Caetano é interessante e tem desenvoltura suficiente pra sustentar até o fim um longa que é apenas um relato cru e nada mais. Um recorte de memória. Seria interessante se, no futuro, utilizassem o material para fazer um documentário convencional, com imagens da época e entrevistas. Mas eu gostei da proposta.
Assisti a esse filme na semana passada e precisei de um tempinho para digerir. É o primeiro filme de Lúcia Murat, um docudrama formado por depoimentos de oito mulheres presas e torturadas durante a ditadura, intercalado por um monólogo fictício de uma ex-prisioneira política, interpretada por Irene Ravache. Se não estou enganada, foi a primeira vez que se mostrou a perspectiva de mulheres sobre a tortura e violência sexual sofridas na prisão.
Lançado em 1989, o filme se apóia na memória das ex-guerrilheiras nem tanto para denunciar os crimes cometidos dentro dos quartéis mas para tentar descobrir como, após tantos horrores, elas conseguiram seguir com a vida sem perder a sanidade -- um dilema vivido pela própria diretora, que passou três anos no DOI-CODI, e que parece se utilizar da personagem de Irene Ravache como um alter ego para expressar sentimentos e pensamentos íntimos.
Um ponto importante levantado nos depoimentos, que me soou como o prolongamento de um sofrimento imensurável, foi a reação das pessoas e o posicionamento da esquerda em relação a essas mulheres. Constrangimentos incômodos, silenciamentos, censura e até acusações de serem ressentidas. As que sucumbiram e passaram informações aos torturadores, em vez de acolhidas, foram expulsas. Uma delas, inclusive, conta ter sido considerada como terrorista por grupos de esquerda que não aderiram à luta armada. Todas acreditam que a esquerda falhou e não se empenhou o suficiente em cobrar punição.
Com um tema pesado, Lúcia Murat teve a sensibilidade de não explorar a dor, apelando para narrativas explícitas das técnicas de tortura, e se ocupou mais em dar ênfase às maneiras como aquelas mulheres tentam superar as sequelas da tortura. Os depoimentos são todos de partir o coração, e eu não tenho palavras para descrevê-los sem que soem como uma experiência distante e impessoal, mas o que mais me chamou a atenção foi a fala em comum das que estavam gestantes à época: para todas, a gravidez foi encarada como uma forma de resistência e de continuação da vida. Uma maneira de continuar existindo, mesmo se acabassem morrendo.
Anos 2000, início do século XXI, e muitas pessoas precisam catar comida para sobreviver. Estamos falando da desenvolvida França, onde desempregados, mães solo e pessoas de baixa renda em geral vasculham lixeiras em busca de alimentos ou se dirigem até as grandes plantações para recolher legumes, frutas e verduras que serão descartados pelos produtores. A quantidade impressiona: são toneladas de alimentos frescos, que dariam para alimentar comunidades inteiras, deitados fora feito lixo. As batatas, em particular, apodrecem rapidamente. Existe comida. Muita. Ela só não chega até as pessoas.
O desperdício de itens alimentícios é um dos principais temas abordados no documentário de Agnès Varda, grandiosa diretora que nos deixou essa semana. Em "Os catadores e eu", Varda não está necessariamente interessada em fazer uma obra militante de denúncia: ela procura mostrar quem são e como vivem as pessoas que recolhem alimentos, além de tentar entender porque essa comida é descartada, e deixa que o espectador conecte os pontos. Com a abordagem sensível e poética que lhe é característica, Varda confere dignidade a essas pessoas, seja fazendo paralelos com famosas pinturas que retratam catadoras, seja dando a oportunidade para que contem suas histórias sem apelar para sensacionalismo ou condescendência.
Ao rodar o interior do país garimpando as mais variadas histórias e pontos de vista, a diretora põe a si mesma como uma catadora de imagens e narrativas, colocando o seu trabalho em pé de igualdade com o de outros artistas - incluindo um membro de sua equipe - que saem às ruas para catar objetos descartados e os transformam em itens de decoração ou peças de arte. E essa pode ser uma boa síntese do documentário: uma obra de arte feita com as histórias dos que foram excluídos pela sociedade.
"Eu não tenho que provar nada para você", diz Carol Danvers, a Capitã Marvel, em determinado momento, uma frase que também serve muito bem como resposta aos nerds tóxicos que, incomodados com a postura feminista de Brie Larson, tentaram desqualificar o filme antes mesmo de sua estreia. Costuma ser assim sempre que um filme protagonizado por mulheres invade um território que durante muito tempo os homens reivindicaram para si. Piora quando a personagem não compactua com o papel que é imposto ao seu gênero: Carol Danvers sorri apenas quando quer, não usa roupas sensuais, não se diminui para ser aceita pelos homens e não tem nenhum par romântico masculino. Isso é o que faz dela tão poderosa e temida, muito mais que qualquer poder alienígena que tenha adquirido.
Como filme de super-herói, "Capitã Marvel" inova apenas na forma como conta a origem da personagem: já nos deparamos com uma heroína ativa e à vontade com seus poderes, descobrindo o passado através de flashbacks. É o tratamento dado a ela, com muitas nuances sobre o que é ser uma mulher fora dos padrões, que torna o filme especial.
Não à toa, o vilão, considerado "fraco" por muitos espectadores, é o tipo de homem que destrói a vida de muitas mulheres: aquele que a manipula, a controla, diminui suas capacidades, se acha no direito e ainda quer os créditos pelo seu sucesso. Porém, fortalecida pelos modelos femininos que admira, por sua rede de apoio - a família que, no passado, formou com sua companheira e a filha dela -, e, principalmente, pela consciência de seu enorme poder, a Capitã Marvel não cai mais nessas armadilhas.
Embora esquemático, "Capitã Marvel" é um filme divertido, que cumpre o que promete e entrega a representatividade que há muito estávamos esperando. E que trilha sonora linda!
Marjane Satrapi ficou mundialmente famosa por "Persépolis", autobiografia em quadrinhos que ganhou adaptação para o cinema, indicada ao Oscar, com roteiro e codireção da própria artista. Mas após uma bem-sucedida carreira, ela resolveu deixar os quadrinhos para se dedicar ao cinema.
As Vozes é seu quarto filme e o primeiro feito em Hollywood. Conta a história de um homem solitário e esquizofrênico que se apaixona por uma colega de trabalho. Quando um encontro entre o casal dá errado, ele, acidentalmente, acaba matando a mulher, que se torna a primeira de uma série de vítimas.
Embora a história em si não seja grande coisa, e se perca um pouco ao trazer um drama familiar para humanizar desnecessariamente o personagem, o filme acerta na maneira como a doença mental é abordada, com destaque para o excelente design de produção que consegue traduzir em imagens o contraste entre o mundo real e aquele lúdico e colorido que só existe na mente do protagonista.
Outro ponto positivo são as atuações, com Ryan Reynolds convencendo bem em um papel que poderia ter saído de um filme dos irmãos Coen ou de Yorgos Lanthimos (apesar da caracterização do ator ter me remetido a uma versão light de Michael C. Hall como Dexter). É um filme que funciona bem no modo bizarro, mas falha na tentativa de misturar drama com humor, concluindo com a cena final pra lá de desnecessária. Está disponível na @netflixbrasil. #52filmsbywomen 2019: filme 9 (ig @renatac.arruda)
Dumplin', um filme adolescente que entrou há pouco tempo na @netflixbrasil, tem a proposta de fazer com que as meninas se sintam bem com sua aparência, por mais difícil que isso seja.
Diferente de outros filmes do gênero, em que as heroínas buscam pela aprovação alheia se encaixando nos padrões, a protagonista de Dumplin', Willowdean, é autoconfiante e não liga a mínima para a cultura de concursos de beleza de sua pequena cidade. Isso dura até ela ser confrontada com um crush em um belo rapaz, que também gosta dela, e perceber que internalizou muito mais gordofobia do que tinha imaginado. Pra ela, é inconcebível que um homem bonito se sinta atraído por uma mulher gorda.
Se o enredo do patinho feio não é nenhuma novidade, o que o filme tem de legal é que se concentra muito pouco no romance e na figura masculina. A autoaceitação de Willowdean acontece por meio da amizade feminina, do acolhimento entre outsiders e do desenvolvimento de talentos pessoais.
Porém, enquanto Dumplin' acerta em representar a mulher gorda de forma positiva, isso não impede que o filme recaia em diversos clichês e estereótipos, como a representação da lésbica-feminista-raivosa, o negro mágico ou as drag queens acolhedoras-como-mães. Mas já é alguma coisa.
Baseado nas memórias de Lee Israel, escritora especializada em biografias de mulheres, o filme aborda o período de sua decadência: se antes seus livros já fizeram parte da lista de best-sellers do NY Times, hoje ela não produz mais nada, sobrevivendo do salário de um emprego que odeia e tendo seu gato como única companhia. Apesar disso, Lee Israel não é nenhuma coitadinha: anti-social, desagradável e arrogante, a jornalista parece ter se acomodado em sua situação e não demonstra nenhum interesse em derrubar o muro que a mantém separada das outras pessoas.
Ao se ver demitida do emprego, com o gato doente e uma agente que não vê potencial nela, Israel acaba descobrindo uma fonte de renda improvável: a falsificação de cartas de celebridades, que valem pequenas fortunas. Mais do que uma fonte de renda, as cartas que Israel forja se tornam pequenos projetos literários que despertam na autora a busca por uma voz e a fazem redescobrir o prazer de ser lida. O esquema, porém, acaba indo longe demais e após uma perda significativa, seu mundo desmorona.
E é aí que está a essência do filme: fazer um estudo de personagem mostrando o quanto da decadência e do temperamento difícil de Israel se devem, em parte, à insistência da autora em viver no passado. É comovente a cena do reencontro com sua ex-namorada, em que fica claro o quanto ela permanece apegada a coisas e situações que a outra nem mesmo lembra mais.
Para Lee Israel, chegar ao fundo do poço foi o rito de passagem necessário para poder aprender a viver no presente e seguir em frente.
O filme é uma graça e as atuações memoráveis merecidamente receberam indicações ao Oscar. Recomendo.
Rosa Parks, cujo aniversário de 106 anos foi lembrado na última segunda, ficou conhecida como um dos símbolos da resistência antirracista após se recusar a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco e ser presa por isso em dezembro de 1955. Na época, Parks era integrante da NAACP (Associação Nacional Para o Progresso de Pessoas de Cor) e a organização aproveitou o episódio para promover um boicote aos ônibus, chamando a atenção para a causa anti-segregação. Em 1956, a segregação racial nos ônibus foi abolida.
Embora a atuação de Parks como ativista pelos direitos civis não seja deixada de lado, o filme se concentra mais em sua vida pessoal, tentando recriar a infância como estudante de um colégio privado para meninas negras, o trabalho como costureira, seu relacionamento com Raymond Parks e o impacto que o episódio do ônibus teve em sua rotina: desemprego, ameaças, retaliações, falta de liberdade.
Um dos acertos é mostrar o quanto o machismo estava entranhado mesmo entre ativistas e organizações que lutavam pelos direitos civis. Porém, problema do filme é que tudo é contado de forma ora afetada, ora superficial, deixando muito a desejar em termos de desenvolvimento e falhando em alcançar a complexidade da ativista. Ficamos sabendo muito pouco sobre quem de fato era e o que pensava a ativista.
Sendo um produto feito para a TV, é compreensível que a história tenha sido diluída e romantizada, mas acredito que Rosa Parks merecia mais.
#52filmsbywomen 2019 - filme 5 (ig @renatac.arruda)
O webdocumentário feito pela ótima Nátaly Neri explora a questão da identidade racial no Brasil através de entrevistas com especialistas como Joice Berth , Giovana Xavier, Aline Ramos e Alê Santos e também com mulheres cujas vivências, apesar de individualmente diferentes entre si, têm em comum a experiência de se descobrir negro e tentar entender o que isso significa no contexto em que a gente vive.
Achei muito interessante o depoimento da moça que expressou sua dificuldade em aceitar que era negra e admitiu não se identificar com a militância do movimento negro, se perguntando se ela não poderia escolher vivenciar esse processo apenas internamente. Já uma jovem que conta como se queimava com cigarro para deixar manchas brancas no corpo protagoniza um dos momentos mais pesados do vídeo.
Entrecortado por vinhetas esteticamente bonitas, que ressaltam a diversidade e a beleza das mulheres negras, o documentário, feito em parceria com o coletivo Gleba do Pêssego, é uma contribuição importante para compreender o impacto que o colorismo e o racismo estrutural têm na vida das pessoas negras, principalmente as mulheres.
Disponível gratuitamente no YouTube.
#52filmsbywomen 2019 - filme 4 (IG @renatac.arruda)
A pornochanchada brasileira pode servir como um documento histórico dos tempos da ditadura? Segundo este documentário, sim.
Em seu primeiro longa, Fernanda Pessoa recorre a um formato inovador, utilizado antes por Eduardo Coutinho em "Um dia na vida": não há narrações, entrevistas ou maiores explicações. O documentário usa apenas imagens dos próprios filmes para criar uma narrativa, muitas vezes irônica, que o próprio espectador terá que compreender sozinho. E o resultado surpreende: em pornochanchadas bregas, de títulos pavorosos e muita objetificação da mulher, há também diversos comentários políticos e sociais inseridos pelos cineastas. Entre eles, o aborto e a questão da escolha da mulher, a organização das prostitutas por melhores condições de trabalho, a mulher liberdade sexual, o milagre econômico, a subserviência aos Estados Unidos. Conseguindo burlar a censura, há o filme que traz imagens fortes de tortura e até mesmo inclui a morte de Vladimir Herzog. Em outro, uma mulher explica a diferença entre comunismo e socialismo.
Como não poderia deixar de ser, a diretora também está atenta a todo o machismo, o racismo e a homofobia retratadas nestes filmes e presentes até hoje.
Tanto o olhar de Fernanda Pessoa, que também assina o roteiro, quanto o do montador são cirúrgicos e evidenciam a importância que esses filmes esquecidos têm enquanto documento histórico. O chocante é ver o quanto os discursos permanecem atuais.
Um comentário sobre o cidadão de bem brasileiro, que se crê justiceiro e merecedor.
O longa de estreia de Gabriela Amaral Almeida subverte o gênero slasher para retratar as tensões sociais contemporâneas: se originalmente o slasher mostra histórias em que psicopatas eliminam as minorias e as mulheres sexualmente ativas, em "O animal cordial" as vítimas mudam e essa mudança de perspectiva abre espaço para o filme discutir embates como o de mulheres X homens, brancos X não brancos, pobres X ricos, o macho hétero branco X o homem gay nordestino não binário. Para isso, a diretora investe em personagens que, apesar de serem arquetípicos, são multidimensionais e fogem dos clichês rasos (característica bem retratada a partir do uso do espelho partido, como a cena que ilustra o cartaz) e se recusa a utilizar imagens explícitas de violência, evitando o sadismo do espectador. Já o sexo é explorado de forma livre, bela e toda manchada de sangue.
É um filme divertido, esteticamente bonito e que rende uma boa discussão, provando que o cinema de gênero no Brasil está mais interessante do que nunca.
Segundo filme assistido para o projeto #52filmsbywomen 2019
"Café com canela", de Glenda Nicácio e Ary Rosa, é o primeiro filme dirigido por uma mulher negra a entrar em circuito comercial em 34 anos. Ou seja, em 34 anos, somente dois filmes de diretoras negras estrearam nas salas brasileiras. Isso diz muito sobre a falta de representatividade negra no cinema nacional, representatividade essa que transborda em "Café com canela": com um elenco majoritariamente negro, o filme retrata a ancestralidade, a subjetividade, a fé e a cultura negra de forma afirmativa e positiva, sem a necessidade de explorar o racismo como tema. "Café com canela" é uma celebração da negritude.
Tendo como cenário o Recôncavo Baiano, o filme trata do luto e do afeto. As personagens lidam com a perda, a decadência e a depressão ao mesmo tempo em que encontram uns nos outros o apoio e o carinho para voltar à vida e seguir em frente.
Embora seja um filme imperfeito, que toma algumas decisões equivocadas, como um desnecessário monólogo sobre cinema e o excesso de vinhetas, "Café com canela" traz frescor ao cinema nacional e deixa a torcida para que mais filmes assim encontrem um lugar ao sol. . Foi o primeiro filme visto em 2019 para o projeto #52filmsbywomen, que consiste em assistir a 52 filmes dirigidos por mulheres durante um ano.
Quem traduziu para "Oitava Série" está perdido na vida, hoje em dia é Nono Ano. Filmão. Como ex-adolescente quietinha e agora mãe de adolescente, me identifiquei demais. Muito realista.
Estava esperando uma bomba, mas até que achei o filme divertido. Parece um desenho animado de TV em versão estendida, não é nada que se preocupe com o público adulto e, a meu ver, todo o plot "mal explicado e inverossímil" que estão comentando aqui não passou dos medos e fantasias do irmão mais velho - de imaginação fértil - a respeito da chegada do irmão
O filme em si é até ok. Muitas questões foram analisadas de forma acertada pelas pessoas aqui. Mas como moradora de Campo Grande, fiquei bastante desapontada em ver que o filme não tem o menor interesse pela região ou se preocupa em mostrar os contrastes desta, apesar de se chamar "Campo Grande".
Campo Grande não é um lugar abandonado, com porcos, lixo e chão de terra. O que a diretora mostra ali é uma projeção, uma versão de um subúrbio distante a partir da fantasia de pessoas que moram na Zona Sul e jamais colocaram o pé no bairro. Para as breves externa foram escolhidas as piores locações, lugares que muitas vezes não são nem mesmo próximos, para criar um bairro que só existe naquele filme.
O lugar só é (mal) projetado para dar essa ideia de contraste, ruínas, obras em andamento. Mas para isso, qualquer outro lugar servia. Qualquer outro título também.
Não é exatamente um filme, mas talvez uma colagem de esquetes que usa quotes de diversos artistas, pensadores e seus manifestos em vários movimentos artísticos e filosóficos contemporâneos: começa com Marx e chega até à arte conceitual e o minimalismo, passando pelo dadaísmo, surrealismo, futurismo. Mas é um longa um pouco arrastado e confuso, mais indicados para pessoas familiarizadas ou que gostariam de se familiarizar com movimentos artísticos modernos. Me incomodou a quase ausência de pessoas negras. Destaque para a versatilidade de Cate Blanchett e para a trilha sonora de Nils Frahm.
Também percebi essa tentativa de unir Wes Anderson e Woody Allen, mas Noah Baumbach não alcança nem um e nem outro. O longa é bonitinho e inofensivo e só, com destaque para Dustin Hoffman, que rouba todas as cenas.
O mais engraçado da repercussão desse filme é que o Adam Sandler costuma ser tão ruim que quando ele entrega uma atuação ok aparece gente até cogitando indicação ao Oscar. Mas ainda prefiro seu trabalho em "Embriagado de Amor" - aqui ele permanece um tanto ineficaz quando precisa reagir de forma mais dramática (a cena dele cuspindo o suco ou dando um murro na parede são bem artificiais).
O filme é bonito, mantém o tempo todo uma atmosfera fria e entristecida mas delicada. Como adaptação, sofre do mesmo problema de outras: precisa ser didática em muitos momentos e tentar manter a essência sem necessariamente ser fiel ao livro (ou ser fiel na medida do possível). Funciona independente da obra original, mas não toca nem na superfície de tudo que é retratado no livro. Perto deste, o filme não passa de um resumão dramático.
Ideia boa, explora lendas e faz paralelos com a guerra e o fechamento para a imigração, além de tocar na questão dos mestiços. Fotografia bonita, não tão impressionante quanto os outros, mas ainda belo. A execução é que deixou a desejar, resultando em um filme confuso e monótono.
Nunca me interessei em ver a versão do cinema, mas resolvi conferir o Final Cut. Acho que dá pra chamar de noir cyberpunk, com uma cinematografia impecável, mas o ritmo arrastado me deixou um pouco entediada até o terceiro ato.
Bom filme, bem bonito. Propõe uma reflexão existencialista inquietante. Mas um tanto quanto ingênuo também. Não considero o melhor do ano, mas vale a pena assistir.
Narciso em Férias
4.0 39Caetano é interessante e tem desenvoltura suficiente pra sustentar até o fim um longa que é apenas um relato cru e nada mais. Um recorte de memória. Seria interessante se, no futuro, utilizassem o material para fazer um documentário convencional, com imagens da época e entrevistas. Mas eu gostei da proposta.
Que Bom Te Ver Viva
4.3 55 Assista AgoraAssisti a esse filme na semana passada e precisei de um tempinho para digerir. É o primeiro filme de Lúcia Murat, um docudrama formado por depoimentos de oito mulheres presas e torturadas durante a ditadura, intercalado por um monólogo fictício de uma ex-prisioneira política, interpretada por Irene Ravache. Se não estou enganada, foi a primeira vez que se mostrou a perspectiva de mulheres sobre a tortura e violência sexual sofridas na prisão.
Lançado em 1989, o filme se apóia na memória das ex-guerrilheiras nem tanto para denunciar os crimes cometidos dentro dos quartéis mas para tentar descobrir como, após tantos horrores, elas conseguiram seguir com a vida sem perder a sanidade -- um dilema vivido pela própria diretora, que passou três anos no DOI-CODI, e que parece se utilizar da personagem de Irene Ravache como um alter ego para expressar sentimentos e pensamentos íntimos.
Um ponto importante levantado nos depoimentos, que me soou como o prolongamento de um sofrimento imensurável, foi a reação das pessoas e o posicionamento da esquerda em relação a essas mulheres. Constrangimentos incômodos, silenciamentos, censura e até acusações de serem ressentidas. As que sucumbiram e passaram informações aos torturadores, em vez de acolhidas, foram expulsas. Uma delas, inclusive, conta ter sido considerada como terrorista por grupos de esquerda que não aderiram à luta armada. Todas acreditam que a esquerda falhou e não se empenhou o suficiente em cobrar punição.
Com um tema pesado, Lúcia Murat teve a sensibilidade de não explorar a dor, apelando para narrativas explícitas das técnicas de tortura, e se ocupou mais em dar ênfase às maneiras como aquelas mulheres tentam superar as sequelas da tortura. Os depoimentos são todos de partir o coração, e eu não tenho palavras para descrevê-los sem que soem como uma experiência distante e impessoal, mas o que mais me chamou a atenção foi a fala em comum das que estavam gestantes à época: para todas, a gravidez foi encarada como uma forma de resistência e de continuação da vida. Uma maneira de continuar existindo, mesmo se acabassem morrendo.
#52filmsbywomen 2019: filme 13
IG @renatac.arruda
Os Catadores e Eu
4.4 52 Assista AgoraAnos 2000, início do século XXI, e muitas pessoas precisam catar comida para sobreviver. Estamos falando da desenvolvida França, onde desempregados, mães solo e pessoas de baixa renda em geral vasculham lixeiras em busca de alimentos ou se dirigem até as grandes plantações para recolher legumes, frutas e verduras que serão descartados pelos produtores. A quantidade impressiona: são toneladas de alimentos frescos, que dariam para alimentar comunidades inteiras, deitados fora feito lixo. As batatas, em particular, apodrecem rapidamente. Existe comida. Muita. Ela só não chega até as pessoas.
O desperdício de itens alimentícios é um dos principais temas abordados no documentário de Agnès Varda, grandiosa diretora que nos deixou essa semana. Em "Os catadores e eu", Varda não está necessariamente interessada em fazer uma obra militante de denúncia: ela procura mostrar quem são e como vivem as pessoas que recolhem alimentos, além de tentar entender porque essa comida é descartada, e deixa que o espectador conecte os pontos. Com a abordagem sensível e poética que lhe é característica, Varda confere dignidade a essas pessoas, seja fazendo paralelos com famosas pinturas que retratam catadoras, seja dando a oportunidade para que contem suas histórias sem apelar para sensacionalismo ou condescendência.
Ao rodar o interior do país garimpando as mais variadas histórias e pontos de vista, a diretora põe a si mesma como uma catadora de imagens e narrativas, colocando o seu trabalho em pé de igualdade com o de outros artistas - incluindo um membro de sua equipe - que saem às ruas para catar objetos descartados e os transformam em itens de decoração ou peças de arte. E essa pode ser uma boa síntese do documentário: uma obra de arte feita com as histórias dos que foram excluídos pela sociedade.
#52filmsbywomen 2019: filme 11
(@renatac.arruda)
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista Agora"Eu não tenho que provar nada para você", diz Carol Danvers, a Capitã Marvel, em determinado momento, uma frase que também serve muito bem como resposta aos nerds tóxicos que, incomodados com a postura feminista de Brie Larson, tentaram desqualificar o filme antes mesmo de sua estreia. Costuma ser assim sempre que um filme protagonizado por mulheres invade um território que durante muito tempo os homens reivindicaram para si. Piora quando a personagem não compactua com o papel que é imposto ao seu gênero: Carol Danvers sorri apenas quando quer, não usa roupas sensuais, não se diminui para ser aceita pelos homens e não tem nenhum par romântico masculino. Isso é o que faz dela tão poderosa e temida, muito mais que qualquer poder alienígena que tenha adquirido.
Como filme de super-herói, "Capitã Marvel" inova apenas na forma como conta a origem da personagem: já nos deparamos com uma heroína ativa e à vontade com seus poderes, descobrindo o passado através de flashbacks. É o tratamento dado a ela, com muitas nuances sobre o que é ser uma mulher fora dos padrões, que torna o filme especial.
Não à toa, o vilão, considerado "fraco" por muitos espectadores, é o tipo de homem que destrói a vida de muitas mulheres: aquele que a manipula, a controla, diminui suas capacidades, se acha no direito e ainda quer os créditos pelo seu sucesso. Porém, fortalecida pelos modelos femininos que admira, por sua rede de apoio - a família que, no passado, formou com sua companheira e a filha dela -, e, principalmente, pela consciência de seu enorme poder, a Capitã Marvel não cai mais nessas armadilhas.
Embora esquemático, "Capitã Marvel" é um filme divertido, que cumpre o que promete e entrega a representatividade que há muito estávamos esperando. E que trilha sonora linda!
#52filmsbywomen 2019: filme 10
(@renatac.arruda)
As Vozes
3.2 340Marjane Satrapi ficou mundialmente famosa por "Persépolis", autobiografia em quadrinhos que ganhou adaptação para o cinema, indicada ao Oscar, com roteiro e codireção da própria artista. Mas após uma bem-sucedida carreira, ela resolveu deixar os quadrinhos para se dedicar ao cinema.
As Vozes é seu quarto filme e o primeiro feito em Hollywood. Conta a história de um homem solitário e esquizofrênico que se apaixona por uma colega de trabalho. Quando um encontro entre o casal dá errado, ele, acidentalmente, acaba matando a mulher, que se torna a primeira de uma série de vítimas.
Embora a história em si não seja grande coisa, e se perca um pouco ao trazer um drama familiar para humanizar desnecessariamente o personagem, o filme acerta na maneira como a doença mental é abordada, com destaque para o excelente design de produção que consegue traduzir em imagens o contraste entre o mundo real e aquele lúdico e colorido que só existe na mente do protagonista.
Outro ponto positivo são as atuações, com Ryan Reynolds convencendo bem em um papel que poderia ter saído de um filme dos irmãos Coen ou de Yorgos Lanthimos (apesar da caracterização do ator ter me remetido a uma versão light de Michael C. Hall como Dexter). É um filme que funciona bem no modo bizarro, mas falha na tentativa de misturar drama com humor, concluindo com a cena final pra lá de desnecessária. Está disponível na @netflixbrasil.
#52filmsbywomen 2019: filme 9
(ig @renatac.arruda)
Dumplin'
3.5 421 Assista AgoraDumplin', um filme adolescente que entrou há pouco tempo na @netflixbrasil, tem a proposta de fazer com que as meninas se sintam bem com sua aparência, por mais difícil que isso seja.
Diferente de outros filmes do gênero, em que as heroínas buscam pela aprovação alheia se encaixando nos padrões, a protagonista de Dumplin', Willowdean, é autoconfiante e não liga a mínima para a cultura de concursos de beleza de sua pequena cidade. Isso dura até ela ser confrontada com um crush em um belo rapaz, que também gosta dela, e perceber que internalizou muito mais gordofobia do que tinha imaginado. Pra ela, é inconcebível que um homem bonito se sinta atraído por uma mulher gorda.
Se o enredo do patinho feio não é nenhuma novidade, o que o filme tem de legal é que se concentra muito pouco no romance e na figura masculina. A autoaceitação de Willowdean acontece por meio da amizade feminina, do acolhimento entre outsiders e do desenvolvimento de talentos pessoais.
Porém, enquanto Dumplin' acerta em representar a mulher gorda de forma positiva, isso não impede que o filme recaia em diversos clichês e estereótipos, como a representação da lésbica-feminista-raivosa, o negro mágico ou as drag queens acolhedoras-como-mães. Mas já é alguma coisa.
#52FilmsbyWomen 2019: filme 6
(@renatac.arruda)
Poderia Me Perdoar?
3.6 266Baseado nas memórias de Lee Israel, escritora especializada em biografias de mulheres, o filme aborda o período de sua decadência: se antes seus livros já fizeram parte da lista de best-sellers do NY Times, hoje ela não produz mais nada, sobrevivendo do salário de um emprego que odeia e tendo seu gato como única companhia. Apesar disso, Lee Israel não é nenhuma coitadinha: anti-social, desagradável e arrogante, a jornalista parece ter se acomodado em sua situação e não demonstra nenhum interesse em derrubar o muro que a mantém separada das outras pessoas.
Ao se ver demitida do emprego, com o gato doente e uma agente que não vê potencial nela, Israel acaba descobrindo uma fonte de renda improvável: a falsificação de cartas de celebridades, que valem pequenas fortunas. Mais do que uma fonte de renda, as cartas que Israel forja se tornam pequenos projetos literários que despertam na autora a busca por uma voz e a fazem redescobrir o prazer de ser lida. O esquema, porém, acaba indo longe demais e após uma perda significativa, seu mundo desmorona.
E é aí que está a essência do filme: fazer um estudo de personagem mostrando o quanto da decadência e do temperamento difícil de Israel se devem, em parte, à insistência da autora em viver no passado. É comovente a cena do reencontro com sua ex-namorada, em que fica claro o quanto ela permanece apegada a coisas e situações que a outra nem mesmo lembra mais.
Para Lee Israel, chegar ao fundo do poço foi o rito de passagem necessário para poder aprender a viver no presente e seguir em frente.
O filme é uma graça e as atuações memoráveis merecidamente receberam indicações ao Oscar. Recomendo.
#52Filmsbywomen 2019: filme 7
(@renatac.arruda)
A História de Rosa Parks
3.8 12Rosa Parks, cujo aniversário de 106 anos foi lembrado na última segunda, ficou conhecida como um dos símbolos da resistência antirracista após se recusar a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco e ser presa por isso em dezembro de 1955. Na época, Parks era integrante da NAACP (Associação Nacional Para o Progresso de Pessoas de Cor) e a organização aproveitou o episódio para promover um boicote aos ônibus, chamando a atenção para a causa anti-segregação. Em 1956, a segregação racial nos ônibus foi abolida.
Embora a atuação de Parks como ativista pelos direitos civis não seja deixada de lado, o filme se concentra mais em sua vida pessoal, tentando recriar a infância como estudante de um colégio privado para meninas negras, o trabalho como costureira, seu relacionamento com Raymond Parks e o impacto que o episódio do ônibus teve em sua rotina: desemprego, ameaças, retaliações, falta de liberdade.
Um dos acertos é mostrar o quanto o machismo estava entranhado mesmo entre ativistas e organizações que lutavam pelos direitos civis. Porém, problema do filme é que tudo é contado de forma ora afetada, ora superficial, deixando muito a desejar em termos de desenvolvimento e falhando em alcançar a complexidade da ativista. Ficamos sabendo muito pouco sobre quem de fato era e o que pensava a ativista.
Sendo um produto feito para a TV, é compreensível que a história tenha sido diluída e romantizada, mas acredito que Rosa Parks merecia mais.
#52filmsbywomen 2019 - filme 5
(ig @renatac.arruda)
Negritudes Brasileiras
4.4 4O webdocumentário feito pela ótima Nátaly Neri explora a questão da identidade racial no Brasil através de entrevistas com especialistas como Joice Berth , Giovana Xavier, Aline Ramos e Alê Santos e também com mulheres cujas vivências, apesar de individualmente diferentes entre si, têm em comum a experiência de se descobrir negro e tentar entender o que isso significa no contexto em que a gente vive.
Achei muito interessante o depoimento da moça que expressou sua dificuldade em aceitar que era negra e admitiu não se identificar com a militância do movimento negro, se perguntando se ela não poderia escolher vivenciar esse processo apenas internamente. Já uma jovem que conta como se queimava com cigarro para deixar manchas brancas no corpo protagoniza um dos momentos mais pesados do vídeo.
Entrecortado por vinhetas esteticamente bonitas, que ressaltam a diversidade e a beleza das mulheres negras, o documentário, feito em parceria com o coletivo Gleba do Pêssego, é uma contribuição importante para compreender o impacto que o colorismo e o racismo estrutural têm na vida das pessoas negras, principalmente as mulheres.
Disponível gratuitamente no YouTube.
#52filmsbywomen 2019 - filme 4 (IG @renatac.arruda)
Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava
3.7 71A pornochanchada brasileira pode servir como um documento histórico dos tempos da ditadura? Segundo este documentário, sim.
Em seu primeiro longa, Fernanda Pessoa recorre a um formato inovador, utilizado antes por Eduardo Coutinho em "Um dia na vida": não há narrações, entrevistas ou maiores explicações. O documentário usa apenas imagens dos próprios filmes para criar uma narrativa, muitas vezes irônica, que o próprio espectador terá que compreender sozinho. E o resultado surpreende: em pornochanchadas bregas, de títulos pavorosos e muita objetificação da mulher, há também diversos comentários políticos e sociais inseridos pelos cineastas. Entre eles, o aborto e a questão da escolha da mulher, a organização das prostitutas por melhores condições de trabalho, a mulher liberdade sexual, o milagre econômico, a subserviência aos Estados Unidos. Conseguindo burlar a censura, há o filme que traz imagens fortes de tortura e até mesmo inclui a morte de Vladimir Herzog. Em outro, uma mulher explica a diferença entre comunismo e socialismo.
Como não poderia deixar de ser, a diretora também está atenta a todo o machismo, o racismo e a homofobia retratadas nestes filmes e presentes até hoje.
Tanto o olhar de Fernanda Pessoa, que também assina o roteiro, quanto o do montador são cirúrgicos e evidenciam a importância que esses filmes esquecidos têm enquanto documento histórico. O chocante é ver o quanto os discursos permanecem atuais.
(instagram: @renatac.arruda)
O Animal Cordial
3.4 618 Assista AgoraUm comentário sobre o cidadão de bem brasileiro, que se crê justiceiro e merecedor.
O longa de estreia de Gabriela Amaral Almeida subverte o gênero slasher para retratar as tensões sociais contemporâneas: se originalmente o slasher mostra histórias em que psicopatas eliminam as minorias e as mulheres sexualmente ativas, em "O animal cordial" as vítimas mudam e essa mudança de perspectiva abre espaço para o filme discutir embates como o de mulheres X homens, brancos X não brancos, pobres X ricos, o macho hétero branco X o homem gay nordestino não binário. Para isso, a diretora investe em personagens que, apesar de serem arquetípicos, são multidimensionais e fogem dos clichês rasos (característica bem retratada a partir do uso do espelho partido, como a cena que ilustra o cartaz) e se recusa a utilizar imagens explícitas de violência, evitando o sadismo do espectador. Já o sexo é explorado de forma livre, bela e toda manchada de sangue.
É um filme divertido, esteticamente bonito e que rende uma boa discussão, provando que o cinema de gênero no Brasil está mais interessante do que nunca.
Segundo filme assistido para o projeto #52filmsbywomen 2019
(No Instagram @renatac.arruda)
Café com Canela
4.1 164"Café com canela", de Glenda Nicácio e Ary Rosa, é o primeiro filme dirigido por uma mulher negra a entrar em circuito comercial em 34 anos. Ou seja, em 34 anos, somente dois filmes de diretoras negras estrearam nas salas brasileiras. Isso diz muito sobre a falta de representatividade negra no cinema nacional, representatividade essa que transborda em "Café com canela": com um elenco majoritariamente negro, o filme retrata a ancestralidade, a subjetividade, a fé e a cultura negra de forma afirmativa e positiva, sem a necessidade de explorar o racismo como tema. "Café com canela" é uma celebração da negritude.
Tendo como cenário o Recôncavo Baiano, o filme trata do luto e do afeto. As personagens lidam com a perda, a decadência e a depressão ao mesmo tempo em que encontram uns nos outros o apoio e o carinho para voltar à vida e seguir em frente.
Embora seja um filme imperfeito, que toma algumas decisões equivocadas, como um desnecessário monólogo sobre cinema e o excesso de vinhetas, "Café com canela" traz frescor ao cinema nacional e deixa a torcida para que mais filmes assim encontrem um lugar ao sol.
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Foi o primeiro filme visto em 2019 para o projeto #52filmsbywomen, que consiste em assistir a 52 filmes dirigidos por mulheres durante um ano.
Oitava Série
3.8 336 Assista AgoraQuem traduziu para "Oitava Série" está perdido na vida, hoje em dia é Nono Ano. Filmão. Como ex-adolescente quietinha e agora mãe de adolescente, me identifiquei demais. Muito realista.
O Poderoso Chefinho
3.4 521 Assista AgoraEstava esperando uma bomba, mas até que achei o filme divertido. Parece um desenho animado de TV em versão estendida, não é nada que se preocupe com o público adulto e, a meu ver, todo o plot "mal explicado e inverossímil" que estão comentando aqui não passou dos medos e fantasias do irmão mais velho - de imaginação fértil - a respeito da chegada do irmão
(fantasias essas que o pai, mais sensível que o irmão, resolveu passar adiante para a filha, para que aceitasse melhor a chegada da irmã).
Campo Grande
3.4 45 Assista AgoraO filme em si é até ok. Muitas questões foram analisadas de forma acertada pelas pessoas aqui. Mas como moradora de Campo Grande, fiquei bastante desapontada em ver que o filme não tem o menor interesse pela região ou se preocupa em mostrar os contrastes desta, apesar de se chamar "Campo Grande".
Campo Grande não é um lugar abandonado, com porcos, lixo e chão de terra. O que a diretora mostra ali é uma projeção, uma versão de um subúrbio distante a partir da fantasia de pessoas que moram na Zona Sul e jamais colocaram o pé no bairro. Para as breves externa foram escolhidas as piores locações, lugares que muitas vezes não são nem mesmo próximos, para criar um bairro que só existe naquele filme.
O lugar só é (mal) projetado para dar essa ideia de contraste, ruínas, obras em andamento. Mas para isso, qualquer outro lugar servia. Qualquer outro título também.
As Falsas Confidências
2.5 25Tenta ser filme e peça de teatro ao mesmo tempo e falha miseravelmente. Como disseram aqui, desperdício de elenco.
Manifesto
3.7 116 Assista AgoraNão é exatamente um filme, mas talvez uma colagem de esquetes que usa quotes de diversos artistas, pensadores e seus manifestos em vários movimentos artísticos e filosóficos contemporâneos: começa com Marx e chega até à arte conceitual e o minimalismo, passando pelo dadaísmo, surrealismo, futurismo. Mas é um longa um pouco arrastado e confuso, mais indicados para pessoas familiarizadas ou que gostariam de se familiarizar com movimentos artísticos modernos. Me incomodou a quase ausência de pessoas negras.
Destaque para a versatilidade de Cate Blanchett e para a trilha sonora de Nils Frahm.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraAssisti de novo e fiquei ainda mais impressionada. Vou sempre me emocionar com a questão do tempo e com a vinda do cometa. É sensacional!
Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe (Histórias Novas e Selecionadas)
3.4 257 Assista AgoraTambém percebi essa tentativa de unir Wes Anderson e Woody Allen, mas Noah Baumbach não alcança nem um e nem outro. O longa é bonitinho e inofensivo e só, com destaque para Dustin Hoffman, que rouba todas as cenas.
O mais engraçado da repercussão desse filme é que o Adam Sandler costuma ser tão ruim que quando ele entrega uma atuação ok aparece gente até cogitando indicação ao Oscar. Mas ainda prefiro seu trabalho em "Embriagado de Amor" - aqui ele permanece um tanto ineficaz quando precisa reagir de forma mais dramática (a cena dele cuspindo o suco ou dando um murro na parede são bem artificiais).
Não Me Abandone Jamais
3.8 2,1K Assista AgoraO filme é bonito, mantém o tempo todo uma atmosfera fria e entristecida mas delicada. Como adaptação, sofre do mesmo problema de outras: precisa ser didática em muitos momentos e tentar manter a essência sem necessariamente ser fiel ao livro (ou ser fiel na medida do possível). Funciona independente da obra original, mas não toca nem na superfície de tudo que é retratado no livro. Perto deste, o filme não passa de um resumão dramático.
Viagem Para Agartha
4.0 157 Assista AgoraIdeia boa, explora lendas e faz paralelos com a guerra e o fechamento para a imigração, além de tocar na questão dos mestiços. Fotografia bonita, não tão impressionante quanto os outros, mas ainda belo. A execução é que deixou a desejar, resultando em um filme confuso e monótono.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraNunca me interessei em ver a versão do cinema, mas resolvi conferir o Final Cut. Acho que dá pra chamar de noir cyberpunk, com uma cinematografia impecável, mas o ritmo arrastado me deixou um pouco entediada até o terceiro ato.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraBom filme, bem bonito. Propõe uma reflexão existencialista inquietante. Mas um tanto quanto ingênuo também. Não considero o melhor do ano, mas vale a pena assistir.
Death Note
1.8 1,5K Assista AgoraQUE FILME HORROROSO! De Death Note só tem o título.
Até curti a interpretação do Lakeith Stanfield, foi bem fiel aos trejeitos do L. Coitado, merecia um filme melhor pra atuar.