. Portanto, o filme de Ruggero Deodato é um daqueles casos que vai além do que originalmente se propunha, oferecendo uma experiência mais completa do que simplesmente chocar e provocar náuseas no espectador (sendo que ele provoca essas reações de forma absolutamente plena). Um último adendo, fica por conta da trilha sonora espetacular do Riz Ortolani, canalizando ainda mais os impactos provocados pelas imagens extremas de Deodato. Não é um filme para todos, mas, ainda assim, essencial para os amantes do gênero.
O Silêncio do Lago
3.7 175O Silêncio do lago (1988) figura entre os filmes mais perturbadores já feitos. Méritos não apenas do enredo instigante, baseado no livro holandês intitulado O ovo dourado, mas pela estrutura de roteiro e a direção ousada e inteligente de Sluizer. Pode-se dividir o filme em três atos, sendo o primeiro focado no casal de jovens, Rex e Saskia, e o desaparecimento sem nenhuma explicação lógica da garota. O segundo ato, é o responsável pelo diferencial dessa obra. A narrativa é cortada, de maneira abrupta, deixando de ir pelo caminho mais previsível, que seria o de focar na investigação obsessiva de Rex, e passa a se concentrar em Lemome, o algoz de Saskia. O que seria uma história do tipo "quem é o assassino?", passa a ser um estudo meticuloso de personagens, cheio de simbolismos. Passamos a acompanhar o cotidiano de Lemome, que se revela um homem metódico, inteligente e detentor de uma psicopatia capaz de fazer o espectador ficar de cabelo em pé, pela sua aparente normalidade e pacificidade. Neste ato, passamos a saber mais do que Rex, trazendo a narrativa doses de angústia absurdas, agravadas pelo ritmo cadenciado imposto por Sluitzer. No ato final, onde há o encontro entre os dois "nêmesis", as peças já estão postas na mesa, e a percepção de um final amargo e assustador já é praticamente inevitável. O Silêncio do lago não é apenas um suspense psicológico de primeira, mas um impressionante estudo de personagem, mergulhando a fundo e de forma perturbadora na mente de uma assassino, isso bem antes de obras como Silêncio dos inocentes, Seven, Oldboy e True detective. O filme ganhou um refilmagem americana em 1993, que, apesar de acima de média, atenuou o impacto do filme original, indo por um caminho mais convencional e previsível. Em suma, O silêncio do lago é um filme que merece ser resgatado e reconhecido como um dos filmes de mistério mais brilhantes já concebidos.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraÉ uma bela obra, digna de todos os elogios e hype que recebeu.
Não há tristeza na cena final,apenas o reconhecimento mútuo de que viveram algo especial e bonito, aquele momento que cai a ficha.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraSe fosse feito nos anos 80, seria um daqueles filmes do Steven Seagal, só que dos bons.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraQue cena final linda!
O ano mal começou, mas duvido muito um outro filme conseguir superar John Wick no quesito melhor filme de ação de 2017.
Os Embalos de Sábado à Noite
3.4 663 Assista AgoraQuando eu ver alguém na faixa dos 50 dizer que "no meu tempo não tinha essas safadezas", eu vou mostrar esse filme kkkk
Agora é interessante notar que muitos criticam o filme pelo que ele tem de melhor, que não são as cenas de dança na boate e sim a abordagem quase sociológica dos adolescentes suburbanos sem perspectivas de futuro; e que viam, nas festas de sábado a noite, uma válvula de escape para as suas frustrações. Por isso, o filme se torna atemporal. Nesse contexto, Tony Manero se apresenta com um anti-herói machista, preconceituoso e cheio de vícios, mas que acaba ganhando a simpatia do espectador graças ao carisma e dignidade que John Travolta empresta ao personagem. Enfim, foi um filme que fugiu e muito das minhas expectativas, já que esperava algo puramente escapista e "alegrinho", aos moldes de Grease, e acabei encontrando um drama pesado, cruel em alguns momentos, e que tem algo a dizer. Me surpreendeu positivamente.
O Planeta dos Vampiros
3.2 50Mario Bava pertence aquele grupo de cineastas que estão mais preocupados em criar uma atmosfera, clima e visual arrojados em seus filmes do que desenvolver uma narrativa coerente e aprofundamento de personagens. Então, quem espera ver nos filmes do cultuado diretor italiano diálogos profundos, personagens complexos e bem desenvolvidos, pode se decepcionar. Bava estava mais interessado em desenvolver ferramentas visuais e sonoras, criando um clima onírico e aterrador para seus filmes, mesmo que, assim como em um sonho, careçam de lógica.
Planeta do Vampiros (título um tanto aleatório, utilizado por razões claramente mercadológicas) foi a incursão do cineasta no gênero da ficção científica. Assim como os demais filmes de Bava, e esse mais do que nunca, seu principal diferencial está muito mais no aspecto estético do que no narrativo. O filme apresenta um tom soturno, agourento e com um cenário recheado de alternativas criativas e inteligentes feitas para burlar o parco orçamento que o diretor tinha em mãos. Desde os figurinos dos astronautas até a geologia e atmosfera do planeta desconhecido, feitos com muita névoa, miniaturas e jogos de luzes e espelhos, tudo em Planeta dos Vampiros é estilizado. O final pessimista e nada feliz empresta ao filme um tom adulto que encaixa muito bem com toda a construção sombria idealizada por Bava.
Assistir a esta película é como vislumbrar um rascunho barroco dos demais filmes desse subgênero de terror espacial que se tornariam tão populares a partir de Alien (críticos e estudiosos de cinema garantem que sem esta película, o filme de Ridley Scott não existiria, pelo menos não do jeito que conhecemos). Talvez seja esse o maior legado deixado por essa pequena obra sci-fi.
Deus Branco
3.7 178Confesso que morri um pouco por dentro na cena em que
o cachorrinho branco morre.
Jason Bourne
3.5 460 Assista AgoraFilme utiliza o mesmo template de Supremacia Bourne. Se você já assistiu o segundo filme da franquia mais de duas vezes, é possível prever praticamente todos os acontecimentos desse Jason Bourne e o filme não parece se esforçar pra mudar isso. Dito isso, há duas grandes sequencias de ação no filme (uma em Atenas e outra em Las Vegas) que são suficientes pra agradar os fãs da franquia.
Império dos Sonhos
3.8 433Esse me marcou.
A cena da Laura Dern correndo e gritando em direção à câmera foi o maior susto que já experimentei assistindo a um filme.
Estranhos Prazeres
3.6 134 Assista AgoraMe pergunto o porquê desse filme ter passado em branco na época do seu lançamento. Pérola dos anos 90, infelizmente pouco reconhecido.
Inverno de Sangue em Veneza
3.7 209Sabe aquele pressentimento? aquela sensação de que algo ruim está prestes a acontecer? Inverno de Sangue em Veneza é sobre isso. O mérito do filme não está apenas em conseguir transmitir essa sensação ao telespectador durante o filme, mas sim em fazer com que ela perdure. É um filme cujas cenas ficam remoendo a mente do telespectador por muito tempo após o desfecho.
Apenas Deus Perdoa
3.0 632 Assista AgoraCurioso perceber que as criticas negativas que o filme tem recebido são muito semelhantes as recebidas por Drive através de uma parcela do grande público. Falta de profundidade, falta de diálogos por parte do protagonista, final anti-climático; todos esses ''defeitos'' foram atribuídos ao tão aclamado Drive por quem esperava mais do ''filme de ação que foi aplaudido em Cannes''. O problema é que agora, não só o público tradicional, a crítica dita especializada esperava do novo filme de Refn algo com o mesmo glamour que o filme que o tinha consagrado tinha. No fim das contas, Only God Forgives não possui o mesmo glamour que Drive e isso não é exatamente um defeito.
Dizer que Only God Forgives é um filme desprovido de profundidade é no mínimo um equívoco. De uma natureza onírica ( a dedicação ao Jodorowsky no final não é à toa), Refn semeia o filme com espaços recheados de simbolismos que permitem ao telespectador preenchê-los da sua maneira.Apesar da rigidez estética, trata-se de um enredo aberto a interpretações. O final acentuadamente anti-climático é mais em elemento que pode provocar um gosto amargo em quem esperava aquele encanto/romantismo gerado por Drive. Simplificando em adjetivos, Only God Forgives é um filme cruel, sórdido e brilhante.
Freeway: Sem Saída
3.3 38 Assista AgoraA carreira cinematográfica do Kiefer é marcada por altos e baixos. Esse filme pode ser considerado um dos pontos altos. Trata-se de uma produção pequena, mas com um roteiro muito bem escrito e com Reese Witherspoon e Kiefer Sutherland muito bem em seus respectivos papeis. Desde o começo sabemos que se trata de uma 'adaptação' junkie do conto Chapeuzinho Vermelho, com um estilo que lembra Assassinos Por Natureza de Oliver Stone, com as liberdades criativas mais bizarras que se pode imaginar. Vale a pena conferir.
Flores Partidas
3.6 201 Assista AgoraUm exemplo de filme com uma estrutura simples, porém com um roteiro tão cheio de detalhes que transformam essa obra em algo mais complexo que a sinopse dá a entender. Flores Partidas trata de temas universais, como o embate com um passado que muitas vezes desejamos esquecer e a obsessão (repare como a cor rosa está sempre presente, tendo uma função fundamental no filme), levada de forma bastante suave pelo diretor Jim Jarmusch, em um de seus trabalhos mais acessíveis. Isso não quer dizer que Flores Partidas seja um filme comum, apesar de adotar um tom mais maduro e sereno que em seus trabalhos anteriores, o filme sempre está imerso naquela atmosfera lisérgica que logo indica que estamos assistindo a um filme de Jarmusch. Vale citar o trabalhos dos atores, todos excelentes, destacando a atuação contida de Murray; interpretando de certa forma a si mesmo.
Bronson
3.8 426Nicolas Winding Refn acerta de novo, e em cheio. Aqui ele cria uma espécie de encontro bizarro de Clube da Luta com Um Estranho no Ninho.
Um Homem Sem Importância
3.9 26A estética documental somada com os diálogos dão ao espectador a sensação de estar assistindo a um fragmento da vida, onde acompanhamos um protagonista de carne e osso que é impossível de não se identificar.
Uma pérola do cinema nacional.
Almas Gêmeas
3.8 438Obra-prima de Peter Jackson.
O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger
3.4 393 Assista AgoraO Novo Pesadelo foi um filme que nasceu numa época errada. Ainda mais agora que está na moda repaginar personagens clássicos em versões mais sombrias e realistas.
Na década de 90, a maioria dos filmes de terror era voltada para o público adolescente e careciam do elemento fundamental do gênero: o medo. As produções estavam cada vez mais preocupadas em fazer o público rir e se divertir do que assustar. Foram poucos os filmes que utilizaram essa artimanha de forma positiva, ‘Pânico’, do próprio Wes Craven, é um desses casos.
Nesse contexto, Freddy Krueger era um personagem desgastado e que não assustava mais ninguém. As seqüências de ‘A Hora do Pesadelo’ se tornavam cada vez mais infantis, bobas e a franquia já estava dada como morta.
O que Wes Craven fez para contornar essa situação foi usar o mesmo método adotado por Christopher Nolan anos depois com outro personagem que estava desgastado no cinema, O Cavaleiro das Trevas. Craven trouxe Freddy para o mundo real, literalmente, e o que temos é o filme mais verossímil e sombrio de toda a franquia. Freddy Krueger se torna o pano de fundo no drama de uma mulher que precisa, mas não sabe exatamente como, ajudar seu filho. Nada de mortes exageradas e números incontáveis de corpos, aqui o que vale é o suspense e a construção de uma atmosfera de tensão.
O velho diretor faz uso da metalinguagem com maestria ironizando a franquia ‘A Hora do Pesadelo’ e o personagem Freddy Krueger. Há também uma porção de referencias ao filme original, nem todas explícitas, um prato cheio pra quem é fã. Para completar temos Heather Langenkamp, Robert Englund e Wes Craven interpretando a si próprios.
O filme não é apenas o melhor da série, como também uma das mais criativas e interessantes obras de Terror da década de 90. Um filme subestimado e que merece ser redescoberto.
Pânico 4
3.2 2,7K Assista AgoraO filme tem uma proposta bem clara que é: avacalhar como os rumos que o cinema de terror atual está tomando. E o roteiro de Kevin Williamson não perdoa nem mesmo a propria franquia 'Pânico'. Wes Craven aproveita essa artimanha para criar um exercício de metalinguagem, que ele já tinha feito no ótimo 'Novo Pesadelo', brincando com todos os cliches do gênero como uma criança que monta e remonta as peças de um brinquedo. A maior falha está no desfecho previsível e um tanto preguiçoso que vai de encontro com a proposta até então subversiva do filme.
Possessão
3.9 591As imagens pertubadoras de Possessão retratam o estado de degradação de um casamento fracassado. A personagem de Adjani grita, se contorce e mutila seu próprio corpo para buscar renovação em um relacionamento tedioso. Ela almeja um renascimento a partir de suas próprias cinzas. É uma transformação que causa dor, pois exige uma suspensão de antigos hábitos que envolvem adultério. A câmera inquieta de Zulawski filma esse processo como verdadeiras crises de abstinência por parte da personagem.
Enquanto a personagem de Adjani se entrega totalmente ao seu propósito, em busca de sua libertação, o personagem de Sam Neil assiste o comportamento de sua mulher tão atônito quanto nós espectadores. Ele ainda está preso, pois não está disposto a se 'recriar' e abandonar o seu antigo ‘eu’ para enfim salvar seu casamento. A aparência horrenda e repugnante da criatura com a qual a personagem de Adjani mantém uma relação, nada mais é que um reflexo de como ela vê seu marido. No ato final, quando ambos se entregam de corpo e alma com objetivo de ‘renascerem’, vemos na tela uma explosão de violência com cenas cheias de sangue e atrocidades.
Essa obra singular com características de Bergman e Cronenberg, é acima de tudo sobre um casal que precisa se reinventar e se transformar em novas pessoas para salvarem um casamento em ruínas. No entanto, essa mudança será dolorosa e exigirá sacrifícios de ambos os lados.
Requiem
3.2 79É fácil entender o porquê de o filme ter desagradado a muitos aqui. Essa pequena produção alemã não se trata de um filme de terror, como a sinopse dá a entender. Na verdade está bem longe disso. O filme retrata o período de transição de uma garota que acabou de sair da adolescência e que precisa se encontrar num mundo que não compreende muito bem, devido a uma criação excessivamente ortodoxa por parte dos pais. Trata-se do processo muitas vezes dolorido que é a passagem da adolescência para a fase adulta, os conflitos de identidade e do questionamento da fé quando nos sentimos desamparados para encarar os problemas mundanos.
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraSão raríssimos os casos onde a tecnologia 3D se encaixa tão perfeitamente na proposta do filme. A Invenção de Hugo Cabret não é apenas um filme sobre cinema; mas principalmente sobre o fascínio que este é capaz de provocar em seu público, fascínio este que era tão puro na época dos pioneiros Lumière e Méliès e que foi se atenuando com o passar dos anos. O que Scorsese faz é resgatar esse sentimento ingênuo, com uma obra capaz de proporcionar esse fascínio e encanto que estão cada vez mais raros no cinema contemporâneo.