Rennan Santiago

Nunca libertei uma orca, nunca acordei de um sonho que parecia incrivelmente real, nunca voltei no tempo pra mudar meu passado, nunca fui do Batalhão de Operações Especiais, nunca abriguei um E.T. em casa, nunca matei aula pra curtir a vida na Ferrari do pai dum amigo meu, nunca tive que conquistar a mesma mulher todos os dias, nunca viajei pelos oceanos em um barco pirata, nunca me vesti de palhaço para ajudar na cura de pacientes terminais, nunca enfrentei um exterminador, nunca fui um contador de histórias, nunca fiquei preso em uma ilha deserta, nunca vi pessoas mortas, nunca fui dominado por um anel, nunca fiz tratamento de choque para me livrar da prisão, muito menos para me casar, minha namorada não é uma agente secreto, nunca engoli um ovo cru, nunca apagaram minha mente pra eu esquecer um grande amor (pelo menos até onde eu sei), nunca consultei um assassino serial para prender outro.

Minha vida não é um reality show, não sou um caçador de diamantes, não vivo em mundo dominado por máquinas, não assisti a fita-cassete com um "chamado", não sou um vigilante mascarado, não dei a vida pela minha amada que estava morrendo em um mar congelado, a Força não está comigo, meus pais nunca me esqueceram só em casa, não morri pela liberdade do Brasil, não participei de nenhum jogo que poderia custar a minha vida ou de outras pessoas, muito menos de um jogo em que o que aparecesse no tabuleiro realmente acontecia, não tenho uma verdade inconveniente a ser contada, não vivi por 200 anos, não mato zumbis, não sou um chefão da máfia, nem tenho um vizinho mafioso, não reúno amigos para assaltar um cassino, não tenho transtorno obsessivo compulsivo, não sou operador de fotocopiadora, nunca fui perseguido por um maluco com máscara de hóquei ou com luvas com lâminas, nunca tirei o golden ticket em uma barra de chocolate, não cruzei o país em uma kombi amarela, nem em uma motocicleta, muito menos em uma van com um gordo e um urso ou pra assistir o Kiss em Detroit, não fui pra Guerra do Vietnã, meu carro não vira um robô, não escondo cocaína no crufixo que levo no pescoço e nunca tomei veneno pela minha amada...

...mesmo assim adoro a sétima arte!